quinta-feira, 17 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9917: Convívios (437): Almoço/Convívio do Batalhão de Cavalaria 8323, dia 2 de Junho de 2012, em Coimbra (António Rodrigues)


1.     O nosso Camarada António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 8323, Copá, 1973/74, solicita-nos a divulgação da próxima festa da sua companhia. 


Almoço/Convívio do Batalhão de Cavalaria 8323

2 de Junho de 2012

Ançã - Coimbra 




Camaradas, 

Agradeço a publicação, no nosso Blogue, da notícia do almoço/convívio do Batalhão de Cavalaria 8323, que prestou serviço na Guiné 1973-1974, em Pirada, Bajocunda, Copá, Paunca, Sissaucunda e Buruntuma. 

Realiza-se no próximo dia 2 de Junho no Restaurante Quinta do Pingão junto à estrada Nacional, em Ançã - Coimbra. 

Para mais informações, os interessados (que espero sejam muitos ) devem contactar o nosso Camarada e Amigo: 

José Tomás Fernandes 
Telefones: 253 672 374 (das 09h00 às 18h00 horas) 
Telemóvel: 964 241 854 
Ou, 
Paula: 253 673 929 (a partir das 21h00 horas) 

As inscrições devem ser feitas até ao próximo dia 25 deste mês de Maio. 

Um abraço, 
António Rodrigues 
Sold Cond Auto da 1ª CCAV do BCAV 8323. 


Mini-guião: © Colecção de Carlos Coutinho (2012). Direitos reservados. 
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

16 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9912: Convívios (254): Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 31 de Maio de 2012 em Alcabideche (José Manuel M. Dinis) 


Guiné 63/74 - P9916: Agenda cultural (201): No Dia Internacio​nal dos Museus. Conversas com Veteranos da Guerra Colonial. Sessões com o tema "Um objeto, um testemunho" (Museu Militar do Porto)



1. Camaradas a Dra. Alexandra Anjos, do Museu Militar do Porto, enviou-me o convite infra-anexo, extensível a todos os que de vós possam estar interessados.

No Dia Internacio​nal dos Museus 
Conversas com Veteranos da Guerra Colonial 
"Um objeto, um testemunho" 
Museu Militar do Porto 


Caro Eduardo, 


Este fim-de-semana (18, 19 e 20 de maio) o Museu Militar do Porto vai participar numa série de atividades, a par de cerca de 30 museus da cidade do Porto, no âmbito do Dia Internacional dos Museus e Noite dos Museus (para mais informações: http://dim.portodigital.pt/)

Em particular no dia 19 (sábado) o Museu Militar do Porto tem programadas 2 sessões com conversas com Veteranos da Guerra Colonial, pois julgamos de todo interesse, cumpridos já 50 anos do seu início, conhecer o testemunho de quem, não sendo militar de carreira, cumpriu o seu dever e seguiu depois a sua vida assumindo um papel diferente na sociedade. Estas sessões com o tema "Um objeto, um testemunho" terão lugar às 15h30 e às 17h30. 

Teríamos todo o gosto em que aparecesse e agradeço, se puder, fazer a divulgação junto dos seus contatos, ou entre quem possa ter interesse, pelo que anexo o cartaz em pdf que pode ser enviado via mail. 

Obrigada.
Um abraço
Alexandra Anjos
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9878: Agenda cultural (200): O António Batista, o nosso "morto-vivo do Quirafo", e os projetos solidários da Tabanca de Matosinhos, hoje, 5ª feira, dia 10, às 10h, no programa Praça da Alegria, RTP1 


Guiné 63/74 - P9915: Lições de artilharia para os infantes (5): Quando o oficial de dia fez um levantamento de rancho... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)


[Foto à esquerda, de Lázaro Ferreira, nosso próximo grã-tabanqueiro: malta de Gadamael, 1974].


1.  O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , comandante do Pel Art 23, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, hoje, no Portugal profundo, -  não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões alegadamente deontológicas, éticas  e profissionais que eu entendo e respeito. Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o meu convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe... 

Em contrapartida, é leitor assíduo, fã do nosso blogue, comentador diário dos nossos postes, frequentador dos nossos encontros nacionais, e profundo conhecer da Guiné, amigo das suas gentes... Tem, além disso - e excecionalmente - uma série feita com os seus comentários neste blogue... Ele é um bom contador de histórias, tem sentido de humor, e muitas memórias da tropa, da guerra e da paz, por partilhar... Seria uma pena que esta, que a seguir (re)publicamos, ficasse  escondida (e perdida) na montra traseira (que é a caixa de comentários) do nosso blogue... 

Sem sequer lhe pedir autorização (já foi dada tacitamente), aproveitei esta história, que considero exemplar, para mais um poste da série Lições de artilharia para os infantes... Pode perguntar-se: Foi a tropa uma escola de virtudes ? Quero eu dizer, a tropa do nosso tempo... Aprendia-se lá só coisas de artilharia, infantaria, cavalaria, transmissões ? Mas também valores ?... 

A pergunta não tem uma resposta dicotómica: como de resto tudo na vida, nada  pode ser visto a preto e branco... Depois da história do J.L. Mendes Gomes, a do C. Martins: são duas histórias que têm direito a "mural ao fundo"... Não confundir com "moral"... São histórias que se prestam a que a gente, os grã-tabanqueiros e demais leitores deste blogue, escrevem os seus grafitos na parede (mural), ao fundo... Eu diria que são "contos morais"... Mas ao leitor é que é reservada a última palavra. 

O C. Martins que me perdoe a partida, mas achei que este seu comentário era um pequeno diamante em bruto, que merecia ser lapidado... Podia tentar adivinhar quando e com quem se passou... Seguramente, gente da artilharia, mas para o caso não interessa. Os "contos morais" não têm historicidade, isto é, a espessura e a ganga do tempo e do espaço... (Quanto a mim, limitei-me a fazer o papel do escriba de serviço, neste turno, que foi o de fazer a fixação do texto; os méritos vão inteirinhos para o C. Martins).

Para o J.L. Mendes Gomes vai também o meu apreço pela coragem e frontalidade com que ele partilha, connosco (e com os netos...), uma história que alguns poderiam/poderão achar "politicamente pouco correta"... (LG).


 2. Lições de artilharia para os infantes > Quando o oficial de dia fez uma levantamento de rancho...


por C. Martins

Este tema é muito interessante: Relação entre comandantes e comandados e vice-versa (*).

Atitudes, justiça, injustiça, abuso de poder, capacidade de liderança ou não, coesão ou espírito de corpo.
Todos nós tivemos casos, independentemente da categoria ou posto hierárquico.

A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!!.

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.


Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa,  a carne praticamente tinha-se evaporado!. 
-  NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! - berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
- Você está preso,  seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:
- ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde. 

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis,  com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção.

C.Martins (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66).



(**) Último poste da série > 4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9852: Lições de artilharia para os infantes (4): O que era uma bateria (ou bataria)... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

Guiné 63/74 - P9914: História da CCAÇ 2679 (50): Uma motivação imprevista (José Manuel M. Dinis)

1. Em mensagem do dia 13 de Maio de 2012, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos mais uma memória da história da sua Unidade.


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (50)

Uma motivação imprevista

Lá longe, depois de cruzado o Geba e o Gabu, na direcção do Senegal e das brisas do deserto, cirandava uma companhia que, desde Piche, praticava muita operacionalidade, e todos os dias mantinha, a par da actividade militar propriamente dita, com picagens, patrulhas, colunas e emboscadas, ainda a actividade interna, normal de cada aquartelamento.

O pessoal, por vezes, manifestava cansaço, até revolta. Sobretudo, quando as horas do rancho suscitavam algum género de contestação. De facto, por ali comia-se mal e porcamente. O "tacho" consistia quase exclusivamente em "bianda com estilhaços", num guisado que sugeria cimento, ou massa com estilhaços.

Quando alguém se lembrava de reclamar, logo degenerava um coro de protestos, no geral inconsequentes. Mas quando, ainda revoltados e estimulados para reclamar, encontravam o capitão, um ou outro mais afoito, dirigia-se-lhe a apresentar protestos, enquanto os restantes paravam à escuta, ou largavam frases acusatórias de que havia quem enriquecesse à custa do pessoal, ou que na messe os senhores comiam bifinhos, enquanto no refeitório a alimentação era quase intragável. E havia quem, mais ou menos encoberto, como quem queria a coisa, referisse que o rebentamento de umas granadas poderia resolver o problema dos ilícitos.

Um dia a localidade foi sobrevoada por um NordAtlas, que do seu bojo soltou uma caixa de frescos. Vieram de pára-quedas, mas com tal força bateram no chão, que o caixote desconjuntou-se, o peixe espalhou-se no solo arenoso numa gemada de ovos, e nada se aproveitou.

Pata que os pôs, gritava-se entre impropérios. Parecia que estavam a gozar. Quem havia de comer aquilo? Porque é que não se fez uma coluna a buscar os géneros?

À porta da secretaria o capitão parecia ouvir os protestos. Por trás, cofiando o bigode, como quem avalia o evoluir da situação, o Primeiro mantinha-se calmo e encorajador do capitão.  

Que um dia haveria ali uma festa com mais puns-puns que a passagem de ano no Funchal, que os "xicos" é que deviam ir para o mato, e outras, directas e indirectas, mobilizavam a rapaziada na curiosidade contestatária.

Alguns dias depois aterrou um DO que trazia o Comandante Operacional. Algum tempo depois mandava-se formar o pessoal da Companhia, um pelotão de operacionais, e uma parte dos especialistas.

Houve um arremedo de formação para o senhor Comandante. O pessoal olhava para os pés, compunha o quico para evitar o sol, diziam-se dixotes baixinho a provocar graças, que talvez não chegassem ao degrau onde estava o orador, outros davam-se empurrões de surpresa a provocar desequilíbrios, enfim, passava-se o tempo, enquanto Sua Excelência discorria sobre o moral, e a capacidade do exército.

A certa altura, a propósito das reclamações sobre a alimentação e o consequente cansaço, teve a seguinte tirada: Eu também ando pela Guiné toda, e não estou cansado. Não foi preciso esperar reacção, porque um espontâneo logo replicou altissonante: de avião!... assim também eu.

Seguiu-se uma precipitação de risos, de início a conterem-se, mas logo em avalanche de bom humor. O pessoal inclinava-se, aproximavam-se alguns para comentar, de onde brotavam mais risos. A formação, deformava-se. Alargava-se. Descompactava-se. Sem ordem, que não se revelou necessária, destroçava-se.

O senhor Major considerou que já tinha falado, e também se retirou com o capitão a segui-lo. Foi uma festa, e durante dias quase não se falou de outra coisa. Mal imaginaria aquele oficial, como um simples "lapsu-linguae" poderia transformar uma tropa apática e mal disposta, num grupo de militares orgulhosos e alegres, capazes de resistirem por mais algum tempo às provações que lhes eram impostas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9756: História da CCAÇ 2679 (49): A maneira mais prática de fazer prova de aptidão para conduzir viaturas auto (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P9913: Estórias avulsas (59): Uma ida à lenha que ia estragando o almoço (Manuel Carvalho Passos)

1. Texto e fotos do nosso camarada Manuel Carvalho Passos* (ex-Soldado do Pel Rec / CCS / BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/73), chegado até nós através do nosso camarada Juvenal Amado:


UMA IDA À LENHA QUE NOS IA ESTRAGANDO O ALMOÇO

Camaradas, são já passados alguns meses após a minha apresentação à Tabanca Grande.
Resolvi relatar um acontecimento e assim contribuir com esta memória para o grande colectivo que é o nosso Blogue.

Em Galomaro passei alguns bons momentos de amizade, camaradagem e também alguns dos piores da minha vida. Mas hoje vou falar dos bons.

Ao ver uma foto da malta que ia à lenha, lembrei-me de uma das muitas peripécias por que lá passei. O Furriel Castro mandou chamar alguns elementos do meu pelotão onde pontuavam o Silva dos Carvalhos e o Ferreira, rapaz de Viseu com quase 2 metros de altura.

Ora eu tinha recebido 1000 pesos de uma tia que estava na África do Sul, sim porque aqui na Metrópole não era fácil alguém me mandar assim mil palhaços. O tempo já era de vacas magras!!

Esposa e neta do senhor Regala

Quando me vi com esse dinheiro todo, tratei de convidar os dois para almoçar no Regala. Não me lembro se foi frango ou bife com batata frita, mas verdade é que a D. Maria Regala cozinhava como ninguém. O almoço foi bem regado com um vinho branco muito fresquinho, para aliviar o calor do piri-piri e rematámos com um o dois whisky cada um, pois nunca nos fazíamos rogados e o treino era muito.

Mas a coisa não ficou por aí e quando nos foram chamar para o trabalho, já nós estávamos de barriga encostada ao balcão da cantina, com uma bazuca de litro bem fresquinha. Chega o Sertã e diz-nos que o Furriel Castro andava à nossa procura e que estivéssemos à porta de armas dentro de dez minutos, coisa que não entrava nos nossos planos naquele momento.

O Ferreira escondeu-se na padaria, e eu e o Silva fomos para o posto junto do qual os hélis poisavam. Instruímos o Sertã para dizer que não nos viu.

Como não nos podíamos tornar invisíveis, o Lopes que também estava escalado, foi dizer ao furriel que se nós não fossemos ele também não ia. Andaram à nossa procura, mas não deram connosco e assim tiveram que ir sem nós.

O Lopes não se livrou de ir, com os resultados que se verão.

Vimos a coluna a sair e voltamos para a cantina acabar com a cerveja, quando somos surpreendidos pelo furriel. Passou-nos um raspanete de todo o tamanho. Contamos-lhe o que tinha acontecido e onde nos escondemos, ele muito pronto e com ar de gozo diz-nos: “para a próxima levais uma porrada se não me convidarem para do almoço”.

Só que o Lopes ficou tão bravo, que andou uns dias a perguntar ao furriel se ele tinha participado de nós e claro o furriel disse que sim, mas que o Comandante ia pôr a participação no lixo, porque o Passos tinha uma cunha e estava recomendado. Na verdade a cunha era uma realidade, a ponto de me terem oferecido o lugar na cantina de Galomaro e assim ser retirado do serviço no mato.

Quando chegamos Galomaro o Comandante mandou-me chamar, fez-me a proposta para a cantina e disse-me que não podia fazer melhor. Eu recusei o lugar pois preferia estar no pelotão, com os meus amigos mesmo tendo que ir para o mato.

Nunca me arrependi e só tive que assinar uma carta onde ele escreveria ao Comandante do Tribunal Militar de Bissau a dar conta pois era a pessoa que por mim intercedera.

Esta é assim uma pequena estória na minha passagem por Galomaro. Podia ter passado melhor, poderia não ter visto o vi, mas hoje teria alguma dificuldade em encarar os meus antigos camaradas de armas, se naquela altura tenho escolhido a segurança da cantina.

Coluna para o Saltinho > Capitão Rolin Duarte, Cabo Ferreira, Silvestre e Márcio

A partir da esquerda: Silva, Passos, Ivo e Ferreira

Do lado esquerdo: Passos, Ferreira Silvestre, Sertã e Caramba. Do lado direito: Félix, Furriel Santos, Castro e Sacristão

Fotos (e legendas): Juvenal Amado © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012). Todos os direitos reservados

Um abraço a todos
Manuel Passos
Pel Rec 3872
Galomaro
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6958: Algumas fotos de camaradas do BCAÇ 3872 (Manuel Carvalho Passos)

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9792: Estórias avulsas (58): Fotos de Bedanda (Luís Gonçalves Vaz/Mário de Azevedo)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9912: Convívios (436): Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 31 de Maio de 2012 em Alcabideche (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:

Carlos, boa tarde,
Mais uma vez a dar trabalho. Oxalá sejas compensado.
Neste caso, se apareceres, a organização compensar-te-á, a custas próprias, pois o O.E. esqueceu-se da rúbrica da Linha.
Assim, peço-te o anúncio do próximo encontro, que vai ser um trinta e um.
Um abraço.
JMMD


ENCONTRO DA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA

DIA 31 DE MAIO - (5.ª feira) - PELAS 13H00

NO SÍTIO DO COSTUME: ADEGA CAMPONESA, CABREIRO, ALCABIDECHE, NAS TRASEIRAS DO NOVO HOSPITAL DE CASCAIS

Por 15,50 euros, convidam-se os amigos da MAGNÍFICA, a confraternizar, com a seguinte ordem de trabalhos: 

Couvert: pãpo, manteiga, azeitonas; 
Entradas: paté de marisco, salgados;
Bebidas: vinhos branco e tinto da casa, sumos, águas, cerveja, sangria; 
Sopa: creme de legumes; 
Peixe: filetes de peixe (cherne) com arroz de feijão; 
Carne: lombo de porco assado c/farinheira, c/batata à padeiro e esparregado; 
Sobremesa: buffet de sobremesas; 
Café 

O traje deve ser de gala, mas aceitam-se excepções, excepto, para os mal dispostos. 
Contamos com a condescendência daqueles muitos, que andam ansiosos por dois dedos de conversa. 
Pede-se, ainda, a divulgação do evento por todos os frequentadores habituais, esquimós e extra-terrestres. 

Abraços fraternos 
JD 

Solicitamos a confirmação até ao próximo dia 29 de Maio. 

Contactos: 
Rosales - 914 421 882; 
Dinis - 913 673 067
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9908: Convívios (253): Almoço de homenagem aos ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, a realizar no próximo dia 10 de Junho em Fão, promovido pela Junta de Freguesia local

Guiné 63/74 - P9911: Os nossos seres, saberes e lazeres (44): Saltar de pára-quedas, um sonho realizado depois dos sessenta... agora sozinho (Paulo Santiago)

VOANDO... AGORA SOZINHO

Ficou o "bichinho" do Paraquedismo após o salto tandem, efectuado há dois meses, e aqui relatado*.
Hoje concluí, com quatro saltos, o Curso de Paraquedismo (abertura automática).
Senti-me bem... algo rejuvenescido.

Paulo Santiago


O Sargento Pára Avelino Cruz dá as instruções

A caminho da aeronave

Instalado no avião

Voando

Aproxima-se a aterragem

Aterragem




Comentário de CV:
Comentário para quê?
Qual o limite do nosso camarada Paulo Santiago?

Fotos: Victor Tavares © 
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9599: Os nossos seres, saberes e lazeres (41): Saltar de pára-quedas, um sonho realizado depois dos sessenta (Paulo Santiago)

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9616: Os nossos seres, saberes e lazeres (43): João Crisóstomo, um português das Américas..., mas também de Torres Vedras, de Porto Gole e do Enxalé... (Eurico Mendes, Portuguese Times, 9 de fevereiro de 2011)

Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

Foto à direita: Alemanha, Berlim > Páscoa, 2012 > O J.L. Mendes Gomes com os netos.

Foto: © J. L. Mendes Gomes (2012). Todos os direitos reservados.

1. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigoJoaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66, vivendo presentemente em Berlim.

SEGUNDA CARTA – EM CATIÓ (PARTE III) (*)

Lichtenrade, Berlim, 14 de Março de 2012


5- Inesperada evocação esquecida




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 6 > Porta de Armas  e  ao fundo o edifício da cozinha das praças.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 31  >  Cerimónia militar em Fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART  1689,  da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967.  Com a presença das entidades civis e população. Vista parcial do quartel com as tropas em parada


Fotos (e legendas): Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados

   
Tornaram-se prática generalizada, sobretudo nos últimos anos, os encontros anuais de convívio fraterno dos ex-combatentes, por esse país fora. Uma prática cada vez mais frequente que se afigura, desde logo, muito sadia e consoladora.

O reverem-se em cada encontro e as recordações cruzadas que se trocam, sobre tudo o que se passou, lá atrás, naqueles tempos conturbados, sobretudo durante o almoço, o apresentar dos novos familiares de cada, esposas, filhos e netos, propiciam sublimes alegrias que, para a esmagadora maioria, têm mesmo de repetir-se. Tornou-se uma obrigação e uma necessidade.

Eu fui e sou excepção. Apresentei as minhas razões e desculpas, mas só apareci uma vez. Foi no ano em que o promotor era o comandante da companhia. Nas instalações do Regimento de Évora. Para revisitar o quartel onde tudo começou, e se preparou a companhia e donde partíramos para a Guiné.

As razões eram e são estritamente do meu foro pessoal. Há feitios e feitios…Sentia e sinto uma natural resistência a voltar aos sítios onde fui infeliz, onde sofri. Não tem para mim, o efeito reparador e consolador que a maioria sente. Prefiro manter tudo em suspenso, bem guardado dentro de mim e só lá vou quando é preciso. Foi uma vivência que passou.

Estávamos todos no mesmo barco. A jogar o mesmo jogo. Em equipa que o destino reuniu. É preferível deixá-la onde está. Não a inquinar com novos desafios. Aquele acabou, cada um foi à sua vida.

Esta é a base onde assento a minha atitude. Discutível ou censurável. Mas é assim que sinto. Não me arrisco a agravar feridas que nunca sararam. E foi o que aconteceu, nesse encontro de Évora.

Apareci sozinho. A concentração deu-se no largo à frente do quartel. Abeirei-me dos imediatamente reconhecidos: o Gonçalves e o Arlindo. Uma grande festa. O que era de esperar e me agradou. A rapaziada já era muita, em alegre cavaqueira. Penso que não reconheci ninguém, assim como vi e senti que me olhavam de olhar inquiridor:
- Quem é aquele gorducho de barbas brancas ?- confessaram-no depois, durante o almoço.

Eu estava mais gordo e tinha alargado em todas as direcções. Excepto na altura. Não havia nem há grandes semelhanças com o que então era. Mas isso era a regra geral Só que, as duas dezenas de anos decorridos, sem qualquer contacto, deu para que tudo se modificasse e ficássemos irreconhecíveis.

Entretanto chegou o capitão acompanhado da esposa. A mesma festa recíproca. Sempre tive muita admiração e amizade por aquele superior. Sereno e vertical. Seguiram-se umas palavras vibrantes dele para connosco, de exaltação pelo que fomos e de lamentação pelo abandono e ignorância geral da pátria, sobretudo da gente da política, que entretanto se seguiram, relativamente aos ex-combatentes. - “ A pátria que nos mandou para a guerra, não foi nem é a mesma que nos acolheu…”

Seguiu-se um passeio pelo interior. Guiado pel o comandante da altura, do quartel. A revolução estranha, interior, que se desencadeou dentro de mim, de forma incontrolável, confirmava-me a razão de nunca ter aparecido. Foi uma lufada de de memórias em ccortejo que me fizeram reviver, sobretudo, as horas más do passado.

Pensei mesmo em apresentar minhas desculpas, retirar-me e não ir ao almoço. Mas o Gonçalves convenceu-me a ficar.
- O pessoal pergunta sempre e gosta de ti. – dizia-me ele sinceramente.

Durante o almoço, num monte alentejano, dos arredores, já se tinha desanuviado mais estas nuvens carregadas que me toldavam. Alguns dos meus soldados e sargentos manifestaram o gosto de me ver. Vieram falar-me.

No final dá-se o inesperado. Começa aquele esperado número- soube-o depois- o da leitura de quadras pelos mais habilidosos, trazidos já de casa, como já era habitual. A dada altura, pareceu de propósito. Sou eu que entro na berlinda.

O ex-cabo de transmissões, de que me lembrava muito bem, e por quem não sentia grande simpatia, diga-se- e, ele por mim…, começa a desbobinar em versos de pé-quebrado a descrição dum episódio, passado em Catió, numa manhã, em que eu era o oficial de dia.

Confesso que me sentia ainda mais atónito à medida em que ele avançava. Sinceramente, não me lembrava nada de ter feito o que ele, jocosamente, desenvolveu…acompanhado da hilaridade geral e olhar de soslaio da assembleia para ver como eu reagia. 

Penso que a sinceridade da surpresa que manifestei sentir terá dado para os convencer… Então que é que tinha acontecido?

Eu sempre fui exigente com todo o pessoal. Em todas as situações. Desde Évora até ao regresso da Guiné. Sempre impus respeito e disciplina, cá e lá. Era incapaz de desapertar as amarras e deixar passar toda a bicharada. Tratamentos por tu, com os meus sargentos, muito menos os soldados, nem pensar. Era contra essa prática. Visceralmente.

Então aconteceu, naquela manhã em que iria deixar de ser oficial de dia, tocou a corneta para o pequeno almoço, na forma habitual. Passou-se um pedaço de tempo exagerado para a comparência deles. Apenas uns gatos pingados desalinhados e de olhos mais fechados de sono que abertos. Pegaram no seu caneco de café com leite e no pedaço de casqueiro e retiraram-se. Ninguém aparecia.

Eu estava ali ao pé da cozinha.
- Ai é?!...
- Ó nosso cabo, faça o favor de despejar esse caldeiro de café com leite pelo esgoto abaixo.

O cabo olhou-me arregalado, hesitante, sem saber o que fazer.
- Faça o favor.

E aí foi tudo para o lixo… 
Retirei-me danado. Fiz bem?...Fiz mal?... Ainda hoje, continua a parecer-me discutível. O certo foi que, não perguntem como, esqueci completamente este episódio que me perturbou. E a eles também…

Varreu-se-me da memória… até àquele momento. Voltei a sentir o mesmo. Relembrei tudo. Fora verdade. Não sorri muito como esperariam, certamente.

O certo foi que nunca mais apareci a qualquer convívio.

Guiné 63/74 - P9909: Tabanca Grande (339): João Caramba, ex-1º cabo trms, Pel Rec, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, alentejano de Beja, nosso grã-tabanqueiro nº 558

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano João Caramba (ex-1.º Cabo TRMS do PEL REC/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 12 de Maio de 2012:

Olá amigos.
Espero ter a honra de pertencer ao grupo.
Se alguma coisa não estiver correta agradeço a vossa correção.

Um abraço
João Caramba


Uma história recordando a Guiné

Decorria o ano de 1973.

Quando soube que tinha chegado um novo batalhão à zona e que nessa unidade vinham alguns patrícios meus conhecidos, resolvi ir-lhes fazer uma visita. Logo que consegui uma oportunidade fui até lá.

Ao chegar ao destacamento começa a história que vos vou contar, a qual, poderia chamar-lhe trágico-cómica.

À porta de armas, todas as viaturas eram identificadas, registando-lhes a matrícula e a unidade onde pertenciam, só depois era levantada a cancela. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que o soldado de serviço, que eu conhecia bem, era analfabeto, não podendo ler nem registar coisa alguma e, mais grave ainda, era que estava com uma G3 em bandoleira,  coisa que não seria possível em situação normal pois era básico e não estava autorizado a manusear qualquer tipo de arma.

A coluna parou junto à cantina, onde eu me desloquei imediatamente, para falar com o cantineiro, que também era da nossa terra,  e contar-lhe o que se estava a passar.

Ficou tão admirado como eu, indo logo de seguida avisar o Oficial de Dia, pois foi o próprio que lá o tinha colocado, entregando-lhe a sua própria arma. Ao ter conhecimento do que se estava a passar o Sr. Alferes saiu do gabinete de braços por cima da cabeça,  esbracejando e ameaçando que lhe dava uma porrada e que o metia na cadeia e outros mimos mais que nem os bichos gostam.

Quando o soldado se apercebe do que se está a passar sai do posto, de arma em punho, puxa a culatra atrás, mete a bala na câmara e mandou-o parar,  ameaçando fazer-lhe um buraco. Claro está que o Sr. parou de imediato,  tremendo, sem saber o que fazer.

Nesse momento, alguém me fez lembrar que esse rapaz me tinha algum respeito, portanto eu tinha que intervir e assim fiz, com muita calma pedi-lhe que me entregasse a arma e, muito devagar, com a arma apontada para o meu lado, veio entregá-la e ao mesmo tempo cumprimentar-me como se nada se tivesse passado.

Só depois da bala fora da arma é que o Sr. Oficial se aproximou para continuar com alguns insultos. Foi difícil fazê-lo compreender que ali só podia haver um culpado e era ele próprio. Então com muito tempo e paciência lá fui conseguindo dar-lhe a volta de maneira que esta história ficasse por aqui sem vinganças nem castigos e acho que consegui.

Termina assim esta história, que podia ter sido uma tragédia, mas acabou em mais um dos muitos acontecimentos da Guiné, que ficaram nas nossas lembranças.

João Caramba



Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de abril de 2012 > Foto de Rui Silva, mostrando em primeiro plano, da esquerda para a direita, o nosso editor Luís Graça e dois alentejanos dos quatro costados, o João Caramba, nosso novo grã-tabanqueiro, e o Belarminho Sadinha. Em segundo plano, à esquerda, outro ilustre grã-tabanqueiro de longa data, o Juvenal Amado. O Juvenal e o João pertenceram à  mesma unidade, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, e são bons amigos.


2. Comentário de CV:

Caro João, bem-vindo à tertúlia. Sabemos que entraste pela mão do nosso camarigo de longa data Juvenal Amado, que se bem me lembro já havia falado de ti em pelo menos um dos seus textos.

Tivemos o prazer da tua companhia, e de tua esposa, no nosso VII Encontro deste ano, em Monte Real, pelo que já és conhecido por muitos de nós.

Já sabes que um dos deveres dos camaradas inscritos na tertúlia é,  dentro da sua disponibilidade,  ir alimentando o Blogue com as suas recordações e fotos. Tens o teu amigo Juvenal como inspirador.

Ao terminar deixo-te um abraço em nome da tertúlia. Passas a ser o tabanqueiro nº 558.

O camarada e amigo
Carlos
_____

Nota de CV:

Último poste da série > 15 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)

Guiné 63/74 – P9908: Convívios (435): Almoço de homenagem aos ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, a realizar no próximo dia 10 de Junho em Fão, promovido pela Junta de Freguesia local

1. Mensagem do Presidente da Junta de Freguesia de Fão, senhor Luís Peixoto, com data de 12 de Maio de 2012, a propósito da homenagem que aquela localidade do Concelho de Esposende vai promover no próximo dia 10 de Junho aos ex-combatentes da Guerra do Ultramar:

Caros Srs boa tarde,
Permitam-nos que divulguemos a homenagem aos combatentes da Guerra do Ultramar que a Junta de Fão promove desde de 2010.

Venham a Fão nesse dia. Trata-se de um cerimonia em que vocês são os heróis. 

Inscrevam-se para o almoço que é servido em ambiente comunitário e onde as sobremesas ficam a cargo das esposas dos heróis. Certamente que alguns de vocês já participaram nas anteriores duas edições. 

Deixo o programa cuja divulgação agradecemos:


“A Junta de Freguesia de Fão promove mais uma vez, no dia 10 de Junho, Homenagem aos Ex-Combatentes da Guerra no Ultramar. 

O programa é composto por uma missa, de Homenagem e Honra aos já falecidos, no Mosteiro de S. Bom Jesus pelas 11h00m, presidida pela Sr Padre Gaio, ultimo Capelão do Exército Português em terras Ultramarinas. 

Segue-se uma romagem ao cemitério paroquial para relembrar os bravos já desaparecidos. 

O convívio prosseguirá no edifício da Junta, no Largo das Rodas, com um Grande Almoço de Confraternização. 

Serão reconhecidos os que neste ano de 2012 fazem 50 anos de incorporação militar. 

A fotografia de grupo será o ultimo acto oficial desta cerimónia que o ano passado contou com centena e meia de participantes. 

Estão já abertas as inscrições na sede de Junta de Freguesia para participação nesta homenagem, bem merecida, a todos os que lutaram no Ultramar.” 

Cumprimentos
Luís Peixoto
Presidente de Junta
Tlm: 961 754 783
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9899: Convívios (252): Almoço comemorativo do 40.º aniversário do regresso do BCAV 2922, dia 16 de Junho de 2012 no RC 3 em Estremoz (Francisco Palma)

Guiné 63/74 - P9907: Parabéns a você (420): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

Para aceder aos postes do nosso Comandante Vasco da Gama, clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9902: Parabéns a você (419): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9906: FAP (68): O Óscar e os meus relógios (Miguel Pessoa)





1. Texto e fotos publicados pelo nosso camarada Miguel Pessoa* (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado) na Tabanca do Centro, aqui reproduzidos com a autorização do autor e a devida vénia ao camarada Mexia Alves.






O ÓSCAR E OS MEUS RELÓGIOS

Logo num dos primeiros encontros organizados pela Tabanca do Centro – estamos portanto a reportar-nos aos primeiros meses de 2010 – dirigia-me eu para o local de reunião no Café Central quando dei de caras com um velho conhecido meu, o Óscar. Reconhecemo-nos – eu mais facilmente a ele do que ele a mim… - e trocámos os cumprimentos efusivos de quem não se via há já um par de anos. Bom, não propriamente um par de anos; a última vez que nos tínhamos encontrado terá sido em finais de 1987, há quase quinze anos, quando abandonei as funções que tinha no Grupo Operacional 51, da Base Aérea de Monte Real, e voltei a Lisboa.

Mas já nos tínhamos cruzado há quarenta anos, em 1971/72, sendo eu um jovem tenente colocado na BA5 para ganhar a minha qualificação nos aviões F-86 e Fiat G-91 e assim poder avançar para a minha comissão em África. O amigo Óscar era um dos funcionários que nos “tratava da saúde” na messe de oficiais da Base, pois era um dos empregados de mesa que ali trabalhava.

Sendo solteiro e longe do meu habitat aproveitava o tempo para entabular conversas mais ou menos prolongadas com o pessoal que nos apoiava, e rapidamente descobri que o Sr. Óscar (vamos só chamar-lhe Óscar, que não lhe sei o apelido e não gosto de associar o “Sr.” ao primeiro nome…), bom, o Óscar era um bom relojoeiro e tinha um razoável stock de material para fornecer ao pessoal.

Ora, já me tinham referenciado que o cronómetro do F-86 – o avião que eu ia voar – era de difícil leitura com a trepidação em voo e que seria boa ideia eu dispor de um relógio de pulso com função de cronómetro. O que eu tinha era básico – dava as horas, o que já não era mau – por isso encarei de imediato a hipótese de lhe adquirir um relógio à maneira. E devo dizer que não me arrependi da compra pois ele acompanhou-me em momentos importantes da minha vida, nomeadamente no episódio da minha ejecção e estadia no mato, já na Guiné.

Saímos aliás os dois um bocado maltratados desse episódio, pois se eu tive que recuperar da coluna e da perna, o relógio depois de levar com 18 Gs de aceleração perdeu o botão que accionava o cronómetro e dobrou o ponteiro do cronómetro, que encalhava na marca dos 25 segundos…

Quando regressei da Guiné fiz chegar o relógio ao Óscar, para uma revisão/reparação completa que o tem mantido a funcionar até aos dias de hoje.

Regressei à BA5 para comandar o Grupo Operacional e voltei a encontrar o Óscar, que por lá se mantinha. Achei então que estava na hora de arranjar material mais avançado e decidi comprar-lhe um novo relógio, de quartzo. Estávamos então em Outubro de 1985. Fiquei desconfiado quando ele me disse que a pilha duraria cinco anos e verifiquei que não era bem verdade, pois tive que mudar a pilha em Outubro de 1995, portanto… dez anos depois…

Este relógio está hoje guardado pois esta segunda pilha finou-se ao fim de… mais quinze anos… Desde então aguarda uma decisão minha sobre o que lhe hei-de fazer. Conversando há pouco com o Óscar – agora já reformado e vivendo em Monte Real - este aconselhou-me que não fizesse nada, pois o relógio está exteriormente bastante desgastado e não se justificaria uma reparação cara. Assim, voltei a usar o primeiro relógio que lhe tinha comprado. Só que recentemente o cronómetro deste voltou a pifar. O Óscar já me disse que quando quiser lhe leve o relógio que ele mo arranja. Mas, tenho pensado eu – o Óscar está reformado, eu estou reformado; não será altura de reformar também os dois relógios e deixá-los descansar calmamente na gaveta, com os achaques próprios da sua idade?

Miguel Pessoa
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9168: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (30): Cerimónia de homenagem e comemoração dos 50 anos de incorporação das primeiras Enfermeiras Paraquedistas na Força Aérea Portuguesa (Miguel Pessoa)

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9751: FAP (67): Os meus STRELAs. Factos e opiniões. (António Martins Matos)

Guiné 63/74 - P9905: Blogpoesia (187): Descansa em paz, Iero Jaló... Poema de Luís Graça, com dedicatória ao Zé Carlos Suleimane Baldé, nosso novo grã-tabanqueiro



Guiné > Zona Leste > Contuboel > Junho de 1969 > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 > O 2º Grupo de Combate da CCAÇ 2590 (futura CCCAÇ 12), ainda em período de instrução da especialidade.

O 2º Gr Comb era comandado pelo Alferes Miliciano Carlão (co-optado do Curso de Oficiais Milicianos=, se bem me lembro...) que aparece na fotografia, na primeira fila, ajoelhado, olhando no sentido oposto ao do fotógrafo (rectângulo a amarelo). Vive hoje em Fão, Esposende. É casado com a Helena, a única "mulher branca" da CCaç 12 que viveu connosco em Bambadinca. O Carlão é transmontano, não sei se de Mirandela ou Miranda do Douro...

Atrás dele o soldado Arménio, hoje conhecido taxista no Portp (era cabo, antes de embarcar mas foi despromovido, por ter apanhado uma porrada de não sei quem). Um reguila do Porto...

De pé, na terceira fila, os furriéis milicianos António (Tony) Levezinho e Humberto Reis . Na segunda fila, meio agachados, os 1ºs cabos Branco e Alves (de alcunha o Alfredo)

Um grupo de combate da CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) era constituído por 30 homens. Havia 4 Gr Comb. Cada grupo de combate, comandado por um alferes, tinha três secções (1 furriel e 1 cabo e oito soldados, estes africanos).

Casa secção era especializada. Havia a secção dos lança-granadas, com o respectivo apontador e municiador (1 LGFog 8.9, 1 LGFog 3.7). Havia a secção do Morteiro 60 (apontador e municiador ). E havia ainda a secção da Metralhadora Ligeira HK 21 (apontador e municiador). Cada combatente estava equipado com a espingarda automática G-3 e granadas defensivas. Em geral havia ainda dois apontadores de dilagrama (neste caso, 1ª e 3ª secção). O Iero Jaló, que não consigo identificar na imagem, pertencia à 3ª secção, comandada pelo Tony Levezinho.

Foto: © António Levezinho (2005). Todo os direitos reservados

1. Poema que dedico ao Zé Carlos Suleimane Baldé [, aqui na foto comigo, ao centro, e com o Umaru, em Finete, 1969], o primeiro e o último  preto da Guiné, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, que irá figurar na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande... 



Publicado originalmente na I Série do nosso blogue, no  poste de 10 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau









Descansa em paz, Iero Jaló


A guerra.
Essa coisa tão primordial que é a guerra.
Que estaria inscrita no teu ADN,
segundo dizem os sociobiólogos.
A guerra é a continuação da evolução
por outros meios,
dirão os entomólogos,
especialistas em insetos sociais,
para quem a morte de um
ou de um milhão
de formigas ou de seres humanos,
é-lhes totalmente indiferente.
Desde que triunfe o ADN,
um projeto de ADN
musculado.

Para mim, a guerra é
a aprendizagem da morte.
Aos vinte e dois anos.
É a inocência que se perde
para sempre
ao ver morrer pela primeira vez
um homem, a teu lado.
É o impossível luto.
É a descoberta do mal absoluto.

Fight or flight.
Não precisei de fugir nem de lutar.
Recusei o egoísmo genético.
Recusei a lógica absurda
de matar ou morrer.
Recusei o cinismo.
Recusei a fria e calculista resignação
com que se juntam e amortalham
os cadáveres seguintes.
E se contam nas paredes da caserna
os dias que faltam para a peluda.

Trinta e tal anos depois,
venho dizer-te
as palavras que ninguém te disse
no teu grotesco enterro:
- Descansa em paz, Iero Jaló,
meu herói,

meu camarada,
soldado atirador
do 2º grupo de combate,

3ª secção.
nº 82117869,
da CCAÇ 2590
que virá mais tarde a chamar-se
CCAÇ 12,
companhia de tropa-macaca,
A minha companhia,
os meus camaradas,
o meu bando de primatas sociais,
territoriais, 

predadores.
Fazíamos parte da nova força africana
de Herr Spínola, o prussiano,
como eu lhe chamava,
ao nosso Comandante-Chefe.
Não, não ligues,
são outros contos, 

outras histórias,
outros ajustes de contas
com as nossas doridas memórias.

Dscansa em paz,
Iero Jaló,
debaixo do poilão secular
na tua tabanca,
no chão fula,
belíssimo poilão de uma triste tabanca fula,
cercada de arame farpado,
trincheiras,
valas de abrigo.
e cavalos de frisa.
Julgo que eras do regulado de Badora.
Ou seria Cossé,
lá para os lados de Galomaro ?

Desculpa-me ter esquecido
o nome da tua tabanca.
E a cara dos teus filhos
e o rosto das tuas mulheres,
agora órfãos e viúvas,
sozinhos neste mundo.
Os teus campos estão tristes e inférteis,
já não dão o milho painço nem o fundo,
nem a mancarra,
a semente do diabo,
nem a noz de cola.
Os homens partiram para guerra,
voltam agora numa caixão de pinho.
Restam os macabros jagudis,
poisados no alto da tua morança,
cheirando a morte,
pressagiando a desgraça

Sete de Setembro de 1969.
Região do Xime.
Operação Pato Rufia.
Morreste em linha,
aprumado como o teu poilão.
No assalto a um aquartelamento temporário do IN,
uma baraca, como eles diziam,
próximo da Ponta do Inglês.

IN ? Que estranho termo ou expressão…
Uso-o por força do hábito,
por comodidade,
por lassidão,
por economia de análise.

Curioso, nunca soube a tua idade.
Não tinhas bilhete de identidade
de cidadão português.
Eras um bravo futa-fula

e eu levei-te a enterrar na tua aldeia,
mais os teus camaradas,
que foram dizer-te o último adeus.
Com honras militares, 
tiros de salva,
hino nacional,
e a bandeira verde-rubra dos tugas
por cima do teu caixão.
De pinho,
do verde pinho de Portugal.
Nem isto te deixaram fazer
à maneira dos teus.
Só faltou o corneteiro
para o toque a finados.

Portugal ? 
Ainda te lembras,
os senhores que vieram do norte
e do lado do mar ?
Não, já não tens que saber de geografia.
Nem de história. 
Nem de geopolítica.
Nem de guerra fria.
No sítio onde moras, 

debaixo do teu poilão,
já não tens que saber de nada.
Mas eu, mesmo ao fim destes anos todos,
eu deveria saber o nome da tua aldeia,
no chão fula.
O teu nome, esse não esqueci,
Iéro Jaló.
Esqueci foi o lugar onde nasceste,
talvez Sinchã,
ou Madina, 
ou Sare qualquer coisa...
Que importa agora ?
Serás mais um dos milhares de soldados desconhecidos daquela guerra.

O que interessa é que chorei por ti,
confesso que chorei por ti,
que morreste a meu lado,
e que levavas um prisioneiro,
teu irmão,
pela mão.
Chorei por ti,
e não tenho vergonha de o dizer,
mesmo se um homem não chora,
muito menos um tuga ou umn fula.
Chorei por ti,
que nem sequer eras meu irmão.
Nem grande nem pequeno.
Nem tinhas a mesma cor de pele.
Nem a mesma religião.
Nem a mesma língua.
Nem a mesma pátria.
Nem o mesmo continente.
Não comias carne de porco
Nem bebias água de Lisboa.
Eras apenas um guinéu,
Um nharro,
soldado-atirador
de 2ª classe.
Ganhavas 600 pesos de pré.
Um saco de arroz por mês
para alimentar a tua família.
Mas, para mim, eras apenas um homem,
da espécie Homo Sapiens Sapiens.
A única que chegou até aos nossos dias.
A única que conheço.
Foste o primeiro homem que eu vi morrer a meu lado.
Nunca mais chorei por ninguém,
chorei por ti, Iero Jaló.
Chorei de raiva.
Chorei de imensa raiva.

Nascemos meninos,
mas fizeram-nos soldados.
Azar o meu e o teu,
por termos nascido
no sítio errado,
no tempo errado.
Imagino-te djubi,
à volta da fogueira,
na morança do marabu ou do cherno
da tua tabanca,
decorando o Corão.
Uma das cenas mais lindas
que eu trouxe da tua terra,
e que eu guardo no fundo da  minha memória,
são os djubis à volta da fogueira,
soletrando tabuínhas em árabe,
ou pseudo árabe, não interessa.
Lembro-me de quereres aprender
as letras dos tugas
para poderes ser soldado arvorado
e um dia chegares a cabo,
e quem sabe sargento,
e quem sabe oficial,
e quem sabe general.

E de repente, o capim.
O capim alto.
O sangue.
O capim pisado e empapado de sangue.
Pobre Iero,
morto por um dilagrama dos nossos.
Alguém branqueou a tua morte.
Alguém salvou a honra da companhia.
Um dilagrama rebentou no ar,
na tua cara.
Acidente de serviço
no auge da batalha,
quando avançavas em linha,
no assalto ao acampamento
do IN, do turra,
Levando pela corda
o teu turra, o teu guia, o teu prisioneiro,
ainda mais djubi do que tu.
Malan Mané, mandinga,
tão crente como tu,
tão observador dos preceitos corânicos
como tu, 
meu querido nharro
Iero Jaló.

E agora, meu camarada,
morto e enterrado,
que foste poupado
à humilhação da derrota
e não viste o teu país
sentar-se de pleno direito
à mesa do mundo,

dos senhores do mundo...
Nem tiveste que fugir para o Senegal...
Que farias tu com esta independência
contra a qual lutaste
sem querer,
sem saber,
sem poder ?

Onde estarão hoje os teus filhos, 
e as tuas mulheres ?
E os teus netos ?
E os homens grandes da tua tabanca de Badora ?
E os líderes do teu povo
que te obrigaram a combater ao lado dos tugas ?
Herr Spínola, o homem grande de Bissau,
esse já morreu há uns anos atrás.
Não lês os jornais,
não chegaste a aprender o alfabeto latino
e a juntar as letrinhas 
e ler,
com a torre de Belém ao fundo:
- Esta é a minha pátria amada…
Pois é, o homem grande de Bissau morreu,
não de morte matada, como a tua,
mas de acordo com a lei natural das coisas.
Quanto ao teu régulo,
foi miseravelmente fuzilado
na parada de Bambadinca,
o poderoso régulo de Badora,
tenente de milícias,
que havia trocado o cavalo branco
da gesta heróica do Futa Djalon,
por uma prosaica motorizada japonesa
de 50 centímetros cúbicos,
oferta do Homem Grande Bissau...
Era dono de centenas cabeças de gado
e de uma harém de cinquenta mulheres,
uma em cada aldeia de Badora…
Dizia-se que o puto Umaru
era filho dele,
o Umaru e mais djubis da CCAÇ 12.

Hoje os heróis do passado sucumbem
sob o peso das cruzes de guerra.
Ou pedem esmola nas ruas de Bissau,
tal como os teus filhos e netos.
Ou morrem de desespero e inanição
às portas do templo da deusa Europa,
em Ceuta e em Melilla,
em Lisboa ou em Paris.
Que voltas o mundo deu, meu soldado,
desde esse dia já distante
em que a tecnologia da guerra
ou a lotaria do ADN
te ceifou a vida.
Porquê tu, meu herói,
três meses depois de jurares bandeira
e te comprometeres, por tua honra,
a defenderes uma pátria 
que te disseram ser a  tua,
até à última gota do teu sangue ?

E do Malan Mané não tenho notícias,
se é isso que queres saber,
mas duvido que ele tenha sobrevivido
aos graves ferimentos do dilagrama dos tugas.
E agora deixa-me dizer-te, amigo,
à laia de despedida:
não sei se um dia
ainda terei coragem de voltar
à tua terra, 
ao teu chão.
Mas se porventura o fizer,
gostaria de perguntar pela tua aldeia,
e de procurar-te
e de ter tempo para conversar contigo,
só tu e eu,
debaixo do teu poilão.
Descansa em paz, Iero Jaló.

Luís Graça,

[revisto nesta data]


2. Originalmente este poema foi escrito tendo por tema a morte do sold at inf nº 82117869, Iero Jaló, de etnia futa-fula, do 2º Gr Comb, 3ª secção, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, ocorrida em 8 de setembro de 1969, no decurso da operação Pato Rufia, na região do Xime... Este meu camarada morreu ao meu lado, no meu próprio batismo de fogo.

Mais tarde emendei o nome, e substitui-o pelo nome do Iero Jau, apontador de dilagrama, do 3º Gr Comb, 1º secção, nº mecanográfico,82109569, este sim, fula. Na realidade fui induzido em erro pela história da unidade (a CCAÇ 12), escrita por mim próprio: no relato da Op Pato Rufia, vem o nome do Iero Jau... Mas quem morreu de facto foi o Jaló, futa-fula: aliás, é o Iero Jaló, nº mecanográfico 82117869, que vem no fim na lista dos mortos da companhia... Foi a nossa primeira vítima mortal. E aliás é este nome que consta da lista oficiosa dos nossos mortos no Ultramar.

Corrigi, nesta data, o título e o corpo do poema... Espero que, no Olimpo dos guerreiros, o Iero Jaló me perdoe. O mesmo peço ao Iero Jau, que muito provavelmente já não estará entre nós. Estima-se que mais de 80% dos soldados do recrutamento local que tiraram a recruta e a especialidade em Contuboel, em 1969, e vieram depois integrar a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ12), já tenham morrido.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9749: Blogpoesia (186): Registo (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P9904: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (22): Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências

1. Mensagem do nosso camarada António Rosinha, (ex-Fur Mil em Anagola) topógrafo na TECNIL na Guiné-Bissau, depois da sua independência, com data de 11 de Maio de 2012:

Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências

Guerra colonial portuguesa, Guerra do Ultramar, Luta de Libertação Nacional de Angola, Guerra de Independência da Guiné-Bissau, Luta de libertação de Moçambique, sem falarmos nos casos de São Tomé e Cabo Verde, são tantos os nomes da guerra da geração dos que nasceram nas décadas de 40 e 50 do século passado, que todos os nomes se podem ajustar a cada circunstância.

Mas se quisermos balizar a guerra entre as datas que provocam a frase “para Angola e em força” de Salazar, até à entrada de Marcelo Caetano no Chaimite de Salgueiro Maia, então se quisermos ser realistas com a história, foi como “Guerra do Ultramar”, nome com que no continente e ilhas era alcunhada a guerra pelos soldados que embarcavam no continente e ilhas, a caminho das colónias.

Mas para os movimentos que lutaram contra os que iam do continente e ilhas e imensos que eram naturais das colónias, essas datas dizem muito pouco, pois eles próprios, que são vários movimentos, cada qual tem as suas datas, ignorando mesmo as datas importantes dos outros movimentos irmãos.

E exigem para cada um, o seu próprio protagonismo, e hoje, até fazem por ignorar os feitos dos “irmãos” e assumiram as suas próprias datas comemorativas, exclusivas e isoladas uns dos outros, quando na realidade foi em conjunto que trabalharam.

Esta é uma realidade que se quer varrer para debaixo do tapete pelos 5 PALOP, que estiveram sempre associados na luta contra o colonialismo português, e hoje quase se ignoram.

Claro que podem ser encontradas razões para esse afastamento entre os governos MPLA/FRELIMO/PAIGC/PAICV
(Não incluo aqui São Tomé nem a UNITA nem FNLA nem RENAMO porque estes foram secundarizados por aqueles).

É que o protagonismo dos dirigentes desses movimentos “vitoriosos” que se relacionavam entre si a nível internacional, era tão excessivo que apagaram o sacrifício que os povos sofreram, tanto dos que acreditaram nesses movimentos como aqueles que ainda hoje não acreditam.

E como esses dirigentes, que se conheciam todos uns aos outros e se entendiam bem, eram tão poucos que rapidamente foram sendo apagados e excluídos politicamente e até eliminados fisicamente alguns, e hoje “desconhecem-se” mutuamente, após as independências e as vicissitudes que se seguiram, porque os dirigentes que “sobraram” eram desconhecidos uns dos outros.

Ao contrário do que se passava no tempo colonial, que havia uma união entre os principais protagonistas da luta anti-colonial, e mesmo entre eles e a oposição política portuguesa metropolitana, e agora não há CPLP nem PALOP “que lhe valha”, e é uma pena que a tal elite tradicional que existia se tenha apagado tanto, embora fosse previsível que tal acontecesse.

Era uma mais valia enorme para todos os 5 PALOP, pois havia muito entendimento entre eles e é a união que faz a força, pode ser que um dia reapareça essa união que existiu, o que parece difícil.

A conjugação de esforços e entendimento entre os dirigentes dos referidos movimentos era tal que no caso de Amílcar Cabral é considerado nos relatos históricos como co-fundador de MPLA, angolano, e do PAIGC.

E após as independências, no caso da Guiné é bem conhecida a colaboração de guineenses e cabo-verdianos do PAIGC que se prolongou durante bastantes anos, e acabou essa colaboração com maus resultados para o futuro da Guiné.

Mas sabemos que não era a colaboração que estava errada, mas as políticas “importadas” e completamente erradas e contrárias ao espírito dos povos e que não diziam nada às pessoas, e que acabaram num virar de costas, mau para todos.
(Absurdos como ideologias guevaristas em balantas, Ganguelas e macuas ou beirões e algarvios, nem em Cuba foi bom)

Ainda no caso da Guiné, conhecemos no tempo de Luís Cabral, um angolano como ministro do governo guineense, Mário Pinto de Andrade, que foi, durante a luta anti-colonial um dos presidentes do MPLA.

Mas como todos os casos semelhantes a Mário Pinto de Andrade, que já era um “exilado” de Angola, tornou-se exilado também da Guiné, foi péssimo a fuga dos mais informados.

E foram milhares de angolanos, guineenses, e de todos os PALOP, que se “exilaram” em Portugal, no Brasil e por todo o lado. Por cá, ainda há quem chame a alguns de retornados. Mas periodicamente, durante estes 38 anos de independências, os mais informados vão-se afastando dos seus países.

Embora muitos países em África descolonizada tenham problemas semelhantes, no caso das ex-colónias portuguesas têm uns problemas específicos, à vista de todos.

Menciono dois:

Um desses problemas mencionava-o Samora Machel numa visita a Portugal num discurso com Ramalho Eanes, presidente, dizia Samora que: “…todos têm pai, só nós (moçambicanos) não temos pai", referia-se à colaboração dos vizinhos com a Inglaterra. (neocolonialismo???), chame-se o que se queira, mas da parte de Portugal era impossível impor-se à “bola de neve” que esses movimentos criaram, que até os próprios dirigentes esmagou.

O outro enorme problema específico é o êxodo quase total da tal elite que Amílcar falava como a “burguesia “ que corria o risco de se suicidar, mas que tanta falta fazia viva, mas bem viva, porque eram patriotas, bem formados e formavam uma sociedade sã e adaptada aos vários ambientes étnicos, religiosos e culturais e já não se consideravam nem eram vistos pelas etnias, como simples colonos, embora a maioria fossem brancos ou mestiços e muitos eram negros já desintegrados da respectiva etnia.

Não se suicidou, mas exilou-se contra a vontade da maioria deles que não viram maneira de contrariar as forças internacionais, tremendamente malignas para todas as etnias africanas, que a “demagogia das independências” atraiu naquele momento errado.

Claro que esta gente que (conheci e fui colega de centenas) teve que se “exilar”, também deita muitas culpas para cima da tropa e dos políticos tugas, por certas coisas correrem tão mal.

Mas para a “morte ter desculpa”, quando vemos as revoluções e os massacres por motivos étnicos, religiosos, fronteiriços ou políticos em África, se for nas ex-colónias portuguesas pode-se dizer que a culpa foi do atraso em que Portugal deixou aqueles territórios, noutros casos fica à responsabilidade da ONU, essa abstracção.

Quando digo que havia mais PALOP (entendimento) entre aqueles cidadãos desses futuros países, havia mesmo uma irmandade tão saudável e até com alguma rivalidade competitiva e orgulho na própria terra que era entusiasmante e saboroso conviver e assistir ao entusiasmo daquela gente, antes do terrorismo do Norte de Angola e mesmo depois.

Mas há certos motivos para explicar a diminuição de um sentimento “PALOP”, mas deixo para momento mais propício,

Claro que a Europa colonialista cansada da guerra da Índia, da guerra da Indochina, da 2.ª Grande Guerra, optou por ver os outros em guerra, sozinhos.

Alguns de nós portugueses, assim como em tudo, seguimos sempre a Europa um pouco mais atrasados, tinha que ser.

Um abraço e coragem para os editores “editarem sempre”
António Rosinha
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9655: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (211): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte III)