domingo, 23 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10851: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (6): Mensagens de Natal dos nossos tertulianos (1)

MENSAGENS DE NATAL DOS NOSSOS TERTULIANOS






António Barbosa foi Alf Mil Op Esp/RANGER na 2.ª CART/BART 6523, em terras de Cabuca, nos anos de 1973 e 1974


Votos de Boas Festas



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Carlos Rios, Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66


O natal é sempre que um homem/mulher quer!
Saudações amigas



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Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69


Feliz Natal 2012 





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Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74

Boas Festas





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Tabanca Pequena (ONGD) - Feliz Natal

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Tabanca do Centro - Festas Felizes

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Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84 Bambadinca, 1961/63

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Maria Arminda Santos (ex-Ten Enf.ª Paraquedista, 1961-1970)

Feliz Natal. 
Abraço, 
Mª Arminda



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Benito Neves, ex-Fur Mil da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67

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Hilário Peixeiro, ex-Cap Mil  da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70

Caros amigos
É mesmo com muita amizade que a Natércia e eu fazemos votos de que vivam um Santo Natal e tenham um Ano Novo de 2013 com muita saude e muita Felicidade juntamente com todos os vossos familiares e amigos.
Apesar de ser uma mensagem colectiva, ao percorrer a lista de endereços pensámos em cada um de vós.
Natércia e Hilário

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2012 < Guiné 63/74 - P10850: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (5): Quem procura sempre alcança! Uma inusitada peça a tinta da China, a minha lembrança de Natal para todos os tertulianos (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10850: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (5): Quem procura sempre alcança! Uma inusitada peça a tinta da China, a minha lembrança de Natal para todos os tertulianos (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Natal do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
Pesquisar fotografias, jornais, revistas, imagens de qualquer espécie nas lojas de curiosidades é, em todas as circunstâncias, uma aventura surpreendente.
Fotografias da primeira comunhão, casamentos e batizados, recordações de excursionistas, almoços de despedida, como despedidas de solteiro.
Muitas vezes é necessário andar de cócoras ou pôr-se de joelhos, usar e abusar da paciência, pôr de parte e depois arrumar. E continuar a pesquisar, sempre, sem a prisão do tempo, também aqui o stresse é muito mal conselheiro.

Neste caso, foi tudo bastante simples. O Sr. Eduardo Martinho, que tem estanco na Feira da Ladra, num espaço onde há edições raras, gravuras e serigrafias, o mirone dispõe de várias caixas de papelão, o convite à curiosidade está feito.
Então, não acontece mesmo que poucos minutos depois do mirone, encurvado, andar ali a mexericar entre estampas, litogravuras e originais não aparece esta tabanca fula, uma primorosa arte da tinta da China que é um regalo para os olhos?
Não está tudo perfeito com aquele aparo revolto que se transfigura em moranças, em poilões, em mulher a retirar água do poço?

Depois começa o parlapiê com o Sr. Martinho, ele não sabe de onde veio, é muito provável que se trate de uma estampa para um daqueles livros aí dos anos 30, 40 ou 50, depois começa o regateio, olhe que tem muito valor, olhe que é um original, o senhor anda sempre à procura de coisas da Guiné, é um sortudo, é raro apanhar um desenho de tão grande qualidade, isto hoje já não se faz, etc. e tal.
Tudo conjugado, aqui está a minha prenda de Natal, um autor anónimo vem às minhas mãos e passo-vos este quinhão de beleza a tinta da China.

Com votos de um santo Natal, com muitas alegrias, mostrem, por favor, esta tabanca fula lá em casa, a Guiné é digna de lembranças e de entrar pela Chaminé para junto das prendas que estão no sapatinho.

Um abraço do
Mário

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10841: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (4): Mensagem de Natal do nosso camarada José Saúde

Guiné 63/74 - P10849: Parabéns a você (515): A nossa amiga poetisa Felismina Costa

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10846: Parabéns a você (514): Albano Costa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1972/74)

Guiné 63/74 - P10848: Agenda cultural (243): Mamadu Baio, líder da banda de música afromandinga Super Camarimba no Clube B.leza, Lisboa, Cais da Ribeira, a seguir ao Natal, dia 26 de dezembro de 2012


O guineense Mamadu Baio, talentoso músico de Tabatô, amigo do nosso grã-tabanqueiro João Graça, vai estar no mítico Clube B.leza, a catedral lisboeta da música africana, no dia 26 de dezembro de 2012. Mamadu Baio é o lider da banda de música afromandinga Super Camarimba. Está neste momento a a viver  em Portugal. O Clube B.leza reabriu, este ano, em fevereiro passado no Cais da Ribeira, em Lisboa. E está comemorar os 17 anos de vida! Ver aqui a sua página no Facebook. Vou ter pena de não ir poder, por estar fora de Lisboa.







O primeiro CD dos Super Camarimba, músicos de Tabató, gravado no Mali. É CD de que gosto muito, com destaque para os temas 2 (Camarimba) e 10 (Dona Berta). Sendo edição de autor, não é fácil encontrar no mercado. 



Guiné Bissau > Bissau > 17 de dezembro de 2009 > 23h30 > O João Graça, médico e músico, à direita com o seu amigo (recente) de Tabató, Mamadu Baio, à esquerda, líder da banda de música Super Camarimba. Ver aqui também a página do Facebook do Mamadu Baio.

Foto: © João Graça (2012). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10847: Agenda cultural (242): Últimos dias da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62... Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: agora até 27 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10847: Agenda cultural (242): Últimos dias da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62... Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: agora até 27 de janeiro de 2013




Lisboa > Padrão dos Descobrimentos > A exposição Álbum Memórias da Índia, 1954-1962, que deveria terminar em 30/12/2012, será prolongada até 27/1/2013. Visitas guiadas estão previstas para os dias 20 de janeiro (ás, 11h00, com o grande fotógrafo português Luís Pavão) e 27 de janeiro, às 15h30, com a comissária Fernanda Patrício.




1961 > A bordo do Niassa, soldados e cabos da CCAÇ 12, a caminho de Damão



Niassa, 1960 > Grupo de soldados, a caminho da Índia. Nalguns casos veem-se as placas de identificação ao pescoço.





Velha Goa, 1961. A família Morais de visita ao Arco dos Vice-Reis



Confraternização com família goesa. O sargento miliciano Diabinho, à esquerda, é o único europeu presente

Goa, 1959. O tenente Alberto Ferreira na praia de Calangute. 



Goa, 1957. O comandante militar e outros oficiais  visitam o posto de Maulinguém na sequência de ataques fronteiriços



Autometralhadoras Humber do Esquadrão de Reconhecimento nº 1 [Elvas]. Cada pelotão de reconhecimen to tinham duas destas autometralhadoras, de que se dizia terem pertencido ao exército de Montgomery, em Al Alameim, durante a II Guerra Mundial.



Algumas das fotos da exposição (aqui reproduzidas, com a devida vénia...).


1. O Álbum de Memórias. Índia Portuguesa 1954/62 foi  criado a partir de fotografias, documentação e recordações dos militares portugueses que serviram na Índia. Trata-se de um belíssimo recolhido por Fernanda Paraíso, com o apoio da Associação Nacional de Prisioneiros de Guerra (ANPG).

A exposição retrata a vida dos militares, prisioneiros de guerra na sequência invasão  e ocupação dos territórios portugueses na Índia, na 17/18 de Dezembro de 1961, até ao momento do seu repatriamento, cinco meses e meio depois.


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Nota do editor:


Último poste da série 16 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10808: Agenda cultural (241): Últimos dias da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62... Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: até 30/12/2012


Guiné 63/74 - P10846: Parabéns a você (514): Albano Costa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1972/74)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10829: Parabéns a você (513): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 (Guiné, 1972/74)

sábado, 22 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10845: Conto de Natal (12): O meu Natal de 1966 em Mansabá (Manuel Joaquim)

1. Mensagem de Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 17 de Dezembro de 2012, descrevendo o seu Natal de 1966 em Mansabá:


O meu Natal de 1966 

Em 1966 passei o Natal em Mansabá, em ambiente muito diferente do do Natal de 1965 em Bissorã*, quer militar quer civilmente. Bissorã era uma vila e Mansabá uma aldeia. E quanto à vida militar, esta era agora muito mais dura e espartana no dia a dia passado na povoação, já que na actividade operacional poucas diferenças haveria quanto ao perigo e aos esforços desenvolvidos.

Então vamos lá à “reportagem” do meu Natal em Mansabá, usando o que ainda retenho na memória e algumas fotos:

Para mim a festa natalícia começou com um pequeno lanche tendo por base um bolo-rei que a minha querida e sempre prestável namorada tinha enviado de Lisboa. “O bolinho serviu para mais umas libações, para reavivar o ambiente, para identificar melhor o dia. Fomos 14 a manducá-lo. Parece-me que até houve uma fotografia. Se ela aparecer enviar-ta-ei.”- assim lhe respondi agradecendo a bela gentileza. A foto, se existiu, nunca me apareceu.

Não sei de outras festas de Natal no aquartelamento, devem ter existido, por isso vou só relatar a minha, passada na messe de sargentos. As “festividades” começaram ao jantar. Depois de bem “regados e comidos” seguiu-se a devida confraternização sempre acompanhada de líquidos mais ou menos alcoólicos, mais que menos (vd. foto 1). Num dos topos da sala montou-se um palco, alinhando várias mesas de refeição, onde se foram sucedendo as mais variadas atuações. Diversos “artistas” se exibiram, cantando ou dançando. Que grande exibição de dança flamenca fizemos, eu e mais dois ou três, com par “feminino” e tudo.

Foto 1

Acabada a sessão de canto e dança passou-se para a Tabanca Bar, para a “sossega”. Aqui, com o andar do tempo, as “camisas” de palha das garrafas que iam sendo esvaziadas viraram chapéus. Começou por mim essa utilização (foto 2) e não tardou ver- me a ser seguido no gesto, como se vê (foto 3):

Fotos 2 e 3

A cena começou então a ser “sacudida” com entradas inesperadas e improvisos declamatórios que chegaram a confundir os intérpretes, como se vê na foto abaixo onde três personagens parecem confusos no caminho a seguir (foto 4).

Foto 4

E o “happening” dos chapéus de palha terminou com a dita a arder em homenagem ao deus Baco (foto 5):

Foto 5

Com esta nossa atitude percebemos logo que Baco, o nosso adorado deus da “pinga”, tinha ficado tão satisfeito com a homenagem que nos incentivou a completarmos a liturgia com um refrescante banho de cerveja. Não nos fizemos rogados, como se pode ver na figura central da imagem (foto 6). Que linda figura a minha!

Foto 6

Acabada a homenagem baquiana, molhados e cansados, e alguns já bem toldados pelo “espírito” do deus romano, seguiram-se uns tempos de acalmia que foram curtos. Alguém se lembrou que, afinal, era dia de Natal e que nos estávamos alarvemente a desviar do espírito da comemoração, a do nascimento de Jesus.

Sentiu-se pairar sobre nós a voz da razão(?), ouvi a minha voz crítica interior a concordar com os possíveis ofendidos e, milagre!, inesperadamente alguém leva para a rua umas caixas de madeira e propõe fazermos uma fogueira de Natal. Dito … e mãos à obra!

As fotografias nºs 7-8-9-10 “iluminam“ o desenrolar do acontecimento:

Fotos 7; 8; 9 e 10

Definiu-se o guião a executar e que era o de, à volta da fogueira, se cantarem canções de Natal. Assim aconteceu e muitas gargantas, mais ou menos afinadas, algumas em voz gritada, soltaram com emoção as melodias que tinham aprendido na sua infância. Muitos de nós terão recordado outras fogueiras similares das suas terras longínquas e as canções que as acompanham!

-“Feliz Natal, feliz Natal … “

-“Alegrem-se os céus e a terra / cantemos com alegria / já nasceu o Deus Menino / filho da Virgem Maria” …

- “Arre burriquito / vamos a Belém / ver o Deus menino que a Senhora tem … “

 -“Adeste fideles …”

e algumas outras canções ecoaram pela tabanca, vindas das gargantas de soldados desterrados num lugar de guerra quando comemoravam o nascimento de alguém que veio ao mundo pregar a paz e a fraternidade.

Como que se sentia “presente” o espírito desses lugares longínquos que, naquela altura, também poderiam estar cantando canções de Natal à volta de uma fogueira. Uma sensação de comunhão cerimonial que a distância que nos separava não impedia. Senti-me comovido.

Findos estes improvisados momentos de convívio festivo dispersámo-nos, continuando alguns pela noite dentro extravasando os seus sentimentos com atitudes mais ou menos descontroladas, algumas incompreensíveis à primeira vista. Eu, cansado e moído emocionalmente, ainda procurei mais uma cerveja e dirigi-me à sala de refeições para me sentar e descansar um pouco. A sala não tinha ninguém naquela altura e dei por mim a olhar um quadro de “presépio” fixado na parede nua. Feliz Natal, dizia a composição. Senti-me a gostar de ser fotografado junto dela. Encontrei o “fotógrafo de serviço” que ainda andava por ali (infelizmente esqueci quem era). Montado o cenário, apostei que seria capaz de me equilibrar nele. E venci a aposta, como se vê por esta foto (Foto 11) que ficou para, felizmente, me fazer recordar a noite de Natal mais emotiva da minha vida.

Foto 11

É tempo de dizer que naquela altura eu não era crente, nem hoje o sou. Mas respeito a religião seguida pelos outros e todas as religiões me interessam como área de estudo. Gosto de frequentar templos e de assistir a cerimónias religiosas, gosto de estudar a teologia e a filosofia das religiões, “adoro” música e todas as artes com incidência religiosa.

Talvez assim se compreenda o teor da notícia que deste acontecimento dei à minha namorada. Dois dias depois, ainda na ressaca física e psíquica do que me tinha acontecido na noite de Natal, as emoções que então senti estavam a diluir-se; talvez porque não assentassem em fé religiosa mas na força do espírito amigo, solidário e comunitário daquele grupo de camaradas, força que então se manifestou a propósito de uma data de cariz religioso. Ou então a visão global do acontecido naqueles dois dias tenha feito arrefecer as referidas emoções e, por isso mesmo, me tenha trazido alguma desilusão:


“A noite de Natal cá se passou. Uma barulheira infernal, bebedeiras a torto e a direito, noite em branco, choros, convulsões, maluqueiras, gritos histéricos, socos, cabeças partidas, mesas, copos, cadeiras a quem aconteceu o mesmo.
Bem, isto não foi Natal. Foi Carnaval e do bom. Alegria falsa, no entanto. Se na noite de 24 para 25 ainda alinhei na coisa, ontem já não o consegui fazer. Era de mais. A alma estava tão triste!... E continua".

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Notas finais sobre as imagens das fotos:
- Os militares das imagens pertenciam, na sua quase totalidade, ao BCaç 1857 (CCS, CCaç 1419, CCaç 1421).
- Apesar de reconhecer a maioria dos fotografados, optei por não os identificar, seja porque receio trocar os nomes de alguns seja porque de outros nem sequer tenho ideia do seu nome.
- Por fim chamo a atenção para a figura de um soldado que prestava serviço no bar. Aparece nas fotos nºs 6 (2º à esquerda), 8 (primeiro plano, à direita), 9 (1º à esquerda), 10 (à entrada da porta). Sem expressão, sem um sorriso, parece totalmente alheio ao que se passa, apesar de ser patente a sua curiosidade pelo que está a ver! Impressionante.

Para todos os meus camaradas da Guiné e restantes leitores deste blogue, umas Festas Felizes
Manuel Joaquim
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10839: Conto de Natal (9): O meu Natal de 1965 em Bissorã (Manuel Joaquim)

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10842: Conto de Natal (11): O Neurónio do Natal (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P10844: Do Ninho D'Águia até África (37): Os Vinte Escudos da menina Teresa (Tony Borié)

1. Mais um episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, este dedicado a uma das suas personagens já nossa conhecida, a menina Teresa, uma descarada, dizemos nós.

Do Ninho D'Águia até África (37)
 




Já lá vai algum tempo em que o Cifra andava para contar esta história, mas sempre que começava não tinha coragem para a acabar, mas pensando melhor ela também faz parte das suas memórias de guerra, pois a protagonista era a pessoa que escrevia as cartas que a mãe Joana, mandava ao Cifra, quando estava na Guiné, mas antes pedia aos amigos antigos combatentes, e não só, que depois de lerem, dessem duas ou três gargalhadas, se por acaso acharem graça, e tiverem alguma saúde e disposição para o fazer, oxalá que sim, mas que não fossem mal intencionados, pois eu tenho quase a certeza que vão ser, portanto cá vai.

A menina Teresa, não sei se estão lembrados, era uma vizinha, costureira e solteira, de quase sessenta anos, que como sabia ler e escrever, entre outras coisas era a conselheira da família do Cifra, que nessa altura era o To d’Agar, na sua aldeia do vale do Ninho d’Águia. Era muito boa pessoa no dizer da mãe Joana, mas o pai Tónio, sempre que a via chegar, dizia:
- Lá vem o “pau de virar tripas”!

Tinha tido um namorado quando era nova, de nome Alberto, que trabalhava numa fábrica de ferragens na vila, diziam que era um artista, trabalhava na forja, e com uma lima e um martelo fazia qualquer peça de ferramenta. Namorou com ela uns anos, até diziam as más línguas que já faziam vida de casados, o que naquele tempo era um sacrilégio, mas o Alberto procurando melhor vida, emigrou para o Brasil, onde tinha uns tios, e sempre com promessas de amor eterno, um dia sai de Portugal, no vapor Serpa Pinto, pois o Cifra recorda-se do nome do vapor. Ela sempre dizia, com as mãos juntas e a cara virada ao céu com uma voz, que o pai Tónio dizia que era “estérica”:
- O meu amor Alberto foi para o Brasil, no vapor Serpa Pinto, e é esse vapor que me há-de levar para os seus braços!

O Cifra, que nessa altura era uma criança, e se chamava To d’Agar, andava por ali, descalço, com um “bibe” vestido, quase sempre com um bocado de broa nas mãos, às vezes mesmo uma côdea, e não sabia o que era o vapor Serpa Pinto, mas a mãe Joana explicou-lhe que era onde os “brasileiros” e “venezuelanos” vinham a Portugal, muito bem vestidos, com um fato branco, que chamavam “terno” ou “paletó”, uns sapatos com duas cores, que normalmente eram brancos e castanhos, ou brancos e pretos, dependia da época, e alguns anéis nos dedos, e com as faces rosadas e gordas, sinal de que estavam muito bem na vida. Ficavam hospedados na pensão da vila, faziam correr o boato de que procuravam esposa, e alguns pais, com muita dignidade, pois queriam ver as filhas bem casadas e com futuro, vinham quase oferecer, e se não ofereciam directamente, faziam chegar ao conhecimento desses potenciais maridos, por intermédio de outras pessoas, que as suas filhas eram umas donzelas, que sabiam cozinhar, lavar e engomar, e que podiam levá-las à confiança, no vapor Serpa Pinto, atravessar o oceano e irem para esses países tropicais, pois além de todas estas virtudes, estavam vacinadas, iriam saber dirigir as suas casas, darem-lhe muitos filhos, pois eram muito boas parideiras, e ficarem muito ricos.

Bem, vamos mas é continuar, pois estamos a tomar um rumo que não é o original, daqui a pouco estamos todos desencontrados e perdemos o fio à meada, portanto continuando, a menina Teresa, depois de uma crise de choro, com alguma baba e ranho, que lhe durou quase um mês, até receber a primeira carta, que veio mostrar à mãe Joana, lavada em lágrimas, com o selo do Brasil, e que guardou no peito, mesmo junto ao coração. Ficaram a cartear-se, aquilo era, carta lá carta cá, e a menina Teresa, sempre esperando o carteiro.

O Alberto, no Brasil, trabalhava como um desalmado para arranjar dinheiro, pôr casa e mandar ir a menina Teresa, que era o grande amor da sua vida. Só que, na Baía, que era onde moravam os seus tios, logo na casa a seguir à que vivia, morava uma “baiana”, morena, cabelos negros, soltos e caídos, sempre com uma flor, descalça, selvagem, andava quase sempre com o mínimo de roupa no corpo, não usava roupa interior, talvez por causa do calor, tinha um perfume que o Alberto não sabia se era do seu próprio corpo ou era mesmo perfume, nunca tinha imaginado que existisse um aroma assim, provocativa, que ainda por cima tocava viola e cantava canções de amor entre outras coisas, com uma voz meiga, sedutora, procurando carinho, talvez mais qualquer coisa, na varanda, mesmo a provocar o Alberto que chegava do trabalho cansado. Aquela rapariga, bonita “baiana”, de nome Solange, sempre que o via chegar a casa, acenava-lhe da varanda, só com uma saia curta, que nem era saia nem era nada, aquilo era um farrapo de pano muito justo em alguns locais do seu corpo e largos em outros, onde fazia sobressair toda a sua beleza, uma camisa sem mangas, aberta na frente, mostrando ainda mais, tudo com que o Criador a contemplou, lhe dizia, com uma voz amorosa e quase cantando:
- Meu bem, qué tomá um sumo de maracujá, qué?. Tá fresquinho, meu bem! Senta um pouquinho aqui, que está gostoso, tá? Você é bonito Português, mi dá um carinho, tá?

Pronto, o Alberto passado dois meses já falava com sotaque brasileiro, bebia maracujá, comia farofa e uns salgadinhos, para si uma cerveja era “um chôpo”, e quando via a Solange, dizia:
- Meu bem, você está gostosa, que gostusura de minina, tá! Seu corpo se rebola, que perfume, você me põe louco, não dá para pensá, não! Tou perdido por você, me dá seu carinho, meu bem!

E depois de olhar o seu corpo esbelto e selvagem, dizia baixinho, e só para si:
- Como pode o pessoau, viver no Portugau? Qui bágunça, tá! 

E não se lembrava mais da menina Teresa, que até já começava a ter uma espécie de bigode, que a cabeleireira, quando vinha fazer a permanente na vila, lhe colocava um produto que tinha vindo de França, que, como já sabem de relatos anteriores, até cheirava mal, e que lhe fazia desaparecer o bigode por uns tempos, que agora passava dias e dias atormentando-se, esperando o carteiro, e nada. Os dias, semanas, meses e anos foram passando e já passava dos cinquenta, estava quase nos sessenta anos esperando o carteiro. Ia à vila arranjar a permanente, e pouco mais, já tinha o cabelo “grizalho”, estava a ficar magra, e sempre com uma cara de amargura, dizendo que não tinha sorte.

Já chega de pormenores, agora vamos ao assunto principal, a menina Teresa, um dia ao escrever uma carta, que a mãe Joana, mandou para o Cifra, dizia mais ou menos isto:
- Meu querido filho, vou terminar, e que a bênção do céu te proteja, agora a menina Teresa, vai falar contigo, adeus meu filho.

Então a menina Teresa pedia na carta ao Cifra, se lhe podia trazer da Guiné, um “Falo” ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis” em madeira de ébano preto, que era para dar boa sorte na sua vida, e mais à frente explicava o tamanho e tudo, com alguns pormenores que o Cifra não quer explicar, pois então sim, os seus amigos antigos combatentes, e não só, iriam mesmo pensar coisas que até eram, e depois dizia que se não o encontrasse, se o podia mandar fazer em algum artesão africano, pois tinha visto, quando ia à cabeleireira, fazer a sua permanente, numa revista francesa, que os faziam na África. Também mandava uma nota do Banco de Portugal, de vinte escudos, para a despesa.

O Cifra não vai contar mais nada, ainda se encontra na província da Guiné e não sabe o que lhe vai acontecer, pois apesar de ser um razoável militar, é um fraco guerreiro, mesmo muito fraco, e também, apesar de estar rodeado de arame farpado, e ter a protecção do Curvas, alto e refilão, do Setúbal, do Mister Hóstia, do Trinta e Seis, do Marafado e do Furriel Miliciano que anda sempre com um cigarro feito à mão na boca, o Pastilhas, o Arroz com Pão e o Sargento da Messe, que dizem que é burro, passe a expressão, sem falar no Comandante, mas só às vezes quando põe cara de comandante, só lhe dão trabalho e problemas, mas fiquem atentos, pois quando o Cifra chegar à sua aldeia do vale do Ninho d’Águia, irão saber o final da história.

(Texto, ilustrações e fotos: © Tony Borié (2012). Direitos reservados) 
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10816: Do Ninho D'Águia até África (36): O Life Boy (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P10843: Tabanca Grande (375): José da Luz Rosário, ex-Fur Mil do Pel Canh S/R 2298 (Cabuca e Buruntuma, 1971/72)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José da Luz Rosário, ex-Fur Mil do Pel Canh S/R 2298, Cabuca e Buruntuma, 1971/72, com data de 18 de Dezembro de 2012:

Caro Luís Graça e restantes Editores

Chamo-me José da Luz Rosário, vivo em Setúbal, conheço o vosso colaborador Hélder Sousa, sigo já faz algum tempo o Blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné", e também estive nessa então 'Província Portuguesa' de 26/01/71 a 18/11/72.

Pertenci ao Pelotão de Canhão S/R 10,6 - 2298/RI15, como Fur Milº e estive em Cabuca e Buruntuma .

Envio estas fotos que foram tiradas em Buruntuma no ano de 1972, na esperança de algum camarada fazer o favor de as comentar.  Creio que a companhia era "Os Roncos de Buruntuma", em duas das fotos reconheço o ex-Fur Milº Enfº Soares também ele de Setúbal.

O meu pelotão esteve em reforço das companhias dos Batalhões sediados em Piche (Cabuca, Canquelifá, Ponte Caium e Buruntuma). Tenho algumas histórias para contar, que a seu tempo irei partilhando com todos vós.

Aproveito para enviar um abraço especial para o Hélder, e desejar um Santo Natal para todos.

PS: Alguém me sabe dizer o que é feito do ex-Fur. Mil. Coutinho que fez também parte do Pel de Canh S/R 2298?





2. Comentário de CV:

Caro camarada Rosário:

Está feita a tua apresentação ao Blogue e ao mesmo tempo publicada a tua pretensão para encontrares os teus camaradas de armas.

Este Blogue tem como missão incentivar os ex-combatentes da Guiné a depositarem as sua memórias escritas e em fotografia nesta página, que constituirá no futuro um espólio, quase fiel, dos acontecimentos de guerra naquele TO, contados na primeira pessoa, descontando algumas imprecisões originadas pelo tempo já decorrido. Prometeste contribuir, pelo que ficamos à espera que cumpras a tua promessa.

Os Roncos de Buruntuma que referes, é a CCAÇ 3544/BCAÇ 3883, Companhia de que apenas temos duas entradas no nosso Blogue. Poderás encontrar referências neste link: CCAÇ 3544
Em relação ao Batalhão 3883 poderás aceder a partir daqui: BCAÇ 3883

Oxalá encontres os teus companheiros de luta dos tempos de Buruntuma.

Cumprindo a tradição, deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, acrescentando ainda os nossos melhores votos de que tenhas umas Boas Festas em família, com paz e saúde, e que o novo ano seja bem melhor do aquilo que nos prometem.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10831: Tabanca Grande (374): Bom dia! Aqui estou! Fui ali e já voltei! (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P10842: Conto de Natal (11): O Neurónio do Natal (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso camarada, sempre Alfero, Jorge Cabral, com data de 20 de Dezembro de 2012, contendo um pequeno grande conto de Natal.

Caros Amigos!
Com um Grande Abraço de Natal!


O Neurónio do Natal 

Um neurónio no coração?

Espantados os médicos, discutiam.

Podia lá ser...

E o ancião esperava. Não lhe doía nada, até sorria.

O estranho caso foi estudado por todo o mundo.

E o nome do paciente divulgado - Jorge Cabral.

Mas o mistério continuava... Até que um rapazola, ajudante de enfermeiro, exclamou:

"É um neurónio da época! Se calhar o sacana do velho ainda tem Natal!"

J.Cabral
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10840: Conto de Natal (10): O Natal de uma criança (José Câmara)