quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4929: Memória dos lugares (41): Estragos no quartel dos COMANDOS, Brá 1968 (Magalhães Ribeiro/Abreu dos Santos)

O nosso Amigo e Camarada-de-armas Abreu dos Santos (ex-Combatente em Angola), enviou-me oportuna e importante informação, que aqui muito lhe agradeço, sobre alguns pormenores que poderão contribuir para ajudar a esclarecer, o que é que se passou no aquartelamento dos COMANDOS, em Brá, no ano de 1968, que provocou os enormes estragos que se podem verificar nas fotos, que nos foram enviadas pelo nosso Camarada José Nunes, e foram publicadas no poste P4895 (*):

«Não é conhecido, que algum "quartel dos comandos" tenha sofrido «um forte ataque do IN», fosse na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Não pela circunstância de ser "tropa especial" (tal como os camaradas pára-quedistas ou fuzileiros especiais, poderiam ter sido alvo de rocketadas e/ou morteiradas In), mas pela singela questão de, nos anais castrenses [e não só], se desconhecer um tal «forte ataque do IN aos comandos de Brá». Se alguém sabe, que avance e fundamentadamente contradite. Se não, deixem-se de estórias da carochinha...

Como toda a gente, minimamente informada, sabe, Brá não era "o" quartel dos Comandos: era um Campo Militar ou "grupo de aquartelamentos" (mal-acomparado, assim-a-modos-que um mini-polígono de Tancos, ou um Grafanil ou um Boane), no qual os Comandos tinham o sector próprio e perfeitamente delimitado, com a respectiva porta-de-armas para a estrada Bissalanca-Bissau. Aliás, o próprio BEng447, tanto quanto julgo ser correcto, também estava instalado "em Brá"...!, paredes-meias com os aludidos "Comandos". Portanto, aquelas imagens de abarracamentos meio-desmantelados – dir-se-ia "por um tornado" –, tanto poderiam ter sido produzidas em instalações do BEng447 como em qualquer outro dos quartéis que existiam naquele Campo Militar. Mas, acaso tenham sido obtidas "no quartel dos Comandos", tê-lo-ão sido: em que precisa data? por quem? e com autorização de quem?

Quanto às objectivas perguntas, colocadas pelo co-editor MR:

1. «Foi um temporal? Um incêndio? Um acidente? Um defeito de construção?»:

As fotos não demonstram, de forma concludente e iniludível, «um incidente que teve lugar no quartel dos COMANDOS em Brá»; ilustram, sim, uma das especulações relacionadas com o seguinte recorte noticioso (que poderia enquadrar, parcialmente, a 2ª pergunta)...

2. «Em que data, mais ou menos?»:

19Fev68 (2ªfeira) – Em Conackry, o PAIGC usa a emissora oficial guineana, para fazer propaganda sobre os seus últimos feitos, afirmando que lançou «ofensivas sobre as localidades de Bafatá, Gabu, Farim, Mansôa, Cansumbé e Bolama»; e que anteontem, numa acção chefiada por André Pedro Gomes, «atingiu com foguetes o aeroporto de Bissau»; mas omite, obviamente, que no cais de Conackry lhe foram recentemente entregues lanchas rápidas de origem soviética, com as quais iniciou a flagelação de destacamentos da Armada no rio Corubal.

– «Atacámos todos os centros urbanos do país, excepto Bissau, se não contarmos com o ataque [!?] ao aeroporto. O ataque ao porto [sic] de Bissau foi planificado por nós com todas as precauções. O único contratempo foi o de se não ter realizado na data marcada, por terem surgido dificuldades materiais: houve um atraso de alguns dias, mas foi planificado por nós no decurso de uma reunião com todos os camaradas; escolheram-se mesmo os homens que deviam tomar parte na acção.

Centros como Bafatá, Gabu, Farim, Mansôa, Cansumbé e Bolama foram atacados várias vezes; fizémos um certo número de prisioneiros; houve várias deserções e destruímos um grande número de barcos portugueses, o que nunca tínhamos conseguido.»¹

¹ (Amílcar Cabral, in "Cadernos Necessários", 1969)

3. «Que companhia lá estava na altura?»:
Como aquartelamento-base, a 3ªCCmds [operacional 02Nov66-08Abr68], comandada pelo cap mil inf cmd Álvaro Manuel Alves Cardoso.

Quanto à contemporânea 5ªCCmds (cap art cmd António Gabriel Albuquerque Gonçalves), foi deslocada em 19Jan68 para Cacine e mantida no sector sudoeste até seguir em 10Jul68 para o Gabu, pelo que à época não estava em Brá.»
Melhores cumprimentos,
Abreu dos Santos
(ex-Combatente em Angola)

Foto: © Virgínio Briote (2009). Direitos reservados.
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Notas de MR:

(*) Vd. poste com as fotos do José Nunes em:

Guiné 63/74 - P4928: Parabéns a você (25): Tony Grilo, nosso camarada radicado no Canadá (Editores)

Dia 10 de Setembro é data de aniversário do nosso camarada Tony Grilo. Por esta razão aqui estamos a felicitá-lo e a desejar-lhe que a festeje com alegria junto dos seus familiares e amigos.

Não sabemos se o Tony ainda se encontra em terras do Canadá, uma vez que estaria nos seus planos regressar este ano a Portugal, mas onde quer que esteja, está concerteza muito feliz.

A Tabanca inteira quer comemorar esta data muitas vezes mais, desejando tudo de bom. São os votos dos seus 365 amigos do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, aqui representados pelo editor do poste.



Tony Grilo está connosco desde Fevereiro passado. Recordemos as suas palavras:

Amigo Graça:

Desculpa o meu começo, pois eu sigo os teus conselhos. Na tabanca todos nos tratamos por tu, e aí vai.

Caro amigo Graça, primeiro que tudo quero felicitar-te pela tua obra.

Agora se me dás licença, vou-me apresentar: O meu nome é Tony Grilo, cumpri o serviço militar, um ano e meio, em Portugal, e em 1966 fui mobilizado para a Guiné.

Saímos, no dia 31 de Maio de 1966, do cais de Alcântara no navio Alfredo da Silva. A viagem demorou 6 dias, percorremos 3666 milhas marítimas e chegámos no dia 6 de Junho de 1966.

O navio ficou ao largo, à espera do capitão de porto para o rebocar para o cais. E ali também vinham 6 pessoas.

Isto é apenas uma pequena história que sucedeu.

Agora vou contar-te algo mais sobre a minha pessoa!

Estive 24 meses na Guiné, era Apontador do obus 8,8 e a nossa Bateria, estava situada no QG em Bissau.

Estive ali só 2 semanas, pois fui enviado logo para o mato, Cabedu, ao Sul da Guiné, na célebre mata do Cantanhez.

Estive lá longos 18 meses, onde a vida era difícil, muita fome aí passávamos.

Ao fim desse tempo regressei a Bissau.

Como era bom rapaz e o capitão engraçou comigo, disse logo ao Primeiro para me marcar viagem para o mato. O motivo foi por me desenfiar do quartel. Não havendo sítio melhor, fui logo para Cacine e Cameconde, também ao Sul, na área do Cantanhez.

Graça, isto é só um pequeno apontamento, pois agora que tenho o vosso E-Mail, já é mais fácil contar as minhas histórias da passagem pela Guiné.

Actualmente vivo no Canadá, já há 38 anos, estou reformado e estou a pensar regressar ao nosso lindo Portugal em fins de Maio deste ano.

Graça, em breve vou-te enviar as minhas fotos.



Para lembrarmos o militar Tony, aqui ficam as suas fotografias, infelizmente sem legendas








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Notas de CV:

Vd. postes de Tony Grilo, Apontador de obús 8,8, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68 com datas de:

5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3986: O Nosso Livro de Visitas (57): Tony Grilo, Canadá: Artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)

24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4073: Tabanca Grande (126): Tony Grilo, Artilheiro, Apontador de obús 8,8 (Guiné, 1966/68)

15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4192: Estórias avulsas (28): Sorte na Vida... ou quando uma dor de dente te salva a vida (Tony Grilo, Canadá)

20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4220: Cancioneiro do Cantanhez (2): Cabedu és nossa terra (Tony Grilo, Canadá)

16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4358: Em busca de... (73): BAC1, CART 1692, CART 1427, 1966/68 (Tony Grilo)


Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4896: Parabéns a você (24): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Os Editores)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)

1. Mensagem de Armandino Alves, ex-1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem da CCAÇ 1589, Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68, com data de 8 de Setembro de 2009:

Caro Luís Graça
Tenho estado a ler os Postes sobre o Serviço de Saúde Militar e vamos a ver se nos entendemos.
Eu nunca pus em causa a competência de Médicos (Oficiais) ou Enfermeiros (Sargentos e Furriéis). Dentro das suas capacidades cada um fazia o que podia e sabia e às vezes o que não sabia. O que ponho em causa é a maneira como o Serviço de Saúde era tratado. E vou pôr um caso concreto.

Enquanto estivemos aquartelados no 600 em Stª. Luzia, o Furriel Enfermeiro teve um desaguisado com outro Furriel na Messe de Sargentos, em que andaram copos de vinho pelo ar. Foi punido com a saída da Companhia e colocado não sei onde. Eu nem o conheci.

Quando cheguei à Companhia não havia quem soubesse preencher os formulários para o Laboratório Militar pois isso era da competência dele. Só 3 a 4 meses depois é que foi substituído.
Nesse entretanto fui encarregado pelo meu Capitão, não por ser o mais antigo da Companhia, mas porque tendo estado no HMR 1 onde era eu, que a pedido do Sargento que nunca lá estava, elaborava os mapas, fazia a requisição dos medicamentos e quejandos, e fui tendo umas luzes, continuando na Academia Militar a fazer o mesmo a pedido do 1.º Sargento que era um tipo porreiro e me desenrascava nos fins de semana para vir ao Porto. Amor com amor se paga.

Ora isto não se aprendia nos cursos que eles nos davam. Nós é que por moto próprio íamos tentando aprender.

Por exemplo, o meu tirocínio foi em infecto-contagiosas. O que é que esta especialidade interessa para o mato? Absolutamente nada. Era uma especialidade hospitalar. No entanto em suturas era um zero. A primeira vez que vi suturar na Academia Militar, o Cabo que estava a executá-la teve que deixar o ferido para me atender a mim. No entanto na Guiné tive de fazer das tripas coração e fazê-las, pois tive colegas que delas precisaram.

Mas não foi o Serviço de Saúde do Exército que nos ministrou isso nos cursos. Mesmo os Enfermeiros nos Hospitais Civis, só quando passam pelos serviços de urgência é que aprendem alguma coisa além de dar injecções, medir a tensão ou distribuir comprimidos.

Armandino Alves
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

Guiné 63/74 - P4926: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, S. Vicente, 1943/44 (Hélder Sousa)

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mapa de 2007, da autoria de Francisco Santos. Imagem copyleft (Fonte: Wikipédia)

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Foto nº 2 > Ângelo Ferreira de Sousa (1921-2001), pai do nosso camarada Hélder Sousa, natural de Vale da Pinta, Cartaxo, ex-1º Cabo n.º 816/42/5 da 4ª Companhia do 1º Batalhão de Infantaria do R.I. (23 ?) [ou seria do R.I. 5, Caldas da Raínha ? (LG)]... A foto 2 tem a data de 18 de Outubro de 1943 e na legenda refere ser 'recordação de S. Vicente'.

Cabo Verde > Ilha de São Vicente (?) > Foto nº 24 > 1º Cabo Ângelo Ferreira de Sousa (n. 1921 e, infelizmente, já falecido, em 2001). A foto 24 tem a data de 28 de Setembro de 1944 e acho que se trata de recordação já depois do regresso [à Metrópole].

Caldas da Rainha > 8 de Maio de 1943 > Foto 1 > A foto 1 é das Caldas da Raínha, com data de 8 de Maio de 1943 e tem no verso a indicação de ter sido 'tirada na véspera da minha retirada para Cabo Verde e um dia depois da promoção a 1º Cabo'. [Ao fundo, a fachada do hospital termal, (LG)]...

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Baía do Mindelo > Foto nº 3 > S/d > A foto 3 não tem referências a datas mas é visível tratar-se do [navio] Colonial [, ainda a navegar no final dos anos 40; o meu pai tem uma foto do Mouzinho de Albuquerque, que me parece ser do mesmo tipo ou série(LG)].

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Mindelo > Foto nº 4 > S/d > A foto 4 é equivalente à que está no texto sobre o teu pai. Tratam-se de 'barcos hospitais' e não há dados no verso da foto. No entanto é provável serem os mesmos [, italianos,] que se estão referenciados na troca de prisioneiros e doentes em 1942 [antes, portanto, da chegada do meu pai]. Deve tratar-se de 'postal ilustrado'... [Segundo informação do nosso amigo açoriano João Coelho, ex-FAP, tratava-se do Vulcania e do seu irmão Saturnia, dois navios de passageiros italianos, transformados em hospitais durante a II Guerra Mundial; eram, conhecidos dos açorianos de São Miguel; o Vulcania terá navegado até 1974!... Segundo o meu pai, estes navios chegaram a São Vicente e ficaram ao largo da baía do Mindelo em 11 de Abril de 1942 (LG)].

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > As fotos 5 e 6 referem-se a uma parada militar ocorrida em 14 de Agosto de 1942, dia do exército. Nessa data o meu pai ainda não estava lá pelo que essas fotos devem ter sido adquiridas mais tarde e devem ter servido de recordação. [Deve tratar-se de postal ilustrado: Foto Melo. (LG)].

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Foto nº 6 > Comemoração do dia do exército, 14 de Agosto de 1942. Foto: Melo. [Vê-se ao fundo o Ilhéu dos Pássaros, (LG)]


Cabo Verde> Ilha de São Vicente > Mindelo > Foto nº 7 > S/ d > A foto 7 ilustra a passagem dum zeppelin mas não tem datas. [É uma raridade esta foto: ao que parece, dataria de 1937, ano e que o Mindelo foi sobrevoado por um dirigível que pretendia abrir uma carreira entre a Europa e o Novo Mundo, o LZ 129 Hindenburg, de fabrico alemão:

(...) Reza a História, que o dito aparelho, uma das grandes apostas à época para o transporte de passageiros, adoptando os mesmos tipos de luxos dos grandes 'Paquetes Transatlânticos' que estabeleciam as ligações entre os três continentes, Europa, África e Américas, fez só uma viagem ligando os dois continentes. Partiu da Velha Europa para o Novo Mundo - o continente Americano, tendo passado sobre CV.

"Mindelo ficou na sua rota e Tuta registou esse momento, único! O aparelho passou sobre a Ilha de São Vicente, tendo largado três sacos de 'Mala Postal' - a forma complicada como se dizia correio - e teve um fim trágico ao aterrar em Lakehurst nos USA [, em 6 de Maio de 1937].

"Para os arquivos, fica mais esta imagem, só possível em Mindelo, pelo manancial de informação que corria na ilha, por causa dos cruzamentos dos cabos submarinos do Telé grafo Inglês e da Italcable (Italianos) e do seu movimentado Porto, também à época local de passagem obrigatória para os barcos que cruzavam o Atlântico Sul" (...)".


Fonte: sítio Mindel Na Coraçon


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Foto nº 8 > S/d > A foto 8 é também equivalente a uma outra que o Luís mostra com tubarões. Também não tem data. [Nao se sabe quem seja a criancinha que, insolitamente, aparece em primeiro plano, (LG)]

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > S. Pedro > Foto nº 9 > As fotos 9 e 10 têm a data de 16 de Junho de 1943 e referem no verso terem sido 'tiradas nas rochas do mar em S. Pedro, [a sudoeste do Mindelo,] com amigos de 40, 41 e 42'.

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > S. Pedro > Foto nº 10 > 16 de Junho de 1943

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Mindelo > Foto nº 11 > As fotos 11, 12 e 13 têm data de 21 de Agosto de 1943 (dois dias depois do 23º aniversário do pai do Luís) e no verso consta terem sido tiradas 'junto à Caserna da 4ª Companhia, estandono dia em que fiz 3 meses de África', donde eu presumir que deve ter chegado lá cerca de 21 de Maio de 43, o que estará certo.

Cabo Verde >Ilha de São Vicente > Foto nº 12 > 21 de Agosto de 1943

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Mindelo > Foto nº 14 > A foto 14 não tem data mas tem no verso o seguinte 'Nos dias de S. António e S. João nativos dançando cancan ou cola-cola' [o famoso 'cola Sanjon', ponto alto, hoje, dos festejos tradicionais do São João, em Junho]

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Mindelo > Foto nº 15 > A foto 15, datada de 30 de Janeiro de 44, diz que se trata de 'recordação do Quartel de Chã do Alecrim, S. Vicente, Cabo Verde'. [Chã de Alecrim ficava a nordeste do Mindelo, perto da Baía de Laginha, estando hoje integrada na cidade (LG]].

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Chã do Alecrim > Foto nº 16 > A foto 16, também datada de 30 de Janeiro de 44, diz o mesmo que a anterior mas acrescenta: 'Esta é a nossa querida Bandeira'. [As fotos 20, 21 e 22 não têm datas nem referências, embora nesta última se possa identificar a tal Caserna da 4ª Companhia; não têm um mínimo de qualidade, razão por que não se publicam, LG].

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Mindelo > > Praia da Matiota > Foto nº 17 > As fotos 17, 18 e 19 não têm elementos para além da data e de que se trata da Matiota, local da praia, presumo.

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Mindelo > Foto nº 18 > Praia da Matiota

Cabo Verde > Ilha de S. Vicente > Mindelo > Foto nº 19 > Praia da Matiota

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Foto nº 23 > A foto 23 tem a data de 10 de Setembro de 1944 e diz ser 'recordação da despedida de Cabo Verde, com dois 2ºs Cabos nativos, amigos'. [As fotos 20, 21 e 22 não têm datas nem referências, embora nesta última se possa identificar a tal Caserna da 4ª Companhia; não têm um mínimo de qualidade, razão por que não se publicam (LG)].

Fotos: © Hélder Sousa (2009). Direitos reservados. (Legendas de HS e LG)




Vídeo (2'50''): © Luís Graça (2009). Direitos reservados (Disponível no You Tube > Nhabijoes)


Luís Henriques, de 89 anos, natural da Lourinhã, ex-1º Cabo Expedicionário na Ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941/43), improvisa uma letra, ao som da música da conhecida morna, popular, de autor desconhecido, 'Papá Joaquim Paris', uma das jóias da música de Cabo Verde, imortalizada por nomes como o Bana, a Cesária Évora, o Tito Paris, etc.

Luís Henriques: Nascido em 19 de Agosto de 1920, na Lourinhã, foi mobilizado para Cabo Verde, durante a II Guerra Mundial, como 1º Cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 5 (unidade mobilizadora, das Caldas da Rainha). É pai do Luís Graça (*)...

Tal como o pai do Hélder Sousa, o meu esteve na Ilha de São Vicente, na cidade do Mindelo, de 23 de Julho de 1941 a (?) de Setembro de 1943. Ao todo, foram 26 meses "a comer pó". Esteve aquartelado no Lazareto, a oeste da cidade do Mindelo (cidade, na época, mais importante que a Praia, capital político-administrativa do arquipélago, na Ilha de Santiago). Lembra-se de, ao regressar à sua terra, a primeira coisa que quis comer foram uvas...

Mas a peluda só veio, oficialmente, em Janeiro de 1944. O mundo inteiro vivia o pesadelo da II Guerra Mundial... E Portugal tinha milhares e milhares de homens espalhados pelos diversos territórios do seu Império, incluindo as estratégicas ilhas adjacentes, da Madeira e dos Açores. Das colónias africanas, o arquipélago de Cabo Verde era o território que ficava mais perto da Europa e do teatro de operações do Atlântico Norte... Pelo seu posicionamento geoestratégico, aero-naval, esteve na mira tanto dos Aliados como das potências do Eixo...

Do Mindelo, o meu pai lembra-se de pessoas e lugares: por exemplo, o seu impedido, o Joãozinho, com quem repartia o rancho, e que morreu, de doença, quando ele próprio estave internado (no interior da ilha ), durante 4 meses, com "problemas de pulmões... Lembra-se do Monte Cara, do Lazareto, da praia da Matiota, de São João da Ribeira, do Calhau... Sei que nunca foi à Baía das Gatas, por exemplo (hoje conhecida por ser uma estância de turismo e pelo seu famoso festival de música)... nem nunca explorou muito bem o lado meridional da ilha... (Bastavam-lhe os longos e penosos exercícios físicos e marchas que faziam no interior da ilha, para se manterem em forma, matar o tédio, esquecer a fome, a sede e a saudade)...

Lembra-se, além disso, dos nomes (e até dos números ) de alguns camaradas... Lembra-se dos nomes e de alguns histórias dos seus oficiais (alguns, bem prussianos, militaristas, germanófilos, de acordo o o figurino da época) ... Lembra-se até dos resultados dos renhidos torneios de futebol e de voleibol que se realizavam no Mindelo, entre tropas de diferentes subunidades... Escreveu centenas e centenas, senão mesmo alguns milhares, de cartas, em nome daqueles que na época (e eram muitos...) não sabiam ler e escrever... Muitas vezes eram os próprios putos cabo-verdianos, engraxadores de rua, escolarizados, que liam as cartas recebidas pelos expedicionários, metropolitanos, analfabetos... Que triste ironia!...

Mas, fantástico, os ex-expedicionários de Cabo Verde desta época continuaram a encontrar-se durante muitos e muitos anos, até à década de 1990... O meu velhote costumava ir aos encontros do 1º Batalhão do RI 5, nas Caldas da Raínha... até que as pernas começarem a falhar e a maior parte deles, dos seus camaradas, desapareceu de chez les vivants... (LG)


1. Mensagem de 1 de Setembro, do nosso camarada Hélder Sousa


Caro Luís e restantes Editores

Faz algum tempo, quando saiu o P4059, em 20 de Março passado (*), que algumas das situações lá referidas e algumas fotografias me fizeram sentir que me eram familiares. Acho que te dei conta disso em comentário.

Esse artigo ou texto ficou inserido numa série intitulada "Meu pai, meu velho, meu camarada" e nele referias a estadia do teu Pai inserido no Corpo Expedicionário Português em Cabo Verde, ao tempo da 2º Grande Guerra Mundial.

Acontece que o meu Pai, entretanto falecido faz alguns anos, também foi Expedicionário em Cabo Verde. Também esteve em S. Vicente. Curiosamente, também, no verso de algumas fotografias, tem escritos a tinta verde, como tu indicas nos escritos do teu Pai. Talvez seja só coincidência. Talvez fosse moda na época. Talvez fosse o tipo de material de escrita que havia ou era distribuída aos militares, disso, agora, por mim, não consigo aclarar, por razões óbvias.

Só agora consegui que a minha Mãe, adoentada, me facultasse as fotos que estavam guardadas "algures".

Recuperei algumas que envio em anexo. Pode ser que o teu pai identifique alguém ou consiga lembrar-se das situações.

Existem fotos repetidas, ou quase, relativamente às que fizeste acompanhar o texto referido, como as dos "barcos hospitais" e as dos "tubarões", bem como as das "festas nativas".

Segundo os dados que consegui obter dos versos das fotos, o meu Pai, nascido a 28 de Abril de 1921, fez a recruta nas Caldas da Raínha, onde passou a 1º Cabo, em 7 de Maio de 1943, e donde terá partido em 9 de Maio (?) para a sua "retirada" (como ele escreve) para Cabo Verde onde, supostamente, pelas tais notas nas fotos, terá chegado em 21 de Maio de 1943. Calculo que, tudo isto a bater certo, se terá cruzado com o teu Pai ainda lá, pois existe uma foto dele no dia de anos em 19 de Agosto de 43 em S. Vicente.

De acordo com notas que encontrei no verso de algumas fotos, o meu Pai, chamado Ângelo Ferreira de Sousa, natural de Vale da Pinta, Cartaxo, seria o 1º Cabo n.º 816/42/5 da 4ª Companhia do 1º B.I. do R.I.(23 ?) [ou seria do R.I. 5, Caldas da Raínha ?] (

Eu e o meu Pai não falámos muito destas nossa experiências africanas, ou quase. Aliás, acho que nem sequer falámos disso. Por acaso referes no teu texto o livro Hora di Bai, de Manuel da Fonseca, que também li e que na altura me deu para entender (pelo menos nos meus conceitos) os tempos por lá vivido.

É claro, também, que "não estive lá" e se calhar, por isso, não poderia entender, como agora parece ser apanágio de alguns amigos que acham que só quem "esteve" é que pode falar ou entender. Entender, todos podem. Falar, no sentido de "saber", é certo que quem viveu pode corrigir e falar talvez mais acertadamente, esclarecer melhor um ou outro pormenor, uma data, uma hora, um número de Companhia, mas não pode impedir que se fale do assunto. Por esse ponto de vista estreito não se podia falar da tomada de Lisboa aos mouros, "não se esteve lá", nem da batalha do Salado, "não se esteve lá", nem da viagem de Vasco da Gama à Índia, "não se esteve lá", e por aí fora com aberrações semelhantes.

Tive dois professores caboverdeanos. Um deles, Francelino Gomes, autor dum dos melhores livros de matemática que conheci e que muito me ajudaram na minha vida escolar, o livro e o professor. Outro foi o Terêncio Anahory, que chegou a viver no meu prédio, em Vila Franca de Xira, e que também estava referenciado como um dos autores contemporâneos de poesia caboverdiana. Como vês, os contactos com Cabo Verde são estreitos.

As fotos que te envio, com legendas, podem talvez ajudar a criar referências e a possibilidade de o teu Pai identificar algumas coisas e ou pessoas.

Um abraço

Hélder Sousa

2. Nova mensagem, de 2 de Setembro , do Hélder:


O texto que antes enviei com as fotos em anexo, tinha o objectivo inicial de apenas seguir para o Luís para ele mostrar as fotos ao Pai e a partir daí ver se haveria alguma identificação.

Por isso, em algumas partes da escrita a mesma é dirigida ao Luís. Depois, com o correr do tempo e a passagem das fotos, acabei por enviá-la para o Blogue.

Acho que se entenderem que terá matéria para publicação será necessário, talvez, algum enquadramento, pois poderão não faltar "vozes" a dizer que Cabo Verde não tem nada a ver com a nossa estadia na Guiné e o blogue é "camaradas da Guiné" e não com "velhadas em Cabo Verde".

Poderá ser qualquer coisa, como introdução, que relacione um pouco as questões do envolvimento das diferentes gerações nas épocas de guerra (o meu avô na 1ª Grande Guerrra, o meu pai contemporâneo da 2ª Guerra Mundial, eu e a minha/nossa geração nas frentes africanas).

Espera-se que os nossos netos (para os que os têm) tenham a mesma sorte que os seus pais, nossos filhos, os quais não tiveram que entrar em nenhuma situação semelhante.

Ainda bem!
Um abraço
Hélder Sousa

3. Comentário de L.G:

Hélder:

Quero publicamente agradecer-te estas autênticas preciosidades!... (Já o fiz em privado). Como te tinha prometido, aqui vão as fotos do teu pai, com as tuas legendas e o teu texto introdutório, inseridos na série Meu pai, meu velho, meu camarada.

É uma justa, justíssima, embora pequena, homenagem que fazes, não só ao teu vellho, aos nossos velhos (o meu felizmente ainda vivo, com 89 anos feitos em 19 de Agosto passado, no memso dia do Mário Fitas), mas também aos nossos amigos e irmãos de Cabo Verde... Seria uma pena que essas velhas fotos (e as memórias que elas cristalizam) se perdessem... É uma património (documental) também a preservar, e que pertence a todos... Quanto ao resto, deixa lá para trás eventuais críticas ...

Vou, de resto, fazer o mesmo com as fotos dos expedicionários que estiveram em Goa, Damão e Díu, até à data da invasão indiana, em Dezembro de 1961... Temos tendência, quando escrevemos ou falamos sobre a guerra colonial, para esquecer o caso da Índia Portuguesa, a jóia da coroa do nosso Império Colonial. Tenho um primo, o Luís Maçarico, de Ribamar, que esteve lá preso, nessa época ... A maior parte da malta ficou sem nada, incluindo os álbuns fotográficos... Ele consegiu salvar e trazer o seu...

Nunca estive em Cabo Verde (apenas duas horas no Sal, em 1970, na minha ida de férias à Metrópole, no voo Lisboa-Bissau, numa paragem técnica), mas é como que se lá tivesse vivido, nesta ou noutra incarnação... Como já aqui o disse, o álbum fotográfico do meu pai foi para mim, desde pequenino, uma fonte de maravilhamento por essa África tão próxima e tão distante, tão quente e tão estranha...

No fim de semana vou estar com o meu velhote, no casamento de um neto dele... Vou testar, mais uma vez, a sua memória... Tenho um entretanto um improviso, comovente, dele, acompanhando a música (a parte instrumental) dessa fabulosa morna que se chama Papá Joaquim Paris, imortalizada pela Cesária Évora, entre outros grandes intérpretes de Cabo Verde... Já pus no You Tube > Nhabijoes... (Escuta, entretanto, a diva aqui: http://www.youtube.com/watch?v=OhpTTXUmN64o ).

Um abraço. Luis

4. Esclarecimento posterior do H.S:

Caros amigos: Em relação à data do falecimento do meu pai foi em 21 de Novembro de 2001. Problemas da próstata, por isso cuidem-se, meus amigos...Não a coloquei logo porque tinha a dúvida se teria sido em 2002 ou 2003 (pensamos sempre que o tempo não passa...) mas para tirar a dúvida a minha irmã esclareceu a data correcta.

Relativamente ao que o Luís refere sobre o facto de ter crescido com a visão das fotos, é curioso ele dizer isso, porque comigo sucedeu parecido, já que quando estava doente com anginas (antes da operação às amígdalas) era costume ficar com algumas coisas para me entreter entra as quais a caixa com as fotos do meu pai. Aí via esses exotismo e imaginava-me lá. Quem diria!

Um abraço. Hélder

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes da série:


20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4060: Meu pai, meu velho, meu camarada (2): Militar de carreira, herói da 1ª Grande Guerra, saiu do RAP 2 como eu (David Guimarães)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)

24 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4407: Meu pai, meu velho, meu camarada (4): Não é um elogio fúnebre que te quero dedicar... (António G. Matos)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4420: Meu pai, meu velho, meu camarada (5): A minha família e o RAP2 (Vila Nova de Gaia) (David Guimarães)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4700: Meu pai, meu velho, meu camarada (7): Cap Pára João Costa Cordeiro: Um homem de carácter (António Santos / Carlos Matos Gomes)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4703: Meu pai, meu velho, meu camarada (8): Sobre o Capitão-Pára João Costa Cordeiro (Manuel Peredo)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4705: Meu pai, meu velho, meu camarada (9): Testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (João Seabra)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4706: Meu pai, meu velho, meu camarada (10): Depoimento e fotos sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (Miguel Pessoa)

24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4731: Meu pai, meu velho, meu camarada (11): Mensagem do filho do Cap-Pára João Costa Cordeiro (Pedro Miguel Pereira Cordeiro)

(**) Outro Regimento que teve tropas destacadas, a nível de batalhão (800 homens), durante a II Guerra Mundial, em Cabo Verde, nas Ilhas de São Vicente e Santo Antão, foi o RI 15 (Tomar):

Vd. Islas de Cabo Verde > Adriano Moreira Lima > Tomar, 25 de Fevereiro de 2006 > TROPAS EXPEDICIONÁRIAS A CABO VERDE DURANTE O PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - MEMÓRIA QUE PERDURA

(...) Como é sabido, Portugal não teve qualquer envolvimento na Segunda Guerra Mundial, tendo optado por uma posição de neutralidade que se manteve ao longo de todo o conflito. No entanto, sabedor da importância estratégica das suas ilhas atlânticas, nomeadamente os arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde, alvos apetecidos por qualquer dos contendores, Portugal entendeu que seria curial guarnecer aqueles territórios com forças militares suficientes para dissuadir qualquer veleidade por parte dos beligerantes.

O conflito assumira uma dimensão considerável no Atlântico e aqueles arquipélagos eram, com efeito, detentores de elevado potencial estratégico, sobretudo do ponto de vista aero-naval. Uma fraca presença militar de forças nacionais poderia indiciar um sintoma de desleixo, susceptível de encorajar uma ocupação estrangeira à revelia do direito internacional, em manifesto atropelo da soberania portuguesa.

O Regimento de Infantaria nº 15, de Tomar, foi das unidades do exército que enviaram forças expedicionárias a Cabo Verde. Conheço muito bem o historial deste Regimento por nele ter servido durante longos anos. E é assim que me capacito a divulgar a curiosa memória afectiva que os expedicionários deste Regimento de Infantaria desde sempre vêm cultivando e perpetuando.

A par de outros Regimentos do Exército, competiu ao Regimento de Infantaria nº 15 organizar e mobilizar para Cabo Verde um Batalhão de Infantaria (cerca de 800 homens). As quatro companhias do Batalhão ficaram instaladas em S. Vicente e S. Antão, tendo partido de Portugal agrupadas em três contingentes. O primeiro embarcou em Portugal em 19 de Outubro de 1941, o segundo em 17 de Novembro do mesmo ano, e o terceiro em 8 de Janeiro de 1942.

(...) O facto é que desde a sua desactivação, os ex-militares que serviram no citado Batalhão vêm promovendo reuniões anuais em alomoços-convívio para recordar a sua passagem por Cabo Verde, nomeadamente pelas ilhas de S. Vicente e de S. Antão, por onde se distribuíram as suas companhias.

Estive presente num desses convívios pela primeira vez em 1986, pela circunstância de o mesmo ter sido realizado nas instalações do Regimento de Infantaria nº 15, por convite do seu Comandante. Competiu-me, na altura com o posto de major, ser o oficial a apoiar a organização desse evento, que se inseria nesse ano nas comemorações do aniversário do Regimento, condição que me permitiu assistir do princípio ao fim a confraternização dos ex-militares.

O leitor nem imagine a satisfação daqueles homens quando lhes disse que eu era cabo-verdiano de origem. E isto porquê? Porque quando se juntam a intenção é celebrar a memória de uma experiência militar vivida na intensidade anímica dos seus 20 anos, mas também recordar e celebrar a terra cabo-verdiana com eflúvios de uma saudade que eu não imaginava possível. (...)

Guiné 63/74 - P4925: Memória dos lugares (40): Fotos do “Resort” de Bissum - Naga, 1968 (José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70)

1. O nosso Camarada José Nunes (José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo no BENG 447 (Brá, 15JAN68 a 15JAN70), enviou-nos mais uma reportagem fotográfica, em 06SET2009, sobre o Bu... rako de Bissum - Naga, no ano de 1968:

O “Resort” de Bissum - Naga

Camaradas,

Aqui estão mais algumas fotos memoriais de um lugar bastante isolado.

Bem-Vindos a Bissum

Só de avião ou lancha, pelo Rio Armada, se lá chegava.A nossa equipa de “faíscas”, o Furriel Subtil Soares, Baiona de Andrade e Zé Nunes, estivemos em Bissum entre Setembro 1968 e finais de Outubro do mesmo ano.

Ali sofremos um ataque do IN em que estivemos mais de 6 horas debaixo de fogo, felizmente sem consequências físicas pessoais.

Só que, no dia seguinte,ao fazer o reconhecimento, tivemos um Camarada que accionou com mina anti-pessoal e ficou sem um pé.O problema maior foi a sua evacuação.

Fui no avião com o Honório e voltei de lancha, pois era habitual alternarmos os transportes.

Descer o rio armada era um caso sério, pois 2 lanchas haviam sido afundadas, embora fossem posteriomente recuperadas pelo pessoal da Armada.

Navegamos durante a noite rio Cacheu abaixo, até Cacheu onde pernoitamos, neste "Resort".

Estivemos um mês a almoçar sopa de cebola e atum com bianda e ao jantar, para variar, comíamos cebola na sopa e bianda com atum.

Só nos safavamos porque haviam muitas rolas e tínhamos bons caçadores, que arranjavam assim matéria para umas rotineiras petiscadas.

O Honório era sempre presenteado com uns passarinhos fritos.

Era o que se podia desenrascar.


Saindo da minha "suite do Hotel"

O "restaurante" de Bissum

Saíndo da sala de refeições do "Hotel"

As "minhas" Bajudas

Os djubis fazendo o trablho deles (brincar)

Esta sim é que era a minha verdadeira guerra

O Furriel Subtil é que me entrega a lâmpada

Os "faíscas" armados em guerrilheiros

Aspecto do espaldão/abrigo do morteiro 81 cm

O obús de 10,5 cm

Uma granada do obús de 10,5 cm

O Furriel Subtil em cima e eu em baixo junto ao obús de 105 mm

O avião do Honório

Gamei o avião ao Honório

Um Abraço,
José Nunes
1º Cabo Mec Elect do BENG 447

Fotos: © José Nunes (2009). Direitos reservados.
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