sábado, 3 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8729: Notas de leitura (270): A Pele dos Séculos, por Joana Ruas (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Agosto de 2011:

Queridos amigos,
Se alguém ainda tem ilusões que acabaram os livros misteriosos esta “A Pele dos Séculos” irá trazer algum desengano e surpresa. É, do princípio ao fim, um equilíbrio instável de uma escritora inequivocamente fascinada por aquela África onde vivemos e o uso exuberante de um português antigo, manifestamente não convivente com o objecto amado. Daí alguns equívocos que poderá suscitar, mormente se se trata de literatura comprometida (mas será que toda a literatura não é ela própria, em si, comprometida?), qual a mensagem que pretende fazer passar sobre os desastres da guerra.
Trata-se de um livro esgotado e estranhamente esquecido. Talvez na recensão se possam encontrar essas razões.

Um abraço do
Mário


Os desastres da guerra
(ou quando a literatura torna real o que a História deixa no olvido)

Beja Santos

O livro “A Pele dos Séculos”, de Joana Ruas (Editorial Caminho, 2001) é um romance a vários títulos inqualificável: envereda pela dissertação histórica, faz constantes apelos à exaltação etnográfica, etnológica e antropológica; mescla vários discursos entre o português antigo e os linguajares contemporâneos; recorre abundantemente a histórias entrecruzadas em que os protagonistas vagueiam por labirintos, encontram-se e desencontram-se, iludem-se e desiludem-se, entusiasmam-se com a gesta dos combates ou rapidamente prevêem os infortúnios das falsas mudanças. É uma história da Guiné a partir de muitos sonhos africanos, um olhar para dentro do movimento independentista, apercebendo-se das contradições, traições e o fim dos sonhos que alimentaram a luta armada. Joana Ruas culmina com este romance uma experiência guineense prolífica e versátil, conforme consta dos seus dados curriculares: “Na Guiné com o PAIGC”, reportagem escrita nas zonas libertadas da Guiné em 1974; no jornal da Guiné-Bissau, Nô Pintcha, redige, em 1975, a página de literatura africana de língua portuguesa; traduz textos inéditos de Amílcar Cabral escritos em língua francesa e recolhe na aldeia de Eticoga (ilha de Orangozinho, arquipélago dos bijagós), a lenda da origem das saias de palha; escreve o romance “Corpo Colonial” publicado em 1981; é autor de uma comunicação intitulada “A Guerra Colonial e a Guerra do Futuro”, apresentada no Congresso Internacional sobre a Guerra Colonial, organizada pela Universidade Aberta em 2000.

A obra tem uma trama complexa: meninas que se encontram em Angola nos anos 50 e que ciciam dentro de um mosquiteiro; no final do romance, uma delas escreverá que foi à procura da outra na Guiné-Bissau, desencontraram-se, mas a que foi procurar encontrou os elementos para escrever este romance. O romance é caleidoscópico: emerge através de uma dessas histórias de encantar e sabemos que a guerrilheira que é procurada pela autora se chama Julieta; ela sujeita-se a toda a iniciação em que se mistura o animismo e o islamismo, é um mero pretexto para entrarmos no palco da guerra mas também para conhecermos as lendas e a épica dos povos africanos.

Poucas serão as circunstâncias em que Joana Ruas irá detalhar em corpo-inteiro os seus protagonistas. Uma dessas excepções tem elevado recorte literário, como se transcreve: “Dimingo, o engraxador, entrou pelas traseiras e guardou a um canto a caixa com as escovas e as latas de pomada de graxa; esticou o pano de lustrar, uma flanela polida que fazia, ao roçar pela sola das botas dos soldados aquele sonante estalo tá… tátá tão bem feito que era como a sua assinatura bem rabiscada. A verdade é que era bastante procurado pois gostavam do som e ainda daquela carícia prolongada da tira da flanela no calcanhar da bota, fazendo, zuztruz, zuztruz. E quase sempre, de gorjeta, lhe atiravam uma moedinha ao ar que ele apanhava fazendo uma curva bem ilusionista, com a mão, por detrás das costas. E enquanto engraxava abanando a cabeça com ar despreocupado, batendo a tira de feltro ao ritmo do engraxar um ritmo de swing, ia escutando as conversas dos soldados”.

O romance faz gravitar paixões diabolizadas como os amores de Gaspar por Manuela, que o agente da PIDE Travassos, pai de Manuela procurará dinamitar. É num discurso de possessão que o leitor será confrontado com o estéril a que chegou a relação entre Travassos e Bárbara, a sua mulher. Eles trocam acusações e estas, simbolicamente, valem a metáfora da utilidade ou inutilidade daquela guerra. Um tocador de harpa atravessa toda a Guiné, é o novo pretexto para se falar das guerras da religião, depois é introduzido Koloba Mané um pescador que faz o seu ofício no rio Pobreza. Os nomes das personagens não vêm ao acaso: há o rio Arranja a Vida, há um alferes que se chama Pais Sidónio, o tocador de korá Amílcar anseia por conhecer Amílcar Cabral; o médico cubano chamava-se Ernesto como Che Guevara, etc. Joana Ruas, é perceptível, está amplamente documentada sobre os cancioneiros de várias etnias, conhece-lhes os usos e costumes, recupera a atmosfera da Guiné-Bissau de ambos os lados, confabula delações, intrigas, sortilégios.

Uns lutam pela independência, outros combatem irmanados pela sobrevivência. Uns são como Pedro Pão e Água, os portadores da História, grumetes, vadios, à cata do futuro; igualmente a guerra suscita equívocos, até os do coração, mulheres crescidas são perseguidas por quase adolescentes em elevado estado de solidão; Julieta, a guerrilheira, não resiste a tomar decisões implacáveis, como o fuzilamento de guerrilheiros negligentes, está endurecida, de luto por dentro.

Joana Ruas também não ilude a enorme atracção poética mesmo no rebuscado das imagens mais violentas que sacodem aquela guerra, por definição ditando as regras do destino incerto de toda a gente: há fábulas de gente morta que ressuscita, há quase antropomorfismos, quando necessário mascara-se o rigor histórico e Amílcar Cabral aparece em Conacri na noite da invasão, em 1970. As batalhas são estranhas, o vitorioso sente-se derrotado e aquele que é obrigado a fugir veste a indumentária do herói. Dentro desta poética, descobre-se que o maior dos desastres da guerra não é a solidão nem o medo, é a lucidez no entendimento de que depois da guerra o guerrilheiro ficará amolentado pelos prazeres da praça conquistada, Bissau, a gravitação do poder. Ao de leve, Bissau não acolheu os homens vindos do mato, quando chegou a independência, deixou-os entrar, fê-los cair na armadilha de que o bom viver já não eram os sonhos da guerra, o viver frugal mas empanturrado de sonhos. É deste ângulo que se pode entender qual o uso do imaginário que Joana Ruas pretende para esta deambulação ou dolorosa caminhada de africanos à procura de uma Pátria, caminhada de enganos e logros, em que o passado pouco ensina ao presente, a chegada a Bissau foi um corte no rio do tempo. É assim a pele dos séculos, estar à espera do fim da dominação, o africano, desesperado, ainda sonha no devir da Guiné como nação africana portadora de futuro.

Nestes termos, é uma literatura em que o escritor europeu se embrenha no compromisso do diálogo multicultural, enovelando mitos, criando máscaras, fé nos deuses, fascinado por amores imortais, que depois se suspendem ou matam, imprevistamente. Guiné 63/74 - P8702: Notas de leitura (268):É uma literatura de signos e de equívocos: o leitor europeu chega a poder pensar que a autora se embriagou com a épica que forjou nos guineenses; e o leitor guineense chega a poder pensar que a autora se entusiasmou com aquele mosaico étnico e com o desespero daqueles desastres da guerra que terão deixado a Guiné sem futuro, tudo por obra e graça de uma incapacidade da Guiné, à imagem de um continente, não ter meios ou desígnio para se erguer e levantar o Estado. É esse mesmo equívoco que torna ainda mais misterioso a mensagem do romance de Joana Ruas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8716: Notas de leitura (269): lutte armée en afrique, de Gérard Chaliand (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8728: História da CCAÇ 2679 (43): Aquele hôme (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 31 de Agosto de 2011:

Carlos,
A história da CCaç 2679 tem estado em banho-maria. Agora, ao ter deparado com uma caricatura** de um amigo, resolvi enviá-la e juntei o texto alusivo ao caricaturado.

Pode ser que a seguir dê continuidade a outras estórias daquela história.
Para a coisa ser apresentada decentemente, é obrigatório referir que a caricatura, com 40 anos, foi desenhada com esferográfica sobre aerograma, e saiu das mãozinhas do Zé Tito Martins, um gajo capaz de alindar o mais feio dos mortais.

Um abraço
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (43)

Aquele hôme

Conheci o Abreu no fim do verão de 69, na capital da Pérola do Atlântico, onde fui colocado para dar instrução militar aos mancebos locais. O dito já lá estava. Magricela como eu, enfezava-se na farda número três, ou de trabalho, ossudo de cara, apresentava-se, no entanto, simpático e sorridente, bom companheiro e sempre disposto a alinhar. Não o parecendo, levava uma vida difícil e sofrida, pois apresentava-se obrigatoriamente à hora matinal que a tropa impunha, acompanhava tanto quanto podia os exercícios matinais, quando havia crosses até Câmara de Lobos, desenfiava-se por alturas do Lido num qualquer bananal, e numa qualquer tasquinha de beira da estrada aguardava pelo regresso da tropa corredora e, acautelando-se da vista do BM, integrava o pelotão até ao centro da cidade, onde se situava o 19, e não debandava das teóricas da tarde, apesar de deixar para outros mais jeitosos as explanações que os instruendos não percebiam. Com o fim das actividades diárias, o pessoal retirava-se, cada um ia a casa para o necessário banho, mudança de roupa, e logo se juntavam para convívio, nos cafés e esplanadas em redor da Sé.

Dali partia-se em passeata predadora, trocavam-se olhares e piropos com as jovens da cidade, bebia-se um aperitivo para a janta, vigiavam-se os acontecimentos na "pontinha", e a horas marcadas o pessoal encaminhava-se para a tasca ou snack onde se praticava a arte de jantar. O Abreu, naturalmente, integrava a procissão e contribuía com o sotaque e piadas à moda do Porto para a alegria geral. Depois de jantar, para ajudar a digeri-lo, o pessoal ainda passava por algum café, "boite", ou visitava um dos vários antros de animação noturna, que às vezes mais pareciam pesadelos sem movimento nem alegria. Pelas dez, onze, ou meia-noite, conforme corressem as coisas, o pessoal recolhia a casa para o sono reparador. Mas o Abreu, coitado, tinha responsabilidades, adormecia quase em corrida, porque, pelas três ou quatro da manhã, chegava a menina com quem partilhava a cama, e que já vinha suficientemente excitada do local de trabalho, onde os mânfios a apertavam e apalpavam quanto podiam durante os passos de dança, como meio indemnizatório do excessivo preço do espumante achampanhado, ou das cervejas e cocktails que o Porto Rico cobrava.

Ora, todos sabemos, elas não matam, mas moem.

E foi sempre assim, tanto, que quando chegou a hora de embarque para a Guiné, o Abreu sentiu uma espécie de alívio, uma libertação física.

E lá portou-se bem e com galhardia. Mas sonhava com o Funchal, passou a faltar-lhe o calor da companheira no estreito colchão da tropa, dos cigarros finos que ela lhe trazia das diferentes proveniências do grande mundo, das lembranças traduzidas em isqueiros Dupont, de outros mimos e carícias. Por isso, frequentemente, acordava em erecção, qual espadachim pronto a perfurar o inimigo, mas, desta feita, com boas intenções, oferecia aos camaradas que dele se quisessem servir, um original serviço de chamadanhas para Tóquio, parece que uma cidade de uma ilha distante, nos confins orientais, onde existem belas e sofisticadas mulheres, de proporções e movimentos delicados, capazes de enfeitiçarem os machos latinos.

Não consta que alguém tenha praticado a curiosa interpelação que o Abreu propunha, mas todos os dias era inexcedível na generosidade.

Atirador de Infantaria, palmilhou por trilhos e bolanhas, bebeu do próprio suor nas cálidas caminhadas, deixou uma marca da presença lusitana em terra de fulas e bajudas com corpinho inspirador. Mas o clima e a alimentação agrediam, e o nosso herói acabou por sucumbir a uma dolorosa e prolongada prisão-de-ventre, que o prostrou durante duas semanas, com dispensa de alinhar no mato, ou de desenvolver actividades de exigente verticalidade. As dores dilaceravam-no. Gemia que nem uma piegas. Perdeu o elegante porte de militar brioso. Aos camaradas pedia com aflitivo aspecto, que lhe levassem à cama um caldinho, e mamava uma malga de ervas liofilizadas, uma aguadilha que ele dizia assentar-lhe bem. Um dia, não se sabe como, se impulsionado por dor impiedosa, se por teimosia convicta, saiu da cama, desencantou um penico, e sentou-se nele à espera que provocasse efeito.

A cabeça tombava mal sustentada pelo pescoço quase desvitalizado, os olhos murchos exprimiam muito sofrimento dos dias acabrunhados, a boca inclinada deixava escapar uns lamentos quase terminais. Assustava. A fotografia daquela cena foi de imediato transmitida com aflição exagerada por um furriel especialista, a quem perturbava imaginar ter que dormir num quarto onde alguém falecesse, do que resultou uma reacção imediata dos restantes furriéis operacionais, que invadiram o quarto e depressa constataram que a questão metabólica não seria suficiente para levar o Abreu.

Eram jovens os furriéis, havia pouco tempo, ainda se inteiravam das histórias da banda-desenhada e, talvez por isso, algum de entre eles lembrou-se que poderia tratar-se de um problema de mau olhado, ou de perturbação dos espíritos. De inicio não o levaram muito a sério, mas face às insistentes argumentações daquele, e perante o total desconhecimento da causa de tanto sofrimento, lá se desencadeou uma dança com caráter religioso de pedido e desagravo a Manitú, com o pessoal a dançar, ora para um lado, ora para o outro, em redor do Abreu que sofria, e queria cagar-se a rir, mas Manitú não quis saber da solidariedade manifestada, e nem um cagalhãozinho esperançoso lhe deu expectativa de salvação.

O problema acabou por ter solução, mais tarde, já não sei se por causas endógenas, se exógenas.

O certo é que o Abreu deixou de alinhar no mato, passou ao exercício da função não menos digna de vague mestre e, não sei se para não alterar os hábitos da Companhia, o rancho não registou qualquer melhora substantiva, constando, até, que o homem estaria a dar-se bem com a escrita da bianda e dos estilhaços, embora, também corresse a ideia de que ele não mandava nada, nem era responsável pelos mapas contabilísticos. Eu perfilho desta ideia.

O Abreu safou-se, tem levado uma rica vida lá para as bandas do Porto, e nem umas doençazitas que o afligem, são capazes de o demover a comparecer em convívios com os camaradas. Como referiam os madeirenses: "é aquele hôme!".
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8321: (Ex)citações (139): Comentário ao Post 8318 - Notas de Leitura - Porque Perdemos a Guerra, de Manuel Pereira Crespo (José Manuel M. Dinis)

(**) Caricatura não publicada por suscitar dúvidas de ser contra à política de conteúdos do Google. O nosso camarada Zé Manel não ficou muito zangado com os editores.
Quem quiser receber particularmente a dita caricatura poderá solicitá-la a mim ou ao camarada José Manuel Matos Dinis.

Vd. último poste da série de 13 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7276: História da CCAÇ 2679 (42): A noite em que ninguém queria ir levar o rádio a Tabassi (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P8727: Blogpoesia (159): O Mar que nos levou (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 10 de Agosto de 2011:

Carlos, Luís, Briote, Magalhães, e demais membros da Tabanca Grande
O mar teve sempre em mim um efeito maravilhoso.
Vivendo eu perto da Nazaré e S.Martinho tive uma cultura e tempos livres ligados ao mar e suas gentes. Recordo-me quando criança ouvir o mar violento castigar o areal, enquanto as mulheres dos pescadores choravam e imploram pelos homens que o enfrentavam todos os dias.

Dia que não fossem ao mar era dia de fome para eles e filhos. O salva-vidas era uma enorme barcaça a remos em que voluntários, se atiravam contras as ondas que o punham na vertical tal era a violência.

Os pescadores embarcavam volta das 3 horas da manhã e rendiam assim na faina do mar os seus camaradas que já lá tinham estado 24 horas. A Nazaré antes da construção do porto de abrigo era uma praia maravilhosa, mas onde o mar era repentino e traiçoeiro. Raro era o ano em que ele não cobrava em imposto várias vidas.

Termos como o mar está um cão ou chão, sítios como a pedra do Guilhin e o Poço das Viúvas ficaram para sempre na minha memória pelas piores razões.
Mas nós estivemos sempre ligados ao mar e se agora estamos a passar um mau bocado foi porque se calhar lhe viramos as costas.

Um abraço
Juvenal Amado

Nazaré > Farol e Pedra de Guilhin

Praia da Nazaré

Lisboa, 18DEZ71 > Embarque para a Guiné


O Mar

O Mar nos levou
Nos embalou
Cavalgamos nas suas ondas
Encontramos novos horizontes
O mar salgou as nossas lágrimas
Cobriu de negro as mulheres
Transportou dádivas
Trouxe notícias e riquezas
Boas e más novas
Palavras de redenção e paz
Bem e o mal
Levou na sua espuma milenar
Ânsias de grandeza
Levou aventureiros
Redenção de expatriados
Proscritos ou desenganados
Sobre as suas ondas o êxtase da superação
Qual canto de encantado de sereias
Conhecemos a grandeza e as misérias
Tocamos o Céu e descemos aos infernos
Heroísmos e amores
Estupro e ignomínia
Levou sonhos e vidas
Os nossos verdes anos
Tudo o Mar nos deu
Tudo o Mar nos levou
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8658: (Ex)citações (146): Guidaje - 1973, um comentário e algumas interrogações (José Manuel Pechorro / Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 24 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8705: Blogpoesia (158): Na festa dos mortos, o olvidos dos combatentes... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8726: Os últimos dias da CCAÇ 4544/73 em Cafal Balanta (António Agreira)

1. Mensagem do nosso camarada António Agreira* (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73, Cafal, 1973/74), com data de 23 de Agosto de 2011:

Caros amigos, Camaradas! Saudações amigas.
Antes de mais um Oscar Bravo pela recepção de que fui alvo na Tabanca Grande.

Satisfazendo o pedido do Carlos Vinhal, devo dizer-te que foi uma experiência singular, a entrega de Cafal Balanta.

Tudo começou num dia igual a tantos outros, em que um grupo de elementos do PAIGC entrou pacificamente em Cafal Balanta.

Passearam à vontade pelo tabancal e também pela zona militar. Não houve incidentes, para além de uma tentativa de visitar o Posto de Rádio, à qual eu me opus, mantendo o acesso interdito à área das Transmissões, pois ainda não tinha recebido ordem para destruir componentes confidenciais. Esta visita estava a ser acompanhada pelo Segundo Comandante da Companhia.

Resolvida a questão, começou uma amena cavaqueira, em que fundamentalmente se trocaram impressões sobre a guerra. Nesta conversa, recordo duas questões: os elementos do PAIGC conheciam ao pormenor cada um de nós, patentes, Especialidades, e até sabiam qual era o melhor jogador de futebol entre nós. Enquanto nós jogávamos futebol, eles estudavam o nosso comportamento. A outra questão, foi a afirmação de que a tropa do PAIGC não tinha pressa, ao contrario da tropa portuguesa que estava desejosa de regressar a casa, e por isso estava estrategicamente mal preparada.

Um dos outros temas de conversa foi marcação da data para a entrega definitiva, que ocorreu passado alguns dias, não sei quantos.

Outra questão a realçar é que eles falavam tão bem português como nós. Não sei agora precisar se houve alguma cerimónia oficial no acto da nossa saída de Cafal, mas presumo que não porque no dia em que chegou a LDG, já tínhamos a viola no saco e foi um até a vista dado, que a ansiedade de regressar era enorme.

Na chegada a Bissau recordo uma passagem com alguma nostalgia, na messe de Sargentos em Santa Luzia a refeição era ração de combate. Claro que não comi. Fui para Bissau, e desde Zé da Amura até ao Ronda, corri os restaurantes todos, e a única coisa que consegui comer foi um ovo estrelado com ervilhas fritas. Nesta altura deviam estar em Bissau para cima de 20.000 militares.

Respondendo agora ao camarada José Marcelino Martins, efectivamente eu fui a primeira pessoa em Cafal Balanta a ter conhecimento do que se estava a passar em Lisboa.

Há alguns dias já que tinha informações muito secretas de que algo iria acontecer. Por outro lado o meu Posto de Rádio funcionava 24 horas sobre 24 horas. Através de ondas curtas eu tinha escuta de várias estações de rádio, quer amadoras quer profissionais, nomeadamente de África e de Portugal.

Curiosamente a primeira informação a chegar veio através da Maria Turra: (a ditadura de Salazar caiu) foram estas palavras que aceleraram o batimento do coração. A partir daí foi uma maratona de sintonizar rádio para aqui, rádio para ali, até ao romper do dia, quando finalmente começaram a chegar informações mais credíveis, que todavia não tinham ainda confirmação militar.

Quando Cafal começou a despertar, fui falar com o nosso Capitão Salgado Martins (forte abraço para ele) e transmiti-lhe os factos que conhecia no momento. A emoção era indescritível, mas por outro lado havia um forte sentimento de incerteza e até talvez de insegurança.
O sentimento de união ficou ainda mais forte. Estávamos no Cantanhez cada vez mais entregues a nós próprios. Tudo se resolveu em bem

Aproveito para enviar foto do Posto de Rádio sempre em operação

Forte Alfa Bravo a todos
António Agreira

Cafal > Posto de Rádio no tempo da CCAÇ 4544/73 > Fur Mil TRMS António Agreira com os seus camaradas
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8699: Tabanca Grande (299): António Agreira, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73 (Cafal, 1973/74)

Guiné 63/74 - P8725: (Ex)citações (148): Lembrando camaradas e suas alcunhas (Henrique Cerqueira, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira* (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 23 de Agosto de 2011:

Olá amigo Carlos
Este assunto das alcunhas** ao princípio até me pareceu um pouco "desinteressante", no entanto, ao ler os últimos postes em relação ao convite da TVI, fiz um pequeno comentário. Vai daí lembrei-me de alguns camaradas meus visados e "alcunhados", e escrevi no referido comentário os ditos "apelidos" ou alcunhas.
Passado algum tempo dou comigo a pensar nesses meus queridos camaradas da Guiné, mais propriamente da minha antiga Companhia do Biambi(e). É então com o coração nas mãos que resolvo escrever esta pequena nota.

Lembro assim com saudade os seguintes camaradas que eram muito influentes na nossa vida diária passada no Biambi(e) e são eles:

Ex-Furriel Lopes, o nosso querido "Pato da Bolanha" sempre de calções, meiinhas e sapatos, pernas compridas e todo esticadinho e apressado (um autêntico urubu) que nós em tempos de fome (eram sempre) apelidamos essa ave de "Pato da Bolanha", acompanhada de cervejinha e uns Dimples, até não era nada má, pois a nossa memória bloqueava. O nosso Lopes era a eficiência na burocracia, penso que até muito melhor que os "sorjas" da Companhia .

- Lopes isto é mesmo verdade. Eras um gajo chato como ó caraças, mas hoje tenho saudades tuas. Aparece.

Agora o "Escrita", o nosso 1.º Cabo da Secretaria. Outro gajo mesmo porreirinho e eficiente, aliás ele e o Lopes faziam uma parelha imbatível, creio que até conseguiram comer as papas na cabeça dos sorjas e até penso que lhes passaram a perna... sabe-se lá em quê ???

Ainda há poucos anos o Cunha conseguiu com toda a sua eficiência dar uma boa ajuda na reforma de um dos nossos ex-camaradas que foi ferido lá na Guiné. O gajo era mesmo bom para a papelada e afins.

- Cunha a malta tem apreço por ti e até saudades, vê lá se tens os neurónios no sitio e aparece.

E agora para o Mec... Mec, o ex-Furriel Mecânico. Este era outro dos nossos queridos "Malucos". Bebedor compulsivo de Coca-Cola, magricela até ao osso, mas maluquinho até dizer basta. Bom mecânico, também bem acompanhado, em especial, pelo Martins.

- Teixeira (Mec... Mec) eras mesmo um grade maluco, tão maluco que não descansaste enquanto não arranjaste a GMC para depois a experimentares na picada para Encheia até passares por cima duma mina anti-carro. Não lembro aqui a tragédia por respeito, mas sim o outro que ia ao teu lado.

O Bagabaga, o meu próximo visado, o ex-Furriel Vagomestre, o REGO de seu nome, natural dos Açores.
Outro "sacanote" do melhor, este meu amigo, de quem nunca mais soube nada, mas tenho certeza de que se Deus quis, ele deve estar bem de vida assim, o espero e desejo.

Enquanto estive no Biambi(e), havia sempre a possibilidade de uma vez ou outra fazermos uma petiscada às escondidas do sorja. Era primeiro necessário dar a palmada a um bichito da tabanca, porque eles não vendiam, nós sofríamos e as glândulas gustativas mandavam.

- Rego se por mero acaso leres este escrito comunica, mesmo que seja do além o Carlos Vinhal arranja maneira de publicar.

Eu sou mesmo chato, disse que eram umas pequenas palavras e até já parece um livro de merceeiro.
Meus amigos visados e a todos os outros, tentei fazer um pouco de "graça" com os meus "alcunhados", mas na verdade o que aconteceu é que este tema veio mexer com as saudades e elas estão bem presentes.
Eu tenho mesmo saudades dos meus amigos e da minha juventude.

Um abração a todos
Henrique Cerqueira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8472: Controvérsias (127): Ser ou não ser combatente ou ex-combatente (Henrique Cerqueira)

(**) Vd. poste de 18 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 – P8684: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (13): Como se apanha uma alcunha logo no primeiro dia de Guiné

Vd. último poste da série de 12 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8663: (Ex)citações (147): Guidaje – 1973. Esclarecimentos (José Manuel Pechorro)

Guiné 63/74 - P8724: Da Suécia com saudade (31): Outras bandeiras, outros costumes, outras gentes... (José Belo)

1. Do nosso camarada e amigo José Belo, hoje jurista, cidadão do mundo, que vive habitualmente na Suécia e às vezes em Kiruna, no Círculo Polar Ártico, mas também em Miami, nos States...

É autor do blogue Lappland to Key West. Não tem endereço de email certo. É um luso-lapão nómada, que nos escreve sempre com saudade do seu/nosso querido Portugal... LG

Outras bandeiras, outros costumes, outras gentes

por José Belo
 

Tenho por vezes meditado sobre quais os sentimentos com que milhões de Portugueses, nascidos, educados, e muitos combatendo nas colónias sob a bandeira tradicional de séculos, azul e branca, se terão sentido quando, bruscamente, com a implantação da República, a Bandeira Nacional mudou totalmente de cores e símbolos, acabando as cores tradicionais por serem substituídas pelas cores partidárias de um dos agrupamentos políticos republicanos.

  
Fonte: Cortesia de Lappland to Key West

Apesar de a bandeira verde-rubra ter ainda poucas décadas em 1974,como teriam reagido os Portugueses se algum dos muitos "iluminados" de então têm decidido mudar as cores da Bandeira Nacional, republicana ? E se, para mais, viesse a adoptar para a nova bandeira as cores de um dos quaisquer partidos de então?

Para os que hoje colocam a bandeira da União Europeia em lugar de honra,(talvez por ignorâncias feitas, para não chamar de complexos frente "ao estrangeiro"),julgando que a mesma terá "mais pinta", usando um termo, por certo, para eles favorito; esquecendo que, infelizmente, a tal Europa Unida, e a sua bandeira, neste momento o que representam não será lá muito para nos orgulharmos. Uma União Europeia em que a igualdade e a solidariedade entre os povos que a constituem, são cada vez mais substituídos pelos termos "Nós", os ricos, os que trabalham, os sérios, os capazes...e... "Eles", os "Outros", os das praias ao sol...

Tudo o resto que a bandeira azul estrelada deveria representar, se torna de uma simplicidade assustadora nas suas falácias. Antes a "pobre" bandeira verde-rubra, que nos representa como o Povo que somos,com os nossos grandes defeitos,mas também, e não menos,com as nossas grandes qualidades humanas. Qualidades que,infelizmente,talvez só sejam compreendidas em toda a sua profundidade pelos que vivem sob outras bandeiras há muitas décadas.

Como curiosidade, e quanto à Escandinávia e as suas bandeiras, recordo que,  quando aqui cheguei há 36 anos,ter estranhado que, frente a cada vivenda, quinta, casa de férias da mais pequena à mais luxuosa, havia um pau de bandeira. Não um pau de bandeira "à janela", mas um típico pau de bandeira "militar",enterrado no solo. E não só nos feriados ou festas nacionais, mas tanto nos dias de anos dos familiares que vivem na casa, casamentos, batizados ou outras festas familiares, a bandeira lá está, bem alta e orgulhosa. Aquando de morte na família,a bandeira também lá está, só que agora a meia haste. Ao passar de carro numa estrada, ou de barco frente a estes milhares de ilhas, é impressionante o aspecto festivo das vilas e aldeias com as suas centenas de bandeiras nacionais.

E isto do extremo sul ao extremo norte de todos os países escandinavos, mais a Finlândia. Ninguém é obrigado a ter a bandeira. Mas,  tendo-a,  existem regulamentos rígidos sobre o uso da mesma, e multas avultadas para aqueles que os não cumpram. Por exemplo, a bandeira não pode estar velha,  esfarrapada,ou com perda da cor. As dimensões das bandeiras são estabelecidas, assim como as dos paus de bandeira em relação com os tamanhos das casas que os usam, para em nada serem ridículos ou exagerados,e portanto menos próprios para com o símbola nacional. Isto, em toda a sua simplicidade, tem muito a ver com um sincero orgulho da sua Pátria, cultura e valores.

A mesma bandeira nacional que nos nossos Regimentos Militares é guardada em armário envidraçado, geralmente na sala de honra, nos Regimentos Suecos é colocada em lugar destacado da caserna dos soldados mais antigos do Regimento com o fim de ser a última coisa que estes militares olham ao recolher,e a primeira a ser vista à alvorada. 

Outras bandeiras...Outros costumes...Outras gentes.

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

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Guiné 63/74 - P8723: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (21): O Básico apontador de Morteiro de Rajada

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 23 de Agosto de 2011:

Caro Vinhal
Junto nova história, para ser incluida nas "Memórias boas da minha guerra".
Trata-se do registo de alguns bons momentos vividos junto do nosso Básico
"Beralista", apresentado como Apontador de Morteiro de Rajada.

Um abraço do
Silva


Memórias boas da minha guerra - 21

O Básico dos Básicos

Veio do Minho. Quando lhe perguntavam:
- Donde és? Ele respondia:
- A 4.800.

- Mas, que queres dizer com isso? Não percebo. 4.800 de quê? - Então ele esclarecia que 4$80 tinha sido o dinheiro que pagou no autocarro, desde a sua terra até Braga, quando foi para a tropa.

Sabia que se chamava Tono, mas depois que chegou ao serviço militar, passaram a chamar-lhe Fernandes.

Porém, logo que a tropa o topou, mudou-lhe o nome. Passou a ser conhecido pelo “Bêralista”. É que, na brincadeira, estavam sempre a dizer-lhe que ele estava de serviço e ele dizia:
- Num pode ser, é “mintira”. “Atão” estou sempre a trabalhar. Bou ber a lista. (a Ordem de Serviço).

Mobilizado para a Guiné, foi integrado na CART 1689, do BART 1913, em Vila nova de Gaia, no RASP 2.

Logo de início, fomos para a Carreira de Tiro do GACA 3, em Silvalde-Espinho, para desenvolvermos as nossas capacidades no treino de tiro. Numa das saídas para a carreira-de-tiro o “Bêralista”, interpelado por um outro soldado, informou ser “apontador de morteiro”.

– Mas tu sabes fazer fogo de rajada como o morteiro? - Resposta: - Sei, sim senhora!

Estávamos em Janeiro de 1967. Fui até junto da praia (quase privada, junto ao golfe) para ver o espectáculo daquela malta toda, em cuecas de malha, molhadas e esticadas no centro com o peso da água, até aos joelhos. Foi uma grande algazarra e um momento inesquecível para grande parte dos militares, não só pelo invulgar convívio mas, também, porque muitos deles nunca tinham visto o mar.

Regressei cedo para o Aquartelamento, para assegurar o jantar, uma vez que estava de Sargento Dia. Não havia ali ninguém. Fui ao WC e apercebi-me que andava por lá o Fernandes.
- Então, que está aqui a fazer? A malta está toda para a praia e você, aqui? Olhe que daqui a dias vamos para a guerra e temos que aproveitar tudo.

Então ele, sempre de olhos no chão e a coçar a cabeça, começou a responder:
- Este rapazinho não tem doença nenhuma. Graças a Deus. O mar? Nem pensar nisso. Deus, nosso Senhor, tem-me dado muita saúdinha e, graças a Ele, nunca foi preciso eu ir para a praia.

Como se vê, chegados à Guiné, seria um perigo entregar-lhe uma espingarda. Foi promovido a Básico, em apoio aos Furriéis e, depois, a “vigia” numa das casernas dos militares.

Logo que chegámos ao Fá Mandinga, nos primeiros dias de Guiné, o Furriel Pontes foi atacado de febre. Deitado na cama, pediu ao Fernandes que fosse à Enfermaria buscar um termómetro. Regressado da Enfermaria, o Básico informou:
- O Enfermeiro disse que num sabia dele. O Pontes, admirado:
- Oh senhor Fernandes, o termómetro tem de estar lá na Enfermaria. Lá é que é o lugar dele. Vá lá e traga-me essa merda.

Uma hora depois chega o Básico Fernandes e explica:
- Olhe que aquilo desapareceu mesmo. Lá na Enfermaria, começaram a empurrar de uns para os outros e, cá para mim, eles gastaram-no todo.

O “Bêralista” vivia muito fechado consigo mesmo. Não tinha amigos, porque desconfiava de toda a gente. Tinha a roupa guardada numa caixa, tipo salgadeira e dormia vestido com a roupa da tropa e sem lençóis.

Sentado no sofá de Fá Mandinga, aprendendo a domar macacos

Quando regressados da Guiné, no Quartel de Gaia, em fila na parada, se preparava para entregar o equipamento, verificámos que tinha mais de 70% da roupa ainda por usar. E como sempre se queixava que lhe roubavam os quicos (bonés), ele, à cautela, tinha “abarbatado” mais de meia dúzia. O Furriel Simões, vendo que ele tinha umas botas de lona por estrear, “deitou-lhe as unhas” e o “Bêralista”, perante o desespero de não poder sair da fila, soltou uns berros enormes:
- Aqui-del-rei, que me estão a roubar.

A gargalhada foi geral e o Simões aproveitou para lhe dar um par de botas velhinhas e dizer-lhe:
- Se o Sargento Viscoso te pedir as botas novas, não te esqueças de lhe dizer que fui eu que tas roubei. Eu pago tudo o que esse fdp quiser.

Já estávamos em Catió quando chegou o madeirense Rodrigues, em rendição individual. Ora o Rodrigues tinha o péssimo hábito de “deitar a mão” a quem estivesse mais “distraído”. Era Domingo e, enquanto a malta estava toda no campo de futebol, o Rodrigues está de passagem por detrás da caserna. Ao ver uma camisa pendurada no arame de secagem, olhou à volta, ao mesmo tempo que lhe “deitou as unhas”. O “Bêralista”, que estava em local apropriado, larga a correr, de pau na mão:
- Ah, Madeirense , seu ladrãozito, que te mato. O Rodrigues, imperturbável, respondeu, com ar ofendido:
- Cuaralhe, esconfiado, a gente nem pode ver se a roupa está seca.

Canoista em Catió

Um dia, o Fernandes, que era um dos analfabetos protegidos pelo “escrivão de apoio” Celorico, levou uma carta à Secretaria, dizendo que era para ser enviada para a sua terra. O envelope estava cheio de selos, colados de um lado e do outro.
- Então, Fernandes, para que são tantos selos? Perguntou o Cunha. – Resposta do Fernandes:
- Como andam a perguntar se não tenho dinheiro para selos, quero mostrar que este rapazinho ainda tem dinheiro para mais alguma coisa.

Naquela altura, o comando da Companhia caiu, pontualmente, no Alferes Clarinho. Como era brincalhão, alinhou numa trama que montámos ao Fernandes. Fizeram chegar uma carta, supostamente vinda de uma rapariga da sua terra. Alegava ela que estava grávida do Fernandes. O Alferes chamou-o ao gabinete para se certificar das “devidas responsabilidades”.

No interrogatório, o Fernandes dizia que não tivera nada com a queixosa. No entanto, depois de prolongado interrogatório, admitiu poder ter a gravidez sido causada através do “encosto” que o Fernandes fizera ao traseiro da moça durante a celebração da missa, lá na terra. Admitia ter sido essa a única oportunidade de ela poder ter engravidado. Não ficaram dúvidas quanto à responsabilidade do Fernandes, que confessou:
- Só ser for isso.

Não fosse a chegada do novo Comandante, teria sido feita a encenação de “casamento celebrado por procuração”, confirmado pelo comandante interino.

Silva da Cart 1689
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8673: Outras Guerras (José Ferreira da Silva) (1): O Herói de Maiombe

Vd. último poste da série de 29 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8617: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (20): Uma Grande Mulher (ou uma imagem de uma geração)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8722: Convívios (370): Encontro da CART 2412, ocorrido no passado dia 14 de Maio de 2011 em Castelo Branco (Jorge Teixeira)

Passados que são 3 meses do acontecido, estamos a noticiar o acontecimento na certeza de que, nunca é tarde, ou então mais vale tarde do que... todos sabem.

Decorreu conforme estava anunciado, em Castelo Branco, o Encontro/Convívio da CART 2412, Organizado pelo nosso camarada Luís dos Santos Pires. Aconteceu no dia 14 de Maio data que coincidiu com o 41º aniversário do nosso regresso, que como se recordam aportamos ao Tejo no dia 13, mas só desembarcamos a 14 de Maio de 1970.

Teve honras de notícia no jornal local, o semanário Reconquista.
Agradecemos-lhe a deferência, no entanto uma pequena correcção: não foi o 41º encontro, mas sim o 41º aniversário do nosso regresso conforme anteriormente referido.
Estes são os "manfios" que compareceram à chamada, tudo bons rapazes...


...e estes são os mesmos "manfios" com as respectivas familias, tudo boa gente. Ou não fosse a CART 2412 "Sempre Diferentes".

Mas comecemos pelo princípio:

Aqui vai o pessoal do norte, manhã bem cedo, a caminho de Viseu, indo eu... indo eu... com destino a Castelo Branco.


Já em Viseu para fazer uma "mijinha"...

...e finalmente Castelo Branco.

Planeamento da estratégia de ataque à chanfana e ao bacalhau à Lagareiro. Os cinco: Teixeira, Ximenes, Ventura de costas, Feliciano tapado e Dias. De notar que Ventura de costas não é da costa mas sim do Barreiro e Feliciano tapado, não é alcunha nem apelido.

Agora a rambóia: momento exacto do ataque... não era o IN mas o ON ao ataque.





Desta vez o bolo ainda estava intacto para a foto, pronto a ser comido.

Nesta altura já não se aguentavam...
Feliciano: - vai lá cantar o fado "ca gente auguenta", não fiques triste.
Ximenes: - cala-te que estou a pensar para dentro.

As despedidas... até p'ró ano...

Fim de festa a caminho de casa depois de um dia bem passado.
P'ró ano há mais... até lá camaradas.

Um abraço para todos
cumprim/jteix
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8721: Convívios (363): III Convívio anual de ex-Combatentes no Ultramar (1961-1974) do Concelho de Gondomar, dia 24 de Setembro de 2011 (Jorge Teixeira - Portojo)

Vd. também o Blogue Guiné 68-70 CART 2412

Guiné 63/74 - P8721: Convívios (369): III Convívio anual de ex-Combatentes no Ultramar (1961-1974) do Concelho de Gondomar, dia 24 de Setembro de 2011 (Jorge Teixeira - Portojo)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8719: Convívios (362): XVI Convívio dos ex-Combatentes da Freguesia de Campia, 20 de Agosto de 2011 (Artur Conceição)

Guiné 63/74 - P8720: Fotos à procura de... uma legenda (12): Mais uma foto-mistério da Tabanca de Candoz (Luis Graça)


Tabanca de Candoz > 1 de Setembro de 2011 >  Mais uma foto, fresquinha, tirada hoje,  e que é difícíl de obter nas outras tabancas da nossa Tabanca Grande... Uma boa legenda precisa-se e aplaude-se... Será uma viagem ao interior do corpo humano ? Pode ser...

O verão ainda não acabou nem o nosso passatempo... Espero que amanhã não chova porque temos, cá na nossa tabanca, a primeira vindima já marcada, a das castas avesso e loureiro... Daqui a 10 dias há mais, a 2º vindima (restantes castas: azal e pedernã)... Mas aí já eu (e a Alice) estarei em Lisboa, que o trabalha aperta e as saudades do sul também já são algumas... (LG)

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8719: Convívios (368): XVI Convívio dos ex-Combatentes da Freguesia de Campia, 20 de Agosto de 2011 (Artur Conceição)

O nosso Camarada Artur da Conceição, que foi Soldado de Transmissões da CART 730 e esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem, nos anos de 1965 a 1967, enviou-nos a seguinte mensagem.


 XVI Convívio dos ex-Combatentes
Freguesia de Campia
20 de Agosto de 2011

Realizou-se no passado dia 20 de Agosto, mais um convívio dos ex-Combatentes da freguesia de Campia.
O convívio contou com a presença de mais de uma centena de pessoas, não obstante o mês de Agosto não ser dos mais favoráveis, para este tipo de eventos.

Importa realçar o facto de o número de participantes ter vindo a aumentar. Os jovens, filhos e netos dos que partiram, ouviram o apelo dos veteranos e estão a juntar-se aos ex-combatentes.
Serão eles que terão de dar continuidade a este tipo de eventos realizados a nível de freguesias.

Na parte da manhã teve lugar a cerimónia de boas vindas e colocação de uma coroa de flores na base do Monumento aos Combatentes do Século XX, tendo sido proferidas algumas palavras alusivas ao acto, pelo ex-Combatente Artur Conceição, e pelo Senhor Padre Cláudio, Capelão Militar, e Pároco da freguesia de Campia, aproveitando a oportunidade para a leitura de um Poema Épico pertencente aos Rangers de Lamego.

Seguiu-se o desfile, encabeçado pelo Guião dos Combatentes da Freguesia de Campia, até à Igreja Paroquial, tendo sido celebrada missa em memória de todos os que entretanto já partiram.

Após a Eucaristia teve lugar a romagem ao Cemitério onde, novamente, foi ouvida uma citação aos Combatentes. Toque de silêncio e de alvorada, e a colocação de flores nas campas dos mortos em combate.

Do mesmo modo foi colocada, em local apropriado, uma coroa de flores em homenagem a todos os ex-Combatentes que já nos deixaram.

Foi ainda colocado um ramo de flores na campa do ex-Combatente Antonino Sílvio dos Santos Pereira, fundador e grande entusiasta deste evento e que prematuramente nos deixou.

Terminadas as cerimónias religiosas teve início, cerca das 12,30 horas, o almoço convívio servido nas novas instalações do Restaurante “O Sacristão”.

Está de parabéns o Carlos Duarte que, como vem sendo habitual, se esmerou na confecção dos produtos mais ao sabor dos participantes, agora servido em novo espaço que permite a todos andarem de mesa em mesa recordando as suas brincadeiras e aventuras de outros tempos.

A animação esteve a cargo de um grupo de concertinas e cavaquinhos, composto por oito elementos, que nos acompanhou desde o inicio do almoço até final, sempre com intervalos adequados, para que a convivência entre os participantes não fosse afectada. 

Que para o ano possamos estar todos de novo.

No final houve ainda tempo para um momento de poesia da autoria do Carmindo Pereira Ramos, Veterano da Índia, que a seguir se reproduz:

I
Fiéis ao nosso passado,
Em terras do ultramar,
Integrados num tratado!
A cumprir, a trabalhar.
II
Por uma causa importante,
Reescrita na História!
Dum país polivalente,
Sempre em busca da vitória.
III
Tínhamos um vasto império,
Desde o Minho a Timor!
Sua defesa…, um critério
De reputado valor.
IV
Seguimos, pois, as pisadas
Dos nossos antepassados,
Mas fechamos as portadas
Com trincos inacabados.
V
Estamos hoje circunscritos
Ao Rectângulo primitivo.
E é aqui que somos vistos
De tão perto, meus amigos.
VI
Outros impérios ruíram,
Quiçá mais fortes que o nosso!
Suas matrizes sumiram
Num conjunto de destroços.
VII
Novas Ordens Sociais
Emergiram pelo Mundo.
Conceitos mais actuais?
Mas sem sentido profundo.
VIII
Ser patriota, hoje em dia!
É uma coisa arbitrária,
Outra sim, se aprendia
Desde os bancos da primária.
IX
A Pátria, acima de tudo,
Assim, pois, nos ensinaram!
A bandeira verde/rubra
E a língua que nos legaram.
X
Mas:
Em pouca conta hoje se têm
Estes valores afirmados.
Tidos até com desdém,
Pelos que são mal formados.
XI
O nosso grupo de amigos!
Tem orgulho, tem certeza:
Tem costumes bem antigos,
Ama a Pátria Portuguesa.
 XII
Honra os seus camaradas!
Já tombados, no dever,
Quando nas Forças Armadas,
Lutavam para vencer.
XIII
Ano a ano está presente, (o grupo)
Na sede da freguesia.
Viva-se perto ou distante,
Seu destino é Campia!
XIV
E não sendo excepção,
Mais uma vez aqui vimos
A esta reunião,
Alegres, porque cumprimos.

Minuto de silêncio… após colocação da coroa de flores na base do monumento.

Colocação do ramo na campa do Antonino Pereira “O Maconde”.

Grupo de concertinas que teve a seu cargo a animação.
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P8718: Convívios (367): Relembrando o 1.º Convívio da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, em Fátima, no dia 24 de Maio de 1997 (Domingos Gonçalves)

 

1. Este poste é como que de apresentação da próxima serie "Guiné 66 - Reportagens da Época", memórias do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), enviadas em mensagem do dia 22 de Agosto de 2011.
CV



REENCONTRO DOS HERÓIS
FÁTIMA, 24-05-97

Ainda foram muitos os que responderam à chamada. Afinal, trinta anos não foi o tempo suficiente para apagar as amizades cimentadas pela adversidade e por inúmeras vivências inesquecíveis.

Compareceu o Comandante do Batalhão, alquebrado pelos anos, mas cheio, ainda, de lucidez e vivacidade. Homem de acção, dinâmico e generoso, sabia merecer o respeito de todos os que dele dependiam.

Compareceu o Comandante da Companhia, o homem que todos detestavam. Foi, enquanto Comandante, uma pessoa em cuja alma a generosidade e o humanismo não tinham lugar. Insensível ao sofrimento alheio, frio e distante, nada soube, ou quis, fazer para minorar o sofrimento dos homens que comandava.
Porém, nada cura melhor que o tempo. Trinta anos foram suficientes para desfazer ressentimentos e apagar da memória a lembrança dos actos mais mesquinhos. Sem mágoa e sem desejos de vingança, na hora do reencontro, todos lhe estenderam a mão.

E compareceram alferes, furriéis, cabos e soldados, que eram, afinal, os homens que no terreno faziam a guerra.
Caminhando ao longo das picadas que seguiam rumo ao desconhecido, mergulhando na lama das bolanhas, ou penetrando no coração da floresta densa e misteriosa, eram eles os verdadeiros combatentes.

Eram eles que sofriam as emboscadas, que atacavam os acampamentos inimigos, que defendiam as povoações, as pequenas tabancas, o povo simples e as suas culturas agrícolas.

Eram eles que sofriam a fome e a sede, a ansiedade e a fadiga, que faziam longas caminhadas a pé, ou sobre viaturas sem quaisquer condições de segurança.
Eram eles que sofriam os efeitos das armadilhas anti-pessoal, ou anti-carro, e que, enquanto conjunto de homens, mais pareciam, às vezes, dada a pobreza em que se vivia, um bando de maltrapilhos armados, do que o grupo de homens corajosos e valentes que, de facto, constituíam.

Porque convivi com eles, partilhando do mesmo destino ingrato, lutando pela mesma causa, nas mesmas condições de miséria, volvidos todos estes anos decidi passar a escrito algumas das nossas vivências no cenário da guerra que ajudámos a fazer.

Eles merecem que a história os não esqueça.
Vou, pois, contar um pouco da história que a Companhia de Caçadores n.º1546, do Batalhão n.º1887, com muito sofrimento ajudou a construir por terras da Guiné. É, afinal, um pouco da minha história...

Se a humanidade, no seu todo, é um astro luminoso a deambular pelo espaço sem fim, a Companhia de Caçadores n.º 1546 não deixará de ser uma das muitas faúlhas luminosas que esse corpo celeste foi, ou vai, largando no seu rasto.

A história é, precisamente, o rasto brilhante que esse belo corpo celeste, o homem, vai deixando ao longo da sua trajectória.

O que a minha Companhia fez na Guiné não passou, com efeito, de uma pequeno contributo para o desenvolvimento da guerra colonial. Mas a História é feita, regra geral, de conjuntos de coisas pequenas, até insignificantes, mas que têm sempre o seu brilho, o seu interesse e significado.
É normal os historiadores referirem apenas o nome dos grandes generais.
Mas eles só foram grandes por que tiveram milhares de homens a combater pelos objectivos que traçaram.
Na trajectória dos grandes generais apenas encontramos sofrimento e rios de sangue derramado por milhares de soldados desconhecidos.

Na Guiné contribuímos para que se fizesse uma guerra.
Foi, por certo, como aliás todas as guerras, uma guerra injusta.
Mas, a responsabilidade dessa injustiça nunca é dos soldados que fazem a guerra no terreno, mas apenas, e só, dos políticos que a conduzem, bem instalados em confortáveis gabinetes.

Os factos que se vão relatar aconteceram.
Eles foram reais, objectivos. Pertencem ao passado e ninguém os pode, minimamente, alterar.

A perspectiva que deles se tem e se transmite é subjectiva e está, por certo, influenciada por um conjunto de factores circunstanciais, de natureza social e psicológica.
É perfeitamente admissível que existam sobre esses mesmos acontecimentos outros pontos de vista, ou outras formas de os interpretar e ver em retrospectiva.

Algumas das pessoas que participaram na construção dessas vivências prefeririam, hoje, que não existisse nenhuma memória sobre o papel que desempenharam.
Mas os factos aconteceram.
Estiveram lá.

É certo que os graus de responsabilidade foram diferentes. Porém, todos fomos actores mais ou menos activos.
Mais ou menos, todos sofremos. Alguns, todavia, tivemos privilégio, ou a má sorte, de fazer sofrer os outros.
Mas que ninguém, agora, pense nisso.
Os ressentimentos, se os houve, apagou-os o tempo.

Os factos, as vivências, a socioafectividade, ou a falta dela, permanecem na memória das pessoas.
É só isso, o que ainda resta na lembrança, que se pretende preservar.

Não se deseja escrever textos de grande brilho literário.
Pretende-se, apenas, transmitir um modesto testemunho para a história da guerra colonial que, sem entusiasmo e convicção, ajudámos a fazer.

Domingos Gonçalves
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Notas de CV:

Vd. postes da série O Regresso dos Heróis

Vd. último poste da série de 31 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8713: Convívios (360): Tabancas de Guilamilo e de Candoz, geminadas...,

Guiné 63/74 - P8717: Fotos à procura de... uma legenda (11): O ninho de andorinha da Tabanca de Candoz

 

Tabanca de Candoz > 5 de Setembro de 2010 > O insólito ninho de andorinha, feito não no beiral do telhado, como é habitual nas andorinhas, mas no alpendre de um das casas (não habitada) da Quinta de Candoz (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses)...

Vídeo (18''): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados


1.  O vídeo, que eu fiz o ano passado, comprova existência de um família de andorinhas, que vem todos os anos do norte de África, imagino, passar as férias de verão e reproduzir-se em Candoz, na nossa quinta (*)... Temos um especial carinho por este ninho, que já tem três ou quatro anos... Nunca, que eu me lembre, de há 36 anos para cá, nenhuma andorinha tinha feito ninho na nossa terra... Estas, tal como eu, chegaram e gostaram, voltando sempre... Este ano não fiz nenhum vídeo, mas dou conta, todos os dias,  do movimento à volta do ninho, de entradas e saídas...

Espero a complacência (e a cumplicidade) dos nossos leitores para estes inocentes passatempos de verão. O mundo está feio, tal como o meu joanete... A gente tem de cultivar a horta do nosso bom humor e sabedoria... E as andorinhas,s e calhar desalinhadas,  mostram também que nós, seres humanos,  podemos ser todos diferentes e até únicos, e que isso só nos enriquece como espécie... LG
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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior da série > 29 de Agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8712: Fotos à procura de... uma legenda (10): Mais outra foto-mistério, do álbum de Luís Graça