quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 – P5799: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (30): Força Carlos



1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66) e enviou-nos uma mensagem (a 30ª), com data de 7 de Fevereiro de 2010:


Camaradas,

Tenho andado numa trabalheira do caraças por cauda do meu blogue. Já ultrapassou as 6.000 páginas visitadas.

Em que sarilho o Magalhães Ribeiro me meteu, ao ensinar-me os primeiros “passos bloguísticos”!

Estou agarrado até aos cabelos. Mas confesso que é um "vício bestial”. Já não passo sem isto.

Vejo com frequência o blogue dele e o nosso. O meu é generalista e está andar...

Quem quiser visitá-lo basta clicar duas vezes no seguinte endereço: http://jeroalcoa.blogspot.com

Posto isto segue mais uma "estória" cá do Jero...


FORÇA CARLOS!


Como é normal na vida militar procurei nos primeiros tempos da Guiné, depois da “poeira” assentar, “filhos da terra”…

De Alcobaça não havia ninguém mas havia um “vizinho”.O Carlos Agostinho Vieira, da Batalha, que era o Cabo quarteleiro.

As suas funções tinham a ver o stock de munições, com o bom funcionamento das armas (conservadas com “massa consistente) e, eventualmente, com mais algumas coisas de que já não me lembro.

O Carlos Vieira era um indivíduo muito alto, pouco falador, que caminhava um tanto curvado e com quem não era fácil manter uma relação cordial. Era “fechado” e vivia fechado no “buraco” onde se guardavam armas e munições.

Cada qual é como cada um e o Carlos desempenhava as suas funções a contento. Era um bom Cabo Quarteleiro, que só dava nas vistas por ser um grande calmeirão. E caminhar curvado. E ser calado “comó caraças”…

Até que um dia, melhor dizendo numa noite, deu nas vistas. E não foi pela melhor das razões…

Numa operação que envolvia dois pelotões que saíam do quartel por volta da meia-noite, no máximo silêncio e com ocultação de luzes, apareceu na altura da saída para o mato com um “petromax” aceso para perguntar ao Capitão Tomé Pinto se era preciso mais alguma coisa.

Foi de imediato repreendido e mandado desaparecer, e quando começou a responder que …tinha pensado …o comandante de Companhia disse-lhe logo que ele não estava ali para pensar mas… para cumprir ordens.


A malta da tropa é cruel e a partir daquela madrugada passou a ser conhecido como o “Massa Bruta”. Está-se mesmo a ver porquê…

Também é verdade que, à distância no tempo, me parece que o Carlos Vieira não se importava por aí além com a alcunha “sacana” que lhe calhou…

Regressámos da Guiné em Maio de 1966 e estive alguns anos sem o ver.


Melhor dizendo em vinte e muitos anos encontrei-o 3 ou 4 vezes nas reuniões anuais da malta da Companhia, que fazíamos todos os anos no primeiro domingo de Maio em Lisboa, com concentração frente à Estátua dos Restauradores.


Fixei-me na zona de Alcobaça onde exerci a minha actividade profissional na SPAL durante trinta e muitos anos.

Depois de casar não houve mais tempo para corridas e o trabalho, a vida sedentária e os dotes da minha mulher para a cozinha levaram-me num curto espaço de tempo a um peso que esteve a 3 quilos dos 3 dígitos.

Com pequenas oscilações mantive-me com 97 kgs, por alguns anos, mas por volta dos 35 anos voltei ao desporto por duas razões: - para emagrecer e… para não passar o resto da vida a comer cozidos e grelhados.

Aliás há muita gente do meu tempo que continua a fazer desporto e sacrifícios nas corridas para poder “dar ao dente”. Enfim … espero não ser considerado traidor por estar a revelar este segredo de grande parte dos veteranos das corridas (e caminheiros).

Dos 35 até cerca dos 50 anos fui praticante diário de “jogging”, também conhecido entre os “malucos das corridas” como alta manutenção.

Foram os tempos das meias maratonas da Nazaré. Corri umas dez -nunca desisti - e fiquei sempre entre os primeiros 3 mil concorrentes.

Fazia os 21 quilómetros do percurso entre 1H45 e 2H00, obviamente com muito sacrifício pois correr durante 21.097 metros “não é pêra doce”…

A última meia-maratona que corri foi tão comprida que, depois dos 17 kms, não me lembrava de nada. Corri essa parte final do percurso em “autêntico transe”. Falei nisso ao meu médico que me disse para ter juízo. «Faça caminhadas e deixe-se de corridas». Foi o veredicto que terminou com a minha carreira de meio-maratonista.

Chegou a altura de passar a espectador e há uns dez anos atrás fui (involuntário) protagonista de um facto invulgar que resolvi partilhar agora.

No entanto há ainda que esclarecer os que nunca andaram por este mundo das meias-maratonas que há corredores e… “corredores”. Os que lutam para os primeiros lugares correm cada Km. em cerca de 3 minutos e os outros – os corredores do pelotão – percorrem cada km. em 5 ou 6 minutos.

Quer isto dizer que com meia hora de corrida há corredores que vão nos 10 kms de percurso e outros – como era o meu caso – que apenas tinham percorrido cerca de 5 kms.

Está claro que, à medida que aumentam os kms, aumentam as distâncias entre os mais rápidos e os outros – os lentos ou, também conhecidos na gíria, como “os coxos”-.

A certa altura da Meia-Maratona da Nazaré – que foi a corrida onde se registou o tal “facto invulgar”- era normal os atletas da frente cruzarem-se com os mais atrasados, dado que o percurso da prova era de ida e volta.

Explicando melhor a partida fazia-se da Nazaré (então com uma volta dentro da vila de cerca de 5 kms) ia-se até Famalicão (onde estava um bidão que assinalava o “retorno”) e voltava-se em direcção à Nazaré, onde estava instalada a meta.

Um dos melhores lugares para apreciar a corrida e o esforço dos corredores era (e é) na Quinta Nova. Nesse local os da frente passavam(passam) com cerca de 16,5 kms percorridos e cruzavam(cruzam) com a rapaziada da cauda do pelotão que levava(leva) então cerca de 9,5 kms de prova ainda a caminho do bidão (de Famalicão).

Nesse ano de 1994 ou 1995 “plantei-me” no cruzamento da Quinta Nova para ver a corrida e para incitar especialmente o Carlos Pereira (que trabalhava comigo na SPAL).

É que nesse ano o Carlos Pereira corria para ficar entre os 10 primeiros, pois “valia” então uma hora e sete minutos na distância.

Avistei o grupo de frente – que englobava uns 10 ou 12 corredores - e… lá vinha ele.

Tentei ganhar maior visibilidade no local onde me encontrava, levantei os braços e gritei: - Força Carlos. Força Carlos!

Julgo que nem me viu nem me ouviu.

O esforço é grande e a concentração de quem corre àquele ritmo é enorme.

Mas na altura dos meus gritos de incitamento ouvi uma voz do outro lado da estrada a gritar para mim: - Eh Oliveira!

Olhei de imediato e reconheci a voz e a pessoa.

Era o Carlos Vieira, da Guiné. Era o “Massa Bruta”.





O meu de grito de “Força Carlos”, tinha encontrado eco (n’outro Carlos), que corria no outro lado da estrada, no pelotão dos “coxos” ainda a caminho do bidão de Famalicão.

Fiquei de boca aberta e tão surpreendido como ele. Ou ainda mais.


Vim depois a caminho da meta. Para cumprimentar o Carlos Pereira (o colega da SPAL), que já tinha chegado e obtido a sua melhor classificação de sempre: - o 3º lugar da classificação geral(com 1h06m59s).

Esperei mais um bom bocado mas não consegui localizar o Carlos Vieira, da Batalha e meu camarada dos tempos da Guiné.

São 3.000 atletas na zona de chegada e muita confusão à mistura...

Não podia deixar de pensar naquela coincidência levada da breca.

Três mil indivíduos a correr, sei lá com quantos “Carlos” lá pelo meio e tinha acontecido aquele coincidência extraordinária numa fracção de segundo.

Gritar por um “Carlos”, que via todos os dias e que nem para mim olhou, e responder-me outro “Carlos”, que já não via há uma série de anos.

Qual o cálculo de probabilidades de isto acontecer!?

Não faço a mínima ideia.

Continuo a pensar que este incitamento para “forças” desencontradas acontecerá uma vez na vida.

Mas que aconteceu… aconteceu!

E a fotografia não é montagem. Foi tirada por mim umas fracções de segundo depois do meu grito de incitamento.

E o Carlos da SPAL que me desculpe mas desta vez o “Força Carlos” é mesmo para o meu ex-camarada da Guiné.

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5798: Agenda cultural (57): Apresentação da História de Portugal Em Sextilhas, dia 26 de Fevereiro em Moreira da Maia (Manuel Maia)

CONVITE




O nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), Convida todos os camaradas e amigos a assistirem ao lançamento oficial da sua "História de Portugal Em Sextilhas".

A cerimónia terá lugar nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Moreira da Maia no próximo dia 26 de Fevereiro (Sexta-feira) pelas 21,30 horas.

Não houve convites formais pelo que toda a gente está convidada a assistir ao evento.

Para quem não conheça o local, o Quartel dos Bombeiros Voluntários de Moreira da Maia fica situado junto à paragem do Metro de Pedras Rubras, linha B (Encarnada) Estádio do Dragão/Póvoa de Varzim.

Escusado será dizer que o nosso poeta Manuel Maia se sentirá honrado com a presença dos seus camaradas e amigos, tal como aconteceu no dia 9 de Dezembro de 2009, aquando do lançamento da primeira edição destinada à tertúlia do nosso Blogue.

Nunca é demais lembrar que o chamado grupo do Cadaval, chefiado pelo camarada Vasco da Gama, no que concerne ao lançamento desta primeira edição, e a Tabanca de Matosinhos no apoio logístico, foram responsáveis por esta obra ter visto a luz do dia*
.

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 9 de Dezembro de 2009 > Apresentação da "História de Portugal Em Sextilhas" à tertúlia > Manuel Maia no uso da palavra.

(Fixação e texto de CV)
__________

(*) Vd. poste de 10 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5441: Agenda cultural (50): Apresentação do livro História de Portugal em Sextilhas, de Manuel Maia, na Tabanca de Matosinhos

Vd. último poste da série de 19 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5676: Agenda cultural (56): Beja Santos e Luís Graça, hoje, às 15h, em Oeiras, em colóquio-debate sobre Fim do Império - Olhares Civis

Guiné 63/74 - P5797: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (11): A recolha de fundos vai continuar... Saldo: 430 € (Manuel Reis / Luís Graça)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > A Capela,  da CART 1613 (1967/68), renasceu das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas. Data da sua inauguração oficial: 20 de Janeiro de 2010. Guileje volta a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança... E espero que possamos lá voltar a rezar um dia... Talvez no próximo ano, por que não ?!

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > Três homens com um ar de felicidade... Ei-los aqui fotografados com um tesouro, a estatueta, em metal, da santa protectora dos Gringos de Guileje, encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje...

Da esquerda para a direita os valorosos representantes da penúltima unidade de quadrícula de Guileje, a CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972): José Carioca, Abílio Delgado e Sérgio Sousa... Entraram para a nossa Tabanca Grande em Maio de 2008 (*)... O Zé Carioca é actor de teatro (amador) e  vive em Cascais, tendo mostrado interesse em projectos de cooperação com a Guiné-Bissau. O Abílio Delgado era, na altura, o mais jovem capitão miliciano no TO da Guiné. Vive na Ericeira. De nenhum deles (e muito menos ainda do Sérgio Sousa) tenho tido notícias... Outro Gringo de Guileje que me vem à cabeça é o Amaro Samúdio,  que conheci em Matosinhos: foi o primeiro Gringo a chegar até nós. Também não tenho sabido dele nos últimos tempos. Foi graças ao Samúdio que os Gringos se Guileje se reuniram pela primeira vez (em 2008). A maior parte do pessoal da companhia era de origem açoriana.

 Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/77) > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos...Na foto pode ler-se ainda a oração em verso: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açorianos".

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas... Associado aos trabalhos de  capela e ao núcleo museológico de Guileje, fica também doravante o nome do Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, quadro da AD, e o grande arqueólogo de Guileje. Peças como esta estatueta da Nossa Senhora  forem encontradas por ele.

Segundo amável informação do Samúdio, o monumento foi contruido pelos Gringos e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de Junho de 1972.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Março de 2006 >  Um elemento da equipa de detecção e  levantamento de minas e outros engenhos explosivos


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Novembro de 2004 > Aspecto da antiga porta de armas do quartel...



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Dezembro de 2005 > Foto de elementos da população local  envolvida na desmatação do antigo aquartelamento e suas imediações


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Novembro de 2005  > Sinalética  usada para identificar as diferentes instalações do antigo aquartelamento




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Janeiro de 2006  > Restos da capela, incluindo a lápide original, mandada fazer pelo Zé Neto...

 Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Restos do oráculo ao Santo Cristo dos Milagres

 Foto: © Xico Allen (2005). Direitos reservados.


1. O Manuel Reis, nosso prezado camarada, professor do ensino secundário, reformado, ex-Alf Mil da CCAV 8350, a última unidade de quadrícula de Guileje  (1972/73), enviou-nos a lista  dos donativos recolhidos até agora, no âmbito da campanha do nosso blogue a favor da reconstrução e manutenção da capela de Guileje. O dinheiro, que tem sido depositado numa conta da Caixa Geral de Depósitos, Agência de Ílhavo, em nome do Manuel Reis, será oportunamente transferido para a AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, a ONG que liderou este projecto.


O dinheiro até recolhido foi de € 430 (quatrocentos e trinta euros), o equivalente a pouco mais do que um euro por cada membro da nossa Tabanca Grande (4 centenas). Mas até aqui as estatísticas (neste caso a média aritmética) são enganadores: esssas contribuições são apenas de 7 camaradas nossos, que passam a figurar na lista do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje... São eles o Amílcar Ventura, o António Graça de Abreu , o Coutinho e Lima, o Hélder de Sousa, o João Seabra e o Luís Graça, que se vêm juntar aos os primeiros registados, Patrício Ribeiro, António Cunha, Manuel Reis e António Camilo (**)

A estes dez temos que juntar, por um questão de elementar justiça,  os dois elementos da AD que de alma e coração levaram este projecto até ao fim, o Pepito e o Domingos Fonseca, também eles membros da nossa Tabanca Grande.  E, naturalmente a Júlia Neto, viúva do Zé Neto, o pai espiritual e material da capela, contruída no tempo da CART 1613 (1967/68) e depois completamente destruída, com a retirada de Guileje em 22 de Maio de 1973... Há sempre o risco de, involuntariamente, esquecer alguém... Fazemos questão de mencionar aqui o nome do Paulo Santiago por intermédio de quem se conseguiu arranjar o crucifixo, em madeira... Também ele pode e deve ostentar o título de Amigo da Capela de Guileje...



Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Guileje > 1 de Março de 2008 > Visita ao sul, no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março ded 2008) > Restos de granadas de obus 14, recuperadas durante as escavações do antigo aquartelamento. Hoje Guileje é um local de paz e de (re)encontro.

 Foto: ©  Luís Graça (2008). Direitos reservados.


A campanha de angariação de fundos vai-se manter, apesar da capela já ter sido recentemente inaugurada (***), de modo a permitir ainda,  a eventuais retardatários,  dar a sua (e aumentar a nossa) contribuição (material e simbólica) para esta causa.

Guileje é hoje um ponto de paz e de (re)encontro de homens que no passado se bateram, de armas na mão, sob bandeiras diferentes. A própria ideia da constituição de um  Grupo de Amigos da Capela de Guileje tem, por certo,  um certo simbolismo.

Pagamento por multibanco: NIB: 003503720000835570006

Pagamento por transferência Bancária: Conta nº: 0372008355700 da Caixa Geral de Depósitos de Ílhavo, em nome de Manuel Augusto Ferreira Reis.

A todos os nossos camaradas, contribuintes (em géneros e/ou em espécie), independentemente da sua ligação efectiva (e afectiva) a  Guileje, o nosso muito obrigado. Manuel Reis & Luís Graça.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2815: Tabanca Grande (67): Os Gringos de Guileje: Abílio Delgado, Zé Carioca e Sérgio Sousa (CCAÇ 3477, Nov 1971/ Dez 1972)


(**) Vd. postes de:

7 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5603: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (10): Recolha de fundos para ajudar a reconstrução (Manuel Reis / Luís Graça)

30 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5567: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (9): Reconstrução, quase pronta, da capelinha de Guileje, terra de fé e de coragem, nas palavras do saudoso Zé Neto (CART 1613, 1967/68)

16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta

6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

(***) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5726: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (10): A inauguração da capela, em 20 de Janeiro, na presença do embaixador de Portugal (Pepito)

Guiné 63/74 – P5796: Histórias do Eduardo Campos (8): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 8): Nhacra 3


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, dando continuidade às suas histórias da Companhia, iniciadas nos postes P5711 e P5729, enviou-nos a 8ª fracção e 4 documentos históricos do seu vasto arquivo pessoal:

CCAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 8

NHACRA 3

Como nada de importante se passava em Nhacra, os dias eram passados de uma forma totalmente diferente das Matas do Cantanhez, e, acreditem que por vezes, surgiam-nos as saudades. A vida era tornava-se demasiado sedentária.

As alternativas encontradas, para fugir à rotina, eram as idas a Bissau, e, já que a alimentação nunca foi algo digno desse nome em Nhacra, aproveitava estas saídas para ir ao Pelicano, à Churrascaria de Santa Luzia, ao Bento, etc. Assim, evitava que a “dieta” que me tinha sido imposta, fosse levada muito a sério.

Por falar de alimentação, enquanto no Cantanhez suportamos tudo, por vezes até com um sorriso, em Nhacra as coisas eram diferentes. O pessoal ficou mais rebelde e negou-se a comer duas vezes (2 levantamentos de rancho). Um dos quais teve como resultado, que passadas duas horas do início do levantamento, estávamos a comer um bacalhau cozido com batatas, que parecia ter sido confeccionado no Hotel Hilton.

Embora não estivesse de oficial de dia nessa data, foi o nosso camarada e amigo tabanqueiro Vasco Ferreira (ex-Alferes da CAÇ 4540), que resolveu o problema.

A dificuldade em adquirir gado bovino (como já disse no poste anterior, o povo por motivos religiosos e tradicionais não o vendia), dava origem a que, um grupo de camaradas acompanhado de um especialista em ”ginecologia”, fossem às tabancas, de madrugada, á procura de gado. Então o nosso “especialista” apalpava… apalpava e, não estando prenha a vaca, toca a roubá-la.

Logicamente, o dono da rês vinha atrás deles a gritar e a chorar, mas não havia nada a fazer. Chegados ao aquartelamento, acabavam por fazer negócio e diziam que lhe pagavam um preço justo.

A minha eterna dúvida, nestes negócios forçados, é: “Mas que raio de preço justo era esse, se o homem não queria vender o animal!?”

A minha curiosidade sobre o desenvolvimento destas operações, levou-me a que, um belo dia, os acompanhasse para ver como decorria a captura da vaca seleccionada.

Nesse dia, logo por azar, o “ginecologista” improvisado enganou-se e trouxe mesmo uma vaca prenha. Foi remédio santo para mim, nunca mais comi carne bovina até ao fim da comissão.

A partir de determinada altura, mesmo cabritos, galinhas e porcos os nativos resistiam em vender. Aqui chegados, um camarada das transmissões, inventou uma fórmula original, na época, para roubar galinhas, que constava do seguinte: Um fio de pesca com vários anzóis, onde colocava uns grãos de milho. Depois pela tabanca fora ia espalhando mais alguns grãos de milho pelo chão. As galinhas vinham por ali adiante a comer os grãos e acabavam, quase sempre, por engolir um dos anzóis. Quando o tal camarada via que a bicha tinha caído na esparrela, saía rapidamente da tabanca com a “vítima” atrás dele.

DOCUMENTOS HISTÓRICOS DE COLECÇÃO

A história também se faz de notícias, pelo que, hoje, seleccionei 4 peças do meu arquivo pessoal, para publicação, relacionadas principalmente com a Guiné e a Guerra do Ultramar, que nos chegam com 37 anos de idade.





Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5795: Parabéns a você (78): José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68 (Editores)

1. Hoje dia 10 de Fevereiro de 2010, está de parabéns o nosso camarada José Brás* que foi Furriel Miliciano na CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, nos anos de 1966/68).

Não podia a tertúlia deixar de vir desejar-lhe um feliz dia de aniversário, pleno de saúde e alegria, junto dos seus familiares e amigos.

Desejamos ao nosso camarada Brás uma longa vida para podermos, todos nós, comemorar esta data muitas vezes.



Postal alusivo à data comemorativa, de autoria de Miguel Pessoa


José Brás que muitos de nós têm o prazer de conhecer pessoalmente, vive no Alentejo, mais propriamente na bonita cidade de Montemor-o-Novo. É autor do romance "Vindimas no Capim", Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura, assim como de poemas, alguns dos quais publicados no nosso Blogue.

Gosta de argumentar, e fá-lo como poucos, mesmo quando os temas são fracturantes e levam a diálogos intensos. Mantém sempre um elevado nível de cordialidade e respeito pelas divergências do opositor de ocasião. Tive o prazer de o ter como companheiro de mesa no último Encontro em Ortigosa, pena foi que não pudessemos conversar mais, mas o ambiente não era o melhor. Algum burburinho e muitas solicitações a ambos, que interrompiam sistematicamente os diálogos.

O nosso camarada Brás tem colaborado intensamente no nosso Blogue. Uma série a destacar, "Vindimas e Vindimados", baseado no seu livro "Vindimas no Capim", infelizmente interrompida há muito tempo. O último poste, 4696, data de 16 de Julho de 2009, pelo que desde já lhe lanço um apelo para que retome a publicação dos textos desta série.

Navegando pelo Blogue, consegui encontrar 33 postes deste nosso camarada que aconselho a ler. Desde histórias, poesia, argumentação, de tudo se pode encontrar, com qualidade garantida.


Entretanto, apreciem esta não poesia, na pespectiva de José Brás, seu autor

Anéis

Dedos apontados à secura da terra
acusavam-lhe a falência genética
do seu ventre parideiro
de diamantes, de minas
e de morte

olhos vitri-fixos diziam
mundos-nada-amargura
saudade já
de outros eu
fantasmas-frustração
coval marcado no espaço sideral

bocas-protesto-quase-renúncia
gritavam imagens-desejo
de um encéfalo criador
de novos cosmos

e seios negros-flácidos-lacerados
eram a denúncia-prova
de cordões umbilicais
que ligam ainda
o símio-escravo-jeová
à terra-mãe


ARCAS

Do Homem
guarda
o silex
o gesto

e nas marcas do sangue
se guardam
as ânsias
de infinito


Espantosa Visão

Corriam os olhos
na imagem
de um desfiladeiro de pedra
cinzenta
e os gritos colados
nas asas
de pássaros dourados
rasando os tufos
raros
de verde azeitona
impunham
na paisagem vazia
um pesado irreal
e a solidez
do alerta.


Pressa

Urgente
seria
que as palavras
cruzassem
o espaço
(fechado)
da memória
e no seu eco
se rompessem
as cadeias
do tempo
e do sangue
na terra da morte
e dos olhos
parados


Memória de fogo

Eruptiva terra
vermelha e retorcida
vulva aberta
múltipla
e imprevista
teu quente orgasmo
da periódica
orgia vem
arrefecendo
solidifica
em ferro
e flores
nos corpos
de crianças
fardadas



O nosso aniversariante dirigiu-se ao nosso Blogue pela primeira vez em 27 de Janeiro de 2009. Relembremos as suas palavras:

Caro Luís Graça
Enviei a 19.01.09 (ou penso que enviei) o texto abaixo junto com carta aberta a J. Mexia Alves sobre intervenção sua e editada no blogue acerca da chamada “batalha de Guilege”.

Acompanhavam tal texto duas fotos, uma antiga e outra actual, forma que julgo suficiente para ser considerado um novo “camarada” da Tabanca Grande.

Entretanto novos textos foram aparecendo sobre o mesmo tema, uns, como o de JMA, deambulando por caminhos de análise puramente militar e hipermetrópica, própria do contrário da história, outras que, como eu, não negando a análise militar (tudo é analisável), não arredam a parte mais interessante da visão universal do direito dos seres humanos a disporem da sua vida e da sua liberdade num mundo que sempre se sonha melhor no futuro.

Estive com alguns problemas no meu computador e, no exemplo do que aconteceu com outras mensagens para outros destinatários, temo que não tenha chegado ao teu correio o texto que refiro acima como enviado.

Indicia tal situação o facto de não lhe ter visto mais qualquer referência no blogue, nem ter recebido eu a acusação da recepção.

Desse modo o reenvio agora com um abraço de cumplicidade a todos os que mantém o interesse na discussão plural e aberta sobre uma página da nossa história que, como todas as histórias, individuais ou colectivas, não se fazem apenas de glórias e heroísmos mas também de muitas misérias e cobardias.

José Brás


Ortigosa, 2009 > Conversa animada de Mexia Alves e José Brás com...

Ortigosa 2009 > Vasco da Gama e José Brás

Ortigosa 2009 > José Brás e José Rocha
__________

Notas de CV:

(*) Para encontrar os postes de José Brás, recorrer aos marcadores "José Brás" e "Vindimas e Vindimados"

Vd. último poste da série de 6 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5773: Parabéns a você (77): José Belo, se o calor da nossa amizade chegasse a Kiruna, a tua Lapónia era o Alqueva (Os Editores)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5794: In Memoriam (36): Júlio Marques Tavares, o Madragoa (1945-1986), ex- Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares / Vitor Condeço / Fernando Graça)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART 1913 (1967/69) > O Madragoa, o Sold Cond Auto Júlio Tavares, condutor de GMC... Nasceu em Lisboa em 1945 e morreu em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975. Os seus pais eram de Pardilhó, Estarreja. Quando jovem, o Júlio viveu na Madragoa. Quando voltou da Guiné, fixou-se em Pardilhó, onde casou e teve o seu filho Pedro. A sua filha Marisa, que tinha 6 anos quando o pai faleceu, de doença prolonada, anda à procura de camaradas dele. Graças ao nosso blogue, já localizou alguns. Diz que tem muito orgulho no seu pai.

O seu gesto sensibilizou-nos a todos. Convidei a Marisa para integrar o nosso blogue, o que ela aceitou, embora não domine bem o português. O pai foi trabalhador da construção civil. Conseguiu dar, no entanto, uma educação de nível superior aos seus dois filhos. A Marisa diz que ele tem outro filho, que terá ficado em Catió. Recentemente lançou um blogue para procurar esse meio irmão perdido: Are You My Brother ? É meu irmão ? (Vamos também ajudá-la nesta procura do paradeiro do seu eventual mano guineense, de Catió, que a ser vivo e viver ainda na Guiné-Bissau deverá rondar os 42 anos).


Louvor averbado na caderneta, p. 12, do Sold Cond Auto Rodas Júlio Marques Tavares, nascido em 9 de Dezembro de 1945, em Lisboa, freguesia de São Sebastíão da Pedreira. Era mais conhecido pela alcunha do Madragoa (bairro de Lisbo onde viveu quando jovem). Ainda de acordo com a caderneta militar, era solteiro e tinha como profissão "ajudante de condutor auto sem prática" (sic). Tinha 4 anos de escolaridade ["exame de 4ª classe do E.P.E. (4º grupo)]".



Na caderneta do Júlio Tavares consta ainda, em "ocorrências extraordinárias" (p. 20), o seguinte: "1966. Apto no exame psicotécnico para condutor auto. Considerado refractário nos termos do atº 48º da Lei 1961, desde 19 de Agosto de 1966. (..) Ausente com licença definitiva para o Canadá desde 27/2/75". (Excertos)

Fotos: © Marisa Tavares (2010). Direitos reservados

Prémio, condecorações e louvores. 1968. Louvado pelo Comandante do BArt 1913 porque ao longo de 19 meses de comissão sempre se evidenciou como elemento trabalhador e disciplinado, sendo de salientar ser um condutor cuidadoso, e merecendo-lhe a viatura que lhe está distribuída constante cuidado. Nas colunas em que tomou parte nunca mostrou qualquer receio ou hesitação em que a sua viatura GMC fosse a 1ª da coluna. De espírito alegre e comunicativo, granjeou a simpatia e a amizade de todos (Ordem de Serviço, do BART 1913, nº 282). Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné. Legenda "Guiné 1967-68-69" (OS nº 26 do BART 1913. de 1969).


1. Mensagem do Vitor Condeço, de 6 do corrente, em resposta ao meu pedido para legendar algumas das fotos do álbum da Marisa:

Querida Marisa, meu caro Luis Graça:

Vamos ver o que consigo dizer sobre as fotografias que a Marisa, filha do Júlio Tavares nos presenteou.


Vê por favor o que consegues aproveitar, não estou certo de ter escolhido a melhor forma de as comentar. [A publicar oportunamente].


Antes e para começar, um pouco e história:


O Júlio Marques Tavares era Soldado Condutor Auto nº 06255566 da CCS do BART1913, que embarcou a 26 de Abril de 1967 no NM UIGE, tendo chegado à Guiné na manhã de 1 de Maio.


Desembarcados directamente do Uige para barcaças de transporte, seguimos até Bolama onde pernoitámos aguardando a maré, prosseguindo ao alvorecer o nosso destino para sul até Catió na região do Tombali, onde chegámos às 15H00 do dia 2 de Março, (este trajecto foi feito sem qualquer escolta e a única arma a bordo era uma pistola 6.75 do Cap. Botelho). Aqui ficámos até 17 de Fevereiro de 1969, data em que embarcados no cais do porto exterior de Catió no rio Cagopere a bordo da LDG 101 – Alfange, regressaram a Bissau.


Aqui, o BArt reagrupou com as restantes companhias e terminaríamos a comissão embarcando novamente no Uige na tarde de 2 de Março, levantando ferro com destino a Lisboa às 00H00 do dia 3 e onde chegamos a 9 do mesmo mês pela manhã, seguindo de comboio para V.N. de Gaia (RAP2), onde se chegou a princípio da tarde.


Depois de entrega do espólio, todos recebemos um passaporte de licença por 21 dias e uma requisição de transporte para o tão desejado regresso a casa.


Passámos à disponibilidade em 1 de Abril de 1969.

Dos registos na História do Batalhão consta que o Júlio Tavares foi louvado pelo comandante do batalhão em 25 de Novembro de 1968.


A resposta que esperava do camarada Fernado Graça, a quem pedi para falar sobre o Júlio, acabou por chegar só hoje, ao que parece andou perdida pela rede pois o endereço antes usado estava incorrecto e voltava à caixa dele. (...)


3. Aqui fica então o que o Fernando, há distância de mais de quarenta anos, consegue recordar sobre o Júlio:


Caro amigo Vítor Condeço,


A razão desta mensagem é para falar sobre o soldado condutor auto Júlio Tavares que fez parte da CCS do BART 1913 estacionada em Catió.


Este amigo era conhecido por Madragoa, era um homem bem disposto, reinadio e bom camarada.


A alguns condutores (tínhamos 24 na CCS) foram distribuídas as poucas viaturas existentes, o Madragoa conduzia uma GMC, outros camaradas tinham os Unimog 404 e o 411, a Mercedes Benz, e os Jeeps.


Quando havia coluna de reabastecimento de Catió para Cufar todos os carros de grande porte faziam o trajecto entre estes dois aquartelamentos, operação que durava todo dia. Os abastecimentos vindos de Bissau em barcos apoiados pela marinha, quando chegavam ao cais velho de Catió, (I) as viaturas eram carregadas e seguiam rumo a Cufar, o nosso amigo Madragoa assim como outros camaradas condutores lá alinhavam nos seus 'mustangues'.


Enquanto os sapadores picavam a estrada, outros camaradas montavam segurança, o dia era passado numa azafama por razões obvias, creio que a viatura do Madragoa ou a do Fontes, um camarada de Famalicão, tinham sobre os guarda-lamas, nos estribos e no próprio chão da cabine do condutor, sacos de areia para amortecer o impacto do rebentamento de alguma mina que não fosse detectada.


O nosso amigo Madragoa também fez umas comissões de serviço em Ganjola, um pequeno destacamento a uns quatro km de Catió, era obrigatório fazer um mês neste destacamento, mas havia quem ficasse por lá mais tempo do que o habitual.


O Madragoa, quase no fim da nossa comissão, talvez dois meses antes, escreveu umas milongas (II) aos seus familiares a pedir dinheiro. Foram dois meses a tirar a barriguinha da miséria, bifes com batatas fritas no bar Catió e no outro bar que ficava em frente ao quartel do qual não me recordo o nome. (III)


Foi um manjar de deuses e brutas pielas. Fez bem o nosso amigo, porque quase dois anos de feijão-frade com atum de salmoura em barrica, arroz com calhaus que quase nos partiam os dentes e outras mistelas já bastavam.


E por isso, houve mosquitos por cordas quando fizemos um levantamento de rancho!


Quando chovia torrencialmente o nosso amigo Madragoa não se fardava, metia a capa impermeável camuflada pela cabeça, as botas e lá andava ele na sua GMC.


Envio-te esta mensagem a contar estes pequenos nadas, mas muito significativos para nós, que os vivemos.


Faz chegar à filha do nosso camarada MADRAGOA este lembrar do que passamos há quarenta e três anos.


Com um grande abraço do


Fernando Graça
Ex-Sold. Cond.
CCS/BART 1913
Guiné - Catió 1967/69
____________

Notas do F. G.:

(I) - Porto Interior


(II) - Falsas histórias


(III) - Era a Cantina do Sr. Mota
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

2 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5749: Álbum fotográfico de Júlio Marques Tavares, sold cond auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte I) (Marisa Tavares)

1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5742: Em busca de ... (115): Camaradas de meu pai, Júlio Marques Tavares, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares)

Guiné 63/74 - P5793: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (4): S. Domingos, 21 de Julho de 1961: Benedita, eles já aqui estão!


Guiné > Região do Cacheu > Varela > 1961 > Luta felupe, de Augusto Trigo. Painel que se encontra(va) numa parede de um restaurante/café, completamente em  ruínas. O painel foi restaurado, digitalmente, pelo Rui Fernandes. Foto de Rui Fernandes, cedida ao nosso amigo Pepito e aqui reproduzida com a devida vénia. (O Rui integra a nossa Tabanca Grande, desde Janeiro de 2008).

Augusto Fausto Rodrigues Trigo nasceu em Bolama, a 17 de Outubro de 1938. Órfão de pai em 1945, veio com mais dois dos seus irmãos para Portugal. A  mãe ficou  na Guiné, com o filho mais novo.

Esteve na Casa Pia até aos 19 anos (1957). Aí começou a revelar e a desenvolver o seu talento artístico. O seu primeiro emprego foi como pintor de publicidade. Regressa à Guiné para rever a mãe e os irmãos. Trabalha como desenhador cartográfico. Nos momentos livres, desenha e pinta (a óleo e a aguarela). Em 1964 realiza a sua primeira exposição de pintura. O Governo da província faz-lhe encomendas... O quadro, cuja imagem reproduzimos acima, data de 1961... Ainda viveu na Guiné-Bissau, a seguir à independência, tendo dirigido o Departamento de Artesanato Nacional, mas regressou definitivcamente a Portugal, em Setembro de 1979. É hoje um conhecido ilustrador e consagrado autor de Banda Desenhada (em parceria com o argumentista Jorge Magalhães). Para saber mais,  clicar aqui.


Foto: © Rui Fernandes / AD - Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados


1. Pré-publicação de excertos do próximo livro do nosso amigo e camarada Mário Beja Santos, Mulher Grande. Trata-se da terceira parte do Capº III (*):


Mulher Grande > III > A Guiné em chamas ou o “Tubabo Tiló”
por Mário Beja Santos


[III. 4] Décimo segundo solilóquio


O tempo esfriou, chuvisca, aproveito para ir ao Google ver o que aconteceu em S. Domingos, naquele dia 21 de Julho de 1961. Coisa estranha, parece que a luta armada só começou em Janeiro de 1963, com o ataque a Tite, desencadeado pelo PAIGC. No entanto, aos farrapos, fala-se da formação de rebeldes no Senegal, de um Movimento para a Libertação da Guiné, nalguns documentos fala-se mesmo da FLING. Imprimo tudo, algumas respostas podem ser encontradas nas entrelinhas.

Afinal, a FLING fora alimentada pelas autoridades de Dakar, tinha um projecto exclusivamente guineense, não queria o envolvimento dos cabo-verdianos. Noutro documento encontro referências à fuga de quadros, vejo mesmo o nome de Rafael Barbosa ligado à FLING, surpreende-me, pois o seu nome também aparece associado ao PAIGC.

No último almoço em casa da Benedita vi a emoção com que ela falou na degradação das relações com as novas autoridades senegalesas do Casamansa. Falámos na missão da Christine Garnier, ela ter-se-á encontrado com Senghor que mandou uma mensagem para Salazar apelando-lhe a um quadro de pequenas concessões imediatas e sugerindo-lhe um plano de transmissão de poderes com a duração de 20 anos. O que quer que tenha acontecido, Salazar, que recebeu Benjamim Pinto Bull em S. Bento, recusou qualquer modalidade de negociação. Segundo a Benedita, 15 a 20 dias antes do ataque atribuído à FLING apareceu o administrador do Casamansa em S. Domingos. Encontrou-se em privado com o Albano, ele partiu para Bissau com uma mensagem e entregou-a ao Governador. Soube-se mais tarde que foi uma derradeira tentativa para a negociação.

Dou comigo a pensar como certos protagonistas secundários têm às vezes entre mãos responsabilidades que podem levar à mudança da História. A acreditar-se no relato da Benedita, o Albano tinha consciência que se estava a dançar à beira do abismo. Seria muito interessante saber-se como Bissau transmitia para Lisboa a versão das hostilidades iminentes.

Estou a entusiasmar-me por um pedaço da história da Guiné que eu ignorava completamente. Mas o que mais me surpreendeu foram as respostas que me deram quando telefonei, por sugestão da Benedita, para um administrador e dois chefes de posto do tempo, bem como dois coronéis na reserva, alferes na Guiné em 1961. Foram muito cordatos ao telefone, ninguém se lembrava do nome dos rebeldes, aonde se situava o seu acampamento, embora se tenha falado que estava dentro do Casamansa ou em Kolda, nunca tinham ouvido falar na FLING ou no Movimento para a Libertação da Guiné.

Porque será que estes homens não querem falar? Pondo imediatamente de parte a hipótese de uma conspiração de silêncio, somos levados a pensar que ninguém acreditava que dois países independentes à volta da Guiné portuguesa iam ficar quietos, sem explorar o descontentamento existente nas várias linhas de independentistas guineenses. E não menos curioso é como esta sucessão de episódios não consta na história da Guiné-Bissau.

Mais recordações da Benedita (décimo segundo trabalho de casa)

Haverá o direito de eu estar a arrogar-me a um papel importante nos acontecimentos do ataque a S. Domingos? Tenho a consciência que a memória não me atraiçoa. Aí uns dez dias antes do ataque o Albano soube que ia haver um desfile contra Portugal, em Ziguinchor. Aquelas informações eram vitais, ele não podia ir nem ninguém da administração.

Vendo-o tão preocupado, sem saber o que fazer, tomei uma decisão sem hesitar: “Albano, eu vou, não se preocupe, toda a gente me trata bem em Ziguinchor, diga-me exactamente o que pretende saber”. Ele ainda tentou dissuadir-me, mas acabou por me dar razão. Ao amanhecer do dia previsto do desfile, parti com o chefe da central eléctrica de S. Domingos, pretextei uma indisponibilidade do Albano, referi que tinha umas compras urgentes, ao princípio da tarde estaríamos de regresso.

Em Ziguinchor, notava-se à vista desarmada um clima de grande tensão, as pessoas procuravam não falar comigo, ou respondiam-me com monossílabos. Estive na farmácia, no escritório de Hugues Lemaire, depois comprei tecidos a um mercador ambulante. Na farmácia, o farmacêutico que era claramente contra a presença portuguesa, perguntou-me por Monsieur le Commandant, senti-me bem tratada.

O desfile anti-português estava praticamente no fim, via papéis a convocar para a manifestação espalhados pelo chão, resolvi não apanhar nenhum. Na loja de um djila, senti que ele me estava a fazer perguntas acintosas, do tipo “o que é que eu pensava se ele abrisse um magasin em S. Domingos”, respondi que ficaria encantada. Hugues Lemaire recebeu-me imediatamente e advertiu-me: “O Albano que se organize e se defenda. O melhor seria vocês abandonarem já S. Domingos, eles vão atacar em breve”.

A mulher dele deu-me uma pistola e Hugues Lemaire precisou as últimas instruções: “Não posso escrever nada, a partir de agora, se souberem que estou a passar informações estamos perdidos. Estão a ser preparados 200 homens nas granjas de Tibelor, perto dos serviços de agricultura de Ziguinchor”. Ainda fui comprar umas conservas, livros e revistas.

Foi no carro que o Augusto, o chefe da central eléctrica, me mostrou os panfletos que tinham sido distribuídos na manifestação do tipo um capitalista gordo com charuto na boca às costas de um nativo, um cipaio com uma palmatória na mão a maltratar um indígena com as correntes nos pés e de mão estendida. Um dos panfletos falava na luta para expulsar os portugueses, admitindo se necessário recorrer à destruição de vidas. O Augusto disse-me: “Senhora, as coisas estão muito feias, eles têm espingardas e granadas”. Seguimos imediatamente para S. Domingos, o Albano não escondeu o seu alívio quando ali cheguei. Ouviu-me, escreveu uma longa mensagem, o secretário seguiu imediatamente para Bissau.


Antes do ataque a S. Domingos, em 21 de Julho de 1961


Pela primeira vez na minha vida, eu sentia-me no centro de uma agitação política que não entendia, onde não participava directamente, olhava, ouvia os comentários do Albano, lançaram-me avisos em Ziguinchor, mas como não via guerra nem era evidente qualquer hostilidade, continuei a viver sem alterar nada.

Enviaram de Bissau um novo secretário e um novo aspirante para S. Domingos, logo percebi que era para dar mais tempo ao Albano, libertá-lo das tarefas administrativas, os acontecimentos do Senegal e o espectro da guerra ocupavam-no cada vez mais. Nós estávamos preocupados com o que tinha acontecido em Angola, começava-se a pensar que íamos ser brutalmente atacados, até mesmo chacinados.

A mexer nos meus papéis, nas coisas que juntei nos últimos dias, tenho aqui registada a chegada de um homem que só nos deu dores de cabeça, Aventino Guerreiro, um aventureiro que chegou a S. Domingos com uma proposta de instalar um negócio de óleo de palma, queria que o Albano lhe concedesse mão-de-obra gratuita. Claro que o Albano recusou e pô-lo fora do gabinete.

Este Aventino Guerreiro só no ano de 1961 apresentou 15 queixas contra o Albano. Ele devia ter muitos apoios em Bissau, deve tê-los sugestionado com um conto do vigário, qualquer coisa como montar um sistema de informações ao longo de toda a fronteira, o pretexto seria a compra de mancarra, seria aí, durante as transacções, que se obteriam informações.

Um dia, vínhamos nós de Bissau, o Albano contou-me tudo no carro, como publicamente se manifestara contra este embuste, se Bissau queria boas informações, se queria confirmar e ampliar as informações que a PIDE oferecia, deviam estar atentos ao que ele escrevia, sobretudo às informações que ele recolhia em Ziguinchor.

O Albano tudo fazia para manter excelentes relações com os colegas do Casamansa. Ele sabia, desde 1960, que as relações iam ficar tensas, esforçou-se por fazer convites oficiais às novas autoridades senegalesas, recebemo-los em nossa casa, notámos da parte deles que não queriam muita intimidade, sentia-se no ar que em breve se iria chegar à ruptura. O Albano estava a sofrer muito, tinha recebido um telegrama a anunciar que a mãe estava a morrer, decidiu não vir a Portugal com tudo o que se estava a passar ali à volta.

Pode parecer contraditório, mas eu estava a receber novas alegrias. Fui admitida como professora no ano lectivo de 1960-1961, ninguém mais concorreu para S. Domingos. Comecei a juntar dinheiro, pois o ordenado de professora ia inteirinho para Lisboa, aproveitando o direito à transferência. Adorei ensinar, ver aquelas crianças que por vezes faziam quilómetros a pé a mostrar entusiasmo com a tabuada, começavam a soletrar e meses depois assistia àquele milagre das palavras serem ditas, mesmo aos solavancos.

É de repente que começo a sentir o desânimo do Albano por causa da indiferença de Bissau face aos seus avisos. Aquela indiferença deitava-o por terra. Já na festa da independência do Senegal ficara ao lado de um oficial reformado do exército francês que se mostrou muito glacial comigo. Perguntei ao meu amigo Hugues Lemaire o que levava aquele senhor a ser tão pouco gentil comigo e ele disse-me sem papas na língua: “Benedicte, tu não acreditas no que te andamos a dizer, tu jantaste ao lado do oficial que anda a treinar os rebeldes guineenses aqui no Senegal”. Fiquei sem saliva, olhei-o sem poder articular uma palavra. Hugues Lemaire também já avisara o Albano que Senghor queria marcar posição antes de Sekou Touré, iria apoiar insurreições no Norte da Guiné com rebeldes da nossa província. Senghor era a favor de uma Guiné para os guineenses, não apreciava os cabo-verdianos. Senghor dizia abertamente que o futuro desta nova Guiné independente iria ficar sob a sua custódia.

Vão seguir-se dias de tensão, nunca mais na minha vida tive uma espera tão dolorosa, inquietante, como aquela. Sentimos que muita gente estava a partir, até mesmo gente da população local deixou de vir a S. Domingos. Os comerciantes de Bissau, do Cacheu, de Bissorã ou Bula, nunca mais apareceram. O silêncio nocturno era horrível, nunca mais se ouviu um batuque, acabaram as fogueiras, as cerimónias e festas dos Felupes ou dos Manjacos. Eu procurava resistir dando aulas mas sentia também a falta de muitos alunos.
Estávamos todos à espera, num enervamento horrível. Chegara entretanto um contingente de tropa que ficou a viver dentro da povoação, e não muito longe de nós. Começava o nosso relacionamento com a tropa, que não foi nada feliz. Na noite de 21 de Julho, estávamos deitados quando se ouviram tiros, um deles partiu um vidro do nosso quarto. Como uma mola, saltámos da cama e rastejámos para a porta, punha-se assim termo a todos aqueles meses de expectativa.

Há quem diga que quando morremos a nossa vida passa no nosso cérebro como um filme acelerado, já me disseram que vemos e pensamos aquilo que mais no impressionou na existência. Pois eu sei que vou ouvir nesse momentos a voz do Albano gritar-me ao ouvido, plena de exaltação: “Benedita, eles já aqui estão!”.

(Continua)

[ Revisão  / fixação de texto / título: L.G.]
_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5758: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (3): Dois anos maravilhosos: S. Domingos, Varela, Ziguinchor, antes da guerra...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5792: Blogoterapia (145): Como te compreendo, amigo António Rosinha (José Brás)

1. Comentário do José Brás ao último poste do António Rosinha (*):
 Luís: O Rosinha já me havia enviado este texto antes, e eu havia também respondido com o texto que junto mais abaixo.
É um caso curioso, este, porque começou a nossa troca de correspondência no blogue, pareceu-me com uma certa animosidade negativa e com  o seu desenvolvimento, na base do respeito pelo humano e pelas diferenças, temos feito uma excelente aproximação.
Parece-me um homem muito sério que carrega legitimamente uma grande lástima pelo que aconteceu no desfazer do Império.
No texto que lhe enviei, juntei outro que nem sei se serve para o blogue, porque tem 12 páginas e sai do tema restrito da guerra colonial e da Guiné para tentar perceber melhor o Regime, a Colonização e a chamada Descolonização.
Se achares bem posso enviar-te uma cópia e tu verás se vale a pena.
Um abraço
José Brás


2. Texto do José Brás:

António, meu amigo:
Acredita que não é demagogia dizer-te "como te compreendo, amigo". E não to digo porque te queixes, porque isso ainda não vi que fizesses, mas porque apontando o dedo, denuncias uma situação trágica na sociedade portuguesa, aqui na metrópole, e lá, em Angola, Moçambique e Guiné.
E o não te queixares é já a denúncia de uma enorme dignidade, complementada, evidentemente pelo uso do direito à indignação e à incompreensão.

De modo curto, poderia dizer-te, utilizando o teu sub-título ENTÃO COMO FICAMOS? GUERRA OU ABANDONO?, que quanto a mim a questão não está aí mas é anterior e a sua não solução, anterior, precipitou tudo.

Evidentemente, dá para ver que nem de perto nem de longe aceito ou aceitei alguma vez, desde que me lembro de botar pensamento, a Salazar.

Contudo, face ao horror espalhado pela UPA no Norte de Angola, nada havia a fazer no imediato, senão enviar tropas que travassem o verdadeiro massacre que a UPA fazia e pretendia continuar a fazer porque não tinha como programa político senão o terror e o ódio racista servidos por superstições como sabemos.

Travado esse massacre, Salazar estava ainda muito a tempo para dar indícios de possibilidade de negociação.

É claro amigo, a questão era e é o petróleo, os diamantes e outros recursos espantosos que se encontram naquela terra, acxrescentando-se que também a luta pela hegemonia territorial global entre a URSS e os EEUU.

E acho que é isso mesmo que fez de Portugal um simples peão que suportou os prejuízos e que na hora de segurar e de dar a volta às coisas, não tinha a mínima força para o fazer.
E a verdade é que este povo que foi expulso daquela terra que amava, muita falta fez ao novo País, dizendo eu isto sem a mínima intenção neo-colonial, mas na parceria que poderia ter sido exemplar.

Acabo de escrever um trabalho de 12 páginas precisamente sobre esse assunto, um pouco motivado pela nossa anterior correspondência no blogue, e também na questão colocada pela amiga Filomena e a minha resposta já publicada, como sabes. (**)

Ainda nem sei se o irei enviar ao blogue, pelo seu tamanho e pela matéria abordada que extravasa largamente a nossa questão Guiné.

Em parte, tal trabalho, poderia ser uma resposta ao teu desafio. ´Não o é porque não há aqui necessidades de respostas nem de desafios, e porque as questões suscitadas pelo drama dos retornados são muito mais vastas e complexas.

Aqui, entre nós, há apenas lugar para a amizade e para a compreensão. Ainda assim, envio-to, solicitando que por enquanto fique entre nós, sobretudo porque utilizo dois quadros que retirei do trabalho de outro a quem terei de dar contas.

Um forte abraço

José Brás