segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10656: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (1): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

 

1. Damos início uma série de 4 postes com fotografias enviadas pelo nosso camarada e tertuliano Fernando Súcio (foto à esquerda), ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74, fotos estas pertencentes ao seu conterrâneo, o outro nosso camarada Leonel Olhero (foto à direita), ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard), 1971/73, ambos contemporâneos naquele aquartelamento.




Bula > BCAÇ 8320 (1972/74) > Casa dos geradores > O Fur Mil Olhero vendo os estragos causados por um míssil

Bula > Fortim da pista > Pelotão de Morteiros

Estrada de Bissorã

Rio Mansoa > Jangada civil

João Landim > Três transmontanos: Fernando Súcio, Leonel Olhero e Cipriano.

Rio Mansoa > Jangada civil

Bula

Bula > Leonel Olhero junto a um obus 14

Bula > Fonte

Bula > Esquadrão de Panhard

Fotos: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por CV]

Guiné 63/74 - P10655: Notas de leitura (428): "Colapso e Reconstrução Política na Guiné-Bissau 1998-2000", por Lars Rudebeck (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
O Prof. Lars Rudebeck acompanhou quase em cima dos acontecimentos o conflito político-militar iniciado em 1998.
Há muitos anos que ele estuda afincadamente o processo da democratização encetado nos anos 90. O que se encontra neste seu trabalho é uma investigação onde se pretende esclarecer até que ponto a democratização tem sido afetada pelos conflitos, pelas lutas intestinas governamentais, com ou sem coligações.
O investigador recorda que os partidos políticos guineenses produziram muito pouco material sobre os seus programas, há situações insólitas em que forças partidárias se esquecem de dizer do que pretendem do desenvolvimento. Ele não esconde a sua preocupação com o facto de a Guiné não poder viver eternamente dependente da ajuda internacional, se a situação se prolongar surgirão novos conflitos com consequências seguramente lesivas para o processo democrático.

Um abraço do
Mário


Colapso e reconstrução política na Guiné-Bissau (1998-2000) 

Beja Santos 

O Prof. Lars Rudebeck é um estudioso universitário com pergaminhos firmados no estudo da Guiné-Bissau. Começou em 1972 aqui a sua tese de doutoramento, da qual já se procedeu à respetiva resenha. Colaborou com o INEP e o seu nome é assíduo na revista Soronda. A pretexto do conflito político-militar encetado em Junho de 1998, o Prof. Lars Rudebeck procura investigar de que forma a ordem democrática funciona, mesmo precariamente, ou está gravemente comprometida. Trata-se de uma análise que vai muito além do sistema multipartidário e dos procedimentos eleitorais, uma vez que nela se discutem os contrastes gritantes na forma como o povo interpreta ou interioriza a democracia. Por tal via de análise, o investigador questiona os fundamentos da sociedade civil e política, o que está por detrás da tentação por via dos complôs no comportamento militar, bem como questiona se a assistência internacional se pode eternizar. “Colapso e Reconstrução Política na Guiné-Bissau 1998-2000, Um Estudo de Democratização Difícil”, é o resultado desta investigação. Para fundamentar a sua análise, Lars Rudebeck fez três viagens de estudo à Guiné-Bissau entre 1999 e 2000.

No verão de 1994 efetuaram-se eleições legislativas e presidenciais e os resultados foram aceites, assim se dava um passo em frente no constitucionalismo democrático: presidente eleito por voto universal, um governo e uma oposição, liberdade associativa, imprensa independente, tudo parecia começar a funcionar. Mas em 7 de Junho de 1998 eclodiu um conflito, de um lado estava o presidente Nino Vieira e os seus seguidores mais próximos e um pequeno número de tropas fiéis ao governo a que se juntaria uma forte ajuda militar com efetivos vindos do Senegal e da Guiné-Conacri, e do outro lado a maior parte das forças armadas guineenses sob o comando do brigadeiro Ansumane Mané. Não demorou muito tempo a comprovar-se que Ansumane Mané e os seus revoltosos tinham um forte e crescente apoio da maior parte da sociedade guineense. O conflito foi devastador e deixou profundas marcas na população. Houve êxodos, destruições, acordos de paz não cumpridos, as duas forças contendoras temiam-se e não escondiam. Por detrás do conflito estaria sobretudo o tráfico ilegal de armas que eram entregues aos rebeldes do Casamansa. Ansumane Mané contou com o apoio de comandantes frustrados e soldados com salários em atraso.

O autor não hesita em escrever que a crise fora provocada por um comportamento de género mafioso nos altos cargos do Governo. Do alto do púlpito, logo em 9 de Agosto de 1998, o bispo de Bissau foi corajosamente direito ao assunto: “Quando cada um de nós se pergunta sobre as razões desta guerra, a resposta estará nos seguintes pontos: ninguém dará ao poderoso o direito de ser arrogante; ninguém dará ao soberbo o direito de ser prepotente; ninguém dará ao injusto o direito de ser usurpador dos bens dos outros; ninguém dará ao rico o direito de escravizar os pobres”. O autor procurou entender o papel da sociedade civil durante a crise e reconheceu que a Liga Guineense dos Direitos Humanos revelava uma atividade meritória. As organizações civis reuniram-se em Novembro de 1998 e constituíram o Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento, estiveram presentes 149 pessoas representando um total de 132 organizações. A Assembleia Nacional Popular, durante a crise, funcionou como um fórum central e marcou pontos a favor do constitucionalismo democrático. A opinião internacional, inicialmente, foi de condenação dos revoltosos, entretanto, até por via diplomática, começou a ter-se conhecimento de saques e destruições gratuitas perpetradas sobretudo pelas forças senegalesas e oriundas de Conacri. Quando o confronto militar terminou, em Maio de 1999, procurou-se um tratado constitucional denominado “Pacto de Transição Política”, onde se exigia a participação e a aprovação do poder militar em situações fundamentais do exercício da autoridade do Estado. Aqui começou o equívoco democrático, os militares mostravam-se reticentes em voltar para os quartéis e deixar os políticos em paz. Logo reivindicaram os seus salários e os soldados manifestaram-se em Bissau, em 3 de Dezembro, de armas em punho. Aproveitando-se do congresso do PAIGC, em Setembro desse ano, Ansumane Mané, sem ambiguidades aconselhou o PAIGC a não eleger o anterior primeiro-ministro, Manuel Saturnino da Costa.

Lars Rudebeck considera que os políticos dentro e fora do governo da Assembleia trabalhavam como podiam para manobrar entre o poder militar, o povo, possíveis investidores na paralisada economia do país e a comunidade internacional. Entrou-se em clima eleitoral, o presidente interino, Malã Bacai Sanhá, candidatou-se também à presidência pelo PAIGC. As eleições tiveram lugar em 28 de Novembro. O candidato do PRS, Koumba Yalá foi o mais votado, mas tendo ficado abaixo dos 50 %, houve segunda volta entre ele e Bacai Sanhá. O investigador aprecia os programas dos partidos e não tem dificuldades em dizer que um grande número deles tem a sua existência graças a um candidato e pouco mais. Analisa Koumba Yalá, um novo presidente que nos anos 80 tivera a responsabilidade pela formação interna dos quadros do PAIGC e observa: “A base social do seu partido é popular, mas na prática não defende ideias políticas muito diferentes das ideias dos outros partidos. Nas eleições legislativas de 1994 o seu partido conseguiu no total um pouco mais de 8 % dos votos e nas presidenciais esteve à beira de vencer Nino na segunda volta. Apesar disto, durante o período de 1994-1999, Koumba Yalá e o seu novo partido não se destacaram muito na cena política”.

É um estudo pormenorizado, que abarca a situação das mulheres, a complexidade da transição, os vínculos étnicos e o sentimento de mudança. O autor não esconde o seu ceticismo quanto ao futuro da democracia no país. Até então, os entrevistados usavam uma expressão eloquente sobre as razões que os levavam a participar nos sucessivos atos eleitorais: acreditavam poder haver uma sociedade melhor, para eles o conceito de democracia andava próximo da busca de felicidade. Para um investigador, a democracia só muito dificilmente poderá sobreviver se não houver um certo grau de participação popular e de justiça social. Ora a justiça social deteriorou-se, os cidadãos apercebem-se que vivem numa sociedade onde a coesão está ausente e onde os militares não respeitam o voto das urnas. No período em análise, o autor detetou várias crises políticas, demissões, rumores, perseguições pelos militares de civis ligados aos direitos humanos, tudo isto enquanto era patente a posição fraca e indecisa do Governo. Os cidadãos guineenses deram provas de se encontrar bem preparados para se envolverem em atos eleitorais mas não se pode iludir a falta de financiamento interno que agrava os principais problemas governamentais, agora crónicos: a sua dependência em relação aos militares e a mão estendida em relação à ajuda internacional. Enquanto escrevia o seu livro, Lars Rudebeck apercebeu-se de que a vida dos governos estava cada vez mais frágil, seguiu-se a guerra sem quartel a Ansumane Mané, morto em 30 de Novembro de 2000. E autor insiste que não é possível uma democracia depender eternamente da ajuda internacional. Afinal, na ordem interna, os cidadãos também se cansaram do protagonismo de Ansumane Mané como mais tarde nada fizeram quando Koumba Yalá foi deposto. Nesse ano de 2001, a população guineense vivia profundamente desencantada.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10640: Notas de leitura (427): "África Misteriosa", de Julião Quintinha (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10654: O nosso livro de visitas (151): José Lino Oliveira, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 4612/74 (Cumeré, Mansoa, Brá, 1974)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > 9 de setembro de 1974 > BCAÇ 4612/74 > Pessoal da CCS impecavelmente fardado e alinhado, na cerimónia de transferência de soberania das NT para o PAIGC. Uma foto histórica, do álbum do Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-fur mil op esp.

Foto: © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados.

1. Do nosso leitor (e camarada de armas) José Lino Oliveira:
 

Data: 4 de Novembro de 2012 17:07
Assunto: Guiné 1974

Boa tarde,
Tive conhecimento deste blogue sobre a Guiné. Tenho alguma documentação sobre a nossa saída, nomeadamente fotos. Vou procurar para poder enviar. Terei de digitalizar tudo, inclusive "slides".

Estive em Cumeré, Mansoa e Brá, na CCS / BCAC 4612/74 como fur mil. Sou o José Lino Padrão de Oliveira. Estive lá novamente em 1988.  
Darei notícias em breve.

Um Abraço,
José Lino.

 

2. Comentário do nosso co-editor Carlos Vinhal:

Caro camarada José Lino Oliveira: 


À boa maneira do nosso Blogue, permite-me o tratamento (mútuo) por tu. Em nome do Editor Luís Graça estou a agradecer o teu contacto e a dizer-te que será uma honra ter-te como tertuliano do nosso Blogue, mais conhecido por Tabanca Grande.

Isto funciona assim: envias-nos uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual (digitalizadas) em formato JPG, tipo passe de preferência, ou em alternativa outros formatos a partir dos quais os "nossos serviços técnicos" (eu) possam fazer as fotos da praxe para encimar os teus artigos a publicar.

Queremos saber de ti, o posto, especialidade, unidade, datas de ida e volta da Guiné, locais onde cumpriram a vossa comissão, etc. A ideia é fazer um poste de apresentação à tertúlia com estes elementos mais básicos ou outros que queiras acrescentar. A partir daí, poderás enviar as tuas memórias escritas ou em imagem para serem publicadas. 

No lado esquerdo da nossa páginas poderás encontrar as nossas regras e objectivos do Blogue, nada de transcendente, apenas normas de bom convívio, respeito pela diferença de opinião, etc.

Fico a aguardar o teu próximo contacto.
Até lá deixo-te um abraço em nome dos editores (Luís Graça, Eduardo Magalhães e Carlos Vinhal) e da tertúlia em geral.
 
Fico ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.
O teu camarada
Carlos Vinhal

PS - Vejo agora que foste camarada do nosso co-editor Eduardo Magalhães, fur mil op esp na CCS/BCAÇ 4612/74.  Deves lembrar-te dele, não ? ... E ele de ti. Ele mora em Matosinhos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10575: O nosso livro de visitas (150): Agradecimento (Vanda Silva) 

domingo, 11 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10653: Contraponto (Alberto Branquinho) (47): Momento de poesia com Augusto Gil e a "Jovem Lília Abandonada"

 
 1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 9 de Novembro de 2012:

Caro Carlos Vinhal
Porque me parece oportuno e porque não é da minha autoria, aí vai um "Momento de poesia".

Um abraço.
Alberto Branquinho



CONTRAPONTO (47)
MOMENTO DE POESIA...

"JOVEM LÍLIA ABANDONADA...

Sempre que a vejo a contemplar os céus
com um ar de lírica neurastenia
dá-me a impressão de estar pedindo a Deus
ao menos um alferes de infantaria..."

AUGUSTO GIL (1873-1929)
«O canto da cigarra»


NOTA: O autor deveria ter esclarecido se poderia ser um alferes miliciano (de infantaria, claro!)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10511: Contraponto (Alberto Branquinho) (46): Banho... de cobra

Guiné 63/74 - P10652: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (10): 11.º episódio: Momentos de puro e são divertimento

1. Em mensagem do dia 8 de Novembro de 2012, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), enviou-nos mais um episódio da sua campanha no K3, dias que fazem parte dos melhores 40 meses da sua vida. E nós continuamos a acreditar.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

11.º episódio - Momentos de puro e são divertimento

Mas... também tínhamos momentos de puro e são divertimento, pois então. Construíramos para tal, um antro de prazer, num dos paióis anexos ao condomínio e para onde nos deslocávamos andando de gatas. Eram dois, a 10 metros cada do bedroom e o acesso só a partir daí, se podia fazer. Um estava do lado esquerdo (o das bazoocas) e o outro do lado direito (o dos morteiros). Anexo a um dos espaldões, ficava então o nosso casino.

Permanecer lá, só sentados e os bancos, seis ao todo, eram os cunhetes com granadas prontas a entrar ao serviço e até a própria mesa da jogatina eram outros também caixotes cheios daqueles supositórios em forma de míssil terra-ar e que tantas vezes fizeram a diferença. O tecto houvera sido feito com cibes e coberto depois com grossa camada de cimento, porque o tesouro lá depositado, por demais precioso, merecia a obrigatoriedade de estar devidamente acondicionado e protegido. Por esse facto, não tínhamos hipótese de abrir qualquer buraco para que nós, os viciados na lerpa, pudéssemos ter algum ar, vindo do exterior.

Colmatávamos essa falta, fumando desalmadamente... bebendo mesmo sem ter sede... e a luz, fornecida por candeeiros a petróleo.

Pertantus... observadas todas as regras de não segurança, mas qu'é qu'isso importava a quem vivia em permanente corda bamba?

Distraíamo-nos assim e sempre se recuperavam os dez mil réis ontem perdidos. Comigo não... pois que perdia sempre o dobro do amealhado, facto que aceitava, na certeza de que "azar no jogo, sorte com as mulheres". Afinal e comprovei depois nos bailes da minha terra, tratava-se de grande mentira, já que me continuaram a calhar as mais feias.

Quando a água proveniente da maré a encher, começava a subir e habitualmente prái uns 10 cm, eram certos, ou quando os filhos duma quelque chose avec nos vinham incomodar, saíamos então ordeiramente e em magote de seis, pelo buraco onde só um de cada vez, conseguira entrar.

 Outubro de 1965 > Veríssimo Ferreira no K3 (Saliquinhedim)

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A minha Secção e como sabem, era chamada de "Armas Pesadas" e distribuídos nos foram, por isso, também três morteiros 60, que pesavam mesmo e bem o sentíamos quando os levávamos a tiracolo e nos deslocávamos durante os passeios pedestres através da agreste selva rural, assim estilo rally paper pedonal. E nem sequer levávamos, quer o prato base quer o regulador de distâncias destinado a observar para que a coisa acertasse, por considerarmos que eram apetrechos incomodativos assim mais... mariquices desnecessárias, pois que e disparados a olho nu, não falhavam e nem daquela vez em que um resolveu fugir e desaparecer, mas antes disparou, expeliu e acertou. Foi encontrado, ao que consta, do outro lado do globo, não sem que antes visitasse o centro da terra.

E deu-se porque ao sermos recebidos por intenso fogo d'artifício, ali junto à bolanha do Biribão, nós... pumba lá vai disto... mas mesmo utilizando o costumado capacete por baixo, o gajo quando lhe tocaram no percutor, afundou-se e pronto. Guardo religiosamente a chave de fendas com que substituía tal peça ao fim de quatro bojardas enviadas.

Desertou? está desertado... mas também fomos culpados, dado que já acontecera com outros... na lama não se disparam tais armas... mas aquela ânsia de corresponder foi fatal.

(continua)

OBS: - Imagem do morteiro 60, retirada do site HISTÓRIAS DA GUINÉ 71-74 - A C.CAC 3491-DULOMBI, com a devida vénia ao nosso camarada Luís Dias
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Nota de CV:

Vd. os primeiros dez postes da série de:

12 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10522: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (1): 1º e 2º episódios: tempos de Mafra, EPI, CSM (Veríssimo Ferreira, ex-fur mil, CCAÇ 1422, 1965/67)

16 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10538: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (2): 3.º episódio: O 2.º Turno, no CISMI, na bela terra de Tavira

 18 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10543: Os melhores 40 meses da minha vida Veríssimo Ferreira) (3): 4.º episódio: Passagens por Amadora, Lamego, Tancos e Lisboa

 23 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10558: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (4): 5.º episódio: Partida para o CTIG em Agosto de 1965

 27 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10579: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (5): 6.º episódio: Pela primeira vez o quartel foi atacado

29 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10590: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (6): 7.º episódio: O quotidiano no K3

1 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10602: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (7): 8.º episódio: Uma emboscada perigosa

4 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10618: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (8): 9.º episódio: As confissões de um prisioneiro
e
7 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10631: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (9): 10.º episódio: Um bunker inimigo ao pé da porta

Guiné 63/74 - P10651: Parabéns a você (493): Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1972/74)

Por omissão involuntária na nossa base de dados, ontem dia 10 de Novembro não foi publicado o aniversário do nosso camarada Jorge Araújo, a quem pedimos desculpa pelo lapso.

Tentando remediar a nossa falta, em nome de toda a tertúlia, enviamos, com um dia de atraso, as nossas felicitações ao camarada Jorge Araújo, a quem desejamos o melhor da vida.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P10644: Parabéns a você (492): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72)

Guiné 63/74 - P10650: O PIFAS de saudosa memória (17): Uma foto histórica: convívio, em 31 de maio de 1985, em Lisboa, do pessoal do emissor regional da Guiné e do Programa das Forças Armadas (Garcez Costa)



Lisboa > Páteo Alfacinha > 31 de maio de 1985 > Convívio do pessoal do emissor regional da Guiné e do PFA - Programa das Forças Armadas.

Foto: © Garcez Costa (2012). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Garcez Costa, ex-radialista do PFA - Programa das Forças Armadas,  furriel miliciano  (Com-chefe, PFA, Bissau, 1970/72), com data de 30 de outubro último:


Caso entendam publicar no blogue, esta é a tal foto de que falei anteriormente, a qual merece o seguinte apontamento:


Jantar de convívio do pessoal do emissor regional da Guiné e Programa das Forças Armadas, em Lisboa, no Páteo Alfacinha, em 31 de maio de 1985.

Passados anos ainda reconheço algumas personalidades, uns fizeram parte da minha convivência, e outros não identifico, porque não houve o cuidado, na altura, de proceder à legenda da foto.
Em cima: 

(i) Jerónimo (o nosso incansável dactilógrafo – não tinha horário de entrada e nunca se sabia a que horas saía de serviço);

(ii) Ramalho Eanes (incentivou-me a ter gosto pela música clássica) (*);

(iii) Maria Eugénia (a nossa mãezinha e a célebre senhora tenente);

(ii) Silvério Dias (está encoberto o paizinho de todos nós, que era então, no meu tem+po, 1º sargento);

(iv) Dias Pinto (estava no mato, quando vinha a Bissau, colaborava nos noticários);

(v) Raul Durão (o 1º locutor do PFA);

(vi) José Manuel Barroso;  

(vii) João Paulo Diniz (um companheiro fraterno que me ajudou a soltar a voz sem medos)...

Em baixo:

(viii) Mário Feio, Júlio Montenegro (ensinou que a palavra é o corpo da rádio), Faride Magide (técnico do Emissor Regional e bom amigo a par do locutor Lopes Pereira que nunca mais ninguém ouviu falar dele), José Avelino, José Camacho Costa (a nossa amizade estendeu-se desde a adolescência no Colégio Nun'Álvares em Tomar até aos seus últimos dias de vida), Garcez Costa (aqui presente nesta narração) [, o último da direita].
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Notas do editor:

Último poste da série > 23 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10561: O PIFAS de saudosa memória (16): Compactos de gravação, Parte II: excerto áudio de "Noite 7" (emissão especial aos sábados) (Garcez Costa, ex-fur mil, 1970/72, ex-radialista)

(*) Guiné 1969/71: (...) "Sob o comando de António de Spínola, trabalhando de perto com Otelo Saraiva de Carvalho, chefia o Serviço de Radiodifusão e Imprensa, na Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica do comando-chefe. A imagem de Spínola acabará por marcá-lo decisivamente, havendo mesmo quem o considere um homem da 'entourage' do general, ou seja, um 'spinolista' " (...) (Fonte: Museu da Presidência).

Guiné 63/74 - P10649: Memória dos lugares (195): Elvas, património mundial da humanidade, pelo seu conjunto de fortificações, o maior do mundo na tipologia de fortificações abaluartadas terrestres



1. Mensagem de Fernando Laureano, autor do blogue Elvas Militar, com data de 25 de julho último, dirigida ao nosso grã-tabanqueiro Hilário Peixeiro:


Exmo Srº Coronel Hilário Peixeiro

Iniciei recentemente um Blogue (http://elvasmilitar.blogspot.pt/) onde tento abordar temas sobre as Unidade Militares e os militares que estiveram nas fileiras em Elvas.

Infelizmente tenho-me deparado com poucas coisas sobre este tema, assim venho solicitar o favor (se assim o entender) que me facilite documentos, fotos e mesmos histórias por si vividas que possam fazer parte deste blogue.

Através de pesquisas no sitio (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/) descobri que o senhor esteve em vários Quarteés em Elvas, venho pedir, alguns dos documentos acima referidos, mas mais importante de tudo são as suas histórias sobre o quartel.

Grato pela atenção dispensada
Atentamente

Fernando Laureano


2. Comentário de L.G.:


Fernando Laureano  vive em Lisboa e acompanha o nosso blogue. Natural de Elvas, tem  44 anos. De acordo com a sua apresentação, o seu pai foi militar em quase todas as Unidades de Elvas pelo que "passei muito tempo a brincar nesses quartéis quando era miúdo" e, mais tarde,  "estive no Regimento de Infantaria de Elvas como militar".

Recorde-se, por outro lado,  que Elvas possui um notável conjunto de fortificações cuja fundação remonta ao reinado de D. Sancho II, sendo considerado o maior do mundo na tipologia de fortificações abaluartadas terrestres. Possui um perímetro de oito a dez quilómetros e uma área de 300 hectares.

Este conjunto arquitetónico militar foi justamente classificado, em 30 de junho passado, como Património Mundial, na categoria de bens culturais, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Aliás, foram classificadas todas as fortificações da cidade, os dois fortes, o de Santa Luzia, do século XVII, e o da Graça, do século XVIII, três fortins do século XIX, as três muralhas medievais e a muralha do século XVII, além do Aqueduto da Amoreira.
 
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10596: Memória dos lugares (194): Ilhavo, Costa Nova... a terra do meu amigo e irmão mais velho e, porque não ?, meu camarada, o arquitecto Zé António Paradela, que hoje celebra 3/4 de século de existência, antigo marinheiro da pesca do bacalhau, último representante de um povo que tem o mar no ADN!... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10648: Agradecimentos aniversariantes de António Matos



1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e 
Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem de agradecimento:

A todos quantos, no âmbito deste espaço de muita espreitadela retrospectiva aos tempos que nos uniram de maneira indelével, me dirigiram os parabéns, eu agradeço reconhecido e emocionado. 

Perdi o contacto com a(s) tertúlia(s) e desgarrei-me de algumas/muitas afinidades não só com os tempos militares mas também com os companheiros com quem outrora privara. 

São os tempos actuais, também eles globais, também nós globalizados... 

A vida lá se vai passando com os encontros e desencontros com que o buliço diário nos faz esbarrar e nestes dias prenda-nos com um excesso de sensibilidade para certas coisas como que a compensar a falta de sensibilidade para outras e pelas quais passamos sem pestanejarmos nem olharmos para trás ... 

Acontece que as verdades de hoje o não serão amanhã daí que mantenha a postura saudável de que nos iremos aperfeiçoando, compreendendo melhor os outros e, quiçá, recuperar tempos vividos em mórbida letargia intelectual ... 

Vou dar uma vista d'olhos ao blog ... 

Abraços,

António Matos 
Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790 
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Nota de M.R.: 

Vd. o poste da série parabéns a você em: 

sábado, 10 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10647: Estórias cabralianas (75): O alfero na Casa dos Segredos (Jorge Cabral)

 1. Mais uma "estória para desopilar da crise", diz o nosso alfero que manda um "abração" para todo o pessoal...


Estórias cabralianas < O alfero na Casa dos Segredos

por Jorge Cabral

Há mais de sessenta anos que conheço esta Leitaria. Fica na Avenida do Brasil e quando eu era miúdo havia lá uma vaca. Uma vaca em plena Lisboa…Quando conto,pensam que é estória, mas não é, a Senhora Margarida, vendia o leite produzido à vista do cliente.

Hoje já não existe vaca nenhuma e quem lá manda é a D. Celeste, por acaso nada celestial, quase sempre mal disposta. A casa tem apenas duas mesas. Numa sento-me eu, a Eulália e o Ricardo, três velhotes, por sinal bem simpáticos. A outra está sempre ocupada por jovens, rapazes e raparigas, daqueles que” curtem bué”.

A Eulália e o Ricardo são, como se dizia antigamente, da minha criação e estão ambos reformados. Ela foi Professora Universitária e em tempos até me ofereceu o livro da sua Tese de Doutoramento-“Libido e Assimetrias Testiculares”. Calhamaço que muito elogiei, mas nunca li…Ele foi Notário, meu camarada em Mafra, fez a Tropa no Museu Militar. Somos Amigos. Conversamos…E às vezes também com os jovens.

Pois um dia destes, um deles, resolveu dissertar sobre a Casa dos Segredos. O difícil que era estar encerrado lá dentro,vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas com as mesmas pessoas.A pressão, ai a pressão..

Fiquei a pensar, recordando a minha vida em Destacamentos na Guiné. À noite fui espreitar o programa na televisão.E vi os matulões e as belas raparigas.Então resolvi.Sim. Fiz uma magia e das grandes..

Mandei os matulões para Missirá de 1970 e a mim, tornado jovem, para a Casa dos Segredos. No meio de Petras, Maras, Anas, Vanessas…não sei se vou aguentar…

Ai que pressão!


Jorge Cabral

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de outubro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10463: Estórias cabralianas (74): Danado para as cúpulas... (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P10646: Do Ninho D'Águia até África (25): O comboio das seis e meia (Tony Borié)

1. Vigésimo quinto episódio da narrativa "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177:


Do Ninho D'Águia até África (25)

O comboio das seis e meia 

O Setúbal, cujo verdadeiro nome era Jeremias, como devem de estar recordados, e o Curvas, o tal soldado alto e refilão, que não acatava ordens e gostava de mandar, e que todos diziam devia de ser general, estes dois militares, por actos de coragem e bravura em zonas de combate, foram louvados pelo comando, em cerimónia a preceito, no centro do aquartelamento, debaixo da enorme mangueira, que por sinal tinha sido baptizada com o nome de “Mangueira do Setúbal”, a tal árvore de grande porte, onde existem as tais gaiolas de macacos e periquitos.

Isto tudo na presença de todos os militares, seus companheiros. O Setúbal foi só louvado, mas o Curvas, alto e refilão, foi louvado e agraciado com uma medalha cruz de guerra, que o comandante do comando a que o Cifra pertencia, lhe propôs e que devia de ter vindo receber a Lisboa, por altura do dia 10 de Junho, mas o Curvas, alto e refilão, recusou-se a vir a Portugal, dizendo:
- Não, vou a Portugal, pois não tenho lá família, nem amigos, nem ninguém, toda a minha família e os meus amigos estão aqui, comigo, e quando eles forem, eu também vou. Era assim o homem.

Nesta cerimónia, o comandante falou durante algum tempo, com elogios constantes ao Curvas, alto e refilão, que o escutava, contrariado, e sempre a falar baixinho, e mais tarde, questionado pelo Cifra, sobre a expressão do seu rosto, e o que estava a pensar e a murmurar, ele disse-lhe que era qualquer coisa como isto:
- Deixa-te lá de merdas e dá-me lá isso, que para mim não adianta nem atrasa, se fosse de ouro e a pudesse vender, ou se me arranjasses mas era um bom emprego, quando deixasse esta guerra, e que pudesse criar uma família, é que me ajudavas, pois eu sei que quando daqui sair, se sair vivo, vou continuar a ser um desgraçado, a carregar a caixa de engraxar sapatos, e enquanto limpo os sapatos, com o estômago quase sempre vazio, alguns pensando que são pessoas importantes, com o estômago cheio de bifes e outra iguarias, arrotam e cospem para o chão, e às vezes até me acertam, mas se isso voltar a acontecer, vou matar um, lá isso vou, e sei que vou parar à cadeia e continuar sem família, desprezado por todos. A única família que vou ter, vai ser a caixa de engraxar sapatos.

E o Cifra viu-o fechar os olhos um pouco, abrindo-os de novo, pestanejando, pois o sol batia-lhe na face, e ele disse que o seu pensamento não parava, quase que falava alto e murmurava qualquer coisa como isto:
- Anda lá comandante, dá-me lá isso, que estou cheio de sede, pois estou aqui a apanhar sol, sem necessidade.

O comandante, quando acabou os elogios, coloca-lhe a medalha, no peito, que o Curvas recebeu, mas sempre a falar baixinho, com uma cara de quem queria matar alguém. Só se riu um pouco quando viu o Trinta e Seis a chegar junto dele e abraçá-lo, e logo lhe disse:
- Estou cheio de sede, temos que ir beber qualquer coisa, deixa eles continuarem, enquanto estão aqui todos reunidos, vamos à enfermaria roubar o frasco do álcool ao “Pastilhas”, para mais tarde misturamos com água e gelo e uma azeitona salgada, que o Cifra vai trazer da messe dos sargentos.


Em seguida o comandante voltou de novo aos elogios, mas desta vez, ao Setúbal, e entre outras coisas diz:
- Homem bravo e com coragem, arriscou a vida para salvar os seus companheiros, debaixo de fogo, lutou, sem virar a cara às balas, bendita a nação que tem filhos destes, blá, blá, blá.

O Setúbal, envergonhado com tantos elogios, olhava o Cifra, tentando piscar o olho e abanar a cabeça, em sinal de desconforto, ao mesmo tempo que pensava, pelo menos foi o que disse depois ao Cifra, qualquer coisa como isto:
- Nação que tem filhos destes, alto lá, pára lá com isso, eu sou filho da minha mãe, pelo menos era ela que me dava de comer e me criou, quando era pequeno.

Afinal o Cifra tem razão quando diz que disseram à mãe dele que ele já não era seu filho, mas sim filho da nação. Quando o comandante acabou de falar, todos bateram palmas e, já com a cerimónia acabada, o Setúbal, tal como tinha antes combinado com o Cifra, depois de fazer a respectiva continência, pondo-se em posição de sentido, dirigiu-se ao comandante, na frente de todos, mais ou menos com estas palavras.
- Meu comandante, se me dá licença, com todo o respeito, queria pedir-lhe se podia ter como prémio, além de todos estes elogios, uma pequena licença de umas semanas e uma possível viagem a Portugal, nos aviões da Força Aérea. Esses aviões por sinal andavam sempre cheios com as famílias de militares importantes, principalmente esposas. Era isto que interessava ao Setúbal, pois queria pedir a namorada em casamento, estar com ela e com os pais. O comandante, na frente de todos, acedeu. E disse que ia pedir à Força Aérea um lugar e que quando houvesse vaga, lhe comunicaria.

Que alegria! Passadas umas semanas, o Setúbal pede ao Cifra para lhe cuidar do seu macaco e do periquito, pede-lhe umas calças e uma camisa, de roupa civil, que lhe ficavam a matar e que ao Cifra eram largas, com umas botas nos pés, que já conheciam o som do rebentamento de granadas de morteiro e de uma metralhadora, e tinham visto por diversas vezes a cor do sangue, alguns mortos em combate, vem para Portugal.

Quando regressou, em conversa normal, pois por muito tempo a conversa entre os dois era só a sua viagem a Portugal, que por vezes chegava a pormenores, em que o Cifra lhe dizia:
- Isso são coisas que só tu e a tua noiva devem saber, portanto cala-te.

Mas ele às vezes insistia e talvez querendo desabafar, dizia:
- Mas a minha mãe desconfia, eu conheço-a e sei ler o seu pensamento, pelo menos na despedida no aeroporto, ela percebeu tudo. Mas continuando com a história, disse ao Cifra que foi o último a entrar no avião e que viajou com o saco do exército, com alguns trapos, sempre em cima dos joelhos, pois o avião ia cheio com as tais pessoas importantes, principalmente senhoras, ia quase urinando nas calças, pois só teve oportunidade de ir uma vez ao quarto de banho, pois ia nos últimos lugares, e as senhoras, parece que combinadas, iam fumar, algumas, fumavam cigarros de cheiro agradável, arranjar o cabelo e as pinturas, e entregavam o quarto de banho, umas às outras.

Em Portugal, entre outras coisas, pediu a mão da namorada em casamento aos pais e talvez mais qualquer coisa, que ele às vezes queria confessar, mas o Cifra não lhe dava oportunidade de falar nesse assunto, fizeram uma grande festa, mostrou algumas fotografias, convive com a família e amigos, anda durante esse tempo, numa vida de herói e depois de fazer tudo o que entendia que devia de ser feito, vem para o aeroporto, com a namorada, que nessa altura já era noiva, a abraçá-lo, não o largando, beijando-o em tudo o que era face, e não só, chorando e sempre que o beijava nos lábios, fazia-o comer alguma baba e ranho, mas era baba e ranho, com sabor a sal e de amor, disso tinha ele a certeza, prometendo-lhe sempre que o esperava, que não só ela, nas suas orações, também a Nossa Senhora de Fátima o iam proteger, pois o senhor Prior todos os domingos iria mencionar o seu nome e de outros combatentes na missa, na altura do Espírito Santo. Quando ele já ia a caminho do avião, ela olha-o e num último suspiro, quase que grita:
- Até breve meu amor, já sou tua e continuarei a ser.

A mãe do Setúbal, ao ouvir isto, não conteve um desabafo e quase em surdina, diz:
- Eu já sabia, minha grande p..., ai, que nem quero mencionar o nome que ia para dizer, que o Santíssimo que está no céu me perdoe e salve a minha alma.

Mas logo em seguida, pega num lenço, que também servia de porta moedas, pois era lá que enrolava os seus míseros trocados, limpando os olhos chorosos, o nariz e a boca, retoma o seu pensamento e diz baixinho:
- Meu Deus, o que eu ia para dizer, pois ela vai ser a minha nora, mas a verdade é que é uma grande descarada, a mãe nunca teve mão nela, era só bailes e festas, e o meu filho todo contente atrás dela nem teve tempo para mim, pois na companhia dela sentia-se livre e andava sempre contente, porque lá na África andou sempre a dar o corpo às balas. Andavam sempre juntos, oxalá não esteja prenha, mas se estiver, logo que a criança venha perfeita, é meio caminho andado, e logo que o meu filho, regresse vivo.

Bem, mas continuando, a mãe, deu-lhe uma saca com alguma coisa para comer, do que ele guardou parte, para dar ao Cifra e regressa ao cenário de guerra, com uns quilos a mais, uma cor de pele diferente, cheio de boas maneiras. O Curvas, alto e refilão, na sua reles linguagem, dizia:
- O Setúbal, regressou um pouco “amaricado”.

A primeira pessoa que vai ver é sem dúvida o seu amigo Cifra. Dá-lhe um forte abraço, e puxando do jornal, que trazia consigo, diz:
- Oh pá, o teu comboio descarrilou, lê este jornal.

No “Primeiro de Janeiro” vinha tudo explicado, com fotografia e tudo. O Cifra, imediatamente reconheceu a locomotiva, ao fundo da encosta. Era a 1135, estava de lado, e duas carruagens a acompanharem-na pela encosta a cima. O seu pai e alguns vizinhos, seus conhecidos, também estavam na fotografia. O Cifra, passou a mão pela fotografia do jornal, com os olhos fechados e o pensamento bem longe, pois o acidente ocorreu a umas centenas de metros da casa onde nasceu o Cifra, que nessa altura se chamava To d’Agar, na aldeia do vale do Ninho d’Aguia, quando o comboio das seis e meia descia, apitando aflito, em direcção ao mar. Naquela encosta, quando criança, o Cifra, que naquela altura se chamava To d’Agar, andava por ali na companhia dos seus irmãos e alguns amigos, que entre outras coisas procuravam ninhos de melro e rouxinol, nas silvas e arbustos em volta do ribeiro que passava ao fundo do vale, e de rola e perdiz, nas terras mais altas.

OBS: - Ilustrações de Tony Borié
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10627: Do Ninho D'Águia até África (24): O nosso Cabo Reis (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P10645: Estórias do Gabu (7): O soldado básico que um dia se passou para o lado do inimigo...(Tino Neves, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71)

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71) > Do lado direito, o Tino Neves, 1º Cabo Escriturário, e do lado esquerdo o soldado básico, cozinheiro, A..., em serviço de PU - Polícia da Unidade. O António (nome fictício), acusado justa ou injustamente de ser amigo do alheio, acabou por fugir para o PAIGC...

Este texto esteve para ser publicado em abril de 2007 (, chegou a ser editado sob o nº 1645,  e devia inaugurar a série Estórias do Gabu)  (*). Por razões editoriais, ficou em "stand by". Fomos há dias recuperá-lo, que só vem provar que na nossa Tabanca Grande "nada se perde, tudo se transforma"...  Afinal, é a história de um "desertor", contada por um camarada que com ele privou e conviveu... (LG)

Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.


1. Texto enviado pelo nosso camarada Constantino  (ou Tino) Neves, ex- 1º Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71):

Conheci em tempos um camarada nosso que, em Nova Lamego, desertou para o PAIGC. Não me compete fazer juízos de valor sobre o seu comportamento.

Trata-se do soldado auxiliar de cozinheiro A..., de que mando foto, em que está marcado com uma seta a branco [Por razões óbvias, não queremos identificá-lo]... A foto foi tirada no salão do Cinema de Nova Lamego, numa festa de variedades, em que actuava uma cantora vinda da Metrópole, do Seixal, e eu estava de Cabo de Dia. Como o Furriel destinado à Polícia da Unidade (PU) se tinha baldado, o Oficial de Dia, o Capitão, Comandante da CCS, mandou-me substituir o Furriel, e assim aproveitei para ir assistir às variedades.

O soldado A... já era velhinho (de 1966), e fora mobilizado para a Guiné, por castigo, pelo vício que tinha - dizia-se ! -  de se "apropriar do alheio", vício de que não se curou, tendo assaltado um dia, aliás uma noite, a Sala do Soldado e roubado 20.000$00 [, vinte contos,], que era bastante dinheiro na altura.

Em Fevereiro de 1970 foi punido com 10 dias de prisão disciplinar agravada e em Março de 1970 novamente com mais 10 dias de prisão disciplinar agravada, referente ao mesmo delito, dados por Bafatá.

E,  em face disso, nós dizíamos-lhe que ele iria apanhar 20 anos, 1 ano por cada conto roubado, quando a Ordem de Serviço (O.S.) chegasse ao General Spínola. O pobre coitado acreditou, de tal maneira que pediu a um elemento civil, a trabalhar no quartel (velho), nas limpezas, para que o ajudasse a fugir e que o levasse para junto do PAIGC. O pedido foi aceite, e ele fugiu.

Mais tarde, em alguns ataques, foram deixados nos locais de onde nos atacavam, vários papéis supostamente escritos pela mão do soldado A..., a solicitar para que fizéssemos o mesmo, que seríamos bem recebidos, como ele, que estava muito satisfeito, porque agora ele era o cozinheiro de serviço dos guerrilheiros.

Também havia relatos de que, em várias emboscadas, chegaram a ouvir ex-militares portugueses a gritar do outro lado, dizendo o seu nome, posto e nº mecanográfico, e que se entregassem, porque estávamos do lado errado.

Portanto, o soldado básico A... não fugiu por motivos políticos, mas sim por medo à prisão. Isto é o que eu presumo. De qualquer modo, era uma situação diferente da de outros, desertores ou refractários, que, na metropóle, arriscaram a fuga nos Altos Pirinéus e a possibilidade de serem capturados ou mesmo alvejados pela polícia.

Um Abraço
Tino Neves

2.  Comentário do editor:

Tino:  O teu camarada A..., soldado básico,  seria apenas um "pobre diabo", como se percebe pela tua versão dos acontecimentos.  Não sei se  ainda é vivo e tem família, amigos, vizinhos, se vive algures em Portugal, e até se poderá vir a ter conhecimento deste poste... Espero bem que sim, que esteja vivo e de boa saúde.

Como sabes, o nosso blogue não é nenhum tribunal (muito menos  militar). E não faz  justiça, muito menos por suas mãos. Como qualquer um de nós que passou pelo TO da Guiné,  o teu camarada A... tem o direito ao bom nome e reputação, tem direito à imagem, tem direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar, de acordo com o nº 1 do art. 26º da Constituição da República Portuguesa... Tem direito a defender-se, se for caso disso. Daí tu e eu não o termos identificado. E mais:  termos retocado a foto que nos mandaste... De qualquer modo, presumimos este caso seja público e notório, podendo toda a gente da tua CCS corroborar, confirmar ou infirmar a tua versão dos factos. Sabes disso, e por isso também não pode ser posta em causa a tua boa fé.

Lembras-te que esta história teve uma vida atribulada no blogue. Devia a estória do Gabu nº 1. Não o foi. Mas achamos que deve ser publicada, ao fim destes anos, apenas com um título diferente daquele que tinhas sugerido. Será a nº 7.  Quero que saibas que tens jeito e talento para contar estas histórias de caserna, passadas na "tua" Nova Lamega. Obrigado pela tua colaboração. Ficamos à espera de mais.
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1844: Estórias do Gabu (6): Já chegámos à Madeira, ou quê ?! (Tino Neves)

Guiné 63/74 - P10644: Parabéns a você (492): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10639: Parabéns a você (491): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71) e Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo da CART 2330 (Guiné, 1968/69)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10643: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte V): O subsetor de Empada

1. Continuação do texto de Manuel Serôdio sobre a história da sua CCAÇ 1787:


Alguns dados sobre Empada, Gubia e Ualada

(i) Empada

- Empada é uma sede do posto administrativo do Cubisseco, tendo aproximadamente uma população de 3000 habitantes.

- Quase todas as etnias  da província estão representadas em Empada, embora a maioria sejam Beafadas. As outras etnias são os Manjacos, Fulas, Mandingas, Bijagós, Balantas e Mancanhos.

- A grande parte da população dedica-se à agricultura. As outras atividades são a caça e a pesca.

- Cultiva-se o arroz, a mancarra, o milho, o feijão, o fundo e pouco mais.

- Pesca-se a bicuda, a tainha, o barbo, a corvina, e muitas outras espécies.

- A caça é muito abundante na zona, principalmente na época das queimadas. As espécies mais vulgares são o porco de mato, a gazela, a cabra de mato e o sim-sim

- A povoação de Empada encontra-se toda dentro do arame farpado, com abrigos em toda a volta, que são defendidos em conjunto por civis e militares.

- Quase todas as famílias têm o seu abrigo junto à tabanca, onde se recolhem durante os ataques.

(ii) Ualada

- Ualada era uma tabanca junto à bolanha do mesmo nome, e junto à qual existiu um destacamento defendido por 2 grupos de combate. Tendo o destacamento sido abandonado e destruido pelas nossas tropas, a população de Ualada, refugiou-se em Empada.

(iii) Gubia

- O destacamento de Gubia, foi construído com a finalidade de atrair para o nosso lado a população daquela zona inteiramente controlada pelo inimigo. Era totalmente constituído por casernas abrigo, defendido por 3 grupos de combate.

Por ter sido decidido não haver vantagem, foi o destacamento de Gubia destruido e evacuado pelas nossas tropas. Durante a permanência das nossas tropas na zona de Gubia, foram recuperados vários elementos da raça Mancanha, que posteriormente foram viver para Empada.


Atividade desenvolvida pela unidade no subsetor de Empada

1968
Janeiro


- Picagem e patrulhamentos diários às estradas para o cais, Ualada e à pista de aterragem.

- Segurança aos aviões e barcos que demandaram Empada.

Fevereiro


- Picagem e patrulhamento diários às estradas para o cais, Ualada e à pista de aterragem.

- Segurança aos aviões e barcos que demandaram Empada.

- Patrulha ofensiva contra um grupo inimigo detetado pela população civil que se encontrava a trabalhar na bolanha. A força que saiu, estabeleceu contato com o inimigo, que vinha armado com pistolas metrelhadoras e lança-roquetes. Imediatamente outra força saiu do quartel, além de muitos elementos da população que correu para o local de contato, sem no entanto terem chegado a atuar, pois o inimigo pôs-se em fuga.

Março

- Picagem e patrulhamento às estradas para o cais, Ualada e à pista de aterragem.

- Segurança aos aviões e barcos que demadaram Empada.

- Operação "Pedal"

Situação:

- O inimigo desloca-se com frequência à zona de Missirá-Buduco, com o fim de patrulhar a área e emboscar as nossas tropas.

Missão:

- Patrulhar a zona, verificar o estado da estrada até ao cruzamento de Buduco, verificar a localização habitual dos canhões sem recuo e morteiros de 82 do inimigo, possibilidades de armadilhamento, e o estado da mina anti-pessoal montada pelas nossas tropas em Cancumba Beafada.

Forças executantes

- 1 grupo de combate da Companhia 1787

- 1 grupo de combate da Companhia de Milícias n° 6

Sem contato.


Operação "Tentativa"

Missão:

- Patrulhar a região entre Cancumba Beafada e o cruzamento de Caur, a corta mato, procurando encontrar vestígios da passagem do inimigo. Verificar no respetivo cruzamento, quais os pontos mais favoráveis, não só ao inimigo para montagem de emboscadas às nossas tropas que utilizem o itenerário Empada-Gubia, como também os pontos mais favoráveis às nossas tropas, por forma a montarem emboscadas a elementos inimigos que pretendam atuar no referido itenerário, a partir da penísula da Pobreza.

Deitar fôgo ao capim que se encontra altíssimo, de modo a dificultar o inimigo na montagem de emboscadas às nossas tropas.

Forças executantes:

- 1 grupo de combate da Companhia 1787

- 1 grupo de combate da Companhia de Milícias n°6

Sem contato

Operação "Liga"

Missão:

- Operação destinada a proceder à rendição de 1 grupo e combate da Companhia 1791 e de 1 grupo de combate da Companhia de Milícias n°6

Forças executantes:

- Destacamento A: 1 grupo de combate da Companhia 1787

1 grupo de combate da Companhia 1791

1 grupo de combate da Companhia de Milícias n° 6

- Destacamento B: 1 grupo de combate da Companhia 1787

1 grupo de combate da Companhia de Milícias n° 6

- Destacamento C: 1 grupo de combate da Companhia 1787

- Destacamento D: 1 grupo de combate da Companhia 1787

A rendição processou-se sem incidentes


Operação "Querubim"

Situação:

- A tripulação do navio "Formosa" avistou um grupo não identificado superior a 50 elementos na área da península defendida por Buduco, Bricama, Gã-Chiquinho, Formoso Curto e Bisauzinho, a qual hà muito não é patrulhada pelas nossas tropas.

Missão:

- Patrulhar a área e reconhecer o terreno, com especial atenção para os prováveis locais de desembarque. Em caso de encontro com o inimigo, aniquilá-lo.

Forças executantes:

- 1 grupo de combate da Companhia 1787

- 1 grupo de combate da Companhia 1791

- 2 grupos de combate da Companhoa de Milícias n°6

Sem contato nem vetígios.

Emboscada realizada por forças do destacamento de Gubia em 27 de Março
Forças executantes:

- 1 grupo de combate da Companhia 1787

- 1 grupo de combate da Companhia de Milícias n° 6

Montada a emboscada pelas 3 horas da madrugada, cerca de 1 hora depois, revelou-se 1 grupo inimigo, com o efetivo entre 15 e 20 elementos, vindos da direção de Caunto, todos eles armados, trazendo 2 elementos mais destacados, que foram eliminados. O inimigo reagiu imediatamente, travando-se intenso tiroteio de cerca de dez minutos, após o que o inimigo retirou. Ao amanhecer foi efetuada uma batida pela nossas tropas. O inimigo sofreu 4 baixas confirmadas e mais baixas prováveis.

Foram capturadas

- 1 espingarda Mosinagant
- 20 granadas de canhão sem recuo
- 5 granadas de morteiro 82
- 5 granadas de lança granadas foguête
- 1 carregador de metrelhadora ligeira Degtariev
- 1 carregador de pistola metrelhadora Sudayev
- 1 carregador de espingarda Kalashnicov
- 1 bornal
- 100 cartuchos

Sem incidentes para as nossas tropas.

Durante uma patrulha efetuada na região de Pedingal-Lala (Gubia), foi detetada e destruida no local, uma mina anti-pessoal.

Abril


- Picagem e patrulhamento às estradas para o cais, Ualada e à pista de aterragem

- Segurança aos aviões e barcos que demandaram Empada.


Operação "Quaresma"

Operação destinada à rendição de 1 grupo de combate da Companhia 1787 e de 1 grupo de combate da Companhia de Milícias n° 6 no destacamento de Gubia.

Forças executantes:

- 4 grupos de combate da Companhia 1787

- 3 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Sem incidentes

Maio

Operação "Quimera"

Situação:

- a Companhia possui 1 destacamento em Gubia. Torna-se necessário render 1 grupo de combate da Companhia 1787, e 1 grupo de combate da Companhia de Milícias n° 6 naquele destacamento. Em 13 de Maio, 1 grupo inimigo não estimado, efetuou fôgo de reconhecimento na região do cruzamento Caur, e de seguida lançou 3 granadas de morteiro de 60 na direção de Empada.

Missão:

- bater a área do cruzamento Caur, e atuar ofensivamente sobre os elementos inimigos que se revelassem.

- montar emboscadas próximo do referido cruzamento, por força a criar insegurança ao inimigo.

- patrulhar o itenerário Empada-Gubia.

- proceder à rendição.

Forças executantes:

- 2 grupos de combate da Companhia 1787

- 4 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Nas proximidades da estrada que conduz à Pobreza, foi avistado ao longe 1 grupo inimigo de 8 a 10 elementos. Tentou-se a aproximação, mas fomos detetados. Foram lançadas 2 secções em sua perseguição durante cerca de 500 metros, mas suspenderam a mesma, por não haver possibilidades de sucesso. Feita uma batida de sul para norte, constatou-se que o grupo inimigo estivera emboscado no cruzamento de Caur. Processaram-se em seguida os movimentos necessários à rendição sem mais incidentes.
Operação "Queimadura"

Situação:

- a Companhia possui un destacamento em Ualada, que tem sido flagelado com uma certa frequência do lado de Aidará, embora por pouco tempo, e com armas ligeiras.

- a península de Faracunda, hà muito que não é patrulhada, e torna-se necessário verificar as cambanças possíveis da bolanha de Aidará.

Missão:

- patrulhar ofensivamente a área entre Empada e Faracunda Balanta, e montar neste último local, uma rede de emboscadas.

Forças executantes:

- 1 grupo de combate da Companhia 1787

- 1 grupo de combate da Companhia 1791

- 2 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Sem contato nem vestígios.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P10612: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte IV): As Nossas Tropas

Guiné 63/74 - P10642: Agenda cultural (233): Cabo Verde, ilha de Santiago: 20 º Festival Sete Sois Sete Luas, sábado e domingo, na mítica Cidade Velha de Santiado, património mundial da humanidade




1. Notícia transcrita, com a devida vénia, do jornal Liberal 'on li ne', de 8 do corrente:


CADA DIA DO SETE SÓIS SETE LUAS VAI TER 7 AGRUPAMENTOS

Com o número sete em agenda, a cidade Património Mundial associa-se (respeitando a sua cabalística) ao certame que tem por Presidente Honorário o Chefe de Estado. O Largo do Pelourinho volta a encher nas duas intensas noites do certame – 10 e 11 de Novembro

Cidade Velha, 8 de Novembro 2012 - São sete os grupos que, adequadamente, vão subir ao palco do Largo do Pelourinho, Cidade Velha, quer no dia 10, sábado, quer no dia 11, domingo, para animar a XX edição do Festival Sete Sóis Sete Luas: é esta a maneira da cidade Património Mundial se associar (e respeitar a sua cabalística) ao certame que tem por Presidente Honorário o Chefe de Estado.

Assim, no sábado, apresentam-se dois grupos de batuco (Nós Eransa e um agrupamento de Tarrafal de Santiago), seguindo-se o animadíssimo agrupamento teatral vindo do País Basco (Espanha), Deabru Betzak, que durante uma hora fará vibrar as ruas do Berço da Nação. Depois, desfilam Primitivi e Banda Larga (especialmente vindos da Praia e da Calheta de S. Miguel). Será a vez de se fazer ouvir o cearense forró de Culá de Xá (Brasil) para a já avançada noite encerrar com Sumara.

No dia seguinte, domingo, o espetáculo abre (às 16h30) com o excelente teatro cabo-verdiano: é o muito popular Tikay, já que este ano teatro e música cruzam-se no Sete Sóis Sete Luas. Depois, ouve-se de novo o arrepiante som do batuco, com agrupamentos de Chã Gonçalves e de Santa Cruz, a que se soma um espetáculo com uma das mais recentes revelações de Cabo Verde, Carlos. Bob entra no palco antes do muito especial som trazido de Portugal por Melech Mechaya, culminando o Festival com chave de ouro - o violino de Nho Nani. (**)
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Notas do editor:

Último poste da série > 9 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10641: Agenda cultural (232): Lançamento do livro Jaime Neves, por Rui de Azevedo Teixeira, dia 25 de Novembro de 2012, em Lisboa (Maria Teresa Almeida)

(*) Sobre a Cidade Velha de Santiago:

(....) "A Cidade Velha localiza-se no concelho da Ribeira Grande de Santiago, a 15 quilômetros a oeste da Praia, na costa de Cabo Verde. Constitui-se na primeira cidade construída pelos europeus nos trópicos e na primeira capital do arquipélago de Cabo Verde. Foi primitivamente denominada como Ribeira Grande, vindo a mudar de nome para evitar ambiguidade com a povoação homónima, na ilha de Santo Antão.

"A 10 de junho de 2009 foi classificada como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. Devido à sua história, manifestada por um valiosos património arquitetónico, a 26 de junho do mesmo ano foi classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade" (...) (Fonte: Wikipédia)

(...) "As Maravilhas de Portugal no Mundo - Cidade Velha de Santiago, Cabo Verde: 13 Mai, 2009, 11:06

"A RTP está este mês a mostrar-lhe as maravilhas portuguesas no mundo. Em Cabo Verde, a poucos quilómetros da Praia, fica a Cidade Velha de Santiago, a primeira cidade portuguesa a sul do Saara. Esta cidade teve um papel fundamental no desenvolvimento do comércio mundial e na navegação de longo curso, tendo sido importante para o aprovisionamento de navios e um entreposto de escravos." (...) (Fonte: RTP. Vd. vídeo aqui)


(**) Que honra a tradição de Nho Travadinha!...Cabo Verde é terra de grandes músicos, autodidatas, de enorme talento, que sobreviveram a tudo (ao isolamento, às incursões dos piratas, à seca, à fome, à pobreza...), gente brava de um povo, nosso irmão, como esse fabuloso Travadinha, e cujo som o João Graça (n. 1984) dos Melech Mechaya bebeu com o leite materno... Ainda no tempo dos discos de vinil, que se tocavam lá em casa...

Para mim, o Travadinha (1937-1987) é um dos expoentes máximos da "alma" de Cabo Verde... Infelizmente morreu cedo de mais... Hoje seria um artista com projeção mundial. Foi em 1981, quando veio pela primeira vez a Lisboa, tocar, que o seu talento, o seu virtuosismo, ultrapassou as pequenas fronteiras. Memorável é o seu disco Travadinha no Hot Club (gravado ao vivo em 1982) e editado em 1992. Caros amigos e camaradas, deliciem-ase com este "Maria Barba" (disponível no You Tube), e que é um dos temas do diso de 1992.

Ouçam, por fim,  o seu violino a "chorar" em  Papa Joaquim Paris, um tema tradicional que a Cesária Évora imortalizou.

Guiné 63/74 - P10641: Agenda cultural (232): Lançamento do livro Jaime Neves, por Rui de Azevedo Teixeira, dia 25 de Novembro de 2012, em Lisboa (Maria Teresa Almeida)

1. Mensagem da nossa amiga Maria Teresa Almeida, da Liga dos Combatentes, com data de 8 de Novembro de 2012, com pedido de publicação do convite para a apresentação do livro "Jaime Neves" por Rui de Azevedo Teixeira:

Bom Dia, meu Estimado Combatente Sr. Carlos Vinhal
Venho mais uma vez solicitar, se possível, e se assim o entender, a divulgação do Livro JAIME NEVES, conforme consta do convite, que junto envio.

Dia 25 de Novembro, pelas 17h00, na FNAC do CC Colombo. 
Apresentam o livro o Sr. General Ramalho Eanes e o cineasta António-Pedro Vasconcelos.

Com o meu abraço de imensa gratidão
Maria Teresa Almeida


C O N V I T E

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10638: Agenda cultural (231): VISITAS GUIADAS Exp. Álbum de Memórias - Índia Portuguesa 1954.1962

Guiné 63/74 - P10640: Notas de leitura (427): "África Misteriosa", de Julião Quintinha (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Agosto de 2012:

Queridos amigos,
Julião Quintinha foi premiado no Concurso de Literatura Colonial de 1928. Já publicara “Oiro Africano”, depois “Derrocada do Império Vátua e Mouzinho de Albuquerque”, logo a seguir veio esta “África Misteriosa”, mas não ficou por aqui.
Era criticado por ser imoral nas suas descrições, razão pela qual os seus livros estavam desaconselhados a senhoras, censurado pelas descrições de pretos e pretas nus e de porte lascivo e dissolvente.
Revela-se nestas páginas embriagado por mercados bizarros, moças seminuas e até por uma rapariga fula, limpa de pele doirada que lhe veio trazer um púcaro de barro e cujos seios pareciam invertidas taças moldadas e brunidas em ouro rosado…

Um abraço do
Mário


África misteriosa – A Guiné, por Julião Quintinha

Beja Santos

Julião Quintinha foi nome sonante do jornalismo e publicou um conjunto de obras entre a reportagem, as crónicas de viagem, as novelas e os opúsculos. Republicano e maçom, iria enfileirar na oposição a partir da ditadura, o seu nome aparecerá associado a candidaturas oposicionistas, como a de Humberto Delgado.

Em finais dos anos 20, permitiu-se a uma longa ausência para deambular pelas colónias da África Portuguesa. “África Misteriosa” é produto dessa longa deambulação. Quintinha tem uma escrita impressiva, lúbrica, politicamente contumaz, provocando e ajudando à reflexão. Saiu do cais de Alcântara, passou pela Madeira, deliciou-se a contar o que era a vida a bordo, percorreu pontos importantes de Cabo Verde e após 3 dias e 3 noites a bordo do “Congo” chegou à Guiné. Chegou inquieto, talvez não refeito do susto, houvera três noites de água e vendaval, agora era uma aragem quente, o piloto atento ao lodo desde a ponta de Caió, entrando pelo canal do Geba conduzido pela barca do piloto, assim descrito: “Um Neptuno negro de grande capacete e maior aparato, que conduz o navio ladeando os bancos de Arlette, São Martinho, Gambia, marcados a boias iluminadas”. É posto em terra por quatro remadores manjacos e descreve assim o encontro com a cidade: “Nas ruas sujas de Bissau cruzam os hercúleos Papéis, com cara e brincos de mulher, lenços berrantes toucando a carapinha e um farrapo à cinta maculando a escultural nudez. Correm, aos pulos, balantas, maliciosos ladrões, numa nudez obscena e de gorra vermelha. E arrastam-se preguiçosamente, os mandingas, intrujões e mercadores, rojando seus mantos árabes”. Não sabemos baseado em que dados mas Julião Quintinha fala em 12 raças, refere fulas de óculos, turbante e bules de cobre para as oblações, a cidade rescende a pântanos lodosos, tem qualquer coisa de gravura de jornal antigo.

O repórter passeia-se, parece que o estamos a ver a sair do cais do Pidjiquiti e a entrar na área hoje correspondente ao Bissau Velho: “Às portas dos bizarros estabelecimentos flutuam tecidos estrangeiros, sobre alpendres, os alfaiates fulas, cosem, à máquina, grandes peças da sua indumentária”. Ficamos igualmente a saber que estão ali à venda mel, frutos, mancarra, pãezinhos de arroz, mariscos, bacalhau podre, bolinhos de coco, carne com varejas e cola, mas também os mandingas vendem missangas e contas de mil cores, pulseiras e manilhas, cola e torrões de açúcar. Muita gente se passeia sob guarda-sol e anota: “Têm a paixão dos chapéus-de-sol, dos molhos de chave à cinta, cordas a tiracolo, búzios ao pescoço, lenços vistosos na cabeça, tudo ronco”. Um jovem mandinga pergunta a Julião Quintinha se na sua terra também há pretos e se a polícia dava porrada. O jornalista dirige-se para a Amura e encontra à porta a sentinela descalça e pilhas de granadas e não resiste a um toque de exotismo ou feitiço africano: “Ao largo cai uma lua triste no Ilhéu dos Feiticeiros, envolvendo as árvores sagradas onde os Papéis celebravam funerais aos seus chefes e ainda hoje, na lua de Março, as suas ceitas realizam os grandes ritos”. Então desabafa: "Só há pouco começamos a cumprir aqui a nossa missão colonizadora. Fizemos nestes cinco séculos de ocupação”. Está dado o mote para introduzir o descobrimento da Guiné, o negócio dos escravos, referindo mesmo que em 1690 a companhia de Cacheu e Cabo Verde fora autorizada a introduzir na Nova Espanha 10 mil toneladas de negros. Quanto a povoações, havia a registar Ponte da Cruz, nas margens do Buba e São Filipe no Cacheu, mais tarde Geba e Farim. Bissau era um palpável documento do desleixo nacional. Bolama era de recente data e nada depunha a favor do seu passado. Acresce que 500 anos não tinham chegado para uma pacificação que permitisse a europeus e indígenas trabalho e progressivo e consolador e assim remata: “Um vasto continente rebelde, selvagem, minado de febre, sem dinheiro, sem ordem, sem administração – eis a Guiné de há 20 anos”. Considera positiva a demolição das velhas e inúteis muralhas de Bissau, foi o ponto de partida para a expansão e o saneamento da cidade. Falando do capitão Teixeira Pinto, refere-o como o herói da pacificação do território, dizendo mesmo “Não encontrei nestas terras nome português venerado com mais carinho”.

O repórter vai viajar fora de Bissau, atravessam o Impernal e vão até Mansoa. Não se cansa de salientar a nudez dos corpos, corpos bronzeados e luzidios. De Mansoa vão até Farim, passam pela tabanca de Cutia e almoçam em Banjara, diz ele que sob um sol doente. Após uma viagem de cinco horas, já com as pupilas fatigadas da insistência monótona da sinfonia verde, chegam a Bafatá e, não sabemos quem lhe deu a informação, diz ser povoação vizinha do Senegal. É uma descrição colorida, impetuosa, é um discurso dos cinco sentidos. Ele tem ali uma entrevista com Vasco Calvete de Magalhães e falará também com Samba-Li, régulo de Bafatá, grande amigo dos portugueses, tenente de segunda linha, mas logo acrescenta que o maior chefe indígena da Guiné é Monjur, régulo do Gabu, com 70 anos, 100 mulheres e 5 mil cabeças de gado.

A próxima incursão será Bolama, com amplas praças, ruas alinhadas, sente-se um ambiente simpático de renovação. É singelo a anotar tudo quanto ouviu do governador, técnicos, colonos e funcionários: “Na Guiné ainda há muitíssimo que fazer, mas ela está bastante longe daquele pessimismo que a considerava uma zona de morte”. O haver muitíssimo que fazer é indispensável para melhorar a vida de 1 milhão (onde é que Julião Quintinha foi buscar este número?) de indígenas, havendo a deplorar que o problema sanitário está muito de se considerar resolvido, que é só a indústria estrangeira a abastecer os mercados e que faltam medidas de fomento. A Guiné é rica, ele não se cansa de observar. E o navio vai largar, ele despede-se de Bolama à luz dos relâmpagos de uma colossal trovoada. Em Bissau, Julião Quintinha tomará o “Guiné” para rumar até São Tomé e Príncipe.

Não podemos ficar insensíveis ao que é dito implícito e explicitamente. A Guiné está a dar os seus primeiros passos como território pacificado e digna de ser tratada como Guiné Portuguesa.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10621: Notas de leitura (426): O meu serviço cívico na Guiné, em 1991 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10639: Parabéns a você (491): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71) e Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo da CART 2330 (Guiné, 1968/69)

Um abraço especial do editor de serviço para estes dois aniversariantes em Leça da Palmeira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10624: Parabéns a você (490): Jorge Cabral, ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)