segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7388: Efemérides (55): Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné (1) (Magalhães Ribeiro)

1. Em conversa com o nosso Camarada Luís Graça, eu havia-lhe dito que possuo no meu espólio documental da Guiné, de várias fotos e documentos alusivos à cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné, onde como sabeis eu, Eduardo José Magalhães Ribeiro, fui Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974. Como só agora acabei de ordenar e identificar as fotografias, inicio hoje a sua publicação.
Camaradas,
Esta matéria sobre a cerimónia simbólica da transição da soberania nacional na Guiné, para o P.A.I.G.C., foi já aqui ligeiramente abordada no blogue e vou agora desenvolvê-la na totalidade.
Devido ao seu peso informático (40 fotografias e 2 documentos históricos) terá que ser dividida em 5 postes, que tentarei colocar durante a semana que vem para que, aquelas pessoas que acompanharem a leitura, não percam a sequência de factos e fotos.
Ao iniciar esta série não posso deixar de registar o meu pensamento sobre as origens da guerra, de modo apolítico pois além de não sentir qualquer simpatia, ou nostalgia, pelo regime que cessou em 25A74, também, infelizmente, não me revejo, minimamente, nas palavras, atitudes e procedimentos dos actuais líderes dos partidos políticos da nossa tão mal servida Pátria.
Assim, resumida e pessoalmente, penso que:
O ULTRAMAR PORTUGUÊS ERA UM LEGADO HISTÓRICO DA EXPANSÃO PORTUGUESA, ANCESTRAL, REGADA COM O SACRIFÍCIO, SUOR E SANGUE DE REIS, DESCOBRIDORES, AVENTUREIROS E GUERREIROS, DESTEMIDOS, OUSADOS E VALENTES, QUE PERCORRERAM O MUNDO, LÉS A LÉS, DESCOBRINDO NOVOS MUNDOS, NOVOS POVOS, NOVOS PRODUTOS, MATERIAIS, ETC. E QUE, AO LONGO DOS SÉCULOS, FOI SENDO POVOADO E DESENVOLVIDO POR MILHARES DE PORTUGUESES, OUSADOS E DESTEMIDOS TAMBÉM ELES, À PROCURA DE UMA TERRA QUE LHES DESSE O QUE NÃO ERA DADO NO CONTINENTE, PARA SI E SEUS FILHOS E, ACIMA DE TUDO, MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA.
Revolta-me, irrita-me e desgosta-me profundamente, ler e ouvir tanto dislate e tanta burrice em inúmeras declarações de ex-Combatentes, que, ou são ignorantes, ou são ressabiados e, ou, fantoches apalhaçados de certas filosofias partidário-políticas.
E se os idiotas estão perdoados por motivos óbvios, já o mesmo não se pode dizer dos ressabiados que com as suas serventias lacaias, deturpam factos e acontecimentos que, de algum modo, podem vir a ser fatais à honestidade, lealdade e veracidade que se exige nos registos paginais que a esta matéria são, e serão, dedicadas na História de Portugal.

O fim do Império português na Guiné
Pertenci à C.C.S. - Companhia de Comandos e Serviços -, do Batalhão de Caçadores 4612/74, que foi o último batalhão que partiu para a Guiné, e também o último que de lá saiu, em Novembro de 1974, no navio Uíge.
Um dos objectivos deste contingente foi substituir o BCAÇ 4612/72, que se encontrava a prestar serviço há 22 meses na região de Mansoa e a sua última missão consistiu em assegurar a evacuação do dispositivo militar, que se encontrava estacionado naquela ex-província ultramarina portuguesa (cerca de 27 mil homens), e testemunhar alguns factos históricos.
Entre eles vou narrar um, enriquecido com 40 fotografias, que aconteceu em 9 de Setembro de 1974 - a entrega do aquartelamento de Mansoa ao P.A.I.G.C., que incluiu uma muito concorrida cerimónia oficial do último arriar da bandeira nacional e o hastear da primeira bandeira da Guiné-Bissau (simbolizando o surgir de uma nova nação), facto este que, ao mesmo tempo, incluiu a oficialização da transferência da soberania neste território.
MANSOA, 9 de Setembro de 1974
Como é do conhecimento geral, principalmente para aqueles que acompanharam as notícias, após a revolução de 25 de Abril de 1974, sobre a evolução da situação dos conflitos em África, foram quase de imediato iniciadas negociações com os movimentos de libertação, que combatiam as tropas portuguesas e que tem vindo a ser designada, ao longo dos anos, por Guerra do Ultramar ou Colonial (nas frentes de Angola, Guiné e Moçambique).
Assim, após várias reuniões para o efeito foi decidido que na Guiné, o poder administrativo, político e económico, seria transferido para os guerrilheiros do P.A.I.G.C., incluindo-se a cerimónia oficial durante a entrega do aquartelamento de Mansoa, como foi referido no dia 9 de Setembro de 1974.
Estiveram presentes nessa cerimónia; os militares da C.C.S. do batalhão 4612/74 comandada pelo major Ramos de Campos, o CMDT do mesmo batalhão – ten cor Américo C. Varino -, um bi-grupo de combate do P.A.I.G.C., um grupo de pioneiros do mesmo partido, Amélia Araújo (Maria Turra), Ana Maria Cabral (viúva de Amílcar Cabral) e seu filho, vários comandantes dos sectores norte, centro e sul do P.A.I.G.C. e suas mulheres, o comissário político do P.A.I.G.C. - Manual Ndinga e - em representação do C.E.M.E. do C.T.I.G. -, o major Fonseca Cabrinha.
À cerimónia compareceram ainda uns largos milhares de nativos locais, de diversas etnias: papéis, balantas, fulas, futa-fulas, mandingas, manjacos, etc., e umas dezenas de jornalistas de todo o mundo.
A bandeira foi arriada por mim e desta cerimónia possuo 40 fotografias, que me foram oferecidas por um dos fotógrafos suecos.
Este acontecimento foi gravado em filme e pode ver-se inserido na série televisiva: Século XX Português, da SICnotícias – Episódio sobre a “Descolonização”, acompanhado de uma entrevista guiada pelo jornalista Mário Augusto, sobre diversos factos por mim vividos nesse tempo.
P.S.: Segundo vim a saber posteriormente, após a saída do BCAÇ 4612/74 ficaram ainda em Bissau, durante mais algum tempo, dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, um na já ex-BA 12 - em Bissalanca e outro nas instalações que eram da Marinha, colaborando na transição e transmissão de técnicas, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do P.A.I.G.C.


Anexo à Ordem de Serviço da CCS do BCAÇ 4612/74, do dia 6 de Setembro de 1974, assinado pelo Comandante da Companhia - Capitão António Marques Fontes -, que determinava a distribuição do pessoal de serviço, na entrega do aquartelamento e as respectivas competências de cada um. A mim, um Operações Especiais, tocou-me entregar: a cantina, a arrecadação de géneros e o refeitório, por o vaguemestre ter sido evacuado devido a doença (cirrose).


Eu a dirigir-me para o meu posto e ao fundo pode ver-se a porta-de-armas e a massiva afluência de populares que queria ser os primeiros a testemunhar in locco os factos

O Fur Mil Mec Armamento Fernandes, distribuindo entre os guerrilheiros do PAIGC, várias metralhadoras portuguesas HK-21, para eles montarem a segurança dos seus homens, no quartel, durante a cerimónia

A chegada de uma viatura, proveniente de Bissau, com um grupo de pioneiros do PAIGC


Abertura da cancela da porta-de-armas ao povo


Muitos populares foram contidos à distância e em respeito por alguns guerrrilheiros do PAIGC, podem ver-se à frente os djubis locais


A formação ordenada dos pioneiros (juventude educada e doutrinada) do PAIGC

Dois jovens pioneiros

Duas jovens pioneiras


As mulheres dos comandantes dos sectores operacionais norte, centro e sul do dispositivo militar territorial do PAIGC


Outro aspecto das mulheres dos comandantes dos sectores operacionais norte, centro e sul do dispositivo militar territorial do PAIGC
(continua)
Um abraço,
Magalhães Ribeiro
ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74

Documentos e fotos: © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7387: Os Anos da Guerra Colonial (1961-1975), de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (1): Um obra enciclopédica, de 838 pp.


Título: Os Anos da Guerra Colonial (1961 - 1975) (*)
Autores: Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes
Editora: Quidnovi
Local: Matosinhos
Ano: 2010
Formato: Brochado
Nº pp.: 838
Preço de cappa: c. 45€

Infelizmente não pude estar presente, por razões profissionais,  na sessão de lançamento do livro dos nossos camaradas Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, no passado dia 29  de Novembro (*). Gostaria de ter podido lá estar, para dar um abraço a estes dois autores, e manifestar-lhes o meu apreço e o meu respeito pelo seu labor enciclopédico e historiográfico.

Já conheço o essencial da obra, através dos 16 volumes que foram lançados em 2009 pelo Correio da Manhã, sob a chancela da QuidNovi. Mas sei que o livro, de 838 pp.,  traz algumas melhorias (e correcções) em relação à edição anterior,  distribuída em fascículos. De qualquer modo, ficam aqui os nossos votos de sucesso para mais esta obra monumental  de historiografia da guerra colonial que passa a ser de incontornável referência.

O livro conta ainda com a colaboração do historiador catão Joseph Sánchez Cervelló (que conheci em Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de Março de 2008, foto à esquerda, na Amura, com o Matos Gomes; fez o seu doutoramento com uma tese sobre a Revolução Portuguesa e sua Influência na Transição Espanhola, 1961-1976, de que há um livro, em português, editado pela Assírio e Alvim, 1993).A colaboração é ainda extensiva aos portugueses David Martelo, Nuno Santa Clara Gomes, João Moreira Tavares, Sandra Araújo e Dulce Afonso. 

Sinopse

Saber o que aconteceu durante os anos de 1961 a 1975, os anos em que a Guerra Colonial esteve no centro da nossa História, das nossas vidas. Saber o que aconteceu em cada um dos locais onde a guerra foi travada, nas “picadas” mais perigosas, nas “matas” do Norte de Angola e de Moçambique, nas “chanas” do Leste, nas “bolanhas” da Guiné, a bordo de navios e lanchas, de aviões e de helicópteros. Saber o que pensaram os homens que decidiram a guerra, que a conduziram, que a fizeram de ambos os lados. Mas pretendemos também Compreender. Compreender por que foi assim que os factos aconteceram, por que foram escolhidas estas soluções e não outras. Compreender as dúvidas dos homens que tiveram de decidir num momento o caminho a seguir e ajudar a perceber as consequências dessas decisões. É, pois, sobre o Saber mais e o Compreender melhor os anos da Guerra Colonial que trata esta obra.

Sobre os autores:


ANICETO AFONSO

(i)  Coronel do Exército na situação de Reforma; 
(ii) Nasceu em Vinhais em 1942;
(iii)  Fez os estudos secundários em Bragança;
(iv) Concluiu o curso de Artilharia da Academia Militar em 1963;
(v) Cumpriu comissões em Angola (1969-71) e em Moçambique (1973-75);
(vi) Fez a licenciatura em História pela Faculdade de Letras de Lisboa em 1980 e o Mestrado em História Contemporânea de Portugal pela mesma Faculdade em 1990;
(vii) Foi professor de História na Academia Militar de 1982 a 1985 e de 1999 a 2005;
(viii) Foi director do Arquivo Histórico Militar (Lisboa) de 1993 a 2007, integrando vários grupos de trabalho e comissões relacionadas com os arquivos militares, a documentação e a História;
(ix) Foi responsável pelo Arquivo da Defesa Nacional de 1996 a 2007;
(x) É membro da Comissão Portuguesa de História Militar e do Comité dos Arquivos da Comissão Internacional de História Militar, desde 1998; 
(xi) É investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e autor de várias obras, incluindo O Meu Avô Africano, editado pela Casa das Letras (2009).

CARLOS DE MATOS GOMES  [, foto à esquerda, Guiné-Bissau, Bissau, Amura, 7 de Março de 2008. Foto de L.G.]

(i) Coronel do Exército, na situação de reserva;
(ii) Nasceu a 24 de Julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha;
(iii) Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Álvares, de Tomar e o curso de Cavalaria da Academia Militar;
(iv) Durante a guerra colonial cumpriu três comissões, em Moçambique, Angola e Guiné, nas tropas “Comando”;
(v) Foi ferido e condecorado;
(vi) Foi auditor do Curso de Defesa Nacional, do Instituto de Defesa Nacional;
(vii) Paralelamente à carreira militar desenvolveu desde 1983 uma continuada actividade literária, tendo escrito argumentos, romances e várias obras de cariz histórico; como ficcionista usa o pseudónimo Carlos Vale Ferraz, entre eles o Nó Cego, considerado já um clássico não só da literatura da guerra colonial, como da literatura lusófona.


Fonte: Adapt. parcialmente de Quidnovi



Lisboa > Centro Comercial Plaza, nas Picoas > Livraria Bertrand  > 30 de Novembro de 2010 > 18,30 h > Sessão de lançamento do  livro “Os Anos da Guerra Colonial, 1961-75”, da autoria dos nossos camaradas Aniceto Afonso e Carlos Matos, editado pela QuidNovi. Na mesa,  da esquerda para a direita: Joaquim Furtado (apresentador da obra), Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso (autores)

Foto: Cortesia de QuidNovi (página no Facebook) (**)
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 25 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7332: Agenda Cultural (91): Lançamento do livro Os Anos da Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 30 de Novembro de 2010 na Bertrand Picoas Plaza, Lisboa (Carlos Matos Gomes)
 
(**) A QuidNovi, com sede em Matosinhos, é  "uma editora especializada na produção de livros e outros conteúdos para venda associada a jornais". Desde a sua fundação, em 1995, a editora tem colaborado regularmente com todos os principais jornais e revistas portugueses.


O sucesso deste projecto  levou a empresa A dar um novo passo, criando paralelamente uma "editora tradicional", orientada para o mercado livreiro. A  QuidNovi surge assim, em 2005, "com esta nova faceta, marcando presença no mercado editorial português, com um catálogo diversificado, onde se tem destacado sobretudo pela colecção de autores portugueses, com vários títulos premiados e muito elogiados pela crítica".




domingo, 5 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7386: Convívios (286): Novo Encontro da Tabanca da Linha (2) (Benjamim Durães/Luis R. Moreira/António Marques)


1. O nosso Camarada Luís Rodrigues Cardoso Moreira (ex-Alf Mil Sap da CCS/BART 2917, Bambadinca e BENG - 1970/71), em sintonia com os nossos camaradas Benjamim Durães (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca - 1970/72), e o António Marques (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 12 – Bambadinca - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem em 4 de Dezembro de 2010:

Novo Encontro da Tabanca da Linha

Boa tarde,  Guinéus de Portugal,

Estou a contactar-vos para divulgar mais este encontro de parte da malta que milita na Tabanca Grande, em boa hora fundada pelo Luís Graça, e que reside na zona de Lisboa e arredores.
Para os que não sabem,  já existem várias filiais da Tabanca Grande como sejam a Tabanca de Matosinhos e a Tabanca dos Melros no Grande Porto, a Tabanca do Centro com sede em Monte Real, a Tabanca da Lapónia na dita e esta a Tabanca da Linha com sede em Cascais.
Já fui a um convívio à de Matosinhos e a 2 à do Centro sempre na companhia do António Marques, agora mais conhecido por Fernando, e também já estive em Cascais.
Portanto convido-vos a inscreverem-se neste repasto. Afinal 20 aéreos não custam muito a dar, e sempre se passam algumas horas de sã camaradagem e sempre dá para nos vermos mais vezes já que os almoços das companhias são apenas 1 por ano.
As inscrições podem ser feitas para mim, para o Marques ou para o Zé Dinis.
A todos que têm contactos do pessoal de Bambadinca peço que divulguem pelos camarigos que residam na zona e possam estar interessados neste ou em próximos convívios.
Um abraço,
Luís Moreira
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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7385: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (4): "A História, tal como a ficção, não pode ficar em suspenso sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido" (António-Pedro de Vasconcelos)



Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Intervenção do realizador de cinema António-Pedro de Vasconcelos, a quem coube a apresentação  do livro, A Última Missão, de José Moura Calheiros, Cor Pára Ref (*). 


A obra tem a chancela da Editora Caminhos Romanos, com sede no Porto. O texto do discurso do cineasta chegou-nos às mãos, enviado pelo Moura Calheiros  [, foto à direita, ] com a seguinte nota: "Talvez tenha interese para o blogue, segue em anexo a intervenção de António-Pedro Vasconcelos, que é uma brilhante peça literária".


Com a devida autorização do próprio, queremos também partilhar aqui, no nosso blogue, as quatro páginas do discurso de um dos nomes mais conhecidos do moderno cinema português (**) para quem "a História,  tal como a ficção, não pode ficar em suspensa sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido"... É esse também o sentido do livro deste militar que honrou a sua Pátria e as forças pára-quedistas que comandou nos três teatros de operações, em África, de 1961 a 1974. (LG)




Capa do livro de José Moura Calheiros (Porto: Editora Caminhos Romanos, 2010)




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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7375: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (3): Sítio promocional



(**) António-Pedro de Vasconcelos (nascido em Leiria, em 1939), um dos realizadores que impulsionaram o movimento do chamado Cinema Novo, em Portugal. Foi autor, entre outros filmes,  do documentário Adeus até ao Meu  Regresso, de 1974.


«Filme para televisão, Adeus até ao Meu Regresso é um dos testemunhos da viragem no interior da RTP que o 25 de Abril provocou. Parafraseando, no título, a frase feita com que inúmeros soldados portugueses davam as suas 'mensagens de Natal' (na televisão) durante o período da guerra colonial, Adeus até ao Meu Regresso faz-se e estreia-se precisamente quando, pela primeira vez, a guerra dava lugar à paz e os soldados regressavam enfim: em Dezembro de 1974.


"Através do testemunho de soldados que haviam vivido a guerra na Guiné (a primeira colónia portuguesa a obter a independência após o 25 de Abril), António Pedro Vasconcelos dá-nos a dimensão de um conflito armado mas sobretudo o que dele restava na consciência do povo. Da revolta à resignaçâo, dos traumas às dúvidas, das afirmações às interrogações. Documento agarrado ao vivo, em cima da dor e do regresso, este filme é bem o retrato da retaguarda e da memória da guerra colonial, o único que, curiosamente, o cinema português ousou fazer.»  Fonte: Jorge Leitão Ramos, in  Dicionário do Cinema Português 1962-1988, Lisboa: Caminho, 1989.

Guiné 63/74 - P7384: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (1): Dias 18 e 19 de Novembro de 2010

OPERAÇÃO TANGOMAU - ÁLBUM FOTOGRÁFICO (1)

Dias 18 e 19 de Novembro de 2010

Beja Santos

Átrio do Palácio Presidencial, na actualidade: fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

Interior do Palácio Presidencial II, na actualidade: fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

Morcegos instalados no tecto do átrio do Palácio Presidencial: fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

A linda fonte em pedra do jardim em completa degradação do Palácio Presidencial: fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

Fachada da UDIB na actualidade: fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

Não há ninguém que não faça louvores à Avó Berta: fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

A Avó Berta e eu depois da choradeira: fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

Parede da sala de jantar da Pensão Central: são só homenagens à Avó Berta. Fotografia tirada na manhã de 18 de Novembro

A Maria Fausta, a mulher do Abudo Soncó, à porta de uma cantinha do Bairro Militar: fotografia tirada na tarde de 18 de Novembro

Tumblo Soncó à porta de uma cantina do Bairro Militar: fotografia tirada na tarde de 18 de Novembro

Barbearia Chiado, no Bissau Velho. Aqui cortei o cabelo por 2€. É por estas e por outras que eu quero voltar à Guiné: fotografia tirada na tarde de 18 de Novembro

Fachada da Pensão Lobato: quem vê fachadas não vê interiores. Fotografia tirada na manhã de 19 de Novembro

Fachada do Centro de Medicina Tropical, que foi uma entidade de referência da cooperação portuguesa. No conflito político-militar o Centro foi duramente atingido. Fotografia tirada na manhã de 19 de Novembro

O que resta do grande Hotel de Bissau: Fotografia tirada na manhã de 19 de Novembro

Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Direitos reservados.
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Nota de CV:

Vd. poste de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7379: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (2): O primeiro dia em Bissau

Guiné 63/74 - P7383: Blogpoesia (93): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (9) (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  2 de Dezembro de 2010: 

Carlos,
Aqui seguem mais meia dúzia de sextilhas relacionadas com o tema supracitado.

Abraço
manuelmaia


QUISERA EU... (9)

Quisera ter de um vate o saber, veia,
p`ra enaltecer a bela epopeia,
por terras da Guiné, da tropa lusa...
Criar venustos versos de eloquência,
cantando a paz, o fim à violência,
bebendo ensinamentos de uma musa...


A guerra também foi tempos de paz,
de são convívio, que a amizade traz,
tu cá tu lá, com africanas gentes...
A "guerra" foi solidariedade,
apoio dado em hora de verdade,
nas áreas em que mais eram carentes...


A "guerra" foi ensino e foi saúde,
comida e protecção dada amiúde,
a "guerra" foi um raio de esperança...
Protagonistas lembram com saudade,
o clima, o cheiro, as gentes, a amizade,
prazer de ver sorriso de criança...


Mau grado horrores, medos, sofrimento,
a guerra também deu conhecimento
a quantos nela um dia se embrenharam...
Foi ela a permitir-me conhecer
paisagens belas, lindas de morrer,
que os olhos regalados registaram...


Que em ritual de vida se consagre,
o renascer diário, qual milagre,
trazido pela aurora da manhã...
A sinfonia alegre inigualável,
trinado, pio, grito admirável,
nas margens junto ao rio Cumbidjã...


Enquanto o lindo ocaso multicor,
soltando últimos bafos de calor,
não fechar ciclo vida, um`outra vez...
Em sincronia, as aves estão bailando
e os símios, galho em galho ali saltando,
na mata desse belo Cantanhez...

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7374: Blogpoesia (91): Peregrinação (Manuel Maia) (3): Cabo Miliciano, o eterno explorado

Vd. último poste da série Quisera eu... de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7263: Blogpoesia (85): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (8) (Manuel Maia)

Vd. último poste da série Blogpoesia de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7380: Blogpoesia (92): Sinfonia (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P7382: (Ex)citações (115): No caso da Guiné, interessa-me a verdade histórica, a verdade dos factos, o que realmente aconteceu (António Graça de Abreu)

Comentário de António Graça de Abreu* (ex-Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74),  ao Poste 7381, no dia 5 de Dezembro de 2010:

Meu caro Zé Brás
Gosto do que escreves, és um homem inteligente e sensato.
Mas leio, palavras tuas:

Cada um assumindo que a verdade não é coisa só sua, nem necessariamente sua, porque é sempre feita de muitas verdades e de algumas mentiras.

Então a verdade também é feita de mentiras? No caso da Guiné, não me interessa especular sobre os abstractos conceitos de verdade, cada um tem o seu e que lhe faça bom proveito. No caso da Guiné, interessa-me a verdade histórica, a verdade dos factos, o que realmente aconteceu. Foi isso que fez o António Martins de Matos, provando com o seu testemunho de 500 missões nos céus da Guiné, que o PAIGC jamais dispôs de Migs.

Se consultares o blogue lá mais para trás, 2006, 2007, 2008 vai ficar surpreendido com as "verdades falsas" defendidas por alguns camaradas.Desde os mapas a vermelho mostrando que o PAIGC controlava 3/4 do território, aos aviões pós-strela que deixaram de voar, aos red-eyes que os americanos não nos queriam vender para abatermos os Migs do PAIGC, aos planos de evacuação de parte do território, enfim, "verdades."

Eu tive uma larga e rija polémica com Mário Beja Santos que justificava, à sua maneira, a tese da derrota militar das tropas portuguesas. Não era a verdade dele contra a minha verdade. Interessava-me a verdade histórica, os factos, o que realmente aconteceu. Só assim nos entendemos.

A não ser, que como dizes, "a verdade é feita de muitas verdades e de algumas mentiras."
Cada homem é um mundo, sabemos bem que cada um constrói as verdades que lhe dão jeito, mesmo que sejam inverdades.

Mas não é disso que estamos a falar, é da verdade histórica. Poe exermplo,da existência,ou não, durante a Guerra na Guiné de Migs do PAIGC.
Foi isso que fez o nosso tenente-general.

A tese (falsa) da derrota militar na Guiné tem tido muitos seguidores.Consulta o blogue lá para trás. Vais ter surpresas.
Para não chover mais no molhado dos nossos camaradas do blogue, recomendo-te a leitura do editorial do jornal Expresso, no dia 22 de Setembro de 2001, da pena do então seu director José António Saraiva. Diz ele:" Veja-se o que aconteceu na Guiné onde o exército português foi irremediavelmente batido."
É um juízo mentiroso, uma daquelas mentiras que de tão repetida passa a ser "verdade."
É também uma ofensa a todos nós, exército,marinha e força aérea que em 1972/74 não fomos "irremediavelmente batidos."

Que respeito têm por nós as gerações mais novas se os seus pais e avós foram "irremediavelmente batidos"?
Esta não é a verdade, a verdade histórica, a verdade da nossa História.
Porquê, quase sempre por razões de natureza política, continuar a falsificar a nossa História?

Um abraço,
António Graça de Abreu

PS: - Se os editores do blogue, considerarem oportuno poderiam publicar este comentário como poste.
Não para reavivar polémicas de guerras perdidas ou ganhas. Essa não é a questão, nem entro mais nisso. Mas para que estas minhas palavras sejam um pequeno contributo para entendermos o que realmente aconteceu, os factos, a verdade histórica.
Vejam como recentemente o nosso António Rodrigues, um dos trinta e tal bravos de Copá, veio ao terreiro do blogue repôr a verdade dos factos, contar o que verdadeiramente aconteceu em Copá,Janeiro/Fevereiro de 1974 e que tem sido tão deturpado e falsificado em livros que abordam o tema. Até o Virgínio Briote veio honestamente pedir desculpa por uma análise não verdadeira do sucedido, induzido em erro pelo que escreveu uma pretensa testemunha dos factos.

Acabei.

Forte abraço,
António Graça de Abreu
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7034: Carta aberta a... (1): Camarada (de armas) António Lobo Antunes (António Graça de Abreu)

Vd. último poste da série de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7381: (Ex)citações (114): Ainda os Mig... heróis e outras coisas (José Brás)

sábado, 4 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7381: (Ex)citações (114): Ainda os Mig... heróis e outras coisas (José Brás)

1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 4 de Dezembro de 2010:


AINDA OS MIG
...heróis e outras coisas

Dizem que debaixo dos pés se levantam os trabalhos e, às vezes até parece verdade!
Digo isto a propósito do excelente texto do Tenente General António Martins de Matos sobre a alegada existência de MIG's nas mãos do PAIGC para passar a uma fase nova da sua luta contra nós, já se vê.
E digo-o excelente, o texto, não apenas por uma das suas vertentes, a da análise objectiva sobre a possibilidade de ser ou não ser verdade tal informação. Digo-o também porque por ser credível e metodicamente objectiva, não perde objectividade na fluidez e na leveza da palavra escrita, outro dos motivos porque acho excelente o texto.

Foi bom ler todos os comentários dos camaradas reconhecidamente de visões diferenciadas, deixaram, comungando da mesma opinião que eu tenho sobre o texto e Martins de Matos tem sobre a verdade dos MIG.

É necessário reconhecer nesta identidade, duas questões que a justificam, para além da qualidade do texto do camarada Martins de Matos.

Primeira, a constatação de que vimos todos amadurecendo neste debate, cada um assumindo que a verdade não é coisa só sua, nem necessariamente sua, porque é sempre feita de muitas verdades e de algumas mentiras, de formas diferentes de abordagem à realidade e até de recepção diferenciada de cada um que viveu peripécias da guerra, no mesmo local e no mesmo momento.

Segunda, porque vamos também lendo e vendo, tomando nota de coisas que, isolados no mundo que nos construiu individuais, desconhecíamos, alargando a visão por cima das copas das árvores que nos cercavam então e limitaram o nosso crer.

É bom acompanhar essa mudança gradual na postura dos antagonismos, não porque seja possível alguma vez rasoirar o pensamento colectivo matando o indivíduo, mas porque assumindo diferenças e respeitando-as, em muitas coisas da vida nos irmanamos e criamos essa tal cultura como povo.
Seria sempre impossível chegar a um estágio relacional como este sem o convívio aberto, plural e fraterno que a Tabanca Grande veio criar, juntando-nos e pondo-nos ao mesmo tempo em contraste e comunhão.

Aqui chegado e retornando ao texto e aos comentários, eis senão quando... e é aqui que se justificam os pés e os trabalhos, aparece o comentário absolutamente dissonante na sinfonia.
Digo dissonante, não por recusar que mesmo a dissonância possa trazer harmonia à peça, antes pelo contrário, se colocada no tempo e espaço musical apropriado, mas porque, aqui veio recuperar questões mais que debatidas e quase arrumadas nas prateleiras próprias, velhas formas de humor, palavras exageradas e mesmo alguma provocação com a história do "ganhámos ou perdemos".

Estou a referir-me ao comentário de Luís Dias.

Diz ele: - Será desta que alguns deixam de nos impingir a estrondosa derrota militar, que nos estava preparada pelo PAIGC.

E eu devo confessar que nunca ouvi, aqui ou noutro sítio, alguém falar de estrondosas vitórias fosse de quem fosse, a não ser ao próprio PAIGC, coisa que compreendo e desculpo.

Depois introduz ainda essa "FORMA BEM MILITAR" de contar a realidade, enfiando de rompante a ideia de "castas", de militares e paisanos, bem entendido, quiçá, de novo a imagem do bando.

E fecha ainda pior, em meu entender, quando se refere à forma de contar "muito à portuguesa", está visto pelo andar da carruagem, numa sugestão "para bons entendedores" de que à portuguesa é militar e militar apenas numa faixa da visão sócio-politica, e que todos os outros são traidores à pátria, aliás, pensamento muito próprio de toda a classe de ditadores ou de hipotéticos ditadores.

Devo dizer que o comentário fica com quem o fez, evidentemente, não podendo responsabilizar por ele, se não ao próprio que o produziu.
Se querem a minha opinião, que aliás, venho defendendo faz muito tempo, mais pela via da interpretação da história da humanidade do que pela apreciação militar, acredito que seria possível aguentar por mais tempo aquela guerra, e até entalar o PAIGC numa situação de capitulação, dado o enorme desgaste que há-de provocar física e psicologicamente num grupo não muito homogéneo em termos de consciência política, ideológica e religiosa, o prolongamento da luta dura que travavam connosco.

Contudo, poderemos chamar a isso uma vitória nossa?

Podemos, se nos fecharmos no casulo da visão puramente militar e local, e em tempo determinado.

Podemos, se não quisermos pesar todo o mal que se acumulou no nosso próprio povo, no desenvolvimento civilizacional, nos meios desperdiçados em destruição, desviados da educação, da modernização da estrutura económica, da saúde e da cultura, nos doía lados da contenda.

Mas se olharmos o próprio País que sustentava a guerra e que é o nosso, se analisarmos cruamente a situação económica e política, o esgotamento de meios humanos e materiais, o crescente isolamento internacional, tal vitória sabe muito ao amargo da derrota, excepto para esses epígonos da imagem heróica da raça e da guerra; desses apóstolos guerreiros de um império que, aliás, nunca foi concretizado.

Mesmo assim, uma vitória arrancada no terreno da guerra com as consequências que se aludem acima, nunca seria uma vitória final e definitiva, porque atrás desta derrota, um PAIGC ou outro qualquer movimento havia de voltar à luta, perseguindo um qualquer ideal de pátria sua.

Muitas vezes, quem fala de guerra colonial, circunscreve o conceito aos últimos treze anos da nossa presença em África, ignorando que nos longos quinhentos que durou a ocupação, nunca em mais de cinco anos seguidos, deixou de haver movimentos de revolta localizados e mesmo grandes movimentações que aliaram tribos por vastos territórios contra o ocupante.

E creio que é disto, desta visão da história que falam os tais a quem Luís Dias, por sugestão, alia a visão da derrota. E se é disto, é necessário dizer da persistência do seu erro, ainda que não fosse por outra verdade, também porque no seio desses há verdadeiros e inegáveis heróis, condecorados várias vezes por feitos de guerra no cumprimento das obrigações que lhes estavam cometidas por serem portugueses, uns, militares profissionais e outros, até, militares a contra-gosto.

Não sei exactamente o que é que levou Spínola à crença da derrota, ou, pelo menos, da impossibilidade de vitória.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)

Vd. último poste da série de 27 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7348: (Ex)citações (113): Achas para a fogueira, ou a influência dos movimentos independentistas na política interna de Portugal (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P7380: Blogpoesia (92): Sinfonia (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa* com data de 3 de Dezembro de 2010:

Boa-noite Editor e Amigo Carlos Vinhal!
Mais uma vez tomo a liberdade de enviar um pequeno poema alusivo ao espaço em que vivi na minha juventude, e faço-o acompanhar de uma foto minha, desse tempo.
Espero que me perdoem a minha paixão por esse pedaço, que na sua tranquilidade me transmitiu a Paz e o sossego que tanto aprecio.
Adolescente, aceitei como um prémio esse canto onde os pássaros cantavam comigo a alegria de ser jovem.
Homenageio a vida, a Paz, a terra, o Sol, a água, as aves, as flores, e todos os que me ajudaram a encontrar na Natureza, tudo o que preciso para ser feliz.

Muito Obrigada.


SINFONIA

Por cada pedra
Por cada rua
Por cada árvore nua
Por cada flor ressuscitada
Nas acácias da estrada
Por onde passei tanta vez!
Por cada ruga observada
Nos rostos que eu encontrava
Queimados pelas intempéries,
Por cada eucalipto que crescia
Mais à frente, nessa estrada
Aonde o vento uivava
Nos Invernos que fazia.
Por cada dia de Sol
Que nascia sorridente.
Pela água que corria
No ribeiro onde cantavam
As rãs que me conheciam
E onde com elas cantava.
Pelo ar que respirava.
Pelo aroma da erva
e das árvores floridas.
Pelas asas que voavam
ao redor da nossa quinta.
E pelas noites de encantar,
mais belas que o próprio dia,
eu compunha… se soubesse…
uma eterna Sinfonia!..


Felismina Costa
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7336: Blogoterapia (167): Manhãs de Outono (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7374: Blogpoesia (91): Peregrinação (Manuel Maia) (3): Cabo Miliciano, o eterno explorado

Guiné 63/74 - P7379: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (2): O primeiro dia em Bissau

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Dezembro de 2010:

Malta,
Os pequenos almoços na Pensão Lobato eram insuficientes e o meio envolvente melancólico, até soturno. Mas eu estava impaciente para calcorrear Bissau, sabendo de antemão que os dissabores seriam em maior número que os sabores. E naquele primeiro dia não era nada agradável dizer à Maria Fausta que o Abudu está mesmo muito doente, incapaz de viver na Guiné, quem já teve dois enfartes do miocárdio não pode acreditar em milagres no Hospital Simão Mendes.

Hoje seguem em separado as fotografias que tirei no primeiro dia de Bissau.
Ficarão com o copyright do nosso blogue.

Um abraço do
Mário


Operação Tangomau (2)

Beja Santos

O primeiro dia em Bissau

1. Cedo o Tangomau descobriu que o conflito que se instalara entre ele e a casa de banho da Pensão Lobato tem muito a ver com o sentimento de resignação e indiferença do povo guineense. Tomara um duche que esbanjava metade da água, a água esguichava e escapava-se na junta entre a serpentina e o punho. Mal se arranjou, informara a governanta da situação e pedira que pusessem uma lâmpada no corredor, por duas vezes tropeçara, com risco de estampanço. Resposta, com sorriso: “Não há problema, vou avisar o patrão, não custa arranjar”. Se era para o sossegar, não sossegou. Nada foi arranjado, ao terceiro dia estava tudo na mesma, era uma estragação de água, não se percebe porque é que não há uma alma que ensine a remover teias de aranha e as manchas da sujidade, cogitou o Tangomau.


2. Em vez de subir a antiga estrada de Santa Luzia, inflectiu à direita, um quarteirão à frente subiu à Praça dos Heróis Nacionais, tem uma encomenda a entregar nos escritórios da TAP, mas fica esparvoado com o escombro em que se encontra o palácio presidencial. Cá fora, as pessoas passam sem olhar aquele tecto esventrado, o vestíbulo reduzido a cacos, as janelas saqueadas. O Tangomau imagina a elegância que terá tido todo o tecto daquele vestíbulo onde agora se instalam, com o calor da manhã, bandos de morcegos. Sobe as escadas com o cimento esfarelado, tudo quanto era azulejo ou corrimão foi roubado. O salão do primeiro andar é formoso nas proporções, dá até para especular as sessões de Estado que ali se realizaram, mesmo banquetes, boas-vindas, sabe-se lá se até concertos. Pode observar a graciosidade da escadaria, permanece incólume ao vandalismo. Saiu do edifício, contornou pela direita, entrou no que terá sido o jardim, nas traseiras do palácio; expectante, está ali uma fonte apainelada por pequenos mosaicos.

O que era o Museu da Guiné, Biblioteca e Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, é hoje a Primatura, vedaram-lhe o caminho. Onde estava o Café Império é hoje a pastelaria e padaria Dias & Dias, cá fora rescende um bom cheiro da confeitaria.

Fotografias retiradas do site: http://pensaodbertabissau.wordpress.com/
Quem não conhece a Pensão Central desconhece a magnitude dos sorrisos

Ele desce à Avenida Amílcar Cabral, pára diante da UDIB e recorda, sem dificuldade, os filmes de acção que ali viu, 40 anos antes. O Hotel Portugal é um edifício abandonado. Agora, em cada edifício habitado há sempre um segurança para dissuadir os assaltos. A deambulação prossegue, a catedral fita-o das suas linhas aprumadas, está pintada de branco imaculado. Excitado, o seu olhar contempla os dois andares da Pensão Central ou Pensão da D. Berta. E sobe a escadaria em ferro, visivelmente carcomida pela ferrugem, no primeiro andar avista um jovem e pergunta por D. Berta Oliveira Bento, a Avó, o sorriso mais doce de Bissau.

Tem razões para esta excitação: aqui viveu em 1970, aqui comeu duas refeições por dia, quatro meses sem interrupção, em 1991.
A D. Berta aluga acidentalmente quartos, ela acolhe, é confidente, moraliza e dá estímulo às centenas de cooperantes, investigadores, professores e até empresários que não prescindem daquela comida caseira: uma sopa onde nunca falta o gosto da batata, um prato de peixe ou de carne, e depois a sobremesa, doce ou fruta, tudo mais a bebida por 4500 francos CFA, a preços actuais, mais barato não há em Bissau.

Pois o que vai acontecer é que o Tangomau corre por impulso, chora no ombro da Avó Berta. Desajeitadamente, confessa: “Tenho tanta saudade da sua canja!”. E ela responde, quase maviosa: “Se tem saudades hoje almoça o que há, amanhã faço a canja.”. O Tangomau olha as mesas, ali ao canto comia muitas vezes com aqueles holandeses do saneamento básico ou com o Dr. Aníbal do Centro de Medicina Tropical.

Despedem-se, ele tem urgência de ir ao Bissau Velho trocar dinheiro. Por baixo da casa da Avó estão vendedores de artesanato, sempre a incitar à compra. Ele não pára, onde era o antigo Café Bento (ou 5ª Rep) é hoje a delegação da RTP África.

Feito o câmbio, sobe até à rua da Cidade de Lisboa, tem um encontro aprazado com o embaixador António Ricoca Freire, toma café e ali ficam em amena conversa. O esforço titânico da Avó Berta veio à baila e os dois sugerem à uma ir almoçar à Pensão Central. A Avó não escondia o seu orgulho, sentada ao lado do embaixador português.

Findo o almoço, regressam à embaixada, começa uma ronda de telefonemas para avisar vários destinatários de encomendas ou para convocar encontros. Um dos camaradas da Guiné queria obsequiar as suas duas lavadeiras e mandou as seguintes referências: a primeira, a Rosita, também conhecida pelo nome de Nhamo, mora no bairro Quelélé e tem uma filha chamada Tiba; a segunda é a Mariama Gorda que pode estar em Bissau ou já em Bambadinca. O pedido era categórico: “dá-lhes um beijo por mim”. E juntava fotografias de ambas para que não houvesse confusões. E depois saiu com o Sr. Sabino, os Soncó têm precedência. A embaixada situa-se num bairro que data dos tempos de Sarmento Rodrigues, tem reminiscências Art Deco, mas um grande número de moradias dá sinais de uma ruina imparável.


Tumblo em 1968, fotografia captada em Missirá. 
A menina mais crescida é a Sadjon (uma homenagem a S. João, em frente a Bolama), uma Mané que casou com o falecido Ansumane Mané, parente de Tumblo. Sentada ao lado de Tumblo está Mai Sai, a sua mãe. Segue-se outra criança não identificada. De calção e sorriso franco Abudu Soncó, a quem o Tangomau ofereceu esta fotografia.

3. O primeiro encontro é com Tumblo, o irmão que resta ao Abudu. O Tangomau esquecera-se de fazer uma cópia à fotografia tirada em 1968 a um conjunto de crianças em Missirá: Tumblo ao lado da sua mãe, Mai Sai; Sadjon, Abudu, Samba Mané, Nhalim Cassamá e Nhima Mané. Paciência, talvez não venha a faltar outra oportunidade. Depois de visitar a casa de Tumblo seguiram ao encontro da Maria Fausta. Àquela hora, a estrada que passa por Bandim estava em convulsão, congestionada, ouvem-se as imprecações em crioulo; em Bandim, um sinaleiro garboso procura pôr o trânsito mais fluido. Não foi fácil encontrar a Maria Fausta, afinal não vive perto da Somec, mas quase no sentido oposto. O Tangomau promete novo encontro, quando regressar da região de Bambadinca. No regresso, passam pelo INEP, o Dr. Mamadu Jao, o seu director, não está, ficam os livros e as cartas geográficas, deixou-se a promessa de regressar amanhã.

De novo na embaixada, consegue-se o contacto com Nhamo, que promete vir imediatamente. Sempre solicita, a secretária do embaixador estabelece contacto com Filinto Barros e Delfim Silva, ficam marcadas reuniões para amanhã. Nisto chega a Nhamo, em todo o seu esplendor. Riu-se quando a beijei em nome do Jaime Machado.


4. Ao almoço, o Tangomau estabeleceu contacto com Patrício Ribeiro, um empresário que trabalha há 26 anos na Guiné e é assíduo frequentador do blogue. Combinaram ir jantar ao Bissau Velho. É uma dor de alma a degradação a que chegou a zona comercial da segunda capital da Guiné. São edifícios simples dos anos 40 e 50, sobretudo, possuíam cores gritantes, era ali que estavam estabelecidos os libaneses da família Saad (a incontornável Casa Taufik Saad), os estabelecimentos António Pinto, a Casa Pintosinho, entre outras. Este Bissau Velho plantara-se perto da Fortaleza da Amura, era ponto de passagem obrigatório entre o porto e a zona habitacional da cidade, perto estava o tribunal, mais adiante os correios, logo no início da Avenida da República, do lado esquerdo, a Casa Gouveia. Esta urbanização aparece admiravelmente documentada nos postais da Guiné na edição de João Loureiro, infelizmente esgotada. Pois aqui está o restaurante Tá Mar, por capricho do destino apareceu o Delfim Silva, o Tangomau já não se recordava nem como nem porquê a conversa deslizou para os testemunhos de Luís Cabral e Aristides Pereira, a riqueza e as insuficiências de cada um deles. Exausto, o Tangomau pediu a Patrício Ribeiro que o levasse até à Pensão Lobato. Fora um dia em cheio, excessivo de emoções, de alegrias, de descobertas. Mas também o sentimento de agonia e consternação pela decomposição que atravessa Bissau.


5. No INEP visitou a exposição Raízes, patrocinada pela Fundação Mário Soares. O visitante tem ao seu dispor um conjunto de fotografias que datam das décadas de 40 a 60 do século passado. Era material que estava à carga no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, e que se deteriorara brutalmente, por falta de conservação. A Fundação Mário Soares contribuiu para recuperar meia centena de fotografias entre os milhares de espécies de um acervo de indiscutível valor histórico. Procedeu-se a limpeza e a expurgo, fez-se a reprodução fotográfica e digital e depois o respectivo restauro. Para esta exposição apresentam-se imagens de homens e mulheres da Guiné-Bissau na sua faina diária sob o olhar da “etnografia colonial”. São fotografias de uma beleza admirável, no mínimo o Tangomau recomenda que se adquira o catálogo. A ventoinha continua no seu ronronar e os grilos não se calam. O cansaço é tal que no cotejo destas notas se esqueceu a referência à maresia que vem do cais do Pidjiquiti, àquela hora da manhã embarcava gente para Catió e noutras embarcações desembarcava peixe.

Capa do catálogo da exposição do INEP

Mandinga fabricando uma esteira

Balantas trabalhando na construção de um orique

Regalado, o Tangomau cogita sobre o que vai fazer amanhã, falta descer pela Baixa de Bissau, é impreterível passar pelo cemitério, há ainda outras encomendas a entregar, ao fim da tarde quer ir à missa na catedral. Está impaciente de partir para Bambadinca, pois claro, o Fodé já esclareceu que vai aparecer muita gente, surpresas não faltarão. E, com um suspiro, volta-se para o outro lado e adormece agradado com a ideia de que uma sopa de ostra o espera na Pensão Central.
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7370: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (1): Primeiras notícias da Guiné-Bissau

Guiné 63/74 - P7378: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (32): Estava no Cantanhez, no dia 1, e fiquei emocionado com o vosso poste de parabéns que só agora, em Bissau, posso agradecer (Pepito)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > O Régulo, Umaru Djaló, trajando o seu melhor fato...




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Amindara > O milagre da água...




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Amindara > A população em festa...




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Farim de Cantanhez > Dezembro de 2010 > A Alicinha (afilhada da Alice Carneiro)  e a sua mãe, Cadi. 


1. Texto e fotos do nosso amigo Pepito:

 Data: 4 de Dezembro de 2010 17:39
Assunto: Aniversário

Amigo Luís

Fiquei comovido com o postal fabuloso do Miguel Pessoa e as mensagens que  os amigos lá puseram (*). Porque um homem não chora, as lágrimas caíram-me para dentro. Ninguém as viu. Só eu sei quanto me souberam bem. Mandei o post para duas pessoas em especial: as minhas netas Sara e Clara.

Quando li as mensagens tive uma enorme vontade em estar aí com todos os camaradas do blogue, meus companheiros de sonhos e amores comuns pela Guiné que tanto amamos, por mais partidas que ela nos pregue. Acho que ela até o faz de propósito, para nos juntar mais, para estarmos sempre a pensar nela, como as crianças bulidoras (traquinas) para nos obrigarem a dar-lhes mais atenção.

Estava em Cantanhez no dia 1 quando colocaste o post, por isso não vos agradeci imediatamente. 
Estava em Guiledje a preparar a reconstrução do oratório que o Patrício (embaixador dos portugueses em Bissau) já começou a fazer e para o qual o Grupo de Amigos de Guiledje do nosso Blogue decidiu contribuir.  

Estava em Amindara às 8 horas de uma noite escura como o breu, a receber os agradecimentos que as mulheres e os homens faziam à Tabanca Pequena por lhes ter construído um poço, com depósito elevado de água e painéis solares, que lhes permite passar a viver, segundo eles, suma brancu (como brancos).

Nesse dia também estava em Medjo, onde o Régulo Umarú Djaló decidiu vestir o seu melhor traje, para igualmente agradecer à Tabanca Pequena o poço igual ao do de Amindara, dizendo: "agora posso morrer descansado, porque vou ser sempre recordado por ter sido no meu tempo que a tabanca de Medjo passou a ter um poço tão bom e que as mulheres deixaram de ter problemas com o acesso à água". 

Estava também em Farim de Cantanhez, tendo nos braços uma linda criança a quem deram o nome de Maria Alice, vestida com roupas enviadas aí de Lisboa pela "vóvó Alice Carneiro", a companheira do nosso Luís e mãe do João que andou por Cantanhez a cuidar da saúde de pessoas que nunca tinham visto um médico.

Foi um dia em que andei, junto convosco, a percorrer os caminhos largos da solidariedade.

Por isso enviei para as minhas netas Sara e Clara lerem mais tarde o vosso post, para conhecerem o valor da amizade e saberem que o melhor mundo em que vivemos é o dos sentimentos e o da generosidade, que é nele que vamos buscar a força para viver de pé. (**)

Um abraço muito amigo

Pepito

(**) Último poste da série > 12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7270: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (31): Achado e perdido, o meu amigo Mulai Baldé (Amílcar Ventura)