1. Mensagem de José Belo, com data de 8 do corrente (*):
Aqui vão algumas tentativas de resposta a algumas das perguntas levantadas (**).
Quando alguns Camaradas Militares decidiram "reeducar-me" na Prisão de Custóias, mais para meu bem pessoal do que por outra razão juridicamente válida, (pois não foi provada qualquer implicação no 25 de Novembro de 75 em Conselho Superior de Disciplina do Exército a que fui sujeito cinco anos depois)... era de esquerda!
Era inconveniente! Chegou! A minha carreira militar foi interrompida desde o dia 27 de Novembro de 75 até fins de 1980 em que me mantiveram inactivo cerca de cinco anos com o ordenado completo(!).
Durante este longo período de involuntárias férias pagas (segunda fase reeducativa?), colaborei activamente no Conselho Português para a Paz e Cooperação, viajando por tudo o que mundo era, desde a Índia à Etiópia, do Vietname ao Iémem, e a tudo que era Pais Europeu do Leste e Ocidente. Tive oportunidade de conhecer pessoas, bem interessantes, em locais de "acesso difícil" noutras situações.
Acabei por estabelecer contactos vários na Suécia que se tornou, então, a minha segunda casa. Em fins de 1980 fui chamado de novo ao serviço, sendo colocado no Regimento de Mafra a frequentar um curso de actualização para promoção. (Talvez por já devidamente reeducado?).
Acabei por estabelecer contactos vários na Suécia que se tornou, então, a minha segunda casa. Em fins de 1980 fui chamado de novo ao serviço, sendo colocado no Regimento de Mafra a frequentar um curso de actualização para promoção. (Talvez por já devidamente reeducado?).
Depois de curtas semanas de contactos fraternos com os meus queridos e respeitados superiores, verifiquei ter grandes dificuldades em assimilar algumas das aulas dadas, principalmente por alguns dos camaradas professores regressados há pouco de cursos intensivos nos Estados Unidos.
Recordo como exemplo típico destas minhas limitações atávicas, a dificuldade sentida quando me referenciavam continuamente a fronteira de defesa a Norte do meu querido Portugal como situada no rio Reno, na Alemanha Ocidental, e eu só encontrava na minha carta... o rio Minho como fronteira do Norte português!
Recordo como exemplo típico destas minhas limitações atávicas, a dificuldade sentida quando me referenciavam continuamente a fronteira de defesa a Norte do meu querido Portugal como situada no rio Reno, na Alemanha Ocidental, e eu só encontrava na minha carta... o rio Minho como fronteira do Norte português!
Perante tais incapacidades geográficas resolvi pedir passagem imediata à Reserva e autorização para me ausentar... definitivamente para a Suécia, invocando razões de ordem particular. Ambos os requerimentos foram deferidos em tempo que, conhecendo a Instituição, creio que será recorde, de 48 horas! Voltei de imediato para a Suécia onde me tenho mantido até hoje.
Interessado por Direito Internacional, acabei por ter uma sólida e acelerada carreira profissional que me levou bem mais longe do que seria de esperar (aqui seria melhor não referenciar o facto de ter casado com a filha única do dono da empresa multinacional onde trabalhava !).
A decisão de viver actualmente na Lapónia (a 198 quilómetros a noroeste de Kíruna mais propriamente) tem mais a ver com o facto de termos herdado uma muito boa casa de férias, situada precisamente na área da maior reserva natural sueca, e uma das mais selvagens, bonitas, isoladas, ricas em fauna e pesca. Chama-se Abisko.
A decisão de viver actualmente na Lapónia (a 198 quilómetros a noroeste de Kíruna mais propriamente) tem mais a ver com o facto de termos herdado uma muito boa casa de férias, situada precisamente na área da maior reserva natural sueca, e uma das mais selvagens, bonitas, isoladas, ricas em fauna e pesca. Chama-se Abisko.
Isto em conjunto com uma discreta aproximação de reforma, tanto da minha parte como da minha mulher, que nos veio possibilitar tempos livres para utilizar estes espaços infindos. Daí que, ao contrário do que poderia aparentar, este isolamento é mais que voluntário.
Como não fui, propriamente, um menino de sacristia durante os anos anteriores a Abril de 74 e até finais dos anos setenta, sinto-me muito bem nas distâncias que resolvi tomar em relação a acontecimentos, e coisas, em que participei, ou de que tenho muito bom conhecimento, e que hoje só me fariam vomitar a gargalhar, não fora o grande respeito que sinto por alguns que tudo sacrificaram pelos seus ideais de solidariedade com os mais desfavorecidos.
Na Guiné fui mais um dos muitos que comandaram destacamentos isolados no Sul, junto a Gandembel, que fizeram colunas de abastecimentos de Buba/Aldeia Formosa/Gandembel, e que aprenderam a conhecer-se a si próprios em condições extremas.
Hoje... para Lusitano de Lisboa, educado no Estoril, posso garantir que sou um bom conhecedor de renas, e de tudo relacionado com a criação e pastoreio das mesmas. Quem me diria!
Um grande abraço do José Belo.
2. Mensagem posterior, respondendo às dúvidas sobre o carácter eventualmente (in)publicável do texto anterior:
Caro Amigo e Camarada.
É claro que tudo sobre mim é acessivel a todos os que se possam interessar, tendo sincera consciência de que não serão lá muitos! Os detalhes, menos convenientes para Senhoras, menores, alguns Exmos. Srs. reformados, e camaradas mais sensíveis das nossas Tropas Especiais, estão, por certo, criteriosa e inteligentemente arquivados nas repartições respectivas... a Bem da Nação.
Duas coisas que não referi no meu E-Mail anterior, mas que suscitaram curiosidades de alguns quando agora aí estive na reunião da Tabanca do Centro: a primeira é o porquê de aparecer sempre ao lado do Otelo, em muitas das fotos, livros e reportagens de TV relacionadas com esta personagem... Somos familiares (primos em segundo grau pelo lado da minha mãe), tendo esse facto nos aproximado pessoalmente tanto em 74 como em 75.
Aquando da campanha eleitoral para a Presidência da República, a primeira a seguir a Novembro de 75, fui responsável pela segurança montada em redor do Sr. candidato Otelo, tendo-o acompanhado por tudo o que era Portugal, do Minho ao Algarve, Madeira e Açores... Daí a identificação efectuada por muitos.
Tornei-me depois, já a viver na Suécia, muito crítico das vias escolhidas por alguns companheiros que levaram a um muito infeliz arrastamento(?) deste político para aparentes meios de acção de resultados mais que dúbios, para não lhes chamar de contraproducentes, principalmente na identificação e utilização do nome, e referências, a Abril.
Publiquei, então, alguns artigos menos convenientes (pois creio ter sido o único que se atreveu), a este respeito, no Diário de Lisboa. Um, em 11/7/84, intitulado "As armas e as Mãos: Carta ao Otelo Amigo" (aquando da prisão deste), e outro em Outubro de 1984 intitulado "As FP-25 de Abril... e as miragens". Sei que não foram muito bem recebidos em alguns círculos mais... extremados.
A segunda pergunta que alguns me fizeram foi:
- Porquê Capitão Reformado quando todos os outros nas mesmas condições e situação pertencem hoje à Classe dos Srs. Coronéis Reformados, depois de as suas carreiras militares terem sido reexaminadas devido a consequências políticas de 74/75, com actualizações de postos e reformas (E isto inclui Militares do antes e depois, desde a mais extrema esquerdalhada à mais "patriótica" direitada!).
Pela única razão de, tendo escolhido viver em esplêndido isolamento na Escandinávia, não recebi qualquer informação da existência de tais leis e decretos. Quando finalmente, um bom amigo e camarada militar, se preocupou comigo e me informou, já os prazos legais para tais requerimentos tinham há muito encerrado, tendo recebido por parte das Autoridades burocráticas responsáveis um rotundo... NIET!
De qualquer modo identifico-me totalmente com os termos Capitão de Abril. E, como as PORTAS QUE ABRIL ABRIU... o foram por Capitães... sinto-me bem na denominação!
Um grande abraço do José Belo.
3. De adenda em adenda até à mensagem final, o Zé Belo escreveu ainda no passado dia 8:
Caríssimo Amigo. Podes publicar tudo, ou o que achares por bem. Tenho grande admiração pelo Vosso trabalho... No arame... e sem rede, no que diz respeito a sortear de maneira conveniente o que serve melhor os objectivos do blogue.
Com tantas primas donas de terceira idade (com tudo o que isso acarreta) a enviarem contributos, encontrar um rumo médio é trabalho de... full-time num blogue com as dimensões da Tabanca Grande. Tenho estado ocupado nas últimas horas a enviar uns videos do YOU TUBE, um pouco quentes, para o Amigo Vasco da Gama e para o Miguel Pessoa, que têm francamente sentido de humor.
Na tua próxima visita à Escandinávia, e como por aqui andaste, sabes que a natureza é fantástica, deverás tentar ir até Narvik, porto norueguês bem ao norte, e daí tomar a estrada para a Suécia até Kíruna. A partir dos fins de Maio, até meio de Julho, (O Curtíssimo Verão!), tendo-se a sorte de apanhar Sol e céu azul, é viagem inolvidável para o resto da vida. Bem-vindo!
Um grande abraço do José Belo.
[ Revisão de texto / fixação / título: L.G.]
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 17 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5829: Da Suécia com saudade (19): O privilégio de ter a Tabanca Grande... em comum (José Belo)
(**) Comentário ao poste de 6 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5773: Parabéns a você (77): José Belo, se o calor da nossa amizade chegasse a Kiruna, a tua Lapónia era o Alqueva (Os Editores)
Meu caro José Belo:
Para além das tuas queridas renas, a gente sabe pouco sobre ti, meu luso-lapão...
Quando foste exactamente para a Suécia, e porquê... Por onde andaste, o que fizeste, como sobreviveste, como resististe... Afinal, que crime cometeste para te mandarem para a Lapónia... Como e quando chegaste a Kiruna ?
Sabemos também pouco da tua história de vida no TO da Guiné...
Claro, tens o direito ao sigilo, ao anonimato... Mas já que entreabriste a porta... Sabes como é o portuga, põe logo o pezinho na porta, para que tu não a feches...
Mais importante: quando voltas, este ano, a este jardim à beira-mar plantado ?
Espero que te tenhas divertido, no mínimo, com o nosso texto, atabalhoado, de parabéns...
Luís