quinta-feira, 1 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9552: Notas de leitura (338): A resposta que me veio pelo correio, quatro anos e meio depois: o livro do Idálio Reis, A CCAÇ 2317, na guerra da Guiné. Gandembel/Ponte Balana (Luís Graça)



Acima: Capa e ficha técnica do livro do Idálio Reis, que acaba de sair do prelo... e de que o editor deste blogue teve o privilégio de receber, em primeira mão, no último dia do mês de fevereiro de 2012, um exemplar autografado... O livro, brochado, tem 256 páginas. Abaixo: Dedicatória autografada.



Uma das notáveis fotografias (num total de 22), que ilustram profusamente o livro, e que foram tiradas pelo próprio Idálio Reis, documentando magistralmente o duro quotidiano da CCAÇ 2317 em Gandembel e em Ponte Balana, entre 8 de abril de 1968 e 28 de janeiro de 1969 (menos de 9 noves, o tempo para construir de raíz um aquartelamento, defendê-lo  até à morte e receber ordem para depois o abandonar...). Legenda: "Cada abrigo tinha uma única entrada e um pequeno espaço para o sentinela" (p. 82)





Reprodução da carta com que o autor fez acompanhar o exemplar do seu livro. Recorde-se que o nosso camarada Idálio Reis foi alf mil (e comandante) da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, 1968/69, tendo publicado no nosso blogue uma notável série, a Fotobiografia da CCAÇ 2317 (19689/69), em 11 postes (*).

Na altura da publicação do último poste, em 10 de outubro de 2007, deixei escrito o seguinte:

Querido amigo e camarada Idálio:

Não há, na guerra, um fim feliz, como no cinema. Mas gostei de saber que os últimos meses dos homens-toupeiras de Gandembel/Balana permitiram-vos retemperar as forças para o regresso à Pátria, à Mátria ou à Madrasta da Pátria...

Continua a dar-nos notícias da tua/nossa gente, cuja epopeia tão bem soubeste evocar e descrever nesta fotobiografia... O teu testemunho honra-nos a todos e orgulha os editores e autores do blogue bem como todos membros da nossa Tabanca Grande.

A fotobiografia da CCAÇ 2317, escrita pelo teu punho, foi um dos momentos altos do nosso blogue. Faço daqui um veemente apelo a um editor português que arrisque publicar, em livro, esta extraordinária aventura de 9 meses no corredor da morte. Porque não o Círculo de Leitores ? (...)
A resposta, quatro anos e meio depois, e quando menos esperava, veio através do correio... Fiquei muito feliz por receber a encomenda do Idálio, com o seu livro lá dentro.  Agradeço-lhe, de todo o coração, a dedicatória e a carta que me escreveu, a mim e aos demais camaradas da Tabanca Grande. Tenho o dever de a partilhar com todos. Quanto à leitura atenta e apaixonada do livro, um "novo filho" do blogue,  essa, ficará para o próximo fim de semana. E o xicoração que o Idálio merece, esse, ficará para Monte Real, dia 21 de Abril de 2012. LG


Meu caro Luís:

Decerto,  este livro dificilmente se concretizaria se não fora a existência do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné".

Aos que, a maior parte de nós, tiveram a desdita de se embalar [?] num perverso palco de guerra, reconhecem na lonjura dos tempos que valeu a pena o lampejo da perseverança e do querer, num propósito de congregar ex-camaradas de entrar adentro de uma porta comum, sempre aberta, para exorcizarem os seus fantasmas, dando azo à reconstituição e partilha de muitas das suas mais impressivas memórias.

Se ao blogue se aditar a premência de companheiros da minha companhia, de todo me não poderia ficar indiferente, a não tentar escrever, em formarto genérico, a história de uma crucial parte da comissão de soberania, porquanto a guardada pela instituição militar é clamorosamente contristadora.

Mas tentei escrever um livro onde explanasse os condicionalismos em que assentou esse "suplício de Sísifo",  vivido pelos de Gandembel/Ponte Balana, sob uma observação muito cuidada de António Spínola e Nino Vieira, seria sempre uma tarefa difícil de expor claramente, e que somente uma motivação muito forte poderia sobrepujar.

O tempo que demorei a escrever o livro, foi algo moroso, reconheço. Mas , à medida que ia alinhavando a narrativa, revelaran-se nosvos factos, que o blogue ou os meios de comunicação de massa devem [?] à estampa, e novas perspectivas se afloravam.

E fui absorvendo tudo isso, e contudo tem um limite, houve que lhe dar um fim,  o que me causou bastante satisfação. 


É um livro meu. E assim , terei o grato prazer  de o partilhar com todos os que manifestarem interesse na sua narrativa, desde logo na próxima festa de Monte Real. Com  grande estima e consideração, Idálio Reis. (**)


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Notas do editor:


(*) Vd. todo o dossiê do Idálio Reis (11 postes, profusamente ilustrados) sobre Gandembel/Balana, e que já na altura dizíamos que "merecia ser publicado em livro": 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)


Último poste da série > 27 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9540: Notas de leitura (337): Guerra Colonial & Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: O Caso da Guiné-Bissau, de Leopoldo Amado (1) (Mário Beja Santos) 

Guiné 63/74 - P9551: Álbum fotográfico do Luís Guerreiro (Montreal, Canadá): O valoroso Pel Caç Nat 65, em Piche, Buruntuma, Bajocunda e Tabassai, em 1970


1.   O nosso camarada Luís Guerreiro (ex-Fur Mil da CART 2410 , Gadamael e Ganturé, e Pel Caç Nat 65, Piche, Buruntuma e Bajocunda, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem.

Pel Caç Na 65
Camarada Luís,

Ultimamente tem-se falado sobre Buruntuma e Tabassi/Tabassai. 

O Pel Caç Nat 65 encontrou-se nesses dois locais em 1970. 


Estacionados em Piche na sede do BArt 2857, fomos para Buruntuma em 27 de Fevereiro de 1970, para tomar parte na operação do ataque a Kandica. Constou que o 65 seria armado com armamento igual ao do PAIGC e iria fazer o assalto a essa base, mas finalmente fizemos a protecção ao Pel Art 12 e às peças 11.4,  em Camajabá. 

Depois do ataque fomos para Buruntuma, para reforçar a guarnição, chegamos ao anoitecer, e tudo já se encontrava muito calmo. 

Permanecemos até ao dia 23 de Abril de 1970.  Buruntuma era uma povoação algo distante, mas as condições e as instalações eram razoáveis. 

Durante o tempo que ali permanecemos não houve nenhum problema, a actividade operacional foi somente de patrulhamentos e emboscadas nocturnas.  A camaradagem era excelente por parte de sargentos e oficiais da companhia, e dos dois funcionários da DGS [, Direcção Geral de Segurança], e também um comerciante continental,  de nome Mota, que nos convidou diversas vezes para almoçar em sua casa.

Buruntuma, 1970 > Rua principal

Buruntuma, 1970 > Aspecto geral da tabanca

Buruntuma > Tabanca queimada no ataque do PAIGC de 24 de Fevereiro de 1970, que deu origem ao ataque à base de Kandica



Nota, de mil e cinco mil francos, da Guiné-Conacri, que foram apanhadas depois do ataque a Kandica, talvez por indivíduo da população e que me foram oferecidas por um soldado nativo do meu pelotão.

Em seguida fomos destacados para Bajocunda, dizia-se que íamos para descansar pois a zona na altura estava calma e circulava-se relativamente à vontade, e assim aconteceu nos dois primeiros meses. 

A actividade operacional, resumia-se a colunas a Nova Lamego e a Copá, e fazer protecção à noite na tabanca de Tabassai.

Bajocunda, 1970


Bajocunda, 1970 

  Bajocunda, 1970 > Comandos africanos da companhia do capitão João Bacar Jaló

Bajocunda, 1970 > Obus de 10.5 cm fazendo fogo

Bajocunda, 1970 > Visita do general Spínola



A partir do mês de Julho a situação começou a deteriorar-se, como já foi referido por mim no poste P4919 de 8/9/2009, a emboscada à coluna de civis e comandos africanos na estrada de Pirada para Bajocunda, no dia 4 de Julho de 1970. 

E a partir daí a actividade do PAIGC começou a ser mais constante, especialmente mais para os lados de Pirada, aonde durante a noite algumas tabancas foram atacadas e incendiadas. 

E foi neste contexto, que fomos uma semana fazer a segurança a Tabassai. Ficamos instalados com uma tenda de campanha, a povoação constava de uma fiada de arame farpado e como defesa tinha várias escavações de cerca de 3x2 metros áà volta do perímetro.

Tabassai, 1970 > Estrada para Bajocunda

Tabassai, 1970 > Bolanha

Tabassai, 1970 > Uma bajuda

Quanto à população, eu não tinha muita confiança_ um dia tendo eu ido a Bajocunda tomar um bom duche, andou um nativo a olhar para as nossas posições e a perguntar qual era o pessoal que lá ficava instalado.  Quando cheguei e fiquei ao corrente do sucedido fui à sua procura mas o indivíduo já tinha desaparecido, o que me levou a crer que era um informador espia. 


A decisão foi que nessa noite podíamos dormir descansados.  No dia seguinte,  23 de Julho,  mudamos algumas das posições e também o pessoal, e por volta das 21 horas, como se tinha previsto,  fomos atacados. 


Este foi o primeiro ataque efectuado pelo PAIGC à tabanca de Tabassai, o inimigo com um grande efectivo e grande potencial de fogo, fizeram o ataque do lado errado pois pensavam que era o certo, tudo durou cerca de 30 minutos sem problemas da nossa parte, retiraram com baixas e feridos e deixando algum material. Segundo em informações,  tiveram 9 mortos. Da parte da população houve uma mulher e uma criança que faleceram devido a uma granada de RPG. 



Pessoal do Pel Caç Nat 65

No dia seguinte foi o meu dia de sorte e também do condutor, tendo ido a Bajocunda para trazer mais munições, passamos duas vezes a um palmo de uma mina A/C, que de certeza tinha sido instalada antes do ataque, e foi localizada a uns 500 metros da tabanca por um soldado do 65. Tdo isto aconteceu, duas semanas antes de terminar a minha comissão, pois o meu substituto já se encontrava em Bissau. 

No dia 8 de Agosto  de 1970, dia do meu aniversário, recebi como prenda uma viagem de avioneta até Bissau, para esperar transporte para Lisboa, mas como não havia barco nos tempos próximos, no dia 25 de Agosto apanhei o avião e regressei a casa. 

Ainda hoje tenho estes soldados nativos no coração. Apesar de serem grandes combatentes, foram grandes amigos, pois quando me despedi  vi alguns com a lágrima no canto do olho, e outros a pedirem para ficar mais um tempo.

Por hoje é tudo um forte abraço para toda a equipa. 

Luís Guerreiro   
Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65



Fotos e legendas: © Luís Guerreiro (2012). Todos os direitos reservados. 


Guiné 63/74 - P9550: As novas milícias de Spínola & Fabião (4): Em 225 localidades ocupadas pelas NT no CTIG, 71 eram exclusivamente guarnecidas por unidades de milícias, no 1º trimestre de 1974 (gen Bettencourt Rodrigues)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Militares guineenses da CCAÇ 12, presumivelmente da 2ª secção do 3º Gr Comb,  numa tabanca fula em autodefesa... O elemento da ponta esquerda é um milícia, empunhando uma espingarda automática FN... Não consigo identificar a tabanca: poderá ser Candamã, no regulado do Corubal...

A 2º secção do 3º Gr Comb era constituída por, além dos metropolitanos Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda e  1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus, os seguintes soldados do recrutamento local, de etnia fula ou futa-fula:  Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (F); Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F); Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F); Sold 82108869 Quembura Candé (F); Sold 82109769 Sherifo Baldé (F); Sold 82115369 Ussumane Jaló (FF); Sold 82110169 Madina Jamanca (F)... Recorde-se que os apontadores de dilagrama, morteiro e LGFog tinham direito à famosa pistola Walther, de 9 mm...

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. Legendas de L.G.


1. Diversos comentários ao postes P9532 ou P9526

 (i) Comentário de L.G.:

Seria interessante que os camaradas nos dessem uma estimativa da proporção de guineenses (milícias incluídos) que faziam partem do dispositivo militar do respetivo setor... 


No setor L1 (Zona leste, Bambadinca), no 1º trimestre de 1972, a proporção poderia ser de 1 (guineense) para 1 (metropolitano)... Mas noutros setores (do leste mas também do oeste, do norte e do sul), as coisas poderiam ser diferentes... Vejam o dispositivo militar do vosso setor e contem as G3 ou as cabeças...

(ii) José da Câmara:

Para vosso conhecimento, os Pel Mil 294 e 295 estiveram adidos à CCaç 3327, quando esta esteve em Bissassema, zona de Tite.

Cada um destes pelotões era constituído por 39 elementos.

Com a excepção de 3 elementos do Pel Mil 295, recenseados em 1971, os outros tinham-no sido em 1970.

 Não posso acrescentar muito sobre a articulação das nossas Milícias. Como sabes, eu estive ligado ao Pel Nat 56.

Todavia, posso dizer que a G3 era a única arma que estava distribuída aos Pel Mil 294 e 295.

Também não é fácil fazer uma estimativa correcta da proporção do dispositivo militar que englobava a CCaç 3327 no seu sector. Primeiro, porque a CCaç mantinha um pelotão de reforço à guarnição de Tite. Em depois porque a companhia tinha muitos militares envolvidos na construção do reordenamento.

Mesmo assim, sem aqueles constrangimentos, a proporção era de 2 por 1 em favor da CCaç 3327.

Facto interessante naqueles pelotões era a nomeação dos graduados ser da responsabilidade directa do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

(iii) António José Pereira da Costa:

(...) Sobre este assunto creio fundamental fazer uma separação entre militares (metropolitanos e guineenses) e milícias.

Estes tinham um estatuto diferente e eram civis armados. Recordo, por exemplo, que, se concorressem aos "comandos" eram incorporados como praças e não lhes era concedida qualquer vantagem por terem sido milícias. Ganhavam menos do que os soldados, só tinham alimentação durante a "formação" (como se diz em eduquês moderno) e, mesmo neste caso, a verba era claramente inferior à dos soldados (creio que era pouco mais de 50%). 

Além disso, procurava-se, e conseguia-se normalmente, que tivessem as famílias junto ou próximo do quartel a que pertenciam. Cito de memória porque em Mansabá foi formada uma companhia de milícia, durante a minha permanência.

É capaz de ser pouco exacto metê-los nas contas juntamente com os soldados (CCaç, Artilharia, Comandos, Serviço de Material, Intendência, etc.). Ficam bem ou mal (conforme as leituras) nas estatísticas, mas não é exacto.

(iv) Paulo Santiago:

(...) Quanto a vencimentos de milícias não posso ajudar. Como "instrutor" [, no CIMIL de Bambadinca], era um assunto que me ultrapassava. Não sei se os 700 escudos estão certos. Um dos meus soldados, Amadú Baldé, tinha sido milícia na zona de Aldeia Formosa, passou para o Exército e posteriormente voltou à Milícia, ficando a comandar um dos pelotões da segunda companhia que formei em Bambadinca.É natural que ficasse a ganhar mais.

Também o 1º Cabo Suleimane Baldé, actual Régulo de Contabane, foi milícia, em Aldeia Formosa, antes de passar ao Exército. (...)

2. Informação prestada pelo gen Bethencourt Rodrigues (1918-2010),  antigo comandante-chefe e governador da Guiné (1973/74), nome às vezes também grafado como "Bettencourt" Rodrigues:


As  NT eram constituídas por: 

(i) “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades e meios navais da Armada; algumas unidades de Fuzileiros Navais eram integradas por pessoal voluntário da Guiné, com enquadramento europeu”;  

(ii)  “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades do Exército; cerca de 20%  das unidades combatentes eram de pessoal recrutado na Guiné e em algumas todo o pessoal era guinéum, incluindo o enquadramento; 

(iii) “ órgãos de comando e de apoio logístico e  unidades da Força Aérea; (iv) “unidades de milícias, integralmente com pessoal da Guiné” (pp.  129/130).

O “efetivo em pessoal armado era  constituído, em percentagem superior a 50%, por elementos naturais da Guiné” (p. 130).

No 1º trimestre de 1974, as NT ”ocupavam, com guarnições militares ou de milícias, 225 localidades” (p.  141)….  Era a seguinte a distribuição dessas guarnições: 

(i) “72 ocupadas exc lusivamente por tropas do Exército e Armada”; (ii) “82 por tropas  do Exército e Armada e unidades de milícias”; e (iii) “71 só por unidades de milícias” (p. 130).

Fonte: Gen Bethencourt Rodrigues – Guiné. In: Cunha, Joaquim Luz; Arriaga, Kaúlza de; Rodrigues, Bethencourt; Marques, Silvino Silvério- África: a vitória traída. Braga: Editorial Intervenção, 1977, pp. 103-142.
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Nota do editor:

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9549: Tabanca Grande (323): Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Jorge Araújo* (ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74), com data de 28 de Fevereiro de 2012:


Caríssimo camarada Luís Graça,

Os meus melhores cumprimentos.
Com um atraso imperdoável e sem qualquer hipótese de defesa, anexo o texto que me foi pedido como condição para fazer parte da numerosa família de ex-militares que serviram no C.T.I.Guiné.
Na expectativa de merecer o V. superior apoio, sou
Com um forte abraço,
Saudações militantes,


Jorge Araújo
Ex-Furriel Mil Op Esp/RANGER,
CART 3494
Xime-Mansambo,
1972/1974




Cumprindo, tardiamente, a palavra dada no V Encontro Nacional realizado em Monte Real, em 26.Jun.2010, eis-nos à entrada da porta da TABANCA GRANDE,  esperando autorização para entrar.


Como manda a tradição, apresento a todos os camaradas que fazem parte desta já numerosa família de ex-combatentes na Guiné uma síntese daquela que é a nossa história de vida, em particular o «projecto militar», na medida em que ninguém é igual a ninguém; pois todo o Ser Humano é um estranho ímpar, como nos diz o poeta Carlos D. Andrade (1902-1987).


Natural da Freguesia de Santa Maria dos Olivais, Lisboa, onde nasci em 10.Nov.1950, concluí o período da recruta, do Curso de Sargentos Milicianos, no R.I.5, nas Caldas da Rainha, em 26.Set.1971, tendo seguido de imediato para o Centro de Instrução de Operações Especiais (C.I.O.E.), em Lamego/Penude, a fim de aí completar a minha (e nossa) formação militar.


Concluído este processo, que seria o principal requisito de Mobilização para um dos três cenários possíveis da Guerra Ultramarina, eis que somos colocados no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 (RAP2), depois RASP; em Vila Nova de Gaia (Serra do Pilar), instituição que aguardava pela nossa chegada para nos dar a notícia que eu, e todos nós à época, já adivinhávamos – a mobilização (para o C.T.I.Guiné).


Seguiu-se, depois, a informação de que pertenceria à Companhia de Artilharia 3494, a última das três Companhias Operacionais que constituiriam o contingente do Batalhão de Artilharia 3873, o qual iria render o BART 2917 sediado na região de Bambadinca, leste da Guiné, local situado na margem esquerda do Rio Geba.


Considerando que o período final de instrução, também designado por I.A.O.,  foi realizado em Bolama durante o mês de Janeiro/1972, e uma vez que não tínhamos ainda gozado a Licença de Mobilização, nos termos do Artº. 20º das NNCCMU, a inclusão na CART 3494 foi adiada, vindo somente a ser concretizada no XIME, dois meses depois.


Durante a Comissão de Serviço, que durou até Abril de 1974, alguns foram os episódios que jamais esqueceremos, pelas aprendizagens que produziram em nós, em função da natureza de cada uma delas.
Desde logo a primeira a acontecer foi no dia 22.Abr.1972, sábado, pelas 08:30 horas, na emboscada sofrida pelo nosso GCOMB (4.º) na Ponta Coli (Xime) e referida na porta P6669* pelo nosso ex-Comandante Cap. Art. António José Pereira da Costa (Coronel de Artª. na Reserva), em que, num total de 23 elementos no terreno, as NT tiveram um morto (Furriel), dezassete feridos e, apenas, cinco ilesos, um dos quais fomos nós. No próximo dia 22 de Abril fará quarenta anos que registámos e guardamos as imagens desse contexto.


Oportunamente passaremos a escrito essas imagens, dando, assim, resposta ao desejo do nosso camarada e amigo Coronel Pereira da Costa. De referir que nessa mesma data se comemorou, em Portugal e no Brasil, a passagem do 472.º aniversário da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, conforme se prova na capa do Diário de Lisboa,  ao lado. São apenas meras coincidências. De referir, também, que esse mesmo dia 22 de Abril, mas de 1973, foi Domingo de Páscoa.


Seguiram-se outros episódios em que estivemos directamente ligados, cujas datas continuamos a lembrar: 10 de Agosto de 1972 (naufrágio no Rio Geba); 29 de Setembro de 1972 (ataque ao aquartelamento com armas pesadas, numa noite de intensa trovoada, dia em que o meu pai comemorou o seu 49.º aniversário); 01 de Dezembro de 1972, nova emboscada na Ponta Coli; 03 de Fevereiro de 1973, emboscada na Ponta Varela, entre outras.


Quanto ao presente, a nossa actividade profissional é a nível universitário, com uma prática docente de mais de duas décadas. Temos actualmente um vínculo institucional ao ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), em Portimão, do Grupo Lusófona, onde, para além de leccionarmos diversas Unidades Curriculares, coordenamos o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto.


Realizamos o doutoramento na Universidade de León (Espanha) em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: "A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos".


Pelo exposto, espero merecer a confiança de todos os meus amigos ex- militares atabancados.


Um grande abraço para todos, deste cidadão que é, apenas, uma partícula da terra.
Jorge Araújo.




2. Comentário de CV:


Caro camarigo Jorge Araújo, está formalizada a tua adesão à Tabanca Grande.
Participaste já num dos nossos Encontros Nacionais, como se prova abaixo, pelo que és já uma cara conhecida para alguns de nós. E, de resto, já constas da nossa lista alfabética de "tabanqueiros", desde o nosso último convívio... Estás desculpado pelo atraso no envio deo "resto da papelada"...


O teu texto de apresentação está cinco estrelas pelo que adivinhamos muitas e boas histórias para o nosso espólio de memórias. Também aceitamos fotos legendadas,  ilustrando as histórias ou para publicar autonomamente como álbum fotográfico.

Há muita maneira de participar no nosso Blogue, haja um pouco de disponiblidade.


Posto isto, falta enviar-te um abraço de boas vindas em nome do Luís Graça, restantes editores e tertúlia em geral. Ficamos ao teu dispor. Parabéns pelo teu esforço de valorização académica e profissional


Pela tertúlia
Carlos Vinhal


Monte Real, Palace Hotel, 26 de Junho de 2010 > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Pessoal da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74), visivelmente bem disposto, à hora dos aperitivos & entradas: Jorge Araújo (Almada), António Costa (Mem Martins / Sintra), Acácio Correia (Algés / Oeiras), António Sousa Bonito (Montemor-o-Velho) e Sousa de Castro (Viana do Castelo)... O Jorge e o Acácio são caras novas nos nossos encontros.


Vídeo (34''): Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes
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Notas de CV:


(*) Vd. poste de 2 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6669: V Convívio da Tabanca Grande (13): Caras novas (Parte II): Jorge Araújo, Acácio Correia, Manuel Carmelita, Eduardo Campos, João Malhão Gonçalves, Júlia Neto, Arménio Santos.. (Luís Graça)


Vd. último poste da série de 29 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)

Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Eduardo Estrela* (ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71), com data de 28 de Fevereiro de 2012:

A história é a narração de factos sociais, políticos, económicos, militares, etc. Aquilo que na Tabanca Grande se vem fazendo é extremamente importante para a nossa memória colectiva e a par dos outros "sítios", um contributo para esclarecimento daquilo que aconteceu aos jovens Portugueses nascidos entre 1940 e 1955 e que largaram a pele na Guiné, em Angola e Moçambique.

Sou o ex-Fur Mil Eduardo Estrela e enquadrei o início da CCaç 14, originalmente CCaç 2592.
Embarcámos para a Guiné em 24 de maio de 1969 e depois de termos dado instrução aos militares africanos que compunham a Companhia (dado e recebido, pois muitos deles já tinham experiência de combate), partimos em 3 de novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, Cuntima, junto à linha de fronteira do Senegal.

Ainda em Bolama, onde a instrução foi dada e recebida e depois de uma operação mal programada para a zona de S. João, onde as CCaç 13 e CCaç 14 podiam ter sofrido sério revés, face ao local de desembarque escolhido, extremamente lodoso e onde vi camaradas atolados até à cintura, ainda em Bolama dizia, sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma.

Em Cuntima, a actividade operacional era intensa pois estavam no mato permanentemente 2 ou mais grupos de combate, por períodos de 48 horas. A guarnição de Cuntima normalmente composta por 2 Companhias operacionais, Pelotão de Obuses e Pelotão de Milícias, para além das interdições ao corredor de Sitató, fazia picagens à estrada, escolta às colunas para Farim, segurança próxima e afastada ao aquartelamento e as operações militares que obrigavam a utilização de maiores meios.

 Eduardo Estrela em Cuntima

Aquando do reordenamento de Cuntima, as colunas a Farim eram diárias e o desgaste físico e psíquico muito grande, pois volta não volta o PAIGC aparecia. O meu grupo de combate foi o primeiro a transitar para Farim, no início de dezembro de 1970 e não no fim de dezembro como já vi indicado, e durante um mês estivemos a reforçar a CCaç 2549 estacionada em Nema, a qual tinha estado anteriormente connosco em Cuntima.

Em Farim fazíamos interdição ao corredor de Lamel, numa época em que o PAIGC estava muito activo. De tal modo activo que entre o início de dezembro de 1970 e meados de janeiro de 1971, a guarnição do Batalhão 2879 sofreu na zona de Lamel 14 mortos, uns em combate e outros por acidente resultante de actividade operacional. Para além dos camaradas falecidos, também houve muitos feridos.

No final de 1970, o meu grupo de combate regressou a Cuntima e só no início de fevereiro de 1971 a CCAÇ 14 foi para Farim, tendo o meu grupo ficado em Cuntima para dar sobreposição à Cart 3331, até ao fim de fevereiro.

Mas a "actividade operacional" que mais me agradava, eram os "golpes de mão" que fazíamos à messe ou ao bar e onde através duma "emboscada" bem montada, agarrávamos a amizade a fraternidade e a comunhão de alegrias e tristezas, partilhadas por irmãos que fomos e que sei, continuamos a ser.

Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses).

Foto: © Vítor Silva (2008). Direitos reservados.

Na Guiné todos deixámos dois anos da nossa juventude, mas eu para além disso deixei também o meu coração. Habituei-me a gostar daquela gente e ainda hoje me preocupo com tudo o que diga respeito aos meus irmãos guinéus.

Às vezes fecho os olhos e deixo as lembranças viajarem ao encontro daquela terra vermelha. Então, sinto os sons os cheiros e os sabores da Guiné e os meus sentidos ficam inundados pela beleza daquele bocado de África. Aqueles que calcorrearam os matos e as bolanhas da Guiné sabem bem do que falo. Por isso a Guiné é para mim como que uma segunda Pátria, lamentavelmente cheia de problemas.

A todos os nossos irmãos camaradas da Tabanca Grande e de todas as outras Tabancas, o meu abraço fraterno. Aproveito para dar ao ex-Alf Mil Virgínio Briote uma triste notícia. O camarada Heitor que foi Fur Mil duma das equipas de Comandos que o Briote comandou, faleceu há mais ou menos dois anos aqui em Faro.

Um abraço para ti, Luís, e oportunamente mandarei as fotos.

Eduardo Estrela,
ex-Fur Mil
CCaç 14


2. Comentário de CV:

Caro camarada Eduardo Estrela, em nome do Luís Graça, dos restantes editores e da tertúlia em geral, recebe um abraço de boas vindas.

Estou a receber-te nesta caserna virtual a que chamamos Tabanca Grande, onde os camaradas que combateram ou cumpriram a sua comissão de serviço na Guiné em funções menos bélicas, são recebidos de braço abertos, porque todos nós os que pisámos aquele chão de África, temos em comum o amor àquele povo irmão e àquele país que nos marcou para sempre. Fomos para lá meninos e regressámos homens feitos pelo sacrifício imposto, pela fome, pelo sangue derramado e pela saudade dos que connosco fizeram a viagem de ida, mas não nos acompanharam no regresso pela perda da sua jovem vida, por evacuação motivada por ferimentos recebidos em combate ou doença grave adquirida em campanha.

Honrando a memória dos que hoje não podem falar, cabe-nos deixar aqui o nosso testemunho e contarmos o porquê do seu sacrifício. Morreram ou ficaram estropiados, mas não foram esquecidos. Contamos contigo para nos ajudares a complementar este registo. E para trazer novos camaradas para a Tabanca Grande!

Para completar a tua apresentação, por favor manda-nos as fotos da praxe que serão em devido tempo acrescentadas a este poste. Passas a ser o tabanqueiro nº 541.

Por agora é tudo, recebe um abraço do teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9456: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (50): Em busca do Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), meu camarada da recruta e da especialidade do CISMI, Tavira (Eduardo Estrela, ex-Fur Mil, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9493: Tabanca Grande (321): João José Alves Martins, ex-Alf Mil Art.ª, BAC 1 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1971/74)

Guiné 63/74 - P9547: Memória dos lugares (177): Canquelifá, a ferro e fogo, fevereiro / abril de 1974 (José Marques)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor de Piche > Canquelifá > CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche, 1972/74) > 18 de Março de 1974 > A paisagem desoladora da tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas... Foto, de autor desconhecido,  do álbum  do Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74)





Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário do nosso leitor (e camarada) José Marques (que presumimos ter pertencido à CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 ou mais provavelmente a outra subunidade, já que lá esteve menos de dois meses em Canquelifá), com data de 23 do corrente, ao poste P7438 (*)


[Conjunto de seis] fotos que testemunham o que se passou em Canquelifá, mas estes estragos não ocorreram apenas no dia 18 de março de 74 (*).

Nos dias seguintes,  a 19, 20, 21, 24 e 31 de março de  74, houve ataques mais prolongados e intensos, por isso julgo que as fotos tenham sido tiradas já após os últimos ataques. (**)

Estive em Canquelifá,  de 22 de fevereiro de  74 a 12 de abril de 74, ainda apanhei os ataques de 24 de fevereiro e 5 de março, estes mais fracos em comparação com os últimos.

Obrigado pela divulgação destas fotos.

Um abraço!

José Marques

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 15 de dezembro de 201o > Guiné 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974


(**) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

(***) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9505: Memória dos lugares (176): Buruntuma, lá no "cu de Judas"...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 – P9546: (Ex)citações (175): Não canto loas ao inimigo para apoucar os meus (António J. P. Costa)

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel Reformado (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT da CART 3494/BART 3873, Mansabá, Xime e Mansambo, 1972/74), com data de 27 de Fevereiro de 2012:

Camarada
Sinceramente não contava com esta reacção por parte da rapaziada do blog.
Acho que devo defender-me dos comentários que foram feitos sobre aquilo que eu disse*.

1. - Para o Mexia Alves, o abraço do costume e recordar-lhe que "se para estas guerras não dou mais" deve começar a guardar as esmolas.

Claro que o porta-aviões estava encomendado e o submarino só não foi entregue por motivos...
Contudo, talvez a procurar prevenir para não ter que remediar foram adquiridos dois sistemas de armas AA Crotale e não creio que tenha sido para dar uns tostões à fábrica francesa. Isso quer dizer que as coisas poderiam precipitar-se e os condutores da guerra sabiam disso.

Quanto à questão dos "ses", coisa que em História não há, parece-me que cais sempre nela. A tua atitude é do treinador que depois do jogo perdido diz que se o jogo durasse mais dez minutos ainda ganhávamos "aquilo".
Sei que vais voltar a dar para estas guerras e isso não tem que ver com a tua "palavra de honra".
É feitio, pronto!
Mais um Ab e a gente vê-se no dia 21ABR.


2. - Aos camaradas que têm dificuldade em aceitar o que disse, sugiro que leiam, entre outros, os documentos que o "Tabanqueiro 530" tem vindo a apresentar. Claro que são apenas documentos... embora oficiais e classificados ao mais alto nível. Como são antigos, não serão muito credíveis. Quero também dizer que não escrevo mentirinhas, nem aldrabices e muito menos faço bulir a desinformação.
Era o que faltava, vir tentar mentalizar homens da minha idade!

Também rejeito, por completo, a teoria de que os bravos/orgulhosos/decididos/valentíssimos/impolutos/patriotas guerrilheiros do PAIGC "davam cada dia maize duro na criminoso colonialista tuga" imperialista/colonialista/salazarista/fascista/basket-bolista/futebolista/alpista e outros terminados em -ista que éramos nós. Não perfilho o gosto tão português de dizer mal de nós. Mas, não abdico da capacidade de apontar onde as coisas correram mal. Tenho para mim que é mais construtivo de que fingir que nada de mau ou errado se passou, em nome de uma qualquer forma de patriotismo, qualquer que seja o âmbito que se considere

Não canto loas ao inimigo para apoucar os meus e não cultivo o nacional-porreirismo de que afinal somos todos "bestialmente" amigos e camaradas, mas também não me move qualquer espécie de ódio em relação aos guerrilheiros do PAIGC. Estou até firmemente convencido que o fenómeno sociológico a que chamamos guerra colonial/do ultramar/de África foi um problema criado pelos portugueses, sofrido pelos portugueses e resolvido pelos portugueses, quer eles vivessem e/ou tivessem nascido em Portugal, na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Já dei a minha opinião sobre a questão da guerra ganha ou perdida na revista oficiosa do Exército, sinal de que as minha opiniões não estão muito longe da posição oficial. Não estou só, nesta maneira de pensar como se vê por diversas intervenções de outros camaradas no blog


3. - Ao Zé Brás quero desejar um feliz Dia das Mentiras, cheio de aficion e com a alegria de uma celebração de camaradagem e companheirismo. Se saltares à praça, não te esqueças de que isso já não é o que era e que a tradição (nem sempre) é o que era.
Um Ab., sorte e alegria


4. - Ao António Martins de Matos quero que dizer que li atenta e demoradamente os artigos da "Mais Alto" e, na perspectiva do "utente ou beneficiário", teci as considerações que ali ficam. Sou do tempo em que os FIAT bombardeavam e "o pessoal" baixava as cabeças, sentia o ar a tremer e podíamos ver os números dos aviões, em 1968. Nesse tempo, tínhamos correio duas e (às vezes) três vezes, por semana trazido pela "Avionette" DO 27. Vinha também o médico, o padre e até o comandante do batalhão. No dia em que fui colocado em Cacine, ia no DO um cabo da Engenharia que ia montar um disjuntor no poço do quartel.

Em 1971- inícios de 73 as coisas não se tinham modificado muito. Depois do aparecimento do Strella, recordo-me de ter visto os detalhes do Nord do Cor. Moura Pinto a voar sobre a estrada para e de Farim. O Velho era mesmo valente! Por experiência própria e com testemunhas (Ribeiro Faria e Joaquim dos Reis) verifiquei que as condições eram agora outras, as possíveis.

Como, por acaso sou português, o Exército é o meu exército e a FAP é a minha FAP, com tudo o que tenham de bom e de mau. Num dado momento histórico qualquer país ou civilização é caracterizada pelas suas instituições funcionando, como funcionaram ou funcionam.

Surdo sou um bocado. É da PDI! Dei a minha opinião sobre as consequências de um dado facto e creio ser inegável que naqueles dias houve uma viragem no curso dos acontecimentos.


5. - Finalmente quero dizer que achei um piadão àquela do Graça Abreu e do touro às arrecuas. É uma imagem humorística, mas não vi ao que vem. Parabéns pela ideia, de qualquer modo! Também não entendi nada daquela viagem à meditação oriental. Nunca fui à China, nem sequer a Macau, por isso tenho dificuldade em interpretar as afirmações do filósofo Zi Ping Pong (Cap. 69, Vs 96) produzidas no tempo da pedra lascada ou até antes. Parecem-me deslocadas, pois falei de coisas muito diferentes: aviões, guerra, artilharia e outras minudências bélicas.

Da China só conheci o Livro Vermelho do camarada Nove Sete Um. Tinha até um exemplar encadernado, mas, como era vermelho (o livro) ofereci-o ao Benfica para a Sala de Troféus do Estádio da Luz. De qualquer modo teve piada.
Um Ab e acho que deve continuar a cultivar a sua veia humoristica-tauromáquica-meditativa. Os Gatos Fedorentos que se cuidem...


Um Ab.
Agradeço a atenção que tiveram para me ouvir
António J. P. Costa
+1 Reformado
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9527: FAP (65): Mísseis Strela, a viragem na guerra... (António J. Pereira da Costa)

Vd. último poste da série de 9 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9465: (Ex)citações (174): A mágoa de, no meu País, os bravos, os vivos e os mortos, não terem o reconhecimento e o respeito do seu sacrifício, que merecem (Rui Dias Moreira)

Guiné 63/74 - P9545: Humor de caserna (25): Métodos de sobrevivência dos maltrapilhos do arame farpado (C. Martins)



1. Mensagem do nosso camarada C. Martins (ex-Alf Mil Art.ª, Gadamael, 1973/74), com data de 25 de Fevereiro de 2012

Caro Carlos
Aqui vai uma pequena história irónica se quiseres publicar no blogue.
C. Martins



Métodos de sobrevivência dos "maltrapilhos do arame farpado"

Como caçar o macaco cão

A tiro, claro, convém avançar para o dito abatido, munido de uma granada de mão ofensiva, porque os companheiros têm por hábito descer das árvores e defenderem à dentada, se for preciso, o companheiro abatido... ah e fazendo uma algazarra que nem lhes conto.

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Como colher cocos

Quê... subir ao coqueiro... como o Cavaco... nãaa. É a tiro... não é conveniente perfurar o coco... porque se perde o melhor... o respectivo leitinho do dito e é fresquinho... cuidado com a "mona" quando o coco ou cocos caiem. Deve-se estar munido de uma catana para abrir o respectivo. Cuidado com a quantidade que se bebe de leite... mais de três... dá "caganeira".

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Pequeno almoço "gourmet"

Convém levantar cedo para usufruir do pão quentinho acabado de fazer. Corta-se às fatias e barra-se com manteiga da Manutenção Militar. Pega-se na bisnaga de leite condensado da ração de combate e dissolve-se em água da bolanha. Não é necessário açúcar que o respectivo já tem doce suficiente.

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Almoço "gourmet"

Inicia-se esta deliciosa refeição, ingerido os comprimidos que uma alma caridosa colocou à frente dos pratos de zinco, estes têm vitaminas sais minerais e... mais coisas.
Se o menu for "arroz com estilhaços", começa-se por escolher todos os estilhaços que se colocam a um canto do prato, depois procuram-se todos os grãos de arroz intactos que sendo raros ainda assim se conseguem encontrar no meio daquela papa de arroz e juntam-se aos estilhaços previamente guardados. Acompanha-se o repasto com um água vintage da bolhanha previamente filtrada.

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Como tomar banho de chuveiro

Devem dirigir-se ao respectivo bidão com a "canhota" e respectivas cartucheiras... por se acaso bater com o cano desta no respectivo para verificar o nível da água... se estiver meio cheio ou meio vazio... tanto faz... escolher outro. Tirar a rolha ou outra coisa qualquer que impede a saída da água... molhar-se rapidamente... tapar a saída e ensaboar-se. Repetir para tirar o sabão. Não se deve fazer isto logo de manhã... a água está fria... nem durante a tarde... a água está muito quente. Isto durante a época seca, porque na época das chuvas desde começa a chover é aproveitar a mesma durante o tempo que se quiser... a porra é que às vezes parava de chover e um gajo ainda estava cheio de sabão.

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Como fazer as necessidades fisiológicas (defecar)

Quando surgir a vontade, devem levar um papel qualquer... para posterior limpeza higiénica... deve sempre fazer-se porque para além de ser porco... cheira mal. Munir-se de uma pá ou de outro objecto para fazer uma pequena poça... dirijam-se ao arame farpado... convém avisar os sentinelas e se for de noite é obrigatório... e mesmo assim contar sempre que algum engraçadinho atire para perto da zona onde estamos a defecar... após escolher o local... abrir um pequeno buraco... é conveniente acertar com o produto dentro do buraco, após o trabalhinho... tapar com bastante terra. Nunca defecar em frente ao espaldão do canhão sem recuo porque é proibido.

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Como fazer batota no Poker de dados

Sempre que se lança o último dado para tentar completar qualquer coisa, deve-se colocar para cima a face do dado que se quer que saia na palma da mão, tapar com a outra mão, fingir que se agita o dado, soprar, e lançar o dado de forma a que deslize com a face pretendida virada para cima... às vezes um engraçadinho armado em chico esperto dizia que o dado não tinha rolado...

C.Martins
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9472: Humor de caserna (24): Um tiro no cu (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 – P9544: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte X): pp. 55 a 66

Continuação da publicação do relatório da 2ª Rep/CTIG, sobre a situação político-militar em 1974, documento esse que foi digitalizado pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande [, foto à esquerda], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74).

O relatório, datado de 28 de Fevereiro de 1975, é assinado pelo chefe da 2ª Rep do CC/FAG [, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, comando unificado criado em 17 de Agosto de 1974], o maj inf Tito José Barroso Capela.

Publica-se hoje o ponto c (Situação interna) da segunda parte do relatório (B. Período de 25Abr74 a 15Out74), pp. 55 a 66: (2) Situação político-administrativa: (a) PAIGC- Contactos e conversações no TO (pp. 55/64); (b) Outros partidos políticos ou associações cívicas (pp. 64/66).


Índice do relatório

A. Período até 25Abr74
1. Situação em 25Abr74
a. Generalidades (pp.1/2)
b. Situação política externa:
( 1 ) PAIGC e organizações internacionais (pp. 2/5)
( 2 ) Países limítrofes (pp. 5/8)
( 3 ) O reconhecimento internacional do “Estado da G/B em 25Abr74 (pp.8/9).
c. Situação interna:
1. Situação militar.
( a ) Actividade do PAIGC (pp. 10/12)
( b ) Síntese da atividade do PAIGC e suas consequências (pp.13/15)
( c ) Análise da actividade de guerrilha (pp. 16/18)
( d ) Dispositivo geral do PAIGC e objetivos (pp. 18/19)
( e ) Potencial de combate do PAIG (pp.19/20)
( f ) Possibilidades do PAIGC e evolução provável da situação (p. 21)
2. Situação político-administrativa (pp. 22/24).

B. Período de 25Abr74 a 15Out74
2. Evolução da situação após 25Abr74
a. Generalidades (pp. 25/26)
b. Situação política externa (pp. 26/28)
(1) PAIGC (pp. 29/32)
(2) Organizações internacionais (pp. 32/34)
(3) Países africanos (pp. 34/35)
(4) Outros países (pp. 35/36)

c. Situação interna
(1) Situação militar
(a) Aspetos gerais (pp.37/46)
b) Síntese da actividade de guerrilha
1. Ações de guerrilha realizadas pelo PAIGC após 25abr74 (pp. 47/52)
2. Ações de controlo às viaturas das NT (p. 52)
3. Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIG (pp. 52/54)
(2) Situação político-administrativa
(a) PAIGC- Contactos e conversações no TO (pp. 55/64)
(b) Outros partidos políticos ou associações cívicas (pp. 64/66)


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9499: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IX): pp. 47/54