sábado, 27 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4594: Fichas de Unidades (3): História do BART 645 (José Martins)


1. Sobre este Batalhão existem já 2 postes no blogue (*), um do Carlos Brito e outro do Jorge Santos, pelo que aqui fica o convite ao Carlos Brito, para formar ao lado dos nossos Camaradas, contar-nos as suas estórias e aderir ao nosso “tabancal”...

2. Também registamos com apreço o nosso melhor agradecimento, pela preciosa ajuda prestada pelo nosso já habitual "colaborador permanente", o José Martins... Obrigado!

O envio da História deste batalhão ao Carlos Brito, pelo José Martins, foi antecedido de uma troca de e-mails entre estes dois camaradas e o Rogério Cardoso, do mesmo batalhão do primeiro, que a seguir expomos:

E-mail do José Martins com data de 25JUN2009 - Assunto: BART 645:
Luis,
Pediste-me, em 13JUN09 para fazer a ficha do BART 645.
Aqui vai ela em anexo, como também vai para o Carlos Brito, que ainda não entrou para a nossa tertúlia.
Parece-me, pelo seu e-mail, que está longe de nós. Será verdade?
Avança Carlos Brito, estás com a tua gente.
Um abraço,
José Martins

Na réplica o Carlos Brito escreveu:
Amigo José Martins,
Obrigado por me teres endereçado a ficha do nosso Batalhão. Não sei como conseguiste reunir tantos e preciosos elementos ao fim de 40 e tal anos, pois, penso eu, deve ter sido muito trabalhoso.
Não tenho reparos a fazer, excepto talvez no lema, que julgo ser BRAVOS, LEAIS E FIÉIS.

Até recordei alguns nomes como o do Cap Abílio dos Santos Sousa - dos Reabastecimentos -, uma excelente pessoa, que um dia encontrei em Lisboa e cujo nome já tinha esquecido.
Também não percebi esta indicação de que o Sousa Paz, era Oficial de Operações e Informações-Adjunto. Ele era sim, e sempre foi, o Oficial de Operações e Informações do BART, excepto talvez no início da sua formação, em Santa Margarida, em que, recordo, esse lugar era de outro Oficial.
Também andei estes anos todos convencido que o nosso CMDT - Sousa Paz, e o Fur Mil Graça (do BART 643), tinham sido condecorados e tal não aconteceu.
Quanto a entrar na tertúlia, estou só à espera que os "operacionais" comecem a escrever.
Um abraço,
Carlos Brito

Nova mensagem do José Marcelino Martins, para o Carlos Brito, com data de 28JUN2009 - Assunto: BART 645:
Caro Brito,
É um prazer para mim poder colocar à disposição dos camaradas, aquilo que para mim é um “hobby”.
Como já referi, noutros locais e noutras circunstâncias, apenas junto pontas soltas de história, e dou-lhes outra forma: aquela que gostaria para mim.
O cargo “Oficial de Operações e Informações-Adjunto”, suponho que quer dizer um duplo cargo: “Oficial de Operações e Informações e Adjunto do Comandante”. Terminologias militares.
Nunca seremos demais para dar a conhecer as nossas vivências em África e, mormente, na Guiné. Não esperes mais. Avança, que outros te seguirão!No texto só falta o “ex-libris” do Batalhão ou das companhias, mas não os encontrei em nenhum local.
Um abraço,
José Martins
Fur Mil Trms Inf da CCAÇ 5 (anterior 3ª CCAÇ 1) - Nova Lamego e Canjadude (JUN68 a JUN70)

E-mail resposta do Carlos Brito:
Caro José Martins,
Reenviei o documento sobre o nosso batalhão ao Rogério Martins Cardoso (um dos condecorados), que criou a Associação de Amizade do BART 645.
Ele, tal como tu, tem-se dedicado por "hobby", a escrever a história da nossa Unidade e não só.
Além disso, ele consegue reunir parte do pessoal em almoços/convívios anuais.
Se quiseres, aqui fica o seu endereço:
Rogério Cardoso,
E-mail: aguiasnegras.645@gmail.com
Obrigado e um abraço,
Carlos Brito

Novo e-mail do José Marcelino Martins, para o Rogério Cardoso, com data de 26JUN2009 - Assunto: BART 645 “Águias Negras”:
Camarada Cardoso,
Tive conhecimento do teu endereço através do e-mail abaixo, do Carlos Brito.
Este e-mail tem como finalidade convidar-te para aderires como membro à nossa TABANCA GRANDE, como é conhecido o blogue do Luís Graça e que, certamente, já conheces.
Pelo que o Brito diz, tens como “hobby” a história da Guiné (que é também a nossa história) e todos somos poucos para a escrever, senão na primeira pessoa do singular, pelo menos no plural.

Um abraço do,
José Martins


Foto do Carlos Vinhal (inserida no poste P2894), que foi Fur Mil da CART 2732, acompanhado do Salifo Seidi (conhecido por Toni), em Mansabá, junto ao Memorial com os brasões das Unidades que por lá passaram. À esquerda, em baixo, o brasão do BART 645 (Águias Negras).

BATALHÃO DE ARTILHARIA Nº 645

HISTÓRIA

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, sito em Lisboa, teve como Comandante o Tenente-coronel de Artilharia António Braancamp Sobral, tendo também comandado esta unidade o Major de Artilharia Raul Pereira Batista. Desempenharam o cargo de 2º Comandante os Majores de Artilharia José da Glória Alves, Mário Martins Cabrita Gil, Raul Pereira Batista e Abílio dos Santos Sousa. O Capitão de Artilharia Carlos de Sousa Paz, desempenhava o cargo de Oficial de Informações e Operações, Adjunto.

Adoptou como Divisa “AGUIA NEGRAS” e “BRAVOS SEMPRE FIÉIS”, embarcando em Lisboa em 04 de Março, tendo desembarcado em Bissau em 10 de Março de 1964.

Compunham a orgânica deste batalhão, as subunidades:

Companhia de Comando e Serviços – sob o comando do Capitão de Artilharia José Manuel Lobo Silvestre Graça;
Companhia de Artilharia nº 642 – sob o comando do Capitão de Artilharia Francisco Matias Barão da Cunha;
Companhia de Artilharia nº 643 – sob o comando do Capitão de Artilharia Ricardo Lopes da Silveira;
Companhia de Artilharia nº 644 – sob o comando do Capitão de Artilharia Vítor Manuel da Ponte da Silva Marques (**). Também comandaram esta subunidade ao Capitães de Artilharia Nuno José Varela Rubim e José Júlio Galamba de Castro.

Comando e Companhia de Comando e Serviços

O batalhão ficou inicialmente sediado em Bissau, na missão de intervenção e reserva do CTIG, tendo as suas subunidades sido atribuídas a outros batalhões.

Embora mantendo o comando sedeado em Bissau, em 23 de Maio de 1964, estabeleceu um Posto de Comando Avançado (PCAv), para coordenar os subsectores de Mansabá e Bissorã, que tinham sido retirados da área da responsabilidade do Batalhão de Caçadores nº 512.

A 22 de Julho de 1964, com a saída de sector do BCAÇ 512, o BART 645 assume a responsabilidade do Sector C2, instalado em Mansoa, que abrangia os subsectores de Mansoa, Mansabá, Bissorã e Enxalé. Em 29 de Agosto de 1964 o Sector C2 é reduzido do subsector de Enxalé e, por subdivisão do subsector de Bissorã é criado, em 9 de Dezembro de 1964, o subsector de Olossato.

O Sector C2 é, em 11 de Janeiro de 1964, designado por Sector O3. Mais tarde, em 9 de Dezembro de 1965 e por subdivisão do subsector de Bissorã é criado o subsector de Olossato.

Esta unidade, com o apoio das suas subunidades orgânicas e/ou outras que lhe foram atribuídas, desenvolveu a sua actividade, abrindo o itinerário entre Mansabá e Bafatá, desenvolveu na região do Oio, que causaram baixas ao inimigo, as operações “Mansodé”, “Irã”, tendo ainda tomado parte na operação “Notável”, de 04 a 23 de Novembro de 1964, conduzida pelo Batalhão de Cavalaria nº 705.

Do material capturado durante as operações em que tomou parte, destacam-se duas metralhadoras pesadas, dez metralhadoras ligeiras, noventa e nove pistolas-metralhadoras, vinte e quatro espingardas, um lança-granadas foguete, vinte e oito minas, duzentas e três granadas de armas pesadas e dezassete mil trezentas e onze munições de armas ligeiras.

Foi rendido pelo Batalhão de Caçadores nº 1857, em 02 de Fevereiro de 1966.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

ANTÓNIO ABRANTES CARDOSO, Soldado Sapador nº 1612/63, solteiro, filho de Abílio Ferreira Cardoso e Maria Abrantes Cabral, natural da freguesia de Folhadosa, concelho de Seia, faleceu em 13 de Fevereiro de 1965 no Hospital Militar 241 – Bissau, vítima de acidente de viação na estrada Nhacra – Mansoa, perto da tabanca de Dugal. Foi inumado no Cemitério de Folhadosa.

JOSÉ AUGUSTO DE JESUS, Soldado Sapador nº 1614/63, solteiro, filho de Augusto Maria de Jesus Lino e Maria de Jesus, natural da freguesia de Resgatados, concelho de Montemor-o-Novo, faleceu em 13 de Fevereiro de 1965 no Hospital Militar 241 – Bissau, vítima de acidente de viação na estrada Nhacra – Mansoa, perto da tabanca de Dugal. Foi inumado no Cemitério de Bissau – Campa 1400.

JOSÉ AUGUSTO JATA, Soldado Atirador nº 40/62 (recrutamento local), solteiro, filho de Gulfata e Tambo, natural da freguesia e concelho de Mansoa (Guiné), faleceu em 5 de Março de 1965 no Hospital Militar Principal, em Lisboa, vítima de doença. Foi inumado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.

Distinguiram-se e foram condecorados os seguintes militares:

MAMADU BARI, Soldado de Artilharia, por acção praticada no dia 28 de Julho de 1964, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 2ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 29, IIIª Série de 1966.
MÁRIO DE JESUS RODRIGUES DOS SANTOS, Soldado de Artilharia Condutor, por acção praticada no dia 27 de Junho de 1965, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

ROGÉRIO MARTINS CARDOSO, Furriel Miliciano do Serviço de Material, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

Companhia de Artilharia nº 642

Entre 13 de Abril e 04 de Maio de 1964 operou na área de Mansoa-Mansabá, sob a orientação do Batalhão de Caçadores nº 512, tendo passado para a área do seu batalhão, em 24 de Maio de 1964, como subunidade de intervenção e reserva, tendo efectuado operações nas regiões de Manhau, Cubonge e Cã Quedo.

A 12 de Setembro de 1964, rendo a CCAÇ 594 em Mansabá, assumindo a responsabilidade desse subsector, tendo instalado um pelotão na povoação de Manhau, em 9 de Junho de 1965.

É rendida em Mansabá pela Companhia de Caçadores nº 1421, sendo transferida para Bissau para integrar o dispositivo de segurança e protecção de instalações e populações da área.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

JOSÉ ROSA LOURO, Soldado Atirador nº 1818/63, casado com Emília Conceição Marques Louro, filho de Joaquim Louro e Josefina Rosa, natural da freguesia de Portela, concelho de Abrantes, faleceu em 2 de Maio de 1964, no Hospital Militar 241, em Bissau, vítima de doença. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 817.

ANTÓNIO FERREIRA DA ROCHA CASEIRO, Soldado Atirador nº 1924/63, solteiro, filho de Joaquim da Rocha Caseiro e Lúcia Pereira, natural da freguesia de Sobrado, concelho de Valongo, faleceu em 6 de Junho de 1964, vítima de ferimentos em combate em Mansabá. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 867.

ALVARO HENRIQUE ESPINHEIRA, Soldado Atirador nº 1826/63, solteiro, filho de Joaquim Espinheira e Conceição Oliveira, natural do Lugar de Bôco, freguesia de Lourosa, concelho de Vila da Feira, faleceu em 27 de Junho de 1964, vítima de ferimentos em combate, em Mansoa. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 906.

JOSÉ AUGUSTO MARTINS NETO, Soldado Atirador nº 1982/63, solteiro, filho de Rafael Augusto e Cacilda de Jesus Martins, natural da freguesia de Torre de Torrenho, concelho de Trancoso, faleceu em 16 de Dezembro de 1964 no Hospital Militar 241, vítima de acidente de viação. Foi inumado no Cemitério de, Campa nº 1281.

HUMBERTO DE JESUS JORGE, Soldado Atirador nº 2633/63, solteiro, filho de António Sacramento Borges e Augusta Martins, natural do lugar de Sobreda, freguesia de Morais, concelho de Macedo de Cavaleiros, faleceu em 30 de Maio de 1965 no Hospital Militar 241, em Bissau, vítima de doença. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 1727.

ANTÓNIO VIEIRA DOS REIS, Soldado Condutor Auto Rodas nº 2285/63, casado com Marinha Gomes Vieira, filho de Manuel Costa Reis e Rosalina Vieira da Luz, natural do lugar de Beire, freguesia de São João de Ver, concelho de Vila da Feira, faleceu em 19 de Outubro de 1965 no Hospital Militar Principal, em Lisboa, para onde tinha sido evacuado em 16 de Outubro de 1965, vítima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério de São João de Ver.

SIFA CÓ, Soldado Condutor Auto Rodas nº 278/63, casado com Judi Sasu, filho de Sasufini Cá e Omene Cá, natural da freguesia de Nossa Senhora da Candelária, concelho de Bissau, faleceu em28 de Dezembro de 1965 no Hospital Militar Principal, em Lisboa, vítima de acidente de viação na estrada de Bolama para o aeroporto em 24 de Dezembro de 1965. Foi inumado no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.

Distinguiram-se e foram condecorados os seguintes militares:

FELIX RODRIGUES FERREIRA, 1º Cabo Artilharia, por acção praticada no dia 28 de Julho de 1964, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra – 2ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 22, IIIª Série de 1965.

FRANCISCO MATIAS BARÃO DA CUNHA, Capitão de Artilharia, por acção praticada no dia 27 de Junho de 1964, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 20, IIª Série de 1966.

MOISES DA SILVA BASTO, 1º Cabo de Artilharia, por acção praticada no dia 28 de Novembro de 1965, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 29, IIIª Série de 1966.

Companhia de Artilharia nº 643

Vai para a área de Gampará, em reforço do Batalhão de Caçadores nº 599, no período de 22 a 26 de Abril de 1964, seguindo, a 29 de Maio desse ano, para Mansabá, para tomar parte numa operação realizada pelo seu batalhão.

Foi deslocada, como unidade de reforço e para incrementar a actividade operacional, para o subsector de Bissorá em 8 de Junho de 1964. Assumiu a responsabilidade daquele subsector, em 8 de Junho de 1964, rendendo a CCAÇ 508, até ser rendida pela CCAÇ 1419, em 11 de Janeiro de 1966.

Em 12 de Janeiro de 1966, é transferida para Bissau para integrar o dispositivo de segurança e protecção de instalações e populações da área.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

ANTÓNIO EMILIO DE MELO, 1º Cabo Atirador nº 1788/63, solteiro, filho de Maria Helena de Melo, natural da freguesia de São João das Areias, concelho de Santa Comba Dão, faleceu em 16 de Agosto de 1964, vítima de ferimentos em combate em Bedanda. Foi inumado no Cemitério de, Campa nº 1055.

MANUEL BERNARDES, Soldado atirador nº 1952/62, solteiro, filho de Maria Esperança, natural da freguesia de Figueira de Lorvão, concelho de Penacova, faleceu em 7 de Novembro de 1964, no Hospital Militar 241, em Bissau, vítima de acidente, descarga eléctrica. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 1171.

Distinguiram-se e foram condecorados os seguintes militares:

ANTÓNIO LOPRES LOURENÇO, Alferes Miliciano de Infantaria, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 2ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 21, IIª Série de 1966.

FRANCISCO MENDES MADEIRA, Soldado de Artilharia, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

HELDER MARQUES DO CARMO ÁGUAS, Furriel Miliciano de Infantaria, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 12, IIIª Série de 1966.

JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES COELHO, 1º Cabo de Artilharia, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

JOSÉ AUGUSTO DA SILVA MARQUES, Soldado de Artilharia, por acção praticada no dia 3 de Outubro de 1965, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

RICARDO LOPES DA SILVEIRA, Capitão de Artilharia, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 20, IIª Série de 1966.


Companhia de Artilharia nº 644

Depois de ter intervenção na área de Mansabá, no período de 13 de Abril a 4 de Maio de 1964, sob a orientação do Batalhão de Caçadores nº 512, regressa á área do seu batalhão, como unidade de reforço e para incrementar a actividade operacional, em 24 de Maio de 1964.

Em 15 de Agosto de 1964 foi substituída na guarnição de Mansabá pela CCAÇ 1421 e transferida para Mansoa, na qualidade de subunidade de intervenção e reserva, tendo efectuado operações nas regiões de Benifo e Sinre.

A 28 de Outubro de 1965, com a chegada da CART 1525, assume a responsabilidade do subsector de Mansoa, guarnecendo o destacamento de Cutia, e em 15 de Outubro de 1965, o destacamento de Encheia.

De 24 de Janeiro de a 4 de Fevereiro de 1966, troca, de novo, a posição com a CART 1486, até à chegada da CART 1525, após o que é deslocada para Bissau.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

MANUEL DA SILVA GAGO, 1º Cabo Radiotelegrafista nº 2409/63, solteiro, filho de Francisco da Cunha Gago e Maria Ascensão Silva, natural da freguesia e concelho do Fundão, faleceu em 15 de Agosto de 1965 vítima de acidente de viação na estrada de Mansabá – Mansoa, junto a esta localidade. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 1884.

LUIS CIRIACO JOSÉ VITORINO, 1º Cabo Condutor Auto Rodas nº 2203/63, solteiro, filho de Luís Fernando Vitorino e Maria José Vitorino, natural da freguesia e concelho de Faro, faleceu em 26 de Janeiro de 1965, vítima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério de Faro.


As Companhias de Artilharia nºs 642 e a 643 regressam à Metrópole em 27 de Janeiro e as restantes forças (CCS e CART 644) em 9 de Fevereiro de 1966.

(José Martins)

Texto: © José Martins (2009). Direitos reservados
Foto: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados
_________
Notas de M.R.:

(*) Vd. outros postes do BART 645 em:

Vd. também o anterior poste desta série em:


(**) Informação adicional do Joaquim Mexia Alves, publicada sob a forma de comentário a este poste:


O Capitão de Artilharia Vítor Manuel da Ponte da Silva Marques foi mais tarde comandante da CART 3494, do BART 3873, Bambadinca, ao qual pertenci.

Tive com ele uma relação muito amiga e fiz com ele algumas viagens de Vila Nova de Gaia para Lisboa.

Era um homeme já com alguma idade para ser capitão e ao que sei chegou a estar preso na Índia quando da invasão.

Era um bom homem que andava sempre com uma espécie de bastão.

Foi substituído, salvo o erro, na CART 3494 pelo então Cap António Pereira da Costa, aqui também "atabancado".

Julgo eu que era o Cap Silva Marques que utilizava a expressão "salta-me a cabeça", e que depois o Cap Pereira da Costa continuou a utilizar.

Tinha um Alfa Romeo cheio de gadjets no interior, entre eles uma televisão. Estamos a falar de 1971, na Serra do Pilar.

Fico triste em saber que já faleceu.

Sempre me dei optimamente com ele e julgo que a sua companhia também tinha simpatia pelo Cap Silva Marques.

Abraço camarigo para todos

Guiné 63/74 - P4593: Controvérsias (28): As influências dos grandes mestres (Hélder Silva / José Brás)

1. Comentário de Hélder Sousa ao Poste P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (*):

Zé Brás
Aquela parte do texto seguido, sem pontuação, é sem dúvida um belo teste à nossa capacidade de improvisar, imaginar as falas, os autores, até, se quisermos, podemos dar o "tom" que acharmos mais convenientes. Bem pensado!
Mas, aqui p'ra nós, não há por aí uma "inspiraçãozinha saramagiana"?
Fico a aguardar o próximo.

Um abraço
Hélder S.


2. Comentário de José Brás ao Comentário do Hélder Sousa, enviado para mim, hoje mesmo:

Pois é, Hélder!
"Cutucaste a onça com vara curta" ¹. Quer dizer, meteste o dedo na ferida.
Desatar uma pequena discussão sobre o que é originalidade e imitação, é um exercício, a meu ver, absolutamente meritório num espaço e num (a nossa terra) tempo (o nosso tempo) de suaves marés, de acomodar sem chatices num politicamente correcto que garante o verniz e a polidez do trato mas mata de hipoxia a existência de contrários, motor, afinal, que sempre empurrou o mundo em frente.

Estás de acordo, pelo menos até aqui?

Na verdade, com esse quadro, lucram os medíocres, os bufos do reino com suas macaquices e perdem os que querem romper e abanar o sistema, atirados para o saguão do esquecimento.
Quanto a mim não seria nenhum drama que o mundo se dividisse em milhões de cabeças e diferenças no olhar sobre as coisas, se se pudessem fechar as centrais da manipulação massiva e global, as máquinas triturantes do pensamento individual e, pior ainda, da capacidade individual e do desejo de pensar, fornecendo no mercado a preços cómodos, o pronto a vestir cultural.

Aqui no blogue tenho assistido com frequência a alguma retracção sobre o acto de dizer "não estou de acordo", ou então, assumindo a diferença, resvalar algumas vezes para um certo desaforo.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, diremos, não é?

Mas peguemos no "Saramagismo" daquela pequena parte do "De bicicleta na guerra".

Mas peguemos-lhe com seriedade e discernimento, sem afirmações ofensivas nem recusas ofendidas; distinguindo muito bem o que é influência daquilo que, por vezes, não passa de macaqueação pobre, senão mesmo, de roubalheira chapada.

Bem! Sendo a tua pergunta já uma afirmação, não tens que te encolher por a teres colocado assim, antes e ao contrário, te sentires nela homem inteiro apenas, e amigo, ainda por cima, aguardando a minha resposta.

Pronto, lá vem ela.

Pode dizer-se que sim, Hélder... e pode dizer-se que não.
Eu cá, sem complexos nem preconceitos, dir-te-ei que talvez.
E poderei também adiantar que nem sei se é uma certeza segura se uma segura incerteza.

Necessário é dizer que, primeiro, tendo sido Saramago uma das mais galvanizantes leituras da minha já longa vida, difícil seria recusar-lhe influências.
Caramba! Então não é que Saramago me deu a conhecer aquele carreiro que com suas juntas de bois carregava calhaus para Mafra, fazendo-me sentir carreiro ou abegão ou outro nome qualquer da profissão e do trabalho de conduzir os animais e as carroças nos caminhos do mundo; chamando o gado, forçando a rota, empurrando, puxando, gritando, já com a cabeça cheia do caldo quente da noite que se aproximava, da noite com sua mulher, sentindo a cama, o arredio coito. Sentia-me eu, também, naquela linhas do "Memorial", na dor da ausência semanal, no gozo antecipado pela memória do antes, na imagem de uma mulher à espera do seu quinhão, roubado, afinal, por ordens do senhor D. João V.

E a grandeza humana de Blimunda, mulher amante, mulher sonho, mulher terra?

E o Sete Sóis, bravo e fraco ao mesmo tempo, como todo o homem que tem a sorte de encontrar sua mulher?

Já havia vivido as dores e as coragens desta gente que se levantava do chão, em Montemor, para exigir trabalho e salário e dignidade.
Saramago foi meu amigo de alguns anos.
Não vou explicar-te aqui porque é que conjugo o verbo no pretérito, dir-te-ei, apenas que por confirmação do que ele próprio disse a uma colega minha em pleno voo para o Rio, quando o apresentei à tripulação e ela, surpreendente e corajosa se descaiu com um "o senhor não é lá muito simpático", recebendo dele como troco "os escritores são para se lerem, não para se conhecerem".

Direi ainda que Saramago foi a primeira pessoa a conhecer o "Vindimas no Capim", ainda andavam as palavras apenas fixadas em A4's caídas da minha máquina de escrever.

E mais! Que terei sido eu um dos que primeiro conheceu a Maria Sassa que com sua vara riscou o chão e libertou a Península como "Jangada" solta no mar em busca das metades que todos nós temos em África e na América.
Não irias tu, Hélder, imaginar que tal admirador e amigo ficaria imune à riqueza da palavra do mestre!

Aliás, armado em xico esperto, poderia mesmo dizer-te que, em termos de arte, está tudo inventado e somos todos apenas relógios de repetição e eco do que outros disseram antes ou... que irão dizer no futuro.

O próprio Saramago há-de parecer outro qualquer em algum sítio do que fala e escreve.
Com efeito, então, pode aceitar-se que aquele pedaço de escrita, amontoando falas de faladores diversos e diferentes nas convicções, nos medos e nas coragens, se chega muito à forma Saramagina.
Porém, a meu ver, também se diferencia num pormenor, sendo em Saramago o meio de colocar no mesmo saco o narrador e o leitor, quer dizer, desatando a trama em dois tempos num só, na minha forma de escrever, quase sempre, e também ali, eu tento envolver o narrador, o personagem e o leitor, três tempos portanto, na mesma trama.

É minha intenção, de facto, retirar o personagem do simples papel de relatado numa pessoa que se conta, sendo contado, e se envolve com o contador (emissor) e com o leitor (receptor) transportado também para o centro do drama.
Quando saiu o "Vindimas no Capim" críticos e jornalistas da especialidade perguntavam-me como havia conseguido. E eu que nem me havia apercebido da coisa, respondia apenas: - "Não sei. Serei assim mesmo na vida".

Também alguns adiantaram que o livro sabia ainda a neo-realismo. Eu relia, comparava e não achava onde, pensando que talvez o dissessem porque estava lá escarrapachado a vivência em Vila Franca e no caldo cultural de então, ou, mais distante, o facto de nele se falar de abusados e explorados, de senhores e abusadores.
Continua a parecer-me, porém, que, fora isso, na forma e no estilo narrativo, as semelhanças serão muito poucas.

Outra coisa bem diferente é alguém pensar-se escritor (e eu não me considero tal), despreocupado da realidade e do seu povo, abusado e sofrido.
E tu sabes disso. Disso e de que não vem mal ao mundo nos sinais de tal alegada influência, apanhada aqui e ali.

E para já... um grande abraço, preferindo enviar o meu comentário ao teu comentário porque, imodestamente me parece pedagógico este exercício, ainda que possa suscitar dúvidas a sua publicação.
José Brás


3. Comentário do Editor:

Caros camaradas
Resolvi publicar hoje mesmo estes comentários do Hélder Sousa e do José Brás, porque nem sempre se trocam impressões a este nível.

Obrigado a ambos.
CV
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (4): De bicicleta na guerra

Vd. último poste da série de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4590: Controvérsias (21): O helicóptero do PAIGC, visto na zona do Cacheu pela 1ª vez na madrugada de 13/10/64 (António Bastos)

Guiné 63/74 - P4592: Bibliografia de uma guerra (51): "Cambança" de autoria de Alberto Branquinho (José Martins)

1. Mensagem de José Martins (*), ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, com data de 19 de Junho de 2009:

Bom dia

Fiel ao princípio de NÃO COMENTAR, MAS DIVULGAR, segue um texto sobre no livro "CAMBANÇA" do nosso camarada Alberto Branquinho (**).

Um abraço e - até amanhã camaradas
José Martins


"CAMBANÇA - Morte e vida em maré baixa"

É a passagem para outro lado
Por vezes uma fuga ou uma mudança
Pode ser uma partida ou uma chegada
Quase sempre com a vida em maré baixa

(Pequeno intróito do livro de Alberto Branquinho)

O autor, Alberto Branquinho e o anfitrião José Paulo Sousa

A uma distância de trinta e cinco anos do final (?) da Guerra Colonial, já se devia poder fazer uma análise serena sobre o que nela se passou.

Na realidade, e considerando que se mantém um período de carência de 25 anos, para se transformar um facto passado em história, no nosso caso e concretamente em relação à guerra, parece que ainda é cedo, diria mesmo, ainda é muito cedo.

Há feridas que ainda não fecharam e há feridas que, inútil e desnecessariamente, vão sendo abertas!

- É passagem para outro lado – uma corrida num vai e vem da terra para o quartel e, de novo, do quartel para a terra, com a própria terra a despovoar-se, faltando braços que a trabalhem.
- Por vezes uma fuga ou uma mudança – que entre fugas (algumas) e mudanças (muitas), provocou alteração profunda na forma de pensar e estar que, irremediavelmente, mudou a face deste país.
- Pode ser uma partida ou um regresso – partida foi para todos, mas nem todos regressaram! Há aqueles que não voltaram, como nós os qualificamos, mas muitos voltaram na altura própria, mas ...
- Quase sempre com a vida em maré baixa!

O autor, no uso da palavra

Mas, voltando a "Cambança", diz o autor que “as aldeias, rios e lugares constantes do texto não existem na realidade geográfica da Guiné”.

Mas os lugares reais estão lá e recordaremos a cada página: Bafatá, Bambadinca, Canquelifá, Cobumba, Dunane, e, os rios, continuam a serpentear no seu leito.

As histórias em tempo de guerra relembram os factos que, apesar da época em que se passaram, são sempre transversais a todos os combatentes, recordando as operações, penosas quase sempre, nos patrulhamentos pela mata e/ou bolanha [Cambança I e II, Navegações]; no assalto a objectivos, com desfecho sempre imprevisível [Abençoados? Jogo de Damas]; nos ataques sofridos no aquartelamento, flagelados sempre de local diferente, mas sempre fora do alcance das nossas armas e da retaliação possível [O aniversário do Cabo Tomé, (Des)temor]; a chegada do correio, com o encanto e o desencanto das noticias [Quatro actos para um ponto de vista – Acto 2 – Passeios]; a vida, sempre no limite, e a morte, sempre presente [Despojos]; o padre e o médico que, à sua maneira, que também queriam alterar o curso da guerra e o mundo[O Padre Aurélio, Mesinha? Cá tem!]; as populações, e sobretudo as crianças (o elo mais fraco), quase sempre os mais frágeis na cadeia de intervenientes [Babby Setter, Parto], além de outros casos [e histórias].

É um conjunto de pequenas histórias, mas que nos transportam para locais daquela terra que, se os homens quisessem, podia ser um local paradisíaco, mas onde, ainda hoje, o poder das armas fala mais forte.

Até quando?

Aspecto da assistência à conferência

Batalhão de Artilharia n.º 1913

Formada sob a divisa “Por Portugal – um por todos e todos por um”. No Regimento de Artilharia Pesada n.º 2, aquartelada na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, foi comandada pelo Tenente-coronel de Artilharia Abílio Santiago Cardoso, tendo como 2.º comandante o Major de Artilharia Luís Teixeira Fernandes e, sucessivamente, como Oficial de Informações e Operações, os Capitães de Artilharia Ernesto Chaves Alves de Sousa e Luís Alfino Castel-Branco Alves da Silva.

Teve como subunidades orgânicas a Companhia de Comando e Serviços (comandada pelo Capitão do Serviço Geral do Exército Rodrigo Botelho da Costa) e as companhias operacionais a 1687 (Capitão Miliciano de Artilharia Vicente João Cardoso de Macedo de Meneses), a 1688 (Capitão de Artilharia Damasceno Maurício Loureiro Borges) e a 1689 (Capitão de Artilharia Manuel de Azevedo Moreira Maia, Capitão de infantaria Martinho de Sousa Pereira e Capitão de Artilharia Rui Manuel de Andrade Cardoso)

Embarcaram em Lisboa em 26 de Abril de 1967, tendo desembarcado em Bissau no dia 1 de Maio. No dia seguinte – 2 de Maio – o batalhão assume a responsabilidade do Sector S3, sedeado em Catió, e que abrangia os subsectores de Bedanda, Cufar, Catió, Cachil (extinto em 18Jul68) e Cabedú (também este extinto em 30Jul68 e a sua área integrada no subsector de Catió).

Desenvolveu a sua actividade operacional, de forma a garantir a circulação nos itinerários, promover a recuperação e protecção das populações ali sedeada e criar instabilidade aos IN, de forma a não facilitar a sua movimentação no terreno.

Para tal foram efectuaram as operações “Penetrante”, “Sttela”, “Pleno” e “Futuro Próximo”, entre outras, tendo sido capturado um lança granadas foguete, duas pistolas-metralhadoras, quatro espingardas, trinta e quatro minas, cento e dezassete granadas de armas pesadas e seiscentos e cinco cartuchos de armas ligeiras.

Foi rendido pelo Batalhão de Caçadores n.º 2865, recolhendo a Bissau.


Companhia de Artilharia n.º 1687

Integrada no dispositivo do seu batalhão, assumiu em 2 de Maio de 1967 a responsabilidade do subsector de Cachil. Em 9 de Julho de 1967 assume a responsabilidade do subsector de Cufar, onde se manteve até ser rendida pela Companhia de Caçadores n.º 2477, tendo recolhido a Bissau em 18 de Fevereiro de 1969.


Companhia de Artilharia n.º 1688

Fica sedeada em Bissau, integrada no dispositivo do Batalhão de Artilharia n.º 1904, tendo efectuado um treino operacional de adaptação em Bula e, posteriormente, tomou parte em operações na região de Ponate, Choquemone, Manga e Late, entre outras.

Desloca-se, por fracções, entre 31 de Maio e 7 de Junho de 1967, afim de assumir o subsector de Biambe, destacando um pelotão para Encheia, entre 04 de Junho e 15 de Outubro de 1967, ficando integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores n.º 1876 e, depois, do Batalhão de Cavalaria n.º 1915.

Em 19 de Fevereiro de 1969, substituída pela Companhia de Caçadores n.º 2464, recolheu a Bissau.

O autor localizando no mapa a região sul onde, durante algum tempo, a sua subunidade, a CART 1689, actuou.

Companhia de Artilharia n.º 1689

Depois de efectuar um treino operacional em Fá Mandinga, até 24 de Maio de 1967, substitui a Companhia de Caçadores nº 1439, integrada no Batalhão de Caçadores n.º 1888, como unidade de intervenção e reforço, tendo cedido um pelotão para reforço de Bambadinca, até 18 de Julho de 1967.

A 19 de Julho de 1967 foi colocada em Catió, como unidade de intervenção e reserva do Agrupamento n.º 1975, para actuar em operações realizadas no sul, nas zonas de Cobumba, Afiá, Nhai, Cabolol Balanta, entre outras, e atribuída ao Batalhão de Artilharia n.º 1914, entre 25 de Novembro e 13 de Dezembro, como unidade de reforço. Ainda foi colocada, temporariamente, entre 5 e 11 de Janeiro de 1968, no subsector de Cabedu. Substituindo a Companhia de Artilharia n.º 1614, até à chegada da Companhia de Caçadores n.º 1788.

Foi atribuída ao Batalhão de Artilharia n.º 1896, de 24 de Março a 15 de Maio de 1968, ficando instalada em Buba e, a partir de 8 de Abril de 1968 deslocou-se para Gandembel, em reforço da guarnição local e para construção do aquartelamento.

Troca com a Companhia de Caçadores n.º 1788, assumindo o subsector de Cabedú até a sua extinção em 30 de Julho de 1968.

Assume o subsector de Canquelifá, substituindo a Companhia de Caçadores n.º 1623, em 6 de Agosto de 1968, destacando um pelotão para Dunane. Fica, assim, integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores n.º 2835, sedeado em Nova Lamego.

É substituída em 1 de Dezembro de 1968 pela Companhia de Artilharia n.º 2436, partindo para Bissau em 5 de Dezembro, onde foi integrada no dispositivo do Batalhão de Caçadores n.º 1911, efectuando a segurança e protecção da área.

O autor, no uso da palavra.

A unidade sofreu várias baixas, quer dos seus elementos das suas subunidades ou de outras forças integradas no seu dispositivo.

Foram agraciados os seguintes militares:

* Alferes Miliciano de Artilharia HENRIQUE FERREIRA DE ALMEIDA, condecorado, a título póstumo, com a Cruz de Guerra de 2.ª Classe, conforme Ordem do Exército 2/IIª/70;

* Soldado Apontador de LGFoguete COL QUESSANGUE, do recrutamento da província, condecorado com a Cruz de Guerra 3.ª Classe, conforme Ordem do Exército 4/IIIª/70.

O Batalhão de Artilharia n.º 1913, e as suas subunidades orgânicas, dá por terminada a sua comissão de serviço e regressam à metrópole em 2 de Março de 1969.

A escritora Joana Ruas, autora de A pele dos Séculos, quando tentava trazer à discussão aspectos do inicio da retracção das nossas tropas e, sobretudo, a “instabilidade” que os nossos Comandos Africanos teriam provocado em Bissau. Tema que, ainda que prontamente rebatido com factos, não se inseria no contexto daquela conferência.

José Martins
Fur Mil Trms Inf
C Caç 5
Gatos Pretos
CTIGuiné/Nova Lamego e Canjadude
02/06/1968 a 02/06/1970
josésmmartins@sapo.pt
16 de Junho de 2009
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4500: Controvérsias (16): Deixem que sejam os ex-Combatentes a cantar o Hino Nacional (José Martins)

(**) Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4448: Agenda Cultural (15): 2º Ciclo de Conferências “Memórias Literárias da Guerra Colonial”, em 4 de Junho (Alberto Branquinho)

Vd. último poste da série de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4586: Bibliografia de uma guerra (50): Os Comunistas e a Guerra Colonial (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P4591: Blogoterapia (110): Filomena deu a mão à “palmatória” (Filomena Sampaio/Luís Graça)

1. Da nossa leitora Filomena Sampaio, que trabalha numa empresa que é actualmente um dos líderes europeus na produção de Folhas e Tecidos Plastificados, para revestimento de componentes do interior automóvel, recebemos a seguinte mensagem com data de 25JUN2009:

Sr. Dr. Luís Graça/Sr. Carlos Vinhal,

Peço desculpa por todo o incómodo causado pelo meu comentário ao poste “Em busca de letras de fado, perdidas no restaurante da Quinta do Paúl”, antes e depois de me ter identificado.

Não agi em conformidade com as regras estabelecidas no Blogue. Tive o meu merecido castigo.
Continuarei “enquanto me for permitido” a ler as histórias do Blogue, que sigo desde Junho de 2007, principalmente para ler os escritos das Pessoas que mais gosto de ler.

Em relação aos comentários, tudo farei para resistir à tentação de os fazer.

Certa de que me compreenderão, envio os meus mais sinceros votos de felicidades para Vocês e para a continuidade do Blogue.

Abraços,
Filomena

O Luís Graça respondeu com as seguintes palavras:

Filomena:

Amiga, tu és membro de pleno direito do nosso blogue... Podes sempre fazer os comentários que quiseres...

Para evitar as armadilhas do "anonimato", por que não arranjas uma conta no Google/Blogger... Com um endereço “gmail”, a tua foto pode aparecer automaticamente sempre que fazes um comentário no blogue...

Pensa nisso.

Não quero que "resistas à tentação de fazer comentários"...

Um bj.

Luís
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Notas de M.R.:

Vd. poste da Filomena em:



Vd. último poste da série em:

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4590: Controvérsias (27): O helicóptero do PAIGC, visto na zona do Cacheu pela 1ª vez na madrugada de 13/10/64 (António Bastos)


1. O nosso Camarada António Paulo Bastos, que foi 1º Cabo do PEL CAÇ 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), recebemos a seguinte mensagem, em 16JUN2009:


Companheiros da tabanca grande,

Li o que o companheiro Armandino Alves, escreveu sobre o helicóptero do P.A.I.G.C. no poste P4485 e eu venho junto de vós, por este meio, confirmar que o inimigo tinha esse dito transporte.

O meu nome é António Paulo S. Bastos e fui o 1º Cabo nº 371/64, do Pelotão de Caçadores Independente nº 953, que esteve na zona de Cacheu de 21JUL64 a 09MAR65, aquando da nossa permanência na zona também vimos por várias vezes o mencionado helicóptero.

A 1ª vez foi no dia 13-10-64, eram 02h30 da manhã, estava eu de ronda quando uma sentinela, que nós tínhamos no telhado de uma das nossas instalações, me chamou para ver uma luz que se deslocava do lado do Senegal, para os lados de Jolmete.

Logo de seguida fui chamar o Tenente Pombeiro e lá fomos todos para o telhado ver o caminho que a luz levava. De imediato o Tenente comunicou via rádio para o Comando da Companhia 527 e para o Comando do Batalhão 507. No dia seguinte recebemos uma resposta: “Nós temos conhecimento e Bissau está informado”.


No dia 18-10-64, pela 01h00 da manhã, tornou-se a ver novamente a tal luz seguindo o mesmo percurso. Vinha do lado do Senegal, passava por cima do pequeno rio de S. Domingos, depois seguia o curso do Rio Cacheu, encaminhava-se para Coboiana e tomava o rumo de Jolmete, até que, finalmente, o perdíamos de vista.

No dia 30-10-64, eram 23h00 horas, voltamos a ver a luz mais uma vez, seguindo o mesmo percurso para a zona de Jolmete. Como nessa noite estava uma lancha de fiscalização encostada ao cais (salvo erro a Orion), o Tenente correu para lá e ainda viram o tal “objecto” no radar.

Escusado será dizer que mais uma vez, no outro dia, lá foram duas secções com os guias (o Aléu e o Claudino) comandadas pelo nosso tenente, falar com o régulo de Coboiana - o João -, e ele voltou a repetir que na zona dele não haviam “bandidos”.


Os companheiros que estão a ler isto agora pensam: “Então estes gajos iam a Coboiana com duas secções? É verdade, “mais valia prevenir que remediar” e sempre que íamos para a zona, também passávamos pelas tabancas de Jópa e Caguépe, sempre a nível de duas secções (uma de negros e outra de brancos).

Continuamos a ver o helicóptero e deixamos de nos preocupar, pois parece que também não havia ordem para o abater.

Texto e fotos: © António P. S. Bastos (2009). Direitos reservados


Um abraço,
António Paulo
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 – P4589: Agenda Cultural (20):Conferência Angola,ContribuiçãoaoEstudodaGénesedoNacionalismo ModernoAngolano,30Junho (Edmundo Rocha)

CONVITE
Camaradas Tertulianos,

Trazemos ao vosso conhecimento mais um convite, que nos foi endereçado, para a vossa presença em mais uma Conferência dedicada ao tema: " Angola, Contribuição ao Estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – Período de 1950 a 1964”, a ser proferida pelo Sr. Edmundo Rocha.

Este evento vai decorrer no próximo dia 30 de Junho, pelas 19 horas, na Biblioteca-Museu República e Resistência/Grandela, em Lisboa.

A BIBLIOTECA-MUSEU REPÚBLICA E RESISTÊNCIA, situa-se em:

ESPAÇO GRANDELLA
Estrada de Benfica, 419
1500-078 Lisboa
Telefone: 21 771 23 10

Um abraço,
José Paulo Sousa
__________

Nota de M.R.:

(*) Vd. poste anterior, desta série em:

Guiné 63/74 - P4588: História da CCAÇ 2679 (20): Férias na Metrópole em Junho de 1970 (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 19 de Junho de 2009:

Caros editores e Pessoal da Tabanca
Não se tratando propriamente da história da CCaç 2679, trago-vos hoje um naco de prosa que pode vir a despertar-nos a curiosidade para a política colonial, os critérios na defesa do território, o alheamento a determinações internacionais que foram válidas para as potência coloniais mais estruturadas que Portugal, enfim, para a partilha de conhecimentos no que à nossa história recente concerne e, muitas vezes, não nos chega ao conhecimento.

Ao Luís, ao Carlos, ao Virgínio, e ao pira Eduardo, faço votos de boa viagem para amanhã.

Abraços fraternos
JD


História da CCaç 2679 - Férias na Metrópole em Julho de 1970

No último episódio referi os dias de Bissau, que antecederam a partida em gozo de férias, e os primeiros dias de descanso na minha vila, com gulosa curiosidade sobre tudo o que parecia e era novidade; novas obras públicas e privadas, prédios que apresentavam novas cores, a evolução da moda feminina em época estival, um sem número de diferenças que realçavam após as últimas férias aqui passadas em Janeiro.

Depois, foi o correr acelerado dos dias, como que a antecipar a partida de regresso à Guiné. Até que um dia o país parou: era o funeral de Salazar. Decretado o luto geral, foi construído um ramal de caminho de ferro, desde os Jerónimos até à linha do Estoril, escassas centenas de metros que permitiram a ligação do monumento ao destino final em Santa Comba Dão. Morrera o Pai da Pátria, que deixava órfãos muitos portugueses que não distinguiam a política de uma letra. Entre nós, todos recordamos a grande maioria que não sabia ler, ou aqueles que sabendo ler, não sabiam interpretar o que liam, nem alinhavar uma carta para a família. Morrera o homem que nos conduzira para a guerra colonial.

Mas Salazar era, indubitavelmente, uma figura de fascínio, e um homem austero e sério, tendo em conta a fidelidade aos seus princípios, que nunca omitiu ou travestiu. Podia ter sido rico, porque, com grande frequência, lhe remetiam quantias de vulto, ou era beneficiário de testamentos generosos, mas que ele mandava redistribuir pelos mais carenciados, contrariando os princípios da economia que se orientam para a criação de riqueza, que poderiam, de outra maneira, criar novos empregos, dar profícuo exemplo de solidariedade social, enquanto, assim, perpetuava os necessitados e o verdadeiro exército de reserva para os empregadores mais gananciosos. Em vida, já era um mito, e mito continua. Tendo em conta aspectos menos conhecidos da sua identidade e percurso, decidi fazer uma pesquisa e traz-la à Tabanca, sem pretensões de ganhar a consideração colectiva como dono da verdade, mas procurando boas fontes para um bom retrato do cidadão que, tomado o poder, estabeleceu uma teia de obediência cega e seguidismo político que, decisivamente, influenciaram a rota do país no concerto das nações, sem pejo no derrube de adversários sempre que achava oportuno. Tentarei, também, ser equidistante entre os testemunhos e e os meus sentimentos e pontos de vista, daí estes apontamentos breves que passo a apresentar.

Dentro de Portugal, o domínio quase absoluto do regime por Salazar foi em crescendo. A conversão gradual do Primeiro-Ministro em ditador condicionou o robustecimento do Estado Novo. Ele próprio se deu conta do facto e declarou que nova era de consolidação se iniciara por volta de 1936. Além da chefia do Governo e da pasta das Finanças, Salazar tomou para si a da Guerra e a dos Negócios Estrangeiros (desde 1936), conservando a primeira até aos começos e as outras duas até ao final da guerra. Considerava-se o guia da nação, acreditava que havia coisas que só ele podia fazer (Infelizmente há muita coisa que parece só eu posso fazer - nota oficiosa publicada em Setembro de 1935) e conseguia que parte importante do país o fosse acreditando também.

Nasceu em 28/4/1889, descendente de uma família de pequenos proprietários agrícolas.
A sua educação foi fortemente marcada pelo catolicismo, chegando a frequentar um seminário. Mais tarde estudou na Universidade de Coimbra, onde se formou e chegou a docente de Economia Política. Ainda durante a 1.ª República inicia a carreira política como deputado católico para o Parlamento Republicano em 1921. Já em plena ditadura militar foi nomeado para Ministro das Finanças, cargo que exerceu por 4 dias, segundo uns, por 13 dias, segundo outros, devido a não lhe terem delegado todos os poderes que exigia. Com Carmona regressou à pasta das Finanças, com a capacidade de supervisionar as receitas e as despesas de todos os ministérios. Conseguiu sanear as finanças.

Em 1932 chega a Chefe do Governo. Em 1933, com a aprovação da nova Constituição, forma-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante aos de Mussolini e Primo de Rivera.

As graves perturbações dos anos 20 e 30 na Europa ocidental levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que ousavam discordar da orientação do Estado Novo.

A neutralidade durante a II Grande Guerra foi facilitada pela Espanha que negou autorização à Alemanha para, atravessando o seu território, atacar Gibraltar e criar uma frente atlântica, por isso andou em relações equidistantes relativamente aos beligerantes, tirando partido sempre que possível, como, por exemplo, a venda de volfrâmio a qualquer deles, do que resultaram anos de bons resultados para a balança de transacções. O declínio do império Salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par da forte emigração e de um crescimento capitalista de difícil controle, que a guerra colonial acentuava. Foi afastado do governo em 1968, em virtude de acidente. Acabaria por falecer em Lisboa a 27/7/1970.

- Sei muito bem o que quero e para onde vou - afirmou, denunciando o propósito, na tomada de posse como Primeiro-Ministro.

Com as orientações que emanava, na imprensa, que era controlada pela Censura, Salazar seria muitas vezes retratado como o salvador da Pátria. O prestígio ganho, a propaganda, a habilidade política na manipulação das correntes da direita republicana, de alguns sectores monárquicos e dos católicos, consolidavam o poder. O Presidente da República consultava-o em cada remodelação ministerial. Deu expressão ao Milagre de Fátima e disso tirou tanto partido quanto pode. Enquanto a oposição democrática se desvanecia em sucessivas revoltas sem êxito, Salazar recusava o regresso ao parlamentarismo e à democracia, e criou um regime de partido único, que veio a revelar-se essencial para a implementação das suas ideias e de um regime de dependência corporativa.

Com a morte de D. Manuel II (1932), Salazar deixou claro que a monarquia não seria o seu regime para Portugal. A observação de documentos da época, e o conteúdo da correspondência com Marcelo Caetano, revelaram que o seu alegado monarquismo inseriu-se num habilidoso jogo político, através do qual Salazar conseguia obter apoio de alguns monárquicos para sustentarem o seu regime, expectativas que ainda se prolongaram no tempo.

Em 1933 foi aprovada nova Constituição através de um plebiscito. A seguir criou o Estado Novo, uma ditadura anti-liberal e anti-comunista, que se guiou pelos princípios, "Deus, Pátria e Família". Toda a vida económica e social foi organizada em corporações de nomeação e direcção estatal, tal como os sindicatos, que através da filiação sindical, garantiam as definições de carreiras e controlavam a massa de trabalhadores. Durante o Estado Novo, os Presidentes da República que foram periodicamente eleitos por sufrágio até 1958, tinham na prática funções meramente cerimoniais. Era o Primeiro-Ministro que dirigia os destinos da nação.

Em Julho de 1936 enviou forças militares para Espanha, o que nunca foi reconhecido oficialmente. Nesse ano criou a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa. Ocupou em simultâneo várias pastas ministeriais: Finanças, Negócios Estrangeiros, Guerra e Colónias.

Durante a guerra a base das Lajes tornou-se uma primeira necessidade para o controle de operações no Atlântico por parte dos Aliados. Salazar, não evitando a pressão, negoceia como contra-partida, o fornecimento de armamento (temendo um revanchismo alemão), e garantiu a restituição da soberania portuguesa em Timor, pelo final da guerra. A posição de neutralidade e a consequente abertura de canais diplomáticos com ambas as partes, permitiu que a balança comercial portuguesa mantivesse saldo positivo durante boa parte do conflito (1941/2/3). Mas com o advento da paz e a criação de um fundo de desenvolvimento, o Plano Marshall, Portugal, que, apesar da neutralidade, teve oportunidade para esse acesso financeiro privilegiado. recusou-o.

Em 1949, aquando das eleições para Presidente da República, o candidato oposicionista Norton de Matos, catalisava os votos da oposição, bem como de uma larga franja de populares, e ameaçava a continuidade do regime. Com recurso a elementos preponderantes, no geral ligados à Legião e à Polícia Política, o Estado Novo conseguiu adulterar os cadernos eleitorais em vários círculos e, com isso, garantir antecipadamente a vitória esmagadora. Como essas manobras foram feitas com algum descaro ou falhas, resultou o conhecimento público da tramóia e, por isso, foi retirada a candidatura do velho general, que durante os meses da campanha desenvolveu surpreendente actividade em quase todo o país.

Também em 1958, com Delgado como candidato presidencial oposicionista a ameaçar a vitória nas eleições, foi aplicada a mesma receita, perante as evidências de tantos ou mais votos apoiantes quantos contaria Norton de Matos. Foram as últimas eleições ditas por sufrágio universal para a Presidência da República que aconteceram na vigência do Estado Novo, que circunscreveu as eleições aos votos das assembleias que dominava.

A relação de Portugal com as colónias e a comunidade internacional

Até à primeira metade do século vinte, eram mal defendidas as fronteiras das colónias, face à escassez de residentes europeus, que se fixaram, no caso angolano, quase só nas regiões de Luanda e Benguela, e à falta de sentido da nacionalidade por banda da esmagadora maioria da população local. Nova Lisboa, depois Huambo, que veio a ser a segunda cidade da província, nasceu nos anos vinte, e o resto do território quase não tinha ocupação colonial. Mas sabia-se dos grandes recursos, e já se exploravam diamantes. Também as relações com os colonizados não foram as melhores.

Norton de Matos, na qualidade de Governador-Geral, que teve inicio em 1912, tentou um empréstimo de vinte mil contos a que deveria corresponder um plano de fomento, a realizar em dez anos, distribuindo-se as verbas por comunicações telegráficas, estradas, caminhos de ferro de via reduzida, e o que chamou instalações de ocupação: circunscrições civis e militares, hospitais, ambulâncias, assistência médica aos indígenas, escolas e serviços agrícolas, enquanto regulava no sentido de estabelecer regimes contratuais que dignificassem as condições de trabalho para os nativos, garantindo-lhes liberdade e respeito humano, até a possibilidade de se tornarem agricultores por conta própria. Pela segunda vez que voltou a Angola o figurino não se alterara.

Estas directivas mereceram repúdio, principalmente dos latifundiários, companhias mineiras e agrícolas, e empresários de arregimentação de mão de obra, e a complacência do Governo Central. Afinal persistia a escravatura.

Do postulado que serviu de fundamento ideológico à Carta das Nações Unidas (a Declaração dos Direitos do Homem é anterior), decorriam, em matéria colonial, consequências que vieram a ser consignadas nos artºs. 73.º e 74.º sob o título "Declaração relativa a territórios sem governo próprio". Nesse âmbito, o tão debatido conceito de autodeterminação, admite que se deva conduzir à independência, mas sem essa imposição, para não se consagrar na prática, a independência à força. Para essa solução,o texto dos artigos citados aponta determinada orientação. Assim, na alínea e) do art.º 73.º estabelecia-se para os estados a que estivessem submetidos territórios sem governo próprio, o dever de enviarem anualmente, ao Secretário da ONU, um relatório sobre eventos administrativos desses territórios, e sobre os esforços por eles empregues para o progresso das suas populações no sentido de as prepararem, na ulterior fase da autodeterminação, para uma selecção consciente do seu destino (por plebiscito). A Inglaterra e a França não fizeram oposição ao cumprimento do preceituado, apesar da sua força económica e militar. Portugal olhou sobranceiramente para a nova situação, no que veio a designar-se por "orgulhosamente sós".

"Portugal foi admitido da ONU em 1956. Não ignorava a situação, porque tal ignorância, mais do que um erro seria um crime, já que na ONU grassava uma epidemia anti-colonialista. Ora, os nossos governantes sabiam que o art.º.73º, fosse restritiva ou amplificativa a sua interpretação, imporia a adesão de Portugal ao princípio basilar da autodeterminação. Como penetrar na ONU com o firme propósito de não acatar esse conceito?", C. Leal. E prossegue: "Depois de bastas congeminações, a fina flor do escol do regime chegou à mirífica conclusão de que, para este preocupante problema, haveria uma solução tão simples e elegante como a que se atribui a Colombo para pôr em pé um ovo: decretar que não tínhamos colónias, mas sim províncias ultramarinas, que em 1954 haviam sido integradas, constitucionalmente, no nosso todo territorial... E foi com essa tranquila certeza que em 1956 os representantes de Portugal tomaram assento na sala das sessões da Assembleia-Geral da ONU". E assim se deu inicio a um drama.

Cada vez mais se deliberava, e com maior número de aderentes, contra a posição de Portugal em África, onde, entretanto, se desencadeara a luta armada. As pressões conduziram o regime para um beco de isolamento, de onde dificilmente tentava escapar. Boicotes económicos e a fornecimentos tornaram-se frequentes.

Contraditoriamente, o crescimento económico e o povoamento do território, impulsionados pela profusão de obras públicas e pela acção dos grupos económicos nacionais e estrangeiros, provocam um espanto geral, uma espécie de milagre português, nas províncias de Angola e Moçambique. Desenvolvia-se uma pequena burguesia negra que convivia bem com os portugueses.

O General Deslandes era embaixador em Madrid quando o Prof. Salazar o escolheu para Governador Geral de Angola. Dado o seu desconhecimento da Administração Pública e também dos problemas do território - salvo no plano aeronáutico - a sua equipa governativa terá sido indicada pelo Ministro do Ultramar, Adriano Moreira. Os Secretários Provinciais foram escolhidos com critério, constituindo uma equipa de luxo para os seguintes pelouros: Economia; Fomento Rural; Obras Públicas, Transportes e Comunicações; Educação, Saúde e Trabalho, e Administração Interna. Num território daquela dimensão e com uma economia pujante não havia, porém, uma universidade. Tentou-se adaptar os cursos, quer às prementes necessidades, concebendo-os mais curtos e com apenas um mês de férias, quer ao apetrechamento técnico, expurgando-os de cadeiras eminentemente teóricas. O Ministro não concordou com o formato dos cursos, o que ameaçava protelar a decisão e o ingresso de novos técnicos na economia. O Governador, certamente convencido de que o Ministro não conseguiria vencer os obstáculos em Portugal, terá decidido criar o facto consumado.

Assim, em 21 de Abril de 1962 foram instituídos os Centros de Estudos Universitários de Angola, o que a Junta Nacional de Educação considerou inconstitucional, do que resultou a anulação do diploma pelo Ministro do Ultramar. Em 23 do mesmo mês o Ministro anunciava a criação dos Estudos Gerais Universitários em Angola e Moçambique, integrados na Universidade Portuguesa.

No seguimento deste conflito o General foi chamado a Lisboa e, após o decorrer de um processo complexo, demitido de Governador Geral e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola.

Com todas as reformas que corajosamente introduziu, o Prof. Adriano Moreira feriu muitos interesses e criou poderosas inimizades. Por outro lado, o seu protagonismo não deve ter agradado, ou terá mesmo assustado o Prof. Salazar, tanto mais que a imprensa de Lisboa, designadamente a afecta à oposição, dizia estar o Prof. Adriano Moreira fadado para altos destinos...

Assim, o episódio com o General Deslandes veio dar margem de manobra a Salazar para afastar da corrida à sucessão alguém que não constituía a sua primeira preferência e nunca fora considerado da simpatia do regime. Com efeito, ao provocar a demissão do General após um processo de averiguações em que este terá sido acusado de se haver transformado em bandeira dos separatistas de Angola, o Ministro terá perdido o apoio das Forças Armadas, onde o General gozava do maior prestígio. Seguidamente, foi fácil a Salazar dizer-lhe que estava a levar a descentralização longe de mais, tornando-se assim inevitável a sua substituição.

Muitas medidas e episódios se poderiam rebuscar para ilustrar o que foi a política interna e colonial portuguesa nos anos da guerra, mas a proximidade dos factos e a vivência que tivemos, mais a extensão do texto, aconselham-me a deixar por aqui esta breve súmula sobre Salazar, não sem que antes, pela grande curiosidade e caracterização da personagem, vos transmita uns excertos de partes preambulares de legislação do Governo que ele assinou, e foi citada pela Seara Nova, em Maio de 1971, n.º 1507.

Decreto n.º 21014, de 19 de Maio de 1932, manda inserir obrigatoriamente no livro da 4.ª classe dizeres como os que se seguem: "Obedece se saberás mandar"; "Na família o chefe é o pai, na escola é o mestre, no Estado o Chefe é o Governo"; "Mandar não é escravizar, é dirigir. Quanto mais mais fácil for a obediência, mais suave é o mando"; "Se tu soubesses o que custa mandar, gostarias mais de obedecer toda a vida".

Decreto-lei n.º 27279, de 24 de Novembro de 1936, reduz a finalidade do ensino primário "ao ideal prático e cristão de ensinar bem a ler, escrever e contar, e a exercervar as virtudes morais e um vivo amor a Portugal". Este Dec-Lei suspende a matricula nas escolas do magistério primário.

Decreto-lei n.º 27603, de 20 de Março de 1937, exara-se que nas aulas de lavores deve cultivar-se "com brandura e fineza, o gosto por tudo que diz respeito ao lar doméstico e aos trabalhos próprios do sexo".

Decreto-lei n.º 27882, de 21 de Julho de 1937, institui o livro único.

Lei n.º 1969, de 20 de Maio de 1938, atribui à preparação dos professores "sentido imperial, corporativo e predominantemente rural".

Decreto-lei n.º 36147, de 5 de Fevereiro de 1947, veda aos professores a incorporação de livros nas bibliotecas escolares que não tenham sido aprovados superiormente.

Decreto-lei n.º 38968, de 27 de Outubro de 1952, explica o analfabetismo do povo português "pela sua riqueza intuitiva, pelas condições da sua existência e da sua creatividade não sentir a necessidade de saber ler".

Portaria n.º 22966, de 17 de Outubro de 1967, faz a recomendação de "impregnar de espirito religioso as matérias escolares, de tal modo que a religião seja o fundamento e a coroação de todo o esforço educativo".

Elementos nde consulta:
- Informação na internet
- A.H.Oliveira Marques, História de Portugal, Vol.III, Palas Editores
- José Norton, Biografia de Norton de Matos, Bertrand Editora
- Cunha Leal, A Pátria em Perigo, edição do autor
- Jorge E. Costa Oliveira, Memórias de África, Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento - MNE
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4479: História da CCAÇ 2679 (19): O adeus a Piche (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (4): De bicicleta na guerra

1. Quarta história da série Vindimas e Vindimados do nosso camarada José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, baseada no seu livro "Vindimas no Capim" (*), enviada na mensagem de 18 de Junho de 2009:

Carlos
saiu um... entrou outro
o poder é teu
Sábado lá estaremos
e mais um abraço
José Brás


DE BICICLETA NA GUERRA

- Alferes Ávila, prepare um grupo para ir ao Xitole buscar um médico, temos aí um civil acidentado, com a cara em muito mau estado, escureceu e ninguém virá por ele de Bissau senão de manhã, o Furriel enfermeiro confessa-se incapaz de fazer mais pelo homem e o diabo pode arranjar um infecção grave antes da evacuação.

Era o Capitão Loja, sempre preocupado com os habitantes da aldeia, não por qualquer relação com a lenga-lenga oficial da psico mas por genuína e pessoal humanidade.

- Capitão, sabe onde é que o meu pelotão passou a noite, não me parece que estejam descansados para fazer agora cem quilómetros, toda a noite numa estrada como esta...

- É claro. E eu deixo morrer o homem!

- Não... porra, Capitão, se for necessário até lá vou eu. Sozinho. Sozinho com um motorista.

- Deixe-se de bravatas, alferes, arranje aí uma secção reforçada e um furriel para segurar aquilo. O da ferrugem já tem uma GMC e um motorista.

Conversa entre dois ilhéus, um madeirense, outro açoriano, oficiais milicianos do exército português numa companhia em quadrícula na terra Fula de Aldeia Formosa, a África mais próxima que o império ia tocando como podia, teimando, teimando, prolongando os quinhentos anos até espremer completamente o limão, queimando os dedos de tanta e tão longa acidez.

Os dois insulares que mal vos apresentei ainda, aqui engalfinhados de palavra, cada um com suas boas razões, não estavam tão longe como o mar que lhes separa as ilhas na visão sobre aquilo, sobre a posição dos manda-chuva do regime e sobre a inutilidade da sua própria acção nas emboscadas que faziam e que sofriam, nos assaltos a aldeias de gente pobre e espantada, nas matas a norte de Nhacra, nas picadas, nas estradas de Buba, nos bairros de lata onde viviam fora da sede da companhia, Cumbijã, Chamarra, e este nem bairro de lata era mas acampamento de ciganos, coisa que fisicamente mais parecia, e que parecia o Furriel Pixa Negra, que mais pareciam os soldados da sua secção, ocupantes do lugar, chupando calores e mosquitos naquela anarquia besuntona, dormindo como os locais, em escassas casas de adobe e capim, ou ainda pior, pela precariedade da estadia.

Não generalizemos, entretanto, mais do que convém, porque importa esclarecer, tratando-se de gente, as diferenças culturais de cada um, o olhar que, coincidindo na generalidade, se separava no específico da estrutura humana, Capitão um e doutor em humanidades, alinhado já com oposições, escrevendo em jornais do contra, agarrado e ali colocado a comandar cento e tal homens contra outros homens de quem não discordava, outro, Alferes generoso e espalha-brasas, estranhando somente a necessidade de violência, recusando-a mesmo sem maiores profundezas que o desabafo.

- Tá bem, Capitão! Vou ver se engato um desses Furriéis que saem menos a ver se algum está disposto a fazer o frete!.

- Okey, concordo, mas apresse-se com o resto porque em relação a Furriel, estou a vê-lo mesmo daqui e ele está a ouvir a conversa. Já sabe o que lhe calha esta noite.

Cada um foi à sua e a sua do Capitão era eu, salvo seja, naquela emergência. No fito dele estava escolhida a vítima para a noitada.

- Ouviu a conversa, Furriel? Sabe já o que se passa com o civil. Tem alguma coisa a opor?

- Não, nada, até gosto de ir ao Xitole. Pena é que seja de noite. Dê-me licença, apenas de escolher dois ou três dos soldados que irão comigo e que obtenha acordo deles e dos seus Furriéis!

E com esta conversa entre o Loja e eu, acabam os diálogos que só entraram por melhor servirem o esclarecimento da situação, estando já, nesta altura, a impedir a circulação prática das ordens dadas e recebidas, que na tropa e na guerra nem carecem de explicações mas de cumprimento.

Tudo a andar, sete ou oito soldados, dez, se não me engano, GMC, mensagem para o Xitole a confirmar a ida, e lá partimos à aventura.

A estrada nem estava mal e fazia-se até muito bem, tirando um ou dois atravessamentos de linhas de água, sobre pontes improvisadas, um tronco de cibo para cada rodado e olhinhos do condutor, sobretudo ali no escuro da noite.
Às duas por três, a mais de meio caminho para Contabane, avaria a GMC.

- Porra! E agora?

- Bem malta vamos falar baixo estamos mais perto de Contabane e o Sambel tem uma bicicleta que nos empresta para um de nós poder voltar na gáspea à Aldeia trazer outra viatura nesta escuridão Furriel de bicicleta é quase impossível e Contabane está em auto-defesa ainda algum que lá vá leva um tiro a estrada é direita e á vista do posto de sentinela deste lado não tem árvores nem nada a Contabane vou eu com um soldado os outros vão armar emboscada fora da estrada a dez metros da viatura olhos e ouvidos abertos então e quando ouvirmos o barulho da bicicleta a noite não está escura tenham cuidado que aqui ninguém sabe imitar o pio de pássaros nem isto é um filme quem é que vai comigo vou eu e que seja o que deus quiser.

Posta aqui da maneira que lêem, esta mancha de palavras mais parece conversa de doidos ou então relato de analfabeto ainda hoje enervado com a situação de então.

Mas o que é que vocês querem? Eu não tinha já avisado que não continuaríamos pôr aqui a dialogar os protagonistas da crónica, Capitão isto, Alferes aquilo, Furriel isto e aquilo, como se estivessem em palco de teatro, deixando as falas na cadência ensaiada e nos lugares marcados para parecer real, o que real era já de si próprio?
Disse ou não disse?
Agora, desunhem-se, separem vocês as falas, este disse isto e ou outro coisa diferente, e tal.

O trabalho da construção das imagens que devem saltar de um texto, seja ele história, estória, poema, ficção narrativa ou mesmo relatório, não deve ser apenas do emissor. Quem lê, sobretudo vocês que chuparam com muitos trambolhões parecidos, conhecem o chão e o ar quente que ali se respira, o RDM, os salamaleques de militares ainda que mais aligeirados ali no mato do Sul da Guiné, deve também fazer o seu esforço no recordar da vida ali, no momento e na situação e... imaginar o resto.

Separem vocês as falas, repito, sabendo que umas são minhas e são outras dos camaradas que haviam embarcado no chaveco em Aldeia Formosa com rumo a Xitole e a missão de trazer médico, acredita-se, mais apto que enfermeiro, ainda que este o fosse e dos bons.

O certo é que nos fomos, eu na frente, olhos e ouvidos alerta, tentando agarrar os sons da mata e prevenir surpresas, o soldado caminhando atrás, rezando, creio, forma talvez mais eficaz de nos salvar de maus encontros, se calha ter deus andado por ali naquela noite.

Fizemos dois ou três quilómetros à pata. Na recta que antecede a tosca entrada na aldeia, parece que estou agora a ver o chão arenoso e solto do caminho, o soldado quase implorava para pararmos na crença que do outro lado atirariam assim que se apercebessem de presença humana e caminhante. Havíamos combinado que ao primeiro ruído de metal metendo bala na câmara, o nosso destino imediato, ainda antes do tiro, seria o chão. Outro remédio não teríamos senão gritar quem éramos e esperar que de lá entendessem e acreditassem.

Andando, andando cautelosamente e com os sentidos todos à flor-da-pele, entrámos na aldeia como quem não quer a coisa e sem oposição de sentinela, pedidos de BI ou outro elemento identificador, e nem o ladrar da canzoada trouxe gente alarmada ao nosso encontro.

Buscámos a casa de Sambel, exaltámos quatro mulheres, e outras que se foram chegando ao grupo, explicámos ao que vínhamos e o soldado lá se foi no escuro da noite, agora fazendo o caminho ao inverso e só.

O Sambel destacou dois milícias dos dele para que eu não andasse abandonado por aqueles ermos e ganhei de novo a GMC e o pessoal que lá havia ficado.
Tudo corria sobre rodas, quer dizer, se despachava como esperado.

Mais de duas horas depois vislumbrámos as luzes da outra viatura que vinha substituir a avariada e que trazia outro Furriel e mais dois soldados para continuarem a viagem interrompida, devendo eu retornar à Aldeia.

Aceitei os soldados e recusei a substituição. Já agora queria ir até ao fim.

Passámos de novo Contabane, agora a cavalo, como se diz aqui no Alentejo, mesmo quando o cavalo não passa de tratori, chegámos ao Xitole noite alta, voltámos com o médico para Aldeia Formosa e nem eu já sei se o civil se salvou ou não e como evoluiu a coisa com ele, evacuado de manhã de heli para Bissau.

Por volta da hora do almoço, já retemperado, procurei o soldado da bicicleta e encontrei-o bem abatido do medo do que fizera durante a noite, pensei eu.
Pensei mal. Ou por outra, medo o homem deve ter tido toda a viagem, pedalando e vendo fantasmas em cada sobra de árvore.
E isso nem é de admirar se pensarem bem, se se pensarem vocês no lugar do soldado, alta noite na pasteleira, naquele lugar da Guiné, desejando ardentemente o fim da estrada.
Mas agora o problema do soldado era outro.

- Óh meu Furriel! Agora quem é que paga a bicicleta ao Sambel?

- Como assim? Pagar a bicicleta porquê?

- É que aí a uns dois quilómetros da aldeia, de repente, no escuro atravessou-se-me um bicho grande na frente, bati contra barriga do gajo, caí e ele fugiu

Eu já não aguentava o riso na imagem ali criada com a maior das simplicidades e o soldado olhava-me atrapalhado com o desrespeito.

- Diga-me, quem é que paga? - repetiu.

- Já falaste ao Furriel da tua secção?

Abanou a cabeça na negativa e esperou que lhe desse uma solução para o problema bicudo.

- Óh pá! Pensando bem, o melhor a fazer, é ir à procura do bicho. Talvez que ele acabe por pagar o prejuízo e é bem feito para não andar aí a atravessar a estrada a horas que são de estar na cama. Assim, na próxima, pelo menos, olha antes de atravessar, não vá aparecer outro branco maluco montado em bicicleta de Régulo.

José Brás
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Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4551: Vindimas e Vindimados (José Brás) (3): O Santinhos da Artilharia

Guiné 63/74 - P4586: Bibliografia de uma guerra (50): Os Comunistas e a Guerra Colonial (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70, com data 18 de Junho de 2009:

Queridos amigos,
É a primeira vez que leio o testemunho de um comunista que foi à guerra e lá viveu o peso das suas opções.
Aqui ficam estes dados para a bibliografia da guerra colonial.

Um grande abraço do Mário


Os comunistas e a Guerra Colonial
Beja Santos

Está profusamente documentado na historiografia do PCP que este partido apoiou desde a primeira hora a independência dos povos das colónias portuguesas. A leitura do jornal Avante! permite confirmar a atitude consequente que os comunistas portugueses tiveram no apoio às lutas de libertação, denunciando situações tão diversas como a exploração do trabalho nas colónias, actos de repressão das populações civis africanas, deserções e descontentamento nos quartéis, cá e lá. Quem procurava fugir e era apanhado, quem manifestava descontentamento, se apresentava como objector ou se revoltava, tinha a disciplina militar à sua espera: a Casa de Reclusão da Trafaria, o Presídio Militar de Elvas, o Batalhão Disciplinar de Penamacor, mas também a entrega à PIDE/DGS.

Armando Sousa Teixeira, dirigente estudantil, comunista, seguiu as directivas do PCP, alistou-se e procurou denunciar por dentro os chamados propósitos colonialistas da guerra decidida pelos regimes de Salazar e Caetano. Foi para Mafra, frequentou o curso de oficiais milicianos, de onde foi afastado; mobilizado como furriel para Moçambique, foi preso em pleno teatro do conflito e entregue à PIDE/DGS; detido no campo prisional da Machava, em Lourenço Marques, daqui partiu para Caxias onde foi torturado pela polícia política; foi julgado e condenado no Tribunal Plenário da Boa-Hora; posteriormente reintegrado no Exército, foi feito prisioneiro no Forte da Trafaria, pelas mesmas acusações; despromovido e remobilizado, partiu de novo para Moçambique com uma comissão agravada de 3 anos. É uma narrativa que começa em 1971, em Mafra, e acaba em 25 de Abril de 1974, em Cabo Delgado, em Moçambique. Este o fio condutor de “Guerra colonial, a memória maior que o pensamento” por Armando Sousa Teixeira, Edições Avante!, Abril de 2009, Preço 14,70 €.

Trata-se de uma narrativa que começa na Rua dos Poiais de São Bento e as memórias da resistência, os registos dos primeiros feridos chegam de África, a partida dos amigos e colegas para a tropa, os protestos contra a Guerra Colonial, a atmosfera dos que estavam a favor e dos que estavam contra. Armando de Sousa Teixeira decidiu entremear o seu testemunho com os dados históricos, certamente na presunção de que esses elementos permitem melhorar a compreensão do leitor. É um critério discutível como tantos outros, ganhamos a situação internacional e nacional, perdemos no vigor da evolução de uma experiência que teve etapas de tão grande sacrifício como as que viveu Armando Sousa Teixeira.

Entramos em Mafra, onde ele vai liderar um protesto que foi a afixação de vinhetas pelos corredores do convento, um apelo para não ir à guerra subordinado à palavra de ordem “Não jures, camarada!” e que provocou enorme bulício nas hostes da Escola Prática de Infantaria. E começaram a aparecer punições na ordem de serviço da unidade do tipo: “...Por ter sido encontrado a manipular uma tarjeta colante das que foram ultimamente espalhadas de forma irresponsável, cujo conteúdo visa minar a confiança dos instruendos na Instituição Militar e pôr em causa os sagrados deveres de defesa da integridade da Pátria, é punido com 5 (cinco) dias de detenção o instruendo do 1º ciclo do curso de oficiais milicianos...”.

O autor parte para Moçambique como furriel, a caminho de barragem de Cabora Bassa. África deslumbra-o, com o seu pôr-do-sol vermelho e laranja, a majestade do Zambeze, sente-se magnetizado pela coluna que rola em direcção ao reino da guerra. Descreve ambientes, a expectativa dos ataques, os aldeamentos circundantes, os tiros espúrios que se ouvem longe, no interior da mata. Imprevistamente, dois agentes da PIDE de Tete vêm buscá-lo e transportam-no para a prisão de Machava. Começa o seu processo, afinal ele fora descoberto durante o inquérito em Mafra, denunciado por outros instrumentos. Em Dezembro de 1972 está de novo em Lisboa, é metido na cadeia de Caxias, sujeito à tortura do sono, é porventura um dos episódios mais dramáticos do livro a descrição dos interrogatórios e o maquiavelismo dos processos. A seguir, vemo-lo no Regimento de Infantaria nº 1 onde é punido com 40 dias de prisão disciplinar agravada por ter desenvolvido as tais actividades de agitação subversiva em Mafra. Despromovido para soldado, é obrigado a uma comissão militar de 3 anos, de novo em Moçambique. Embarca para Nampula e daqui para Nangade, em Cabo Delgado, onde o 25 de Abril o vai encontrar.

É um relato por vezes pungente, quando tomamos à letra os sonhos da juventude desfeitos, enxovalhados, nesse sonho do comunista ciente das suas certezas, convicto no fim do colonialismo; é um testemunho que surte efeito pela sinceridade à flor da pele; mas é um testemunho frágil e inconclusivo, por termos uma amálgama entre o narrador e os dados, eventos e situações já devidamente enquadrados pela História que não nos cabe questionar. Era legítimo esperarmos ouvir em toda a sua representação a experiência militar e o seu trajecto sacrificial. Acredite-se ou não no comunismo, a via-sacra que decorre de uma opção como a que Armando Sousa Teixeira fez merecia a plenitude dos sentimentos e emoções. O branqueamento da História não se contraria só porque se fala dela correctamente. Corre-se o risco de branquear a História quando se cerceia a dimensão, a amplitude do sofrimento humano. Esperamos que Armando Sousa Teixeira ainda queira corrigir a contenção (imerecida) deste seu testemunho, invulgar e indispensável.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4576: Bibliografia de uma guerra (49): Lista de 77 autores de obras sobre o fim do Império (Manuel Barão da Cunha)