quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5530: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (31): Sector de Buba-Aldeia Formosa - 2º Semestre 1970 (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 31ª estória, em 22 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Acabo de concluir a resenha sobre as actividades do 2.º Semestre de 1970, no Sector de Buba-Aldeia Formosa, recorrendo a dados e factos que ainda retenho na minha memória, algumas notas escritas na altura e com a preciosa colaboração de vários Camaradas nossos, que viveram, nesse período, no mencionado Sector:

SECTOR DE BUBA-ALDEIA FORMOSA
2.º Semestre de 1970
JULHO de 1970

As actividades das NT, continuavam na tentativa de interceptar o IN no corredor de Missirá, tendo, para isso, empenhado todas as forças do Sector: CART 2519, CART 2521, CCAÇ 2615 e CCAÇ 2614.

O PAIGC, viu-se na necessidade de abrir novos trilhos, na sua acção de infiltração, para Norte e, por isso, derivou para Oeste de Missirá, na tentativa de fugir ao esquema de contra-penetração montado pelas NT.

Numa das acções de patrulhamento da CART 2521, a Norte de Uane, foi encontrada pela primeira vez propaganda (panfletos) da F.L.I.N.G. (Frente de Libertação Independente Nacional da Guiné), apelando às populações à não colaboração com as NT.

A CCAÇ 2615 continuava a patrulhar e a emboscar à distância de Aldeia Formosa em Jai Juli/Chicambiló, tendo encontrado e levantado minas em Jael. Foram encontrados nesta ZA, novos trilhos utilizados pelo inimigo, nas suas deslocações para o interior.

No dia 30-07-1970, pelas 18h00 horas, forças da CART 2519 quando patrulhavam um trilho novo do IN, no sentido S-N de Iero Saldé-Uane, estabeleceram contacto com um Grupo IN armado, estimado em 20 elementos, no ponto XITOLE 4 B8/55.

Do confronto, resultou que o PAIGC sofreu dois mortos confirmados e vários feridos não contabilizados, tendo sido capturadas uma pistola "CESKA" e uma granada de mão defensiva. O IN debandou para Sul e as NT não sofreram qualquer baixa.

Neste período não foram registados ataques aos aquartelamentos do Sector.

AGOSTO de 1970

Registam-se algumas alterações no terreno devido à época das chuvas. O IN intensificou as suas acções de emboscadas, flagelações e colocação de minas, na estrada Buba-Aldeia Formosa, começando a criar dificuldades às nossas colunas de abastecimento.

Foram referenciados vários elementos do inimigo, na ZA da CCAÇ 2615, perto de Contabane em direcção a Bongofé, tendo as NT reforçado as suas acções nessa área.

A CART 2521 e CCAÇ 2614, continuaram empenhadas no reforço de contra-penetração sobre as forças do IN, para o interior, emboscando e patrulhando permanentemente a Norte de Uane, sobre o corredor de Missirá.Nesta acção foi verificado o rebentamento pelo IN de uma mina A/P, colocada pelas NT, sobre um novo trilho no ponto Xitole 4,D9/88.

Foi avistado um Grupo de 5 elementos do IN armados, a Norte de Uane, pelas forças da CART 2521, quando patrulhavam a sua ZA. O IN ao avistar a nossa força abriu fogo e fugiu para Sul perseguido pelas NT.

O IN continuou bastante activo flagelando os aquartelamentos de Mampatá, Nhala, Aldeia Formosa e Buba.

No dia 17AGO1970 atacou Mampatá, com uma força estimada em cerca de 100 elementos, durante 20 minutos, empregando armas ligeiras e pesadas, chegando perto do arame farpado e tentando mesmo penetrar na Tabanca. A forte reacção das NT no terreno, impediu os seus intentos, tendo contribuído para isso o dispositivo de defesa da Tabanca, implantado pela CART 2519.

Como consequência deste ataque, as NT sofreram 9 feridos (três deles graves) e entre a população verificaram-se 5 feridos (todos ligeiramente).

O inimigo fugiu para Sul após o ataque, sendo perseguido pelas NT vindo a ser interceptado perto do Rio Bunissã, por um Grupo de Combate da CART 2519, que tinha colocada em contra-penetração, causando várias baixas ao IN (5 mortos confirmados) e alguns feridos não contabilizados.

Nesta acção foram capturados ao IN, um RPG 2, 4 granadas e vários carregadores de munições.

SETEMBRO de 1970

Depois da actividade que o PAIGC desenvolveu no mês anterior, notou-se um afrouxamento da sua actividade no Sector. Apesar disso, continuaram os esforços das NT nas suas ZA, para cumprirem o estipulado no Plano Operacional "Galgos Ligeiros", do BCAÇ 2892, em especial nas missões de contra-penetração.

O Grupo Especial de Bazucas que no mês anterior atacou os nossos destacamentos, e foi procurado persistentemente pelas NT implantadas no terreno, não voltou a revelar-se, nem se veio a registar mais vestígios da sua presença, o que permitiu concluir que, o mesmo, já havia abandonado a Zona.

Foi accionada a "Operação Viragem", com todas as Companhias instaladas no Sector a ficarem sob o comando do BCAÇ 2892, a receberem ordens para lançarem nas suas ZAs, panfletos destinados à acção psicológica sobre o IN, no corredor de Missirá, entre Uane e Sara Dibane.

A oeste de Aldeia Formosa, as NT continuam a emboscar e a patrulhar junto á fronteira, não encontrando rasto do IN, vendo e falando apenas com os Gilas e tentando, através deles, obter algumas informações.

Na Zona de BUBA a calma era evidente, apesar dos constantes patrulhamentos da NT sobre a sua ZA, não tendo encontrado rastos do inimigo.

Neste período procedeu-se á vacinação da população do Sector, contra a doença da cólera, integrado no programa "A SAÚDE PARA O POVO DA GUINÉ".

OUTUBRO de 1970

A época das chuvas estava a terminar e, apesar das bolanhas que a estrada Buba-Aldeia Formosa atravessava ainda apresentarem um difícil acesso, recomeçaram as Colunas de reabastecimento das NT, estacionadas no Sector, terminando assim o período de isolamento a que sempre ficavam sujeitas, nesta altura do ano.

O inimigo começou a fazer sentir as suas infiltrações no Sector, sendo detectada a sua presença ao longo do corredor de Missirá e a Oeste de Aldeia Formosa, junto a Chicambioló e perto do rio Balana, onde foram ouvidos rebentamentos dos seus morteiros a bater a nossa Zona.

A 12 e 13 deste mês, realizou-se a Operação "Novo Rumo", já descrita no blogue, no poste P4798, tendo as NT instaladas no Sector, realizado reconhecimentos a Sul e a Norte do corredor de Missirá.

Em 15OUT1970, a CCAÇ 2614, estacionada em Nhala, teve um contacto directo com um Grupo armado do IN, a Norte de Uane, tendo o PAIGC sofrido diversos feridos (não confirmados) e retirado em direcção ao Corubal, perseguido pelas NT.

Neste período não se registaram ataques aos aquartelamentos do Sector, resumindo-se as acções armadas a áreas fora do arame farpado.

Em Outubro, conforme o plano de acção delineado pelo Comando de Aldeia Formosa, foi reiniciado o auxilio às populações; assistência sanitária, económica e educativa.

NOVEMBRO de 1970

O PAIGC intensificou a sua acção no Sector, implantando minas e emboscando as NT, nos habituais itinerários de patrulhamento e na estrada Buba - Aldeia Formosa, quando das colunas de abastecimento, o que levou as nossas tropas aquarteladas no Sector a redobrar as suas actividades defensivas e ofensivas.

O Comando do BCAÇ 2892, face ao crescimento da hostilidade inimiga alterou o Plano Operacional “Galgos Ligeiros”, instalando a CART 2521 na Chamarra, com a seguinte missão:
  • 1) Assegurar em permanência a defesa do aquartelamento.
  • 2) Assegurar o controlo da Zona de Ganiã e de Jael com:
  • a) Patrulhamentos diurnos;
  • b) Emboscadas diurnas e nocturnas;
  • c) Implantar minas e armadilhas nos vários trilhos utilizados pelo IN;
  • d) Assegurar com um Grupo de Combate diário, permanente em Aldeia Formosa a segurança da mesma.
A CCAÇ 2615, reforçou com um Grupo de Combate o aquartelamento de Nhala e, conjuntamente com a CCAÇ. 2614, efectuou as seguintes missões:

  • 1) Assegurar a defesa do aquartelamento.2) Assegurar o controlo da sua ZA a Norte de UANE, através de:
  • a) Patrulhamentos diurnos;
  • b) Emboscadas diurnas e nocturnas;
  • c) Implantar minas e armadilhas nos vários trilhos utilizados do IN.
  • 2) Assegurar a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa, entre Nhala e Uane.

A CART 2519, continuou garantir a Sul de Uane a contra-penetração, derivando para Sari Dibane e Iero Saldé, tentando deter o IN proveniente de Quinara e Injassane, com destino a Unal através do corredor de Missirá.

A CCAÇ 2616 continuou em Buba assegurando a defesa do aquartelamento e a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa, entre Buba e Nhala, através de.
  • 1) Patrulhamentos diários da sua ZA.
  • 2) Execução de emboscadas, dia e noite, na sua ZA.3) Implantação de minas em novos trilhos do IN.

A segurança do Rio Grande de Buba e das suas margens, ficaram a cargo do destacamento de Fuzileiros estacionados em Buba.

Em 09NOV1970, as NT, nomeadamente a CCAÇ 2614 (a Norte), e a CART 2519 (a Sul), numa acção conjunta no corredor de Missirá, interceptaram um Grupo numeroso do PAIGC, que depois de accionarem uma mina A/P em Xitole 4,09-87 e perante a abertura de fogo das NT fugiram para Sul.

Perseguidos pelas forças das nossas referidas Companhias, sofrerem várias baixas confirmadas pelos inúmeros rastos de sangue espalhados no terreno e pelo diverso material que abandonaram no solo.

Neste período não foram efectuados ataques nem flagelações aos nossos aquartelamentos de Sector.

Registe-se também neste mês a construção do Heliporto, no aquartelamento de Mampatá.

DEZEMBRO de 1970

Notou-se alguma movimentação do inimigo na Zona Oeste de Aldeia Formosa, tendo o mesmo flagelado à distância a Tabanca de Paté Embaló, levando as nossas tropas a reforçar este posto avançado de Aldeia Formosa, com um Grupo de Combate da CART 2521.

A 09DEZ1970, foram referenciados rebentamentos de explosivos e tiros de ajustamento de armas pesadas na Zona do rio Contaioba, onde as NT em patrulhamento encontraram vestígios dos mesmos, bem como sinais de concentração de Grupos armados do PAIGC.

O Comando do BCAÇ 2892, face ao crescente aumento de efectivos do IN, nesta área, planeou a "Operação Remoinho", que teve por missão fazer uma batida de reconhecimento na área compreendida entre Sare Ali e Sare Amadi.

Para o efeito foi constituída uma força com:
  • 2 GR. COMB. da CART 2521 - Aldeia Formosa
  • 1 GR. COMB. da CCAÇ 2701 - Saltinho
  • 1 Secção do Pel. Milicias
  • 1 Secção do Pel. Caç. Nat. 69 - Paté Embaló
A operação teve o seu início a partir do aquartelamento do Saltinho, fazendo progressão apeada em direcção a Sare Ali, onde emboscou e, de seguida, fez uma batida à Zona, onde não foi encontrado rasto do IN.

Foram dadas ordens às NT para seguirem para Sare Amadi, onde foram encontrados vastos rastos de presença inimiga, com abertura de novos trilhos em direcção a Iero Aine.

Todos estes trilhos de infiltração do PAIGC, foram armadilhados e minados. Não se tendo avistado qualquer presença física do IN, na área da Operação, a mesma foi dada como extinta e as NT regressaram aos respectivos aquartelamentos.

Em 24DEZ1970, o PAIGC, pelas 22h00, atacou com grande intensidade a Tabanca de Paté Embaló, com Morteiros de 82 mm, RPG7 e armas ligeiras, durante 15 minutos, tendo chegado perto do aldeamento. A pronta resposta das NT fez o inimigo retirar, perseguido pelo fogo dos obuses de 14 cm de Aldeia Formosa e, pelo envolvimento das NF, que, nesta acção, tiveram 2 feridos no Pel. Caç. Nat. 69.

A Sul e a Leste do Sector, actuavam as Companhias CART 2519, CCAÇ 2614 e CCAÇ 2615, que se dividiam por Nhala, Buba e Aldeia Formosa.

Estas Forças tinham como missão a contra-penetração do corredor de Missirá, e, entre si, desdobravam-se em esforço para patrulhar e emboscar a Sul e a Norte de Uane, como também tinham a seu cargo a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa.

O PAIGC tentou a todo custo fugir às emboscadas montadas pelas NT, que eram permanentes no corredor, abrindo novos trilhos entre Colibuia e Ieroiel, mas ia cair sistematicamente nas nossas armadilhas implantadas no terreno, o que lhes causava baixas consideráveis.

Em 23DEZ1970, um Grupo inimigo estimado em 40 elementos atacou Mampatá, pelas 14h45, utilizando morteiros de 82mm a partir de Xitole 4H7-41. Foram referenciadas 6 posições de morteiro 82 mm, com 30 rebentamentos todos caídos fora do nosso perímetro do aquartelamento. As NT responderam com um envolvimento em perseguição do IN, que fugiu desorganizado em direcção ao Sul, vindo a cair nas nossas armadilhas implementadas no terreno.

Na ZA de Buba, continuava tudo calmo não havendo sinais do IN, apesar das movimentações das NT no terreno.

Neste período como era habitual o COMCHEFE, visitou os aquartelamentos do Sector desejando Boas Festas às NT.

Legendas das fotografias:

1 - O nosso 1º Grupo de Combate
2 - O F. Costa - Escriturário de Mampatá
3 - Operação Novo Rumo (F. Costa)
4 - Atolamento na picada
5 - Evacuação de um ferido em Halouette III
6 - Espoletas de minas à vista na picada
7 - Deslocação do pessoal do 1.º Grupo de Combate
8 - Aspecto da tabanca de Mampatá

NOTA FINAL: Assim terminou o ano de 1970, no Sector de Buba – Aldeia Formosa, ficando cada vez mais perto o nosso regresso à Metrópole.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. poste sobre o 1º Semestre em:

Vd. último poste da série do Autor em:

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5476: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (31): Ataque `a Chamarra nas vésperas de Natal (Mário G R Pinto)

Guiné 63/74 - P5529: O segredo de... (10): António Carvalho (ex-Fur Mil Enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74): Os tabefes dados ao Bacari

1. Mensagem do António Carvalho, ex-Fur Mil Enf, CART 6250/72, Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74 (*)

Caro Luís Graça

Desde há algum tempo tenho vindo a pensar que nem sempre éramos correctos no nosso relacionamento com os civis e que essa faceta raramente ou nunca tem sido aqui objecto de qualquer relato. Parecendo-me que esta perspectiva da nossa (con)vivência com a população também faz falta à verdadeira história da guerra do ultramar ou colonial,  eis-me aqui a falar de mim, falando dos meus pecados (**):

Em Mampatá havia, em 1972, uma escola construída pelos “MORCEGOS”.  Logo no início da comissão, recebemos ordem de Bissau para a construção de outra. Feita a escola, vieram mesas e cadeiras novas, de Bissau. Aquilo encheu-me de satisfação e ajudava a pensar na bondade da nossa presença e a acreditar numa política de desenvolvimento e promoção dos guineenses.

Sucedeu que, num determinado dia, desapareceu da escola nova, uma cadeira e uma mesa. Grande chatice!... mobiliário instalado e logo desaparece um conjunto de mesa e cadeira. Há que saber quem foi o indivíduo, certamente contrário à política spinolista. Seria isso ou antes uma atitude própria de um rapazinho que não tinha, na sua própria casa, um tal luxo?

Identificado o Bacari, resolvo eu, num excesso de zelo, dar-lhe uns tabefes. O Bacari defendeu-se e também me acertou com alguma sapatada. Esta sua legítima reacção resultou no envolvimento de outro camarada que, intervindo a meu favor, sanou ali o problema.

Pergunto: tratou-se de uma atitude racista? Julgo que não pois, passados quinze anos, aqui na minha freguesia, corri sobre dois rapazolas que se entretinham a arremessar uns arbustos para dentro da escola…Sucede que eles fugiram e…ficou por ali. Hoje ambos são meus amigos.

Quanto ao Bacari, estou certo que, esteja onde estiver, me perdoará . De facto,  não só não me competia fazer justiça como também aquela não seria a melhor forma de resolver o problema.

Caro Luís, no mínimo dará coragem a outros para escreverem sobre este lado, se achares algum interesse, publica, caso contrário, lixo com o escrito.

Um abração para ti , teus ajudantes e todos os tabanqueiros.
Carvalho de Mampatá
_____________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3200: Tabanca Grande (86): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)
 
(**) Vd. último poste da série: 21 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira)

Guiné 63/74 – P5528: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (26): O “regresso” do Soldado Manuel



1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66), enviou-nos mais uma das suas histórias (a 26ª), com data de 20 de Dezembro de 2009:


Camaradas,

O autor desta história é desconhecido e o meu "mérito" terá sido encontrá-la num jornal da minha região, jornal esse que foi publicado já lá vão 45 anos.

O texto - posso dizê-lo porque não é meu - é muito bem escrito.

UM EPISÓDIO DE GUERRA NA GUINÉ PORTUGUESA
(O “regresso” do Soldado Manuel)

Na parede de adobe, mal caiada, e onde esverdeadas manchas de humidade alastravam, o calendário (Ano de 1963) marcava uma data: 24 de Dezembro.

Com a janela aberta, por onde apenas entrava, na abafada, sufocante noite tropical, uma suspeita de frescura, o jovem oficial miliciano, à luz de uma vela, escrevia: «… Minha Querida Mãe, são 21 horas e 40…

À luz de uma vela, porque a chama do petromax é alvo demasiado visível para qualquer atirador especial terrorista, alcandorado, ao longe, no cimo de alguma árvore. Mas ouve-se um estampido. Podia bem ser a rolha de uma garrafa de champanhe a saltar…

Ao estampido segue-se, porém o assobio quase imperceptível de uma bala que vai cravar-se na húmida parede de adobe, coisa de um metro acima da cabeça do oficial. Este apaga logo a vela. Depois, às apalpadelas, no escuro, procura o capacete e a pistola.

Quando finalmente sai já o duelo – a tiros de espingarda e rajadas de metralhadora - está a travar-se entre os terroristas (ocultos na floresta) e os seus soldados abrigados por detrás da muralha – só aparentemente frágil – de velhos bidões de gasolina cheios de areia. Entre uns e outros a cerca de arame farpado.

Está isolada a pequena força do destacamento de Caçadores.

O posto mais próximo é a muitos quilómetros de distância. Antes que amanheça, nenhum auxílio podem esperar estes homens. Mas será que os terroristas se aprestam para um ataque frontal? Horas iguais de uma noite abafada e húmida.

Aos soldados e ao oficial também, o que sobretudo os irrita é que aquele inoportuno tiroteio aconteça em noite de Natal, já com a mesa posta para a consoada.

E havia broas, uma galinha assada, algumas garrafas de bom vinho.

A noite, entretanto, povoa-se de clarões – as armas de fogo que disparam incessantemente, assinalando cada segundo com um tiro. E as horas passam.

Mas o jovem oficial nem tempo tem para ver as horas no pequeno mostrador luminoso do seu relógio de pulso. E nem sequer pensa no perigo – ali entrincheirado e tendo pela frente um inimigo bem armado, que a palmos conhece o terreno e vê de noite, como o jaguar.

Agora só pensa naquela carta que teve de interromper: «… são 21 horas e 40…».
Mas quando é que isso foi?

Era noite de Natal. Ele escreveu à luz discreta de uma vela de estearina, algures no mundo , nesse mundo onde não há clarões de armas de fogo, nem assobios de balas, ardiam círios nos altares, centenas de círios, milhares de círios, que não era preciso apagar à pressa no princípio de uma carta…

E agora? Sim. A meia-noite deve estar próxima. Talvez o padre, algures, já esteja a encaminhar-se para o altar. Mas o jovem oficial não o sabe de certeza – e não pode ter um olhar para o mostrador luminoso do seu relógio de pulso. A pistola-metralhadora palpita-lhe nas mãos como se fosse dotada de vida própria e chispas de fogo, desdobradas em leque, correm, segundo a segundo, em direcção à negra cortina de arvoredo.

No mundo em que não há guerra já decerto agora o sacerdote acabou de celebrar a Missa do Galo.

Aqui, o fogo começa, enfim, a esmorecer.

Naturalmente, os terroristas principiam a retirar, para que os aviões ao amanhecer, se viessem bombardear a floresta, já não os encontrem…

Uma a uma, calam-se as armas automáticas do inimigo. Uma a uma, a intervalos certos, como se houvesse, algures no mato, a batuta de um maestro.

Mas será de facto a retirada? Não será antes o silêncio de mau agoiro que sempre antecede a gritaria de um assalto frontal?

Não. É efectivamente a retirada. E devagar, como se lhe custasse a acordar de um pesadelo, o jovem oficial recolhe ao seu quarto, risca um fósforo, acende a vela, atira para um canto o capacete, que está a queimar-lhe a testa, e suado, exausto, com os nervos num feixe, senta-se, de novo, à mesa para escrever: «… pois agora, minha querida mãe, são 3 horas e 20.Eu e os meus soldados tivemos uma noite de Natal muito divertida .Nem imagina… As broas que nos mandou souberam a pouco. E das garrafas mandadas pelo pai diga-lhe que não ficou nem uma gota».


21 horas e 40. 3 horas e 20.

Menos de seis horas na vida de um homem. Mas deitado numa padiola, com uma bala na cabeça, o Manuel, o seu impedido, é um corpo que rapidamente arrefece, como no verso de Fernando Pessoa.
_________

Agora, no hotel, em Bissau, sentado ao meu lado, almoça. Está no porto o barco que o vai levar de regresso a Lisboa. Trouxe este barco 800 homens. Vai partir com outros tantos, aproximadamente. Os que chegam passam, em camiões, a cantar.

Também cantam os que partem. Entretanto, o jovem oficial diz-me, com simplicidade:

- À minha mãe é que nunca hei-de contar o que foi aquela noite…

Mas logo acrescentando:

- «Agora uns meses à boa vida e depois a África outra vez, como empregado em qualquer empresa de Angola ou de Moçambique: este veneno de África entrou-me para sempre no sangue».

__________

Artigo não assinado. Publicado em «O ALCOA» em 8 de Fevereiro de 1964 (Ano XVII-Nº.876)


A partir daqui é comigo.

O subtítulo «O “regresso” do Soldado Manuel» é da minha responsabilidade.

“Regresso” no sentido de pesquisa e homenagem à memória deste militar português que terá morrido na noite de Natal do longínquo ano de 1963.

Desde há cerca de 2 anos que tento descobrir dois mistérios que resultam deste artigo de O ALCOA”:

1) Quem é o Alferes Miliciano?

Só pode ser da região de Alcobaça. Regressou à Metrópole num navio que deixou Bissau em Janeiro de 1964.Há um navio que saiu de Bissau em 17 de Janeiro de 1964.

Já localizei as Companhias e Pelotão de Morteiros e AAA que regressaram nessa altura. Esses militares estiveram cerca de dois anos na Guiné onde a guerrilha começa a ter importância no terreno a partir dos primeiros meses de 1963.
(C.Caç. 600, C.Caç. 512, C.Caç. 506, C.Caç. 513, C.Ca. 356, C. Caç. 599.)

Para se ser Alferes Miliciano nesse tempo era preciso ter habilitações literárias no mínimo equivalentes ao 3º. Ciclo dos Liceus (antigo 7º. Ano).

Pesquisei no arquivo da C. M. de Alcobaça os registos de mancebos respeitantes aos anos de 1958, 1959, 1960 e 1961.

Encontrei vários nomes, consegui alguns contactos pessoais mas... nada.

Ou, por outro lado, é o narrador que é da região de Alcobaça e o Alferes Miliciano é de outra região qualquer!?

Passaram mais de 40 anos e posso andar à procura de uma pessoa que já não esteja neste mundo.

2) Quem é o militar que morreu na véspera de Natal de 1963?
Nos registos oficiais do E.M.E. só há um militar das milícias locais que morreu por acidente em 24 de Dezembro de 1963 – JARGA SEIDI, soldado-atirador da CCS/Bat. Baç. 508, em Contubel.

Com nome de Manuel há um registo em 28 de Dezembro de 1963:



MANUEL RAMALHO CAPELAS
1º.CABO-ATIRADOR
CCAV 567
BINAR
DATA DE FALECIMENTO – 28 DE DEZEMBRO DE 1963
FERIDO EM COMBATE
Mortos em Campanha – Guiné – livro 1, pgs.42


Não é impossível um engano nos registos mas não é nada vulgar…

Há outras “incoerências” que não encaixam na história: Binar não é um posto fronteiriço e um primeiro-cabo não era habitual ser “impedido” de um Alferes. Por outro lado a CCav 567 só acabou a sua comissão em meados de 1965!

Resumindo e concluindo:

Passo a minha angústia e o meu mistério à nossa Tabanca Grande.

Alguém alguma vez ouviu alguma coisa deste ataque a uma pequena força de um destacamento de Caçadores na noite de Natal de 1963?

«…Menos de seis horas na vida de um homem. Mas deitado numa padiola, com uma bala na cabeça, o Manuel, o seu impedido, é um corpo que rapidamente arrefece, como no verso de Fernando Pessoa.»

«…Malhas que o Império tece

(O Manuel)

Jaz morto e apodrece…».
___________

A minha intenção ao evocar o “Soldado Desconhecido” desta história – o Manuel – é acima tudo de homenagem e de respeito.

Se não houver respeito, melhor ainda, se não houver grandeza de alma e memória Portugal não merece os que morreram em seu nome.
Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5527: Votos de feliz Natal 2009 e Bom Ano Novo 2010 (18): Patrício Ribeiro, pai dos tugas em Bissau... (Luís Graça)



1. Mensagem do Patrício Ribeiro,  o "pai dos tugas da Guiné", e nosso mui estimado tabanqueiro:

 Assunto - As árvores no Natal...


As cabaceiras com os seus frutos, dos quais se fazem uns sumos muito apreciados na Guiné.

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda

Av. Domingos Ramos 43D
C.P. 489 - Bissau ,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645,
Guiné Bissau

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Lisboa
http://www.imparbissau.com/
«mailto:«impar_bissau@hotma

2. Comentário de L.G.:

Patrício, deixa-me desejar-te, a ti, ao teu filho e à tua esposa, os melhores votos desta quadra festiva... Que o ano novo que aí vem (NOVO, será mesmo ?), seja o melhor possível, para ti, família, negócios, guinéus e Guiné-Bissau... Que seja bom para todos nós, cidadãos do mundo!

Aproveito a oportunidade, Patrício, para te agradecer pessoalmente (que me permitam, os meus amigos e camaradas da Guiné, o uso e abuso  deste priviégio...) a forma amiga, paternal, cúmplice, com que recebeste, em Bissau, o Dr. João Graça, meu filho... Sei que foste com ele, pelo menos duas vezes a um dos bares da Bissau Velha, onde ele tocou...Não há dinheiro que pague estes pequenos grandes gestos que distinguem os seres superiores...Creio que o João reconheceu isso mesmo, ao tratar-te, à despedida, no aeroporto por Pai Patrício. Quando cá voltares (sei que vais à faca, um dias destes...), temos que nos juntar á volta da nossa mesa... Do Porto com um chicoração, Luís Graça

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5526: Histórias de José Marques Ferreira (13): O Regedor do território



1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, que foi Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré - 1963/65 -, enviou-nos com data de 23 de Dezembro de 2009, a seguinte mensagem:

A todos os camaradas desta tertúlia;

Junto um ficheiro com uma das minhas habituais estórias guineenses.

Quero aproveitar para desejar Boas Festas e um melhor Ano Novo de 2010, a todos os tertulianos desta Grande Tabanca.

E que o Natal se prolongue durante todo o ano e não só nestas alturas...

Sobre esta história, não tenho qualquer fotografia. Mas conheci o homem que nela se refere. Nada sei dele, após a independência. A foto que junto, foi obtida na placa do alpendre do aquartelamento, onde o homem aponta na direcção em que se situava a fronteira com o Senegal.

Estávamos em Ingoré.

Para terminar, falta desejar mais uma coisa: Muita Saúde para todos...porque, pelo que eu tenho "visto" por cá, nem todos andam no seu melhor nesta área...



O Regedor do território

No dia 5 do mês passado [Abril de 1964], toda a nossa Companhia se sentia satisfeita, pois tratava-se da data de imposição de JOAQUIM JANDI como Regedor do território de CAN JANDIM.

Por demais estimado por toda a tropa, seja a nossa com base em Ingoré, ou dos nossos camaradas do sector vizinho – Felupe, com base em S. Domingos. Joaquim Jandi, régulo de Can Jandim, alferes de 2ª linha; fidelíssimo, simpático e colaborador incansável e imprescindível – teve uma herança de fidelidade, honra e brio patriótico, pois já seu pai se contava como um dos mais dedicados cidadãos Guineenses.

À morte do pai, Joaquim, um dos vários filhos do velho chefe – fora escolhido pelo espírito arguto e a lucidez que se respira na morte; impregnada de uma quase iluminação divina!... Os outros irmãos aceitaram a escolha! São assim os Cassangas – aceitam o que se lhes pede e obedecem a quem têm por mais dotador – que o diga a frase corrente: «Primeiro Deus e depois branco – mais só Deus».

Joaquim tem no seu curriculum de fidelidade e fibra que não torce pormenores vários que o guindaram sem sombra de dúvida a Alferes de 2ª linha – que o diga o ataque a Can Jandim, quando o chefe dos bandidos que pretendia atacar a sua tabanca, dizia: “Vem Joaquim, vem, nós queremos falar contigo…”

Mas Joaquim com a sua fiel caçadeira ao lado, entrincheirado por trás dos adobes da sua varanda com peças de abrigo, respondeu:

- Não, vem tu. Eu estou em minha casa. Estou pronto a receber-te…

A esta argumentação inteligente ripostou o grupo assaltante com uma saraivada de zagalotes – de que ainda hoje há sinais na parede.

Joaquim e dois irmãos defenderam-se com brio, galhardia até aos limites dos seus escassos cartuchos de caçadeira. Joaquim fogueava o clarão que partia incessantemente por debaixo do frondoso cajueiro nas traseiras da casa ou outro que aparecesse mais ousadamente. Viu-os gemer, arrastar os feridos e mortos e destes alguns lá ficaram para banquete dos jagudis.

Assim, deslocámo-nos a Can Jandim satisfeitos do novo cargo que ele era empossado; até porque, quero ainda referir – que tem mais – Comandante do corpo de milícias de Can Jandim – cujo efectivo treinado, disciplinado ao chefe, não só são óptimos batedores de mato, como entre S. Domingos e Sedengal foram outros dos baluartes de defensiva fronteiriça – e quero frisar que com tanta eficiência – como nós nos nossos destacamentos o faríamos…

Que o diga a defensiva, abrigos, etc. Tudo obra do espírito espevitado de Joaquim – reforçada pela compreensão e boa vontade do Comandante de Ingoré na defensiva exterior.

Parece que neste dia 5 de Abril tudo se escoava para Can Jandim. A administração deu passaporte de Ingoré, a Companhia de Ingoré contribuiu com outro tanto esforço e ainda mais em novas idas a Can Jandim – Sedengal e vice-versa – já que todos pediam “passajo, passajo – Can Jandim”. De S. Domingos veio o Administrador e o Comandante da Companhia lá estacionada; e daqui muito mais gente veio…

Tantânos, calandis, marimbas, apitos, cantares, tudo se confundia numa azáfama barulhenta, festiva, com todo o ritmo e feitiço negro. O momento mais palpitante chegou. Joaquim – todo aprumado, vestido no seu fato branco de gala, cinturão reluzente – escrevia em bom português o seu nome, depois de o Administrador ter dito o significado do acto e despacho de Sua Ex.ª – O Governador – do novo cargo a que Joaquim era elevado.

Todos os chefes de tabanca, e eles eram tantos, assinalaram com uma impressão digital à sua pessoa – que o escrivão da Administração depois cifrava no nome.

Todos os oficiais, civis brancos, etc. serviram também de testemunhas do acto. Malan – régulo de Ingorézinho – não deixou de comparecer com a sua inseparável «Mauser» - e naquela hora – abraçou efusivamente o seu colega. Qual deles o mais dedicado, o mais fiel!... Falaremos oportunamente do Malan…. e do seu braço direito – o filho e herdeiro do regulado – Sambazinho. Tudo terminou e Joaquim era efusivamente felicitado.

Nesta altura os tamboreiros e todo o exótico da barafunda instrumental negra entravam mais entusiasticamente na barulheira. Debaixo dos cajueiros um caldeirão astronómico cozinhava o arroz que seria distribuído a todos os visitantes.

A tropa dançou, todos se divertiram e tudo acabou com a distribuição de lembranças, guloseimas, etc., que o nosso Comandante de Companhia teve a feliz ideia de encaixar na mesma festa; e para coroar o termo da mesma, para dar uma ponta de alegria e, vamos lá, até de bom gosto – saiu a eleição da «BAJUDA DE RONCO».

Ao concurso apresentaram-se várias candidatas, as duas primeiras – SALÔ E MOSQUEVA – foram a 1ª e 2ª misses, e receberam lenços e mais roncos das mãos do nosso Comandante, e as restantes, lembranças do mesmo teor dos Alferes, com a retribuição final duma beijocada. E para terminar fica-nos que a “mama firmada” e pujança de SALÔ venceram a feminilidade e o rosto cândido da esguia e delicada MOSQUEVA.

“ÓKEY” = Pseudónimo de Ramiro Fernandes de Figueiredo (Ex-Alf. Mil. Médico da CCaç 462 – Ingoré)
In «Jornal da Caserna» da CCaç. 462, de 9 de Maio de 1964

BAJUDA DE RONCO

Várias são as concorrentes.
Não senhor – não havia pentes…
Só bajudas, virgens e sem tangas
Sim, todas eram giras e honradas
Não usavam cabelos cortados rentes,
Apesar de haverem algumas fanadas.
Vestiam panos e corpetes longos
Todas carregavam roncos
Não fossem elas Cassangas!...
Nalgumas são artífices as tranças e risquinhos
No cabelo há o pauzinho p’ra espevitar os dentes
É o uso destas gentes…
Rodeiam-no bolsinhos de coiro
Talvez um costume moiro,
Para nele meter os mézinhos.
Tudo correu com agrado geral;
Lenços, fios e roncos são as ofertas
É tudo ao abrigo da psico-social.
Fazem-se fotografias mestras
Das bajudas, dos beijos…
Da miss de eleição certa
E também de bofetadas lestas.
SALÔ – “mama firmada”
De aspecto mais ousada
É a primeira indigitada.
Mosqueva, por não ser tão avantajada
Fica para segunda
Apesar de mais franzina e delicada.

Para todos um abraço,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em: