segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9336: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (8): Fragmentos Genuínos - 6

FRAGMENTOS GENUÍNOS - 6

Por Carlos Rios,
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66


Era patente o ar de desânimo que se tinha instalado na Companhia, conducente a verdadeira pusilanimidade em todas as acções desenvolvidas, situação que criou em mim, já na altura um inconformado, impulsivo e obstinado, uma vontade de sair daquela modorra e requerer a transferência para os Comandos, o que provocou acesa troca de palavras com o Malaca dos Santos, o único que eu aceitava como interlocutor o que, por minha teimosia de nada valeu e lá fiquei a aguardar a chamada.
As memórias já difusas, passados que são mais de quarenta anos, não me permitem afirmar em absoluto, se ainda com o C. presente ou pouco depois apresentou-se para comandar um pelotão desanimado, amorfo e ainda chocado com o desaparecimento do seu líder e grande amigo Vasco, o Rui Alexandrino Ferreira. Apareceu-nos então um jovem Alferes, com um aspecto imberbe, parece-me que ainda não se barbeava; com uns óculos de lentes grossíssimas nuns aros de tartaruga mas com sentido de presença e um ar azougado e obstinado.
Foi displicentemente e com desconfiança recebido, o que aparentemente não o beliscou nada. Praticamente dávamos a entender que nós os velhinhos (que prosápia), não lhe passávamos cartão. Muito me tenho retratado ao longo da vida desta atitude de crianças rabinas. Que abnegação perseverança e tenacidade terão que ter existido neste HOMEM, para a prossecução dos objectivos que pretendia alcançar.

Quase de imediato saímos para o mato num patrulhamento e pesquisa de um hipotético objectivo (casa de mato), e espantados, vimos que o grande Rui se postava quase à testa da coluna, nos lugares de maior objectividade e em qualquer lugar passível de haver perigo.
Aparentemente indiferente aos piropos e apartes de alguns, (quão confrangido me senti muito pouco tempo depois por não ter intervindo mandando-os calar).

Ouvia-se:
- Será que o periquito sabe o que está a fazer?
- Dá cá o bico oh periquito!
- O gajo é mas é marado! É o que é! Só cá podia vir parar mais um tolinho!
- Esperem até que rebente alguma bernarda que logo vão ver o gajo todo acagaçado.
- Tás maluco! O Sacana é fino! – vais ver que se aguenta

Notava-se já um desanuviamento, eu próprio começava a sentir-me motivado e vazio de dúvidas.
Depois desta incursão e comportamento claramente demonstrativos de uma invulgar personalidade, que rapidamente calou os desbocados, e fez começar a desaparecer o desânimo instalado e aparecer imensa expectativa.
O Rui, apenas pelo seu valor e maneira de ser, adulterou as rigorosas regras comportamentais que disciplinavam e eram regra até à sua chegada, como na generalidade das Forças Armadas, numa forma até então considerada óbvia, o rígido relacionamento entre as três categorias que integravam a Companhia, Oficiais, Sargentos e Praças. Era porém diferente a visão do Rui e rapidamente passou da teoria à prática.

Creio que ainda hoje não me passou a estupefacção que me assaltou e me fez aderir incondicionalmente, nem que isso viesse a acarretar quaisquer dissabores. Não posso olvidar a sensata entusiasmante e eficaz intervenção do meu amigo Zé Monteiro no autêntico derrube de um sistema de relacionamento dogmático e divisor entre pessoas onde é necessária uma profunda coesão.
Seríamos sempre dois a acarretar com as responsabilidade de alterar códigos obsoletos.
Para além, muito para além, da existente e obsoleta hierarquia formal onde diariamente era esbatida e vinha ao de cima o valor humano de cada um na entrega e defesa da vida e dignidade gerais, sendo evidente as tentativas de auto-exclusão, salvo raras e honrosas excepções dos mais graduados, estava para nós a horizontalidade do primado do Homem.

Independentemente do posto, todos eram homens, com as suas qualidades e defeitos, manifestando as suas alegrias ou tristezas transmitindo algumas vezes com intensa emoção as suas incertezas, dúvidas e esperanças; porque estas são as últimas a morrer. Ali cada dia passado era uma conquista alcançada no atroz sofrimento da dúvida em prosseguir a vida ao encontro do seu saudoso lugar de direito. Mas acima de tudo a todos terem de ser encarados na sua imensa dimensão humana.
E neste ínterim, porque assim nos víamos e considerávamos, o Rui foi o precursor do tratamento de todos por igual, independentemente do posto de cada um sugerindo reciprocidade, fazendo despoletar em nós os mais belos e nobres sentimentos, este jovem imberbe tão invulgar se nos afigurou que rapidamente conquistou e conseguiu aquilo que me pareceu ser o seu objectivo, vindo a criar-se no grupo um sentimento de amizade e solidariedade imensos, fazendo desaparecer o desânimo e alguma intolerância, desencadeando uma empatia em que por incentivo conjunto se veio o pelotão a tornar no grupo temível e empolgado que, quando flagelado não se abrigava ou defendia, mas sim irrompia, de peito aberto com um volume de metralha incomensurável contra o inimigo e o desbaratava e punha em fuga.

Já entrosados em profunda empatia e solidariedade com elevado grau de confiança e entusiasmo estruturantes do grupo, fomos fazer um golpe de mão a uma casa de mato do inimigo em Binhalom. Na fila a caminho e ao encontro do objectivo, como de costume ocupava o segundo ou terceiro lugar vindo pouco depois o Rui e mais atrás o vigilante perspicaz e ponderado Zé Monteiro, que psicologicamente, como ainda hoje com todo o respeito sinto, como que me fazia sentir protegido de uma grande enxurrada por um polivalente chapéu de chuva, detectados e recebidos por valente saraivada de rajadas que felizmente não feriu ninguém, de imediato nos lançámos em avassalador e inconsciente ataque à posição IN, reagindo em conjugação de esforços todo o pelotão a maioria imitando-nos a mim e ao Rui sempre de pé, porque do chão nada se via, nada se controlava e o que poderia acontecer era desatarmos aos tiros para o ar, nada se dirigia e pouco se reagia, com a ajuda e protecção da sorte e da fortuna, essenciais nesses momentos, mas que tudo fizemos para o merecer e a sorte protege os audazes, disparando intensamente e corrigindo a pontaria, lançando eu próprio algumas granadas de mão sobre as posições donde pareciam provir os tiros conseguimos levar ao abandono do local os elementos do IN, muito embora de cada vez mais longe se continuassem a ouvir esparsas rajadas na fuga ao nosso avanço. Entrados então em Binhalom onde destruímos diversas tabancas duas canoas e capturámos algumas armas.

Vista geral do exterior do lado da porta de armas, ao fundo

Numa das curtas permanências em Fulacunda, o sentimentalão do Ferreirinha, irradiando alegria, dizia-me na cantina, depois de emborcarmos umas “Bazookas” :
- Eu não te dizia que se vinha juntar a estes mais um tolinho. Que maravilha.

Aspecto geral da Tabanca em Fulacunda

Homem de uma extraordinária humanidade fez-me a cortesia de escrever e publicar em livro de sua autoria:

“… mas tendo por especial referência o Rios, que foi ao longo do tempo que passou entre nós até ser gravemente ferido o elemento mais activo, dos que nunca se incomodava na busca de um abrigo ou de outra qualquer protecção. Ás vezes em manifesto abuso da sorte, como bem se viu, pois tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia lá deixa uma asa. Mas era uma força da natureza. Certamente sem ele a minha acção teria sido bem mais difícil senão mesmo impossível de levar a bom porto.
Nunca lhe poderemos, nem eu nem seguramente todo o grupo, que legitimamente era e será sempre o seu, retribuir o muito que por nós sacrificou, a generosidade com que nos brindou, o exemplo que nos contagiou e que só têm paralelo no orgulho imenso que por ele sentimos, na eterna gratidão que lhe devemos.
Poucos furriéis milicianos têm seguramente uma Cruz de Guerra de 1ª. Classe como ele. Se mais algum a tem certamente a não mereceu mais".

Pouco tempo passado fui então chamado para em Brá-Bissau, sede do Regimento de Comandos, prestar provas psicotécnicas e físicas para admissão ao próximo curso destes agrupamentos, tendo-me portado a contento e mandado assim que possível de regresso à minha anterior situação até à necessária chamada. Foi um período de tempo inimaginável de solidão e nostalgia, pois que o tempo ali passado abarcou o período de Natal e passagem do ano, e não consegui vislumbrar um único aspecto de solidariedade ou de inter-relacionamento comigo ou entre os elementos que por ali se passeavam cheios de empáfia, de lenços coloridos ao pescoço, com um ar soturno que inibia os novatos. Os sentimentos que me assaltaram eram tão negativos que para além da dorida saudade dos entes queridos e das lembranças da santa terrinha até dos meus camaradas da Companhia a que pertencia senti falta.
Enfim, felizmente que depois de chamado, não cheguei a ir para os Comandos, por razões que mais à frente destacarei, porquanto tenho das diversas vezes que operámos em conjunto com alguns grupos de Comandos uma péssima opinião.

Na segunda semana de Janeiro lá me mandaram embarcar numa coluna que se destinava a Bafatá para sair em Bissorã, local para onde tinha sido deslocada a minha Companhia, sendo ao apresentar-me no pelotão sido confrontado com uma ideia engendrada pelo Rui, e à qual aderi de imediato porquanto vinha ao encontro e preenchia totalmente as minhas perspectivas. Resolveu o sagaz camarada mais graduado do pelotão criar um grupo para o qual só entraria quem quisesse aderir à ideia, quase a totalidade dos constituintes do anterior pelotão o fez entusiasticamente, o Zé Monteiro mostrou-se um pouco recalcitrante à ideia, mas o espírito de solidariedade, coesão e amizade já existente naquele bloco, falaram mais alto e com o grupo recomposto e readaptado a funções mais interventivas e beligerantes (estaria o grupo sempre preparado e disponível para um eventual primeiro embate), tentava-se assim fugir aos serviços rotineiros, faxinas, guardas, etc… e ao qual resolvemos baptizar de “Insaciáveis” e pusemos a divisa de “Comandos da Caç1420” – que falta de parcimónia/que prosápia. Não tivemos nenhuma baixa mortal, sendo meu orgulho pelo cumprimento da minha missão ser eu o que mais estropiado ficou de entre os vários feridos em combate, quando co-responsável por aquelas três dezenas de Homens.

A estes jovens foi reconhecido valor e mérito que se traduziu em:

- Alf. Mil. Rui Fernando A. Ferreira – Cruz de Guerra de 1.ª classe
- Fur. Mil. Carlos Luís M. Rios - Cruz de Guerra de 1.ª classe
- Sold. José Ferreira dos Santos - Cruz de Guerra de 2.ª classe
- 1.º Cabo Manuel Oliveira da Silva - Cruz de Guerra de 3.ª classe
- 1.º Cabo Fernando Vieira Sampaio - Cruz de Guerra de 4.ª classe

Foram ainda merecedores de louvores do Comando de Sector (Agrupamento de Mansoa) os seguintes militares:

- 2.º Sarg. Artur Dias Ameixa - Um estóico e exemplar representante do Q.P.
- 1.º Cabo António Marques Oliveira - A serenidade e sensatez
- Sold. José Marques Fernandes (Zé do Eixo)- A audácia e desembaraço
- Sold. Américo Dias da Silva - Calmo e ponderado numa total e consciente entrega foi considerado “o exemplo do soldado Português".

Foi ainda louvado pelo Comandante do Batalhão o 1.º Cabo Radiotelegrafista Valdemar Ferreira Vilela - A personificação da compenetração e competência.

(Continua)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9320: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (7): Fragmentos Genuínos - 5

Guiné 63/74 - P9335: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (4): Baixas: mortos e feridos (Benjamim Durães)

Fonte:

Excertos de História do Batallhão de Artilharia nº 2917, de 15 de Novembro de 1969 a 27 de Março de 1972. Versão em suporte digital, gentilmente disponibilizada pelo Benjamim Durães,  membro da nossa Tabanca Grande (*)

No final da IAO, ainda em Viana do Castelo, em 8/4/1970, o comandante do BART 2917 tinha alertado para o risco de se morrer ou ficar ferido devido à frequência e gravidade dos acidentes ("No Ultramar, muitos dos que morrem ou se incapacitam, são vítimas de desleixo e falta de obediência pronta e completa, às ordens recebidas. A maioria das baixas é devida a desastres com viaturas auto ou a acidentes com armas de fogo. Os excessos de velocidade e as manobras perigosas são permanente precaução. No mato só se atira para acertar. Os tiros à sorte, são os que matam os nossos Camaradas")...


Mas, como mostram os dados constantes da História da Unidade, a maior parte das baixas do batalhão e das subunidades a ele adidas foram devidas ao fogo do inimigo... No Setor L1, em pleno coração da Guiné, equidistante do norte e do sul, do leste e do oeste...

Aqui fica a nossa homenagem a estes valentes e valorosos camaradas, metropolitanos ou guineenses,  que morreram ou ficaram gravemente feridos em lugares que nunca mais esqueceremos, aqueles de nós que ainda estão vivos: Jagarajá, Xitole, Mansambo, Xime, Poidon, Ponta do Inglês, Nhabijões, Finete, Missirá, Sancorlã, etc... Entre os feridos graves, conta-se o nosso camarada Benjamim Durães, DFA,  a quem devemos a versão digital da história do seu batalhão, a que aqui recorremos como valiosa fonte de informação... LG



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > Monumento aos mortos do batalhão e unidades adidas: CCAÇ 12, Pel Cacç Nat 52, Pel Caç Nat 54, pel Caç Nat 63 e  Pel Mil 201... Este monumento, como muitos outros,  foi destruído a seguir à independência da Guiné-Bissau.

Foto de Júlio Campos, ex-Fur Mil Sapador, BART 2917 (1970/72), enviada pelo nosso camarda Sousa de Castro.


CAPÍTULO III > BAIXAS SOFRIDAS, PUNIÇÕES, LOUVORES E CONDECORAÇÕES

A - BAIXAS SOFRIDAS PELAS NT

1 – EM COMBATE

a) - MORTOS


(i) CCS /BART 2917


- Picador SECO CAMARÁ Assalariado: Morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM.CANDENTE”; Está sepultado em Nova Lamego

(ii) CART 2714

- Picador MUSSA BALDÉ, Assalariado; morto na picada de BAMBADINCA/XITOLE, junto a MANSAMBO em 15/09/70, na montagem de segurança a uma coluna auto de reabastecimentos vinda de Bambadinca; sepultado em Sansacuto.

(iii) CART 2715

- Alferes Mil. Atirador JOÃO MANUEL MENDES RIBEIRO 17853469; morto em 04/10/71 na Operação “DRAGÃO FEROZ”; está sepultado em Castelo Branco;

- Furriel Mil. Mec. Auto JOAQUIM ARAÚJO CUNHA 14138068; morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador JOSÉ MANUEL RIBEIRO 18849069, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”, sepultado em Lousada.


- Soldado Atirador FERNANDO SOARES 06638369, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”,  sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador MANUEL SILVA MONTEIRO 17554169, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”, sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador RUFINO CORREIA OLIVEIRA 17563169, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”, sepultado em Oliveira de Azeméis;

- Guia NANSU TURÉ, assalariado, morto em 04/10/71 na Operação “DRAGÃO FEROZ", sepultado em Bafatá.

(iv) CART 2716


- Furriel Mil Atirador JOAQUIM MANUEL PALMA QUARESMA 03818069, morto em 22/10/70, quando procedia a um armadilhamento; sepultado em Silves.

(v) CCAÇ 12

- Soldado Condutor MANUEL DA COSTA SOARES 4853968, morto em 13/01/71 no rebentamento de uma mina anti-carro no Destacamento de NHABIJÕES, sepultado em Oliveira de Azeméis.

- Soldado Atirador USSUMANE SISSÉ 2107669, morto em 05/05/71 na Operação “TRIÂNGULO VERMELHO”, sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador CHEVAL BALDÉ 82118869, morto em 01/06/71 na Operação “TORDO VERMELHO”,  sepultado em Bafatá.

(vi) PEL CAÇ NAT 52

- 2º Cabo Atirador NHAGA MACQUE 82068762, morto em 28/08/71 numa Acção de Patrulhamento em Finete, sepultado em Enxeia.

(vii) PEL CAÇ NAT 54

- Soldado Atirador SUNTUM CAMARÁ 82047766, morto em 05/05/71 na Operação “TRIÂNGULO VERMELHO”, sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador ADI JOP 82130863, morto em 05/05/71 na Operação “TRIÂNGULO VERMELHO”, sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador CHERNO SIRÁ SANHÁ 82088464, morto em 22/06/71 na Acção “GALHITO”; está sepultado em Bedanda.

- Soldado Atirador SAMBARO EMBALÓ 82052068, morto em 22/06/71 na Acção “GALHITO”, sepultado em Farim.

(VIII) CMIL 1 - PEL MILÍCIAS 201

- Soldado Milícia IAIA JAU 237/68, morto em 04/03/71 na Acção que se desenrolou em Sancorlã e Paté Gidé, sepultado em Bambadinca.


b) - FERIDOS


(i) CCS /BART 2917

- Alferes Mil. Sapador LUÍS RODRIGUES CARDOSO MOREIRA 0371166, ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- 1º Cabo Reab. Mun. ARMINDO MOURA NUNES 13256369, ferido em 10/12/70 no accionamento de uma mina A/C junto da Ponte do Rio Jagarajá, no XITOLE.

- Soldado Sapador JOSÉ EDGAR FERREIRA MAGALHÃES 02828069
- Soldado Condutor MANUEL CASTRO RIBEIRO SILVA 08943669, ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Transm. AUGUSTO JESUS MARTINS 15317569

- Soldado Sapador ADOLFO ALVES SAMPAIO 10048969


(ii) CART 2714


- Alferes Mil. Atirador JOAQUIM SILVA PEREIRA 17655869, ferido em 12/07/71 na Operação “QUADRILHA SAGAZ”.

- Furriel Mil. Atirador ANTÓNIO SANTOS LAPA 01656369

- Soldado Atirador JOÃO BRAGA MOITA 18560269

- Soldado Atirador MANUEL AUGUSTO SILVA RIBEIRO 16775969, ferido em 12/07/71 na Operação “QUADRILHA SAGAZ”.


- Guia Nativo IABO BALDÉ, Assalariado, ferido em 12/07/71 na Operação “QUADRILHA SAGAZ”.

(iii) CART 2715


- Capitão de Infª ARTUR BERNARDINO FONTES MONTEIRO 04716663
- 1º Cabo Reab. Mat. ANTÓNIO PEREIRA 01656369
- 1º Cabo Atirador ANTÓNIO OLIVEIRA GOMES 18560269
- 1º Cabo Atirador MANUEL FERREIRA MARTINS OLIVEIRA 17551269
- 1º Cabo Atirador AMÉRICO FERREIRA ROCHA SILVA 18491669
- 1º Cabo Atirador FERNANDO AUGUSTO FERREIRA VIEIRA 17117169
- Soldado Atirador JOSÉ SILVA GOMES 17141969
- Soldado Atirador JOSÉ ELÓI DUARTE 17217369
- Soldado Condutor ADELINO GOMES ALVES 08209769
- Soldado Ap. Metralh. LAURINDO AUGUSTO SILVA CORREIA 17045269
- Soldado Ap. Metralh. JOSÉ GRILO MATOS 17095169
- Soldado Atirador NARCISO SILVA FONSECA 17210169
- Soldado Atirador IDALINO QUINTANEIRO 17140769
- Soldado Atirador CARLOS PEREIRA TEIXEIRA 17079069
- Guia BACAR BIAIA Assalariado


(iv) CART 2716


- Furriel Mil. Atirador JOSÉ TRIGUEIRO PEREIRA LEONES 08514268
- 1º Cabo Atirador JOÃO ROCHA CARVALHO 19212869
- Guia Nativo SAMBA TEYE Assalariado
- Auxiliar de Guia JOMEL BALDÉ Assalariado
- Auxiliar de Guia OCHA CAMARÁ Assalariado

(v) CCAÇ 12

- Alferes Mil. de Cavª JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES RODRIGUES 1054866, ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.
- Furriel Mil. Atirador ANTÓNIO FERNANDO RODRIGUES MARQUES 13951567, 
ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES. 
 - Alferes Mil. Atirador FLORINDO GONÇALVES COSTA
- Furriel Mil. Atirador JOAQUIM A. M. FERNANDES 15265768, 
ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES. 
 - Soldado Atirador ADULAI BALDÉ 82117069
- Soldado Arv. Atirador ALFA BALDÉ 82100069
- Soldado Atirador AMADÚ CAMARÁ 82117669
- Soldado Atirador AMADÚ TURÉ 82117369
- 1º Cabo Atirador ARMINDO REIS PIRES 82042169
- Soldado Atirador ARUMA BALDÉ 82103269
- Soldado Atirador BACARDENA BALDÉ 82153771
- Carregador CABI NAFAMBA Assalariado
- Soldado Atirador CHERNO BALDÉ 82115269
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES(,
- Soldado Atirador DEMBA JAU 82115169
- Soldado Atirador IERO JUMA CAMARÁ 82116469
- 1º Cabo Atirador JOSÉ CARLOS SULEIMANE BALDÉ 8211556
- Soldado de TRMS JOSÉ GARCIA PEREIRA 06833469
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES).
- Soldado Atirador JOSÉ MARIA DAYES 82179370
- Soldado Atirador JOSÉ MATIAS G BARROS 82129769
- Soldado Atirador MALAN JAU 82109369
- Soldado Atirador MALAN NANQUI 82109969
- Soldado Atirador MAMADU BALDÉ 82119069
- Soldado Atirador MAMADU COLUBALI 82116569
- Soldado Atirador MAMADÚ JALÓ 82117969
- Soldado Atirador MAMADU JAU 82108369
- 1º Cabo Atirador MANUEL GONÇALVES ALVES 09983370
- Soldado Atirador MAURO BALDÉ 82108969
- Soldado Atirador MUSSA SEIDI 82118669
- Soldado Atirador QUECUTA COLUBAL 82118369
 (feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES).

- 1º Cabo Atirador SAIDO SEIDI 82015469
- Soldado Atirador SAJO CANDÉ 82107069
- Soldado Atirador SAJUMA JALÓ 82116069
- Soldado Atirador SAMBA JAU 82106869
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Arv. Atirador SAMBA SÓ 82115469
- Soldado Atirador SANA CAMARÁ 82119069
- Soldado Atirador SHERIFO BALDÉ 82115669
(feridosem 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Atirador SIDI JALÓ 82116369
- Soldado Atirador SULEIMANE BALDÉ 82042966
- Soldado Atirador SULEIMANE BALDÉ 82110269
- 1º Cabo Atirador SULEIMANE SEIDI 82112964
- Soldado Atirador TENEN BALDÉ 82115769
(feridos em 13/01/71 no rebentamento de uma mina anti-carro no Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Atirador TOTALA BALDÉ 82108769
- Soldado Atirador USSUMANE BALDÉ 82117169
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES(.


(vi) PEL CAÇ NAT 52


- Soldado Atirador TUNCA SEIDI 82063665
- Soldado Atirador JOBO BALDÉ 82068868


(vii) PEL CAÇ NAT 54


- Furriel Mil. Atirador JOSÉ A L PIRES 10684269
- Soldado Atirador ANTÓNIO MANINHO 82049167
- Soldado Atirador SHERIFO BALDÉ 82056966


(viii) PEL CAÇ NAT 63

- 1º Cabo Atirador SANASSI BALDÉ 82052865
- Soldado Atirador SAMARO JAU 82069865
- Soldado Atirador GUIRO JAU 82064067
- Soldado Atirador NIANDA EMBALÓ 82035566

(ix) 20º PEL ARTª

- 1º Cabo MORAIS SILVA 82022162
- Soldado FERNANDO J S SILVA 00928068

(x) PEL MILÍCIAS 202

- Soldado Milícia USSUMANE BALDÉ 158/66
- Soldado Milícia IERO JAU 081/69
- Soldado Milícia UMARO JALÓ 368/67

(xi) PEL MILÍCIAS 241

- Soldado Milícia AMADU JAU 374/64
- Soldado Milícia SAMBA CANDÉ 359/67
- Soldado Milícia USSUMANE BALDÉ 375/64

2 – POR OUTRAS CAUSAS
a) - MORTOS

- PEL CAÇ NAT 54
- 1º Cabo Atirador FERNANDO VASCO MENOITA 00762170, morto (Acidente) em 01/07/71, sepultado na Guarda.


- PEL CAÇ NAT 63

-  Soldado Atirador JANGO CANDÉ , morto (Doença) em 15/03/71, sepultado em Bambadinca.

- CART 2716
- Soldado Atirador JOSÉ MARIA PALÁCIOS ALMEIDA 02314469, morto (Doença) em 15/07/70, sepultado em Góis.

- CCAÇ 12
- Soldado Atirador ANTÓNIO MANJOR GOMES, morto (Acidente) em 12/11/71; está sepultado em Bijagós.
-  1º Cabo Atirador BUCAR BALDÉ, morto (Doença) em 04/07/71, sepultado em Bambadinca.

- PEL MILÍCIAS 201
- Soldado Milícia MAMA SALIU CAMARÁ, morto (Acidente) em 28/08/70, sepultado em Bissau.
- 1º Cabo Milícia CASSAMBA CANDÉ, morto (Acidente) na Operação “TORDO VERMELHO”em 01/06/71, sepultado em Bissau.

- PEL MILÍCIAS 308
- Soldado Milícia MOTARO BALDÉ, morto (Doença) em 12/09/71, sepultado em Bambadinca.
(...)

__________________

Nota do editor:

Último poste da série > 7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9324 História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (3): Homilia do Alf Mil Capelão Arsénio Chaves Puim, em Viana do Castelo, a 6/5/1970, na missa da benção dos guiões, antes da partida (Benjamim Durães)

Guiné 63/74 - P9334: Notas de leitura (321): Prática e Utensilagem Agrícolas na Guiné, por F. Rogado Quitino (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Dezembro de 2011:

Queridos amigos,
O trabalho de Fernando Rogado Quintino bem merecia ser reeditado, é de uma grande beleza gráfica e tirando um punhado de alterações, sobretudo à escala demográfica, mantém-se irrepreensível. O António Estácio, nas suas investigações, encontrou cinco chineses degradados na Guiné, em 1902, dedicaram-se à pesca e à orizicultura, de acordo com vários trabalhos, deram um excelente contributo para o florescimento da cultura de arroz em toda a região Sul. As fotografias são muito comoventes, está confirmado o contributo chinês para a orizicultura guineense. O António Estácio continua à procura de outros nomes, é infatigável e tem uma paciência chinesa…

Um abraço do
Mário


Práticas e utensilagem agrícolas na Guiné

Contributo chinês para a orizicultura guineense

Beja Santos

“Práticas e utensilagem agrícolas na Guiné”, por F. Rogado Quintino, com belíssimos desenhos de Fernando Galhano, é um livro incontornável para o estudo das práticas agrícolas de ontem e hoje (edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1971).

Para o autor, tratava-se de responder ao desafio de preencher a grave lacuna de na vasta bibliografia relacionada com a Guiné não haver um tratamento desenvolvido quanto às práticas agrícolas e um reportório minimamente rigoroso de utensílios e alfaias. Falando das populações, Rogado Quintino refere que na época as regiões mais povoadas se situavam no litoral entre a ria de Cacheu e o estuário do Geba. As regiões menos populosas do litoral eram as da margem direita da ria de Cacheu, ao norte, e as das duas margens da ria de Cacine, ao sul. Para se entender a agricultura guineense é fundamental perceber o regime das precipitações, como ele observa: “Nas zonas tropicais, a partir de 10º de um e de outro lado do Equador, as actividades agrícolas têm de estar subordinadas ao regime das precipitações. Fora do período das chuvas, nada ou quase nada se pode fazer em matéria de lavoura. A cultura do arroz tem a primazia, é a base alimentar do guineense. É uma tarefa penosa em extremo, obriga o agricultor a enfrentar duríssimas situações, com horas consecutivas na água e no lodo".

Por vezes a narrativa de Rogado Quintino tem laivos poéticos quando diz que as chuvas comandam todas as tarefas e determinados sinais considerados infalíveis anunciam a sua aproximação: aves migradoras (caso do flamingo) a presença de certos insectos, o rebentar das folhas da cabaceira; as chuvas começam a cair primeiro no Sul, em Cacine, progridem paulatinamente para o Norte e acabam sempre em Cacine.

O seu estudo abarca quatro áreas: das gentes e da sua estruturação. Dos solos e do seu tratamento; das práticas agrícolas; da utensilagem e da sua confecção. Primeiro, aborda a natureza da população, como se define a unidade cultural dos grupos, qual é a estrutura social na economia rural, enuncia as produções agrícolas e como se processa o auto-abastecimento das populações rurais, esquematizando as populações agrícolas e o seu calendário. Segundo, aqueles agricultores nunca ouviram falar nem em física nem em química, nem em azoto, ácido fosfórico ou potassa mas sabem distinguir pela cor, pelo tacto, pelo sabor, todos os solos. Explica como os solos virgens, invadidos pela água das marés, quando podem receber obras de barragem para retenção das águas (ouriques) são aproveitados para a orizicultura. Estas barragens são construídas em esteiros em que o volume e pressão das águas não exigem trabalhos de grande monta. Fala do arado e explica que o arado balanta é usado também pelos grupos Papel, Manjaco, Felupe e Bijagó. Os grupos arabizados, em vez do arado balanta, usam uma espécie de arado-enxada. No que toca à prática agrícola, Rogado Quintino começa por apresentar as culturas de quintal e as culturas de lugar. E depois espraia-se sobre as culturas de arroz, sorgo, milho (incluindo o milho preto), mandioca, fundo, feijão, mancarra, batata-doce, inhame, candje, baguiche, jagatu, manfafe e abóbora. Quanto à utensilagem, Rogado Quintino não deixa de observar que as alfais que se usam na agricultura são porventura as mesmas que se conhecem há milénios na região.

O nosso confrade António Estácio teve a amabilidade de me enviar a comunicação que apresentou na V Semana Cultural da China, que se realizou em Janeiro de 2002. Estácio é natural da Guiné, fez o curso de regente agrícola e viveu em Macau de 1972 e 1998. Andou à procura da presença de chineses na comunidade guineense e foi bem-sucedido. Segundo ele, um punhado de cidadãos chineses prestaram um valioso contributo no desenvolvimento da cultura do arroz na Guiné, com destaque para a região de Catió. Tudo começou quando a chalupa “D. Carlos I” lançou ferro no porto de Bolama, em Agosto de 1902, desembarcando alguns macaístas que haviam sido julgados pelo crime de homicídio e de jogo clandestino e condenados a penas de degredo da Guiné. António Estácio fez a leitura dos boletins oficiais da Guiné portuguesa e localizou dois desses cidadãos chineses: Liá-Sengue terá falecido em Novembro de 1905 em Cacine, e em Abril de 1906, também em Cacine, Leano-Seng. Estácio alerta para vários erros dizendo que Liá-Sengue corresponde o nome de Li Seng ou Lee Seng enquanto que o de Leano Seng corresponde a Leong Seng. Na continuação das suas investigações, Estácio confirmou junto de um seu antigo colega que o seu avô Weng Tak Seng tinha ido para a Guiné no início do século XX e que o pai deste seu antigo colega se chamara Boaventura Wentacem António Silva. Weng Tak Seng veio a falecer em Bolama, acometido de febre-amarela.

Depois da I Grande Guerra a produção de arroz deu um grande salto na Guiné. Vários autores referem o papel dos chineses ligados à pesca e à agricultura, associando os seus nomes à produção de arroz em Tombali e Catió e aparecem dois nomes proeminentes Lai San, cultivador de uma ponta perto de Catió e Kat Chan, também residente em Catió. A concluir, Estácio dá como comprovado que um grupo de cidadãos chineses idos de Macau chegou à Guiné no início do século XX, refere precisamente 5 nomes e mostra imagens das campas desses antigos degradados de alguns dos seus descendentes. Uma pequena maravilha! Esta separata que o António Estácio tão gentilmente me ofereceu ficará na posse do blogue.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9319: Notas de leitura (320): Anjos na Guerra, de Susana Torrão (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9333: Parabéns a você (364): Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9318: Parabéns a você (363): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)

domingo, 8 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9332: Blogoterapia (196): Lembras-te? (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado*, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 6 de Janeiro de 2012:

Caro Carlos, Luís e restante Tabanca Grande
Faz anos que tínhamos chegado a Bissau. O Batalhão ficou alojado no Cumeré onde fez o treino operacional.
Os Condutores foram para Bissau tirar um curso sobre Berliet e condução em todo terreno. As Berliet Tramagal eram diferentes das que até aí tinha conduzido durante a instrução. Os seis rodados em linha, bem como outras alterações nestes modelos criados especialmente para as nossas picadas, necessitaram de instrução. Também nos foi ministrado cursos de manutenção das mesmas.
Mais um mês estaríamos a caminho de Galomaro, Saltinho, Canculim e Dulombi.

Um abraço
Juvenal Amado




LEMBRAS-TE?

O estampido abafado pelo grito.
Lembras-te do cheiro que tinha a morte?
Da surpresa no olhar do moribundo,
o que fazer para esquecer o seu olhar?
Lembras-te como o sangue sai em esguichos
e que os sulcos de suor da face desaparecem com as lágrimas?
Lembras-te do cheiro a podre da água na picada,
do aspecto irreal das coisas através das ondas de calor.
Lembras-te dos abutres cheirando a carniça
e o teu terror em mudar os pés?
Lembras-te das saídas dos morteiros e dos RPG?
O tilintar das garrafas no arame farpado,
das sombras que dançavam no teu olhar cansado.
Lembras-te de destravar a arma desejando que fosse engano?

Lembras-te de estar no café e assustares-te com barulho de um escape?
Quase te atiraste para debaixo da mesa.
Lembras-te de olhar em volta e ver os sorrisos de quem não esteve lá?
Lembras-te…?

Lisboa, 18 de Dezembro de 1971 > Embarque do BCAÇ 3872 no navio Angra do Heroísmo
Fotos: © Sousa Apontador de Morteiro 81 do Dulombi
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9261: Estórias do Juvenal Amado (40): O meu compadre Aljustrel

Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9294: Blogoterapia (195): Ano Novo de 1970 em Empada (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P9331: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (28): A guerra em Dunane

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 6 de Janeiro de 2012:

Amigo Vinhal
Junto mais uma história, para as "Memórias boas da minha guerra".
As fotos foram tiradas lá no "resort" de Dunane. Escolhe o que julgares mais adequado.

Um abraço do
Silva da Cart 1689



Memórias boas da minha guerra (28)

A guerra em Dunane


Dunane era um destacamento sob a responsabilidade da Companhia instalada em Canquelifá.

Estávamos em 1968. A Companhia, em final de comissão, foi transferida para Canquelifá, deixando um pelotão aquartelado em Dunane. Em poucos dias deu para entender que estavam a gozar o merecido descanso do guerreiro. Não havia suspeita de guerra, os serviços eram poucos e o tempo ia-se gastando da melhor forma.

Dormia-se muito, bebia-se bastante e brincava-se com o relax da situação. Havia tempo e mais que tempo para colocar a escrita em dia e ainda foram inventadas algumas distracções: uns joguitos de futebol, uns jogos à malha e outros às cartas e lá se ia aproximando o fim da comissão. Acrescentemos que este laxismo tinha os seus pontos altos numa ou noutra bebedeira inerente a algum aniversário ou alguma outra data que a tropa julgasse dever assinalar.

A quebrar esta situação quase idílica, veio uma ordem para se fazer um simulacro de ataque nocturno, para testar se tudo estava bem e, ao mesmo tempo, manter aquela qualidade guerreira que tanto caracterizou a prestigiada Companhia. Falava-se que esta zona iria piorar devido à subida dos turras de Madina de Boé e à intenção do PAIGC isolar o “bico” nordeste da Guiné. Pelo menos, foi disto com que nos alarmou o Alferes “Maluco”, agora investido na categoria de chefe máximo da Tabanca e das Operações Militares, que ficou excitadíssimo com tanta responsabilidade.

Pois, nesse dia, o Areosa festejou o seu aniversário e fez questão de ter como convidados, os principais “esponjas” de Dunane. E, numa de gajo porreiro, foi também convidado o Furriel Semedo.

Comeram uma churrascada de frango que estava um mimo. Carregadinho de piri-piri, funcionou como uma chama ardente difícil de dominar. A hora do simulacro (22h00) aproximou-se rapidamente mas os convidados ainda tiveram a oportunidade de desfrutar do espectáculo proporcionado pelo Areosa. Então, não é que o gajo se lembrou de cuspir fogo como se estivesse num circo!!! Bebia goladas de petróleo e soprava para cima, ao mesmo tempo que lhe chegava o archote a arder. 

Porém, como a tabanca era baixinha, acontece que ele cuspiu o petróleo contra o tecto de palha (capim). Aquilo começou a arder e o Areosa, mais os convidados, tiveram que sair da tabanca a rastejar. A gritar, enquanto tossiam, tossiam, tentaram alertar toda a gente para o que se estava a passar. E, num ápice, o incêndio foi debelado. Todavia, o grupo da festa privada causou alguma apreensão, porque quase ninguém se segurava de pé. Foi do fumo, da aflição ou da bebida? – Eram as dúvidas que circulavam.

Quando o Alferes, armado até aos dentes, de óculos escuros, apito na mão, e sob o olhar divertido dos miúdos da tabanca, filhos dos miliíias, foi para o meio do aquartelamento dar início ao simulacro de ataque, já estava toda a gente nos seus postos de defesa, salvo alguns dos afectados pela festa do Areosa, que não atinavam com o caminho. Deles, apenas o Furriel Semedo assegurou logo a sua posição. Meteu-se no pequeno fosso do Morteiro, inactivo há mais de um ano, e toca a dar azo à sua destreza na utilização desta arma. Era um viciado por tiro instintivo de G3 e de morteiro (60, de preferência).

O Comandante do destacamento circulava apressadamente com a potente lanterna acesa (tipo holofote) e de forma bem visível entre os vários abrigos, incentivando os seus homens para uma concludente resposta ao inimigo. Até parecia um herói americano de banda desenhada, a comandar de peito aberto às balas. Logo ele, que era sobejamente conhecido por medricas.

Os tiros não foram muitos, até porque ninguém desejava perder tempo depois, a repor o stock. O Furriel Semedo já mandara umas granadas e estava a aproximar-se o alvo, a julgar pela explosão no embondeiro a uns 400 metros. E para realçar as suas capacidades já demonstradas desde a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas e do Monte das Meadas, nos Rangers de Lamego, vira-se para norte e grita:
- Oh Felgueiras, vai buscar uma terrina e segura-a que eu vou lá meter uma granada dentro.

O Felgueiras (um dos “afectados” pelo aniversário), ria-se muito e dizia para o Joaquim Faquista, de Fafe:
- Vai, vai buscar a terrina a ver se ele é mesmo capaz.
- Estais bonitos, estais!!! Estais com uma carga bonita! Vou o caralho, é que eu vou – respondeu o Faquista, talvez chateado por não ter sido convidado para a churrascada.

Como esta discussão se prolongou uns quantos minutos, o Simões puxa o tubo do morteiro mais para a vertical, por forma a aproximar a mira para uma pequena árvore (mangueira?) visível a menos de 200 metros, já perto do recinto do futebol, e diz para o Chiribita meter mais uma granada no morteiro.

Logo que despoletou a carga, notou-se que não fora normal, dado o reduzido som produzido. Percebeu-se que parte das cargas não tinha despoletado. Logo de seguida, ouve-se o rebentamento junto ao muro do abrigo do Felgueiras. O Faquista, aflito, acelera dali a gritar:
- Foooddaa-se, os gajos estão doudos!

O Felgueiras manteve-se do outro lado do abrigo (a uns 5 ou 6 metros do rebentamento) e grita para o Faquista:
- Estás a ver, ó morcom, como ele é capaz! Porque é que não foste lá pôr a terrina???

Silva da Cart 1689

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9306: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (27): Bolos de bacalhau à moda de Catió

Guiné 63/74 - P9330: In Memoriam (103): Maria Manuela Flores França, ex-Cap Enf.ª Paraquedista (Maria Arminda Santos)

1. Mensagem da nossa camarada Maria Arminda Santos (ex-Ten Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970), com da ta de 6 de Janeiro de 2012:

Camaradas e amigos.
Luís Graça e Carlos Vinhal.
No dia do seu falecimento que ocorreu no passado dia 27 de dezembro*, a minha colega Rosa Serra enviou a notícia para vós, Especialistas da BA 12 e Associações de Paraquedistas de Setúbal e Tejo Norte.
Realmente o acontecimento, apanhou-nos nesse dia com muitos afazeres e entre ambas tentámos avisar o maior número de camaradas e ainda, com o facto de nos terem dado a hora errada do funeral, que nos obrigou a uma ocupação redobrada, para as correcções.



A Manuela Flores França, pertenceu aos cursos de 1962/63.

Entrou em 1962 para frequentar o 2º. Curso de Paraquedismo para enfermeiras, mas tendo feito uma fractura, durante a instrução, transitou e terminou no 3º Curso.
Ingressou na classe de Sargentos e passou à reforma, no posto de Capitão.

Foi a primeira das enfermeiras paraquedistas, a fazer a "Queda Livre"- Abertura Manual.

Era uma belíssima profissional, amiga e alegre. Pela sua maneira de ser e estar na vida, criava um ambiente agradável, a todos que com ela conviviam.
Acompanhei os seus cursos e mias tarde estivemos juntas nos Açores, Guiné e Moçambique.
Passou pelas três frentes da "Guerra", e a Guiné foi a que mais a marcou.

Terminou o seu trabalho no Hospital da Força Aérea, passando por vários serviços, em especial no Bloco Operatório.

Com o seu desaparecimento, todas nós sentimos que perdemos uma amiga e o "Grupo" pela lei da vida, vai assim diminuindo.

Com o desaparecimento da Manuela, muitas histórias da sua passagem pelas terras africanas em especial as da Guiné, ficaram por contar.

Uma das que apelidaram como "ANJOS CAÍDOS DO CÉU", fez inversão de marcha, deixou-nos fisicamente e partiu !.. mas ficará para sempre nos nossos corações.

Mª. Arminda Santos
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9316: In Memoriam (102): Maria Manuela Flores França, ex-Cap Enf.ª Paraquedista, falecida a 26 de Dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9329: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (5): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - V Parte - Defesa do aquartelamento

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 5 de Janeiro de 2012:

Camarada Carlos Vinhal:
Quero agradecer em meu nome e da minha mulher os votos de Bom Ano Novo que retribuo para ti e família.
Igualmente agradeço a listagem que enviaste dos camaradas tertulianos que, com certeza, me vai ser útil.
Posto isto, vou enviar-te, para publicação no Blogue, a V Parte da minha participação, subordinada ao tema: "Defesa do Aquartelamento".

Com os meus cumprimentos
Manuel Vaz


MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (5)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (V Parte)

Defesa do Aquartelamento

O Aquartelamento de Gadamael Porto nasceu à volta de dois edifícios de construção europeia, colocados diametralmente opostos, relativamente ao último troço da estrada que ligava ao Porto, a uma distância um do outro, da ordem dos 300 metros. (13) O troço referido da estrada tinha um declive que não era acompanhado pelos terrenos que o ladeavam, particularmente do lado direito, quando virados para o rio. Esta situação colocava alguns problemas, na drenagem das águas, na localização e na construção de abrigos, paióis e, em geral, na segurança do aquartelamento. Apesar disso, é perfeitamente compreensível que os responsáveis militares decidissem por aquela localização. A urgência da situação não permitia hesitações, dado que o PAIGC iniciou de imediato as suas investidas, flagelando, emboscando, procurando evitar, ou pelo menos dificultar, a instalação da CART 494 que acabou por sofrer mesmo um ataque em força.
Nestas circunstâncias, as primeiras defesas do aquartelamento surgiram à volta dos edifícios inicialmente existentes, enquanto outros eram construídos.

A CCAÇ 798 substituiu a CART 494 a partir de 08/MAI/65. Desde início que a Companhia assumiu a defesa do Aquartelamento como a terceira grande tarefa em que se iria empenhar. Quando não havia operações, descarga ou colunas de reabastecimento, o pessoal disponível trabalhava nos abrigos e paliçada.

Um dos abrigos em renovação, junto do fundo da Pista de Aviação e que servia também de proteção ao Pessoal das Transmissões

Embora a situação militar de início, fosse de alguma tensão, com o tempo melhorou, o que conduziu à apresentação de nativos que pretendiam viver em Gadamael. Entretanto, no aquartelamento novas construções tinham sido edificadas, e a Seção Auto necessitava de mais espaço para ampliar a oficina e o parque auto, como referi na comunicação anterior.

Colocada a necessidade de aumentar o perímetro do Aquartelamento, havia que equacionar fundamentalmente dois aspetos: localização das “moranças” para os nativos e a segurança do aquartelamento. Analisada a situação, verificou-se que os aspetos referidos convergiam na mesma solução: alargar o aquartelamento do lado esquerdo, quando virados para o rio.

Para o reforço da segurança deviam ser cumpridos três objetivos: eliminar os ângulos mortos; impedir o tiro direto para o interior do aquartelamento; localizar os abrigos de maneira a cruzar o fogo das metralhadoras. Assim, do lado esquerdo criava-se um novo abrigo, protegido por uma árvore e enterrado pelo exterior, onde seria instalada uma Metralhadora Brauning 12,7 mm que batia todo o flanco que o IN tinha utilizado no ataque ao aquartelamento.

Construção do primeiro abrigo enterrado, em Gadamael (vista exterior). Ocupava o vértice do Aquartelamento (agora em forma de pentágono) virado para Sangonhá

Do lado contrário, para anular a elevação do terreno, dava-se um novo alinhamento à paliçada, elevando-se a sua altura e construindo-se um abrigo a condizer. (fig. seguinte)

Fase final da construção do abrigo, no lado direito do Aquartelamento (vista exterior)

Na entrada do aquartelamento, vindo de Ganturé, tinha de se evitar que o IN pudesse repetir o que aconteceu no ataque anterior, em que foi empurrando, até próximo do arame farpado, uma Metralhadora 12,7 mm blindada e com rodas, com a possibilidade de varrer o edifício da Messe de Oficiais, do Comando, das Transmissões e da Enfermaria. Aqui, a defesa do aquartelamento tinha ainda que transmitir uma mensagem dissuasora: - construiu-se um abrigo encimado por uma torre de vigilância e a entrada era feita em curva/contracurva, para evitar o tiro direto.

Croqui da entrada principal do Aquartelamento, virada para a fronteira

Sabíamos que, com a fronteira a poucos quilómetros, o IN poderia saber quase tudo o que queria sobre as nossas defesas. Então procurava-se transmitir a ideia de uma grande fortificação, já que, quanto a armamento, era mais fácil escondê-lo.
A propósito de armamento, para além da Metralhadora Brauning referida, o Aquartelamento apenas dispunha do armamento orgânico dos dois Grupos de Combate, ou seja, o equipamento individual acrescido de uma Metralhadora, um Lança-Granadas e um Morteiro 60 por cada grupo. O Morteiro 81 da Companhia estava instalado em Ganturé, mais próximo da fronteira.

Construção do abrigo da entrada principal do Aquartelamento (vista exterior)

Diga-se de passagem que as noites passadas em Gadamael, quando os dois Grupos de Combate (o terceiro estava em Ganturé) partiam para operações no “corredor de Guiledge” eram de alguma apreensão: defender o Aquartelamento com armamento muito limitado e um grupo reduzido, de cozinheiros, mecânicos e pouco mais... causava alguns calafrios.
No entanto, o empenhamento nos trabalhos de defesa do Aquartelamento era notório para quem entrasse em Gadamael.

Outro aspeto da construção do abrigo anterior (vista interior)

Um dia, uma alta patente militar, Brigadeiro se não me engano, em trânsito pela zona, aterrou na pista sem se fazer anunciar e ao visitar informalmente o Aquartelamento, foi tecendo algumas considerações. Das observações feitas deixou-nos a impressão que achava excessiva a atenção que dávamos ao aquartelamento.
Restava-nos o “conforto” vindo da parte do IN: - quando um grupo do PAIGC, falava com habitantes de uma tabanca da República da Guiné, junto à fronteira, alguém perguntou se não pensavam atacar Gadamael. A resposta foi: “Gadamael ?! ... Manga de chatice !...” (14)

Identificação das camadas sobrepostas, nos tetos dos abrigos, depois de construídos. O cascalho com cimento servia para nivelar a superfície dos troncos de cobertura.

Apesar da construção dos abrigos ser feita com robustez, pode perguntar-se, à luz do que aconteceu, anos mais tarde, se reuniam as condições de segurança necessárias para resistir aos ataques da artilharia do PAIGC. Claro que não. Na altura, o IN ainda não utilizava artilharia e os ataques às posições das NT eram feitas com armas de tiro direto, RPG e Morteiro 60.

O Aquartelamento de Gadamael, com o perímetro deixado pela CCAÇ 798, deve-se ter mantido até ao reordenamento da população e talvez da instalação do primeiro Obus, no tempo da CART 2410. (10)

(continua)

(13) – Ver fotografias da II Parte
(14) – Informações recolhidas pela CCAÇ 798
(15)- Deixo aqui uma sugestão aos camaradas da CART 2410 e Companhias seguintes para, na hipótese de não haver uma fotografia aérea, indicarem a localização, quer do(s) Obus(es), quer do reordenamento da população, face ao “corpo do Aquartelamento primitivo”.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9193: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (4): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - IV Parte - Movimento de cargas e descargas em Gadamael Porto

sábado, 7 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9328: O Nosso Livro de Visitas (120): Anabela Pires, em vias de ir para Iemberém, no Cantanhez, trabalhar como voluntário na AD - Acção para o Desenvolvimento, procura cartas da região de Tombali e elogia o nosso blogue




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez >2010 >  Vídeo 4' 41'' > 

"Pedro Mesquita, cineasta português, e a sua equipa têm estado a recolher imagens para um filme cujo título provisório é Os Donos do Chão. Imagens muito bonitas e que nos prendem do princípio ao fim. 

"Hoje apresentamos o primeiro vídeo com imagem de Pedro Mesquita e Edição - Micael Espinha/Roughcut, com a realização e imagem - Pedro Mesquita; Argumento - José Marques; Produção - Pedro Mesquita, José Marques, Catarina Schwarz, Joana Roque de Pinho; Música - João Bernardo; Apoios : AD, IUCN, IBAP". 

Fonte: Vídeo e legenda: Cortesia de AD - Acção para o Desenvolvimento (2012). 
Vd. YouTube > ADBissau



1. Mensagem de Anabela Pires (*), com data de 19/9/2011

Olá, Luís!

Desculpe antes demais o tratamento informal mas visitando frequentemente o blogue Luís Graça e camaradas da Guiné, conhecendo a Alice e estando a pensar partir para a Guiné-Bissau em Janeiro [de 2012], onde vou trabalhar com a AD [- Acção para o Desenvolvimento], quase me sinto como membro da Tabanca Grande. 

Realmente o Mundo é Pequeno mas a vossa Tabanca... é Grande! Certamente a Alice já lhe contou como fui ter ao blogue e como descobri que o seu fundador é casado com a Alice Carneiro! Bom, tudo começou por eu andar à procura de cartas/mapas da Guiné-Bissau. Situar-me geograficamente é sempre um ponto de partida. 

Descobri as antigas cartas militares e depois fui descobrindo no blogue muitas matérias interessantes para quem não conhecendo o país vai para lá. Entretanto descobri que o José Eduardo Oliveira (JERO) é amigo da minha irmã [, Margarida Pires,] que vive em Alcobaça. Já conheci o Pepito e a Isabel e estou encantada por ir trabalhar com eles. Espero ter capacidade de adaptação e poder retribuir tudo o que vou aprender.

Irei para Iemberém [, Cantanhez], se Deus quiser, dia 6 de Janeiro. Se a Alice quiser mandar alguma coisa para a Alicinha pois que me diga. Falarei com ela pelo telefone.

Tentei adquirir as cartas contactando várias instituições mas só consegui comprar a Carta da Província da Guiné, Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Geografia do Ultramar, 1961, 1:500.000, na Biblioteca Nacional.

Gostaria muito de levar também comigo: 

(i) Carta de Bedanda, Norte-C-28, XXI-2-c (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1956, 1:25.000; 

(ii) Carta de Cacine, Norte-C-28, XXI-2-b (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar, 1960, 1:25.000;

(iii) Carta de Guileje, Norte-C-28, XXII-1-c (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1956, 1:25.000; 

(iv)Carta de Cacoca, Norte-C-28, XXII-1-a (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar, 1960, 1:25.000;

(v) caso exista, a Carta de Cassumba, que deve ser a Norte-C-28, XXI-2-a.

À excepção da 5, já vi todas no vosso blogue e gostaria de saber se mas podem vender ou ceder. Penso levá-las impressas mas a Biblioteca Nacional mandou-me em CD e agora vou a qualquer sítio para imprimir. Quero pô-las no meu futuro gabinete ou no meu quarto ou lá onde for!

Não tenho o e-mail da Alice e por isso tomei a liberdade de lhe escrever directamente. Parabéns pelo Blogue e por conseguir gerir as diferentes sensibilidades dos seus membros. Tornei-me numa visitante frequente e se em Iemberém a ligação à Internet o permitir penso continuar.

Desde já muito obrigada pelo tempo dispensado para ler o meu e-mail e pela resposta que me possa dar.

Um abraço para toda a família
Anabela Pires

2. Comentário de L.G.: 

Anabela: Terei muito gosto em enviar-lhe as cinco cartas que nos pede (no formato original, em suporte digital...) [e todas as demais da região de Tombali]. 

Agradeço-lhe as simpatiquíssimas referências que faz ao nosso blogue, que já vai a caminho dos  8 anos de existência, com alguns altos e baixos... Fica desde já convidada a integrar a nossa Tabanca Grande, sentando-se debaixo do nosso secular, frondoso, mágico, generoso, fraterno poilão (**)... 

A Alice entrará depois em contacto consigo (***). 

Um beijinho. Luís Graça

 ________________


Notas do editor


(*) Vd, poste de 7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da “AD” (JERO)


(**) Último poste da série > 14 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9199: O Nosso Livro de Visitas (119): João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)


(***) A Anabela Pires, nascida em Moçambique,  reformou-se recentemente da administração pública. Era técnica superiora,  com formação em serviço social e sociologia, nos serviços regionais no Ministério da Agricultura.  As suas competências e experiência serão seguramente úteis para a equipa da AD, responsável no Cantanhez pelo projeto do ecoturismo. 


E a propósito do Cantanhez, vejam e ouçam as belíssimas imagens do Pedro Mesquita bem  como a sublime música do João Bernardo no vídeo que apresentamos acima, com a devida vénia aos nossos amigos da AD. Parabéns ao realizador Pedro Mesquista e sua equipa. Queremos ver em breve o documentário Os Donos do Chão...

Guiné 63/74 - P9327: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (20): O plágio

1. Em mensagem do dia 5 de Janeiro de 2012, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos mais uma das suas histórias e memórias.



HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (20)

Plágio

Todos sabemos o que significa plágio; direi apenas que é bem mais grave, mais recriminável que a “cábula”, o tema que recentemente tratei. Direi ainda que a cábula é jocosa (quase) é frequentemente divertida; o plágio é normalmente praticado com mais anos em cima do autor; é assunto mais sério; é doloso; o autor pode (e deve) ser judicialmente incriminado... mas isto são contas doutro rosário!

Após a revolução dita dos cravos o país entrou em convulsão endémica atingindo o auge logo no chamado “verão quente” de 1975.
As escolas, em geral, não fugiram à regra; o ensino foi “pretensamente” reformulado... em cima dos joelhos... até mesmo nas Universidades. O curso de Filologia Germânica não deixou de seguir as mesmas pegadas; sofreu uma “reforma” que, como noutros casos, constou apenas da redução do número de cadeiras; o objectivo era simplificar ou facilitar para formar à pressa sem que os alunos tivessem de queimar muito as pestanas para concluir os cursos.
Anos mais tarde, consta até que um agente técnico de Engenharia passou a ser engenheiro fazendo exames ao domingo e três cadeiras... com o mesmo examinador... mas esta história é outra... não é das nossas relações!

Antes de 1972 eu tinha feito algumas “cadeiras”, enquanto permaneci no Colégio Militar. Naquele ano comecei a trabalhar na vida civil. Em 1974, quinze dias antes da bronca (leia-se revolução dos cravos) mudei de ramo; estas mudanças tiveram consequências bicudas nos meus estudos. Recomecei no ano lectivo de 1975/76.

Para reiniciar passei pela Reitoria e perguntei:
- Quantas cadeiras tem agora o curso de Germânicas?
- Vinte e quatro! Foi a resposta na ponta da língua.
- Eu já fiz 25! – Curso concluído!
- Não é bem assim! Falta-lhe uma cadeira em seminário! É essencial!
- Quais são as cadeiras que podemos fazer em seminário?

Citaram várias; uma delas era História do Cristianismo.
- Já fiz essa, em Coimbra!
- Mas não a fez em grupo! A situação mantém-se!

Fazer mais uma cadeira... era só mais uma! Eu até já tinha sido engenheiro de pontes...!
As aulas já tinham começado e eu não conhecia ninguém com quem pudesse formar equipa para preparar o tal exame – que era obrigatório.
Encontrei uma ex-colega de Oliveira de Azeméis e de Coimbra, Maria do Céu Sousa e Silva, nome a que, por casamento, já tinha acrescentado “Castro Lopes”; ela estava a preparar o exame (o tal em seminário) sobre a Revolução Industrial.
A Maria do Céu houve por bem interromper o curso para estar perto do marido (casadinhos de fresco) enquanto ele prestava serviço militar obrigatório na Marinha. Acabada a tropa dele, ela voltou à Universidade.

Os grupos podiam ter de três a cinco elementos; no grupo dela eram apenas três (duas moças eram jovens e solteiras); pedimos à professora – e ela autorizou – que eu entrasse naquele grupo com o estatuto de trabalhador estudante – coisa importante!
Sempre que me era possível – naquela época, a vida nas empresas era febril, alucinante – eu ia comparecendo e assistia a uma ou outra aula. Com a frequência permissível reunia com as prestantes colegas de grupo em que, por especial favor e com a sua cara boa vontade, eu me tinha encaixado.

Numa das primeiras aulas a que assisti tomei conhecimento do modo suigéneris como cada grupo iria ser avaliado.
O grupo apresentava o seu trabalho; entregava uma cópia à professora e outra a cada um dos restantes grupos; marcava-se a data em que os eruditos autores iam ser ouvidos (examinados). Cada aluno, vestindo a capa de examinador, colocava objecções e/ou dúvidas e formulava perguntas; os examinandos respondiam, prestando os esclarecimentos cabais e necessários, ou como tal considerados.
Cada grupo de “examinadores” decidia a nota a atribuir ao trabalho em discussão; ao grupo examinado era atribuída a especial nota grotesca de “apto” ou “não apto”; esta apreciação era extensiva a cada elemento do grupo. Obtinha-se a nota final por maioria simples (50% + 1). Em caso de empate, à professora, qual rainha de Inglaterra que reina mas não manda, cabia o supremo poder decisório de desempatar.

Fiquei desapontado, pasmado, quando me apercebi que só havia notas de “sim” ou “sopas” e como elas iriam ser atribuídas; exprimi o meu veemente desacordo mais ou menos nos seguintes termos:
- Que se considere que as notas de zero a vinte já pouco significam nos tempos que correm, eu concordo.
- Que se pretenda praticar escalas de 1 a 10 ou de 1 a 5 como já acontece em muitas escolas secundárias e até em algumas Faculdades, é pura aberração.
Que se pretenda “legislar” que o aluno não pode ter zero (nota eliminada) só porque assinou a folha é estupidez no seu mais alto expoente; e se não assinar!?... Também não pode ter zero porque essa nota já não “consta” dos alfarrábios.
No entanto, mais abstronso que tudo isto é pretender atribuir, na última cadeira do curso a nota “apto” ou “não apto”. Não pretendo ofender o burro... Caso contrário diria que é burrice pura!

Neste ponto fui interrompido por uma colega que diziam ser MRPP (meninos rabinos que pintam paredes):
- Oh colega! Isso já foi discutido no início do ano! Agora não podemos voltar atrás!
- Pode-se voltar atrás (e deve-se voltar) sempre que nos apercebermos que errámos; é mais fácil defender o erro que reconhecê-lo! O futuro mostrará, por certo, o lamaçal para onde nos deixámos arrastar.
Ao que disse anteriormente só pretendo acrescentar três pontos:
1 – Ao contrário de muitos de vós eu estou a tentar concluir um curso que “devo”... aos meus pais pela sua coragem inaudita e pelos imensos sacrifícios que, deliberadamente enfrentaram para me proporcionar a possibilidade de estudar; penso que, em princípio, não o utilizarei eu proveito próprio, pois exerço já um cargo cimeiro numa empresa onde me sinto bem e sei que os patrões estão satisfeitos com o meu desempenho.
2 – Se um dia me aparecerem dois candidatos a um emprego (um cota dez na escala de zero a vinte e outro classificado desconexadamente com nota “apto” – (a nota do “sim ou “sopas”) podem ter a certeza que, mesmo de olhos fechados, eu escolherei o candidato do 1º caso; e tenho a certeza que a ilustre colega que tão denodadamente, tão acerrimamente defende este desconjuntado sistema, se tiver de proceder à mesma escolha, na hora da verdade, ela será sem dúvida, da minha opinião.
3 – Numa época em que os povos mais evoluídos optaram por notas de zero a cem será que nos dicionários existem reais palavrões para classificar esta brutal decisão?
Eu prefiro afirmar que não os conheço... para não ter de os utilizar porque seriam obscenidades tais que fariam corar as faces de um qualquer jumento inocente.

É verdade que fiz o sermão aos peixes! Não houve mais discussão! E nada foi alterado!
A professora não se pronunciou. Era muito jovem – creio que seria o 1º ano que lecionava – e talvez tivesse também ideias um tanto revolucionárias.

Começaram a aparecer os primeiros trabalhos de grupo para serem avaliados. Se bem me lembro, o primeiro foi mesmo do grupo da colega MRPP. Todos os primeiros trabalhos foram considerados aptos. Só me lembro de um cujos autores foram classificados de “não aptos”.

E o trabalho do meu grupo?

Nas variegadas reuniões que tivemos (frequentemente em casa da colega Micéu, porque ela tinha dois filhos; o mais novo com apenas 3 anos e que não frequentava o pré-escolar – coisa rara ou ainda inexistente) quase sempre houve acordo sobre os textos apresentados. Apenas recordo duas situações discutidas com mais calor: num caso houve desacordo e noutro houve apenas sugestão de alteração de forma (imperativa).

O primeiro caso ocorreu quando uma colega (das mais novas) escreveu que tinha lido algures (e pretendia incluir no texto colectivo) que, durante a Revolução Industrial em Inglaterra, havia patrões que admitiam crianças de 3 anos para trabalhar nas suas fábricas.

Protestei veementemente! A moça defendia que tinha lido e citava obra e autor. Retorqui:
- Os maiores disparates e/ou baboseiras podem aparecer em qualquer livro de autor menos coerente ou mais distraído; a opinião pública influencia os autores menos cuidadosos ou mais ingénuos. Numa época em que se pretende deliberadamente molestar os criadores de postos de trabalho que, tal como hoje, eram os – “causadores” de todos os males – qualquer autor é bem visto se conseguir denegrir a imagem deste sector da sociedade, mesmo que através de disparates. Nós temos de discernir e atingir o que terá “naturalmente” acontecido e o que poderá ter sido tomado por base em tal descalabro. Não podemos confundir deliberadamente “inchaço com gordura”.

Depois de avanços e recuos dirigi-me à colega Micéu, mãe duma criança de 3 anos e ali presente:
- Entendes que alguém consegue que o teu filho trabalhe, produza para ser remunerado mesmo que mal, numa qualquer oficina?
- Claro que não! Absolutamente impossível! – Foi a resposta.

O que terá acontecido foi o seguinte:
- Uma qualquer mãe extremosa solicitou ao bom do patrão que a autorizasse a trazer a criança para a oficina porque não tinha com quem a deixar e “ela é bem comportada e não prejudicará” o trabalho de ninguém. A certa altura a criança estava saturada; a mãe deu-lhe uma vassoura para “varrer a oficina”; a criança “brincou” com os resíduos, empurrando-os dum lado para o outro.

Eis que um inoportuno escrevinhador passou por ali e poderá ter perguntado à criança:
- Que estás a fazer aqui, minha menina?
- Estou a varrer! Terá respondido inocentemente a bebé.
Assim, o escrevedor, provavelmente mal-intencionado, conseguiu um “belo tema” para sua obra.

Logo se decidiu que aquela tolice não constaria do nosso trabalho. Boa decisão! Devemos ser sempre imparciais ou... procurar sê-lo!

Àcerca dum texto meu sobre o “Emile” de Rousseau, aconselharam-me a “desempolar” o tema porque o estilo não se enquadrava no texto geral. Sem alterar o conteúdo (isso não estava em causa) lá “desenfatuei” o que tinha escrito.


Caro leitor! Está surpreendido porque ainda ninguém plagiou? Então aí vai!

Um grupo de 4 moças apresentou as necessárias cópias do seu trabalho; lembro-me que foi dos mais acaloradamente discutidos; as autoras foram advertidas pelos muitos erros ortográficos e sintáticos.
Elas defenderam-se, atribuindo a “culpa” ao dactilógrafo e elas não tiveram tempo de reler e corrigir o que tinham “bem” escrito. Ainda não tinha chegado a era da informática e a fotocópia ainda era um luxo de má qualidade e de custo elevado.
A discussão continuou acesa mas o trabalho foi aprovado não sei já com que percentagem de votos a favor e elas foram consideradas “aptas”.

Dois ou três dias mais tarde, estabeleceu-se a confusão! Que grande balbúrdia! Autêntico regabofe!
Umas colegas que trabalhavam no Algarve enviaram o seu douto comentário escrito e formularam uma série de perguntas absolutamente pertinentes. Afirmavam e demonstravam claramente que o trabalho em causa era um constante plágio (elas diziam cópia) quase de fio a pavio. E citavam:
- No parágrafo tal da página tal as autoras afirmam categoricamente... e transcreviam o citado parágrafo.

Elas continuavam: - o autor fulano na obra e página tal e tal diz... e concluíam que até a tradução estava falseada e os erros ortográficos e sintáticos eram assíduos.
Citaram uma chusma de parágrafos plagiados e quase sempre mal traduzidos e com erros.

Alguém perguntou à professora se era ainda possível recuperar e anular a nossa decisão anterior. A professora respondeu que tal era absolutamente impossível porque as notas já haviam sido escrituradas nos cadastros individuais. Nada se podia fazer para repor a legalidade. Talvez pretendesse defender-se do erro coletivo!

Chegou a minha vez de reentrar na contenda, atacar o sistema, tentando desancar os seus defensores:
- Temos de concluir, doa a quem doer, que somos acusados de ter cometido uma tremenda injustiça e a culpa não pode ser atribuída ao “sistema”. Já sabíamos que tal decisão não poderia conduzir-nos a bom porto. Cada macaco no seu galho! A professora na sua cátedra, deve defendê-la e respeitá-la; nós nos nossos assentos devemos ser alunos até ao fim.
Por outro aldo, perante a avaliação elaborada pelas colegas do Algarve, somos obrigados a concluir que elas conhecem a fundo esta matéria; elas detectaram com grande pormenor o que, nem nós, nem a professora, conseguimos denunciar. Somos levados a concluir que nenhum de nós tem condições para aquilatar os conhecimentos que elas irão exibir no trabalho que apresentarão dentro de dias. Perante isto e tendo em conta que elas já provaram que são excelentes conhecedoras da matéria, proponho que o seu trabalho seja considerado apto sem qualquer discussão. É a maneira de reconhecermos que elas já são na verdade “doutoras” no assunto em causa. Eu recuso-me a atribuir-lhes nota doutra maneira,... por incapacidade minha.

A proposta foi aprovada por unanimidade, incluindo a professora.
A colega MRPP, logo que viu o seu trabalho aprovado, nunca mais apareceu nas aulas.
De seguida a professora lamentou profundamente o que tinha acontecido e garantiu que tal não mais se repetiria – nunca!
As fraudulentas, (plagiadoras) porém, foram (já tinham sido) consideradas “aptas” e não havia (?) maneira “legal” de corrigir aquela bestial monstruosidade. Era mais um acontecimento excêntrico, estupendo (estúpido) do PREC (processo revolucionário em curso)... no seu auge!

Lisboa, 04 de Janeiro de 2012
Belmiro Tavares
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9258: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (19): Recordações de um colega cego

Guiné 63/74 - P9326: Memórias de Manuel Joaquim (2): Manhã maculada


1. Mensagem de Manuel Joaquim* (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 5 de Janeiro de 2012:

Meus caros amigos e camaradas,
Aqui vai uma coisinha que ainda vive na minha memória. Se acharem que vale a pena

Um grande abraço
Manuel Joaquim



MEMÓRIAS DE MANUEL JOAQUIM - 2

MANHÃ MACULADA

Introdução

Os primeiros dois meses e meio de comissão passou-os, a minha CCaç 1419, em Bissau. Rondas, serviços de guarda, ações de vigilância na área do aeroporto, uma ou outra escolta a batelões de abastecimento nas suas deslocações pelo rio Cacheu ou pelos canais do sul da Guiné. Uma maravilha comparando com o que acontecia às duas outras Companhias operacionais do Bcaç 1857 (1420 e 1421), a primeira em Fulacunda e a segunda em Mansabá/K3. Cheiros de guerra a sério também tivemos mas poucas vezes e foram só cheirinhos. Saíamos para Mansoa onde, enquadrados por tropas já veteranas, participámos em ações de reconhecimento. Houve contactos com o IN mas de fraca intensidade e sem vítimas visíveis de qualquer dos lados, exceto uma vez, no início de outubro de 1965, dois meses depois da chegada à Guiné. Mas, “aburguesados” em Bissau, estas participações causavam-nos algum nervosismo. Coisas de “periquitos”.


Manhã maculada

E mais uma vez, náufragos inseguros num “mar” quase desconhecido, massas de sombras embrulhadas em silêncio e medos indefinidos, lá vamos a caminho de Mansoa. As viaturas, estrada fora roncando, vão rompendo o negrume espesso daquela noite chuvosa e trovejante.
Espera-nos um grupo de “velhinhos”, prontos para nos apoiar e instruir em mais uma das nossas idas à guerra. Havia algum exibicionismo da sua parte. Ao nosso ar encolhido, tímido e ansioso contrapunham uma pose desinibida, à gingão, fardas desbotadas com falha de botões e/ou rasgada, botas cambadas, manuseio fácil e displicente da G3, pose madura e superior mas apaziguadora para estes “periquitos” de camuflado novo de cores vivas, idos de Bissau.
E é nesta pose ostensivamente protetora que nos juntam ao seu grupo para os acompanharmos numa ação de vigilância, de segurança e de reconhecimento.

Na escuridão da noite os relâmpagos próximos dão cabo da nossa, já de si difícil, perceção visual. A progressão faz-se de mãos nas costas ou no ombro do camarada da frente. Ouvem-se sons dos toques entre capacetes e armas devidos a cortes frequentes na coluna que obrigam a fortes acelerações e a choques inesperados ... ... ...

Amanhece. As sombras começam a dissipar-se e as formas da natureza envolvente tornam-se rapidamente mais nítidas. Acariciados pelo resplandecer matutino e pelos golpes de luz entre os intervalos da chuva, somos embalados pelo cantar das aves e interpelados pelos novos sons da floresta. Um ribeiro bem cheio é atravessado. A exemplo dos de mais baixa estatura, preparo-me para o atravessar elevando os braços e segurando a arma e o capacete com os cigarros dentro. Ao chegar a minha vez vejo-me com água pelos olhos. De braços no ar lá vou avançando, qual canguru aos saltos para a frente, tentando respirar na parte alta do salto. Há um matulão atrás de mim que deve ter perdido a paciência e, não sei como, dei por mim a pairar sobre a água e a aterrar na margem, sob risadas surdas e gozonas! Mas que culpa tenho eu do meu 1,63 m?

Avançamos. A paisagem inebria, uma mescla de aromas densos e acres evola-se da terra molhada, a folhagem verde do capim brilha nas gotas de água que a salpicam e que refletem, faiscando, os raios do sol. Há qualquer coisa de sagrado naquele ambiente que uma fila de homens armados ofende. Repetem-se momentos onde se chocam sensações opostas de sofrimento e de gozo, de ansiedade e de paz ... ... ...

E, de repente ...! Um grito lancinante de mulher corta os ares, seguido de rajadas de G3 e de alguns tiros de som diferente. Houve contacto com o IN, um encontro inesperado para os dois lados. Segue-se um silêncio interrogativo e de preocupação nas hostes “periquitas”. Ouvem-se ruídos de vozes lá para a frente da coluna.... (Ah, aquele grito de mulher, aquele grito de dor, de impotência, de desespero e aviso (... ...)! Ah, aquele grito que nunca mais me sairá dos ouvidos, que ecoou na selva ao momento da aurora, seguido de rajadas de espingarda automática! Ela sentiu que se acabava, mostrou-me como é grande o desejo de viver e antes de cair varada pelas balas gritou bem alto o aviso aos outros que, como ela, estavam sob o nosso cerco.)*

Levanto-me e procuro informação. Avanço e vejo um corpo de mulher varado pelas balas. Diz-se que o grupo seria numeroso e que o seu grito tão forte foi de aviso aos seus companheiros de caminho. Alguns ripostaram com fogo de modo a facilitarem a fuga de quase todo o grupo que, tudo levava a crer, tinha funções de reabastecimento de alguma célula do IN.

Olho de novo para o corpo estendido e reparo numa figura sentada, ali perto e encostada às pernas de um soldado. Calada, alguns fios e salpicos de sangue pelo corpo, olhar vago, expressão indefinida, talvez em estado de choque, está uma jovem bajuda, aparentando uns 15 a 17 anos (viçosa, semi-nua, seios túrgidos e vigorosos pintalgados de sangue, talvez filha. Manhã maculada! Manhã terrivelmente dolorosa. Infelizmente, manhã inesquecível. Quão estúpida e vergonhosa, horrível e criminosa é a guerra, minha querida...)*

*Em itálico, excertos duma carta enviada, na altura, à minha namorada e futura esposa.

____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9153: Notas de leitura (309): Guillaume Apollinaire, de George Vergnes (Manuel Joaquim)

Vd. primeiro poste da série de 27 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5358: Memórias de Manuel Joaquim (1): O Balanta furtador