1. Mensagem de Augusto José Saraiva Vilaça (ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), com data de 10 de Outubro de 2010:
Olá, Luís.
Não sei quem és, mas só por seres ex-combatente na Guiné já diz tudo.
Também lá estive e gostava de fazer parte da tua espectacular exposição. Todos não seremos muitos, mais um será positivo.
Diz-me só o que devo fazer para contribuir para essa nobre página que abriste e colaborarei com fotos e acontecimentos pois sou DFA.
Quem me informou foi o nosso camarada Pimentel. É que só agora optei por ter um computador para me entreter.
Abraço, Luís. Bem hajas.
2. Segunda mensagem de Augusto Vilaça com data de 17 de Outubro de 2010:
Meu caro companheiro, tenho muito gosto em poder participar no historial daqueles que estiveram na Guiné.
Aqui vai resumidamente essa passagem:
Sou: Augusto José Saraiva Vilaça, 66 anos, natural do Porto.
Entrei para a vida militar em 10 de janeiro 1966 para o CISMI - Curso Instrução Sargentos Milicianos Infantaria.
Em Abril, por escolha minha, optando por artilharia, fui tirar a especialidade na EPA - Escola Pratica Artilharia.
Fui destacado para a Guiné, e em 8 Abril 1967 embarquei no Uíge chegando a Bissau em 14 Abril 1967.
Começou aqui a minha história do Ultramar. O nosso capitão Veiga da Fonseca chamou os furriéis, sargentos e oficiais para dar uma lição de ética e de patriotismo.
Saídos de noite do Uige para uma barcaça... sem qualquer tipo de armamento. A meio da noite a barcaça parou devido à bolanha não ter condições para prosseguir! Que ansiedade no meio daquela escuridão toda.
Recomeçámos o andamento até que aportámos em Gadamael. Daí, a Companhia foi dividida, isto é, metade para o aquartelamento, Sangonhá, metade para o acampamento, Cacoca. Isto funcionou como uma adaptação ao terreno. Apanhei o primeiro susto aqui, em Cacoca quando um informador foi dizer ao oficial destacado que se previa uma invasão de turras nessa noite!!! Ficamos todos a tremer e há que tomar posições. Os vigias, de quando em vez, disparavam um tiro de G3 ao ouvirem um ruído no mato!! Isto durante toda a noite.
Clareou. Exaustos, sem saber o que se tinha passado...
O general Schultz, na altura, envia uma mensagem ao nosso capitão com ordem para transferir a Companhia para Cacine, aquartelamento, e Cameconde, destacamento. Calhou-me Cacine.
As primeiras saídas do aquartelamento foram inesquecíveis dado que, aqui nesta zona, havia fortes probabilidades de ataques dos turras.
No próprio dia da chegada a Cacine, ainda não tínhamos tomado conhecimento fisico do quartel quando começaram a "chover" os primeiros rockets... Oh minha mãe, que confusão, que "medo", só os rebentamentos eram temerários. Consegui chegar ao meu abrigo e aí comecei a ripostar com morteiro 120. Passados 10 longos minutos, os turras pararam.
Os principais receios eram: a picada do aquartelamento, em coluna, com segurança de Daimlers para o destacamento e volta; o ir buscar água; as flagelações; as picadas no mato; as emboscadas, etc., etc.
O meu baptismo de fogo real, frente a frente, foi numa emboscada que montámos no famoso corredor da morte em Guileje. Foi "espectacular" a troca de tiros, os rockets.
A minha secção de morteiro mandou algumas "bojardas". O nosso capitão abriu o fogo. Fizemos 4 mortes e recuperámos armas, bazucas e munições. Fizemos "ronco". Fomos aplaudidos em Guileje pelos companheiros que lá estavam.
Muitos soldados, mal chegaram a Guileje, tiveram de mudar de fardamento pois não aguentaram a pressão e ansiedade vividos após a montagem da emboscada até à passagem dos turras.
Infelizmente fui evacuado, em Fevereiro 1968 para o Hospital Militar de Bissau. Fiz os exames normais e foi-me detectada uma úlcera no estômago tendo regressado a Lisboa num
Skymaster da Força Aérea.
Esta enfermidade foi devida ao desgaste, não só emocional como também ao desgaste físico. Podeis ver a foto que envio tirada em Sangonhá.
Só um elogio a um Homem que soube comandar disciplinarmente e ao mesmo tempo amigavelmente uma Companhia. Esse Homem foi o nosso capitão VEIGA DA FONSECA.
2. Comentário de CV
Caro Vilaça, bem-vindo à Tabanca.
Pela tua apresentação verificamos que estiveste na Guiné menos de um ano por motivos de doença. Como se costuma dizer, há males que vêm por bem. Esperamos que não tenham ficado sequelas para o resto da vida.
Apesar da tua saída
airosa, antes do tempo
regulamentar, não te dispensamos da obrigação de nos contares as tuas recordações daqueles meses de luta e privações de toda a ordem.
Se tiveres fotos que julgavas que jamais veriam a luz do dia, manda-as para nós que serão publicadas como novas.
Não nos dizes qual foi a tua Unidade, mas pelas minhas pesquisas pertenceste à CART 1692/BART 1914. No teu próximo contacto esperamos a confirmação.
Na quase certeza de teres pertencido ao BART 1914, deves ter conhecido na tua Companhia o então Alferes António José Pereira da Costa, actualmente Coronel Reformado, nosso tertuliano.
Para saberes como somos e o que queremos com este trabalho, lê o lado esquerdo da nossa página. Podes pesquisar no Blogue utilizando os marcadores disponíveis por locais, autores, Unidades, assuntos, séries, etc. Tens um manancial de informação disponível à tua disposição.
Quero enviar-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7085: Tabanca Grande (247): Alberto José dos Santos Antunes, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2402 (Olossato) e CCAÇ 5 (Canjadude) (1970/72)