terça-feira, 30 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11506: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (36): Respostas (nº 69/70): António Rosinha (ex-fur mil, Ango9la, 1971; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, 1979); João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)



Resposta nº 69 > António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou,  como ele gosta de dizer, colonialista em Angola de 1959 a 1974; cooperante na Guiné de 1979 a 1993]:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Desde o início

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Tudo que se escreve sobre as ex-colónias, vou lá.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Há uns 5 anos (?) [, desde 29 de novembro de 2006]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Mando o que vem à rede

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Não


(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Só blogue

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Só blogue, está bem como vai indo.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Resposta anterior

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Tudo normal.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

O blogue diz pouco a muita gente, porque a Guiné diz muito pouco a muita gente. Representa para mim, muitos anos da minha vida pelos trópicos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Uma vez em Pombal ], 2007,] e gostei.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não, em casa não sou só eu a definir prioridades

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Graças ao Graça e seus braços direitos pode durar infinitamente.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Está tudo bem, desde que quem andou aos tiros ou aos mosquitos e paludismo e regressou da Guiné vivo possa escrever para não esquecer


Resposta nº 70 >   João Martins [, ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]


1 - Descobri o blogue em fevereiro de 2012.

2 - Foi o João Gabriel que esteve em Catió em 65/66 quem me indicou o blogue.

3 - Fui admitido em fevereiro de 2012, e logo comecei a escrever as minhas memórias a que juntei as fotografias digitalizadas a partir de slides, tendo enviado tudo para o blogue.

4 - Vejo o blogue diariamente, a não ser quando não me é possível.

5 - Não costumo participar porque gosto mais de ouvir do que de falar, e, frequentemente, sou uma voz crítica e discordante, o que pode chocar certas pessoas, mais sensíveis, que não gostam de ser contrariadas. Há quem prefira ser da "situação", eu, pelo contrário, como regra, pertenço à "oposição", seja ela qual for.

6 - Conheço o facebook.

7 - Vou lá de vez em quando para me manter informado acerca de outros pontos de vista, o que, apesar de se desviar do tema central, tem a vantagem de percorrer outros horizontes.

8 - Gosto de conhecer as experiências e os pontos de vista de todos os outros porque consigo aceitar outras ideias que sempre respeito e compreendo, e que me permitem aumentar e aperfeiçoar as minhas convicções.

9 - Não gosto de ataques pessoais se bem que saiba perfeitamente que calar é consentir, e que consentir é tornar-se cúmplice e co-responsável. E o pior, é que tenho conhecimentos técnico-teóricos e a experiência profissional que me permitem compreender que é porque nos calamos perante a má gestão governativa e situações em que uns "enriquecem", que outros conhecem o desemprego, a fome, a angústia, e até, o suicídio. Situações de que todos temos a nossa quota de responsabilidade porque fazemos muito pouco ou mesmo nada, e porque nos calamos.

10 - Nunca encontrei qualquer dificuldade em aceder ao blogue.

11 - Ir ao blogue para mim é o dever de, de algum modo, não esquecer todos aqueles que perderam a vida, ou que sofreram e sofrem a perda de familiares, pais, filhos, maridos...e também o dever de solidariedade para com todos os que física ou psiquicamente ficaram afetados ou diminuidos.

12 - Nunca participei.

13 - Este ano irei a Monte Real todo o fim de semana,  de 8 e 9 de junho,  para poder conviver com quem conheceu as agruras da guerra e cresceu e se tornou "homem" através do sofrimento, que, não sendo agradável, tem a capacidade de nos mostrar quanto somos "pequenos" e de um momento para o outro nos podemos "ir embora" pelo que devemos desenvolver laços de "amizade" e de "solidariedade".

14 - O blogue tem toda a razão de ser em memória dos camaradas que precocemente nos deixaram...e que não devemos esquecer, na medida em que há uma dívida de gratidão por liquidar. E o País, no presente, tal como no passado, não dá sinais de estar à altura de todo esse sacrifício e, quando assim é, resvala inexoravelmente para a sua perda de independência e para a sua auto-destruição.

15 - Receio que o blogue se torne num simples depósito de lugares comuns em vez de ser a voz daqueles que clamam por justiça e daqueles que, de algum modo, não esquecendo o muito que tão poucos fizeram pelos 5 continentes, exigem um País com futuro onde os nossos filhos e netos possam viver e trabalhar sem serem explorados. Um grande abraço para todos e até Monte Real. João Martins.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11505: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (35): Respostas (nº 67/68): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e Abel Santos, ex-Soldado At da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11505: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (35): Respostas (nº 67/68): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e Abel Santos, ex-Soldado At da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada César Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, com as suas resposta ao nosso questionário:

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Finais de 2006 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Pesquisa no Google, procurando por camaradas do meu Batalhão 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Sim desde janeiro de 2007 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - Diariamente, várias vezes 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Mandei alguma coisa mas não sou muito assíduo. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Conheço, já a visitei, ultimamente aderi mas não sou muito fã do Facebook 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Ao blogue 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - A possibilidade de revivermos episódios que narrados por camaradas, ficarmos com a sensação de os termos vivido, tão semelhantes são com situações por nós vividas. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Temas desfasados dos tempos de Guiné. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não, já houve esse problema, mas actualmente é pacifico. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - Ainda não descobri bem, mas todos os dias tenho que visitar o blogue, senão falta-me qualquer coisa, ajudem-me, digam-me o que é isto. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não, não tem sido possível. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 
R - Também ainda não será este ano. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Penso que sim, ainda há muita gente por aderir, ainda vão aparecer muitas histórias. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Tem havido algumas picardias, mas ainda bem, doutra maneira se calhar já tinha acabado o blogue.

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2. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com as suas respostas ao questionário:


(1) Há cerca de um ano 

(2) Através do nosso camarada Vinhal 

(3) Sou. Há um ano 

(4) Diariamente 

(5) Sempre que posso,e já há mais material na forja 

(6) Conheço. 

(7) Ao blogue 

(8) Comentários, do facebook as carinhas larocas 

(9) Gosto deles como estão 

(10) Não 

(11) É o local certo onde posso expor todas as minhas recordações vividas na Guiné e não só 

(12) Não 

(13) Penso ir conhecer esse grande batalhão 

(14) Ainda tem e terá e ainda vamos ser mais 

(15) Meu caro amigo não tenho críticas apontar 

Aquele abraço 
Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11501: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (34): Respostas (nº 64/65/66): Francisco Henriques da Silva (CAÇ 2402, Có,Mansabá e Olossato, 1968/70); George Freire (CCAÇ 153 e 4ª CCaç, Fulacunda, Nova Lamego, Bissau e Bedanda, 1962/63); António Estácio (, guineense, alf mil em Angola, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11504: Agenda cultural (265): Lançamento da edição fac-similada do livro "Tarrafo - Crónicas de um Alferes na Guiné", de Armor Pires Mota, dia 9 de Maio na cidade do Porto e dia 10 na cidade de Coimbra

C O N V I T E

LANÇAMENTO DA EDIÇÃO FAC-SIMILADA DE "TARRAFO - CRÓNICAS DE UM ALFERES NA GUINÉ", DE ARMOR PIRES MOTA

- DIA 9 DE MAIO DE 2013, PELAS 16 HORAS, NA MESSE DOS OFICIAIS, NA PRAÇA DA BATALHA - PORTO

- DIA 10 DE MAIO, PELAS 15 HORAS, NA RUA DA SOFIA, SEDE DO NÚCLEO DE COIMBRA DA LIGA DOS COMBATENTES.


EDIÇÃO FAC-SIMILADA DE “TARRAFO”
O ÚNICO LIVRO PROIBIDO DE TODA A GUERRA 

Armor Pires Mota que combateu na Guiné, entre 1963-1965, vai lançar no mercado, através da Editora Palimage, a edição fac-similada do livro "TARRAFO Crónicas de um alferes da Guiné", o único livro de toda a guerra colonial que foi censurado, recolhido pela PIDE e proibido de circular. 

A Edição fac-similada, apresenta, em toda a sua nudez, todas as anotações e sublinhados dos censores, o que faz de Tarrafo, que significa pântano, um documento único em toda a literatura de guerra colonial. 
Acontece isto nos 50 anos da mobilização do seu batalhão 490 de Cavalaria.

O primeiro lançamento de Tarrafo será no próximo dia 9 de Maio de 2013, às 16 horas, na Messe dos Oficiais, na Batalha, cidade do Porto. 

Presidirá à cerimónia o general Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes e integra-se na Tertúlia Fim do Império
Será apresentador o escritor, historiador e poeta transmontano, João Barroso da Fonte.

Entretanto no dia seguinte (10 de Maio) será apresentado em Coimbra, pelas 16 horas, na Liga dos Combatentes, Rua da Sofia, tendo a presidir à sessão igualmente o presidente da LIGA.


Livro incómodo para o governo e FA

“Este livro comporta, desde o início da sua escrita, muitas histórias de guerra, páginas escorrendo nervos, gritos, sangue e lágrimas, chagas, cicatrizes, feridos e mortes. Retrata a guerra em toda a sua violência e brutalidade, por vezes, ao pormenor com esta originalidade: era escrito na sequência dos acontecimentos. O que foi uma novidade no jornalismo, quando começou a ser publicado no Jornal da Bairrada (1964). Era uma ousadia, um desafio quase inocente. 

Mas a este livro, o primeiro sobre a guerra colonial, foi acrescentada uma outra história, única em toda a literatura da guerra. Após alguns dias sobre a colocação da obra numa única livraria, a Vieira da Cunha, em Aveiro, era incluído no número dos livros proibidos. Havia de ser censurado e recolhido pela PIDE. Foi considerado um livro demasiado incómodo, muito desconfortável para o governo. Afinal, havia guerra. Não escondia nada. Nem os mortos, nem o desânimo e as lágrimas, muito menos as aldeias incendiadas e seus nomes, os bombardeamentos e o tipo dos aviões utilizados nas operações”, reconhece o autor. 

Passados muitos anos sobre a sua apreensão e o 25 de Abri, “eis que, como que, por mera sorte do acaso, o exemplar censurado veio parar às minhas mãos”, realça o autor. Tem os carimbos do Ministério de Defesa Nacional e de “Confidencial”. “Rara é a página que não tem sublinhados a vermelho, no sentido vertical, à margem, ou na horizontal por baixo da palavra ou da frase, considerada corrosiva ou subversiva, no mínimo incómoda. Há também notas a lápis, deixando a impressão de que houve dois censores, qual deles o pior”.

Armor Pires Mota
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11449: Agenda cultural (264): Indie Lisboa 2013: A estreia, 4ª feira, na Culturgest, às 21h30, do filme de João Viana, "A batalha de Tabatô". O Jorge Cabral será o representante do nosso blogue, a convite da produtora... E 6ª feira, 26, às 23h00, há festa no Ritz Clube, com os "Super Camarimba"!

Guiné 63/74 - P11503: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (32): Bassarel, um paraíso no chão manjaco

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, BráBachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 6 de Abril de 2013: 

Meu caríssimo Carlos, amigos e Camaradas,
Num passado recente o nosso amigo e camarada José Martins presenteou-nos com dois excelentes trabalhos de pesquisa histórica.
Os artigos debruçaram-se sobre algumas das escaramuças sustentadas pelas nossas tropas contra os nativos da Guiné, muito antes da nossa chamada Guerra do Ultramar. Os belos trabalhos do José Martins evidenciam o cuidado que os nossos antepassados tiveram na feitura da história das suas unidades, que apraz registar. Infelizmente, a esta distância no tempo e por falta de dados suficientes, não me é possível referenciar com rigor histórico o movimento das praças da minha Companhia, nos chamados Destacamentos de Teixeira Pinto. Quedo-me pois pelo movimento dos graduados, aproveitando esta oportunidade única para apresentar aqueles que dignamente tiveram a responsabilidade de comando na CCaç 3327.
Neste escrito que agora trago ao nosso blogue, faço o que me foi possível para facilitar a vida de um futuro José Martins.

Abraço transatlântico.
José Câmara


MEMÓRIAS E HISTÓRIAS MINHAS

32 - Bassarel, um paraíso no Chão Manjaco

Para trás ficaram os sacrifícios e as privações que sofrêramos na Mata dos Madeiros. Bem acorrentadas ao coração levávamos recordações que a neblina da memória até hoje não conseguiu apagar.

Mata dos Madeiros: Aspecto da nova estrada Teixeira Pinto/Cacheu, recordação de uma vida

A CCaç 3327, agora adida ao BCAÇ 2905 para efeitos operacionais, dava início à sua nova missão, ao ir substituir a CCaç 2637, também esta uma companhia açoriana do BII18, nos Destacamentos de Teixeira Pinto.

Era então o dia 29 de Junho de 1971.

Na altura, eram quatro destacamentos: Bajope, Blequisse, Chulame e Bassarel, tendo a companhia formado um novo destacamento em Calequisse, o mais afastado, a cerca de 25 quilómetros de Teixeira Pinto. Aí ficou o 3.° GComb, sob o comando do Alf Mil José Queiroz Lima de Almeida, coadjuvado pelos Furs Mils Carlos Jesus e André Fernandes.

1971 - Capelinha erguida pelo 3.° GComb da CCaç 3327, em Calequisse

Em Bassaarel, a cerca de 20 quilómetros de Teixeira Pinto, ficou o Comando e Serviços e o 4.° GComb, este sob o comando do Alf Mil Francisco João Magalhães, coadjuvado pelos Furs Mils José Alexandre Câmara e Luís José Pinto, aos quais se juntava o Fur Mil Manuel Lopes Daniel (Armas Pesadas) que para efeitos operacionais integrava esse grupo de combate. As transmissões estavam a cargo do Fur Mil João Nunes Correia, os serviços de saúde sob o Fur Mil Rui Esteves e da alimentação se encarregava o Fur Mil Luís Martins de Moura. A secretaria era da responsabilidade do 1.° Sarg João Augusto Fonseca. O comando da companhia estava a cargo do Cap Mil Art Rogério Rebocho Alves.

O 2.° GComb, sob o comando do Alf Mil Agostinho Morgado Barada Neves, coadjuvado pelos Furs Mils Joaquim Fermento e João Alberto Cruz, tomou conta do Destacamento de Chulame.

O 2.° GComb, desfalcado de uma Secção, ficou em Chulame

Em Blequisse ficou uma Secção do 2.° GComb, sob o comando do Fur Mil Fernando Ramos Silva. Em Bajope, o Destacamento mais perto de Teixeira Pinto, ficou o 1.° GComb, sob o comando do Alf Mil João Luís Ferraz, coadjuvado pelos Furs Mils Carlos Alberto Pereira da Costa e Francisco Monteiro Caseiro. Os serviços Auto ficaram em Teixeira Pinto, sendo seu responsável o Fur Mil António José Marques e Silva. Infelizmente, a esta distância no tempo, não consigo localizar onde ficou o 1.° Sarg Manuel Pedro Vieira. Em Bassarel não foi de certeza.

O Furriel João Alberto Cruz, mais tarde transferido para Blequisse, fazendo o recenseamento da população neste Destacamento

Feitas as apresentações dos comandos e dispositivo militar, o que ressalta é a separação dos grupos de combate da CCaç 3327, que só voltariam a encontrar-se no dia 24 de Dezembro de 1972, quando a companhia, em fim de comissão, regressou a Bissau.

Com muita pena minha, com esta separação de forças, logicamente as minhas memórias passarão a ser mais concentradas nas minhas vivências em Bassarel.

Durante a deslocação entre Teixeira Pinto e Bassarel pudemos observar que a picada tinha óptimas condições, até porque ali ainda circulava um autocarro de passageiros que ia até Calequisse. A vegetação era bastante densa em ambos os lados. Como ponto de grande apreensão, a Curva da Onça, um autêntico cotovelo dobrado na estrada, a seguir a Chulame, oferecia condições idílicas para plantação de minas e emboscadas.

Outra particularidade verificada no trajeto, foi a ausência de povoados ao longo da picada, exceção para Balombe e Bafundade já muito perto da entrada para o ramal de Bassarel.
Ao entrarmos naquele ramal, foi possível verificar alguns terrenos muito bem cultivados na direita e outros terrenos em face de desbravamento na esquerda, que faziam parte de uma cooperativa agrícola.

Bassarel, sede do regulado com o mesmo nome, outrora campo de grandes tensões entre manjacos e tropas portuguesas, era agora um pequeno povoado, quase todo ele reordenado, relativamente bem arranjado. Mais tarde, foi possível verificar que as pessoas, sobretudo os homens, eram bastante reservadas, mas que depois da desconfiança inicial se mostravam amigas e receptivas aos nossos militares.

Bassarel: José Câmara junto do monumento da CCaç 2637/BII18

O quartel, de pequenas dimensões, cercado por duas fiadas de arame farpado, tinha dois edifícios principais, relíquias da Casa Gouveia. No edifício senhorial ficavam os dormitórios e messe de oficiais e sargentos, serviço de transmissões, arrecadação de géneros e cantina geral. No alpendre das traseiras ficava o refeitório das praças. O outro edifício, um barracão com alguma dimensão, servia de caserna para os praças.

Destacados destes edifícios havia um forno, uma pequena arrecadação e uma cozinha, esta sim com poucas ou nenhumas condições. O poço de água estava seco.

Como complemento de tudo isto, havia um paiol geral em frente ao edifício principal e uma única vala de defesa virada para o lado oposto da entrada principal. Do lado de fora do arame farpado havia um heliporto construído em cimento, que parecia oferecer excelentes condições de aterragem.

Na direita, junto da entrada principal para o destacamento, entre os arames farpados, debaixo de uma grande árvore mangueira funcionava a escola militar para os jovens das redondezas.

A parada, de terra batida de boas dimensões, também servia de campo de jogos.

Na verdade, Bassarel oferecia condições logísticas muito razoáveis. Para além disso, a zona estava perfeitamente pacificada.

Para nós, que ainda recentemente vivêramos o inferno das Mata dos Madeiros, Bassarel era um paraíso terrestre que importava que assim continuasse.

Quando ali chegámos, cedo na tarde daquele dia 29 de Junho, reparámos que ficaríamos alojados em Tendas de Campanha. Era a nossa sina, mas compreendemos ser razoável e normal num pequeno quartel, cujas instalações não tinham capacidade para tanta tropa.

Fomos recebidos com simpatia e alegria pelos elementos da CCaç 2637. Para estes, era o princípio do fim da sua comissão. Para além disso, havia muita gente conhecida entre os elementos de ambas as companhias. Mas toda aquela simpatia e alegria tinham um preço.

Ainda antes de descarregarmos as viaturas recebemos ordem para nos prepararmos para a primeira patrulha. Iria dar-se o início à sobreposição.

Nessa altura estava bem longe de saber que nos dias mais próximos iria protagonizar o dia mais negro das minha curta carreira militar.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10030: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (31): Operação Sempre Alerta: a morte de um amigo diferente

Guiné 63/74 - P11502: Notas de leitura (476): Triângulo Nublado, de J. Loufar (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Janeiro de 2013: 

Queridos amigos,
Aqui fica o testemunho de um sargento da Força Aérea que se tem revelado um escritor prolífico, J. Loufar.
Esteve alguns meses em Bissalanca, no início de 1962, fazia parte de uma equipa de pessoal afeta a uma esquadrilha de seis aviões F-86, que poucos anos mais tarde a NATO exigirá ao governo português o seu regresso.
São impressões de uma estadia sem sobressaltos, mas ele pressente uma grande inquietação, a guerra avizinha-se, as notícias são cada vez mais alarmantes. Era uma Bissau alindada ainda com sinais formais de racismo, um mundo que se alterará profundamente dentro de poucos meses.

Um abraço do
Mário


Um sargento da Força Aérea na Guiné, em Janeiro de 1962

Beja Santos

Na base de Monte Real, foi decidido, em Janeiro de 1962, uma missão especial de uma esquadrilha de 6 aviões F-86, e cumulativamente a missão de uma equipa de pessoal que lhe estaria afeta. É com esta missão que se inicia o livro “Triângulo Nublado”, de J. Loufar (José Lourenço Faria), edição de autor, 2004. Viajam num DC6 que tinham pertencido à aviação civil na Índia.

Chegados a Bissau, aboletam-se num hotel. Resolvem conhecer a cidade: “À esquerda, ouvia-se e adivinhava-se a quietude das ondas do estuário do maior rio da Guiné. À direita, perdia-se a vista na maior extensão dessa avenida e o seu termo na praça onde se destacavam a associação comercial e o palácio do governador. Palácio de linhas austeras e antigas”. Mais adiante: “Noto o modesto aglomerado de casas de primeiro andar, espaçadas e alinhadas ao longo das ruas, rodeadas por pequenos jardins bem tratados; a fraca iluminação proveniente de geradores; as montras comerciais, a denunciarem a modéstia de artigos para venda; as esplanadas, com mesas debaixo de árvores ou arbustos atenuadores de calor, tendo como clientes, quase exclusivos, os militares, as ruas alcatroadas, mas com deficiente escoamento das enxurradas, o que justifica o tal pisar de grilos, gafanhotos, baratas, sapos, répteis, etc., quando as chuvas as inundam e explicando a razão dos passeios altos; ausência, quase total, de veículos civis, a circularem e poucos militares, em rondas; cheiro a maresia e lodo…”. Observa ainda que são os homens que fazem os trabalhos domésticos nas casas dos brancos, alguém se impressiona com o à vontade com que as mulheres andam despidas da cintura para cima.

Dá conta da rotina do que os levou a Bissalanca, a reparação, inspeção e preparativos de voo. Começam a estabelecer-se as primeiras relações sociais, formam-se grupos que vão à caça, o autor não esconde a sua falta de mestria para as atividades cinéticas, por desfastio dá uns tiros numas rolas. Sente permanentemente a curiosidade acicatada por essa natureza selvagem, como relata: “O solo, vermelho de barro virgem, a cheirar a terra revolvida, salvo junto de poças de águas das chuvas, onde aparecia com cor e cheiro a lodo; os matos, compostos de diferenciados arbustos e ervas daninhas, com matizes diferentes e cheiros acres ou convidativos; as árvores, com troncos entre o arredondado e recortado por saliências dilatada; outras, mais pequenas e carregadas de frutos desconhecidos…”. Explicam-lhe o que é o caju, vai adquirindo conhecimentos da flora, fauna e terreno. Visita a praia de Tora, fica a saber que existem tubarões por isso a praia está envolvida por uma paliçada que impede a sua aproximação. Anota que os aerogramas já chegaram à Guiné. E chegamos assim ao sentimento da guerra, à cautela há patrulhamentos obrigatórios: “Os três ramos das forças armadas acordaram, entre si, que a vigilância noturna de instalações, clubes, alojamentos, residências particulares ou estabelecimentos hoteleiros, onde pernoitasse pessoal militar afeto a elas, fosse assegurada por elementos dos respetivos destacamentos”. As chefias em Bissalanca convidam todo o pessoal para um piquenique de ostras assadas, e dá notícia de acepipes e gastronomia mais fina: “Lagostas, lagostins, percebes, santolas e outros mariscos que aparecem por cá vêm de Cabo Verde, são trazidos pelos tripulantes do Dakota que semanalmente faz ligação entre a Guiné e Cabo Verde”.

Descobre com assombro que há por ali formigas de muitos e variados tamanhos, já não bastavam as dificuldades dos matos, o risco de pisar uma cobra venenosa ou o receio de ataque do inimigo, salta à vista estalagmites ou coisa parecida, afinal é um trabalho paciente das formigas, construções escarpadas, secas, avermelhadas como o barro de que são feitas.

Sente uma atração irresistível para ir a um batuque, pediram autorização a um régulo para assistir, por prudência vão armados. E descreve o espetáculo: “Os primeiros números revelaram-se monótonos e sem grande rigor na execução. Os segundos revelavam-se exibicionistas e competitivos. A coisa melhorava, o calor aumentava, a poeira adensava-se e o entusiasmo subia. Quando o par ou bailarino/a ficava a rodopiar e a dar os passos que as forças ainda permitiam, o entusiasmo era indescritível. A partir dali, os corpos desnudados, do tronco para cima, iriam entregar-se a volúpia incontrolada, por excitação e hábito. Intimidades várias de namorados, esposos, amantes, extrovertidos e meio embriagados, rejeitavam qualquer ingerência ou assistência de estranhos, mesmo para os da raça”.

Engraça com o cônsul de Dakar na Guiné. Descobre que há crocodilos à volta de Farim e sente fascínio por aqueles rios e rias misteriosos e por vezes mortais: “Enfrentar o ímpeto dos caudais daqueles fundos, largos, impetuosos e sujos rios da Guiné; a fauna dominante dos mesmos, nomeadamente crocodilos; a impenetrabilidade das suas margens, no caso de ser necessário acostar; a força da corrente, com a agravante de se ter de atravessar de uma margem para outra; a eventualidade haver terroristas a seguirem os seus passos e receios, podendo com qualquer armamento matá-los ou afundá-los”.

Visita Bolama, vê praias lindas e uma cidade a agonizar, é um espetáculo desolador. Como gosta muito de fruta, descobre o bom gosto das papaias, mamões, mangas, maracujá e anonas. Considera que o relacionamento entre os civis e os militares tem muitas tensões, sem confrontos físicos nem hostilidades declaradas, sucediam-se discussões, insinuações, provocações e desconsiderações. Para ele, tudo aquilo não passa de despeito e inveja e desabafa acerca das recriminações dos civis: “Que não vimos para cá fazer nada que eles não fossem capazes de fazer, se os deixassem. Que só vimos aumentar o nível de custo de vida. Que vimos receber bons ordenados, que eles têm de pagar, com impostos. Que agimos como se fôssemos mais amigos dos pretos do que dos brancos”. Pior do que tudo, este sargento da Força Aérea vai descobrir que há racismo puro em certos estabelecimentos onde há recusa em servir os africanos, mas alguém observa que a situação está a mudar: “A pouco e pouco, foram tomando consciência de que noutros cafés soldados pretos eram convidados pelos brancos; empregados comerciais e outros exigiam que os seus colegas pretos os acompanhassem; funcionários públicos acamaradavam com os seus colegas de cor, provando que a ousadia deles tinha reduzido tão desagradável tabu”. E chegou a hora de regressar, com a consciência do dever cumprido e com o sentido de que a guerra espreita.

É um documento utilíssimo, importa não esquecer que estamos no início de 1962, no ano anterior houve escaramuças no Norte, a PIDE anda ativa por toda a Guiné a procurar desmembrar as redes do PAIGC, em breve Rafael Barbosa e algumas dezenas de ativistas irão ser encarcerados; mas há já o sentimento de muitos perigos. E ficamos igualmente com um fresco de Bissau um pouco antes da guerra, a tal cidade traçada à régua, limpa, bem ajardinada e com os militares já a dominar as esplanadas.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11476: Notas de leitura (475): Guiné-Bissau - De Colónia a Independente, por José Gregório Gouveia, e O Trabalho de uma Vida - Avelino Teixeira da Mota, por Carlos Manuel Valentim (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11501: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (34): Respostas (nº 64/65/66): Francisco Henriques da Silva (CAÇ 2402, Có,Mansabá e Olossato, 1968/70); George Freire (CCAÇ 153 e 4ª CCaç, Fulacunda, Nova Lamego, Bissau e Bedanda, 1962/63); António Estácio (, guineense, alf mil em Angola, 1970/72)

Resposta nº 63 > Francisco Henriques da Silva  [ex-alf mil, CAÇ 2402 / BCAÇ 2851 (,Mansabá e Olossato, 1968/70), e mais tarde embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau (1997/1999)]

Meu caro Luís Graça, 

Peço desculpa pelo meu atraso na resposta, mas, para quem está no estrangeiro e nem sempre dispõe de ligação à Internet, as coisas por vezes não são fáceis. Seguem as resposta:


1. [Descobri o blogue] há cerca de 3 anos

2. Através de dois ex-camaradas de armas e amigos de sempre,  o Mário Beja Santos e o Raúl Albino

3. Sim, [sou membro da Tabanca Grande,] mas não me lembro desde quando.

4. Vejo o blogue 2 ou 3 vezes por semana.

5. Mandei já vário material para o blogue que tem sido publicado.

6. Conheço [ nossa página no Facebook], mas poucas vezes a frequentei.

7. Vou claramente muito mais vezes ao blogue.

8.  O que gosto mais no blogue são os artigos sobre a Guiné actual bem como as recensões e as notas de leitura. A história da Guiné interessa-me muito e não só o período restrito da guerra colonial. Vou pouco ao blogue e gosto de ver algumas notícias de outros tempos.

9. O que menos me interessa no blogue são as notícias sobre as reuniões de confraternização, que, aliás, respeito inteiramente, mas em boa verdade concernem apenas os que lá vão e os camaradas ausentes desses grupos ausentes que por uma razão ou outra não puderam ir. O interesse restringe-se, digamos, a esses participantes. Quanto ao FB, a crítica é sensivelmente a mesma.

10. Não tenho tido dificuldades especiais de acesso ao blogue.

11. Representa uma importante ligação com o passado, sobretudo com a nossa juventude, e com a Guiné em particular.

12. Não, não participei. Muitas vezes não me é possível, devido a prolongadas ausências no estrangeiro que são, a bem dizer, aleatórias.

13. Com pena minha, penso que não, porque devo-me encontrar, mais uma vez fora, mas não posso desde logo responder de forma definitiva. Em resumo, não sei.

14. Acho que sim, todavia creio que o blogue poderia melhorar graficamente a respectiva página que, a meu ver - e peço que não me interpretem mal - é demasiado convencional e pouco apelativa. Continuar? Pois. com certeza, o problema é que vamos ficando cada vez mais velhos e este trabalho acabará quando o último moicano fechar os olhos. Haveria que abrir a página aos mais novos, designadamente aos cooperantes, comerciantes e empresários que passaram e passam pela Guiné, mesmo sem a nossa experiência única de participantes na guerra de África e, por outro lado, aos bissau-guineenses, pois existem de facto alguns, mas ainda poucos que participam nestas lides.

15. Creio que está tudo dito. Temos de manter viva a chama e temos de gradualmente de passar o testemunho a outros para que este projecto, não comece, nem acaba em nós.


Resposta nº 64 > George Freire [, tenente e depois capitão QP Jorge Freire, da CCAÇ 153 e da 4ª CCaç, Fulacunda, Nova Lamego, Bissau, Bedanda, 1962/63; hoje engenheiro, a viver desde 1963 nos EUA]

1- [Descobri o blogue] cerca de 2008.
2- Através do blogue Do Miradouro.
3- Se me lembro, [pertenço à Tabanca Grande]  desde 2008.
4- [Visiti o blogue] pelo menos uma vez por semana.
5- Todo o material [que tinha], (histórias e o filme que fiz em 1962/1963)], foi enviado em 2008/2009
6, 7, 8 e 9- [Gosto] mais do Blogue do que Facebook
10- Sem problema [de acesso].
11- [Para mim, o blogue reopresenta] boas lembranças.
12 e 13- Naão, estou muito longe, nos EUA, como sabes.
14- Absolutamente.
15- Nada a criticar.

Um abraço,

George Freire

Resposta nº  65 > António Estácio [guineense do chão de papel, filho de pais transmonstanos,   foi aluno da prof Clara Schwarz no Liceu Honório Barreto, colega e amigo do Pepito, é engenheiro técnico agrícola,  reformado, foi  alf mil em Angola em 1970/72, viveu boa parte da vida em Macau, é autor de diversas comunicações e livros sobre a Guiné do seu tempo, como Nha Carlota (2010), e Nha Bijagós (2011)]

Meu caro Luís Graça & Companhia Limitada. .

Estimo-te bem e procurarei ser rápido. Acontece que há várias perguntas que desconheço, e como tal terei dificuldades em responder às vossas perguntas. Mas vamos lá ver se não me faltam mais "memórias"
.

1 - Há cerca de seis anos que, pontualmente, deparava com material referente à Guiné.

2 - Era por andar meio tonto, na busca das mais diversas informações referente à Guiné.

3 - Sim sou membro da vossa "Tabanca", não por direito, mas por "emprestado", pois
fiz a "guerra" em Angola, onde bem poderia ter sido muito mais válido do que fui.

[Foto à direita, o Estácio, em 1964, em Bissau]

4 - Mesmo que esporadicamente, passei a ter maior oportunidade de há uns 5 anos.

5 - Uma ou duas vezes, por mês, e gostaria de ter convívio mais próximo, embora saiba
que será impossível publicitar nomeadamente todas as histórias que possa receber.

6 - Conheço mas a verdade é que me faz certa confusão. Creio que bem bastaria uma
bem pensada por forma a termos tudo lá metido. Admito, porém, estar errar, pois na
Guiné havia deveras malta a queixar-se.

7 - A ambas, mas de preferência ao Blogue.

8 - De um modo geral qualquer delas está próximo do que pretendo.

9 - Nada me leva a negar o esforço que tendes de andar a transportar as coisas de um
lado para o outro. Só imaginando o que tendes feito.

10- Creio que não, muito embora reconheça dever estar bastante pesado.

11- O Blogue é a melhor forma que existe para unir a malta, devendo ser feito um esforço
para ser mantida.

12- Sim, com o deste ano, vão ser já mais três (caras novas) do que eu.

13- Sim. E mais 3 "guinéus",  sendo um Paraquedista, Comando e um de Tropa-fandanga. 

14- Com certeza, daí continuar como deve ser por mais uns anitos.

15- Todas as críticas são justificadas e estou em crer que no vosso caso injustas.

Ora aqui tendes num instante as respostas ao vosso inquérito e viva quem o faz. Viva.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11498: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (33): Respostas (nº 62/63): J. L. Mendes Gomes (CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66); Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72)

Guiné 63/74 - P11500: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (10): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte I) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)


 I Série: 18 de fevereiro de 2006: Guiné 63/74 - DLV [Poste 555]: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)...

Esta é já (ou pode vir a ser) uma das mais belas novelas sobre o amor em tempo de guerra (colonial)... Foi a minha reação, espontânea, sincera, quando o Virgínio Briote me mandou este texto para apreciação e publicação...

Descobri que ele que tinha um invulgar talento para a escrita.  "Que garra, que (con)tensão, que ritmo!"... E acrescentava: "É um privilégio, para mim e para os demais tertulianos, podermos ler esta tua mininovela em primeira mão"...

Devida à sua entensão (está entre o conto e a novela) vamos publicar o texto em duas partes. É seguramente um dos melhores postes publicados na I Série. Por isso merece ser revisitado e posto no montra da Tabanca Grande, por ocasião da celebração do nosso 9º aniversário !... Onze mil postes depois! (LG)

PS - Gil Duarte,  comando do CTIG, é  um  alter ego... Teresa, jovem estudante, 19 anos, de origem caboverdiana, não esconde a sua atração por Gil (e vice versa), mas  também não esconde as suas simpatias pelo PAIGC... Estamos em Bissau, em meados da década de 60.  Vasco e Benilde são os pais de Teresa (Tesa, na intimidade). Vieram da Praia. Ele, a trabalhar nos escritórios da Casa Gouveia. guarde-se pela Parte II (a publicar amanhã) para conhecer o fim (inesperado) destes amores e desamores em tempo de guerra.

Recorde-se, por seu turno,  que o Virgínio Briote, nosso coeditor (, jubilado pro razões de saúde, ) nasceu em Cascais, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan/mai 1965); fez o 2º curso de Comandos do CTIG; comandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / set 1966);  regressou em Jan 1967; trabalhou numa multinacional da  indústria farmacêutica; é casado com a Maria Irene.


Teresa, amores e desamores
por Virgínio Briote


1. TERESA. TERESA SÓ!

Sempre em festa, a casa da Dora era uma animação quase todas as noites. Gente conhecida, quase todos da grande família caboverdiana da Guiné, amigas e amigos que chegavam, de Santo Antão, de Santiago, S. Vicente. Novidades, a loja que abriu, a Dona que morreu finalmente com 94, coisas assim. Duas estudantes repartiam-lhe as despesas, pagavam-lhe os quartos, mais alguns pesos para a manutenção da casa, os outros trocados, nunca o soube como os arranjavam, nem nunca quis saber.

A Dora era só um conhecimento, mais nada. Um dia, atacada com paludismo, viu o Gil entrar pela casa dentro, com médico, medicamentos e comida. A partir daí, o conhecido que aparecia às vezes, sempre sem avisar, passou a ser um amigo chegado, daqueles que estão sempre à beira, sem outro interesse que se visse. Amizade, só isso. Como se fossem irmãos muito chegados, a Dora confiava-lhe segredos, mesmo alguns que se calhar não devia, mandava-lhe recados para Brá, convidava-o para pequenos convívios com os amigos, quase todos caboverdianos de Bissau. Para aquela festa, tinha-lhe dito que o iria apresentar a uma pessoa de quem ele iria gostar.

Conheceram-se em Bissau numa pequena festa em casa da Dora. Viu-a logo, mal entrou. Uma caboverdiana linda, a pele morena clara, desenhada sobre o magro, à volta dos 20.

Trocaram as palavras do costume quando a Dora, olhar cúmplice para eles, os mostrou um ao outro.

Teresa. Teresa quê, que não ouvi? Teresa só. Olhos grandes, claros, esverdeados. Que bem que ficavam com aquela pele! Voz doce, ar curioso. Algo esquiva e desinteressada, virou-lhe logo as costas e cada um foi para seu lado. Ouviram músicas, mexeram os braços e as pernas, conversaram com este e aquele até se fazerem horas.

Quando descia as escadas, ela chamou-o, ar atrevido, pareceu-lhe até demais. Mas já vai, tão cedo, nem se despediu, os outros não nos deram oportunidade de falar um pouco mais, uma pena, não foi? Voltamo-nos a encontrar? Um dia, disse-lhe ela, vemo-nos por aí, não? Afinal, Bissau não é assim tão grande… Se é meu desejo? Saiu a desconversar, meio desconsolado.

Dias depois, sentado no Bento, viu-a passar. Os olhares dos outros chamaram-lhe a atenção. Todos se viraram, não era fácil passar despercebida. Parecia-lhe mais alta. Os olhos com um verde mais magnífico ainda, levemente sombreados, cabelo liso preto, a cobrir as orelhas, elegante com um vestido sem mangas, azul-escuro pintalgado de bolinhas branca, a balançar acima dos joelhos, sandália preta de meio tacão. Como se tivessem combinado, dirigiram-se um para o outro, cumprimentaram-se com alguma cerimónia.

Sentados, os olhares dos outros em cima, vamos andar, por aí fora? Meteram-se no carro, uma volta pelas ruas, por aí não, é a minha casa. Saíram da cidade, para os lados da Sacor, estacionaram de frente para o Sol, a desaparecer no Geba.

O rádio a passar Capri , c’est fini (1), ela a cantarolar baixo, até começar a falar. Quem és tu? Sou este que está aqui! Mas quem és tu, porque estás aqui? Como? Porque estás aqui comigo? Sabes lá, que resposta! Vamo-nos embora, então! A conversa assim, até encontrar o fio.

Esta guerra, os desencontros, as pessoas para um lado e para outro, muita gente deslocada das suas casas, todos a virem para Bissau, muita tropa também, demasiada até, onde é que isto vai parar. Assim, de um momento para o outro.

Depois mais suave, as origens, as famílias, os amigos, os interesses. Estava a concluir o 7º no liceu de Bissau, os pais eram de Cabo Verde, queria tirar Medicina em Lisboa, estava com As vinhas da Ira nas mãos, tinha acabado um livro de Hervé Bazin. Só ódio, queres que to empreste? Porquê, se é só ódio? Pode ser interessante para ti, como sabes que não gostas sem o ler? Vou trazê-lo. Ficou assim marcado o próximo encontro.

O que estava ali a fazer, perguntou-se. Como se tivesse adivinhado ela adiantou que gostava de olhar para ele. Que gostava de estar, de o conhecer. Mas quem és tu, fala!

A noite a cair como cai em África, noite num momento. Temos que ir, não é? Deixou-a à porta da Sé, junto à rua dela. O grupo dele saía na madrugada seguinte, para o norte.

No regresso procurou-a. Os olhos, grandes na mesma, pareciam de cor diferente, o rosto mais fechado, o que se passa, algum problema?

Uma semana, esperara este tempo todo, começou ela, parecia que tinha fogo. Porque não disseste nada, Gil Duarte? Saíste para o mato, não? Para onde foste? Para Norte, para o Oio, não? O que fizeram? A fama que vocês têm, Duarte!

Olha-me de frente, Duarte, assim não, olha-me nos olhos, assim! O que sou para ti, ora diz? Porque me foges com os olhos? Séria, os olhos a entrarem por ele dentro, porque andas atrás de mim? Duarte, não falas? Responde, porque não falas? Gosto que me contes tudo! Gil! Encostada a ele, tão baixo que mal a ouviu, vamos sentar-nos antes no jardim? Estamos mais á vontade, a mamã não está, se ela aparecer apresento-ta, qual é o mal?

Que gostava, mas agora não. E logo? Os papás ficam no varandim a apanhar o fresco, até ás 11, depois vão-se deitar. Gil, que é que te deu, não falas? Tens namorada na metrópole, todos vocês têm, sei muito bem, como é ela? A boniteza não é só na cara, sabias? Não gostas de mim? Então que estás aqui a fazer?


Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



Duarte, que estás aqui a fazer na Guiné, que estão vocês todos aqui a fazer, a desinquietar-nos? O que vocês fizeram na Associação Comercial (*), orgulhas-te disso? Que vergonha, entrarem sem serem convidados, estragarem a nossa festa! A causar-nos sofrimento, a matar pessoas, a ocupar a nossa terra, a impedir o nosso povo de ser livre, é isso?

Estás a olhar assim para mim, porquê? Achas que não temos cabeça para pensar, que só somos corpo para vocês gozarem? Porque nunca te vejo fardado, porque será, tens vergonha de vestir a farda? Aliás odeio fardas, nunca me esperes fardado à porta do liceu, ouviste?

Vens logo à noite? Quando os papás se vão deitar fico sempre um bocado à janela. Saiu dali atordoado, sem saber o que fazer. Uma mulher diferente!


2. NOS ANOS DA DORA

Do portão viu a Dora ao cimo das escadas. Ambiente animado, pessoal a dançar cá fora, para aí uma dúzia de pares, gente caboverdiana, colados uns aos outros, aquele jeito deles, os corpos no ritmo das mornas e coladeras.

Então, bem aparecido, zangado comigo? Porquê, Dora, a consciência pesa-te? Não lembro de nada, mas sempre pode ter acontecido alguma coisa de que me não tenha dado conta, não é?

Que não deve ter ocorrido nada, que se recorde, os olhos dele pelo baile, a Teresa a dançar, a um metro bem medido do parceiro caboverdiano, a saia do vestido bem acima dos joelhos, o decote a mostrar. Mal os olhos se cruzaram, ela encostou-se ao parceiro, a cara para o outro lado.

Que não, não havia problema nenhum, estivera fora, andava ocupado, aos fins dos dias não tinha vontade de sair, só isso, mais nada. Só isso, de certeza? Anda comigo, a Dora a levá-lo para o meio dos dançarinos, mexe o corpo assim, juntinho.

Passa-se alguma coisa contigo, Gil, alguma coisa que eu não saiba? O que é que tu não sabes, Dora? Porque andas tão afastado agora, tão cheio de cerimónias, anda aí qualquer coisa e tu não queres contar. Não sabes do que estou a falar, ora, estás a desconversar, especialidade tua.

Dora, estão a chamar-te, dali, olhos na Teresa, colada ao par.

Despediram-se da Dora, isso agora vai, olhar maroto para as mãos deles. Tinham dançado uma e outra vez até ao fim da noite, quase só os dois no fim, tão colados que os outros até reparavam. Desceram a rua de Santa Luzia, mãos entrelaçadas, a fazerem cócegas um ao outro, a rirem-se por ali abaixo.

Á porta dos pais dela, os rebentamentos que ouviam há horas soavam mais fortes. O que será? Jabadadas (2) , menina, chega-te para cá, para onde vais, Teresa? Tenho medo, não posso, encosta-te então, não te sentes mais abrigada assim, mas não é das explosões que tenho medo, então de que é?

Uma mão na perna, a subir, ai, aí não, Gil! Respirações atrapalhadas, afastados, um momento que não acabava, a olharem um para o outro, uma sirene bem perto, a Teresa lançada outra vez, os lábios a rasparem-se, o gosto da boca dela, a mão dele nos seios, aqui não, anda, não podemos ficar aqui, mão amarrada à dele, que malucos, que é que nós estamos a fazer, Gil?

Na espreguiçadeira onde se recostava a ler e a sonhar nas tardes quentes de Bissau, ansiosa, não sabia o que queria, a mão dele fazia-lhe comichão no joelho, ria-se das cócegas e do nervoso. A mão em cima da dele, parecia-lhe que a acalmava. As duas mãos juntas, a subirem por ela acima, não posso, Gil, tem cuidado, miminhos só, não me faças mais nada!

Não ando a fazer nada com ela, não pretendo nada da Teresa, só passar uns momentos entretido! Não sei é se me vou aguentar assim, não sei não! Se calhar é melhor ir procurar a Matilde. E a Clara, onde andará aquele amor? Ah, Clara, Clara!

Esta história com a Teresa pode dar chatices, pode trazer-te problemas! Como vai ser o próximo lance? O 14-04 com o pára-brisas no capô, vento na cara, a falar sozinho, até Brá.

3. QUE TERESA!

Naquele fim de tarde, quando descia a rua devagar em direcção à Sé, viu o pai da Teresa, de calção, a tratar da relva e das flores. Aliás, viram-se um ao outro ao mesmo tempo, que chatice, ele a desviar os olhos para as montras da Ultramarina, o pai mais demorado, endireitou-se, sacho na mão, se calhar é aquele o gajo que anda atrás da Tesa.

Acabada a missa da tarde, Teresa, véu dobrado na mão, braço na mãe, desceu as escadas. Iam começar a subida da rua para casa quando o viu. E agora, que faço?

A mãe conhece-o de vista, já o viu da janela mais que uma vez, está a par, uma tardinha perguntou-lhe até quem era. Sei lá, mãe, um militar qualquer, como hei-de saber, queres que lhe pergunte o nome, porque está a passar na rua? Que atrevida que estás, Tesa, julgas que tenho os olhos fechados? E se nós mudássemos a conversa, mãe?

Uns tempos mais tarde vira a Tesa a falar com aquele moço moreno, alto e magro, de farda amarela clara, junto a um jeep. Quando a viu voltar a correr, com a roupa do ténis, fizera-se desentendida, descera para o jardim, para a beira dela, calada com o livro na mão. Sentira-a ausente naqueles instantes, rodeara-a, falara-lhe da carta da tia de Santo Antão a dizer que vinha passar um mês com eles. A Tesa ausente, desinteressada, ah sim, quando?

Aliás, o Vasco já reparara, a nossa filha está diferente, claro meu amor, já tem 19 anos! Não é disso que eu estou a falar, Benilde, acho-a diferente, o comportamento dela! Porque dizes isso, nunca dei por nada! Vai para o quarto cedo, anda a pé às vezes à noite, já a vi junto à janela da sala mais que uma vez! Ora,  Vasco, sempre assim foi, são raparigas novas, aconteceu connosco, já não te lembras? Não, Benilde, cuidado, a Tesa é muito nova, abre-me esses olhos!

Tesa, e as tuas aulas como vão? Ora mãe, que te deu agora? Tentou evitar até não poder mais, a mãe Benilde a cercá-la, sim conheço-o, tem mal, mãe? Que não, filha, desde que me contes tudo, desde que tenhas cuidado, sabes como são, militares longe das famílias, saudosos das namoradas, estão aqui de passagem, só querem divertir-se, tu sabes bem o que aconteceu à Lurdes com aquele alferes dos comandos também, até a chegaste a avisar, já te esqueceste? Tinha sido assim, a conversa ficara neste ponto, um dia que calhe, eu apresento-to, pronto.

De braço dado com a mãe, mudou de passeio e subiram a rua, a mãe a beliscá-la, a olhar para as montras como quem não quer a coisa, até ficarem frente a frente. A mãe Benilde, o Gil Duarte, um amigo, as mãos estendidas.

Sentámo-nos no varandim, com sumo de laranja e ananás, feito na ocasião pela Mabilde, a nossa criada de Cabo Verde. Conversávamos e calavamo-nos ao mesmo tempo, até teve graça. Os meus estudos, as disciplinas de Física e Matemática, os meus professores, o ambiente que se vive em Lisboa, as tias, as irmãs do papá, que vivem lá em Benfica.

Foi pouco tempo, para aí 1 hora, a mamã a lamentar, que pena o teu pai não estar aqui para o conhecer, naqueles fins de tarde andava a tratar do jardim, depois ainda ia ao escritório, ficaria para mais tarde, também se estavam a fazer horas, o Gil a dizer que tinha que ir. A minha mãe portou-se impecável, um amor mesmo, desci com ele as escadas, ainda ficámos um pouco na brincadeira, a rirmo-nos. Combinámos encontrarmo-nos lá mais para a noitinha, quando todos estivessem deitados.

A mamã ficou muito bem impressionada contigo, sabes? Gostou de ti, acha-te simpático, é verdade, não te rias, tu simpático, vê lá! Que pareces atinado, muito correcto. Depende dos dias e dos momentos, também acho, agora simpático, como as aparências enganam, se ela te conhecesse melhor!

Gosto de estar contigo, nem sei bem porquê. E no entanto, há tanta coisa entre nós a separar-nos. O quê? Esta guerra, por exemplo!

Nem entendo como te envolveste assim, numa força tão agressiva, porque foste para lá? Porque é que toda a gente pergunta isso? Sei lá porquê, talvez o fascínio pela guerra, não sei! Soldados com as caras sujas, o sangue nas fardas rasgadas, as imagens da destruição, os heróis lavados com as fardas novas, os emblemas a reluzirem, os tambores a rufarem, o clarim a tocar aos mortos, o frio pela espinha, os jeeps, os camiões, as lagartas dos carros de assalto, o nó que sinto na garganta, não sei, Teresa, sei lá!

E não sentes uma ponta de remorso pelo que andas a fazer, não entendes a luta deste povo? É um assunto de que não queres falar? Nem sequer te interessa? E em ti, tens pensado na guerra em que andas envolvido, de arma na mão? Porque é que não fizeste como tantos outros, levar uma vida mais resguardada, mais sossegada, até no teu interesse? Tens pensado no futuro ou é também um assunto que não te interessa?

Claro que estamos a fazer tropelias, não o devíamos fazer, não é para isso que estamos aqui. Lutamos pelo gosto da luta. Gosto disto, desta adrenalina toda. O único problema é ficarmos mutilados, se morrermos, nem damos por ela. Mas odeio a guerra, esta ou qualquer outra. Aliás, não há dia nenhum que não combata contra a minha própria guerra. E não quero morrer, nem quero que os outros morram. Mas, por mim, não vamos perdê-la. Mas é um assunto pessoal, muito íntimo, Teresa. Para as outras conversas és íntimo comigo, porque é que esta é diferente, tens outras vidas de que não queres falar comigo? Para mim tens? Alguém te obriga a estar aqui comigo ou alguma vez te obriguei?

A consciência pesa-te aí dentro, no teu íntimo, Gil, e por mais que digas que não, estás traumatizado e mais, se pudesses, fugias daqui. As minhas aulas vão andando, obrigada, não desconverses!

Quando vai ser, não sabemos. Já estivemos mais longe. Eu era muito menina, andava para aí no 3º ano, quando tudo começou a sério. Até 63, tirando o caso do Pidjiguiti (3), ao que ouço dizer, era só conversa. Nem me lembro de alguma vez ter ouvido falar a sério em independência. Independência, só a vossa, com o rei Afonso Henriques, que bateu na mãe dele, aprendeste também? E também em 1640 e tal, outra vez Portugal a dizer aos reis de Espanha que mandassem na terra deles, não foi? A partir de 1963, a história aqui passou a escrever-se de outra forma. Foi pena, mas para trás, se formos a ver,  tem sido sempre assim, não se consegue quase nada a bem, é pena, mas é assim.

Não estava era à espera de vir a ter esta conversa contigo hoje. Sempre pensei que um dia viria a falar deste assunto com alguém que estivesse do outro lado, assim, tão frontalmente como estamos a fazer agora, mas nunca me ocorreu que viesse a ser contigo! Mas também é bom que assim seja, temos interesses comuns, interessamo-nos um pelo outro, somos capazes de ter uma conversa destas assim, sem recriminações, sem zangas, não achas? És capaz de me dizer, se estivesses deste lado, o que fazias, alistavas-te no partido?

Olha, Gil, acho que não vai ser já, vai demorar ainda uns anos, mas tenho a certeza que a nossa bandeira vai subir no mastro do palácio, lá em cima na praça, e quem sabe, nós os dois no meio do povo, a vê-la ao vento, diz lá, eras capaz de ir comigo?

O barulho dos ramos das árvores e um mocho ou uma coruja lá para trás, dos lados do cemitério, os dois sentados há que tempos, na espreguiçadeira que mal dava para um.

 (Continua)


© Virgínio Briote (2006)

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Notas do autor:

(1) Canção romântica,  1965, de Hervé Villard

"Nous n'irons plus jamais, 
Où tu m'as dit je t'aime, 
Nous n'irons plus jamais, 
Comme les autres années, 
Nous n'irons plus jamais, 
Ce soir c'est plus la peine, 
Nous n'irons plus jamais, 
Comme les autres années. 
Capri, c'est fini, 
Et dire que c'était la ville, 
De mon premier amour, 
Capri, c'est fini, 
Je ne crois pas que j'y retournerai un jour" ...

(2) Rebentamentos das flagelações a Jabadá, aquartelamento das NT frente a Bissau.

(3) Greve dos estivadores no cais do Pidjiguiti, em 3 Agosto de 59, reprimida violentamente pela Polícia.

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Notas de L.G.

(*) Vd postes de:

13 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVII: O 'baile dos comandos' na Associação Comercial

" (...) Na esplanada do Bento, a 5ª Rep, como também era conhecida , bebia cerveja com mancarra, num grupo de 5 ou 6 comandos e páras. Um terá dito que naquela noite, na Associação Comercial de Bissau, havia o baile dos finalistas do Liceu. Outro lembrou-se de perguntar se alguém recebera convite. Eu não, tu não, aquele também não…Ninguém se lembrou de nós, como pode ser? Queres ir? (...)"

13 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXIII: O baile dos finalistas do Liceu de Bissau de 1965 (João Parreira)

"(...) Na manhã daquele dia para me descontrair tinha ido com alguns camaradas para Quinhamel, uma vez que estava com grandes projectos para aquela noite. Semanas antes tinha conhecido a Helena uma moça caboverdeana, que era o que se costuma dizer uma brasa e andava todo entusiasmado" (...).


(**) Último poste da série > 21 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11438: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (9): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XVII / XVIII / Fim): Final da comissão em Empada (set 69 / jan 70)

Guiné 63/74 - P11499: Os nossos seres, saberes e lazeres (52): João e Vilma Crisóstomo, "just married", são notícia no New York Times e no LusoAmericano






Notícia do casamento do nosso querido amigo e camarada João Crisóstomo com a Vilma Kracum. LusoAnmericano, 24 de abril de 2013 (Reproduzida com a devida vénia...)


1. Mensagem de João Crisóstomo

Date: 2013/4/29

Subject: > Thank you,... one thousand times!

My very dear friends,

I am unable to contact you all immediately individually, as I would like and intend to do as soon I can ( mostly by phone, for, as you know, I am not good with facebook and other digital network communications.) But I want you all to know that , try as I might, I cannot find words to express and convey to you all how grateful I feel to all of you.. It was your participation , either by your personal presence or simply in spirit , as evident by your so welcome and appreciated messages of heartfelt good wishes that made this day, already so special to me, an even better day,of almost indescribable joy and happiness for me and Vilma.

I am also happy that or wedding, given the unusual circumstances that led to our meeting again after a long separation, attracted the attention and special interest of some media outlets, In fact both the Luso Americano and The New York Times made extensive coverage of the event which can be seen by "clicking" ( is that the word??? I hope so!!..) the links  http://nyti.ms/182jEN2  ( for the New York Times) and for the Luso Americano please see pdf attached.

Once again, THANK YOU INDEED!

Will talk to you soon,

João and Vilma ( Crisóstomo too now,... both of us!)

Tradução [de L.G.]


Data: 29/4/2013

Assunto: Os nossos mil e um agradecimentos 


Meus muito queridos amigos:

Na impossibilidade de vos poder contactar  imediatamente a todos, um a um,  como eu gostaria e pretendo fazer assim que puder (principalmente por telefone, pois, como sabem, eu não sou bom com o facebook e outras redes digitais de comunicação),  queremos levar ao conhecimento de todos vocês que, por mais que tentemos, não conseguimos  encontrar palavras para expressar e transmitir-vos a nossa gratidão. 

A vossa participação, presencial  ou simplesmente em espírito, como é evidente pelas mensagens de parabéns que recebemos, contribuir para fazer deste dia um dia ainda melhor, de indescritível felicidade e alegria para nós os dois, eu e a Vilma.

Também estou feliz pelo facto deste casamento, dadas as circunstâncias excepcionais que levaram ao nosso reencontro depois de uma longa separação, ter atraído  a atenção e o interesse especial de alguns meios de comunicação. Na verdade tanto o Luso Americano como  The New York Times fizeram uma extensa cobertura do evento que pode ser visto por "clique" (que é a palavra?? Espero que sim! ..) em http://nyti.ms/182jEN2 (para o New York Times) e através do anexo em pdf (para o Luso Americano).
.
Mais uma vez, muito obrigados, e até um próximo telefonema,
João e Vilma (Crisóstomo também agora, ... nós dois!)
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11448: Os nossos seres, saberes e lazeres (51): WE HAVE IT!!!.... Um linda história de amor, um reencontro ao fim de 40 anos, um casamento em Nova Iorque... E agora, que sejam felizes para sempre, meus queridos João (Crisóstomo) e Vilma (Kracum)! (Tabanca Grande)

Guiné 63/74 - P11498: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (33): Respostas (nº 62/63): J. L. Mendes Gomes (CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66); Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72)

A.  Mandámos mais lembrete (o terceiro e último) ao pessoal da Tabanca Grande, em 27 do corrente, sobre o inquérito aos leitores do blogue,  e estamos já publicar as primeiras respostas da 3ª vaga...

Amigos e camaradas que se sentam à sombra do frondoso, mágico, fraterno poilão da Tabanca Grande:

Estamos vivos e estamos juntos, é isso que estamos a comemorar neste 9º aniversário do nosso blogue. A efeméride, celebrada a 23 de abril, foi/é apenas um pretexto. Começámos a "blogar" em 2004... Os tempos que correm são mais de depressão do que de efusão. Mas nós, camaradas, somos velhos combatentes, sobreviventes, resistentes mas também resilientes...
Está a decorrer um pequeno inquérito por questionário aos membros da Tabanca Grande, podendo também ser respondido pelos "leitores externos" que nos acompanham. Para o caso dos "internos", a sua desejável resposta é também uma forma de "prova de vida"... Há camaradas e amigos de quem continuamos a não ter notícias há muito... 

Até à data responderam-nos mais de meia centena, o que é bom sinal... E para esses vai o nosso Oscar Bravo (OBrigado). Queremos, contudo, ultrapassar a barreira dos 10% de respondentes. A Tabanca Grande tem hoje 615 elementos formalmente inscritos. 

Contamos com a vossa melhor boa vontade e santa paciência, respondendo até ao fim da próxima semana ao nosso questionário. A resposta não rouba mais do que 5 minutinhos ao vosso valioso tempo.

Um Alfa Bravo (ABraço) para todos/as, amigos/as e camaradas da Guiné. 

Luis Graça, em nome da equipa editorial.


PS - As respostas serão publicadas com direito a foto... Escusado será dizer que respeitamos a vontade de quem não quiser responder.


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B. Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

C. Resposta nº 61 > Joaquim Luís Mendes Gomes [ ex-alf mil, CCAÇ 728, (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)]


1. Tê-lo-ei descoberto, por volta de 2008.

2. Quando pesquisava sobre a Guiné.

3. Sou membro, desde logo.

4. Umas duas vezes por dia. De manhã e ao serão.

5. Vou participando de vez em quando.

6. Não costumo ver a página do Facebook.

7. Muito menos [ir] ao FB.

8. Gosto mais dos relatos das vivências pessoais e das fotos de então.

9. Gosto de tudo. Poderá existir um ligeiro excesso de erudição...mas que se compreende.

10. Não [, não tenho dificuldade no acesso].

11. O blogue teve e tem uma importância de valor incomensurável. Só o futuro revelará...

12. Nunca participei nos encontros.

13. Não [, também irei este ano].

14/15. Tem de ter [ força para continuar].

D. Resposta nº 62 > Paulo Santiago [ex-alf mil at inf, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]

Penso que foi em 2005 que descobri o blogue [1]. Andava, ainda, com muita nabice, navegando na net, procurando algo sobre a Guiné [2] quando me apareceu uma página com umas fotos do Saltinho, de Bambadinca, e uma do Vacas de Carvalho, meu camarada na instrução de Mílicias, sentado em cima de uma Daimller. Tinha chegado ao blogue,que à época julgo chamar-se "fora-nada". Dominando mal esta máquina de teclas,j ulgo que mandei uns comentários que não sei se chegaram ao destino.

Formalmente,entrei para a Tabanca Grande,aí por Maio ou Junho de 2006 [3] ,e teclando com um único dedo,ainda hoje,mandei alguns escritos e fotos para o nosso blogue. As memórias da guerra eram mesmo memórias, nunca escrevi qualquer diário no meu tempo de comissão, e as cartas e aerogramas que escrevera aos meus pais e irmã, desapareceram. Quem imaginaria que agora fariam jeito para alimentar esta coisa chamada blogue? [5]

Continuo a visitar o Luís Graça e Camaradas diriamente, no blogue[4]. Sou f requentador assíduo do facebook, mas sem visitar a página da Tabanca Grande [6/7].Explicando, o blogue é calmo, é um repositório temático de memórias de combatentes da Guiné, enquanto o facebook, para mim, é mais nervoso, não é temático, até dá para "puxar da G3" [8/9]. Assim.no blogue,encontrei/fiz camaradas e amigos, outros acabaram,  iniciei algumas causas, como o caso do Batista, da viúva do Ferreira, fiz uma catarse sem psiquiatra. No "face" ando por lá pela actualidade, para, algumas vezes, escrever mais com o coração.

Já participei em vários encontros,e num deles fui representado pela minha filha. Este ano, ainda não sei se estarei presente, estou num dilema: encontro ou torneio de veteranos de rugby...irei decidir.[12/13].

Quanto ao fôlego do blogue [14], acho que o tem. Em 2006, Éramos cento e poucos, não havia aniversários, havia menos anúncios de convívios, havia postES de memórias todos os dias. Agora que somos mais que um batalhão, porque não há-de o blogue ter fôlego? Penso que há muitos camaradas que têm de escrever para além do poste de apresentação,é isso que está a faltar[15]

Abraço a todos
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11495: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (32): Respostas (nº 60 e 61) de Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68) e João Rebola, ex-Fur Mil da CCAÇ 2444 (Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70)

Guiné 63/74 - P11497: Parabéns a você (569): A nossa ilustre Enf.ª Pára-quedista Giselda Pessoa (BA 12, 1972/74)

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Nota do editor:

Último poste da série de 27 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11480: Parabéns a você (568): Hugo Guerra, Coronel DFA reformado, ex-Alf Mil CMDT do Pel Caç Nat 55 (Guiné, 1968/70) e Humberto Nunes, ex-Alf Mil Art CMDT do 23.º Pel Art (Guiné, 1972/74)

domingo, 28 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11496: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (44): A gloriosa CCAÇ 675 foi realmente única

1. Mensagem do nosso camarada Belmiro Tavares, (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), com data de 15 de Abril de 2013:

Caro Carlos Vinhal, Será isto uma doença?
Caso afirmativo… não tenho cura!

Somos levados a concluir que a gloriosa CCaç 675 foi realmente única; não, é claro, por não haver outra com este número, mas porque ela foi realmente diferente, para melhor, em comparação com a grande maioria das unidades que “guerrearam” (sem ódio) nos três teatros de operações.

O Jero, eu e outros temos apregoado intensamente que fomos e continuamos a ser ímpares – perdoem a nossa vaidade. A verdade é como o azeite: vem sempre à superfície.

Quem leu os nossos textos no blogue e os deliciosos livros do Jero ficou a conhecer, em parte, as razões do nosso orgulho.


Prestem atenção: 

- 1º - Tivemos um capitão sem par! Grande parte da nossa obra é consequência disso mesmo.

- 2º - Limpámos completamente a nossa zona e mantivemo-la sem “intrusos” até ao fim da nossa comissão.

- 3º - Os nossos militares distinguiam-se, no aquartelamento, no mato ou na cidade, pela sua valentia, coragem e pelo seu comportamento e disciplina.

- 4º - Recuperámos milhares de civis que, para fugirem à guerra, se refugiaram no Senegal vizinho; voltaram quando se aperceberam que ali já havia paz e condições “ótimas” para viver.
Por ação direta, dedicada e intensa do nosso capitão conseguimos sementes para as suas “lavras”. Tiveram uma colheita “astronómica”; foram “ensinados” que era necessário semear e colher o máximo para alimentar também os que ainda haviam de voltar – e vieram muitos.

- 5º - Mais de três dezenas de militares habilitados apenas com a 3ª classe de adultos frequentaram, nos intervalos a guerra, as “nossas aulas” regimentais e concluíram em Farim a 4ª classe.

- 6º - Construímos uma Igreja e duas pistas de aterragem.

- 7º - Para uso dos nativos, edificámos um posto de Primeiros Socorros e preparámos pessoal de enfermagem; construímos uma escola para a miudagem nativa.
Um dia, Domingo, os miúdos, alinhados por alturas compareceram frente ao comando da companhia; enquanto a Bandeira subia garbosa, ao topo daquela haste tosca, eles cantaram, donairosos, o Hino Nacional. Não se tratou de ordem ou sugestão nossas; foi decisão do professor “improvisado” que trouxemos de Farim.

- 8º - Transformámos uma singela e ruim picada de 12Km em estrada e reconstruímos duas pontes.

- 9 - Custeámos a trasladação dos nossos três mortos em combate.

- 10 - Além de vários louvores e condecorações individuais, a CCaç 675 recebeu dois merecidos louvores coletivos.


Depois do regresso, continuámos a nossa senda de diferenças: 

A) Todos os anos, em Maio, sem falha, realizamos o nosso almoço de confraternização sem esquecer a missa pelos nossos mortos, de lá… e de cá.

B) Nos intervalos dos almoços anuais tem havido as chamadas “mini 675”, com 3; 5; 10; 20 ou mais de sessenta convivas.

C) Desde a 1ª hora, os nossos familiares participam nas nossas reuniões; os familiares de alguns dos nossos mortos fazem questão de confraternizar connosco.

D) Há alguns anos, iniciámos a colocação de lápides nas sepulturas dos nossos “elos” falecidos. Este rol, longo, mas por certo, incompleto, veio a lume na sequência do lembrete para requerer as medalhas em epígrafe; acontece que todos nós, oficiais, sargentos e praças somos detentores de tais insígnias que nos foram presenteadas pela própria CCaç 675, a gloriosa.

Belmiro Tavares e José Eduardo Oliveira (JERO) juntos de um "Elo" falecido

Eis mais um tema que não consta do rol.
Obrigado, Carlos, pelo tempo roubado, mas no que à CCaç 675 diz respeito, nós sentimos sempre ganas de agarrar o mote.
Não nos levem a mal por isso!

Aquele abraço!
BT
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Notas do editor:

- Quem quiser conhecer a história da CCAÇ 675, além de ter de ler o livro do nosso JERO, "Golpes de Mãos - Memórias de Guerra", podem ler aqui no Blogue as Histórias e memórias de Belmiro Tavares e Histórias do JERO

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11355: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (43): Eu, aprendiz de perfeito, apresento-me

Guiné 63/74 - P11495: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (32): Respostas (nº 60 e 61) de Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68) e João Rebola, ex-Fur Mil da CCAÇ 2444 (Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70)

1. Resposta ao questionário do nosso camarada Henrique Matos (ex-Alf Mil; 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52, Enxalé, 1966/68:


(1) Quando é que descobriste o blogue?
R - Descobri o Blog em Junho de 2007.

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
R - Pesquisa no Google.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?
R - Sou membro da Tabanca Grande deste aquela data.

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
R - Variável, 2 a 3 vezes por semana.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?
R - Mandei pouco material, texto e fotos; vou fazendo alguns comentários.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?
R - Conheço a página no Face mas não frequento.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
R - Resposta anterior.

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?
R - Gosto de quase tudo, mas aprecio sobremaneira os comentários.

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?
R - Não me agrada certo tipo de comentários, enfim… nada de relevante.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
R - O acesso ao Blog está na realidade um bocado lento.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook?
R - O Blog fez-me reviver um tempo que estava destinado a esquecer e acima de tudo proporcionou-me o encontro com pessoas extraordinárias com quem estabeleci grande amizade.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
R - Desde que entrei para a “família” vou a todos os encontros.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real?
R - Penso ir novamente este ano.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?
R - Enquanto tivermos força suficiente (e juízo) para teclar, o Blog tem de continuar.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
R - Em equipa que ganha não se mexe.

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2. Respostas do nosso camarada João Rebola (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, CacheuBissorãBinar, 1968/70) ao questionário:


1 - Talvez desde o seu início.

2 - Informação e posterior pesquisa.

3 - Sim. Desde 2012.

4 - A partir da data supra, todas as semanas.

5 - Já enviei alguns artigos ( texto e fotos ) e espero dentro de alguns dias pedir a publicação de mais um.

6 - Sim, conheço.

7 - Na verdade, recorro sempre ao Blogue e raramente ao facebook.

8 - Penso que o Blogue é mais completo, mais apelativo, dá-nos uma visão mais global, permitindo um melhor reencontro com o passado. 

9 - Não há nada que não goste no Blogue, embora alguns textos sejam por vezes muito longos e com muitas imagens, algumas quase repetitivas. Mas compreendo. 
Do Facebook, não tenho opinião.

10 - Não tenho tido dificuldade alguma em aceder ao Blogue. 

11 - O Blogue representou o reencontro com camaradas de guerra, o "restaurar" de imagens que o tempo já se encarregara de esponjar. Hoje, o Blogue, passe o pleonasmo, é o " Lusíadas " do séc. XXI, com muitos autores e uma infinidade de narradores. 

12- Nunca participei.

13 - Não vai ser fácil.

14 - Penso que sim. Apenas gostaria de saber quem será o último ex-combatente bloguista a escrever..!!!

15 - Sugeria que a Tabanca Grande, com a ajuda das entidades competentes (não será fácil por vários motivos) começasse a pensar na compilação em livro, para que esta parte da história da guerra do ultramar, se perpetuasse, no tempo e no espaço. E por quê? Porque daqui a dois decénios, restarão poucos ou até nenhuns, sendo muito fácil apagar tudo o que está nos computadores e afins. Os nossos filhos e netos e seus vindouros manterão num espaço do seu escritório/biblioteca um exemplar do nosso " Lusíadas ". Editores, amigos, pensem nisso.

Um grande abraço
João Rebola
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Nota do editor:

Último poste da série de 28 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11491: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (31): Respostas (nº 58 e 59) de Manuel Marinho, ex-1.º Cabo do BCAÇ 4512 (Nema e Binta, 1972/74) e José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Xitole, 1970/72)