Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > CCAÇ 3491 (1971/74) > "Chegada a Galomaro da CCAÇ 3491 [, pertencente ao BCAÇ 3872,] no dia 9 de Março de 1973. No jipe podemos ver o Alf Luís Dias, atrás o Fur Baptista, do 1º Gr Comb, e ao lado, a sorrir, um guerrilheiro do PAIGC que, no dia anterior, se tinha entregado a uma patrulha nossa na área do Dulombi. A arma é uma Shpagin PPSH 41, no calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por "costureirinha" e com a particularidade de ter um carregador curvo de 35 munições, em vez do habitual tambor de 71". (Foto do Luís Dias, reproduzida com a devida vénia, do seu blogue, Histórias da Guiné, 71-74: A CCAÇ 3491, Dulombi.
1. Texto do nosso camarada Luís Dias (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74) que, na vida civil, é Consultor/Formador em Ciências Criminais e de Segurança (Texto organizado a partir de um comentário ao poste P7322) (*):
Caro Luís Graça
Em primeiro lugar os meu parabéns pelo artigo sobre o armamento (*).
Em relação ao diferendo entre a Kalash (**) e a G3, devo dizer-te o seguinte:
(i) A Kalash tem uma ergonomia fantástica e nisso bate a G3;
(ii) É uma arma simples, barata, que trabalha em más condições, possivelmente devido às folgas propositadas no material com que é feita;
(iii) Leva mais munições no carregador, como dizes (30 para 20);
(iv) Mas a cadência de tiro é semelhante (sensivelmente 600 tpm para a Kala e 600 a 700 tpm para a G3);
(v) É uma arma mais curta e portanto mais manobrável;
(vi) Não é tão fiável no tiro de precisão como a G3;
(vii) E no tiro automático (rajada) não é tão equilibrada como a G3 (isto nos modelos AK-47 e AKM, porque a partir do Modelo AK-74, a situação mudou);
(viii) A HkG3A3 era uma arma cara, de mecanismo elaborado, embora também trabalhasse em condições de pouca limpeza e muito comprida para o nosso tipo de guerra;
(ix) A nossa munição era mais poderosa, mas o 7,62mm M43 soviético possuía um filamento
de aço no núcleo do projéctil que o tornava terrível ao entrar no corpo humano;
(x) Por fim e não menos importante, um dos pontos a favor da HK-G3, em relação à Kalash era a passagem da patilha da posição de segurança, para tiro a tiro: enquanto na G3 o movimento era de um clique (silencioso), da arma dos guerrilheiros era dois cliques (a primeira posição era a de fogo automático e só depois se passava para a posição de tiro a tiro) que não eram silenciosos, o que na mata podia fazer toda a diferença.
No caso dos dilagramas e no meu tempo, os nossos Gr Comb usavam-no muito porque percebemos que os rebentamentos eram mais eficazes numa reacção a uma emboscada do que propriamente os tiros de G3.
Os elementos que transportavam os dilagramas usavam um carregador só com munições apropriadas, devidamente identificado com uma fita de cor berrante (amarelo ou vermelho) e nunca, nunca, usavam só uma munição para atirar um dila e depois tinham a seguir bala real.
Os lançamentos eram efectuados ao ombro, com arma a 45%, e depois do disparo, contando rapidamente até 12/15, dava-se o rebentamento.
Sobre a bazooka, que nós deixámos de usar no mato (só em colunas e em defesa do aquartelamento), já tínhamos granadas energa (de ponta de mola) que eram anti-pessoaL e que davam um coice terrível, sendo normalmente atiradas com a arma apoiada à anca.
Fiquei muito satisfeito de saber que o meu poste sobre armamento foi muito lido.
Um abraço
Luís Dias
[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 23 de Novembro de 2010 >Guiné 63/74 - P7322: A minha CCAÇ 12 (8): O armamento do PAIGC no meu sector L1 (Bambadinca, 1969/71)
(**) Vd. poste anterior desta série > 29 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6909: Kalashnikovmania (1): Foi o Alf Graduado Comando João Uloma quem me emprestou uma Kalash (António Inverno)