sexta-feira, 23 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6224: O 6º aniversário do nosso blogue (19): Um povo e uma terra que estão no meu coração (Paula Salgado, Londres)



Londres > A nossa Doutora Paula Salgado, membro da nossa Tabanca Grande, desde Outubro de 2005... Filha do Paulo e da Conceição, logo nossa filha também, porque os filhos dos nossos camaradas... nossos filhos são!


1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (a viver em Angola):


Data: 23 de Abril de 2010 14:41
Assunto: Paula Salgado

Luís e Carlos

A Paula está em Londres. Pediu-me que vos mandasse a mensagem e a foto, que nos remeteu. Eu fiquei muito emocionado por ela "estar" connosco.

É que ela estava com o computador ocupado nas estrutura das proteínas…

Um abraço tertuliano, Paulo Salgado

Segue o endereço dela: aula.salgado@btopenworld.com






Guiné > Região Oio > Olossato > CCAV 2712 (1970/72) > Um patrulhamento 'à maneira', segundo o Paulo Salgado, ex-Alf Mil Cav.

Foto: © Paulo Salgado (2005). Direitos reservados

2. Mensagem da Paula Salgada, membro da nossa Tabanca Grande, juntamente com os seus pais, Paulo e Conceição Salgado:

Amigos do Blogue (*),

O meu pai (
Paulo Salgado) esteve na guerra. O meu pai sempre nos falava, a seu jeito – a mim e ao meu irmão – das suas experiências. Recordo-me dos almoços-convívio em que nós, miúdos, brincávamos ao sol, enquanto os nossos pais (re) viviam as emoções e as recordações. Conforme crescíamos, fomos ouvindo as outras histórias – as do medo, da incerteza, do perigo.

O meu pai regressou à Guiné-Bissau como cooperante, em 1990 (**). "Arrastou" a minha mãe e a mim também. Tinha dezasseis anos. Lembro-me da primeira vez que saímos de Bissau, num inadequado Fiat Punto, e regressávamos já de noite, pelas picadas. Lembro-me de pensar como teria sido para o meu pai, para todos vós, com poucos mais anos do que eu tinha, "cair de pára-quedas" no meio daquele mato. Pela primeira vez, comecei a entender o que ficava por dizer nas histórias que ouvi em criança.


Para uma adolescente, viver num país como a Guiné-Bissau dos anos 90 foi uma experiência emocionante, rica. Convivi com os meus colegas guineenses no Colégio, tive aulas com professores de Matemática, Física e Biologia que tinham vindo do Leste, e com o Padre Macedo – um herói com mais de 50 anos de Guiné que me ensinou muito sobre o que é a língua Portuguesa e como a influência dos povos além-Europa que a falam só a enriquece e enaltece.





Guiné-Bissau > Rio Farim > 2006 > Cambança do rio... Observação do barqueiro: "A bos portuguisis? Pai di nôs".[ Vocês, portugueses ? Então, pais de nós!]


Foto: © Paulo & Conceição Salgado (2006).



E fui ao Olossato, e fui a Farim e fui ao Saltinho, a Bambadinca, Bafatá, corremos a Guiné toda… e fui…ao Morés, o célebre Morés! Ali, a conversa entre um professor do internato, um ex-combatente do PAIGC e o meu pai, partilhando as suas histórias, de lados opostos das barricadas, foi tão mágica que eu e a minha mãe ficámos em silêncio, apreciando o simples facto de presenciarmos um momento tão único, tão fraterno.


A Guiné tinha-me conquistado. O regresso, em 2001, um prémio que pedi aos meus Pais pelo doutoramento, foi doloroso, como são dolorosas as notícias do sofrimento pelo qual aquele povo, que é da nossa família também, passou e passa.

Pode ser que eu traga aqui, a esta tertúlia tão interessante e onde vós, de alguma forma, fazeis a catarse, outras historias desta vivência.

Para todos vós, valentes (ainda que com medos que ainda guardais no vosso subconsciente) eu envio daqui, de Londres, um abraço de admiração e parabéns pelo aniversário do vosso blogue.

Paula Salgado
Doutora em Bioquímica / Investigadora

Londres, 23/04/2010



[ Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]
________________



Notas de L.G.:



(*) Vd. último poste da série > 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6223: O 6º aniversário do nosso blogue (18): Ensinamento de vida (Joaquim Mexia Alves)

(**) Vd. poste, da I Série > 13 de Outubro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCXL: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (2)



(...) Texto do Paulo Salgado que vive em Bissau (...) e que submete à aprovação da tertúlia a admissão da Paula Salgado, sua filha, mais guineia que muito guinéu...

Eu cá, por mim, terei muita honra em apadrinhar a nova tertuliana, a nossa doutoranda Paula, mas aqui quem mais ordena é o colectivo dos tertulianos: no nosso tempo as mulheres não entravam nas casernas, mas isso foi no século passado... Bom, não quero influenciar o resultado da consulta tertuliana. Limito-me a dar a minha opinião. E já agora, cá para mim não entrava só uma camariga, entravam duas, a filha e a mãe, neste caso a Maria da Conceição, a mulher do Paulo... Mais: respeito o silêncio (ou o pudor) do Paulo que tem uma cópia da história da companhia dele mas que não quer escarrapachá-la aqui no blogue, assim, sem mais nem menos, as folhas todas abertas... Respeito e concordo, desde que o bombolom do Paulo vá trazendo notícias e estórias da Guiné-Bissau de ontem e de hoje. Hoje publica-se, a seguir, "mais uma parte do Capítulo I". Até à próxima Paulo e Maria, gente de cepa rija, que não desanima facilmente com o macaréu da desgraça... LG

(...) Camaradas e Amigos (aqui incluo a minha filha Paula Salgado – a camariga que vive em Oxford e que adora ouvir as histórias e as estórias do velhote - camariga que só o será com a licença de vossas mercês, pois ela fez aqui o 11.º ano e papia kriolo diritu i tene amigus manga deli).

Ele é a sina de conduzir os periquitos (designação que se dava às companhias que chegavam da metróple à Guiné – e os velhinhos até cantavam: Periquito vai pró mato, a velhice vai pra Bissau; bem se compreende o desaforo: os novos que gramassem!). E vai-se a Quinhamel, a Uaque, ao Saltinho, conhece-se o rio no cais do Pidjiguiti, são os colegas que chegam do Porto para colaborar no Projecto.

Ele é o corre-corre no campus hospitalar à procura não sei de que solução para tantos problemas, tantos que as gentes já passam indiferentes ao sofrimento, tenha ele a feição e a forma e a dimensão que tiverem: a cólera, a malária, a elevada taxa de mortalidade infantil e maternal… E coisas mais simples como o gerador que avariou e … não há luz nem água para enfermarias, nem PC que registe, nem a fresquidão de ventoínhas e de ares condicionados onde os há, e lá se vão, estragados, os parcos reagentes do laboratório de análises clínicas (35 horas sem luz é muita hora!), e as intervenções marcadas que ficaram no papel (até foi necessário transportar de longe água para desinfecção e dar ao doentes da cólera). Isto só visto, camarigos!

No Olossato, os frigoríficos a petróleo ou a electricidade do geradorzinho aguentavam lindamente… Alguns camaradas até tinham ventoínhas que colocavam no cimo da cabeceira, seguras na parede, para refresco de suores quentes - adivinham-se quais - ou frios, estes devidos a saída iminente para o mato, ali para Manacá, ou Amina Dala, ou Iracunda, esta tabanca bem perto do Morès, ver foto de saída bem cedinho e dizei lá se não era à maneira correcta!!!...

Ah!, aquelas ventoinhas pequeninas que nos batiam no corpo sedento de amor, e que, rodopiando, serviam para afastar os insistentes mosquitos que teimosamente zumbiam aos nossos ouvidos – porra, a mim não me deixavam nem sequer fechar os olhos. Aquele geradorzinho até dava para alumiar os campos até 100 metros, e encandeavam as tropas quando regressavam de sortidas nocturnas.

Acho que estas coisas todos vivemos…! Até se conta a estória de um capitão, de que não digo o nome, que se lembrou de apagar os holofotes em momento de ataque e, pasme-se, quando o IN estava a tentar entrar no aquartelamento, foi uma razia nos guerrilheiros ao acenderem-se as luzes. Se tal foi verdade, como ouvi, foi uma emboscada nocturna a preceito...

Mas a sério: quem não se lembra de uma patrulhamento, bem feito? – segue foto (...)

Nota bem: Eu devo confessar-vos uma coisa – tenho a história da companhia [CCAV 2712, comandada pelo capitão Mário Tomé, entre 1970 e 1972]. Parece-me pouco correcto que a traga a terreiro. Mas tentarei traduzi-la, sem romancear, mas recontando-a à minha maneira.

Que me desculpem os historiadores, que me perdoem os puros… mas há coisas que eu não acho oportuno contar, por escrito.

A todos os Camaradas e Amigos muitas mantenhas e com a promessa de que podeis contar comigo porque eu tenho, também, a segurança à retaguarda – ou não é, Humberto?

Bissau, 13 de Outubro de 2005


Vd. os restantes postes da série:






5 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXX: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (1)


(...) "Vou tentar relatar (narrar, contar, ficcionar quanto baste) as minhas vivências nesta terceira (ou quarta?) comissão / presença demorada... (Agora estamos numa Missão que é um termo muito divulgado por quem passa aqui curtas ou mais longas estadias em nome de alguém a fazer qualquer coisa – confesso-vos que tenho visto muita coisa mal feitinha)"(...).




13 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXL: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (2)


19 de utubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLVII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (3)


(...) "Hoje, sábado, fomos até ao Saltinho, com os cooperantes da Saúde que chegaram ontem no avião (já agora: a Dra. Adelaide, ginecologista; o Dr. Justiça, hematologista e que também fez a guerra em Angola) e ainda o João Faria, engenheiro hospitalar (que já cá está há oito dias… Manga di tempu! , que esteve em Angola, e que se está a aguentar com brio e companheirismo nas lides do Hospital Civil... Todos eles emprestaram à viagem de 350 km um sabor especial)" (...).


5 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXI: Crónicas de Bissau ou o 'bombolom' do Paulo Salgado (4)


29 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (5): para onde ?


3 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXIII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (6): HN Simão Mendes


5 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVIII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' de Paulo Salgado) (7): Suleiman Seidi


30 de Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CDIII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (8): novos tertulianos


18 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLVII: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (9): História e estórias


30 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXXV: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (10): ontem e hoje em Uaque


1 de Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 -CDXC: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado)(11): Beethoven e batuque no Olossato


2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCI: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (12): reviver o passado em Olossato


13 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1069: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (13): Para quando África ?


(...) "Quem está aqui em trabalho intenso, meses a fio, deixa coisas para contar num amanhã, escrevinha outras para uma memória que há-de ser escrita, agora e sempre falando da Guiné sob outros ângulos e com outras visões e tu perguntarás e os camaradas perguntarão:- Por que razão não bombolaste?


(...) Lá no Hospital há traumatizados há meses à espera de intervenção. Era isto que eu ia contar? Mas hoje apeteceu-me. 10 de Setembro de 2006. (Ouvi passar uma ambulância uivando - o que irá fazer ao Hospital com o doente?)" (...).

Guiné 63/74 - P6223: O 6º aniversário do nosso blogue (18): Ensinamento de vida (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 20 de Abril de 2010:

Meus caros camarigos editores
Tenho pensado na forma de festejar o aniversário da Tabanca Grande que se aproxima.
Quis escrever alguma coisa que marcasse o dia.
E fui andando "por qui, por li", como se diz na minha terra e... nada!

Numa procura que estava a fazer de textos antigos para um trabalho em mãos, deparei-me com algo que escrevi e publiquei no meu blogue, depois do nosso Convívio de 2007.
Ao lê-lo percebi que seria a melhor homenagem que poderia fazer ao nosso espaço de tertúlia e amizade.

Anexo o texto.

Porque o mesmo contêm a expressão viva daquilo que eu vivo como homem de fé, compreenderei se acharem que não o devem publicar como "presente" de aniversário, por eventual critica de "proselitismo".

Tal não me passa pela cabeça, mas, volto a dizer, compreenderei perfeitamente a vossa decisão.
Ficará a intenção e a minha sempre constante amizade e camaradagem, para melhor dizer, camarigagem.

Um abraço deste camarigo
Joaquim


ENSINAMENTO DE VIDA

Tive um fim-de-semana muito ocupado, mas sobretudo vivido muito intensamente.

No Sábado estive num almoço convívio com ex-combatentes da Guiné, (onde estive de 1971 a 1973), e hoje, Domingo, participei na Sé de Leiria, na celebração da Eucaristia de Ordenação de um Presbítero, o Marco, e um Diácono, o Marcelo, que pertence desde a primeira hora à nossa Comunidade Luz e Vida.

Perguntarão o que tem uma coisa a ver com a outra, e também eu perguntei isso mesmo ao meu Deus e Senhor, que sempre nos dá algum ensinamento sobre o que vai acontecendo no dia-a-dia das nossas vidas.

No almoço convívio, (de muitos ex-combatentes que se reúnem num blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné), estavam por isso mesmo, muitos camaradas de armas, (como nos costumamos chamar), de diversas idades, proveniências e unidades militares, dos quais muitos não se conheciam ainda pessoalmente.

No entanto, o sentir, a identificação de algo comum, a unidade de uma experiência colectiva, a comunhão de todos estes sentimentos e vivências, fazia com que nos sentíssemos todos iguais, todos irmanados, todos acolhedores, todos no fundo como um só, embora tão diferentes nas nossas vidas, desde a idade, à política e com certeza à religião.

Na Eucaristia da Ordenação do Marco e do Marcelo, estávamos também pessoas de diversas idades, diversas experiências de vida, locais diferentes, diferentes “sentires”, diferentes modos de viver a Fé, mas no entanto, todos unidos, acolhedores, sorrindo uns para os outros, querendo dar as mãos, e na diversidade, comungando a e na unidade com o Senhor Nosso Deus.

E então o que é que em eventos tão diferentes, se pode encontrar como ensinamento para a vida?

E a resposta é a própria vida, a vida que se dá, que se entrega, a vida que se recebe, a vida que se predispõe para os outros e dos outros para nós.

Com efeito, na guerra, colocamos a nossa vida nas mãos dos outros, dos que estão ao nosso lado, que nos acompanham e que às vezes apenas conhecemos ali, enquanto os outros nos entregam as suas vidas, confiando em que as vamos proteger com as nossas próprias vidas.

Só com essa entrega mútua de confiança, é possível sobreviver na guerra.

Essa vivência faz-nos identificar com todos os que estiveram na guerra, no nosso tempo, no nosso sitio, ou tempos e sítios totalmente diferentes.

Quando nos encontramos, conhecendo-nos ou não, apesar de todas as diferenças que possam existir entre cada um, abraçamo-nos, acolhemo-nos e comungamos de um mesmo sentimento: a vida que continuamos a ter.

Na vivência da Fé, na e em Igreja, a vida só tem sentido se for uma oferta permanente a Deus, e por Deus aos outros.

Só posso viver e crescer em comunhão com os outros e para os outros, senão arrisco-me a perecer na primeira dificuldade, a cair na primeira tentação.

A minha salvação só tem sentido na salvação dos outros e os outros contam com a minha entrega em oração por eles, como eu conto com a sua entrega em oração por mim.

Pode mesmo chegar-se um dia ao extremo de termos, por amor, de dar a vida pelos outros, entregando-nos confiantemente nas mãos do Criador, como ainda hoje tantos fazem, em nome de Deus, pelos seus irmãos.

E não interessa onde estamos, onde nos encontramos, no nosso país ou outro qualquer, porque nos identificamos e reconhecemos nessa entrega de amor a Deus e aos outros.

Na guerra os outros confiam que eu os protegerei e contam com as minhas capacidades, como eu conto com as deles, para chegarmos sãos e vivos ao nosso ponto de partida.

Na Igreja, os outros contam com as minhas orações, com o meu testemunho de vida, como eu conto com o deles, para crescermos juntos na Fé e alcançarmos a Salvação, que nos foi dada por Jesus Cristo Nosso Senhor.

A entrega da nossa vida, pelos outros e dos outros por nós, leva-nos a este encontro de comunhão de sermos um só com o mesmo objectivo.

A diferença está em que, na guerra a finalidade é preservarmos a nossa vida, muitas vezes aniquilando a vida do outro.

Na vivência da Fé, em Igreja, a finalidade é a salvação do outro com a entrega da nossa vida, alcançando também a nossa salvação.

Monte Real, 30 de Abril de 2007
JMA
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6112: Parabéns a você (99): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil OP Esp (Os editores)

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P622: O 6º aniversário do nosso blogue (17): Quem disse que hoje não havia rancho melhorado ? (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P6222: O 6º aniversário do nosso blogue (17): Quem disse que hoje não havia rancho melhorado ? (Torcato Mendonça)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo (uma das mais paradísiacas estâncias de turismo militar)  > CART 2339 (1968/69) > Hoje há leitão.. balanta!...
                                                      


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo >CART 2339 (1968/69) > Quem disse... Rancho Melhorado ?!



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > "É, pá, vocês não comam tudo!"...


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > "Day after": o leitão estava estragado ou foi da "borrachera" ?

Do famoso e fabuloso álbum Fotos Falantes II.  Fotos: Foto: © Torcato Mendonça  (2006). Direitos reservados

[ Revisão/ fixação do texto / título do poste / selecção, edição e legendas das fotos: L.G.]

1. Mensagem do Torcato Mendonça (Fundão):

Data: 23 de Abril de 2010 10:41

Assunto: O SEXTO (*)

Caros Editores e Camaradas: Dizem-me ser o sexto aniversário do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, e eu folgo com isso. Mas questiono-me: O  que é o blogue? Quem faz anos?

O blogue de sexto aniversário é o do Luís. Então faz ele anos e mando-lhe um abraço e uns eteceteras; se o blogue é este espaço, espaço com quatro centenas de pessoas, milhares de escritos onde, porque fica gravado, vêm ler e saber de assuntos ou novas centenas de milhar de visitantes. Ainda por este espaço ser global e as gentes, quer as que a ele pertencem quer as que o visitam, espalham-se mundo fora. Espaço de afectos, espaço de discussão plural, espaço de controvérsia ou só espaço de terapia colectiva de uns quantos. Ou todos?

Penso que é isso tudo. Mais, penso ser um espaço a contribuir para o tratamento futuro da nossa memória colectiva. Da memória de outros Povos que connosco conviveram por séculos.

Os de Bilege? Também porque só prova a necessidade de nos conhecermos melhor como Povo.

Trabalho para historiadores, não para cronistas do reino...

Mas então para quem são os parabéns? Eu escrevi uma ou outra vez, comentei aqui e acolá...e vou dar parabéns a mim? Eu, além disso,  só para aqui vim em Maio de 2006 e fiquei.

Penso que os parabéns são para o fundador, para os editores, para todos os que pertencem e se identificam e acreditam na validade deste projecto.

Mas, se me o permitem envio os meus PARABÉNS e os meus agradecimentos aos Editores pelo excelente trabalho. São muitas horas roubadas sabe-se lá a quê e a quem...

Meus Camaradas e Amigos, para vocês o meu bem hajam e, através de vós,  felicito toda esta Tertúlia de homens e mulheres de cá, do nosso País, ou da Guiné e os da Diáspora,  mundo fora como é sina nossa....partilhando o Mundo...não dando novos...já lá estava....

Abraços T M
____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6220: O 6º aniversário do nosso blogue (16): Um Blogue? Sei lá o que é isso! (Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P6221: Agenda cultural (73): Teatro: Dor Fantasma, com textos do nosso camarada Manuel Bastos, na Casa Conveniente, Cais do Sodré, Lisboa, de 26 de Abril a 2 de Maio

1. O nosso camarada Manuel Bastos (ou Manuel Correia de Bastos),  membro da nossa Tabanca Grande, combatente em Moçambique, fundador e editor do blogue Cacimbo, autor do romance Cacimbados (não confundir com Manuel Bastos, que esteve em Bambadinca, CCAV 678, 1965/66), solicitou-nos a divulgação do seguinte espectáculo:



teatromosca
DOR FANTASMA, na Casa Conveniente [Lisboa]
Depois de ter estreado Dor Fantasma, com textos de Manuel Bastos e direcção de Mário Trigo, no Porto, no Estúdio Zero, em Novembro do ano passado, depois da apresentação em Sintra, na Casa de Teatro de Sintra, em Janeiro deste ano, o espectáculo é reposto, agora na Casa Conveniente, em Lisboa (Cais do Sodré), de 26 de Abril a 2 de Maio, de segunda-feira a domingo, sempre às 21.30h.
textos: MANUEL BASTOS
direcção: MÁRIO TRIGO
co-produção: teatromosca e Teatro Focus
acolhimento: Casa Conveniente

PONTO DE PARTIDA
Desde 2007, o teatromosca tem vindo a desenvolver um ciclo de pequenos projectos dedicado ao tema da guerra (colonial ou de independência) nas ex-colónias portuguesas. Entre 2007 e 2008, foram apresentadas três “fases preparatórias” do projecto teatral IGNARA#GUERRA COLONIAL, que culminará, em 2012, com a apresentação do espectáculo final homónimo.
No início de 2009, o teatromosca associou-se ao Teatro Focus para levar a cena uma nova versão, em formato reduzido, do espectáculo INFA72, com texto de Fernando Sousa e direcção de Mário Trigo.
Agora, apresentamos uma nova produção com textos de Manuel Bastos, ex-combatente, um espectáculo que visa dar voz ao que, regularmente, não é dito e revelar o que, usualmente, permanece camuflado.
Com Dor Fantasma, tentamos dar plano às histórias particulares, aos relatos pessoais e, de certa forma, íntimos daqueles que viveram/ ainda vivem a guerra, procurando fazer uma reflexão em torno da História, numa dialéctica entre a memória individual e a relevância e incorporação da mesma na memória colectiva.

SINOPSE
Este espectáculo constitui-se como um «monólogo a duas vozes», no qual duas personagens – um combatente e uma mulher - relatam episódios da «sua guerra», avaliando-a até às suas ínfimas, imponderáveis consequências.

Os «fait-divers» do teatro de guerra - entenda-se, o conjunto de acontecimentos que, em meio do caos, instituem essa espécie de perverso «padrão de normalidade» - são permanentemente desmontados pelo olhar lúcido, clínico, distanciado das personagens, apostadas em transmutar o horror da guerra em material de reflexão política (apartidária) ou em exercício extremo de auto-conhecimento.

A deliberada inclusão da personagem feminina na colagem de que o guião resulta- caucionada pela tematização que Manuel Bastos, atentamente, lhe vota - corresponde à candente necessidade de reconhecimento do papel (ainda hoje secundado) que a mulher portuguesa desempenhou antes, durante e depois do conflito armado aduzido.




O Manuel Bastos mantém, desde 2003,  um dos mais antigos Blogues sobre a Guerra Colonial, O Cacimbo. É autor do romance Cacimbados: a vida por um fio (Vila Nova de Gaia: 7 Dias 6 Noites, 2008)




SOBRE O AUTOR > Manuel Correia de Bastos

(i) Nasceu na vila de Aguim, no concelho de Anadia, em 1950.

(ii) Foi mobilizado para ex-colónia de Moçambique com o posto de furriel miliciano, no cumprimento do serviço militar obrigatório

(iii) Chegou a Moçambique no dia 12 de Fevereiro de 1972 onde estve em actividade operacional até ser gravemente ferido em combate no dia 4 de Junho de 1972, devido à deflagração de uma mina anti-pessoal;

(iv) Tem escrito crónicas sobre a guerra colonial especialmente no Jornal da Associação dos Deficientes das Forças Armadas;

(iv) Mantém desde 2003 um dos mais antigos Blogs sobre a Guerra Colonial, O Cacimbo, em http://cacimbo.blogspot.com/.

Embora a crítica especializada ainda não tenha «descoberto» este autor seminal, trata-se, sem dúvida, do ponto de vista literário, uma das vozes mais surpreendentes que têm, nos últimos anos, riscado a oferta editorial sobre o tema, ombreando, sem dúvida, com nomes tão fundamentais como António Lobo Antunes, Lídia Jorge, Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco, entre outros.

Da sua escrita pode destacar-se o modo como, glosando um tema tão «obsceno» como é a guerra (a sua, de um modo muito particular), consegue, munindo-se de metáforas límpidas e eficazes, atingir um lirismo de profundo fôlego filosófico de pendor filantrópico.

SOBRE O ENCENADOR > Mário Trigo

(i) Fundador e Director Artístico da Associação Cultural Teatro Focus, tem vindo a trabalhar, de há seis anos a esta parte, textos sobre a guerra colonial.
(ii) Em 2006, com efeito, fechou - com Companhia de Caçadores, em cena na Casa dos Dias da Água, em Lisboa (espectáculo contemplado com um apoio pontual do Instituto das Artes) - um ciclo de três encenações subordinadas ao tema (as outras duas foram Violeta - Puta de Guerra, em cena na Sala-Estúdio do Teatro da Trindade, em 2004; e Infa 72, no Teatro Taborda, 2002) todas em colaboração com o dramaturgo (e ex-combatente) Fernando Sousa. As suas encenações têm merecido a aclamação da crítica, pelo rigor, qualidade e coerência demonstrados.

Ficha artística e técnica

 Designação do espectáculo: «Dor Fantasma» - a partir de textos de Manuel Bastos
Direcção: Mário Trigo
Dramaturgia: Paulo Campos dos Reis
Interpretação: Filipe Araújo e Susana Gaspar
ssistência de encenação: Diana Alves
Desenho de luz: Carlos Arroja
Grafismo: Alex Gozblau
Direcção de produção: Pedro Alves
Produção: teatromosca e Teatro Focus
Co-produção: Fábrica da Pólvora - Clube Português de Artes e Ideias
Acolhimento: Associação Terra na Boca, As Boas Raparigas, Casa de Teatro de Sintra e Casa Conveniente
Apoio: Câmara Municipal de Sintra, Junta de Freguesia de Santa Maria e S. Miguel, Junta de Freguesia de Mira Sintra, Artistas Unidos, 5àSEC [Rio de Mouro], Relevo Branco, Jornal de Sintra, Jornal Actual Sintra, Jornal O Correio da Cidade, CTT, Rádio Clube de Sintra e Sporting Club de Lourel

de 26 de Abril a 2 de Maio
de segunda a domingo 21.30h


Casa Conveniente (Cais do Sodré - Lisboa)
bilhetes 5€ (preço único)
Skype teatromosca

bilhetes à venda no local e nas Estações de Correio ou em http://www.ctt.pt/

teatromosca
Casa da Cultura de Mira Sintra

Avenida 25 de Abril, Largo da Igreja de Mira Sintra
2735-400 Cacém
Tel.: (351) 91 461 69 49 (351) 96 340 32 55teatromosca@gmail.com teatromosca@hotmail.com
http://teatromosca.com.sapo.pt/

_________

Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P6220: O 6º aniversário do nosso blogue (16): Um Blogue? Sei lá o que é isso! (Paulo Santiago)

1. Mensagem de Paulo Santiago* (ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), com data de 22 de Abril de 2010:

Camaradas

Entrei, pacificamente, nesta Tabanca em 26 de Junho de 2006, e por cá me tenho aguentado com muita satisfação e bem estar.

Muitos tabanqueiros chegaram a esta morança, porque houve um ou uns tabanqueiros que disseram: é pá, anda aí na net um Régulo, o Luís Graça Baldé, também há quem o conheça por Mamadú Henriques, construiu um Reordenamento, onde se exorcisam antigos fantasmas e se faz blogoterapia... A mim ninguém me deu esta dica.

Em Fevereiro de 2005, fui à Guiné acompanhado pelo meu filho João, sozinhos, malucos, chamaram-nos, e antes da partida, tive de ir à GNR, era na altura arguido com termo de identidade e residência, chamavam-me arruaceiro, tinha batido numa senhora, era a acusação, e assim tive de comunicar a minha ausência para aquela terra vermelha da qual tinha imensas saudades.

A viagem foi um arraial de emoções, está descrita por aí, mas aconteceu que vim mais apanhado, aquele meu encontro, no Quirafo, com a carcassa da GMC, deixou-me arrasado. Tenho de contar esta tragédia, tenho de dar porrada em quem provocou esta mortandade. Como fazê-lo? interrogava-me.

Entretanto, a minha mulher ofereceu-me este portátil, onde continuo a clicar com um só dedo, e um dia um amigo diz-me: oh caralho, tens de fazer um blogue para descarregares essas merdas que tens na cabeça. Um blogue? sei lá o que é isso, respondi-lhe. Mas, esse meu amigo deixou-me umas instruções, e penso que andava à procura de um nome para o tal imaginário blogue, e quando escrevo Guiné, aparece-me a página que bem conheceis. CCAÇ 12, Bambadinca, e aparece-me a foto do Vacas de Carvalho, de lenço amarelo, sentado na torre da Daimller, e recuei a Outubro-Novembro de 1971, era o único que conhecia... e assim entrei para o Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Descarreguei tudo. Hoje sinto que sou outro graças ao Luís, não serei o único, estou a lembrar-me do Batista que será uma pessoa diferente daquela que conheci, juntamente com o Álvaro Basto, há três anos atrás. Lembro, recentemente, a guineense Neusa Danho, filha do 1.º Sargento Miliciano Cristóvão Santos, que graças ao blogue conseguiu encontrar camaradas do pai, falecido quando ela era recém nascida. Hoje, curiosamente, recebi um telefonema da Cidália Cunha, viúva do 1.º Cabo António Ferreira, e notei que era outra pessoa, agora já fez o luto, e também aqui graças ao Graça.

Luís, tu criaste esta imensa Tabanca de afectos, mereces o meu/nosso reconhecimento.

Neste aniversário recebe um grande abraço de amizade, extensivo ao Briote, ao Vinhal e ao Magalhães Ribeiro. Agora, graças a vós, os nossos filhos já sabem onde os pais andaram na juventude.
Bem-Hajam!
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6150: O Spínola que eu conheci (8): O Militar que foi meu Comandante-Chefe (Paulo Santiago)

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6219: O 6º aniversário do nosso blogue (15): Seis anos de vida! É Obra! Vamos reflectir (Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P6219: O 6º aniversário do nosso blogue (15): Seis anos de vida! É Obra! Vamos reflectir (Hélder Sousa)

Texto enviado hoje mesmo pelo nosso camarada Hélder Valério Sousa* (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72) alusivo ao aniversário do nosso Blogue:


O NOSSO BLOGUE

Caros camaradas, amigos e outros…

O nosso Blogue vai fazer 6 anos de vida! É obra!


Nesta época de vertigem, em que as coisas são moda e rapidamente descartáveis, criar, manter, alimentar e desenvolver um Blogue, principalmente com as características deste nosso, é de facto um caso notável.

Mas, afinal, de que estamos a falar? O que é, realmente, o nosso Blogue?

Aquando do aniversário do ‘criador’, o Luís Graça, tive a oportunidade de, para o felicitar, apresentar algumas frases sobre o Blogue, salientando principalmente como ideia-chave que a ‘criação ultrapassou o criador’, ou seja, o Blogue já não seria do Luís Graça (pelo menos em exclusivo e na prática) mas sim de nós todos, que na realidade o adoptámos, o acarinhámos e o desenvolvemos constantemente, de tal modo que podemos escrever sem errar “O Nosso Blogue”, quando a ele nos referimos.

Outras coisas também lhe chamei: lugar de afectos, espaço de memórias, local de controvérsias, catalizador de sentimentos, revelação de poetas e prosadores, propiciador de ‘blogueterapia’, motivador de encontros e reencontros, forja de amizades que se criam e se renovam, etc.

Entretanto, também ocorrem convulsões!

Um ‘post’ recente, do Alberto Branquinho, vem lançar um grito de alerta, provocar um abanão, colocando uma série de interrogações para a aparente abstinência de colaboração de alguns camaradas que já não ‘produzem’ artigos faz bastante tempo. E a propósito desse ‘post’ o Carlos Vinhal avança com algumas considerações, confessando, na prática, que a situação é conhecida e causa preocupação, apelando à participação de todos, conforme as suas possibilidades. Sucedem-se vários comentários de camaradas que fazem sentir a oportunidade e a justeza das interrogações do Branquinho, salientando aqui, sem desprimor para qualquer outro, a intervenção do António Matos, na linha de algumas outras (passadas) intervenções que ele já teve, com a caracterização, na sua opinião, de algumas ‘doenças infantis’ que afectam o nosso Blogue e no sentido de ‘recentrar’ os seus objectivos.

Pois então que se faça essa reflexão, se ‘recentrem’ os objectivos. Como se fará isso? E como? De que modo? E onde? E quando?


O QUE DISTINGUE O NOSSO BLOGUE

Voltando ao “nosso Blogue”, o que mais se poderá dizer? O que o torna distinto e portanto ‘apetecível’? O que o faz ter e manter um conjunto de ‘acompanhantes’ bem mais numeroso do que aqueles que se encorajaram a incorporá-lo?

Há uma questão que às vezes me colocam. “Porquê isso da Guiné? Foi pior para vocês do que para os outros? Há aí alguma competição no sentido de que ‘a minha guerra foi pior que a tua’, foram mais sofredores, ou ganhadores, ou sacrificados que os outros?”.

Não, não há nenhuma competição, não faz sentido algum. Os traços são comuns aos diversos T.O., pois em todos houve os que ‘embarcaram’ convencidos que estavam a ‘defender a civilização ocidental e cristã contra os interesses inconfessáveis dos estrangeiros’ e houve os outros, que foram por sentido do dever, por não terem alternativa, por acharem que sim, por outro motivo qualquer, mas para todos houve na prática o afastamento da família, dos amigos, do meio de vida, da escola, do trabalho, vidas interrompidas (e algumas delas acabadas…), enviados para ambientes estranhos onde houve que fazer adaptações (e rápidas), quer em termos pessoais quer em termos operacionais.

Para o rememorar desses tempos acontecem os encontros, os almoços, as confraternizações: dos diversos grupos funcionais, dos elementos dos cursos, do pessoal das Companhias, dos Batalhões, de outras Unidades e/ou actividades; aparecem vários Blogues, alguns mais simples, outros com qualidade acrescida, dessas Unidades.

E então o que é que diferencia e torna interessante o “Luís Graça & Camaradas da Guiné”?

Um dos méritos é que pretende abranger todo o tempo em que durou o, chamemos-lhe assim, ‘conflito’; transversalmente a todo o espaço territorial; aposta numa atitude de reconciliação com o passado (preservando a memória); estende a mão aos antigos adversários apelando à sua participação; promove uma postura de respeito mas ao mesmo tempo de ‘igualdade’ entre os seus membros. Deste modo será quase possível, com a continuação dos depoimentos e das participações, fazer a história dos diversos locais ao longo desses tempos e também, ao cruzar as informações, fazer o ‘filme’ em cada ano e apreciar os desenvolvimentos ocorridos.

Isto não faz qualquer concorrência com as histórias e convívios das diversas Unidades, mas antes as completa e pode fazer o traço de união para que cada uma delas compreenda o ‘antes’ e também, conforme os casos e a época, o ‘depois’ (onde e quando houve depois) dos locais por onde andaram.

Para além destes aspectos acresce que a relativa pequenez do T.O. (comparado com Angola e Moçambique) faz com que todos os que de nós por lá passaram, de uma maneira geral, ‘conheçam’ o território da Guiné. Em qualquer ponto onde se estivesse chegavam as notícias (muitas vezes deturpadas ou exageradas, é certo) de acontecimentos, perto ou longe, mas que nos irmanavam nos sucessos ou nos lamentos dos sacrifícios e vidas perdidas, que ocorriam em locais cujos nomes eram muitas vezes pronunciados com respeito, temor, reverência. Isso unia-nos e ainda hoje nos une.

Mesmo em Bissau, tantas vezes referenciada como ‘a guerra do ar condicionado’, não eram raras as vezes em que se ouviam distintamente os rebentamentos do outro lado do Geba, provocando reacções de solidariedade e de desejo de que aqueles que estavam a ‘embrulhar’ tivessem sorte. Já relatei que tenho um amigo e colega de curso que estando colocado em Luanda levou uma ‘porrada’ por aquelas coisas menores que aconteciam na tropa e em locais onde era mais exigente o aprumo e, em consequência disso, foi destacado para o Luso. Pois daí enviou-me um aerograma lamentando a sua pouca sorte, pela ‘porrada’ e por ter sido enviado para ‘zona de guerra’, já que “por vezes, ouvia os canhões a apenas 25 km”. Para todos os que estiveram na Guiné é então fácil entender a solidariedade tácita imediata que se estabelece entre nós.

São, portanto, estes dois aspectos essenciais, a ‘transversalidade no tempo e no espaço’, e o da ‘identificação comum de todos com tudo’, aliados ao facto de quase todos termos dito “Guiné, nunca mais!” mas isso ser quase impossível pois “voltamos lá” muitas vezes, seja pela ‘procura da juventude perdida’, seja pela marca indelével que aquela terra, aquela gentes e aquelas paisagens nos deixaram, são esses aspectos, dizia, que nos ligam fortemente ao Blogue a ponto de, mesmo quando é varrido por questões ou assuntos que não nos agradam, mantermos a nossa atenção e o interesse.

Acontece que o nosso Blogue é acompanhado, seguido, ‘vigiado’, por muita gente que, por uma razão ou outra, não se atreve a ‘bater à porta’ da Tabanca, mas isso não é preocupação pois esse período de namoro é absolutamente natural. Algumas coisas originam reservas para que se entusiasmem e passem a colaborar activamente mas, se houver engenho e arte para ‘resolver’ essas questões, é certo que mais vontades se acrescentarão para tornar o ‘puzzle da memória’ mais completo.

Pessoalmente, assim de repente, lembro-me de duas mãos-cheias de gente que conhece e segue o nosso Blogue mas não o integram (ainda?): da Marinha, de Moçambique, da Guiné… acham que não têm relevância ou que as suas histórias não são interessantes, ou então que lhes falta ‘o jeito’, a qualidade… seremos pacientes e aguardaremos que tomem coragem!


E INIMIGOS? TERÁ O NOSSO BLOGUE INIMIGOS?

Certamente que sim!

Não é o Blogue uma espécie de ‘organismo vivo’, em boa medida já bem representativo da sociedade em que se insere? Então, o que é que se espera? Não é a sociedade constituída por antagonismos? Pois também certamente que sim, e isso reflecte-se necessariamente na atitude para com o Blogue.

E como se manifesta essa inimizade?

Bem, há pelo menos dois grandes grupos que podem ser caracterizados, cada qual com as suas ‘nuances’… e existem fora e dentro do Blogue.

Na maior parte dos casos não se trata bem de inimizade, mas sim de mágoa, de interpretações erradas ou também consequência de queixas justas, se bem que pontuais.

Fora, podemos encontrar aqueles que dizem que o Blogue ‘é só para os amigos dos editores’, coisa pouco sustentável porque são tão diversos os camaradas que têm textos e artigos publicados que não se vê maneira de sustentar tal afirmação;

Também há quem reclame da excessiva ‘intelectualização’ (aparente), que levaria ao afastamento ou não-aparição de camaradas com menos capacidade literária, mas isso não é uma verdadeira razão pois temos tido possibilidade de apreciar contributos de camaradas com essas alegadas menores capacidades e a quem os editores ajudam, compondo os textos. As queixas aqui são mais do género 'é só para os antigos oficiais, que agora são todos escritores’, o que é injusto e também pouco sustentável, face à quantidade e variedade das intervenções publicadas.

Mas há aqueles para quem o Blogue, como manifestação de grupo, de solidariedade, de partilha, com capacidade de mobilização de vontades e fonte de esclarecimento, aparece como uma ameaça, pois tudo o que ‘cheirar’ a defesa do colectivo é ‘perigoso’. E isso é verdade tanto para os que se sentem ameaçados quando se veicula a reivindicação pelo respeito e memória dos que tombaram ao serviço da Pátria (fosse lá pelos motivos que fosse) como para aqueles que querem ‘cavalgar’ descontentamentos legítimos e ‘reescrever’ a História à luz das suas próprias concepções.

Dentro, também se podem encontrar sinais que, certamente de modo involuntário, fomentam inimizades. Dum modo geral configuram infracções às regras do Blogue, pelo que, se escrupulosamente respeitadas, evitariam a maior parte das situações menos boas que por vezes surgem e que fazem ‘azedar’ o ambiente. Já alguém alvitrou ao Luís para ‘deixar sair as G3 de vez em quando’ como forma de ‘aliviar tensões’ mas isso, em si mesmo, pode descambar e criar fracções totalmente indesejáveis. É um jogo perigoso.


QUE FAZER?

Para já, impõe-se reflectir como sugerido ou motivado pelo artigo do A. Branquinho.

A forma de o fazer poderá ser constituída por artigos ou textos de opinião ou sugestões enviadas para o Blogue e que cheguem ao conhecimento colectivo, onde se apontem caminhos e acções a tomar e a desenvolver.

Pode também passar pela apreciação e discussão em ‘grupos de trabalho’ que tracem ou sugiram os novos (se for o caso) caminhos a seguir, ou o reforço organizativo existente.

Pensem (pensemos) nisso!

Entretanto, e para terminar, resta dar os parabéns ao “Nosso Blogue”, que é como quem diz, dar os parabéns ao seu criador, aos editores que o materializam e a nós todos que o alimentamos, acarinhamos e defendemos.

Que tenha longa vida e que nos vejamos representados nele!


Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur Mil TRMS TSF
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6099: A Guiné aos olhos das actuais gerações (2): Marta Ceitil, sente que está a aprender e a crescer na Guiné-Bissau (Hélder Sousa)

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6218: O 6º aniversário do nosso blogue (14): Homenagem ao Blogue e aos Mendes que nos acompanharam (Paulo Salgado)

Guiné 63/74 - P6218: O 6º aniversário do nosso blogue (14): Homenagem ao Blogue e aos Mendes que nos acompanharam (Paulo Salgado)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 21 de Abril de 2010:

Meu Caro Luís Graça,
Vai a minha participação – mais do que isso a homenagem ao Mendes, aos “Mendes” que nos acompanharam, lado a lado, numa guerra de que ainda não se escreveu de forma verdadeiramente científica…

Posta lá isso, o que vai em itálico.

Um abraço tertuliano.
Paulo Salgado



As notícias

Que me desculpem os companheiros bloguistas e os que, não participando nesta tertúlia – aqueles milhares que palmilharam bolanhas, matas e matagais, tarrafos, rios, riachos – eu não pretendo “armar-me” em intelectual, que não sou. Gosto de ler, de reflectir. É verdade. Lá no Olossato, em tempo de algum breve lazer, e para além das cervejas geladinhas ou gins ou cocas no bar, tive oportunidade de ler o Alves Redol quase todo, algum Rodrigues Miguéis, as pequenas (grandes) obras do Soeiro, o Russell – com troca com outros. Ou ouvíamos a Mahalia Jackson ou o Ray Charles ou la burrita – não sei quem é o autor (o Moreira ainda guarda esse disco ali em Gaia), verdade que às vezes púnhamos a rodar a 3.ª sinfonia ou a 5.ª sinfonia do Beethoven…enquanto ao longe se ouvia o batuque!

Vem isto a propósito do saboroso texto do Miguel Esteves Cardoso que escrevinha todos os dias um artigo interessante no Público. Diz ele, a propósito das nuvens do vulcão: «Já fui atingido pela nuvem de cinza e finalmente compreendi a tragédia. As coisas são mais tocantes quando nos tocam a nós. É que a nuvem atrasou o correio expresso.»

De imediato me lembrei que as nossas “nuvens” (desta natureza) por toda a Guiné eram os atrasos do aviãozinho (Dornier) que trazia o saco verde do correio. Pois é. Toda a maralha ficava fodiscada. Mas quem recordo, meus caros, é o Mendes, o homem da G3 e das imensas fitas que transportava, logo a seguir ao guia (bom, não me recordo se era a seguir imediatamente…) que, em dia de ausência de correio, bebia que se fartava e era um corrupio no que se chamava de caserna. Punha todos em polvorosa: fosse quem fosse, até o filho da puta do alferes… Não admira a razão: era casado, tinha uma filha…

Ao Mendes e a tantos “Mendes” eu quero endereçar neste dia de aniversário do nosso blogue, este humilde contributo.

Na verdade, as notícias que nos interessavam vinham em aerogramas carregados de emoção…

Obrigado, Mendes, pelo teu humano sofrimento de que me recordo vivamente, e que me ajudou a crescer e pensar muito.

Paulo Salgado
23 de Abril de 2010
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(*) Vd. poste de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5500: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (11): Natal com calor (Paulo Salgado)

Vd. último poste da série de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6213: O 6º aniversário do nosso blogue (13): A nossa blogoterapia, objecto de artigo da revista Visão, edição de hoje

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6217: Estórias de Guileje (8): O papel da fragata Orion na batalha de Gadamael (Manuel Reis, ex-Alf Mil At Inf da CCAV 8350)


O nosso Camarada Manuel Reis (*), ex-Alf Mil At Inf da CCAV 8350, (Guileje, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 19 de Abril de 2010:

Camaradas,
Este tema poderá já ter sido abordado no Blogue, anterior à minha participação no Blogue, que data dos finais de 2008.
Não é minha intenção provocar uma tempestade, num momento em que o Blogue navega num mar de calmaria e caminha para o seu 6º Aniversário.
Mensagem de Manuel Reis ( Ex-Alf. Mil. da C. CAV. 8350) sobre:

A LFG Orion no Cacheu. Foto do Lema Santos, com a vénia devida.
O PAPEL DA FRAGATA ORION NA BATALHA DE GADAMAEL
Estava em Gadamael quando estes factos ocorreram, mas só tive conhecimento do apoio dos “fuzos” ao pessoal em fuga para Cacine. Sobre a actuação da Fragata Orion o meu desconhecimento era total.

Nos meus recortes de jornal sobre a Guerra Colonial, encontrei um texto sobre o desempenho da tripulação da fragata Orion na batalha de Gadamael. É um trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso, publicado no Jornal Público no dia 26 de Junho de 2005, descrito nas páginas 12-13-14, com título de 1ª página “ A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos”.

Recordo, de forma resumida e com a devida vénia e respeito, o que nessa data foi escrito pelo jornalista Eduardo Dâmaso.

O trabalho do jornalista é baseado em depoimentos do Comandante, então imediato, Pedro Lauret e do soldado grumete electricista Ulisses Pereira.

A fragata Orion encontrava-se no rio Cumbijã, em missão de apoio aos aquartelamentos construídos recentemente no Cantanhez, quando no dia 1 de Junho de 1973, à hora de jantar, o seu Comandante recebe uma mensagem do Comandante em Chefe, António de Spínola, para subir o rio e proceder ao embarque de uma Companhia de Pára-quedistas, em reforço no Cantanhez.

Participaram nesta operação, para além da fragata Orion, duas lanchas de desembarque médio (LDM), oito botes zebro e uma companhia de “fuzos”.São dadas ordens aos “patrões” das LDM para seguirem para Cacine pelo canal do Melo, enquanto o Orion segue rio acima para recolher a Companhia de Pára-quedistas.

Só às 8 horas da manhã do dia 2 de Junho a Orion chega ao largo de Cacine. Aí, a tripulação é informada pelo Major Pessoa, Comandante do Batalhão de Pára-quedistas, da situação de caos que se vive em Gadamael: Do efectivo de 3 companhias que aí se encontravam não existiam mais de 30 homens a defender o aquartelamento. Os restantes e a população encontravam-se em fuga para Cacine ou na orla da mata.

São transmitidas as ordens de Spínola: “ É proibido o auxílio a cobardes”.

Contrariando as ordens de Spínola, Major Pessoa informa da urgência no socorro a essas pessoas e promete ir buscá-las, nem que fosse de canoa, caso o Comando da Orion não discordasse das ordens de Spínola.

As tropas Pára-quedistas desembarcam e seguem nos botes para Gadamael.

A Orion avançou em apoio das tropas fugitivas até ao ponto onde lhe era possível, sem qualquer comunicação ao Comando da Defesa Marítima. As LDM começaram a percorrer as margens e com a colaboração dos zebros recolheram os soldados que andavam perdidos.

“Havia mortos e feridos. Desaparecidos e enlouquecidos”. Improvisou-se um hospital no convés para assistir os feridos ligeiros, enquanto os feridos graves eram colocados na coberta dos “praças”. Foram recuperadas entre 300 a 400 pessoas que posteriormente foram transportadas para Cacine de modo a terem uma assistência mais eficaz.

Pedro Laurent, Comandante do Orion, recorda uma imagem que nunca mais o abandonou: “À noite, a coberta das praças estava completamente repleta de feridos, não havendo lugar para as praças se deitarem”

Sobre este acontecimento fez-se um manto de silêncio. A hierarquia nunca questionou a desobediência da Orion e o seu Comando e tripulação não foram alvo de qualquer processo disciplinar.

Outras histórias são relatadas pelo Comandante Pedro Lauret e pelo Grumete Ulisses Pereira, que me vou dispensar de as transmitir.

Para todos os camaradas, ex-combatentes, um abraço amigo,
Manuel Reis
Alf Mil At Inf da CCAV 8350
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P6216: Ser solidário (64): Teixeira Pinto (actual Canchungo). Manjaco Francês (Fabien Gomis)


1. O nosso Amigo e leitor guineense, a viver actualmente em França, Fabien Gomis, em 21 de Abril de 2010, enviou-nos um e-mail a solicitar-nos ajuda no seguinte:

Teixeira Pinto

(actual Canchungo)

Manjaco Francês

Bom dia.

Gostaria de agradecer ao blogue pelos “uploads” de imagens do meu país. Mas, mais importante para mim, é que o site permite-me compreender melhor as condições de vida dos soldados na guerra, bem como as dos povos indígenas nessa fase.

Mas primeiro quero me apresentar.

Eu sou francês de origem da Guiné-Bissau (Manjaco de Canchungo), nascido em 1973, em Paris, e secretário de uma Associação de Assistência às Aldeias Manjacas da Guiné.

Também organizamos muitos eventos guineenses na diáspora, em particular em França, onde estamos presentes em eventos culturais, em especial nos “Dias da Cultura”.

Para ser breve, eu solicitava 2 serviços:

Se me poderiam enviar fotos e tudo o que têm, sobre a região de Teixeira Pinto (actual Canchungo), e a devida autorização, a fim de expô-las durante o nosso “Dia Cultural”.

Queria também pedir ao Jorge Picado se me enviava o máximo possível de fotos, sobre os estágios de vida das pessoas, paisagens, casas...

Os meus pais contaram-me que, antes de eu nascer, o meu tio (irmão do meu pai), morreu durante um ataque entre Bachile e Cacheu...

A única informação certa que temos é que ele pisou/accionou uma mina.

O seu nome era Fara Gomes e foi aposentado um dia, mas decidiu regressar à tropa para junto dos seus antigos camaradas, quando foram convidados.

A morte ocorreu durante o 1º trimestre de 1968. Mas eles não sabem mais nada, porque estavam na França, naquele tempo, e as únicas pessoas que podiam adiantar mais alguns dados já faleceram.

Além das fotos, se tiverem notícias ou qualquer documento daquele tempo… tudo seria bem-vindo.

O meu e-mail pessoal é:
mandjako@free.fr

Atenciosamente,
Muito Obrigado.
Fabien Gomis

2. Tradução em francês do e-mail:

Manjaco Français

Bonjour.

Je tiens d'abord a vous remercier de mettre en ligne des images de mon pays. Mais surtout, le site me permet de mieux comprendre la les conditions de vie aussi bien des soldats que celles des autochtones durant la guerre.

Mais tout d'abord je tiens a me presenter.

Je suis un francais d'origine Bissau guinéenne (manjaco de Canchungo ) né en 1973 a Paris et secretaire d'une association d'aide aux villages manjacos de Guinée.

Aussi nous organisons beaucoup d'evenements ou la diaspora guinéenne de france est tres presente notament lors des journées culturelles.

Pour etre bref, j'ai 2 services a vous demander:

Serait-il possible de vous emprunter des clichés sur tout ce que vous avez concernant la region de teixeira pinto afin de les exposer durant notre jornée?????
A defaut, est-il possible de demander à Jorge Picardo s'il est possible de lui emprunter un maximum de clichés sur les scènes de vie de la population, les paysages, les édifices....

Mes parents m'ont dit qu'avant ma naissance le frere de mon pere est decede durant une attaque entre bachile et cacheu... C'etait durant le 1er trimestre 1968. Mais ils n'en savent pas plus car ils étaient en France a cette epoque et les seules personnes à meme de fournir des details sont aujourd'hui décédées.

Aussi, si vous aviez des infos, une photo, un quelconque document qui pourrait m'aider serait le bienvenu.

La seule info que l'on a est qu'il aurait marché sur une mine.

Pour info, mon oncle s'appelait Fara Gomes, il était à la retraite au moment des faits, mais il a décidé d'aller se battre avec ses anciens camarades lorsqu'ils furent appelés.

Merci beaucoup,
Fabien Gomis
_________
Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

1 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 - P6086: Ser solidário (63): Gente feliz... com lágrimas: a Cadi e a sua filha, a Maria Alice do Cantanhez (Pepito / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6215: In memoriam (41): O Sem Sentido das Guerras - Relembrando António Ferreira (Mário Migueis)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Migueis(1) (ex-Fur Mil de Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72) com data de 15 de Abril de 2010:

Caro Vinhal,
De longe em longe, dá-me para te escrever. Uma vezes - as mais das vezes -, para me rir um bocado da tropa contigo e com os nossos camaradas e/ou amigos. Outras vezes – que, francamente, quereria não fossem tantas -, para recordar coisas menos agradáveis e, no limite, como é hoje o caso, de acontecimentos, que, na derradeira fase dessa nossa experiência castrense, nos abalaram profundamente, deixando-nos uma marca bem cavada de tristeza e, por vezes, revolta, cuja evidência todos os dias demonstramos neste blogue, que tão bem nos compreende.

Passaram-se doze meses – como o tempo voa! -, desde que escrevi algumas linhas sobre a “Tragédia do Quirafo”. Fi-lo, na altura, com um objectivo muito concreto – esclarecer o rol de dúvidas que se colocavam e que eu estava em posição de esclarecer -, e uma preocupação primeira - que considerei mesmo um imperativo ético -, que era sossegar o espírito da viúva do nosso camarada António Ferreira, uma das vítimas mortais naquele dia de verdadeiro terror. Senti - aqui sim! -, a satisfação do dever cumprido, tanto mais que toda a acção desenvolvida pelo blogue culminou com uma singela, mas cheia de significado, homenagem ao nosso saudoso camarada no cemitério de Águas Santas, concelho da Maia, onde está sepultado.

Sobre a acção militar em si, contudo, ficaram alguns pormenores por relatar, não por esquecimento, mas apenas porque, tratando-se, do meu ponto de vista, de elementos acessórios, não tinham o carácter urgente dos restantes. Não deixando, porém, de os reputar de interessantes para publicação no blogue, uma vez que, se por outra razão não for, quanto mais informação, melhor, propus-me dá-los a conhecer na melhor oportunidade. Todavia, como era preciso rebuscar uns papéis esquecidos e coisa e tal, passaram-se os tais doze meses - e, agora, repito: “como o tempo voa!” – sem que eu nada tivesse acrescentado ao essencial, isto é, aos factos já narrados.

Pois, caro amigo, tenho a comunicar-te – grande surpresa! - que ainda não é desta que te faculto o tal material acessório, porque – lá estou eu a forjar desculpas para novo adiamento - , depois de matutar um pouco, cheguei à conclusão de que isto de andar a contar as coisas a conta-gotas não será exercício de que a gente se possa orgulhar, nem, se calhar, trabalho com que deva incomodar-te (confesso-te, porém, que o meu esforço reflexivo não chegou tão longe). Por isso, fica para daqui a algum tempo, quando eu tiver tudo arrumadinho.

E, agora, atenção, Vinhal! É aqui que tu, fingindo que concordas com estas justificações esfarrapadas e me perdoas o desleixo, lanças a superior pergunta:

- Mas, assim sendo, o que é que tu pretendes afinal, meu caro Migueis?!...

E eu, esfregando as mãos de contentamento pela oportunidade que me dás, respondo:

- Ainda bem que me fazes essa pergunta, meu caro amigo. Era precisamente por aqui que eu queria, deveria e não soubera começar.

E pronto, meu bom Carlos Vinhal, deixa o resto comigo. A partir de agora, podes sentar-te e descansar um bocadinho que eu, se me permites, passo a dirigir-me directamente a todos os tertulianos e amigos do “luísgraça&camaradasdaguiné”, ficando para ti, entre textos, o meu abraço muito amigo.

Mário Migueis


"António Ferreira"
Acrílico: © Mário Migueis da Silva (2010). Direitos reservados


2. O Sem Sentido das Guerras

Em 02/04/2009, a propósito da emboscada do Quirafo, verificada 37 anos atrás, publicava este blogue (P4117(2)), pela primeira vez, uma foto tipo passe do saudoso António Ferreira, que, como vários outros camaradas, ali perdeu a vida durante o terrível recontro.

A 18 do mesmo mês, na introdução do P4205(3), referia o Carlos Vinhal a certa altura, a propósito da mesma foto, de novo publicada: “…aparece um militar com a mesma pose altiva…”

Pois, caros camaradas e amigos, na altura, o conjunto dessas palavras e da imagem que lhes dera sentido transportou-me imediatamente para um dos poemas - chamem-lhes o que quiserem! - que eu tinha rabiscado nos dias de enorme tensão que se seguiram aos acontecimentos. Mentiria, se dissesse que o poema em causa foi dedicado especificamente ao António Ferreira, já que, na verdade, quando deixei a caneta escrever, à sua livre vontade, o que lhe ia na alma, pensava em todos aqueles rapazes - alegres meninos -, que, na inocência dos seus vinte anos, acabavam de ser vítimas – também eles - de uma “morte cruel e impiedosa”(*). Acontece é que, perante aquela imagem do António Ferreira, vi na altivez do seu porte, na expressividade do seu rosto, aquilo que parecia ter sido talhado para ilustrar aqueles meus momentos de revolta perante um mundo asqueroso que insistia em alimentar situações como a presente, em que jovens inocentes eram subtraídos do aconchego dos seus lares e lançados autenticamente às feras.

Na verdade, naqueles momentos de verdadeiro pesadelo, a minha indignação, que não poupava os que, como cães raivosos, se nos atiravam ao caminho, retalhando ou reduzindo a cinzas os meus próprios semelhantes, dirigia-se, porém, muito especialmente aos senhores dos nossos destinos, que, do alto dos seus pedestais e protegidos pela segurança das distâncias, “determinavam e mandavam publicar” - como é fácil mandar os outros lutar até à morte! - , independentemente da sorte reservada àqueles inocentes, que, como cordeirinhos, haveriam de ser sacrificados ao deus da guerra, esse vampiro infame que, desde as mais remotas eras, alimenta com sangue humano as suas negociatas e interesses pessoais.

Este último ponto parágrafo livrou-me da tentação de fazer – e quem sou eu?... - aprofundadas análises ao “sem sentido “ das guerras - aquelas que enlouquecem, desgraçam, estropiam, matam -, as quais hão-de continuar a massacrar a Humanidade, sem que, incompreensivelmente, as levemos muito a sério. Deixo esse trabalho para os estudiosos e especialistas da matéria, mas, pelo menos, agora que, a pretexto do centenário do nascimento de António de Spínola, se tem falado por todo o país um pouco mais sobre homenagens e honrarias, cuja validade não discuto, quero exortar-vos a não esquecerdes os Antónios Ferreiras - os nossos queridos e verdadeiros heróis, tão ingénuos quanto valentes -, os quais, correndo mil perigos e sofrendo privações de toda a espécie, se aventuravam, dia após dia, nas picadas fartas de minas e armadilhas e nos rios e matas traiçoeiras, uns acabando por sucumbir perante tanta adversidade, outros continuando a suportar estoicamente até ao fim aqueles anos de tortura e pesadelo a que foram condenados. E é bom não ignorarmos que muitos deles, se não a sua esmagadora maioria, tudo fez e suportou na convicção de estar a lutar por uma causa justa e defensora dos princípios sagrados de uma pátria multirracial, una e indivisível, tal fora a doutrina das nossas escolas e igrejas desde a sua mais tenra idade.

A trinta e oito anos de distância temporal dos acontecimentos que lhe deram sentido e forma, deixo-vos, em anexo, com um grande abraço, o pequeno poema que me trouxe até vós, o qual tomo a liberdade de ilustrar com um acrílico da minha autoria, feito a partir da fotografia do António Ferreira, publicada um ano atrás no blogue.

Esposende, 17 de Abril de 2010
Mário Migueis Ferreira da Silva


3. Rosto de Menino

Rosto de menino
Criança traquina
E mataram-te

Vampiros
Filhos da puta
Bando de abutres
Sacanas
Corja de carrascos assassinos!

Corpo chisnado
Em putrefacção
Réstia de pó
Montículo de cinza
E eras vida



Saltinho, 19 de Abril de 1972
Mário Migueis
__________

Notas de CV:

(1) Vd. último poste de Mário Migueis de poste de27 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6057: Parabéns a você (93): Os novos Notáveis do Reino, Sir Charles Vinhal & Sir Edward Mc Ribeiro, armados Cavaleiros da Tabanca Redonda (Mário Miguéis)

(2) Vd. poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4117: A tragédia do Quirafo: 37 anos para fazer o luto pelo António Ferreira (Paulo Santiago / Cátia Félix)

(3) Vd. poste de 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4205: In Memoriam (19): António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, morto em combate no dia 17 de Abril de 1972 (Cátia Félix)

Vd. último poste da série de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6211: In memoriam (40): Pequena Homenagem ao Piu, da CCaç 3520/Cacine (Daniel Matos)

Guiné 63/74 - P6214: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (13): Força, Luís e Camaradas, porque o Blogue é um momento único e inigualável no mundo (Pepito)


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 4 de Abril de 2010 > "Doação para as escolas rurais da Guiné-Bissau". Foto tirada em 6 de Março de 2010.  (Foto reproduzida com a devida vénia...) (*)


I. Legenda: "A 'Memórias e Gentes', associação humanitária portuguesa de Coimbra veio no início de Março de 2010 em expedição terrestre à Guiné-Bissau, trazendo uma importante doação de produtos essenciais destinados aos seus diferentes parceiros locais, os quais terão a responsabilidade de os fazer chegar aos destinatários finais, escolas, hospitais, centros de acolhimento, creches, etc.

"A AD foi contemplada com numerosos cartões contendo livros escolares da 1ª à 9ª classe, brinquedos infantis para as creches e roupa diversificada para raparigas e rapazes, assim como material escolar.

"Na pessoa de José Moreira, presidente da associação, as Escolas de Verificação Ambiental do sector de S.Domingos e o Centro de Animação Infantil de Quelélé em Bissau, passaram a dispor de melhores condições de ensino e material lúdico que encantam as crianças".

 
II. Mandei há dias correio para o Pepito:

1. Aí tens o menino Chico [de Fajonquito]... de que te falei e que faz parte do nosso blogue... Deves lembrar-te dele, espero que por boas razões.

2. Outra coisa: falei ontem, longamente, com a tua mãe.... Falámos do seu tempo de professora no Liceu Honório Barreto...

3. Vê o novo videoclip dos Melech Mechaya... Feito com um orçamento de mil euros.. Putos com talento... Eu adorei, mas sou suspeito:

http://www.youtube.com/watch?v=7q2PdAuu-ls

 4. A Alice quer mandar mais umas roupinhas e sapatinhos para a afilhada de Farim do Cantanhez... Quando é que alguém de vocês passa por Iemberém ? Pode usar de novo a tua caixa postal ?

5. Estive anteontem, 15, no lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló, um notável livro de memórias, honesto, surpreendente... Esteve muita gente, incluindo o Alpoim Calvão... Entre os guineenses, o Bamba, que diz ser teu conhecido, e que foi ministro da saúde pública, num governo vosso, pelo Movimento de Bafatá...Estudou na Ucrânia (Kiev ?) e na Itália. Julgo que é engenheiro da área alimentar, foi um contacto breve, tenho o seu telemóvel.

6. Temos começar a preparar a viagem à tua terra em 2011... Qual seria, no teu entender, o nº ideal de pessoas ? Podia ser uma iniciativa Blogue e AD...

7. No dia 23 de Abril de 2010, vamos fazer 6 ANOS!!! A revista Visão vai publicar, na próxima 5ª feira, um artigo sobre nós...

8. Apanhámos mais um susto com os rapazes (fogosos) do batalhão de Mansoa... Gostei da resposta do povo, que veio para a rua... Sei que vocês tão bem.

Um grande chicoração. Luís

III. Resposta do Pepito:

Luís, Amigo


1. Sinceramente não me recordo do Chico lá no Ministério. Ele diz que não me ouviu no dia 20 de Janeiro (Museu). Esquece-se que eu pratico o mesmo que ele diz:"Eu ainda tenho a sorte de pertencer ao grupo dos anonimos que, no contexto da Guiné, é um grande privilegio"

2. Videoclip dos Melech Mechaya: o nosso sistema de internet está péssimo e lento. Não consegui ouvir, mas logo que melhore fá-lo-ei.

3. Diz à Alice que mande roupa sempre que quizer. Deve é avisar-me para eu estar a par e não se perder nos CTT

4. Viagem 2011: vamos a isto com a parceria Blogue-AD. Por razões de alojamento no sul estava a pensar em 14 pessoas. Se houver mais, melhor. Sempre se arranja solução satisfatória. É como no Blogue, há sempre lugar para mais um, ou como dizia o Zeca, venham mais cinco!

5. Dia 23 de Abril: para a menina Tabanca Grande, uma salva de palmas! Força,  Luís e Camaradas,  porque o Blogue é um momento único e inigualável no mundo.

6. Batalhão de Mansoa: bem quis o Amilcar Cabral que em vez de militares, tivessemos militantes armados. Uma vez acabada a luta pela independência, largavam as armas e continuavam a militar com outras "armas". Foi aí que perdemos a grande oportunidade. Hoje não é só o poder que está na ponta da espingarda. É também a Coca.

abraço amigo

pepito

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 31 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6080: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (12): Guileje, Faro Sadjuma, S. Domingos... Ecoturismo e empreendedorismo no feminino