quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5603: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (10): Recolha de fundos para ajudar a reconstrução (Manuel Reis / Luís Graça)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (Guileje, Junho de 1967/Maio de 1968) > Guileje, terra de fé e de coragem... A capelinha construída no tempo do Zé Neto (2º Srgt) e do António Cunha (1º Cabo Radiotelegrafista)... Uma lápida recordava a efeméride:

"A Ti, Deus Único e Senhor,

Te Oferecemos
As Últimas Gotas de Suor,
Que nos Sobraram
da Luta da Tua Palavra Eterna,
Soldados da CART1613.”


 Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento. (2007). Direitos reservados



 Guiné-Bissau > Região de Tombali  >  Guileje > 2005 > Lápide encontrada sob os escombros do antigo aquartelamento, e que pertencia à capelinha. Sobre este famosa lápide disse-nos o saudoso Zé Neto, Cap Ref  (1929-2007):

"A placa da Capela foi feita em cimento forte e não em cobre. A dedicatória é minha e a inscrição em baixo-relevo foi obra do Furriel Miliciano de Transmissões Maurício Mota de Almeida, natural de Fornos de Algodres, mas radicado há muito nos EUA. Este moço veio de propósito a Portugal para estar presente no Almoço/Convívio da CART 1613 que teve lugar em Braga no passado dia 3 de Junho [de 2005]. Aliás é com muito orgulho que acrescento que dos meus 14 'excepcionais Furriéis' compareceram 12 (um falececeu há pouco), portanto só faltou um".

Em 14 de Dezembro de 2005, escrevi o seguinte na I Série do blogue:

O Pepito diz-me que, se tudo correr bem, estamos todos convidados para ir inauguar o seu projecto de ecoturismo e de museologia daqui a um ano. E se lá formos, todos ou alguns de nós, iremos certamente prestar uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de outro, que em Guileje foram um exemplo de fé e de coragem: fé e confiança nos valores por que lutavam; coragem e valor nas acções em que estiveram empenhados...

Convenhamos que o Pepito foi demasiado optimista. O núcleo museológico de Guileje vai ser inaugurado, em cerimónia oficial, no dia 20 de Janeiro de 2010, quatro anos depois. Pelo meio, realizou-se o Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), notável realização de que ainda hoje se fala em Bissau e Cantanhez. O papel no nosso blogue, na preservação, reabilitação e divulgação da memória de Guileje,  acaba de ser reconhecido, formalmente, pela ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, através de diploma, devidamente assinado pela sua presidente, a Sra. Isabel Miranda, e que acaba de nos ser enviado. Esse documentro será aqui oportunamente reproduzido. É um gesto de gratidão e de apreço dos nossos amigos da Guiné-Bissau que  muito nos sensibiliza a todos nós, membros deste blogue, em geral, e aos nossos autores e  editores, em particular.

Muito em especial, quero aqui lembrar o nome do Nuno Rubim, cujo diorama de Guileje é uma peça museológica notável. O Nuno, por razões da sua vida de incansável investigador (mas também de saúde), tem andado arredado das nossas lides bloguísticas. De tempos a tempos telefono-lhe. Para ele e para a Júlia, o meu carinho muito especial. Quero também aqui referir a colaboração que temos dado à Fundação Mário Soares, outro importante parceiro da AD neste projecto.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2005) Direitos reservados


1. Mensagem do Manuel Augusto Reis,  ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, 1972/73) (*)

Caro Luís: Para responder à solicitação da equipa que procede à reconstrução da Capelinha de Guileje, envio o NIB da minha conta bancária, onde os camaradas interessados em colaborar na Reconstrução possam depositar a quantia, que bem entenderem.

Lembro que esta obra é um registo da passagem, de todos nós, por terras da Guiné e, como tal, deve ser acarinhada. É esse, aliás, o sentir da população.

Todos os donativos serão posteriormente publicados no Blogue.

Dada a aproximação da data de inauguração (20 de Janeiro), solicito aos camaradas que queiram colaborar que o façam até ao dia 15 de Janeiro.

Pagamento por multibanco:

NIB: 003503720000835570006

Pagamento por transferência Bancária:

Conta nº: 0372008355700 da Caixa Geral de Depósitos de Ílhavo,
em nome de Manuel Augusto Ferreira  Reis

Um abraço para todos.

Manuel Reis

2. Comentário de L.G.:

O Manuel Reis foi o primeiro - e o único do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (**) -  que respondeu, de pronto, ao meu pedido de abertura de uma conta bancária para recolha de fundos. Passadas as festas natalícias foi tratar do assunto, na Caixa Geral de Depósitos,  na agência de Ílhavo, onde vive (segundo creio, e não em Aveiro, como erradamente indiquei em postes anteriores). 

O Reis foi alertado, na agência,  para duas coisas: (i) o  inconveniente de ser o único titular de uma conta que se destina à recolha de fundos; (ii) a vantagem de haver dois ou mais titulares que, para além do mais, poderiam ser os primeiros depositantes: o montante mínimo, para a abertura deste tipo de conta, são 150€.

Pelo facto de estar geograficamente isolado (da generalidade dos amigos e camaradas do nosso blogue), acabou por recorrer, como solução imediata e prática, à sua conta bancária. O dinheiro recolhido será canalizado oportunamente para a ONG, com sede em Bissau, AD - Acção para o Desenvolvimento, de que é co-fundador e director executivo o Eng Agr  Carlos Schwarz Silva (Pepito), membro da nossa Tabanca Grande desde finais de 2005.

Agradeço ao Manuel Reis a sua disponibilidade, solidariedade e generosidade, ao quebrar um  dos princípios-tabu com que fomos formatados pela cultura castrense: na tropa, voluntário só para comer... 

Aproveito para relembrar, aos mais novos, aos periquitos da Tabanca Grande, a história e o significado da capela de Guileje, erigida no tempo da CART 1613 (do Cap Art Corvalho e do 2º Srgt Zé Neto, 1967/68) (***)... Infelizmente, o Zé Neto (com o posto de Cap Ref) foi o primeiro a deixar-nos... A morte levou-o aos 78 anos... Morreu em 2007. Tinha nascido, em Leiria,  em 1927.

Em homenagem a este nosso querido camarada, a AD - Acção para o Desenvolvimento convidou a viúva, Júlia Neto, a estar presente na cerimónia oficial da inauguração, a 20 do corrente, do Museu de Guileje (incluindo a Capela, que será consagrada e aberta ao culto).  Já falei com ela ao telefone, está muito orgulhosa pelo convite e aceitou representar-nos, a todos nós, blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.... Parte para Bissau no dia 17...

Eu, infelizmente,  por razões de agenda, não poderei estar. Mas, quem sabe, talvez para o ano possamos - uma luzidia delegação do nosso blogue- revisitar a Guiné-Bissau, em viagem (colectiva) de turismo de saudade... É uma ideia que já está no ar e que ficará a amadurecer... A concretizar-se, alguns de nós concerteza irão querer rezar à capelinha de Guileje.

A Júlia Neto., por sua vez, confidenciou-me que gostava de lá voltar com as suas filhas. O Zé Neto foi cremado, por sua vontade expressa. As filhas entendem que as suas cinzas deveriam ser espalhadas em Guileje, a terra da sua paixão, a par de Macau, onde serviu 10 anos. A viúva disse-me que ainda não está preparada, psicologicamente,  para cumprir esse desejo. Vai conhecer Guileje. Para ver as condições locais. Esteve com o marido em Macau, mas não na Guíné. Tomará uma decisão no regresso da visita a Guileje. Achei magnífico e nobre este gesto da família do nosso querido e saudoso Zé Neto.

Os amigos e camaradas da Guiné que quiserem contribuir para esta recolha de fundos,  passarão a figurar na lista do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje, que por sua vez será publicitada no nosso blogue. (LG)
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

12 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4175: Os Bu... rakos em que vivemos (5): Guileje bem se podia considerar um hotel de 5***** (Manuel Reis)

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

(*) Vd. último e primeiro poste da série:

30 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5567: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (9): Reconstrução, quase pronta, da capelinha de Guileje, terra de fé e de coragem, nas palavras do saudoso Zé Neto (CART 1613, 1967/68)

6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

(...) Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCAV 8350, Guileje, 1972/73, professor, Aveiro, membro da nossa Tabanca Grande)



Amigo Luís: É com muito agrado que me disponibilizo para ajudar em tudo o que respeita a Guileje. Aceito fazer parte do 'Grupo dos Amigos da Capela de Guileje' com muito prazer e colaborar no que puder para a melhoria do local. Como em breve teremos uma Biblioteca/ Museu, eu tenho imensos livros de Matemática (7º ao 12º Anos) e posso oferecê-los, caso vejam neles alguma utilidade. De Portugês também posso arranjar, basta para isso mobilizar a minha mulher.


Um abraço. Manuel Reis



(*** ) Vd. poste de 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(5): ecumenismo e festa do fanado

(...) Uma das boas características do meu pessoal era a de que não gostavam de estar parados nos intervalos das operações. Cada um, nas suas profissões ou aptidões, ia bulindo e foi assim que se reconstruíram e melhoraram abrigos, se implantou uma horta que aproveitava a água, depois de decantada, dos chuveiros das praças e se construiu a obra mais emblemática que deixámos em Guileje: a Capela.


Por sugestão do capelão, Padre João Batista Alves de Magalhães, que apenas pediu um coberto para oficiar a missa quando ia a Guileje, pois dava a volta a toda a área da responsabilidade do batalhão, os Furriéis Maurício (Transmissões) e Arclides Mateus (Atirador), ambos com conhecimentos de desenho de construção civil, planearam e dirigiram a construção do pequeno templo.

Vinte ou trinta anos depois muito se falou em ecumenismo e outras ideias do mesmo sentido, mas nas profundezas da Guiné isso já se praticava.

Na pequena festa de inauguração da Capela e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.


As portas da Capela nunca se fecharam. Os europeus iam lá fazer as suas orações e nunca constou que alguém tivesse mexido fosse no que fosse.

Do mesmo modo, quando da celebração do fim do Ramadão, com rituais próprios, mas completamente desconhecidos para a quase totalidade dos rapazes, estes comportaram-se com respeito, a que não faltou uma ponta de curiosidade, é certo.

Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.



Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.


Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: Eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia [, MGF - Mutilação Genital Feminina,] (****) nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti [aqui, no foto à direita].

Fotos: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2005) Direitos reservados

Guiné 63/74 – P5602: Histórias do Eduardo Campos (3): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério, Cadique/Cantanhez (Parte 3): Nós e o PAIGC no Cantanhez

1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a sua 3ª mensagem em 6 de Janeiro de 2010:

C. CAÇ 4540 – 72/74

"SOMOS UM CASO SÉRIO"




PARTE 3
CADIQUE/CANTANHEZ


De novo em Cadique e como “prémio” do meu regresso, fui brindado com a informação do meu furriel, que no dia seguinte iria sair com dois grupos de combate, para fazer protecção à coluna de viaturas que iria abastecer Jemberem.





Por volta das 05h00, saímos do acampamento, picada fora e fomos estacionar sensivelmente a meio da estrada Cadique/Jemberem.

Durante o percurso, sempre atrás do capitão e com o rádio AVP 1, o mais escondido possível, lá ia enviando umas “bocas” para o meu amigo Alferes Pereira, que vinha com o outro grupo.

Tudo corria na perfeição e já com as viaturas de regresso a Cadique, era suposto pelo menos um grupo aproveitar a "boleia” de regresso, enquanto o outro grupo iria inspeccionar um campo de minas existente na zona. Às ordens do capitão, o meu grupo começou a deslocar-se em direcção á estrada, para apanhar as viaturas, e não é que, do outro da lado da estrada, surgiu um outro grupo, pertencente a outra Companhia, a fazer a mesmo?!

Este episódio poderia ter tido consequências de maior, já que aos gritos o meu capitão mandava recuar o outro grupo, ao qual o alferes que o comandava, também aos gritos, dizia que nem pensar.

Depois de uma gritaria louca, o alferes levou a melhor e nós, que estávamos ainda muito perto da orla da mata, toca a deitar no chão e aguardarmos que os mesmos fossem á vidinha deles.

Aquando da nossa chegada ao CANTANHEZ, o PAIGC movimentava-se de facto à vontade, pois foram encontradas escolas, onde recolhi um “troféu” (um livro de 1ª Classe) e um lápis. O livro ofereci-o, nos finais dos anos 70, a um amigo meu.

Foi encontrado também uma arrecadação de munições, um posto sanitário e uma instalação que servia de Registo Civil (o que se comprovou pelos documentos ali encontrados).

O PAIGC fazia entrar os seus efectivos, provenientes das bases da República da Guiné, utilizando o “corredor” de Guileje e outros, e “cambando” o Rio Cacine, para depois se infiltrar nas matas do Cantanhez.

As cambanças entre o Tombali e o Cantanhez eram habitualmente feitas entre Cabobol-Balanta e a Bolanha de Caboxanque. O itinerário normalmente seguido pelas colunas de reabastecimento para este sector ou para o Como, era a seguinte: Salancur Cul – Bolhé Imbumbu – Cruzamento do Iem – Janganc-Laucahndé – Cadique – Cafal Caque – Darsalame.

Com a recuperação da zona do Cantanhez, o PAIGC teve de abandonar apressadamente a área que inicialmente controlava, para se refugiar em outras zonas. Existiam alguns acampamentos clandestinos camuflados sob as matas de Cadique Iala, que foram completamente queimados e destruídos.


O PAIGC abastecia-se de arroz, colhido nas bolanhas da bacia do Cumbijã, que eram bastantes férteis e produziam intensamente, fruto do trabalho das populações locais. ~

 

Não me pareceu que as populações fossem forçados a ceder o arroz ao PAIGC, uma vez que elas estavam a seu lado e, se deixavam de lhes prestarem auxílio alimentar, ou outro, foi porque, sem qualquer demagogia da minha parte, ficavam aprisionadas na área do nosso aquartelamento.

À data do desembarque da CCaç 4540 em Cadique, era a seguinte a situação do IN, segundo informações dos S.I.M.:

  • 1 Bigrupo Comandado por Bacar Mané
  • 1 Bigrupo Comandado por Lourenço Ferreira
  • 1 Secção de Artilharia Ligeira Comandado por Mamadu Djassi
  • 6 Grupos FAL
Cadique Imbitina: Biaia Nan Bagna – Comandante de Grupo, armado de PPSH e os restantes elementos FAL armados de carabinas e espingardas Simonov.

Cadique Iala: Fiere Na Santa e Pana na Curtché - Prováveis comandantes de Grupo.

Chefes Políticos: Sana Na Bué – Presidente do Comité.

Comissário Politico: Via Na Chindi.

Cadique Nalú: Abu Camará – Comandante de Grupo.

Chefe Político: Presidente de Comité.

Geraldo (papel) – Responsável pelos reabastecimentos no Cubucaré.


A missão da nossa Companhia em Cadique iria ser desenvolvida, principalmente em duas actividades: (i) no campo militar: (ii) no domínio sócio-económico.
(i) Campo Militar:
  • Instalar-se na povoação, por forma a assegurar a defesa eficiente da população.
  • Consolidar as suas instalações defensivas, em ordem a melhor poder defender os aglomerados populacionais e reagir a eventual actividade do PAIGC.
  • Assegurar a posse e livre utilização dos portos fluviais, para que nós, os militares, e a população, pudéssemos navegar no Rio Combijã, montagem de peças de Artilharia, criação de Serviços Informação Militares, protecção à construção da estrada Cadique/Jemberem, etc.
(ii) Domínio Socio-Económico:

  • Desenvolver, com intensidade, os trabalhos de Construção do Reordenamento de Cadique, Porto, Heliporto, etc.
  • Assegurar o funcionamento dos seus Postos Escolares Militares, prestar assistência sanitária às populações, etc.
O PAIGC exercia desde o início da guerra uma forte propaganda psicológica sobre as populações, não admirando, portanto, que estas gentes se encontrassem fortemente mentalizadas pela sua ideologia.

Como muitos outros jovens da minha geração, na época, de política pouco sabia, a não ser que grandes potências coloniais como o Reino Unido, a França e a Bélgica foram obrigadas a entregarem o seus impérios e Portugal teimava em resistir nos que então administrava.
Com estes acontecimentos vividos no teatro da guerra, comecei a interrogar-me sobre: “OS PORQUÊS DESTA GUERRA?”




Foto 28 - Why? Porquê? (Poster de autor desconhecido)

Um abraço Amigo,

Eduardo Campos

1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540


Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:




quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5601: Breves notas sobre o BART 645 (Mansoa, 1964/66) (Rogério Cardoso)

Breves notas soltas do BART 645, enviadas por Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645**, Bissorã, 1964/66), em 29 de Dezembro de 2009.


1 - Este Batalhão era composto pelas 3 Companhias operacionais Cart 642, 643 e 644, além da CCS e foi comandada exemplarmente pelo Coronel Antonio Brancamp Sobral. Ele adorava o seu batalhão, sempre admirou os seus ÁGUIAS NEGRAS que actuavam em Bissorã (643) e Mansabá (642 e 644), intercalando com Mansoa onde era a sede do Batalhão.
O primeiro Batalhão a usar crachá foi ideia do Coronel Sobral, de princípio até nos chamavam o Batalhão das tabuletas.

2 - O Capitão Carlos de Sousa Paz, Oficial de Operações, que mais tarde chegou a Super Intendente da PSP, deixou-nos há mais ou menos de 4 anos, foi enorme como ser humano, afável e sempre amigo não olhando a quem. Era sempre bem recebido nas Companhias, mesmo quando se deslocava na sua DO 27 com os célebres mapas, pois já se sabia que dali sairia a chamada "Manga de Ronco para essa noite".

3 - O Capitão Ricardo Silveira da Cart 643 sempre austero e rigoroso, do melhor como operacional, toda a Companhia o reconhecia, quando as saídas a nível de Pelotão poderiam ser complicadas ele era o primeiro a alinhar, quando muitos
só saíam a nivel de Companhia.

4 - Da mesma Cart 643 grandes operacionais como o Alf Mil Lourenço, Alf Mil Paulo (f), Furriéis Graça, Águas, Sousa, Frazão (f) Sarg. Hipólito (f), Sarg. Gonçalves; praças como José Marques (30), Couto, Madeira, José Antonio, Julio, e tantos outros, havia no fim uma equipa operacional digna de realçe, lembrar os voluntários "LORDES", até porque foi a Companhia mais condecorada, e passo a descrever:

Cart 642

- Cap Francisco Barão da Cunha
- 1.º Cabo Felix Ferreira
- 1.º Cabo Moisés Bastos


Cart 643

- Cap. Ricardo Silveira
- Alf Mil Antonio Lourenço
- Fur Mil Hélder Águas
- Fur Mil Rogério Cardoso (a)
- 1.º Cabo José António Coelho
- Soldado Francisco Madeira
- Soldado José Marques (30)

a) Erradamente na Ordem do Exército, este elemento vem dado à Cart 645


Cart 644

- Soldado Mano Santos
- Soldado Mamadu Bari


5 - Na Cart 643 mesmo não sendo operacionais deslocavam-se para Operações frequentemente, o 1.º Cabo Cripto Carlos Cunha e o Fur Mil Rogério Cardoso que da última vez, em 27 de Outubro de 1965, foi atingido por uma granada de fabrico checo RPG-PANCEROVKA - HEAT de 120mm, ver anexo com louvor e condecoração.

6 - Militares mortos

Cart 642 - 7 - (1 local)
Cart 643 - 2 - (a)
Cart 644 - 2
Cart 645 - 3 - (1 local)

a) O Soldado Manuel Bernardes faleceu em Bissorã e não no HM 241, foi vítima de ums descarga eléctrica quando da recuperação de uma insolação contraída numa Operação a Morés.

7 - Um voto de louvor aos pilotos da Força Aérea que acompanharam a Cart 643 nas diversas Operações, pilotos excepcionais e sempre prontos a dar o seu melhor, os T6, DO 27, AUSTER, os Heli ALOUETTE II, não olhando ao perigo nas evacuações.

8 - A Associação de Amizade do Bart 645 foi formada em Fevereiro de 1981, data da primeira reunião em Cascais, depois de 29 anos já percorremos diversos lugares de Norte a Sul.
A nível de Batalhão só de facto começou em 1981, a nível da Cart 642 alguns elementos reuniam-se no Porto, e também de salientar alguns encontros em Lisboa no Café Martinho.

9 - O nosso próximo encontro será em Boleiros-Fátima a 10 de Abril de 2010, atempadamente seguirá a convocatória.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5588: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (3): Relembrando locais e camaradas da CART 643/BART 645

(**) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4594: Fichas de Unidades (3): História do BART 645 (José Martins)

Guiné 63/74 - P5600: Notas de leitura (48): Os Anos da Guerra, de João de Melo (2): Os preparativos e Sinfonia para uma guerra (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Bejas Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2009:

Queridos amigos,
Aqui vai mais um texto relacionado com a recensão do livro “Os Anos da Guerra”(*).
Bom seria que os tertulianos tirassem do saco da memória as recordações que guardaram dessa época de preparativos para a guerra.

Um abraço do
Mário


OS ANOS DA GUERRA:
ALGUNS OLHARES SOBRE A LITERATURA DA GUERRA DA GUINÉ (2)


Beja Santos

Recordatória

“Os Anos da Guerra”, com organização do escritor João de Melo é a primeira grande antologia da literatura da Guerra Colonial, abraçando os três teatros de operações. No significativo prefácio, João de Melo formula um conjunto de interrogações sobre o âmbito de literatura de guerra e se esta é compaginável com a literatura do período colonial e se há mesmo condições para se falar ao mesmo nível da geração literária da Guerra Colonial e dos testemunhos daqueles que combateram ou se prepararam para combater num dos teatros do conflito. João de Melo conclui que o escritor combatente goza de especificidade, havendo que tratar esta manifestação literária como escrita de guerra, são pessoas que vieram mudadas e que irão testemunhar uma vivência incompatível com outras experiências coloniais ou de resistência ideológica ao primado nacionalista. A antologia contempla apresentações histórico-políticas das diferentes etapas da evolução da guerra, separando os autores de acordo com as três frentes de combate. Para efeitos de simplificação, “estes olhares” sobre a literatura da guerra da Guiné iniciam-se com os preparativos para a guerra. Seleccionam-se alguns parágrafos considerados elucidativos de quem andou pelos quartéis em recruta e especialidade e formou uma unidade militar destinada à Guiné. Recomeçamos estes preparativos com Filipe Leandro Martins e a sua obra “O Pé na Paisagem”, de 1981:

Os preparativos
O Couro Selvagem das Botas


“Depois começou a chamada, milhões de nomes a acertar com números, e a fome a roer. Depois firme. Sentido. Os braços esticados, dedos juntos, olhar em frente. Não mexe. O furriel deu um passo em direcção a nós, perna estendida, patada no chão. Deu meia volta, muito teso. Fez a continência a um homem franzino, enquanto a malta bichanava que era um alferes. O alferes fez um gesto mole em resposta, virámo-nos para a direita e lá fomos a caminho do refeitório, a toque de caixa, que comer é importante na tropa”.

“Pedíamos licenças, papéis coloridos preenchidos e entregues na véspera. No dia seguinte, formados e poeirentos das marchas, ao fim da tarde, ao mesmo tempo que nos distribuíam o correio e o apanhávamos do chão, entregavam-nos os passaportes, deixavam-nos vestir a farda de saída... depois de jantar ou mesmo sem jantar, a caserna albergava milhentos homens a esfregar pela quarta vez as botas nesse dia. Os dois pares que tínhamos iam sempre brilhar nas formaturas, nas revistas, nas chamadas. Quando as recebíamos elas vinham tão grosseiras que era difícil amaciar-lhes o pêlo, bebiam frascos de tinta e latas de graxa, aguentavam escovadelas dementes, duras de roer. Alguns havia que passavam o fim-de-semana a dar-lhes pomada e a queimar-lhes o pêlo e mandavam-nas ao sapateiro para sofrerem tratamentos de especialista. Outros passavam o dia à volta dos dois pares, sentados no chão. Eram engraxadores de coração, a graxa entrara-lhes na alma através dos dedos, o prazer que tinham era mirarem-se no espelho das botas, ouvir elogios do alferes na parada”.
Álvaro Guerra é o escritor seguinte. Em 1961 foi mobilizado para a Guiné como oficial miliciano, mas viria a ser evacuado, ferido em combate, em 1963. Foi jornalista e mais tarde embaixador. Os seus livros iniciais assentam na Guerra Colonial, caso de “A Lebre”, “O Disfarce”, “Memória”, “O Capitão Nemo e Eu”, todos publicados antes de 1974, alguns deles traduzidos em francês. Seleccionam-se alguns parágrafos do seu livro “Memória”, de 1961:

Sinfonia para uma Guerra

“O batalhão dos recrutas formou enquadrado debaixo do sol do meio-dia, na parada, um dos lados abertos para a escadaria do edifício do comando, onde estavam os oficiais com os seus galões brilhando nos uniformes de serviço e, nas faces, solenes expressões inspiradores de firmes obediências. Trouxeram o culpado, a quem tinham rapado a cabeça à navalha – chegou entre dois soldados armados – e atrás dele marchava o sargento de serviço e outro soldado que transportava uma cadeira. O grupo parou, no meio do quadrado que era também o meio da parada, e o comandante, que usava monóculo no olho esquerdo, pegou no megafone e, com a bem colocada voz de barítono, pôs o batalhão em sentido, o que foi executado com exemplar perfeição e rigor. Depois o culpado da cabeça rapada se ter posto em pé sobre a cadeira que o soldado colocara no meio do quadrado que era também o meio da parada, o senhor comandante da instrução disse para o bocal do megafone, a voz de barítono ganhando um tom metálico, “Nós somos a tropa de escola, estamos preparados para as mais difíceis missões e para os mais ardorosos combates. A Pátria contempla os nossos feitos gloriosos e nós vivemos sob o signo da coragem e da honra que vós tendes, agora, a sublime oportunidade de servir dedicadamente. O respeito pelos princípios morais que regem os mais altos interesses da nação tem de ser seguido por nós, os filhos privilegiados em cujas mãos a Mãe Pátria colocou o seu Destino Supremo e a intransigente defesa de cada parcela do seu território ameaçado. Não podemos deixar cair na lama o nome do nosso País e do nosso Regimento. Temos de dar o exemplo, temos de ser exemplares. Este homem que vamos punir, que todos nós vamos punir, é um camarada vosso, mas roubou. Se queremos conservar-nos íntegros, teremos de começar a justiça por nós próprios. Não se trata de pôr em causa o valor do roubo praticado mas sim a indignidade e o sacrilégio do acto. Este vosso camarada roubou vinho que o nosso capelão destinara aos Santos Ofícios que celebraremos no campo de batalha, quando formos escolhidos para a luta sagrada contra os infiéis. Ele ficará aqui, no meio da parada, até ao pôr-do-sol, antes de regressar à prisão. Que este exemplo fortaleça a vossa Fé, a vossa dedicação à Pátria e à Bandeira, dedicação que pode ir até ao sacrifício da própria vida. Destruuuuuuçar!”

O culpado não ficou na parada até ao pôr-do-sol. Às quatro da tarde, caiu da cadeira e baixou à enfermaria, sob prisão. Punição exemplar para todos os seus camaradas.”

(Continua)

Gozei quase um mês de férias, quando cheguei da Guiné, em 1970, apresentei-me no início de Outubro, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, fui dar duas recrutas a gente que, na sua maioria, foi combater nas três frentes da guerra. Houve aspectos muito gratificantes, vinha cheio de sangue na guelra, ensinei-lhes o que tinha aprendido e os agradecimentos chegaram quando eles regressaram das respectivas comissões. Em definitivo, descobri, se algumas ilusões houvesse, que nada tinha a ver com aquela corporação, onde os jogos de cartas eram o entretenimento quase exclusivo dos senhores oficiais. Esta fotografia terá sido tirada à volta de Novembro, era malta muito fixe, apetecia conversar em todos os intervalos e recordar-lhes que a instrução era severa mas as compensações passariam por saber precatar os amargos de boca próprios da guerrilha e da contra-guerrilha.

Foto e legenda: © Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5587: Notas de leitura (46): Os Anos da Guerra, de João de Melo (1): Alguns olhares sobre a literatura da guerra da Guiné(Beja Santos)

Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5593: Notas de leitura (47): Casablanca: O Início do Orgulhosamente Sós, de José Duarte de Jesus (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5599: Blogues da Nossa Blogosfera (31): Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves)

Nasceu mais uma Tabanca, nasceu mais um Blogue.

Estamos a falar da Tabanca do Centro e do seu Blogue.





1. Mensagem de hoje, 6 de Janeiro de 2009, do nosso camarada Joaquim Mexia Alves:

Meus caros camarigos

No sentido de aliviar a vossa carga de trabalho, achei por bem, (e sem pedir licença à Casa Mãe, desculpem lá), criar um blogue denominado Tabanca do Centro, http://www.tabancadocentro.blogspot.com/, com o intuito de ali fazer os avisos dos encontros e receber as inscrições e sugestões dos camarigos que ali quiserem aceder.

Irei roubar à Tabanca Grande os comentários feitos ao anúncio do 1.º Encontro da Tabanca do Centro, e ali daremos os esclarecimentos que todos julgarem necessários.

Quer dizer que estou a arranjar lenha para me queimar, em termos de trabalho, claro!

Peço-vos assim a divulgação deste novo espaço, para que, com mais facilidade possa gerir as inscrições para o 1.º Encontro.

De tudo o que ali se fizer irei dando conta à Tabanca Grande.

Abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves


2. Comentário de CV

Caro Joaquim e restantes elementos da Tabanca do Centro, já fui visitar a vossa Página e já lá deixei a minha primeira mensagem, no poste primeiro, início do princípio (ou vice-versa) do vosso Blogue.

Como os teus pedidos, aqui na Tabanca Grande, são ordens, estou a dar o devido e merecido conhecimento da criação oficial da Tabanca do Centro, que poderá ter como uma das funções oficiais, a organização dos Encontros anuais da Tabanca Grande. Desculpa Luís, porventura estou a exorbitar as minhas competências, mas saiu-me esta assim de repente, e eu às vezes sou como os tolos, e digo o que me vem à cabeça.

Um abraço a todos os atabancados do Centro.
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Nota de CV:

Vd. poste de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5594: Convívios (176): 1.º Encontro da Tertúlia do Centro, dia 27 de Janeiro de 2010 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5556: Blogues da Nossa Blogosfera (30): Do caos ao cosmos, extensão de Reflexos e interferências (Regina Gouveia)

Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)

6 de Janeiro, Dia de Reis, é também dia de aniversário do nosso rei dos desportos radicais. Por acaso sei a idade que o nosso camarada Paulo Santiago* tem, mas não digo, porque neste caso não tem a menor importância.

Desta vez, não são os editores que estão a prestar a singela homenagem de aniversário, não senhor; desta feite é um camarada da tertúlia que mandou o trabalho que abaixo se publica.


Eu, pessoalmente, apenas passei a tarde toda até agora (23h35m) a tentar localizar todos os postes que o Paulo com o seu trabalho, originou no nosso Blogue. Desculpa Paulo, mas desisti ao 57.º e após ver letras e algarismos aos saltos. Prometo continuar por estes dias a árdua tarefa a que me propus, porque tu mereces. Tens um manancial de intervenções, a todos os níveis notável. Parabéns.


Para ti e sobre ti, diz assim o Mário Migueis da Silva:

O PAI DO RUGBY EM ÁFRICA

Paulo Santiago, o "Pai do Rugby em África"
Caricatura de: © Mário Migueis da Silva (2009). Direitos reservados


Ao contrário do que legitimamente pensaram, não vamos relatar a visita do Pai do Rugby a África, mas tão só, e com igual grau de legitimidade, dar a conhecer aos menos informados que o Pai do Rugby em África tem nome e é português. Chama-se Santiago - Paulo Santiago - e nasceu para os lados de Águeda, Aguada de Cima, onde ainda reside.

Frequentou a Escola Superior de Agronomia, em Coimbra, que testemunhou os seus primeiros ensaios e conversões. Mas eu, simples narrador da história, só uns anitos mais tarde o conheci, lá para os lados do Saltinho, na Guiné, onde então ondulava pavilhão português.

Estávamos em 1971, talvez meados. Tinha (ele, o alferes Santiago) chegado na véspera da metrópole, onde gozara férias – duvido que merecidas - na santa terrinha de deliciosos comes e bebes. Cruzámo-nos na parada, ele vindo do abrigo do célebre Pelotão de Nativos 53, que comandava com um orgulho maluco, e eu de um lado qualquer, de que me não lembro nem interessa ao caso.
- Que é isso, Santiago?!...

- É uma bola de rugby, que trouxe ontem da metrópole, - respondeu com um largo sorriso, exibindo-me a alva bola com cara de melão..

- De rugby?!...

- Pois… Logo à tarde vamos fazer o primeiro treino no campo de lançamento dos frescos.

Ah, granda maluco!..., pensei eu sem dizer nada, que o homem podia levar a mal.

Só no dia seguinte soube – eu, o narrador – do que se passara na clareira a norte do Saltinho, onde, à falta de colunas de reabastecimento, os Nord Atlas lançavam pára-quedas com frescos e coisas assim.

- Com pernas fracturadas foram só dois, mas há mais estropiados com cabeças rachadas e dentes partidos, entorses e luxações. Ui, meu furriel, a coxear eram mais que muitos!..., - contava-me, tim-tim por tim-tim, o Cruz das Transmissões.

É claro que os senhores comandantes dos pelotões da Companhia ficaram assaz furiosos com o extenso rol de baixas, tal como o pacato Alferes Médico da Unidade – o Dr. Faria, oriundo da cidade-berço, que Deus tenha! – com tantos trabalhos e canseiras, para além da razia verificada nos stocks de álcool, tinturas, massagins, ligaduras e adesivos.

- Isto, assim, não pode ser, meu capitão!, - queixava-se alguém ao Comandante, que, não sendo homem de atitudes precipitadas, ouvia, ouvia, e ia registando tudo mentalmente, como poderia depreender-se dos seus ligeiros e concordantes acenares de cabeça.

- Ó Santiago!, - chamou o Capitão discretamente, à porta da messe, já no final do dia, antes do jantar.

- Sim, meu Capitão?... – respondeu prontamente o nosso herói, com um sorrisinho inocente.

O Capitão Clemente, com o seu olhar verde metalizado a brilhar por sobre aquela pêra de azeviche, varreu o Santiago de cima para baixo e, em seguida, de baixo para cima, enquanto tentava encontrar as palavras adequadas para lhe transmitir a mensagem que se impunha. Finalmente, chupou profundamente a ponta já nos iscos do indispensável SG Ventil e, com aquela voz cavernosa como só a dele, sentenciou por entre uma baforada meia de alívio, meia de desalento:

- Vá-se f....!

Esposende, 06/01/2010
Mário Migueis

Nota: O texto acima não passa de mera ficção, nada tendo os diálogos constantes a ver com a realidade e, muito menos, com a personalidade e brio moral dos intervenientes, antes traduzindo a suposta reacção do autor que, no lugar do Capitão Clemente, teria realmente dado igual sentença, mas sem pontinhos e com todas as letras.

Moita, Bairrada > CDUP > 9 de Junho de 2007 > Partida de râguebi, entre duas equipas de séniores, durante a qual se conheceram os nossos tertulianos Paulo Santiago (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53, 1970/72) e Miguel Vareta (ex-Fur Mil, 38.ª CCmds, 1972/74)



Palavras para quê? É o Paulo Santiago em acção.

Guiné > Saltinho > Outubro de 1971 > Equipa de futebol: de pé, da esquerda para a direita: 1ºcabo Cosme(Pel Caç Nat 53, Fur Mil Bernardes(CCAÇ 2701) Fur Mil Moreira (CCAÇ 2701), Alf Mil Santiago(Pel Caç Nat 53), Alf Mil Julião e Cap Clemente (CCAÇ 2701); de joelhos, Alf Mil Mota (CCAÇ 2701), soldado Bobo(Pel Caç Nat 53), Alf Mil Oliveira, Rocha e Martins Faria (médico), todos da CCAÇ 2701.

Foto do Pel Caç Nat 53, comandada pelo ex-Alf Mil Paulo Santiago
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Notas de CV:

Paulo Santiago foi Alf Mil e Comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72,

(*) Para ver todos os postes do Paulo Santiago, clicar no marcador com o seu nome, inscrito no lado esquerdo da nossa Página.

Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5590: Parabéns a você (62): Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 489/BCAV 490 (Editores)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5597: Em busca de... (107): Procuro Camaradas da 2ª CCav do BCav 8323 (Gregório Manuel Brás Matadinho)

1. O nosso Camarada Gregório Manuel Brás Matadinho, ex-Fur Mil da 2.ª CCav/BCav 8323, 1973/74, enviou-nos um pedido com data de 04 de Janeiro de 2010, apelando a que os seus Camaradas da 2ª CCav do BCav 8323, lhe dêm notícias suas:

APELO
Batalhão Cavalaria 8323
2ª Companhia

Olá camaradas,

Muito procuro sobre factos da 2ª.Companhia (a mal amada), mas pouco ou nada encontro.

É meu desejo voltar a encontrar alguns camaradas, portanto conto convosco.

Para qualquer contacto usem o meu e-mail: magoio@hotmail.com

Um grande abraço,
Fur Mil Matadinho

2. Não temos notícias de nenhum Camarada da 2ª Companhia deste BCav 8323, que era comandado pelo Coronel Jorge Mathias. No entanto, já se apresentaram 2 homens da 1ª Cia. e 2 da 3ª Cia.
Um deles foi o ex-1º Cabo Atirador, Joaquim Vicente da Silva da 3ª Companhia que esteve estacionada em Pirada, 1973/1974.

Também se apresentou o Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1ª Companhia, e que esteve estacionada em Bajocunda, 1973/74, que já nos deu a conhecer que o pessoal da sua Companhia realiza encontros/convívios anuais.
O António Rodrigues, ex-Soldado da 1ª Companhia, Copá, 1973/1974.



E o Fernando Manuel de Oliveira Belo, ex-Soldado Condutor da 3.ª CCAV, Pirada, 1973/74.
3. O nosso Camarada José Martins, num trabalho feito em 2009, sobre Copá, na fronteira com o Senegal (1965-1974) - Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda, resumiu o historial desta Unidade:


BATALHÃO DE CAVALARIA Nº 8323/73 (BCAV 8323/73, 1973/74)

Mobilizado no Regimento de Cavalaria nº 3, em Estremoz, desembarcou em Bissau em 29 de Setembro de 1973 e realizou a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional no Centro de Instrução Militar, em Bolama, de 05 de Outubro a 31 de Outubro de 1973.

Assume a responsabilidade do Sector L6, com sede em Pirada, em 25 de Novembro de 1973, abrangendo os subsectores de BAJOCUNDA, Paúnca e Pirada.

Coordenou e comandou o movimento de retracção do dispositivo as Nossas Tropas, a partir de 21 de Agosto de 1974, com a entrega ao PAIGC dos subsectores de Paunca, em 21 de Agosto de 1974; de BAJOCUNDA, em 22 de Agosto de 1974; e de Pirada em 27 de Agosto de 1974; iniciando o deslocamento para Bissau, regressando à metrópole em 10 de Setembro de 1974.

© José Marcelino Martins
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5596: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (20): Antonio Reis, ex-1º Cabo Enf, Bissau, HM 241, 1966-1968, e escritor (Rui Alexandrino Ferreira / Luís Graça)

1. Um mensagem. perdida na nossa caixa de correio, enviadaa 6 de Março de 2009, pelo nosso amigo e camarada Rui Alexandrino Ferreira (ex-Alf Mil  e ex-Cap Mil Inf, hoje, Cor na reforma, com duas comissões na Guiné: CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67, e  CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72).

Assunto - Vamos falar do António Reis

Meus caros Luis, Carlos e Briote

Mais uma vez tenho de vos felicitar pela resposta que merecia o Sr jornalista da Visão cujo nome nem sei nem quero saber. É de facto lamentavel que se fale do que se não sabe.
Em compensação acabei mesmo agora, só passou o tempo necessário para abrir o computador, de falar telefonicamente com o António Reis que prepara a 3ª edição do seu livro A minha jornada em África a que acrescentou um texto que, começando por afirmar que a guerra nunca acabou para quem nela combateu ou a viveu de verdade, termina com a constatação que quão desgraçados nós fomos.

Texto que,  não só pela actualidade do tema mas também porque me parece oportuno e vrdadeiramente espectacular,  o incentivei a mandar para o nosso blogue, onde certamente terá o seu lugar como todos nós.
Resta-me desejar para nós todos quantos se revêem na nossa tertúlia,  muita saúde e as maiores felicidades, profissionais, pessoais e familiares.

Um grande abraço do
Rui Alexandrino Ferreira

PS - O livro  [do António Reis] é uma forma de contar  a história da guerra da Guiné por quem, no Hospital Militar 241,  recebia todos os dias os combatentes feridos.


2. Comentário de L.G.:

Acabei de falar com o António Reis, ontem à noite, ao telefone. Mora e trabalha em Mafamude. Tem uma oficina de pintura cerâmica, depois de se ter reformado dos telefones de Lisboa e Porto... Com 66 anos, tem uma vida de trabalho e meio século de descontos!

Confirmou-me os dados transmitidos pelo Luís Borrega. Reconheceu-me logo, como "sulista", pelo sotaque. Estivemos mais de meia hora a falar ao telefone. É um homem loquaz e frontal. Disse-me que vai fazer uma 3ª (e última) edição da sua "Jornada de África", antes de "arrumar as botas" (sic)... Disse-lhe que ainda é cedo, que devIa continuar a escrever, que tem jeito e talento para contar histórias... E aproveitei para lhe falar do nosso blogue, que ele já conhecia de nome... (Confessa que não  é homem de blogues, nem usa Internet, não tem e-mail, mas nem por isso é...menos feliz).

Na segunda edição do seu livro, incluiu mais algumas histórias do HM 241. O livro saiu na Editora Ausência, que era (ou ainda é) do filho, Manuel Reis. Essa editora deu lugar à 7 dias 6 noites, também com sede em Vila Nova de Gaia... É a editora do nosso Manuel Bastos, Cacimbados, de que o António Reis é admirador e amigo ("Gostava de ter a garra dele para a escrita", confidencia-me..).  Também é amigo do Rui Alexandrino Ferreira. (Aliás, ele foi ele que me chamou a atenção para o mail que o Rui nos mandara em Março do ano passado, e que reproduzo acima).

O António Reis ficou muito sensibilizado com o  prefácio escrito pelo Cor Cav Mendes Paulo (já falecido) para a 2ª edição (**).  Julgo que é a este texto que se refere o Rui Ferreira, no mail acima.

Confirmou que o Dr. Fernando Garcia é de Lisboa e estava vivo, pelo menos no penúltimo Natal... Nessa ocasião falaram ao telefone. O médico vive em Lisboa, é pessoa para 70 e tal anos. O Reis lembra-se de todos os médicos, e dos seus nomes, que prestaram serviço no HM 24, no seu tempo (1966/68). Ele estava no pior sítio, que era o SO... Falou-me de outras histórias: o alferes que apanhou sete tiros e que se safou; as camisas que se "trocavam" com os mortos...(em troca, estes eram amortalhados com as camisas velhas, gastas e regastas, do pessoal do hospital)... De radiologia, lembra-se do Setúbal...

Sendo de rendição individual, não costuma ir aos convívios do pessoal do HM 241... Ninguém se conhece, são de épocas diferentes... Foi uma vez, não gostou lá muito... Em contrapartida, gosta de ir aos convívios da primeira companhia onde esteve o Alf Mil Rui Ferreira, a CCAÇ 1420 (se bem percebi, é daí que o Rui o conhece).

Enfim, vejo que temos homem! Ficou de me mandar um texto que escreveu para o jovem pároco da terra, a mostrar as diferenças entre os militares, patriotas, do seu tempo, e estes jovens que vão hoje em missões da NATO ou da ONU (Bósnia, Timor, Jugoslávia...).
- As condições são outras, completamente diferentes! Não dá para comparar, arremata ele.

Gostei muito falar com ele e prometi visitá-lo em Mafamude...

Gostei das duas últimas linhas do seu livro de histórias do HM 241: "Exteriorizei  aquilo que me ia na alma. Se alguém me quiser julgar que o faça, mas que esse juiz tenha vivido no mínimo aquilo que eu vivi" (Reis, A.- A minha Joranda em África, 1ª ed. Vila Nova de Gaia: Ed. Ausência. 1999. p. 67).

Convidei-o a juntar-se a nós, aos seus amigos e camaradas da Guiné... Entretanto, acabo de receber um telefonema do filho, Manuel Reis, a perguntar-me pela morada, pelo mail e pelo endereço do blogue. Tem um texto do pai para publicação no nosso blogue, como prometido.

Não conhece o nosso blogue mas, como editor (tem 4 editoras, Ausência, 7 Noites 6 Dias, Babel, e uma outra que não retive), tem um interesse de longa data pela literatura da guerra colonial. Afinal, cresceu a ouvir contar as histórias do pai... Falou-e de dois livros, editados por ele, o do Manuel Bastos (Cacimbados) e do Lobato Lobato (Liberdade ou Evasão, há muito esgotado e agora reeditado). Prometeu enviar-lhe outros livros das suas editores, para recensão crítica e divulgação, gentileza que desde já lhe agradeço.

Fico, pois. a aguardar o texto do António Reis e eventualmente um exemplar da 2ª edição do seu livro (que está praticamente esgotado). E espero tê-lo, ao nosso camarada, junto de nós, como membro de pleno direito da Tabanca Grande.
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 3 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5581: Os nossos médicos (13): Deus no céu e o Dr. Fernando Garcia... no HM 241 (António Reis / Luis Graça)

(**)  Escreve o Luís Borrega, em comentário ao poste anterior: "Conheci-o [, a ele, António Reis,] através do Major Cav João Mendes Paulo (autor do livro Elefante Dumdum), infelizmente já falecido, que era oficial de Operações do meu Batalhão (BCav 2922)".

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5426: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (19): Que emoção ouvir alguém que não se vê há 40 anos (Jorge Teixeira/Portojo)

Guiné 63/74 – P5595: Fichas de Unidade (6): COP 4 - Comando Operacional nº 4 (José Martins)


1. Quando necessitamos de apresentar o historial de alguma “Ficha de uma Unidade”, recorremos aos bons préstimos do nosso Camarada José Martins, ex-Fur Mil de Transmissões da CCaç 5 - Os Gatos Pretos -, Canjadude, 1968 a 1970, que se tem prontificado como eficaz e prestável “municiador” deste tipo de dados.

Agradecendo, desde já, a sua amigável e prestável colaboração, apresentamos a seguir os resultados da sua melhor pesquisa, devidamente adaptada e condensada do COP 4, elaborado em 04 de Janeiro de 2010:

Comando Operacional nº 4

O COP 4 foi constituído em 12 de Dezembro de 1972, formado por elementos requisitados a outras unidades, para criar as condições necessárias à execução dos trabalhos de reordenamentos a estabelecer nas zonas de Caboxanque, Cadique e Cafine assim como desenvolver actividade na região do Cantanhez, em área operacional do Batalhão de Caçadores nº 4510/72 e do Comando Chefe.

Teve como comandantes os Tenente-coronel Paraquedistas Jorge Rendeiro de Araújo e Sá e posteriormente o Major de Infantaria Carlos Graciano de Oliveira Gordalina.

À data da sua constituição, com a sede estabelecida em Cufar, integrou na sua área de acção o subsector de Bedanda e a área do destacamento de Cabedu, que foram transferidas do BCAÇ 4510/72. Foram atribuídas ao COP três companhias do exército, duas de Paraquedistas e dois destacamentos de fuzileiros especiais.

Com a instalação na área destas unidades, foram criados os subsectores de Cadique e Caboxanque em 12 de Dezembro de 1972; reforço de Cafal com dois grupos de combate da 2ª Companhia do BCaç 4610/72 em 23 de Janeiro de 1973; em Chugué e Cabumba em 7 de Abril de 1973; e Jubemrem criado em 20 de Abril de 1973.

Desenvolveu actividade operacional com patrulhamentos, emboscadas, batidas e acções sobre grupos inimigos, alem da protecção aos trabalhos de reordenamento, autodefesa e promoção socioeconómica das populações.

Na sua actividade destacam-se as operações “Gato Espantado”, “Dragão Bravo” e “Cavalo Alado”. Na acção “Tamurú” realizada em 1 de Janeiro de 1973, Na Região de Timbó, foi capturada uma rampa de lançamento de foguetões 122.

Em 2 de Julho de 1973, foi desactivado o Comando Operacional nº 4, passando a assumir a coordenação da área o Batalhão de Caçadores nº 4510/72.

Não tem história da Unidade no Arquivo Histórico Militar.

© José Marcelino Martins

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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: