sexta-feira, 27 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10200: Notas de leitura (385): "Guiné - 24 anos de independência - 1974-1998", de Zamora Induta (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Junho de 2012:

Queridos amigos,
José Zamora Induta foi uma figura proeminente na área da Defesa da Guiné-Bissau e teve cargos elevados como porta-voz da junta militar e mais tarde como porta-voz do Estado Maior General das Forças Armadas durante o conflito político-militar de Novembro de 2000. O que o autor nos oferece é um apanhado de documentos, alguns deles preciosos, para entender as contestações às governações de Luís Cabral e Nino Vieira. A comissão de inquérito sobre o tráfico das armas é uma pela eloquente sobre a corrupção envolvendo figuras gradas da instituição militar, apercebemo-nos do enriquecimento ilícito desses mesmos militares e descobre-se como Nino Vieira partilhava com eles a pilhagem no Estado.

Um abraço do
Mário


A Guiné-Bissau vista por Zamora Induta

Beja Santos

“Guiné, 24 Anos de Independência, 1974-1998” é o título da obra de José Zamora Induta, ao tempo capitão-de-fragata da Marinha da Guiné e porta-voz do Comando Supremo da Junta Militar durante o conflito político-militar de 1998-1999 (Hugin Editores, 2001).

Lê-se o livro de fio a pavio e fica-se sem conhecer a opinião de Zamora Induta sobre estes 24 anos de independência, móbil do livro que se afoitou a escrever. Afinal, trata-se de uma recolha de documentos fundamentais com olhares alheios, lemos um livro que tem a opinião de outros. Não obstante, trata-se de uma recolha de inegável interesse tanto para o curioso do processo histórico da Guiné-Bissau como para o investigador que encontra aqui providencialmente textos de inegável interesse. A obra começa com uma apreciação de Luís Cabral sobre os seis anos da sua governação, justifica certo tipo de empreendimentos como o Complexo Agroindustrial do Cumeré, os projetos das pequenas indústrias de Bolama, a rede de eletrificação, a rede hospitalar, a prospeção de petróleo, a exploração da bauxite, elenca os apoios recebidos e deplora o desprezo a que Nino Vieira votou todas essas iniciativas. E diz sem qualquer rebuço: “Não acredito que a nossa Guiné seja um país pobre, inviável. A situação de quase calamidade a que chegou o país é da inteira responsabilidade do regime deposto. O nosso país era altamente respeitado no mundo, fazendo parte de um número restrito de países africanos considerados sem risco nos meios financeiros internacionais. Depois da Guiné se ter libertado do regime ditatorial e incompetente que a dirigiu durante quase 20 anos, deixando o país com dívidas inimagináveis, e ultrapassado um período de transição que nos dignifica e que deu, de novo, credibilidade ao Estado guineense, começamos agora a viver uma nova página da nossa História, com a realização de eleições gerais verdadeiramente livres”.

A seguir a uma menção sobre o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, o autor reproduz um artigo publicado no jornal “Nô Pintcha” acerca das execuções perpetradas pelo regime de Luís Cabral nas matas de Cumeré, Porto Gole e Mansabá, factos que ocorreram predominantemente em 1978. Nova lista, desta feita relativa aos acontecimentos do chamado golpe encabeçado por Paulo Correia, em Outubro de 1985 (caso 17 de Outubro) e que levou ao desaparecimento de combatentes e de intelectuais torturados até à morte nas prisões e outros que foram executados.

Chega-se finalmente ao fulcro do livro, as questões que antecederam o levantamento militar e o seu historial. A lista de implicados no tráfico de armas pasma pela natureza da corrupção ao nível da instituição militar. Antigos combatentes da luta de libertação fez publicar uma longa carta no Diário de Bissau em 28 de Fevereiro de 1998. Eles protestam: “Nós estamos fartos de uma Defesa sem leis, de uma Defesa com comandantes políticos que nada tem feito por este país e só defendem a pessoa do camarada Nino, por terem sido nomeados por este como contrapartida dos serviços sujos por eles prestados. Nós libertámos o país com as mãos limpas e não para aterrorizar com ameaças, com armas que pertencem ao próprio povo". E escrevem sobre oficiais que colaboram nesse trabalho sujo, traficando influências, enchendo os bolsos, vendendo armas aos rebeldes do Casamansa. É um relato tenebroso, as bandalheiras desta clique à volta de Nino demonstram a podridão a que chegara a presidência da república e a instituição militar.

Segue-se a transcrição integral do relatório da Comissão Parlamentar de inquérito sobre o tráfico ilegal de armas, publicado em 8 de Junho de 1998, seguramente o detonador do conflito armado. Preto no branco, os deputados passam em revista os diferentes casos escandalosos, analisam as denúncias, procedem a audições e a acareações, estudam o caso dos turistas franceses mortos em Casamansa, investigam o desaparecimento de inúmero material de guerra, deixam claro que o Presidente da República tinha conhecimento deste tráfico e que muitos dos envolvidos moviam-se no seu círculo privado de relações. O brigadeiro Ansumane Mané aparecia ilibado neste relatório, isto quando Nino Vieira premeditava a sua execução que tinha sido precedida da sua exoneração.

Todas as etapas do conflito, a partir de Junho de 1998, aparecem especificadas, os nomes e as atividades da Junta Militar, a ofensiva diplomática, os recontros que levaram ao desbaratamento das forças invasoras e ao progressivo isolamento de Nino Vieira dentro da península de Bissau. Vem inclusivamente descrito o governo de Unidade Nacional, presidido por Francisco Fadul, o aparecimento de uma força internacional de interposição até à rendição de Nino, são apresentados os documentos em que Nino Vieira pede asilo a Portugal.

No prefácio, Jaime Nogueira Pinto destaca o forte sentido da unidade nacional demonstrado pelo povo guineense, a moderação verificada e os baixos custos humanos e o baixo número de atos de vingança e retaliações. Como é sabido, a convulsão político-militar não abrandou com a eleição do presidente Kumba Ialá, deu-se o assassinato do brigadeiro Ansumane Mané e o país continuou adiado. O prefaciador julgava que apesar da fragmentação ética e da diversidade religiosa do seu povo que a Guiné iria resistir aos monstros do conflito tribalista. Está à vista de todos que um dos cenários possíveis para a tragédia que se vive na Guiné é de uma luta tribal entre balantas e outras etnias que poderão aparecer como catalisadores do elevado descontentamento da deriva, da fome e do desaparecimento da esperança na pseudo evolução na continuidade e tentativa de acalmia que parece ser a preocupação do atual governo, emanado dos golpistas e praticamente sem nenhum apoio da força maioritária, o PAIGC. Vamos estar atentos.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10194: Notas de leitura (384): "A Viagem do Tangomau, Memórias da Guerra Colonial que não se apagam" (José Brás)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10199: Memória dos lugares (190): Quinhamel e a sua piscina (Manuel Carvalho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 22 de Julho de 2012:

[...] Vou enviar também algumas fotos da famosa piscina de Quinhamel, da qual o meu irmão falou em comentário e na qual só estive uma vez quando tirei estas fotos.

O Alf. artilheiro João Martins num post que publicou também fala numa Piscina em Quinhamel por alturas de 69/70 que julgo que só pode ser esta. Coisa que não faltava na Guiné eram piscinas como a de Quinhamel, era um fartar pelo menos para os operacionais. A grande diferença (e era mesmo muito grande) era que em Quinhamel entravamos sem arma e nas outras era com tudo.[...]



Quinhamel



"Piscina" de Quinhamel
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10191: Memória dos lugares (189): Jolmete, quotidiano da tabanca e aquartelamento (Manuel Carvalho)

Guiné 63/74 - P10198: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): A morte de Cabá Santiago, desertor do PAIGC e aliado das NT, em Bissorã, em outubro de 1974 (Henrique Cerqueira / Carlos Fortunato)




Guiné > Região do Oio > Bissorã > 13 de junho 1974 > "Cabá Santiago, ao meio, à sua esquerda o comandante do PAIGC da zona de Maqué, Joaquim Tó, que veio até Bissorã com um grande grupo de guerrilheiros. Vai existir uma reconciliação pacifica, sem retaliações, é o que é proclamado". Foto de Manuel Machado, ex-alf mil da CCAÇ 13. Legenda de Carlos Fortunato... Esta foto ter-lhe-á sido fatal... (Reproduzida aqui com a devida vénia...). (LG)


1. Comentário de Henrique Cerqueira ao poste P10189 (*)


Camarada Luís Gonçalves Vaz:

Eu estive em Bissorã desde finais de Novembro de 1972 até inícios de julho de 1974 [, como furriel mil da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72]. Em Bissorã estava na CCaç 13 e foi o meu grupo de combate que teve o primeiro contacto com o PAIGC nos inícios de Maio de 1974 no ponto de encontro entre Bissorã e Olossato,durante uma picagem de protecção a uma coluna de reabastecimento.

Logo nessa altura houve grande euforia entre as nossas tropas e o PAIGC e só posteriormente vieram ao nosso encontro na referida estrada uma "caturba" de civis (comerciantes) e traziam como companhia alguns dos altos comandantes do nosso batalhão.

Honestamente chegou a ser caricato o teor das conversas entre esses Comandos e os guerrilheiros (mas isso são contas de outro rosário).

Esta conversa toda que tenho aqui é para dizer que a partir desse dia os guerrilheiros do PAIGC. tanto em grupos como individualmente, passaram a entrar e sair completamente à vontade em Bissorã.

Ás vezes era caricato que os nossos grupos de combate continuassem a sair em patrulhamento e quase sempre nos encontrarmo-nos com guerrilheiros que iam visitar os seus familiares a Bissorã.

Bom. o que é certo é que em junho de 1974 não houve nenhuma invasão do PAIGC para capturarem o Cabá [Santiago] e se o fizeram teve de ser com auxílio dos nossos comandos e em segredo, caso contrário e pelo que ouvi mais tarde e já em Bissau vários desses "tropas" (ponho aspas porque o Cabá Santiago era totalmente autónomo e só saía em operações próprias e quase sempre na certeza de apanhar homens ou armamento,pois que ele, Cábá, era um antigo combatente do PAIGC e desertou para as nossas tropas,mas não obedecia a ninguém das tropas portuguesas).

Essa situação já era esperada pois que sempre que eramos atacados ficava sempre recados para o Cabá.

Nota: Os nossos soldados da CCAÇ 13 não foram maltratados e actualmente um dos meus antigos soldados, de nome Branquinho, até é chefe de tabanca, penso eu que em Inhamate. Por tudo isso acho estranho que seja verdade essa captura em Junho.

Desculpem lá este enorme texto mas o meu jeitinho para narrar é mesmo do piorzinho e daí esse texto enorme para expor pouca coisa.

Um grande abraço Henrique Cerqueira



2.  Comentário de L.G. e extratos de um texto de Carlos Fortunato:


Talvez o Carlos Fortunato, que foi fur mil da CCAÇ 13 (1969/71), meu contemporãneo (fomos no mesmo navio, o Niassa, a 24 de maio de 1974, eu pertencente à CCAÇ 2590 e ele à CCAÇ 2591) e que é hoje presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga, mantendo frequentes e amistosos contactos com os seus antigos soldados e com as gentes de Bissorã (vai lá todos os anos...), talvez o Carlos Fortunato, dizia eu, nos possar dar mais pormenores sobre a morte do Cabá Santiago, que sabemos não ter sido em junho de 1974 (como sugere o Paulo Reis) mas sim outubro de 1974. O Carlos  não viveu esses trágicos acontecimentos, mas teve informação privilegiado sobre as represálias do PAIGC em Bissorã, em 1974 e anos seguintes, de que também foram vítimas alguns dos seus antigos camaradas da CCAÇ 13 (com quem continua a manter, ainda hoje, uma relação de amizade e de ajuda).

Aqui fica um excerto da sua página Guiné - História, em que "os massacres" (no plural) de Bissorã, baseando em testemunhos de antigos soldados seus (, constantes de 2 duas cartas, uma de 1982 e outra de 1988:

(...) Na primeira carta de 1982, é referido o nome de Cabá Santiago, conheci o Cabá Santiago, e posso contar um pouco da sua história, tendo por base aquilo que ele me contou, e o que eu conhecia a seu respeito.

Cabá Santiago era um individuo inteligente e com alguma cultura, tinha sido professor até aderir ao PAIGC, ai passou a ser professor e guerrilheiro, após muitos anos de luta, sem ver um fim à vista para esta, e percebendo que o PAIGC mentia nas suas mensagens de propaganda, acreditou que o melhor caminho a seguir era o apontado por Portugal, e aproveitou as campanhas de aliciação para os guerrilheiros abandonarem a luta, para se entregar.

Quando se entregou, Cabá Santiago passou a colaborar com as nossas tropas, integrando as milícias de Bissorã, como chefe de um grupo de milícias, e regressou à sua zona para combater o PAIGC.

Conhecendo alguns guerrilheiros, que viviam com a população, utilizava o seu estatuto de guerrilheiro, e mandava-os ir buscar as suas armas (cada um tinha escondido a sua no mato), e quando estes chegavam armados eliminava-os.

A guerrilha tinha o seu sistema de informação, nomeadamente através dos elementos da população de Bissorã, e Cabá arriscou muito naqueles dias, pois bastava ir a um local onde já se soubesse o que se passava, para ele ser um homem morto, e em breve a sua "cabeça ficou a prémio".

Cabá mesmo depois da sua "cabeça estar a prémio" pelo PAIGC, continuava a ser uma das armas mais destruidora existente em Bissorã, e não deixava de sair por vezes sozinho, e atacar os acampamentos inimigos, eliminando guerrilheiros, e capturando várias armas.

Escusado será dizer que para o PAIGC Cabá Santiago era um homem a abater a todo o custo, e por isso ele era sempre o último da coluna de milícias que comandava, pois tinha medo de ser morto pelas costas pelos seus próprios homens.

Pergunto aos leitores: o que acham que iria acontecer ao Cabá Santiago, quando fosse entregue o poder em Bissorã ao PAIGC, se mesmo durante o período de cessar fogo, o PAIGC continuavam a capturar soldados africanos, que nunca mais apareciam?

Cabá foi um dos que manifestou desconfiança, sobre o que iria acontecer.

Na verdade existia alguma desconfiança entre as forças africanas, e muitos aguardavam a decisão dos comandos africanos de entregarem as armas, para entregarem as suas, pois os comandos eram quem arriscava mais, dado o clima de animosidade que existia contra eles da parte do PAIGC.

O PAIGC também sentia desconfiança quanto ao rumo das negociações, e temia que o seu estatuto de estado independente, não fosse reconhecido por Portugal.

Aristites Pereira o secretário geral do PAIGC, refere no seu livro " Uma luta, um partido, 2 países", essa situação de desconfiança: "Na realidade, o PAIGC tinha razões de sobra para desconfiar das intenções do Governo português, na medida em que acrescia ao ambiente de suspeição reinante o facto de os comandos africanos se recusarem a desarmar-se, apresentando uma postura reivindicativa em relação ao Governo português pelos serviços prestados ao seu Exército e uma clara hostilidade em relação ao PAIGC. Em abono da verdade, o PAIGC chegou a estar preocupado com a situação, razão pela qual teve iniciativas unilaterais, que resultaram em contactos com os comandos africanos, chegando esse contacto a efectuar-se a 22 de Julho de 1974, em Cacine, com a presença dos capitães Saiegh e Sisseco, o alferes Barri e um sargento."

Como era previsível, Cabá Santiago foi o primeiro a ser morto. De acordo com o que me foi relatado por vários familiares de Cabá Santiago, a sua morte ocorreu em Outubro de 1974 a mando do comandante militar do PAIGC da zona. (...)

Cabá foi levado para o mato e morto juntamente com mais duas pessoas, passado algum tempo levaram e mataram mais dois chefes da milícia, Quebá Camará e Sitafá Camará, mais outra pessoa, depois foi um grupo de 25 pessoas que levaram e mataram.

Os africanos, graduados pelo exército português,  foram um dos principais alvos a abater, não sei se algum comandante da milícia conseguiu escapar com vida.

Os ex-comandos africanos do exército português eram outro dos alvos a abater, e muitos foram fuzilados pelo PAIGC.

As companhias de comandos africanos,  desde a sua criação em 1970, tornaram-se uma das forças de intervenção mais importantes, mas o seu número de baixas era elevado, recorrendo o exército às companhias de soldados africanos, para repor rapidamente a sua capacidade operacional.

Tenha Taca e Intonga Tchudá foram dois dos soldados da CCaç 13 que ingressaram nos comandos, mas muitos outros soldados da CCaç 13 seguiram esse caminho, e como é sabido o destino de muitos deles foi a morte após a independência, Tenha Taca e Intonga Tchudá foram dois dos que morreram. (...).









Em poste de 25 de maio de 2006, já tínhamos abordado, na I Série do nosso blogue, o caso do Cabá Santiago, bem como de militares da CCAÇ 13 que foram mortos pelas autoridades da Guiné-Bissau, a seguir à independência... A fonte era a mesma: Leões Negros (Página pessoal do Carlos Fortunato, CCAÇ 13, 1969/71). Tudo indica que o Paulo Reis tenha ido beber à mesma fonte... Ele, de resto, nunca chegou a ir à Guiné-Bissau, para recolher em primeira mão depoimentos de testemunhas oculares... E mostrou pouco rigor (, o que é indispensável em jornalista, e para mais em jornalismo de investigação) na transcrição dos dois chefes de milícia, Quebá Camará e Sitafá Camará, que terão sido mortos a seguir ao Cabá Santiago... O texto do Carlos Fortunato foi "publicado no site em 24/02/2003, e revisto em 09/04/2008" (!)...


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Nota do editor.

(*) Vd. poste de 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10189: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (11): Dos planos de evacuação do território aos graves acontecimentos de Bissorã, em junho de 1974 (Paulo Reis, jornalista, freelancer / Luís Gonçalves Vaz)

Excerto do texto de Paulo Reis:

(...) "Encontrei documentação da 2ª Rep interessante, onde se fala dos problemas de disciplina das unidades do exército português e das dificuldades em fazer a simples rotação de efectivos, já prevista há muito tempo. A partir de certo momento, a própria cadeia de comando estaria em risco, uma vez que os soldados portugueses só queriam ir para Bissau e embarcar para a Metrópole.

"A ponto de em Junho de 1974, tropas do PAIGC terem entrado em Bissorã, a propósito de confraternizar. Depois de algumas cervejas, com os soldados portugueses, espalharam-se pela vila e capturaram o Cabá Santiago, um chefe de milícia muito conhecido, desertor do PAIGC, o Bajeba e o Sitafa Camará (ou Quebá), ambos chefes de milícia. Levaram-nos e fuzilaram-nos sem que as forças portuguesas reagissem, de acordo com o testemunho de habitantes locais e soldados portugueses." (...)

Guiné 63/74 - P10197: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (6): Cabo Bigodes, o homem-macaco

1. Terceira e última estória dos Fidalgos de Jol enviada pelo nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), na sua mensagem de 15 de Julho de 2012:



ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (6)

Cabo “Bigodes” O Homem-Macaco

Esta passou-se numa daquelas noites em que, pela movimentação (ou não) da população, era esperada uma quase certa flagelação ao quartel. De tão cedo que era, quase não se via viva alma a circular pela tabanca, muito menos crianças, o que no mínimo era muito estranho. Assim, o indício era de uma quase certeza de que mais tarde ou mais cedo íamos mesmo “embrulhar”.

Recordo-me de que nessa noite de Abril de 1972 o Benfica jogava as meias-finais com o Ajax no antigo Estádio da Luz, para a então Taça dos Campeões Europeus, sendo o resultado final de zero a zero.

Calhou em sorte ser o meu grupo de combate a sair para fazer a segurança e denunciar possíveis movimentações do inimigo e, quando já estávamos todos convencidos de que nada se iria passar, lá rebentou o inevitável “fogachal”, precisamente do lado oposto onde nos encontrávamos para, de certa forma, a fuga do elementos do PAIGC se processar com menos hipóteses de confrontação. Era a táctica deles do bate e foge. Só que contámos com a rápida resposta do pessoal que ficou no interior do quartel juntamente com o apoio da artilharia de Bula para bater a zona, pelo que o ataque se reduziu (felizmente para nós) a poucos minutos e sem consequências de maior.

Mas esta introdução tem como objectivo contar o que de rocambolesco e caricato se passou nos primeiros momentos do ataque ao quartel, que se processou precisamente do lado da chamada porta de armas, onde estava de serviço/sentinela no posto mais elevado e com alguns bons metros acima do solo, o meu amigo Cabo Borges, mais conhecido por todos pelo Cabo “Bigodes”, que levou de muito perto com uma valente roquetada, a qual de imediato pôs o posto em chamas. Sem hipótese de ripostar fogo com a Breda que encravou, só teve como solução atirar-se do posto abaixo.

Chegado cá abaixo, como o ataque continuasse e sem arma de defesa, logo se lembrou que a sua G3 havia ficado lá em cima no posto, ao qual voltou a subir tão rápido quanto possível e, já de novo na posse da sua “amiga”, qual símio, voltou novamente a atirar-se para o solo daquela considerável altura.

Quem a tudo isto conseguiu assistir, dizia que o Borges parecia o autêntico homem-macaco.

Reposta a calma, o nosso amigo “Bigodes” nem queria acreditar no que tinha conseguido fazer, ainda por cima sem ter sofrido qualquer ferimento.


Jolmete, Junho de 1972 > O meu amigo Borges é o primeiro à direita, de pé

Jolmete, Julho de 1072 > Bolanha de Gel

Jolmete, Agosto de 1972 > O descanso do guerreiro na Bolanha de Gel

Jolmete, Agosto de 19072 > Estrada velha de Bula

Cumeré, Dezembro de 1972 > Com uma mascote
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10181: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (5): A emboscada das abelhas

Guiné 63/74 - P10196: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (2): O pangolim de cauda longa, do Cantanhez (António J. Pereira da Costa)





Guiné > Região de Tombali > Cacine > CART 1692/BART 1914, 1968/69 > Um pangolim...

Foto: © António J. Pereita da Costa (2012). Todos os direitos reservados


1. Comentário de António J. Pereira da Costa ao poste P 10182 (*)

Camaradas:

O dari [, o chimpanzé,] não é a minha praia, como agora se diz.

O pangonlim, que é uma variedade de papa-formigas, é uma animal curioso:

(i) Parece um grande sáurio daqueles com o dorso arqueado, a cabeça e cauda compridas:

(ii) Tem boca e focinho compridos e que teria tido dentes poderosos;

(iii) A cauda é larga, junto ao corpo, e vai afiando para o fim até terminar em bico muito afiado;

(iv) É rija e suporta bem o peso de um homem;

(v) Tem o corpo coberto de escamas losangonais e castanhas, rijíssimas;são autênticas telhas losangonais.

Na foto - que enviei por e-mail - é visível a parte inferior do corpo que é mole e não está protegida. As patas são curtas e têm unhas poderosas. Eu [, na altura, alferes QP,] seguro uma e o Lemos fotógrafo e bazookeiro segura a outra. O Duarte segura a boca.


Este era um exemplar adulto e muito belo e eu nunca mais vi nenhum. Foi caçado pelo caçador de Cacine, a sul da estrada Cacine-Cameconde.


Um Ab.


António J. P. Costa


2. Comentário de L.G.


Muito bem, camarada, 18 valores a zoologia!... Descrição zoológica perfeita, o Fernando Frade não faria melhor... Falta só o nome científico do bicho... Embora eu não seja um especialista, arrisco a dizer que se trata de um Uromanis tetradactyla (ou manis tetradactyla, conforme os autores), classificado em 1766 pelo sueco Carlos Lineu, o "pai da taxonomia moderna"...

Não é ainda, felizmente, uma espécie ameaçada,  a nível mundial...  Na Guiné-Bissau, também existe (mas é mais raro, ao que parece), o Pangolim gigante, terrestre, Smutsia gigantea (em inglês, o nome comum é giant ground pangolin) que pode pesar mais de 30 kg, o macho, e atingir um metro e tal de comprimento...

A ameaça que existe sobre o pangolim (bem como sobre as outras dezenas de espécies de mamíferos no Cantanhez) é a desflorestação e a caça, além do uso de partes do corpo do pangolim para efeitos gastronómicos, medicinais, afrodisíacos ou mágicos.

António, tens aqui, em português, mais informação sobre esse magnífico mamífero de escamas, arborícola, de hábitos noturnos, de difícil observação e recenseamento, da família Manidae de que existem 7 espécies, distribuídas pelas zonas tropicais de África e Ásia.

Etimologicamente falando, a palavra Pangolim vem do malaio, pangulang, animal que se enrola... Quando ameaçado, tal como o nosso ouriço cacheiro, o pangolim enrola-se sobre si próprio, para se proteger.

Talvez o nosso amigo Pepito nos passo dar mais informação sobre o Turcutacar (, termo da língua nalu). Há uma trabalho interessante, feito por biólogas e antropólogas portuguesas sobre percepções da vida selvagem entre os povos que habitam o Cantanhez (nalus e balantas, sendo os primeiros muçulmanos e os segundos animistas ou católicos).

Entre as questões inquiridas (a que responderam 271 habitantes, homens e muilheres, de várias idades, entre 2007 e 2010) estão a caça e as preferências alimentares (que incluem o pobre do pangolim, mas também a tartaruga, a gazela, o macaco..).Vou sugerir que alguém dos nossos leitores (o Antónioo Costa, por exemplo) o leia nas férias, e faça depois um resumo para o pessoal da Tabanca Grande e seus convidados. Todos temos a obrigação de contribuir para a defesa e conservação deste pedaço de céu na terra (que já foi pedaço de inferno, para muitos de nós, ex-combatentes, de um lado e do outro...). Aqui fica a referência. O texto é em inglês. Está aqui disponível, em formato pdf:

Título do artigo: Are animals and forests for forever ? Perceptions of wildlife at Cantanhez Forest National Park, Guiné-Bissau Republic [ Tradução portuguesa: Os animais e as florestas... são para sempre ? Perceções da vida selvagem no Parque Nacional do Cantanhez, Guiné-Bissau];

Autores: Catarina Casanova, Cláudia Sousa, e Susana Costa;

Research paper accepted: MEMÓRIAS, Environmental Anthropology number (Casanova, C and S. Frias eds.), Lisboa: Sociedade de Geografia de Lisboa ].[Nº temático da revista Memórias, editado pela Sociedade de Geografia de Lisboa].





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Iemberém > 2 de março de 2008 > Animais desenhados nas paredes exteriores das instalações da AD -Acção para o Desenvolvimento: O pangolim de cauda longa... Fotografia de Luís Graça, por ocasião de visita ao sul, no ãmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008).

Fotos: © Luís Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10195: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (12): O senhor Major Calixto

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 22 de Julho de 2012:

Caros Editor e Co-Editores
Como sei que a 'produção' afrouxa, aqui me atrevo a enviar um texto que, se entenderem, podem publicar.
Trata-se de algo de que senti o impulso de escrever pois tudo o que aí relato é verdade, com um ou outro pormenor que possa estar menos exacto, e que no fundo é para fazer a minha justiça a alguém que lá e naquelas circunstâncias pode não ter sido (ainda hoje) bem compreendido.

As fotos que vos envio têm créditos que devem ser atribuídos, a mim mesmo na foto a preto e branco em que estou com os Furriéis Centeno e Herlander, a João Moura na foto do conjunto do Quartel e a Eduardo T. Lopes, da CART 3332, as restantes. Na foto de conjunto, que é pouco antes da minha chegada a Piche pode-se ver a Porta de Armas com a árvore que nessa altura ainda não tinha a base cimentada, vê-se o edifício identificado com o 11 como sendo o do Comando, atrás desse local pode-se ver o edifício com a viatura do STM, o edifício com o 4 era a messe de sargentos e oficiais e o espaço assinalado entre o 6 e o 14 foi onde se construiu o novo Posto do STM.

Saudações.
Hélder Sousa


HISTÓRIAS EM TEMPOS DE GUERRA (12)
 

 O SR. MAJOR CALIXTO

Os antecedentes

Já vos macei várias vezes com os meus relatos mas, para um melhor enquadramento desta história, volto a referir que aparecendo na Guiné em rendição individual, sendo Furriel Miliciano de Transmissões e pertencendo ao STM, fui incumbido de ir até Piche com a missão de insistir com o comando da Unidade que à data, início de Dezembro de 1970, lá estava sediada desde Agosto desse ano, o BCAV 2922, para providenciarem a rápida construção dum edifício próprio para alojar o Posto de Transmissões do STM que até ao momento funcionava numa viatura que seria necessária para outras actividades, em Bissau ou onde viesse a ser aplicada.

Vista geral do Quartel de Piche

Foto: © João Pereira da Costa (2012). Direitos reservados.

Quando lá cheguei o Batalhão estava a ser comandado interinamente pelo 2.º comandante, o Sr. Major Cav António Calixto, já que o 1.º comandante, o Sr. Tenente-Coronel Cav Chaves Guimarães (que me dizem já ter falecido), tinha sido ‘retirado’ para a ‘Metrópole’, como então se dizia. Uma ‘história cabeluda’ conforme as ‘vozes da caserna’, as quais também me alertaram para ter cuidado com o “Major Calixto”, que ‘era uma fera’. Foi exactamente ao Sr. Major António Calixto que me apresentei informando que iria tomar conta do Posto do STM, sem me alongar em mais detalhes ou outras indicações sobre a missão principal.

Por essa época cantavam-se algumas canções, fados, coisas assim, lá por Piche, nos convívios do pessoal e uma delas, rezava assim:

Foisimbora o Guimarãããães 
foisimboooora o Guimarãããães  
Foisimbooora pra Lisboa 
Se levasse o Calixto e o Paulo 
Se levasse o Calixto e o Paulo 
Isso é que era coisa boa.

O tom era bastante lamentoso, choroso mesmo, e no início quando comecei a ouvir pensei que se tratava de uma homenagem a algum camarada que tivesse morrido (foi-se embora o Guimarães…) não sabia que Guimarães era o nome do Comandante ausente e inicialmente pensava que o ‘embora’ era mortal, mas depois o ‘ir para Lisboa’ levou-me a pensar que seria ferido. Quando a seguir vem as referências ao “Calixto” e ao “Paulo” é que me esclareceram tratarem-se dos Majores da Unidade, sendo o “Calixto” o 2.º comandante e que agora chefiava o Batalhão interinamente e o “Paulo”, o Sr. Major Mendes Paulo (também entretanto falecido), que era o Major de Operações.

Obviamente que se tratava daquele tipo de reacção do pessoal que ‘sente’ que as chefias é que determinam as situações e que ‘rebelando-se’ contra elas, o ‘mal’ fica exorcizado. Quem não se lembra daquela espécie de ‘grito de guerra’ que se ouvia muitas vezes de “tirem-me daqui!”, “estou farto deles’! a que se seguia muitas vezes também um coro de vozes a dizer “então corta-os”! Esses ‘eles’ eram todos os que hierarquicamente estavam acima da cadeia de comando de quem se sentia ‘encurralado’.

Ora bem, este tipo de indicações apenas dá para caracterizar muito superficialmente uma situação mas dá para entender que havia por li algum temor. Como pretendo apenas falar do Sr. Major Calixto vou ficar pelo que a ele diz respeito.

E quero fazê-lo porque acho que é devido e merecido.

Ainda recentemente (16 de Junho passado) estive em Estremoz no convívio organizado no RC3 para comemorar os 40 anos do regresso do referido BCAV 2922 e de que o nosso ‘tabanqueiro’ Francisco Palma fez relato para o Blogue, onde tive a oportunidade de conversar com o Sr. Major (hoje Coronel) António Calixto e lembrar-lhe alguns episódios que irei agora também relatar. E porque alguns dos que por lá estiveram ainda pareciam ter mais temor que respeito, quero aqui deixar o meu testemunho público do que me parece ser justo referir.

Perguntando eu porque diziam que “o Calixto” era ‘uma fera’ não me conseguiam adiantar nada que não fosse configurável com uma exigência de disciplina e rigor que o Major procurava incutir no pessoal. E, pergunto eu, isso não era fundamental para manter a ‘pele sem furos’? Tanto quanto sei acho que o Sr. Major não utilizou a pedagogia do ‘pontapé no cú’ já aqui revelada como método eficaz para fazer dum determinado pelotão, autodenominado “Foxtrote”, de que o nosso conhecido e amigo Zé Dinis tem vindo a relatar a história, uma força disciplinada, organizada, solidária e… intacta!

Diziam-me: “ah, ele às vezes passava por um e dizia – ‘ainda não apanhaste uma ‘porrada’? vamos ter que tratar disso!’ Francamente, não me parece grande coisa, e nunca fui testemunha de tal coisa.

Por isso, considero que a acção do Sr. Major Calixto foi, em geral, benéfica para o conjunto dos militares que integraram aquele aquartelamento e que a disciplina e o rigor nunca fizeram mal a ninguém. Bem pelo contrário. Se hoje houvesse mais atributos desses em muitos lugares de decisão, e para não politizar esta questão fico-me apenas pela referência a membros do Governo, andaríamos todos muito melhor. Se questionassem as posições políticas e as convicções do Sr. Major talvez se pudesse encontrar alguma base de entendimento, agora a disciplina, não! E com o Sr. Major Calixto aprendi alguma coisa, lições de vida, que partilho então seguidamente.


O primeiro ‘embate’

Na noite do primeiro dia em Piche fui para a messe comum, de sargentos e oficiais, sendo que os primeiros tinham duas 'mesas' em que a primeira delas era para a generalidade dos sargentos (furriéis incluídos, obviamente) e a segunda para os poucos que estavam de serviço ou tinham qualquer impedimento para estarem na primeira ‘mesa’ sendo que essa segunda ‘mesa’ coincidia com a dos oficiais. Como era novato na zona fui na primeira mesa acompanhar a maioria dos furriéis que tinham sido meus contemporâneos na recruta em Santarém, como por exemplo o nosso tertuliano Luís Borrega, fui conversando e ao mesmo tempo arquitectando o que pensava ser a melhor maneira de abordar o assunto da tal missão principal que me levava a Piche, tendo em conta o aviso que me tinham feito sobre a ‘fera’.

Antes de ir para lá tinha estado naturalmente com o pessoal que iria chefiar, inteirei-me da situação, de cada um deles, do trabalho, do Posto e do que se poderia saber sobre a localização da tal construção. Mostraram-me um local que se dizia estar reservado para tal, quase em frente à messe de oficiais, que já tinha a base escavada até cerca de 1 metro abaixo do solo e com enrocamento de 60 centímetros a toda a volta excepto num ponto que se dizia ir ser a entrada e cuja continuidade de construção tinha sido parada por falta de material ou por outras prioridades, que o meu pessoal não me soube dizer.

Munido dessa informação resolvi-me a ‘enfrentar a fera’ segundo o meu esquema mental, que me pareceu o mais adequado. Então fui-me deixando ficar na messe até perceber que o Major Calixto se preparava para se levantar. Antecipei-me, saí, e fiquei no alpendre como quem está (e estava de facto) a saborear a primeira noite de mato, a absorver cheiros, sons, e até cores. O Major saiu, viu-me e perguntou amavelmente que tal achava o Quartel, as instalações, o pessoal, etc.. É preciso que se diga que, tendo feito a recruta em Santarém, sabia bem como impressionar, pelo aprumo, pelo rigor e também por alguns ‘tiques’ próprios, os homens dessa Arma.

Aproveitando a ‘deixa’ das instalações fui directo ao assunto e disse-lhe:  
- Meu Major, há pouco quando me apresentei, não houve oportunidade para lhe dar conta da totalidade da minha missão e que é de que venho incumbido pelo meu comando do STM de Bissau para lhe pedir que avance rapidamente para a construção do edifício para o Posto pois a viatura está a fazer muita falta para outras missões.

Até aqui, tudo bem, tudo normal. Mas a seguir joguei forte, conforme tinha pensado durante o jantar e disse:
- Tenho a indicação para fazer reportes semanais para Bissau a dar conta do avanço dos trabalhos. O meu Major pode-me dizer como estamos quanto a isso?

Estão a ver a situação, estão? Um fedelho de 22 anos, um Furriel, a colocar um Major, a “fera”, na situação de lhe ‘dar satisfações’ para depois as reportar para Bissau? Nessa ocasião o Sr Major ‘fechou’ a cara, olhou-me de-alto-a-baixo e disse secamente:
- Pode informar que não está nada feito!.

Ora bem, sabendo eu o que já sabia e que acima vos dei conta, disse para os meus botões: “ou já ganhaste isto ou vais ter um amigo à perna”.

No dia 1 de Abril de 1971 tive o grato gosto de enviar o último reporte: “posto concluído”! E concluo também que da premissa que acima coloquei não só ‘ganhei isto’ como também ganhei um amigo, e não foi ‘à perna’, pois o Sr. Major deve ter gostado (nunca falámos disso mas foi o que me deu a entender na despedida) da minha atitude assertiva.


Aprendizagem

Há sempre quem teorize sobre as benfeitorias da vida militar e há também quem a diabolize. Neste caso que vos vou relatar, passado naturalmente entre mim e o Sr. Major, fiquei com a lição do que se espera de quem tem por missão mandar e/ou comandar. Foi assim.

Numa bela manhã, já no ano de 1971 mas que não sei precisar bem quando, embora a minha sensibilidade aponte para o mês de Fevereiro, o Sr. Major precisou de mim e mandou-me chamar pouco depois do café da manhã.

Acontece que por esses dias o Posto estava desfalcado de pessoal porque dos cinco operadores que o compunham tinha um de férias e dois manifestamente inoperacionais com fortes ataques de paludismo. Nessas circunstâncias decidi que eu próprio faria o turno mais penoso (não era mau de todo no trabalho com a chave de morse), pelas dificuldades das condições de captação, das interferências atmosféricas, do esforço resultante da solidão, ou seja o nocturno, que podia ser bastante pacífico em termos de necessidades de comunicação ou a exigir grande tensão por actividade que, naqueles momentos se traduziam quase sempre por mensagens tipo “zulu”. Nas circunstâncias fiquei com a responsabilidade de assegurar a operacionalidade do Posto desde as 20 horas até às 8 da manhã, ficando cada um dos outros dois operadores com 6 horas cada qual.

Como podem calcular, depois de uma noite ‘directa’, cerca das 10 horas, mais coisa menos coisa, quando fui chamado, estava no começo do primeiro sono e devia estar completamente ‘pedrado’. Deste modo, entre a chamada do Sr. Major, irem-me acordar, reagir, levantar-me e colocar-me em condições apresentáveis, demorou algum tempo, mais do que seria esperado por quem me chamou. E disso mesmo fui confrontado pelo Sr. Major Calixto que, aparentemente incomodado pelo que pensaria tratar-se de algum acto de desobediência ou resistência ao comando, lá tratou de me verberar fortemente para a necessidade da rápida e pronta resposta às solicitações do Comando. Quando lhe relatei o que se passava e a razão pela qual não me tinha apresentado mais prontamente, pois tinha estado a trabalhar com a chave de morse toda a noite, o Sr. Major Calixto disse-me:
- Você não está aqui para trabalhar, está aqui para dirigir e disciplinar os seus homens, não se esqueça disto!

E não esqueci!

Foi uma lição. Fiquei a saber que fossem quais fossem as circunstâncias, não deveria haver misturas entre comandantes e comandados. Percebo o que me queria transmitir e não deixo de entender a sua relativa validade mas, como em quase tudo na vida, segundo a minha perspectiva, é preciso ter sempre em conta cada circunstância e agir a partir dessa análise.


Piche, Março de 1971 > Centeno, Hélder e Herlander

Foto: © Hélder Sousa (2012). Direitos reservados.


Reconhecimento

Uma outra passagem com alguns aspectos interessantes dos meus contactos com o Sr. Major Calixto passou-se numa noite quente (qual não era?) nos finais de Março ou princípio de Abril de 71.

Nessa noite, já depois da hora de jantar, estava com outros furriéis amigos, o Centeno, o Herlander e o Sobreira, a conversar recostados numa base cimentada que envolvia uma grande árvore que ficava no meio da parada de entrada, frente ao Comando. Como de costume, a conversa versava vários temas e entre eles também às vezes se questionava a justeza da nossa presença ali, naquelas circunstâncias, a natureza da guerra, o nosso futuro como cidadãos, como País, etc.

Onde nós estávamos predominava a escuridão mas na zona do Comando as luzes interiores deixavam ver quem lá estava, bem assim como a porta aberta trazia-nos alguns sons do que por lá se ia passando. E parece que a inversa também.

Em dada altura o Alferes do Pel Art, cujo nome agora não me ocorre, irrompe pelo Comando e ouvimos o Sr. Major perguntar-lhe se havia algum problema, se as zonas de tiro para a batida à zona que se fazia logo de manhã para a área da construção da estrada que estava a ser feita pela Tecnil já estavam determinadas e foi aí que ele disse que andava à procura do Furriel Centeno para ultimar esses preparativos mas que não o consegui encontrar. Sem mais delongas também ouvimos o Sr. Major dizer “procure ali debaixo da árvore que deve estar lá com o pessoal da Oposição”.

Como podem calcular a expressão utilizada e o conceito que lhe estava subjacente deixou o pessoal preocupado sobre que e quais consequências isso poderia ter. Na verdade, não se passou nada, pelo menos que saiba, e quanto a isso acho que se pode admitir que o Sr. Major Calixto resolveu utilizar alguma dose de ‘paternalismo’, afinal nós tínhamos 22, 23 anos e é próprio da juventude ser irreverente.


Despedida

O outro, e último, momento significativo dos meus contactos com o Sr. Major Calixto, que só voltei a ver agora no Encontro do BCAV 2922, ou sejam 41 anos depois, foi exactamente quando lhe fui apresentar as minhas despedidas no meu regresso a Bissau com a missão cumprida, o Posto construído, equipado, com um outro Furriel Valério a substituir-me.

Foi uma conversa a dois, com a disciplina militar pelo meio, é certo, mas de uma elegância e nobreza que ainda hoje me faz vir aqui a terreiro honrar o trabalho que o Major Calixto fez em Piche. Não sei qual foi o seu percurso após o 25 de Abril, da sua ‘conversão’ ou não à ‘nova situação’, isso não é relevante para esta análise, que procura falar do ano de 1971. Apenas me interessa deixar aqui o testemunho de que apesar de tudo o que atrás relatei, nesse dia, nessa hora, olhámo-nos nos olhos, agradeci-lhe a hospitalidade, as ‘lições de vida’ e também a sua compreensão e ele também me disse que tinha tido grato gosto em me ter como colaborador, que lamentava que me fosse embora e que me desejava felicidades e sucesso na vida futura, não deixando também de me recomendar ‘prudência’.


Francisco Palma, Hélder Sousa e Coronel Aantónio Calixto

Hélder Sousa, Coronel António Calixto e Francisco Palma

Major António Calixto e Luís Borrega

Fotos: © Eduardo T. Lopes (2012). Direitos reservados.


Conclusão

Fica assim concluída a reportagem de alguns episódios da minha passagem/estadia por Piche, na perspectiva de que senti a necessidade de dizer a alguns dos amigos que por lá foram integrados no BCAV 2922 que não partilho a ideia do Sr. Major Calixto ser ‘uma fera’, mas sim um disciplinador, e provavelmente aquele que, dadas as circunstâncias da saída precoce do 1.º Comandante com baixa à psiquiatria após 3 meses de mato, a Unidade necessitaria para assim manter níveis elevados de concentração.

Um abraço, e boas férias para aqueles de vocês que as tiverem!
Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Setembro de 2011 > > Guiné 63/74 - P8790: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (11): A primeira missão - parte II

Guiné 63/74 - P10194: Notas de leitura (384): "A Viagem do Tangomau, Memórias da Guerra Colonial que não se apagam" (José Brás)

1. Nota de leitura do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68) a propósito do último livro de Mário Beja Santos, "A Viagem do Tangomau, Memórias da Guerra Colonial que não se apagam":


Acabei de participar na visita que o senhor General te fez em Missirá(1).

E se digo participar em vez de assistir, é apenas porque também lá estava quando descobriste os dois pontinhos que haviam de resolver-se na figura de helis, cavalos de Tróia que haveriam de abrir-se para despejar o homem e essa gente/sombra do do monóculo decorativo.

Aliás, cortava "cibo" convosco porque os cibos que vos davam jeito no reforço dos abrigos de Missirá, eram os mesmos cibos que eu cortava a Sul de Medjo, muito perto de Quebo, uma Tabanca abandonada junto a um dos braços em que o Rio Cacine capricha a Norte, ainda antes de caprichar a Gadamael Porto, mesmíssimos cibos que também nos faltavam em Medjo para os mesmos fins.

Saindo um pouco da tua lavra, meto aqui enxada para de dizer do caricato que foi, nessa tarefa, ter eu atravessado uma água não muito funda e dessa água ter saído cravadinho de sanguessugas, perdendo algum tempo de cigarro aceso numa mão e pauzinho fino na outra, para me livrar das bichas, uma a uma.

Voltando a Missirá (adiantando que outra Missirá tínhamos na estrada Aldeia Formosa (outro Quebo-Buba), Missirá, esta, abandonada também e lugar pouco abençoado para tropa branca, voltando a Missirá, digo, ao teu e não ao do Sul, também eu me espantei com os maus modos do homem, retrato exacto nas perguntas e nas questões que te colocou, desse militar antigo, feito na Academia deles, cheio de empáfia e de mando, mestres duma infalibilidade alejada do real da guerra em que andávamos e que por mais comissões feitas não entenderiam nunca, provando-se dito não sei de quem que eu li um dia "a guerra é coisa demasiado complexa para ser dirigida por militares".

Acabara há pouco de viver a tua revolta contra as parvoíces dessas operações volumosas em que te meteram para atacar Madina, porque também em Medjo se meteram um dia duas Companhias a dormir pelo chão para atacarem Salancaur.

Salancaur ficava a tão curta distância de Medjo que quase os ouvíamos falar na bolanha de arroz que cultivavam com esmero. Por isso, Bissau imaginou que saindo de madrugada, atacaríamos ao nascer do Sol e quase almoçaríamos de novo em Medjo. Afinal, três dias não deram para vencer aquela mata densa, aberta à faca para se poder avançar fora da picada. A fome e a sede começaram a fazer efeito e as evacuações por esgotamento, fome e sede. Acabaram com o plano de Bissau.

Sei que estranharás que afirme lá estar contigo mas confirmo isso a pés juntos, porque a ler-te, sinto o cheiro do capim podre e aquele bafo que dele sai a cada passo; sinto as picadas dos mosquitos que nos atacam nos olhos, no nariz, nos ouvidos e na boca; sinto a magestade daquela mata sub-tropical que nos esmaga e desorienta o passo e a vontade; sinto o sabor do sangue dos amigos estraçalhados pelas minas e basucadas.

E se sinto tudo isso, e muito mais que a insipiência da minha palavra não explica e esta mensagem curta não justifica explicação, apenas porque o dizes tão bem que me repões de pés e de alma no Sul da Guiné e num tempo que talvez fosse melhor esquecer.

Continuarei a caminhar nos meus trilhos de Guileje pela palavra que me falta ainda ler-te, e nem sei se hei-de agradecer-te, se lamentar o tempo e o modo que reviverei recuperando-me aqui como se fosse lá.

Obrigado, Mário
José Brás


2. Nota do editor:

(1) - Da página 228 de "A Viagem do Tangomau":

[...] Pois bem, é no âmbito de todo este processo de crescimento, de inclusão no meio, que num princípio de tarde, estava o Tangomau nos palmares de Cancumba a acompanhar os derrubes de duas palmeiras para extrair rachas de cibe para reforço de dois abrigos, apareceram uns pontos a crescer no céu, ouviu-se o crescente zunir das pás dos helicópteros (eram dois), depois fizeram dança na pista improvisada em frente à porta de armas, lá se foi, prestes, ao encontro dos ilustres visitantes, era o comandante-chefe e versátil comitiva, incluía o comandante de Bafatá. [...]

Título: "A Viagem do Tangomau, Memórias da Guerra Colonial que não se apagam"
Autor: Mário Beja Santos
Edição: Temas e Debates/Círculo de Leitores
Páginas: 518
Imagem da capa: "Recordações de África", aguarela de José Antunes, 2010
1.ª edição: Junho de 2012
ISBN (temas e Debates): 978-989-644-198-2
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9471: Blogoterapia (198): À Tabanca Grande, em primeiro lugar e a todos os que se lembraram de mim e também aos outros que todos os dias se abraçam no blogue (José Brás)

Vd. último poste da série de 23 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10184: Notas de leitura (383): "No Percurso das Guerras Coloniais 1961-1969", de Mário Moutinho de Pádua (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10193: As Nossas Tropas - Quem foi quem (9): Marcelino da Mata, 1º cabo, Gr Cmds Diabólicos (1965/66) (Virgínio Briote)

 

Guiné > Bissau > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos, completo,  em frente à camarata do Grupo. Ao centro, na 1ª fila, o 6º a contar da esquera, o comandante do grupo, alf mil Virgínio Briote. Na ponta direita, de pé, o srgt mil Mário Valente. Na 2ª fila, de fé, na extrema direita, o 1º cabo Marcelino da Mata.




Guiné > Bissau > Brá > Setembro de 1965 > "Foto de finais de Set 65, tirada em Brá, quando começaram os "ensaios" com as boinas vermelhas... Da esquerda para a direita: Marcelino da Mata, Azevedo, Virgínio Briote , Black e Valente"...


Duas das 200 fotos que o V.B. tem em arquivo e que partilha connosco e os demais camaradas do blogue. É um camarada e um amigo sempre atento e solidário, amigo do seu amigo, camarada do seu camarada... Está a gozar as suas merecidas, merecidíssimas, férias de 365 dias por ano (ele e a sua Irene, professora do ensino secundário)... O VB faz questão de nos dizer, por escrito, que "todas as fotos que eu enviar fazem parte do espólio do Blogue Luís Camaradas & Camaradas da Guiné, podendo delas ser feito o uso que os Editores entenderem. Tenho ainda cerca de 200 para enviar.".

Fotos (e legendas): © Virgínio Briote (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Resposta do Virgínio Briote [, foto à direita], nosso co-editor, jubilado, ao
nosso pedido formulado no poste P10187:
Marcelino da Mata ingressou nos Cmds [, Comandos,] na altura da Op Tridente (Ilha do Como, Jan/Mar64), tendo feito parte do grupo de Cmds experimental (constituído por milicianos -3 alferes e vários furriéis-, alguns cabos e soldados recrutados no BCav 490 e ainda dois ou três voluntários naturais da Guiné, Marcelino da Mata e Adulai Jaló, morto anos depois em Morés quando fazia parte da CCmds do Ten Zacarias Saiegh, do BCmds Guiné, comandado por Almeida  Bruno).

No fim do 1º curso de Cmds, administrado em Brá (com o apoio de elementos dos Cmds de Angola, supervisionados pelo então ten mil Jaime Abreu Cardoso e apoiados operacionalmente pelo Gr Cmds Gatos, do alf mill Valente- morto em combate anos depois em Moçambique), Marcelino da Mata fez parte do Gr Cmds Panteras, que se manteve operacional entre fins de Set 64 e meados de 1965.

Em Setembro de 1965, o então 1º cabo Marcelino da Mata ingressou no Gr Cmds Diabólicos e manteve-se em actividade até princípios de 1966, altura em que regressou à unidade de origem, a CCS do QG [Quartel General].

Nesta foto, o 1º cabo Marcelino da Mata está em 2º plano. É o 1º da direita, atrás do sargento mil Mário Valente (em 2ª comissão na Guiné, em grande parte devido ao casamento com uma senhora libanesa,  filha de um comerciante com estabelecimentos em Bigene e Barro e familiar de Francisco Fadul, futuro 1º ministro da RGBissau).

O Marcelino, na altura, usava uma pequena pêra e já então usava óculos. O outro natural da Guiné que, na altura,  fazia parte do grupo, era o Soldado Bacar Mané, sentado na 1ª fila.




2. Em poste publicado, há mais de cinco anos e meio atrás, o Virgínio Briote descreveu assim o 1º cabo Marcelino da Mata, membro do seu Gr Cmds, Diabólicos:

(...) "Irene : Gostei de ler a sua mensagem. Conheci o seu Pai, Marcelino da Mata, então 1º cabo do Exército, em Maio ou Junho de 1965. Vi-o em Brá, um aquartelamento do Exército Português a meia dúzia de kms de Bissau na estrada para o aeroporto de Bissalanca.

"Era um jovem com bom aspecto, ar de reguila, aspecto enérgico. Ele tinha feito a opção pelo Estado Português e como militar teve que combater o PAIGC, o Partido que então encabeçava a luta armada contra o colonialismo português. Foi a decisão que tomou, tal como milhares de Guineenses e, por isso, passou a ser um inimigo do PAIGC.

"Fez parte dos primeiros comandos que existiram na Guiné. Participou em inúmeras batalhas em praticamente todo o território. Foi sempre um militar muito valente e, por isso, várias vezes condecorado, desde a Cruz de Guerra (várias) até à Torre e Espada (a mais alta condecoração nacional e só atribuída em casos excepcionais).

"Depois houve o 25 de Abril, ele estava na Guiné, a independência veio logo a seguir em Setembro de 1974 e o Marcelino, tal como vários militares que se distinguiram na luta ficou com a vida em perigo. Muitos dos que lá ficaram foram fuzilados e ele saiu da Guiné e fez muito bem porque se lá tivesse ficado já não era vivo há muito.
"Penso que hoje, com tanto tempo passado, se ele regressasse ao chão que o viu nascer, nada lhe aconteceria. Mas a Irene sabe, as previsões só são isso. Nunca se sabe o que poderia suceder.

"Quanto a essa história do forno, pode ser só isso, uma história apenas. E pronto Irene, podíamos estar aqui a falar do seu pai o dia todo e se calhar ainda nos esqueciamos de muita coisa". (VB)

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9483: As Nossas Tropas - Quem foi quem (8): António Sousa Teles (1922-2006), ten cor art, comandante do BCAÇ 4514/72 (Cadique, 1973/74)

Guiné 63/74 - P10192: Fauna & Flora (30): Cobra de papo, de veneno altamente tóxico, hemorrágico, comparável ao da cascavel da América..


Cobra-de-papo - Dispholidus typus Smith (Família Colubridae - Opisthoglypha)


Imagem à direita: Aguarela do pintor português Silva Lino (1911-1984)

Mais uma serpente que existia na Guiné, no nosso tempo, e que foi descrita pelo naturalista português  Fernando Frade e a sua equipa (*):



(i) Serpente robusta e alongada (comprimento: até 175 cm), coberta de escamas carenadas, com a cabeça relativamente curta e a cauda comprida;

(ii) Olhos grandes, com pupila redonda; coloração variando desde o verde ao castanho e ao negro, por cima, e do cinzento ao amarelo, por baixo, com as escamas rebordadas de preto;

(iii) Por vezes confundível com outra serpente verde, também arborícola mas inofensiva: Philothamnus irregularis.[, que também existe na Guiné]: 


(iv) Dentadura opistogllfodonte, constituída por dentes sulcados, situados na parte anterior do maxilar e precedidos de dentes normais;

(v) Sinais da mordedura: três pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, precedidas de perfurações menores, o conjunto envolvendo duas séries de picadas finas que correspondem aos dentes palatino-pterlgóldes;

(vi) Veneno altamente tóxico, hemorrágico, comparável ao das «cobras cascavel» da América;

(vii) Costumes: Espécie arborícola, muito ágil e tímida; quando excitada insufla de ar os brônquios e os pulmões, aumentando consideràvelmente de volume, por vezes, em forma de papo, a parte anterior do corpo, reacção que deve servir de aviso, antes da agressão;

(viii) Reprodução de Outubro a Dezembro, por oviparidade (uma a duas dúzias de ovos).

(ix) Alimento: Principalmente camaleões, outros sáurios, aves e ovos, e mesmo indivíduos da sua própria espécie;

(x) Distribuição geográfica: África Tropical e Meridional; na África lusófona,  tem sido encontrada na Guiné, em Angola e Moçambique.

Fonte: Adapt. do portal Triplov > Serpentes do ultramar português

Referência bibliográfica: FRADE, Fernando - Serpentes do Ultramar Português. Garcia de Orta. Lisboa; 1955; III (4), pp. 547-553. Em colab. com Sara Manaças. Legendas e notas de aguarelas de Silva Lino.

[Reproduzido com a devida vénia]

 Vd. Google > Imagens > Dispholidus typus Smith (em inglês, também conhecida como "boomslang"; 

não parece ser uma espécie ameaçada)

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Nota do editor:

Ver poste anterior da série > 18 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10166: Fauna & Flora (28): A Mamba-verde, particulamente temida pelos recolectores de chabéu ...



terça-feira, 24 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10191: Memória dos lugares (189): Jolmete, quotidiano da tabanca e aquartelamento (Manuel Carvalho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 22 de Julho de 2012:

Caro amigo Vinhal
Ao ler as estórias e ver as fotos do Augusto Santos de Jolmete do ano de 72, lembrei que tenho fotos de Jolmete do inicio de 68 quando nós CCaç 2366 lá chegamos, sei que pelo menos o Augusto Santos o Manuel Resende e o Firmino vão gostar de ver algumas diferenças.
Vou enviar também algumas fotos da famosa piscina de Quinhamel, da qual o meu irmão falou em comentário e na qual só estive uma vez quando tirei estas fotos.
O Alf. artilheiro João Martins num post que publicou também fala numa Piscina em Quinhamel por alturas de 69/70 que julgo que só pode ser esta. Coisa que não faltava na Guiné eram piscinas como a de Quinhamel, era um fartar pelo menos para os operacionais. A grande diferença (e era mesmo muito grande) era que em Quinhamel entravamos sem arma e nas outras era com tudo.
Como podem ver em Jolmete até bailes fazíamos foi a recepção aos periquitos da 2585 a dançar da esq. um fur. das viaturas, o Crista de costas e eu.
A minha lavadeira já me tinha posto os palitos.

Caro amigo Vinhal faz disto o que muito bem entenderes, no sentido de melhorar o texto, tudo e desde já o meu muito obrigado.

Um grande abraço e muita saúde.
Manuel Carvalho



Jolmete > Com o Dandy e o Martins na chegada da operação em que apanhamos o RPG2 e três armas.

Jolmete > Baile de recepção aos periquitos da 2585. A dançar, a partir da esquerda: um furriel mecânico, o Crista de costas e eu. A minha lavadeira já me tinha posto os palitos.







Jolmete > Aspectos do aquartelamento e tabanca

Jolmete > Com a lavadeira Mélinha

Fotos: © Manuel Carvalho (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10161: Memória dos lugares (188): Lisboa, Belém, os vivos e os mortos, o passado e o futuro... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10190: Do Ninho D'Águia até África (2): Montando o Centro de Cripto (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripo, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66)

1. Continuação da publicação de "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Op. Cripto, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.


Do Ninho D'Águia até África (2)

Montando o Centro de Cripto em Mansoa

O Unimog, pois é assim que chamam à viatura onde viaja o Cifra, que vai sentado num dos bancos corridos que foram colocados em cima desta viatura, que é uma espécie de uma camioneta pequena, com as rodas muito altas, e toda aberta, incluindo a cabine.

O Cifra, leva vestido um camuflado novo. Na cabeça, leva um boné, também de pano camuflado, a que chamam “quico”, é uma espécie de boné com duas palas, uma na frente e outra atrás, mas com dois bicos, o que o Cifra, nunca compreendeu porquê, estes dois bicos. Devia levar um capacete de ferro, mas durante os dois anos em que esteve na província, nunca lho distribuíram, e o Cifra, também não o pediu.

Leva a G3 entre as pernas, segura com ambas as mãos, com o carregador cheio e pronta a disparar, um cinto com dois carregadores extras. Um pouco à frente, na viatura, vai um pequeno monte de malas e sacos, pertencentes aos militares que viajam com o Cifra. São os seus haveres.

Saíram do acampamento, já passava das nove horas da manhã.
Iam a caminho duma vila no interior da província, onde iriam ser colocados. A estrada era estreita, mas quase toda de alcatrão, e em alguns locais, estava coberta com alguma água.

O Cifra ia com algum receio, pois era voz corrente, de que depois de saírem da capital da província, não se podia andar um metro, que havia logo, um guerrilheiro, “armado até aos dentes”, coberto de armas e munições, com catana e tudo, atrás de cada árvore ou arbusto, que encontrassem pelo caminho!

Enfim, sempre que algum colega falava mais alto, ou sempre que ouvia algum barulho fora do normal, o Cifra ficava quase em pânico, e agarrava-se à G3, com quanta força tinha!.

Começa a chover. Tanto ele como os outros militares ficaram encharcados, diziam que era o começo da época das chuvas. O Cifra não sabia o que era a época das chuvas, só sabia que estava molhado até aos ossos, mas mesmo assim não tirava os olhos da sua mala e do saco, principalmente do saco, onde ia a sua roupa, parte dela suja e cheia de lama, usada no acampamento, onde tinha estado por três semanas, e onde não havia condições nem meios para a lavar.

E o Cifra, para ver se perdia um pouco de receio, que o atormentava, começa a falar sozinho:
- Agora, com esta chuva é que a roupa suja de lama, que vai dentro do saco, vai ficar numa lástima, e é capaz de contaminar e sujar toda a restante, e para mais com aquela goma, que a ganga de que é feita tem, quando é nova!

Com estes pensamentos, chegaram ao local de destino.

O furriel miliciano diz, com a água da chuva a escorrer-lhe pela face e a entrar pela boca:
- Tirem as vossas coisas, e acomodem-se o melhor que poderem naquele local, onde há algumas paredes, e o resto do telhado.

Quando o furriel miliciano, se referia às paredes e ao resto de telhado, estava a referir-se às ruínas do que diziam ter sido um convento de padres de uma ordem religiosa francesa.

E continuando, a falar, diz:
- E tu, oh Cifra, quando puderes vem buscar esta mala e este saco, que são meus, e ajeita-me lá um espaço, ao pé de vocês, pois eu ainda tenho muito que fazer.

Cada um procurou, o melhor possível, acomodar-se, e logo se improvisaram camas no chão, com o saco molhado, a servir de travesseiro. Todos barafustavam, mas iam arrumando as suas coisas.

Lá mais para o final do dia, o Setúbal, que foi baptizado com este nome, porque o principal era Jeremias, e não dava muito jeito a pronunciar, diz para o Cifra:
- Tenho fome!

E dito isto, começa a subir para uma enorme árvore, o que mais tarde, souberam que era uma “Mangueira”, e começa lá de cima, a abanar os ramos de onde caíram bastantes “mangos”, que era uma fruta deliciosa!

O furriel miliciano, vendo isto, grita-lhe:
- Aí em cima, estás mesmo a jeito, para levar um tiro dos guerrilheiros! Vem já para o chão, e vem com cuidado, porque podes cair, e se não morres do tiro, morres da queda!

Alguns, riram-se, outros ficaram ainda com mais receio, como foi o caso do Cifra.
A partir daí aquela árvore, passou a chamar-se a “Mangueira do Setúbal”!

Havia, mais ou menos no centro das ruínas, uma fonte, com uma bica que deitava alguma água, o Cifra perguntou a um militar, que já se encontrava há algum tempo, naquela área:
- Esta água, é boa para beber? - Ao que ele respondeu, tirando um cigarro da boca, mostrando uns restos de dentes quase pretos. Era um homem novo, com cara de velho:
- Eu não sei, eu não sou de cá!

E o Cifra pensou, que não fazia muita diferença beber ou não, pois se bebesse, era capaz de morrer, mas se não bebesse, também era capaz de morrer, mas à sede!

Nesta altura, passa o capitão, que era o comandante da companhia, que já lá se encontrava, e o militar, depois do capitão passar, diz, mostrando de novo o resto dos dentes quase pretos:
- Tem cuidado com este gajo, pois ele parte tudo à bofetada! Tanto faz ser soldados como furriéis!

Com estas boas referências, o Cifra, fica colocado em possível cenário de guerra, no interior da província.

Faz parte do comando de uma unidade militar, que irá controlar todos os movimentos de tropas na região. Pelo menos de dia, pois de noite ninguém tinha autorização de sair da área do aquartelamento que entretanto se estava a construir, ao lado das ruínas, assim como em qualquer parte de toda a província. Era proibido andar fora das áreas aquarteladas, de noite.

Há tudo a fazer, desde instalações militares, pista de aterragem para avionetas e helicópteros, paiol, enfermaria, dormitórios, cozinhas, lugares cobertos para refeições, e mais um sem número de outras coisas, que fazem um comando funcionar.

Claro, protecção, ou seja, abrigos subterrâneos e à face da terra, gradeamentos, com arame farpado, em toda a volta do aquartelamento, com especial protecção, em certos pontos estratégicos. Para isso havia sob o comando desta unidade militar, um batalhão de cavalaria, que veio mais tarde, parte de uma companhia de engenharia, um pelotão de morteiros e demais pessoal, que não importa agora mencionar.

Este aquartelamento estava a construir-se num local com alguma estratégia. A este havia uma grande aldeia, com casas cobertas de colmo, onde viviam naturais da província, de uma certa etnia, que pelo menos, se mostrava fiel aos militares.

A norte e oeste, era a vila, típica colonial, com algumas casas de adobe, e cobertas a folhas de zinco, e dos lados algumas bananeiras, que se viam da rua.

Na vila, sobressaiam o posto dos correios [, foto à direita de César Dias, 1970], o mercado, com as suas bancas, onde se vendia de tudo um pouco, e onde não faltavam alguns cães vadios, que não deveriam de ter dono, pois estavam lá todo o dia e alimentavam-se do resto da carne e ossos, embrulhados em folhas de bananeira, que se vendiam em determinada área do mercado, a sede de um clube de futebol local, que abria à tarde, e vendia cerveja à temperatura ambiente, e gasosa muito doce, a saber a cana-de-açúcar, uma pequena igreja, pintada de branco, onde havia missa, sempre que era possível vir um padre da capital da província, um estabelecimento comercial, propriedade da Companhia Ultramarina, que recolhia alguns produtos que os naturais vendiam, a troco, muitas vezes, de bugigangas, sem qualquer valor, ou uns panos de chita, algumas casas pintadas mais a preceito, onde viviam alguns negociantes de madeira, uma casa, que era uma espécie de taberna, de uma senhora de origem cabo-verdiana, que juntamente com as suas filhas, vendia comida e cerveja mais ou menos fresca, que tirava de um frigorífico, que diziam que funcionava a petróleo, cerveja esta que os militares lhe traziam da capital da província, um posto de enfermaria, o edifício público onde funcionava, uma espécie de câmara municipal, que emitia documentos de identificação aos naturais, que queriam viajar de umas povoações para outras, sem serem incomodados pelos militares, entre outras coisas.

As ruas eram direitas, com algumas árvores, em especial Mangueiras, que estavam pintadas de branco, na sua base, pelo menos dois metros de altura. O Cifra, nunca compreendeu porquê, essa pintura. Do lado sul, havia matas, que diziam, mais tarde seria um campo de aviação. Mas creio que isso nunca sucedeu, pois usava-se uma zona ao norte, ao lado da tal aldeia, com casas cobertas de colmo, que era plana e onde aterravam as avionetas, e helicópteros.

Mais a oeste, quase à entrada da vila, passava um rio, com uma ponte em cimento, com um arco, e diziam que era a ponte mais importante da província. Embora, a vila se encontrasse a muitos quilómetros do mar, a maré subia alguns metros, o que fazia ficar grandes áreas submersas, e quando a maré era baixa, deixava a descoberto essas mesmas áreas, que era só lama, e passava a ser o paraíso de algumas aves e crocodilos, enterrados nessa mesma lama.

Mansoa > Ponte sobre o Rio Mansoa

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2008). Todo os direitos reservados

O Cifra, tal como o nome indica, tem por missão ajudar a organizar e montar um centro cripto onde funcionará um sistema de cifra que ajuda a comunicação, em código, entre todas as forças militares que estão estacionadas na região, em diferentes zonas de guerra. Monta-se um centro cripto com o mínimo de segurança e organiza-se turnos de modo a funcionar vinte e quatro horas por dia. O centro de transmissões, recebe a mensagem em código, entrega-a por mão no centro cripto, este por sua vez decifra o conteúdo da mensagem e entrega-a no comando, também por mão.

Como já compreenderam, o Cifra, esse puto, que acordava, na sua aldeia do Ninho d’ Águia, ao som do comboio das seis e meia, tem a guerra na mão! Sabe de tudo o que se passa nas zonas de combate, primeiro que os comandos. Como entrega a mensagem, já decifrada, no comando e por mão, por vezes, vê na expressão do rosto do comandante e seus pares, sabendo ele o conteúdo da mensagem, se o comando vai agir, se se cala ou se movimenta tropas. [Foto à direita,  de Paulo Raposo: placa toponímica, Mansoa, 1968].

Enfim, era como aqueles párocos das aldeias, no interior de Portugal, que sabiam a vida de todos os paroquianos, através das confissões.Não diziam nada. Mas sabiam.

Todos os meses mudava o código no sistema de cifra. O Cifra tinha por missão, tal como os seus companheiros no centro cripto, todos os meses ir entregar, também por mão, o novo código ao comando de todas as forças militares que operavam sob o comando da sua unidade. Mais tarde, quem tinha essa missão eram os camaradas criptos, do comando do Batalhão de Cavalaria, que se veio instalar no novo aquartelamento, ainda em construção, mas numa fase já mais adiantada, pelo menos já havia local coberto, para se dormir, embora ainda não houvesse paredes.

As forças militares deste Batalhão de Cavalaria ficaram instaladas  no novo aquartelamento, mas o comando, depois de reconstruir parte das ruínas, ficou aí a funcionar, e construiu uma “Porta de Armas”, com o emblema do Batalhão, bastante bonita, e que era o orgulho dos militares.

Diziam que o comando do Batalhão não gostava de trabalhar em colaboração com o comando das forças militares a que o Cifra pertencia, que funcionava no novo aquartelamento, em algumas habitações, entretanto acabadas. Rivalidades, talvez. Mas os militares de acção, e não só, davam-se bem e eram amigos, pois dormiam e sofriam juntos as agruras e tristezas desta maldita guerra.

Mas voltando ao assunto, os documentos que se transportavam em envelopes fechados, com o carimbo de “muito secreto”, como era de prever, eram entregues por mão a todas as forças militares que se encontravam estacionadas em cenário de guerra.

Tanto o Cifra, como os seus camaradas, usava os mais diferentes meios de transporte. Desde a avioneta do correio, uma coluna militar de movimentação de tropas, o carro dos doentes, que normalmente era protegido por uma secção de combate, ou um helicóptero que cruzasse a zona. Enfim, no final de cada mês andava à boleia na guerra!

Isto, era o que se dizia entre os cifras.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 21 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10177: Do Ninho d' Águia até África (1): Mobilização e partida para um Comando de Agrupamento (Tony Borié, ex-1º cabo cripo, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66)