domingo, 27 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)


1. Texto de Pedro Castanheira, ex-pára-quedista (*):

Assunto - O famigerado Cabo 80

O Ten Spears,  destemido e bravo oficial pára-quedista norte-americano, distribui cigarros aos 6 soldados alemães, feitos prisioneiros ao 2º dia do desembarque na Normandia. Após ter acendido os cigarros, com toda a lisura, a cada um deles, pega na sua metralhadora, e num impulso de loucura, descarrega o carregador sobre os prisioneiros alemães.

Esta era mais uma história, que circulava entre os homens da companhia Easy, pertencentes à 101ª Divisão de Paraquedistas, criando entre os soldados um misto de temor e admiração pelas suas façanhas, quase no fim da guerra na Europa, já com Spears promovido a capitão.

Lipton, expriente psar da companhia, interroga-o sobre essas "histórias"que se contam sobre ele. Spears sorri, conhecendo de cor todas essas histórias, maior parte delas inventadas, e diz a Lipton:
- Há 2000 anos atrás, havia centuriões à conversa sobre Tercius a dizer que ele decapitara prisioneiros cartagineses. Nunca ouviram Tercius negar as histórias, talvez porque Tercius queria que pensassem que ele era o pior e mais malvado guerreiro de toda a legião romana.

Li neste blogue há algum tempo, excertos do livro do senhor sargento pára Carmo Vicente, em que se refería a "conhecidos arruaceiros, como o famigerado 80", tendo logo aparecido quem defendesse a sua honra e afirmado que era enfermeiro, facto que eu não descionhecia (**).

Já eu nos anos 90, quando cumpria o meu serviço militar nos paraquedistas, ouvi muitas vezes da boca dos veteranos da Guiné, a prestar serviço nos páras, referências ao cabo 80, figura mítica dos páras na Guiné, conflituoso, lixado para a porrada, que partia os bares todos em Bissau, homem que enfrentava tudo e todos... Enfim, também ainda se ouvem sussurros sobre o 80 no dia de unidade dos paraquedistas, entre os páras que prestaram serviço na Guiné.

Mas, o que é feito da nossa personagem? Segundo consta, desapareceu após o fim da sua comissão. Ins dizem que já morreu, mas ouvi também dizer que fugiu do país, após ter morto um polícia, por altura do 25 de Abril... Atenção, são versões não confirmadas.

A certa altura,  estando eu à conversa com um pára de uma associação de paraquedistas, também ele a par da fama do cabo 80, revelou-me o seu verdadeiro nome. Após consulta minuciosa ao livro do BCP12, qual não é o meu espanto, ao ver o famigerado cabo 80 assinalado várias vezes, com reconhecimento por bravura em combate.. . E mais!, na parte das condecorações, lá está o "arruaceiro" Primeiro Cabo Paraquedist nº 85/RD (...) 

MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 2ª CLASSE 

e novamente (...) .MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 3ª CLASSE.

Não sei, quem era o comandante de companhia, deste nosso cabo paraquedista (Cap Mira Vaz? Cap Terras Marques? Cap Avelar de Sousa? entre outros). Penso que era interessante saber, da parte dos elementos da sua companhia, quem era realmente o cabo 80. Eu, humildemente, e sem querer ofender, penso que era mais um soldado que queria honrar a sua pátria, e que tinha a sua maneira de o fazer.

Um grande abraço

Pedro Castanheira

[Revisão / fixação de texto: L.G.]
_____________

Notas de L.G.:

(*)  Vd. poste de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5518: Cancioneiro da CCP 122 / BCP 12 (1972/74) , a Gloriosa (Pedro Castanheiro)

(**) Sobre o Cabo 80 e os tristes acontecimentos de Bissau, em Janeiro de 1968, vd. postes de:

10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

(..) A estória é-me contada em 3ª ou 4ª mão, foi-me contada por uns amigos pára-quedistas, portanto é a sua versão (deles, pára-quedistas).

Então é assim: Não tenho a data do acontecimento, mas julgo ter sido em 1968. Houve um jogo de futebol de onze no campo do Benfica. Não me recordo, ao certo, do nome completo do clube de futebol. Sei que era de Bissau, só me lembro que era do Benfica.

Os contentores eram obviamente os Fuzileiros contra os Pára-quedistas, o jogo estava a correr muito bem, mas a um dado momento gerou-se uma troca de mimos, na assistência, entre as claques que chegaram mesmo a vias de facto (ou seja pancadaria).

Os Fuzileiros, estando relativamente perto do aquartelamento deles, correram a armarem-se, ou pedir reforços, não sei, mas os Pára-quedistas aperceberam-se disso e foram em seu encalço. A praça que estava de guarda na porta de armas do quartel, apercebendo-se do que se estava a passar, chamou o Cabo da Guarda e perguntou-lhe o que deveria fazer neste caso. Foi-lhe dada ordem de disparar, o que fez, originando a morte de um Pára-quedista.

A partir daí, qualquer Fuzileiro não se podia relacionar com Pár-aquedistas, e vice-versa, pelo que acontecia muitas vezes pancadaria entre ambos e, quando acontecia, cada um ia chamar o seu Camarada protector. O Protector dos Fuzileiros era um Cabo (julgo eu) chamado Lages, e da parte dos Pára-quedistas também havia um Cabo, Enfermeiro, conhecido por Oitenta.

Em café, esplanada ou qualquer espaço onde houvesse confrontos entre Fuzileiros e Pára-.quedistas com os seus respectivos Protectores, não restava nada que ficasse de pé. Quando os dois Cabos se encontravam no mesmo passeio, um deles tinha que mudar, porque ambos não se podiam cruzar.

Uma dada altura os Fuzileiros resolveram vingarem-se do Cabo 80, e sabendo que o 80, quase todos os dias antes de se recolher no quartel de Bissalanca, ia visitar a sua bajuda, que ficava relativamente perto, mas tinha que passar por alguns sítios isolados, resolveram fazer-lhe uma espera.

No dia combinado, o Cabo 80 quando já estava de regresso ao quartel, ouviu um cão a ladrar e, como o seguro morreu velho e o acautelado ainda é vivo, ele agarrou num pilão, não viesse o cão morder-lhe, mas para grande espanto dele, não foi o cão que apareceu, mas sim sete ou oito Fuzileiros armados de facas de ponte e mola.

Ele percebendo-se que também estava armado (e bem armado) com um grande pilão na mão, foi só despachar os Fuzileiros e, quando chegou ao quartel, telefonou para o Hospital para que os fossem buscar. (...).

(..) Junto fotos - eu com o meu amigo de longa data, desde a Metrópoloe, o Rodrigues, mais o Hoss, no aquartelamento de Bissalanca (Companhia Caçadores Paraquedistas nº. 122) em 1970. O Hoss assim como o Oitenta, ambos Cabos Enfermeiros, foram bastante condecorados. O Oitenta não cheguei a conhecer mas conheci (vi várias vezes em Bissau) também um grande Homem e combatente que na altura também diziam que ele tinha a cabeça a prémio. Estou a falar do Capitão na altura, hoje Coronel na reforma, Terra Marques (...).

Vd. também:

11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

(...) Extractos de VICENTE, Carmo - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. pp. 25-30. Selecção e digitalização de Jorge Santos. Subtítulos do editor do blogue. (...)

13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)

Guiné 63/74 - P5545: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (23): Gilda Pinho Brandão (ou Gilda Brás)

  1. Mensagem natalícia da nossa amiga Gilda Pinho Brandão (hoje, Brás, por casamento). uma órfã de guerra, que através do nosso blogue ganhou um novo país e uma nova família (um caso que muito sensibilizou e mobilizou os amigos e camaradas da Guiné reunidos nesta Tabanca Grande) (*):

Para todos vós

A todos os meus amigos, colegas e a àqueles que não pertencendo a nenhum dos dois grupos, "pisaram a areia da minha praia", deixando recordações de carinho, solidariedade, respeito e consideração e, me surpreenderam levando-me a acreditar que vale a pena que os anos se sucedam, sempre na esperança de ter sonhos, se não concretizados, pelo menos sonhados, desejo "Um Natal cheio de Paz e que a nova década seja cheia de alegria e prosperidade".

Um beijinho de coração,

Gilda Brandão

____________

Nota de L.G.:

Vd. postes de:
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)

(...) 1. Mensagem enviada por Gilda Bras:

Muito boa tarde,

Parabéns pela vossa página, pois ajudou-me a descobrir que a família que eu procuro há mais de 35 anos, foi importante para a formação da Guiné.

Não sei se alguém me pode ajudar, eu gostava de encontrar familiares do Afonso Pinho Brandão e Manuel Pinho Brandão, comerciantes importantes na Guiné na altura da Guerra.

Sou filha do Afonso Pinho Brandão, chamo-me Gilda Pinho Brandão. Se me puderem ajudar, podem fazê-lo para o meu e-mail.

Muito obrigada e continuem com o vosso bom trabalho.

Cumprimentos
Gilda Brás (...)


3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1811: Vim para Portugal aos 7 anos, em 1969, e não tenho uma fotografia de meu pai, A. Pinho Brandão (Gilda Pinho Brandão, 44 anos)

(...) A minha história é um bocado longa, mas vou tentar resumi-la em poucas linhas:

(i) Vim da Guiné em 1969, a pedido da mãe do militar (Furriel Pina) que me trouxe; tinha 7 anos e lembro-me de vir num barco de guerra com os militares todos e mais um menino negro chamado Domingos (já falecido).

(ii) Esta família deu-me tudo e cuidou de mim como se fosse da família; hoje com 44 anos, perdi um bocado as minhas raízes guineenses, mas tenho uma família portuguesa fantástica.

(iii) Este ano acabei por descobrir que tenho mais 8 irmãos (só da parte do pai Afonso), espalhados por Portugal, Alemanha e Guiné. Conheci dois deles no fim-de-semana passado e espero muito em breve conhecê-los todos.

(iv) Os meus familiares maternos continuam na Guiné, poucas lembranças tenho deles, o único membro de que me lembrava mais ou menos era da minha avó, mas que já faleceu há algum tempo, a minha mãe faleceu há cerca de 2 anos.

(v) Nunca mais voltei lá mas, agora que tenho uma filha, terei que pensar em visitá-los, para lhe apresentar a família biológica.

Mais uma vez muito obrigada pelas vossas palavras, a guerra foi muito “feia” e “má”, mas contribuiu para se fazerem GRANDES AMIZADES. (...)


5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1817: Catió: Em busca da família Pinho Brandão (Leopoldo Amado / Victor Condeço / Armindo Batata / Gilda Pinho Brandão)

(...) Bom dia Amigos,

Muito, muito obrigada. Não encontro palavras, para vos expressar o que sinto com todas estas informações.

Vou falar com o meu irmão (Furriel Pina), para o caso de ele ter algumas fotos nossas da Guiné e dar-lhe o contacto desta fantástica Tertúlia de Amigos da Guiné.

Ao Dr. Luís Graça em particular, os meus sinceros agradecimentos pelo tempo dedicado ao meu caso.

Cumprimentos e até breve

Gilda Brás (...)


25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1994: Tabanca Grande (29): Gilda Pinho Brandão: uma mulher feliz, que ganha uma nova família e um novo país

(...) Boa tarde, Amigo Luís,

Pois é, este fim-de-semana recebi a visita do nosso amigo Pepito, um ser humano extraordinário e um guineense orgulhoso, que fala do seu país e das suas gentes com uma paixão indescritível, por mim ficava o dia todo a ouvi-lo, pena não ter podido ficar mais tempo.

Relativamente aos meus familiares, falou-me no meu primo Carlos Pinho Brandão, que foi colega dele de curso [, de Agronomia,] das circunstâncias da morte do meu pai [, Afonso Pinho Brandão,] que foram um pouco dramáticas, pois segundo o Carlos contou ele era muito querido pela população, era um homem bastante sociável: ao fazer frente a uns balantas que se queriam apropriar da casa dele, acabou por ser morto, pois estava em inferioridade numérica. O Pepito também falou-me acerca dos fulas, etnia da minha família materna. A seguir ao encontro com os meus irmãos, este foi um dos momentos mais marcantes desde que comecei esta busca pelas minhas raízes (...).

Guiné 63/74 - P5544: O que era o STM? Belarmino Sardinha)


1. Mensagem de Natal do nosso Camarada Belarmino Sardinha (ex-1º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), com data de 17 de Dezembro:

Caríssimos Editores, Camaradas e Amigos,

Envio, pois quase tinha prometido, um apontamento sobre o que era a guerra do STM, dentro e fora de Bissau. Espero que contribua para ajudar a perceberem as nossas funções.

Junto uma foto do calhamaço que nos era distribuído e servia de Breviário, Missal ou Bíblia durante todo o tempo.

Publiquem se estiver conforme esperado e virem que tem interesse.

O que era o STM?

Este espaço onde nos encontrarmos e discutimos as nossas opiniões serve igualmente para nos identificarmos e esclarecermos sobre coisas. A propósito disso e por surgirem dúvidas, talvez pelo número reduzido de militares que movimentou em relação à generalidade da tropa que prestou serviço em Angola, Moçambique e Guiné, levaram-me a escrever estas linhas na expectativa de conseguir explicar como funcionava e estava organizado o pessoal do STM (Serviço de Telecomunicações Militares) e não SPM (Serviço Postal Militar) com o qual é confundido sem motivo, já o mesmo não acontecendo com os outros Radiotelegrafistas.

A razão é apenas essa, esclarecer ou ajudar a perceber o que faziam os militares do STM, como estavam organizados, de quem dependiam directamente, como eram destacados etc.

Todos os comentários de ajuda a melhorarem esta explicação serão bem-vindos. Prestarei igualmente os esclarecimentos possíveis para as dúvidas que eventualmente subsistam.

Finda a recruta, os encaminhados para a especialidade de Radiotelegrafistas eram mandados para o Regimento de Transmissões, no Porto, em Arca D’Água, onde ficavam sujeitos ao ensino sobre os rádios utilizados, o seu funcionamento, a exploração das redes e a aprendizagem do código ou linguagem Morse para comunicação. O curso tinha a duração de 6 (seis) meses para Radiotelegrafistas e de metade deste tempo para Operadores de Mensagens, Telefonistas ou Operadores de Telex, todas estas especialidades dadas nesta unidade.

O que eram então os Radiotelegrafistas do STM (Serviço de Telecomunicações Militares)?

Acabada a especialidade de Radiotelegrafista, os seleccionados e destinados ao STM eram encaminhados para a Escola Prática de Transmissões, em Lisboa, à Graça, para serem colocados em unidades de estágio, com a duração de três meses. Durante esse tempo todas as comunicações eram feitas em código Morse. Findo o estágio, por norma, acontecia a mobilização mais mês menos mês. Este estágio era feito nos quartéis-generais e em quartéis de instrução militar, tais como, Vendas Novas, Mafra, Tavira etc.

Esta situação, operadores do STM, levava a que a mobilização ocorresse mais tarde do que para a maioria das especialidades, obrigando a um tempo de tropa superior.

Os operadores Radiotelegrafistas não seleccionados, a maioria, ficavam no Regimento de Transmissões onde faziam os serviços normais do quartel (salvo os serviços de guarda, reforço e fascina a cargo dos novos instruendos), ou eram enviados para quartéis onde exerciam as suas especialidades, mas como operadores em fonia, operadores de mensagens, telefonistas ou de telex, até serem mobilizados e integrados em Batalhões e/ou Companhias Independentes.

Devo referir que todos os Radiotelegrafistas que faziam parte dos Batalhões ou Companhias e asseguravam, em fonia, a ligação com o quartel, entre grupos ou com o centro de mensagens e com o comando não eram do STM.

Reportando-me apenas à Guiné, embora esteja em crer ter sido igual para Angola e Moçambique, os operadores do STM só trabalhavam em código Morse e eram sempre rendição individual.

Chegados à Guiné, o local de recepção e permanência era o Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, junto ao QG, uma unidade independente deste e onde fazíamos toda a nossa vida, excepto o serviço da especialidade que era prestado nas instalações dentro do QG, assim como partilhado era o refeitório da CCS do QG, até à construção do nosso refeitório, bar de oficiais e bar de sargentos em 1973.

Não sou agora capaz, em pormenor e sem falha, dizer todos os quartéis da Guiné com posto do STM, mas posso assegurar que, Aldeia Formosa, Bafatá, Bambadinca, Bigene, Bissorã, Bolama, Catió, Cufar, Farim, Gadamael, Guidage, Guileje, Mansoa, Nova Lamego e Teixeira Pinto tinham. Eram coordenados pelo posto director, Bissau, que os dividia em cindo redes, Norte, Sul, Sul2, Leste e Oeste.

Os militares do STM colocados em qualquer quartel ou aquartelamento na Guiné não dependiam do Comandante do Batalhão, nem de qualquer Comandante de companhia. Eram ali colocados pelo Agrupamento de Transmissões e dele ficavam dependentes, embora sujeitos às normas estabelecidas dentro desse quartel até serem substituídos. Por norma, a maioria dos operadores passava metade ou dois terços da comissão num ou mais quartéis do interior sendo depois chamado para Bissau onde acabava a comissão no posto director.

O responsável de cada Posto do STM tinha a obrigação de fazer relatórios semanais que enviava em correio fechado para o Agrupamento de Transmissões, referindo a sua actividade e o desenrolar dos acontecimentos, bem como informar sobre o decorrer do serviço e do pessoal. Tinha ainda a responsabilidade de proceder às alterações dos códigos, semanalmente, de acordo com as directrizes previamente recebidas em envelope fechado.

Nos locais ditos mais quentes eram normalmente cabos os responsáveis pelo Posto do STM, sendo os furriéis, por escassez ou outra razão lá colocados apenas por questões disciplinares e por períodos limitados de tempo. Haverá excepções, mas não as conheço.

Através do STM, sempre em código Morse, eram trocadas as mensagens com Bissau e os restantes postos do STM de cada grupo, em norma cinco por sector, incluindo Bissau. Do STM era transmitido e recebido, além das mensagens que faziam o dia-a-dia dos quartéis, o relatório diário, cifrado, com a vida e actividade operacional desse dia e recebida a indicação para o dia seguinte.

Lembro também que, locais como Aldeia Formosa ou Guileje não dispunham de qualquer outro contacto com Bissau. Julgo que o mesmo acontecia com Gadamael, Catió, Cufar e Guidage. Já Bafatá, Mansoa, Nova Lamego, Teixeira Pinto ou Bolama eram privilegiados, alguns destes locais, além de telefone dispunham ainda de uma rede chamada Storno. Quanto a Farim, Bigene e Bambadinca desconheço quais os meios de que dispunham além do STM.

Esta forma reduzida de explanar a funcionalidade do STM não completa as suas tarefas já que, em Mansoa, era ainda gravada, por vezes com muito má qualidade, a escuta feita à Rádio Conakry e Senegal que posteriormente seguia para Bissau, Agrupamento de Transmissões, Serviço de Escuta. Digamos que toda a informação e actividade de um quartel passavam pelo STM, assim como a dos destacamentos que lhe fizessem parte.

Os postos de STM ficavam destacados de todos os outros locais e abrigavam os operadores do STM e os equipamentos. Nos locais onde havia apenas o posto de rádio, composto, em norma, por 3 ou 4 operadores, um era o cabo que, além de operador, era também chefe do posto.

Contudo, devo referir que os operadores Cripto e os Radiotelegrafistas do Batalhão ou Companhia, coordenados por um Alferes ou Furriel de Transmissões, nada tinham a ver com o STM. Tinham como funções prepararem as mensagens segundo as directrizes superiores e traçarem o funcionamento do centro de mensagens e dos serviços dos Radiotelegrafistas e operadores Cripto colocados no Batalhão ou Companhia.

Justifica-se por isso a dificuldade em encontrar no blogue camaradas com quem tenha partilhado a comissão, por estarmos quase isolados, pelo reduzido número de camaradas e pela pouca permanência nos locais por onde passávamos. Mas ainda não perdi a esperança de ver aqui mais alguns entre os quais, pelo menos mais um dos 15 ou 16 magníficos que comigo partiram de Lisboa, Figo Maduro, em rendição individual no dia 15 que era já 16, mas acabou por ser 17 de Junho de 1972.

Um abraço para todos,
Belarmino Sardinha
1º Cabo Radiotelegrafista STM
__________
Nota de MR:

Vd. último poste do autor em:

Guiné 63/74 - P5543: Parabéns a você (59): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Editores)

1. Dois dias depois da comemoração do nascimento Jesus Cristo, está de parabéns o nosso camarada José Pedro Neves.
A Tabanca deseja ao Pedro um dia muito feliz, na companhia de sua esposa, filhos e demais família, com mais umas prendas a acumular às que recebeu pelo Natal.
Que esta data se renove muitas vezes, até porque estamos em presença de um jovem de 58 anos que não tem propriamente idade para um ex-combatente da Guiné.
Claro que o tempo cura tudo, e não tarda, estaremos a recebê-lo no grandioso grupo de Sexas.

2. Pedro Neves dirigiu-se à Tabanca a primeira vez em Outubro de 2008*, mas só em Dezembro** foi apresentado formalmente à Tabanca.


Aqui fica o registo escrito

Dados militares

Em Lamego:

- 1.º curso de 1973 (Instruendo do 1.º Grupo)
- Instrutor do 2.º curso de 1973 (1.º Grupo de Cadetes)

Guiné
- CCAÇ 4745 (Águias de Binta) - Companhia de Caçadores Independente, formada nos Açores - Ilha Terceira.
- BINTA, GUIDAGE, NEMA, FARIM, MANSOA, JUGUDUL, POLIBAQUE, PORTO-GOLE, BULA, NHAMATE, CAPUNGA, BINAR e outros arredores que já não lembro os nomes.

- Posto - Ex-Fur Mil Op Esp (RANGER)
- Nome - José Pedro Ferreira das Neves (56 anos) (Nome de guerra, Pedro
- Localidade - Lisboa


Mensagem do nosso camarada Pedro Neves, com data de 8 de Dezembro de 2008:

Caros Luis Graça e Carlos Vinhal:

Em primeiro lugar, o meu agradecimento ao Blogue, porque graças ao mesmo já encontrei um camarada da minha equipe, o Raúl do 1.º Curso de 1973, em Lamego e um 1.º Cabo Condutor da minha CCaç 4745, Águias de Binta, o Tomás Carneiro, natural e residente em S. Miguel, nos Açores.

Como devem calcular, só por isso já estou muito grato ao vosso magnifico trabalho e iniciativa de terem criado e dado vida ao nosso Blogue.

Agradeço que façam a minha inscrição no Blogue e em anexo as fotos, actual e do tempo em que éramos mais jovens. A diferença é visivel!!!

Aproveito a ocasião para desejar a todos os camaradas e seus familiares, votos de BOAS FESTAS!

Um abraço
Pedro Neves
ex-Fur Mil Op Esp

3. Pedro Neves deu-nos o prazer da sua presença no nosso último Encontro Nacional, da qual deixamos este testemunho, em que aparece acompanhado de sua esposa Ana Maria e do seu camarada Tomás Carneiro que se deslocou dos Açores propositadamente para se encontrar com ele.


__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3322: Tabanca Grande (92): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745, 1972/74

(**) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3588: Tabanca Grande (103): Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745, Águias de Binta (Binta, 1972/74)

Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5525: Parabéns a você (58): Albano Costa, o Foto Gui...fões, Gui...daje (Luís Graça)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5542: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (22): Editores


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém  > 9 Dezembro de 2009 > 15h50 > Fatango ou macaco fidalgo vermelho.

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados.


1. Votos de boas festas do Carlos Vinhal, em nome da equipa editorial do blogue, enviados a toda a rede da Tabanca Grande, em 23 do corrente:

Caros camaradas e amigos Tertulianos

Venho, em nome dos editores,  desejar que os nossos amigos tertulianos tenham um Natal em família com muita alegria. Também que o Novo Ano seja a concretização daquilo que 2009 deixou por fazer.

Saúde para todos, principalmente para os menos novos, e algum dinheiro para gastos. Amor, tanto quanto possível.

Em 2010 cá nos vamos aguentar rabujentos, como convém, mas sempre amigos e camaradas, porque estas qualidades nada as destruirá.

Um abraço colectivo que abranja todo o Portugal continental e Ilhas, a Suécia, a República Checa, a Holanda, a Alemanha, o Brasil, os EUA, o Canadá, a Guiné-Bissau e todos os países onde haja tertulianos na diáspora.

Para todos, tudo de bom.

Carlos Vinhal, em nome dos editores (*)

E-mail: carlos.vinhal@gmail.com

Co-Editor dos Blogues
Luís Graça & Camaradas da Guiné
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/
e
CART 2732
http://cart2732.blogspot.com/

___________

Nota de L.G. (em férias...natalícias):

(*) Vd. poste anterior desta série: 26 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5539: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (21): Padre Mário de Oliveira

Guiné 63/74 - P5541: Memória dos lugares (61): Mais notícias da Cart 2410 (2) (Luís Guerreiro)

1. O nosso Camarada Luís Guerreiro, ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb da CART 2410 e mais tarde do Pel Caç Nat 65, Ganturé, 1968/70, e que desde 1971 reside em Montreal, no Canadá, enviou ao Luís Graça a seguinte mensagem:

Mais notícias da Cart 2410 (2)

Camaradas,

Envio mais algumas notícias da Cart 2410, com fotos de Ganturé e de Gadamael, aonde chegámos nos fins de Setembro de 1968.Em 21 de Junho de 1969, seguimos para Guileje, tendo eu, nessa altura, sido transferido para o segundo e o quarto grupos de combate.O resto da companhia ficou aí definitivamente colocada, no dia 26 do mesmo mês.

Além das fotos, envio também a lista dos militares que embarcaram no navio Uíge, em 11 de Agosto de 1968 (3 páginas), bem como a lista das operações que executamos e dos ataques que sofremos nestes dois aquartelamentos (2 páginas).

2. A mensagem enviada pelo Luís Guerreiro, trazia anexas 5 páginas e 16 fotografias, o que, para publicar num só poste, se tornaria demasiado “pesado” e pouco prático para “carregar” no blogue. Assim, partiu-se o material enviado em dois postes, tendo-se apresentado no poste P5540, a lista dos militares que embarcaram no navio Uíge, em 11 de Agosto de 1968 (3 páginas) e a lista das operações que executou a CArt 2510 e dos ataques que sofreram nos dois aquartelamentos (2 páginas).

Neste poste publicam as 16 magníficas e bem conservadas fotos:


7- Último almoço do quarto grupo de combate em Ganturé


8- Quarto grupo de combate


9- Gadamael

10- Gadamael

11- Gadamael, abrigo morteiro 81 mm

12- Cruzamento de Guileje, coluna de Gadamael , transporte obus 11,4 cm, em 19 de Março de1969

13- Coluna para Guileje, 19 Março de 1969

14- Coluna, subida depois do cruzamento 19 Março de1969

15- Coluna 19 Março de1969, obus 14 cm existente em Guileje

16- Guileje, granadas do obus 14 cm

17- Guileje, junto ao obus 14 cm, eu e Furriel Mourato (já falecido)

18- Visita do general Spínola a Gadamael, em T-shirt branca, é no nosso capitão Amilcar Cardigos

19- Visita do general Spínola às novas moranças em Gadamael

20- Cais de Gadamael, eu e o alferes Jerónimo

21- Gadamael, furriéis da Cart 2410 e do Pel.Fox 2085, comendo ostras e umas cervejas a acompanhar

22- Gadamael, messe de sargentos

Para a próxima começarei em Guileje.

Um abraço,
Luis Guerreiro
Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65

Fotos e legendas: © Luís Guerreiro (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5540: Memória dos lugares (60): Mais notícias da Cart 2410 (1) (Luís Guerreiro)


1. O nosso Camarada Luís Guerreiro, ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb da CART 2410 e mais tarde do Pel Caç Nat 65, Ganturé, 1968/70, e que desde 1971 reside em Montreal, no Canadá, enviou ao Luís Graça a seguinte mensagem:

Mais notícias da Cart 2410

Camaradas,Envio mais algumas notícias da Cart 2410, com fotos de Ganturé e de Gadamael, aonde chegámos nos fins de Setembro de 1968.Em 21 de Junho de 1969, seguimos para Guileje, tendo eu, nessa altura, sido transferido para o segundo e o quarto grupos de combate.

O resto da companhia ficou aí definitivamente colocada, no dia 26 do mesmo mês.

Além das fotos, envio também a lista dos militares que embarcaram no navio Uíge, em 11 de Agosto de 1968 (3 páginas), bem como a lista das operações que executamos e dos ataques que sofremos nestes dois aquartelamentos (2 páginas).

2. A mensagem enviada pelo Luís Guerreiro, traz anexas 5 páginas e 16 fotografias, o que, para publicar num só poste, se tornaria demasiado “pesado” e pouco prático para “carregar” no blogue. Assim, partiu-se o material enviado em dois postes, sendo que neste primeiro se apresentam a lista dos militares que embarcaram no navio Uíge, em 11 de Agosto de 1968 (3 páginas) e a lista das operações que executou a CArt 2510 e dos ataques que sofreram nos dois aquartelamentos (2 páginas).

No segundo poste publicar-se-á as 16 fotos.

1. Guião da companhia (CArt 2410)
2. Lista dos militares da CArt 2410 (1)

3. Lista dos militares da CArt 2410 (2)

4. Lista dos militares da CArt 2410 (3)


5. Lista das operações e ataques (1)


6. Lista das operações e ataques (2)

Um abraço,
Luis Guerreiro
Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65

Páginas e legendas: © Luís Guerreiro (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5539: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (21): Padre Mário de Oliveira

1. Mensagem natalícia do Padre Mário de Oliveira, ex-Alf Mil Capelão,  CCS/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/68) (*):

Olá! Venho partilhar convosco a  minha mensagem de natal e dizer-vos que este natal de 25 de Dezembro de cada ano não é, nunca foi, nunca será, o natal de Jesus.

Com o rato, fazei copiar sobre o endereço abaixo e transportai-o para a página do Google. Colocai-o no local, ao alto, para endereços de páginas, e clicai ENTER.

Aparecer-vos-ei num pequeno vídeo que acabo de colocar no youtube. Sabeis bem que vos amo com todas as minhas forças. Vosso irmão, Mário.

http://www.youtube.com/watch?v=TIAmTTZJ2CM


2. O Mário de Oliveira publicou também neste último trimestre.. E escreveu-nos a seguinte mensagem, em 20 de Ouubro último:

Venho até Vocês com a minha alegria e a minha paz. Também com a minha gratidão.

Foram muitas as pessoas que, no dia 17 Outubro 2009, vieram ao Barracão de Cultura à apresentação do meu “livro póstumo”, e que vibraram com ele.

Uma dessas muitas pessoas, a residir no Concelho de V. N de Gaia, já me fez chegar um e-mail com este pequenino mas eloquente testemunho: “Mário: Só agora pude comunicar para te dizer o quanto foi importante para todos nós Aquela Tarde APOCALÍPTICA que jamais esquecerei. Já ofereci 4 livros. Quando cá vieres traz mais. Vou informar-me junto do grupo das datas possíveis para nos encontrarmos. Um infinito Xi-coração”.

O Escritor Luandino Vieira, emocionado do princípio ao fim, esteve inexcedível. O Actor Júlio Cardoso leu pausadamente trechos do NOVO LIVRO DO APOCALIPSE OU DA REVELAÇÃO. Em muitos momentos, com a voz embargada e as lágrimas emocionadas a brilharem nos seus olhos. A representante da Editora Areias Vivas, Maria Fernanda Alves, mais parecia uma menina dançante de alegria. E não escondeu toda a saudável reviravolta interior que o Livro está já a provocar na consciência dela, da sua irmã Zi, e do ilustrador da capa, Nuno Pedreiro.

Rodrigo Filipe, presidente da Direcção da Associação As Formigas de Macieira que abriu a Sessão, esteve na Mesa, transfigurado do princípio ao fim. E eu, já com um certo toque de ressuscitado, desfiz-me, nem eu sei como, em cantos e palavras maiêuticas, em abraços e beijos, em autógrafos e sorrisos de liberdade. Nunca mais a vida de alguém será a mesma, depois deste livro entrar nela. Por isso, havemos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, para que o livro chegue a pessoas de todas as nações, até aos confins do Mundo.

Dos 500 exemplares do livro que, pessoalmente, assumi vender, cento e poucos “voaram” nesta Sessão de apresentação. O livro já se encontra nas principais livrarias do país. Chegará também a Angola e Moçambique. E ao Brasil. Se, porém, o adquirirem directamente a mim ou ao Barracão de Cultura As Formigas de Macieira, o dinheiro que entregarem por cada exemplar é todo para o Barracão, já que não há intermediários e a própria Editora faz questão de prescindir de qualquer percentagem sobre estes 500 livros que eu vender. O livro, com 670 páginas, custa 19 euros (não pôde ser menos). Se for enviado pelo correio, acrescem mais 2,50 euros de despesas do envio (envelope almofadado + franquia postal), o que perfaz um total de 21 euros e 50 cêntimos. O pagamento pode e deve ser feito por transferência bancária, a partir de uma caixa multibanco, para este NIB:  0007 0000 00775184231 23

Conto (e o Barracão de Cultura também) com a generosidade e a solidariedade de todas, todos Vocês.

A concluir, permito-me fazer minhas as palavras de Luandino Vieira: Este “livro póstumo” do Mário não é para se ler e depois arrumar na estante. É para andar sempre connosco, para onde quer que a gente vá. Não há versículo nenhum do livro, mesmo se aberto ao acaso, que nos deixe na mesma, pois sempre nos diz a palavra certa que precisamos de ouvir, naquele momento, para prosseguirmos na vida, como Humanos.

Façam, pois, quanto antes, as vossas encomendas. E indiquem o endereço postal para onde querem que o(s) livro(s) seja(m) enviado(s).

Fico na expectativa, cordialmente abraçado a cada uma, cada um de Vocês.

Mário, vosso irmão.
 
3. Comentário de L.G.:
 
O Mário de Oliveira é amigo pessoal da Alice que, neste Natal, encomendou cinco exemplares do supracitado livro para oferecer aos amigos.  O Mário foi pároco na freguesia de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, depois de regressar da Guiné (*). Sobre o livro que de que já li algumas largas de dezenas de crónicas, limito-me para já a dizer o seguinte: Para os crentes, a palavra de Deus é só uma, mas há muitas maneiras de a ler e interpretar. O Mário é um homem que merece o meu respeito pela sua coerência, despojamento, coragem e frontalidade. É, juntamente com o Arsénio Puim, os dois únicos ex-capelães militares que pertencem ao nosso blogue.  Desejo-lhe as nossas melhores saudações bloguísticas. Votos de saúde e paz para 2010.  Um Alfa Bravo. Luís
____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1946: Estórias de Mansoa (2): um capelão em apuros na estrada de Cutia (Aires Ferreira)

Vd. ainda postes de:


27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXV: Foi em plena guerra colonial que nasci de novo (Padre Mário de Oliveira )

8 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1825: Mário de Oliveira, na Feira do Livro de Lisboa, dia 9 de Junho de 2007

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5538: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (20): Uma saudação muito afectuosa para todos os guineenses (Beja Santos)


Luis e Carlos,

Reparem nas tonalidades suaves, na delicadeza da dança juvenil, na ave de Picasso, no batuque acolhedor, no viço do pó d'osso. Só a nossa Guiné podia ter selos que falam tão vibrantemente da paz e reconstrução, sonho profundo de suas gentes.

Juntemos as nossas esperanças e sonhos com os dos guineenses, nesta quadra.

Uma saudação muito afectuosa para toda a Guiné-Bissau, são os meus ardentes votos do Mário Beja Santos

Guiné 63/74 - P5537: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Ano Novo 2010 (19): Mensagens da tertúlia


Guiné > Região de Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 >  Feliz Natal... "Este é mais outro aerograma que descobri. Mandei-o, pelo Natal, em 1968. O que eu quis transmitir é que eram natais de morte e que o que procurava era esquecer, dando de beber à dor".

Dizeres do aerograma: "Querida irmã e cunhado, um Natal feliz e que o Ano Novo seja sepre melhor que o anterior. António Manuel... Uma ginginha!.. Pois dar de beber à dar é o melhor"...

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados

1. Continuamos a receber na nossa antiga caixa de correio (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com ) mensagens de boas festas de diversos amigos e camaradas da Guiné, em geral acompanhadas de belíssimos cartões (alguns animados) ou em formato ppt.

Na impossibilidade de as reproduzirmos, a todas, aqui ficam os nossos agradecimentos e o nosso apreço aos seguintes membros da nossa Tabanca Grande ou simples leitores (*):

Aires Ferreira e Fátima
Alberto Silva
Alexandre Coutinho e Lima
Álvaro Basto e Filomena
Amílcar Ventura
Antero Santos e família (Mª Fernanda, Alexandra, Cátia, André e Andrezinho)
António Graça de Abreu
Artur Conceição
Carlos Cordeiro
Carlos Silva
Fernando Santos
Filomena Sampaio
Francisco Palma
George Freire
Hugo Guerra
Jaime Bonifácio Marques da Silva
João Carvalho
Jorge Teixeira (Portojo)
José Moreira (Associação Humanitária Memórias e Gentes)
José Manuel Lopes e Luísa Valente (Quinta Sra. da Graça)
José Teixeira
Lia Medina
Luís Dias
Manuel Augusto Reis
Manuel Oliveira
Mário de Oliveira (Padre)
Mário Fitas
Paulo, Conceição e Paula Salgado
Pedro Neves
Vasco Ferreira
Victor Barata
Victor Garcia
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Nota de L.G.:

(`*) Vd. último poste dest série > 24 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5527: Votos de feliz Natal 2009 e Bom Ano Novo 2010 (18): Patrício Ribeiro, pai dos tugas em Bissau... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P5536: O Meu Natal no Mato (29): Sorrisos de Natal há 40 anos em Canjadude (José Corceiro, CCAÇ 5 - Gatos Pretos, 1969/71)
















Guiné  Zona Leste > Região de Gabu > Canjude (vd. carta de Cabuca) > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) (1969/71) > População local: filhos provavelmente de militares, guineenses,  da CCAÇ 5 (uma unidade de recrutamento local), enquadrada por militares metropolitanos, de rendição individual, como o José Martis (Fur Mil Trms, 1968/70), o José Corceiro (1º Cabo Trms, 1969/71), o João Carvalho (Fur Mil Enf, 1972/74)... Um dos capitães da companhia foi o Pacífico dos Reis, de  quem aqui já publicámos alguns textos, por mão do José Martins.

Fotos:  © José Corceiro (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do José Corceiro, ex-1º Cabo, CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude (1969/71) (*):


Natal, festa de excelência do mundo cristão. Festa da família, do amor, da paz, da união, das prendas e lembranças, da solidariedade, dos abraços, dos sorrisos, da confraternização, da luz e da esperança.

Façamos da vida um Natal permanente… Basta por vezes um olhar mais atento e carinhoso, um sorriso mais leal e consolador, um toque de conforto e tranquilidade, uma palavra de paz e esperança, uma doação do pouco que não nos faz falta, uma ajuda que para nós nada representa. Isto é Natal.

Quem não lembra os Natais da sua meninice?! Oh, que imensa saudade, eu tenho desses Natais, quando, na mais pura e cândida inocência, acreditava no Pai Natal, e ao acordar de manhã, corria para a chaminé, na esperança de que não se tivessem esquecido de mim. Oh! Quão feliz eu ficava ao ver as minhas botas cheias de prendas.

Coisas simples, uma moedinha dois ou cinco tostões, uma laranja, um chocolate, uns rebuçados, umas galhetas, um par de meias, umas luvas e camisola de lã, feitas pelas mãos mágicas da minha ditosa Mãe. Eu tentava esboçar uma desconfiança e dizia:
-Não foi a mãe que fez esta camisola?

Ela, no seu tom terno e doce, com um sorriso franco e acolhedor, respondia:
- Ai…! pois fui lá agora eu!

Eu fechava os olhos e continuava a sonhar e a acreditar. Como eu era feliz nesses tempos?! Não desejava o que não conhecia. Fui cresci e, sem que me apercebesse, a inocência foi-se desvanecendo e as desilusões e amarguras da vida, sem pedirem licença, foram-se instalando e manifestaram-se, deixando as suas marcas, mas eu continuo a sonhar, a crescer e aprender, tenho esperança.

Lembro com saudade e nostalgia os Natais da minha adolescência, Natais, simples, sem ostentação, onde não faltava o calor humano o conforto da família. Havia farturas de filhoses, rabanadas, arroz doce, aletria, bolos de abóbora, o bacalhau cozido com couves que, particularmente, nesta noite era uma delícia, era a ceia de consoada. Mimos feitos com tanto carinho e dedicação porque em casa o Natal era devoção, família, partilha e alegria.

Havia o calor da lareira envolvente e acolhedor, os sinos do campanário da minha aldeia tocavam ecoando os seus trinados por toda a povoação a convidar à união e oração. Lembro, as palavras amigas dos vizinhos e amigos a dizer "Natal Feliz", o frio, a neve, o presépio coberto de musgos serpenteado de veredas e carreiros, por onde se movimentavam as figurinhas de barro que iam adorar e levar prendas ao Deus Menino, o madeiro (cepo) a arder no adro para aquecer o Menino Jesus que toda a aldeia em fila ordenada ia beijar e adorar dentro da igreja da minha terra. Faltando o gesto de beijar o menino, o Natal perdia o encanto e magia. Havia harmonia, prendas, alegria, era NATAL, abraço de família.

Há três Natais que recordo com muita tristeza e melancolia:

(i) O Natal de 2007, difícil pelo sofrimento e abundância de saudades e dor, porque me faltou a prenda mais desejada, a minha Querida MÃE, que uns dias antes quis partir; faltaram todos os mimos e iguarias que minha mãe, diligentemente, com simplicidade e carinho, confeccionava; até os toques do sino da aldeia foram ruído para os meus ouvidos;

(ii) O Natal de 1969 e 1970 passados em Canjadude, Guiné, onde tive muitas saudades e tristeza: foi muito difícil...

Faltou-me a envolvência da minha família, faltaram-me as iguarias que a minha mãe tão terna fazia, faltou-me o calor da lareira acolhedor e consolador, faltou-me o som melodioso do repenicar dos sinos da minha aldeia, faltou o frio, a neve e o agasalho, o presépio, faltou o madeiro a arder no adro, faltaram-me os carinhos e afectos de mãos tão prendadas, assim para mim não era Natal.

Havia muito calor, muita insegurança, muita distância do lugar onde eu tinha nascido e onde tinha aprendido a gostar do Natal. Recusava-me a aceitar assim o Natal. Faltava a paz e os meus braços, não eram suficientemente grandes, para poder abraçar família militar tão numerosa:

Caps: Pacífico dos Reis, Ferreira Oliveira, Gaspar Guerra, Silveira Costeira;

Alfs: Gomes, Martins, Melo, Neves, Luís, Afonso de Sousa, Varela, Gago, Sousa, Silva;

Sargs: Paulino, Santos Rodrigues, Farinha, Cipriano (enfermeiro, a luta ceifou-lhe a vida);

Fur: José Martins, Antunes, Caldeira, Borges, Sá, Germano, Albino, Alves, Ramos, Moreira, Cardoso, Mário, Oliveira, Felizardo, Agostinho, Pena, João Purrinhas (perdeu a vida mina anti-carro entre Canjadude e Nova Lamego), Silva, Caetano, Laminhas, Costa, Carvalho, Gil, Gonçalves, Rito;

Cabos : Dionísio, (que eu substitui), Alex, Loupa, Carvalho, Rogério, Silva Trans., Silva, José Carlos Freitas(jogador do V. Guimarães), Graça, Cóias, Pinto, Faria Trans., Faria, Lúcio, Gaspar, Esteireiro, Nora, Viriato, Costa (cripto), Dinis (perdeu a vida mina nati-carro entre Canjadude e Nova Lamego) António Manuel, Ferro, Alves, Dias, Ramos, Vieira, Fernandes, Sado, Leitão, Monteiro, Marques, Pedro, Domingos, Gomes, Anjos, Mendes, Luís, Malhada, (foi no mesmo dia que eu fui para a companhia), Morais, Gonçalves, Almeida, Costa, Santos, Seabra, Montóia(jogador do Leixões), Lima, Mendes, Moura, Azevedo, Oliveira, Verissimo, Carmo, Fernandes, Rodrigues, Augusto, Romano, Pimenta, Zé (condutor), Magalhães, Sebastião, Morais, Leite, Leitão, Zé Batachão, Vergílio (condutor), Jorge (condutor), Fidalgo, Saldanha, Salazar;

Solds: Mané, Sanjo, Baba, Cholé (alfaiate);

1º Pelotão: Saliu, 70, Mama, Bojel, Pira, Malan, Lidi, Jamanca, Banamo, Mamadu Baldé;

2º Pelotão: Fali Baldé, Milício, Mamasaliu;

3º Pelotão: Samba, Felupe, Ussamané, Braíma, Sájo, Carpala, Mussá, Lourenço, Ossamané Bupiro, Ossamané Buaró, Carfala;

4º Pelotão: Paté Imbaló, Meta, Totala, Sajuma, Mamadú, Braíma, Canta, Canja, Mamadú Baldé, Malan;

Comandos: João Ceide (extremamente dedicado e seguro), Lunta, Gibril, Mamadú;

Outros militares que não sei em que pelotão estavam: Saju (padeiro), Opa, Baba (limpeza de armas), Samba Sisé (mecânico), Baba Gali (cozinheiro), Alin Combaco, Baba (cozinheiro), 615 (morteiro), Primo (morteiro), 416, Mamada Jamanca, Malan Jamanca, Ada Macundé, Banamu Ceide, Tijane, Manga, 819, Sucaro Nhoqué, Fali, Mama Salu Dambu, 348/63, Bané, Costa Pereira, Tripa (quem não se lembra dele), Benfica, Samba, Paté, Sané Mané, Bacar Baldé, Demba Baldé, Mamadu Alain Sané, Aruna, Mili, Mamadu Fati, Mili Braima Sané, Mili Braima Mané, Mili Candy, Adulo Baldé, Diaja.

E quem pode esquecer os miúdos da Companhia, acho que nem família tinham, eram como que mascotes, o Júlio que aprendia mecânica o Binta, o Mamassal(Marchal) que era o moço dos recados.

De Certeza que muitos foram esquecidos, sobretudo nativos, não foi por menos consideração ou estima, a outros poderei ter trocado o posto, mas o mesmo respeito, é natural que em nomes haja erros ortográficos, pois foram registos que eu fiz na época, sem recurso a documentação, só por audição.

Nos 25 meses que estive em Canjadude, fizeram parte da CCaç 5, todos estes militares, era de rendição individual, ainda que os militares nativos fossem, praticamente, sempre os mesmos. Esta foi a grande família GATOS PRETOS, do meu tempo, porque há mais, (eu estive entre Junho 1969 a Julho 1971) estivemos todos no mesmo palco, irmanados pela mesma causa.

Para todos um ABRAÇO de NATAL. Feliz Natal a todos.

José Corceiro

P.S. - Caso publiquem as fotos o titulo pode ser: SORRISOS DE NATAL HÁ QUARENTA ANOS EM CANJADUDE, GUINÉ

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior, 25 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5535: Tabanca Grande (196): José Corceiro, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 5 (Gatos Pretos) (Canjadude, 1969/71)