quinta-feira, 23 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11613: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (1): Bissau, ontem e hoje


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 1 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (1)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 2 > O primeiro encontro com o passado: um antigo "djubi", hoje quadro superior estatal, reconhece o "alferes paraquedista", hoje médico, ortopedista, Francisco Silva. Do lado esquerdo, a Maria Armanda e a Elisabete.



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 3 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (2)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 4 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (3)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 5 > Uma rua de Bissau (1)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 6 > Uma rua de Bissau (2)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 7 > Um monumento Português com um “toque” independentista, a estrela.



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 8 > A Cadidjato Candé, filha de Aliu Candé,  e a Maria Armanda, esposa do José Teixeira.




Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 9 > Transportes públicos

Fotos: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte I

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário  da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013]


Chegamos alta madrugada ao Aeroporto de Bissau [, terça-feira, 30 de abril]. À nossa espera estavam os dedicados funcionários da AD, o Tchibi e o Bemba,  que nos conduziram rapidamente para a sede desta Associação no Quelélé onde amavelmente disponibilizara dois quartos na Escola de Hotelaria, para os quatro turistas tugas: o Francisco Silva e esposa Elisabete, e o José Teixeira e esposa, a Maria Armanda

Após um sono reparador iniciamos as visitas de cumprimentos na sede da AD, ao Pepito e colaboradores. Pude abraçar de novo a Cadidjato Candé, mas conhecida por Cadi Guerra, a filha do lendário Aliu Sada Candé, dos tempos de Aldeia Formosa (Quebo). O combatente que avançava com o seu grupo, de peito aberto às balas ao encontro do inimigo que nos fazia esperas no mato com fins nada amistosos. Lamento a morte violenta a que foi sujeito, uns meses depois de termos abandonado aquele povo. Sei que, acabada a guerra,  voltou à sua terra e dedicou-se como todos os ex-combatentes ao ganha-pão na lala, onde o foram buscar para julgamento popular e morte violenta. Em 2008 tive o grato prazer de conhecer a sua filha, a Cadi em Guiledje e logo ali firmamos uma grata amizade. Sou o “tio” mais novo da Cadi

Grandes amigos, os companheiros da AD. Sabem acolher como ninguém. Sentimo-nos em casa, com o calor humana que nos proporcionaram, apesar do asfixiante calor solar que se fazia sentir. Momentos gratificantes que não esqueceremos.

Fomos de seguida à procura da nova cidade de Bissau que não conseguimos encontrar. Vimos,  sim, uma cidade velha esburacada, poluída e ruidosa. Muita gente em alegre movimento no seu colorido característico, muitas viaturas a rodar, umas velhas a cair de podre em disputa com a nova vaga de carros e jeeps de luxo, sinais de riqueza de alguns, mas uma cidade sem alma. Muito lixo nas ruas. O Cais do Pijiguiti completamente descaracterizado, pela imundície e pelo cheiro nauseabundo de detritos perdidos na orla marítima. Ali mesmo funciona um pequeno mercado cheio de vida.

Dando asas à saudade,  fomos até à antiga messe de Oficiais em Santa Luzia, onde funciona atualmente um Hotel [, o Azarai]. Foi sem dúvida o único local onde nada mudou e,  se tal aconteceu, foi para melhor. Instalações modernas, bem conservadas e bem apetrechadas, os jardins bem tratados. A piscina, um encanto.

Ali mesmo se deu o primeiro encontro com o passado quando o diretor de um Instituto do Estado Guineense, de passagem, reconheceu ao primeiro olhar o “alferes paraquedista”, ou seja o nome pelo qual o Francisco Silva era conhecido por ter feito uma experiência nos paraquedistas antes de ingressar no Exército e entabulou conversa connosco, sobre os tempos em que,  sendo ele um miúdo, convivia na sua tabanca natal com os militares portugueses ali estacionados. (*)

Um franguinho de chabéu no Restaurante A Padeira Africana retemperou-nos as forças, numa tarde quente que convidava ao repouso, a quem acabava de chegar do frio Portugal.

Terminamos o dia com uma visita à maternidade do Hospital da Cumura, onde a Irmã Irina nos acolhe com um sorriso de agradecimento e esperança. Agradecimento pela instalação do sistema de energia solar que deu luz à maternidade e enfermaria de pediatria. Assim se evitarão,  segundo ela, partos e cesarianas à luz da vela como tem acontecido muitas vezes. Esperança, porque ter a sorte de ser visitada por um médico ortopedista [, o Francisco Silva, do Hospital Amadora-Sintra], o que considerou uma bênção de Deus, logo, aproveitada e muito bem pela Drª Helena, voluntária quase permanente neste hospital.

Uma criancinha aguarda há cerca de um ano o milagre de ser vista e operada a uma perna. Faltava o médico ortopedista e eis que aparece um vindo de Portugal, sem ninguém contar e não se faz rogado. Logo, se alinham as condições para que a criança seja operada. Torna-se necessário pedir à Clinica Pediátrica de Bor para que a operação seja feita neste Hospital, pois no de Cumura não há as condições ideais. Programadas as démarches para se concretizar a operação clínica,  recolhemos a Quelélé para um merecido repouso, depois de jantarmos na Baixa de Bissau e apreciarmos a ruidosa noite com carros e carros em movimento num vai e vem pela única saída da cidade, a Avenida do Aeroporto.

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 26 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973

(...) O Francisco Silva revelou-me na altura [, em Iemberém,] ter saído da CART 3492 para substituir um alferes morto na parada, pelos seus homens, africanos (ou por um dos seus homens, já não sei precisar bem) do Pel Caç Nat 51, sediado em Jumbembem, sector de Farim. Segundo o Francisco Silva, o alferes terá sido morto por que "era um tipo bom de mais, com problemas para impor a sua autoridade ao pelotão (que era etnicamente heterogéneo, e tinha um historial de problemas de disciplina)"...

Sabemos agora, através do Fernando Araújo, que esse infortunado camarada chamava-se Nuno Gonçalves da Costa, era natural de Arcos de Valdevez, e terá sido morto, "traiçoeiramente", a sangue frio, à queima-roupa, " com 3 tiros de G3", disparados por um militar do seu Pel Caç Nat 51, que não acatou o castigo (um reforço) que lhe imposto pelo seu comandante. A data fatídica foi em 16 de Julho de 1973. Os seus restos mortais repousam no cemitério da sua freguesia natal, São Jorge. (...)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11612: Efemérides (127): O 10 de junho da minha indignação: em 2006 o Paulo Teixeira Pinto, em 2013 a Isabel Jonet... a invocar, em vão, o nome dos combatentes! (José Colaço)

A minha indignação
por José Colaço

Decorria o ano de 2006,  levanto-me trato da minha higiene pessoal, tomo o meu pequeno almoço,  procuro a minha velha boina, as barretas de identificação de ex-combatente e toca marchar a caminho do forte do Bom Sucesso para comemorar o 10 de Junho, sem saber quem discursava.

Ao chegar vejo o programa e deparo quem ia usar da palavra em homenagem aos combatentes caídos no campo da Batalha na guerra colonial era o Sr. que dá pelo nome de Paulo Jorge de Assunção Rodrigues Teixeira Pinto, mais conhecido por Paulo Teixeira Pinto,  ex-quadro superior do Millennium BCP.

Aqui a minha desilusão pessoal e falei para mim próprio, este tipo a homenagear os quase 10.000 ex-combatentes que morreram na guerra Colonial, ele no tempo em que a guerra se desenrolou,  era um puto... Porque será que não usa da palavra um militar ou ex-militar mas ex-combatente?!

Hoje [, 21 de maio de 2013],  ao folhear o Correio da Manhã,  na última página deparo com o comentário do jornalista Manuel Catarino [, 'Cilinha' Jonet] que transcrevo na íntegra :

"Compreende-se o convite a Isabel Jonet, para discursar na homenagem do 10 de Junho aos militares mortos em combate. A senhora é, a seu modo, uma combatente - que caiu ferida de ridículo ao fazer o elogio da pobreza e agora, amparada pelo presidente da comissão organizadora da cerimónia, almirante Melo Gomes, regressa ao campo de batalha da reabilitação pública.

"A homenagem aos combatentes mortos é um assunto demasiado sério. Transformá-la noutra coisa é uma indignidade que ofende a memória dos quase 10 mil mortos no Ultramar. Não sei o que
senhora vai dizer - mas desconfio que a ‘Cilinha’ Supico Pinto não diria melhor"...

Um abraço, Colaço.
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11610: Efemérides (126): "O dia em que Satanás andou à solta"! Cufar, 2 de Março de 1974 (António Almeida, Pel Rec Fox, 8870/72)

Guiné 63/74 - P11611: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (53): Respostas (nºs 116/117/118): Ferreira Neto (CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69); João Lourenço (PINT 9288, Cufar, 1972/74) e Jorge Coutinho (CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974)

Resposta nº 116 > [Joaquim Lúcio] Ferreira Neto [, ex-cap mil, CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69]


(1) Quando é que descobriste o blogue ? Agosto 2007

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) Pesquisa no Google
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Sim, desde 14 de agosto de 2007
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...). De tempos a tempos.
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? Mandei enquanto foi oportuno.
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? Não. Detesto tal coisa.
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? Respondido.
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? Tudo o que foi dito de uma forma simples.
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? Conversa balofa.
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? Bastante. Foi numa óptima ideia.
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? Não.
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? Penso que sim, enquanto houver disposição e força anímica dos guerreiros.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. Nada a acrescentar. Tive muito gosto em satisfazer o pedido. Felicito o trabalho dos responsáveis. Bem hajam.

Resposta nº 117 > João [José] Lourenço [, ex-alf mil, PINT 9288, Cufar, 1973/74]
Bom dia,  meu caro Luís, as minhas desculpas por não ter respondido mais cedo mas eu e a internet não somos os “maiores amigos”... Vou ser o mais sucinto possível:

1) Maio 2009

2) Pesquisa no Google feita por uma filha

3) Acho que sou membro… [, desde 19 de maio de 2009]

4) Tempos a tempos mas está nos favoritos para eu encontrar…

5) Não sei como…..

6) Redes sociais não são a “minha praia”…

7) Nem por isso….

8) Saber novidades, de antigos companheiros e foi giro reencontrar o Franco e o [António Graça de ] Abreu, por exemplo.

9) Sem opinião especifica…

10) Não me apercebi.

11) O blogue foi uma grata descoberta de boas recordações de tempos não tão bons…

12) Já fui a um ou dois, o da Ortigosa (excelente) e um ou dois no Hotel de Monte Real.

13) Não me vai ser possível, por razões familiares.

14) Acho que deve continuar para não quebrar a corrente, mas percebo que é uma tarefa complicada, pelo amor à causa que têm dedicado, bem hajam.

15) No comments.


Resposta nº 118 > Jorge Coutinho [, ex-alf mil op esp/ranger, CCS/BCAÇ 4610/73, Piche, Bissau, 1974]

Olá, amigos! Fui entronizado no blogue através do camarada e amigo Ranger Magalhães Ribeiro. (1/2). [Sou membro da Tabanca Grande desde 21 de abril de 2011] (3)
De tempos a tempos dou uma voltinha por este, mas com mais assiduidade visito o Blogue MR (4).
Não uso Facebook (6/7).
Creio que o trabalho desenvolvido por vocês é ótimo, e devem continuar, pois, embora eu não seja participante ativo, gosto sempre de ver o empenho e dedicação; é certo que tudo isto funciona altruisticamente, o que é de louvar (11).

Realmente não poderei estar presente no convívio, mas espero que tudo decorra em ambiente saudável, seja profícuo, e reine o entendimento (12/13). Um abraço para todos, e obrigado!

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Guiné 63/74 - P11610: Efemérides (126): "O dia em que Satanás andou à solta"! Cufar, 2 de Março de 1974 (António P. Almeida, Pel Rec Fox, 8870/72)


Guiné > Região de Tombali > Cufar >  Porto do rio Manterunga > 2 de março de 1974 > Batelão ao serviço do BINT (Batalhão da Intendência, de Bissau), em chamas, depois de ter accionado uma mina.

Foto: © António Graça de Abreu (2009). Todos os direitos reservados.


1.  Mensagem do nosso leitor (e camarada) António P. Almeida, a quem convidamos para integrar a nossa Tabanca Grande. [Foto à esquerda, cortesia do blogue do Pel Rec Fox 8870/72]

De: António Almeida
Data: 21 de Maio de 2013 às 23:51
Assunto: Cufar, 2 de Março de 1974. "O dia em que Satanás andou à solta"!

"Os homens ardiam como tochas, gritavam, vinham direitos a mim. O inferno deve se um lugar bem mais agradável do que aquelas dezenas de metros de picada com pessoas a serem consumidas pelas chamas, o ar, o escuro da noite empestado por um horrível, um nauseabundo cheiro a carne humana queimada. Despi a minha camisa e com ela tentei apagar restos do fogo que cobria aqueles homens. Meti quatro negros no carro, dei a volta com o jipe e subi, acelerando em direcção a Cufar. Uma viatura blindada Fox descia a picada com os faróis e as metralhadoras apontadas para nós.

"Eram os primeiros militares que acorriam à explosão dos barcos. Gritei-lhes para pararem. Ficaram espantadíssimos por encontrarem ali o alferes Abreu em tronco nu com homens todos queimados dentro do jipe. Rodeei a Fox com dificuldade – ocupava quase toda a picada, – e em segundos cheguei com os desgraçados à enfermaria de Cufar. Foram deitados em macas e regados com água. Dois grupos de combate da 4740, bem armados, desciam entretanto para o porto interior e havia mais pessoas atingidas pela gasolina a arder, a caminho. Não era mais comigo." (*)


Camarada Graça de Abreu.
Boa noite.
Para além do texto bem escrito, documentas fielmente o que se passou nesse dia tenebroso. A Fox era conduzida pelo José Almeida Barbosa, de Suzão, Valongo,  e por mim, António Almeida, como manuseador do armamento da viatura.

Recordo-me desses momentos dantescos, agora ainda mais, avivados pelas tuas palavras.

Estávamos de reforço ali bem perto do início da picada e dos batelões. Depois da primeira explosão e da autorização dada pelo alferes Fernando Faria, comandante da Fox, para sairmos do local onde estávamos estacionados, saímos para prestar auxílio.

Foi quando passaram quatro ou cinco africanos pelo lado esquerdo da Fox a gritar, com a roupa a arder no corpo. Situação indescritível, horrorosa, mais parecida com um filme de terror, produzida por uma qualquer empresa de cinema de Hollywood.

Mais tarde, a proteção e iluminação da pista de Cufar pela Fox e por vários elementos da  CCAÇ 4740, para a evacuação dos feridos e que documentas tão bem no vosso blogue.

Falta acrescentar o local e da maneira como foram sepultados, os que pereceram nos batelões.

Histórias de Guerra que não podemos esquecer e que fazemos votos que não voltem a repetir-se. (**)

Calorosas saudações.
António Pereira de Almeida

[Ex-Pelotão Reconhecimento Fox, 8870/72,
que tem um blogue aqui]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5258: A tragédia de Cufar, sábado, dia do Diabo, 2 de Março de 1974 (António Graça de Abreu)

Vd. também poste de 21 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8933: Memória dos lugares (158): Cufar e o porto do rio Manterunga, extensão do inferno na terra : 2 de Março de 1974 (António Graça de Abreu)

(**) Último poste da série > 25 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11471: Efemérides (125): No passado dia 20 de Abril fez 43 anos que foram assassinados os Majores Passos Ramos, Magalhães Osório e Pereira da Silva, O Alferes João Mosca, dois Condutores e um tradutor (Manuel Resende)

Guiné 63/74 - P11609: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (8): Mansoa, espaldão do morteiro 81, e pessoal na caserna matando o tempo a jogar cartas...


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 35 > Espaldão do morteiro 81 (1) 


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 81 > Espaldão do morteiro 81 (2)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 80 >   Pessoal da 3ª Companhia.  Na caserna a passar o tempo na jogatana (1)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 80 > Pessoal da 2ª Companhia.  na caserna a passar o tempo na jogatana (1)



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 30- Pessoal da 3ª Comp. Na caserna a passar o tempo na jogatana



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/4) > Foto nº 47 > Pessoal da 3ª Comp na caserna. Na foto vê-se uma rede mosquiteira.


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Carlos Fraga (*),  nosso tabanqueiro que  esteve em Mansoa, no 2º semestre de 1973, como alf mil (da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72), indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Publicam-se hoje fotos de Mansoa, de militares da 2ª CCAÇ e da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72  na caserna. a matar o tempo na jogatana de cartas.

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11569: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (7): Armamento do PAIGC (fotos de Ângelo Gago; legenda de Luís Dias)

Guiné 63/74 - P11608: Os nossos médicos (46): Dá-me os meus olhos! Homenagem ao Oftalmologista, Dr. José Luís Bettencourt Botelho de Melo (Mário Beja Santos)

Ponta Delgada, 11 de Maio de 2013 - Mário Beja Santos com o Oftalmologista José Luís Bettencourt Botelho de Melo

Dá-me os meus olhos!

Beja Santos

Em 16 de Outubro de 1969, passava das seis horas da tarde, uma mina anticarro despedaçou o Unimog em que vínhamos de Finete, carregado de bidons de gasóleo e petróleo, sacas de arroz, algum material de construção civil, cartuchame e granadas de mão.

A total responsabilidade daquele desastre coube-me, era impróprio viajar ao fim do dia, baixei as guardas, perdi o condutor, Manuel Guerreiro Jorge, da CCS/BCAÇ 2852, e tivemos sete feridos, alguns com gravidade, caso de Cherno Suane (duplo traumatismo craniano) e o comandante da milícia de Missirá, Albino Mamadu Baldé, com ambas as pernas fraturadas. Este infausto evento aparece descrito a páginas 278 em diante em "A Viagem do Tangomau".

Com a cara queimada, os óculos volatizados com a explosão que me atirou ao ar, com a visão perturbada pela carga dos ácidos, segui para Bissau, urgia ser visto por um oftalmologista. Começou aí uma grande amizade, como o Tangomau relatou: "Na manhã seguinte, lá vai para a primeira consulta, os olhos têm prioridade, não são as queimaduras que o preocupam, é o ardor permanente no olho direito. Já tinha passado a hora do almoço quando foi chamado para a consulta, foi recebido por um calmeirão aí de 40 anos, tonitruante, procede ao exame, tece um diagnóstico tranquilizador, prescreve uma receita com a graduação das lentes, recomenda o oculista. Tem um acento irrecusável de São Miguel, começam os dois a falar da ilha, nunca mais se calam, o outro militar ali presente, servente de bata branca, chama a atenção para a fila que há para atender, o açoriano não se cala, já descobriram imensos amigos comuns, faz-lhe uma proposta para uma janta conjunta, prontamente o Tangomau acedeu".

Jantaram no Grande Hotel, em 20 de Outubro, tinha nascido uma amizade inquebrantável, sempre que se visitam os Açores, previamente se telefona para o consultório do José Luís Bettencourt Botelho de Melo, a caminho dos 85 anos, ninguém o tira do trabalho. E combina-se encontro, pois claro, para as recordações da Guiné não falha a disponibilidade, arredam-se compromissos, a camaradagem tem sempre precedência.

Fui até às Flores, acordou-se que passaria por Ponta Delgada no sábado, 11 de Maio. O José Luís lá estava, acompanhado pela filha. E fomos comer filetes de peixe porco e de abrótea, com arroz e açorda, num restaurante aprazível na praia do Pópulo, nos arredores de Ponta Delgada. No final, houve fotografia, de braço dado e uma alegria sem igual. E fica-nos sempre aquela sensação de que a guerra muda tudo, engendra mecanismos silenciosos da relação fraterna que escapam à erosão do tempo.

Enquanto almoçava, não me saia da cabeça como este oftalmologista, o único da Guiné, salvou olhos, fez prodígios, evitou dramas para todo o sempre. Recordava mesmo um dos nossos últimos jantares em que ele praticamente dormia em pé, houvera durante o dia a chegada de gente em estado calamitoso, ao que me recordo explosões de fornilhos que atingiram muita gente, estivera mais de 12 horas seguida no bloco operatório.

Destes heróis não se fala, tudo aquilo era trabalho de bastidores, inclusive ele saia do HM 241, comia umas coisas e entrava no hospital de Bissau, os civis também contavam. O José Luís sente-se confortado pelo dever cumprido. Ofereci-lhe "A Viagem do Tangomau", com profunda gratidão e estima. Há profissionais de saúde que nos restituem a saúde mental, o andar ou a alegria na visão plena. Depois a vida prossegue, mas aqueles atos nobres, obscuros, inenarráveis, perduram. No nosso caso, para todo o sempre. E já estou ansioso por voltar aos Açores. Temos tanta coisa para conversar!
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10801: Os nossos médicos (45): O dr. Soares Oliveira na Tabanca de Matosinhos com o João Rebola (Armando Pires)

terça-feira, 21 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11607: Bom ou mau tempo na bolanha (10): A família junta-se (Tony Borié)

Décimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Pedindo perdão ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal, demais editores, aos amigos companheiros combatentes e não só, em continuar com este resumo da história do agora Tony, que tem somente mais um episódio, e mais não é do que uma continuação da sua passagem pela guerra da Guiné que todos vivemos, que até se poderá chamar, tal como disse há algum tempo o companheiro e sofredor combatente, Hélder Valério, houve um “antes”, “durante” e agora um “depois”, que até poderá ser “após a guerra”, mas sem parte deste resumo não fazia sentido, e nem se encaixavam algumas histórias que virão a seguir de algumas passagens com antigos companheiros de guerra, que encontrou na diáspora, e de outros episódios aqui nos USA, portanto compreendam, e às vezes também faz bem falar de outras coisas sem ser tiros, granadas, feridos, mortos e tudo o que aquela maldita guerra nos faz lembrar.

Portanto, não abusando da vossa paciência, cá vamos continuar.

No ano seguinte, próximo do outono, a Margarida e o filho vêm ter com ele, o Tony fica contente, o filho não o conhece nos primeiros dias, finalmente e depois de tanto tempo estão juntos, o Tony, a Margarida e o filho, nos Estados Unidos. “Tens cá uma sorte, és um felizardo”, lembrava as palavras do antigo comandante que sempre fora seu amigo. Começam juntos, uma nova vida, houve logo ofertas de emprego para a Margarida, que também vai trabalhar, pois há uma senhora que vive no mesmo prédio e toma conta do filho durante as horas de trabalho da Margarida. O Tony larga a limpeza da cozinha no restaurante e a lavagem de carros, concentra-se mais no novo emprego da multinacional onde extraía alumínio, cobre e outros metais do solo, em países da América do Sul e os processava nas suas instalações em Nova Jersey, que depois vendia para todo o mundo, mas quase toda a sua produção era para agências do governo americano.

A tal editora em Nova Iorque continua a oferecer-lhe o trabalho, ele depois de fazer um exame do que sabia, negoceia o preço e aceita o trabalho em regime de “part-time”. Como trabalha por turnos na multinacional, tem dias de folga durante a semana que trabalha na editora. Durante quatro anos tem dois trabalhos, trabalha a tempo inteiro e por turnos na multinacional e na editora em “part-time”, às vezes vai ajudar em festas no restaurante onde antes limpava a cozinha.

Continua a visitar aqueles que considerava amigos e dormiam na margem do rio Passaic, levando-lhes tudo o que podia arranjar, fazendo esforços para alguns começaram a trabalhar, sobretudo na limpeza e remoção de lixo de alguns restaurantes e não só, pois também colocou alguns em outros empregos.


Com o filho já grandote, decidem comprar uma casa, não na cidade, mas nos arredores, onde houvesse escolas com melhores garantias de ensino e mais sossegada, onde os vizinhos se pudessem conhecer uns aos outros, porque afinal foi para isso que emigraram, dar uma educação superior aos filhos. Havia uma pequena cidade, um pouco a norte, próximo do rio Hudson, quase fronteira com Nova Iorque, bastante pacata, um pouco sobre a montanha e com vista para Nova Iorque. Acharam que era o local ideal, a casa, cujo preço estava de acordo com a sua situação financeira, negociaram e compraram, com uma entrada razoável, o banco financiou o resto.

Entretanto a Margarida fica de novo grávida e nasce uma menina. A família, agora é composta por pai, mãe e dois filhos, portanto um casal de filhos. “És um felizardo, tens cá uma sorte”, lembrava de novo o seu amigo comandante. A Margarida tira licença de conduzir e compra um carro, leva o filhos à escola ou ao infantário, vai fazer as compras ao mercado ou qualquer outra tarefa, faz todo o serviço necessário para o bom andamento da casa, deixando mais algum tempo livre ao Tony, que agora sim, se vai matricular na escola local para assistir às classes à noite, tal como se de uma criança se tratasse, pois alguns companheiros de classe tinham idade de ser seus filhos.

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11568: Bom ou mau tempo na bolanha (9): No "mato" (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11606: Agenda cultural (274): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte II (Jaime Bonifácio Marques da Silva)














1. A exposição itinerante “Guerra Colonial, uma história por contar” do Museu da  Guerra Colonial, de Vila Nova de Famalicão,  foi destinada ao público em geral e aos professores e alunos da região, em particular.

O Museu da Guerra Colonial, cujos antecedentes remontam ao ano letivo de 1989/90, e a um projeto pedagógico-didático levado a cabo por proprofessores e alunos do concelho de Vila Nova de Famalição, está sediado em Ribeirão, Vila Nova de Famalicão.  Resulta de uma parceria entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, a Associação dos  Deficientes das Forças Armadas (ADFA) e o Externato Infante D. Henrique, em Ruilhe, Braga. È seu diretor científico o prof José Manuel Lages, um estudioso apaixonado da guerra colonial, minhoto de Viana do Castelo, mas que todavia não foi combatente. (Presumo que seja hoje homem na casa dos 59/60 anos).

Neste poste mostramos, em imagens, as 12 secções (ou paineis temáticos), sob as quais estava organizada esta exposição, da responsabildiade científica do Museu da Guerra Colonial e em cujo sítio oficial se lê:

"O Museu está organizado segundo temas que assentam naquilo a que chamamos 'o itinerário do combatente na guerra colonial' e tem um perfil pedagógico de informação histórica e cultural para as gerações do pós guerra e para o público em geral com a intenção de preencher uma lacuna sobre este período recente da História de Portugal."
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Nota do editor:

(*) Últuimo poste da série > 21 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11605: Agenda cultural (273): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte I (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

Guiné 63/74 - P11605: Agenda cultural (273): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte I (Jaime Bonifácio Marques da Silva)




Reprodução do folheto 

Transcrição da última parte do folheto


GUERRA COLONIAL, UMA HISTÒRIA POR CONTAR 

Treze anos de guerra… uma geração de jovens que 
viveram, sofreram e deram as suas vidas na convicção 
de defender a pátria perante um inimigo que pretendia 
retirar-nos as “províncias de além-mar”ccomo parte 
integrante do território português. 

Treze anos que são as sementes para que fosse 
possível “abril e a sua revolução" e seja uma página 
recente da nossa história contemporânea que urge 
presevrvar, manter e divulgar. 

O projeto “Guerra colonial, uma história por contar” é 
o resultado de uma parceria entre a Câmara Municipal 
de Vila Nova de Famalicão, a Associação dos 
Deficientes das Forças Armadas (ADFA) e o Externato 
Infante D. Henrique / Alfacoop de Ruilhe em Braga [que] 
decidiram abrir o “baú da guerra”. 

A ousadia de mexer nas memórias da guerra, umas 
vezes intencionalmente esquecidas, outras 
compulsivamente recalcadas, cedo começou a dar frutos. 
O espaço onde cresceu tornou-se pequeno e a “guerra 
colonial, uma história por contar” concretizou-se numa 
verdadeira “pedagogia da paz”. 

Para que o “baú da guerra” não se voltasse a fechar, 
encerrando com ele memórias, sentimentos e 
testemunhos de uma página recente da nossa história, 
os promotores deste projeto criaram este museu que 
permitirá dar a conhecer o itinerário do combatente 
português, preservar as memórias desta guerra e 
divulgar a todos, especialmete os jovens, o contexto 
da guerra colonial portuguesa de 1960 a 1974.

O diretor científico do Museu da Guerra Colonial 

Dr. José Manuel Lages


1. O meu amigo e conterrâneo Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural do Seixal, licenciado em ciências do desporto, professor de educação física reformado, antigo vereador da cultura da Câmara Municipal de Fafe, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), grande dinamizador de iniciativas ligadas à preservação da memória dos antigos combatentes da guerra colonial (nomeadamente em Fafe e na Lourinhã), mandou-me o folheto informativo da exposição que se realizou em Fafe, no passado mês de abril de 2013, e que marcou o início de um conjunto de iniciativas que aquele município nortenho está a levar a cabo, no âmbito das comemorações dos 50 anos da guerra colonial (*).

A exposição itinerante “Guerra Colonial, uma história por contar”, da responsabilidade do Museu da  Guerra Colonial, de Vila Nova de Famalicão,  foi destinada ao público em geral e aos professores e alunos da região, em particular.

Num próximo poste mostraremos, em imagens, as 12 secções(ou paineis temáticos), sob as quais estava organizada esta exposição, de inegável valia didática e pedagógica. Outras iniciativas estão já na forja como me informou o meu amigo Jaime:

"Quanto a Fafe: O coronel [Matos Gomes] esteve cá e fizemos a primeira exposição.  Depois das eleições autárquicas voltamos ao tema com a realização de um curso de História Local dedicado à Guerra Colonial Vou enviar-te o desdobrável da exposição (...)". (**)

Em resposta transmite-lhe a minha opinião e convidei-o, mais uma vez, a integrar a nossa Tabanca Grande:

(...)"É um excelente exemplo do que se pode fazer, em muitas das nossas terras, para que a guerra colonial não seja rapidamente esquecida por nós e completamente ignorada pelas novas gerações, O poste vai em teu nome (e está na altura de aceitares o meu convite para integrares, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande: já fizeste mais pela Guiné e pelo nosso dever de memória do que muitos dos que lá estiveram e que estão aqui inscritos...)".

Recorde-se a notável e original exposição que o Jaime organizou, em 2009,  na sua terra natal, Seixal, Lourinhã, evocativa da participação de todos os seixalenses (cerca de 4 dezenas) na guerra colonial, entre 1961 e 1974. (LG)

Guiné 63/74 - P11604: Guiné-Bissau, manga di sabe (2): Vídeo: Dança de bajudas nalus na tabanca de Catesse, no Cantanhez (José Teixeira)




Vídeo (2' 06''): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. Alojado em You Tube > José Teixeira...


1. O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira regressou recentemente da Guiné-Bissau onde fez alguns vídeos que disponibiliza para visualização dos visitantes do nosso blogue (*). 

Da visita à tabanca de Catesse, na região de Tombali, Cantanhez, trouxe esta dança de bajudas nalus. A nossa tabanqueira Anabela Pires vai adorar, ao rever estas acrobáticas bajudinhas, suas amigas. Recorde-se que ela esteve, em 2012, cerca de três no chão nalu, como voluntária do projeto de ecoturismo,  desenvolvido pela AD - Acção para o Desenvolvimento. Foi a priemria tabanca que conheceu, depois de Iemberém. A Anabela está neste momento a viver em Auroville, no sul da Índia. Não temos tido notícias dela, mais recentemente. (LG)

PS - Sobre os nalus, tandas, sossos, balantas e fulas do Cantanhez, ver texto histórico-antropológico do nosso amigo Pepito. (P3070, de 18 de julho de 2008).
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Guiné 63/74 - P11603: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (52): Respostas (nºs 113/114/115): José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CART 566; Manuel Dias Pinheiro Gomes, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM e Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208

1. Respostas ao inquérito do nosso camarada José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal,  Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965):


(1) Quando é que descobriste o blogue?

R - Descobri o Blogue no dia 26 de Dezembro de 2012.

(2) Como ou através de quem (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)?

R - Através de pesquisas no Google, quando procurava temas relacionados com a guerra colonial na Guiné.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?

R - Sou membro da nossa Tabanca Grande desde 5 de Janeiro de 2013 com o número 597.

(4) Com que regularidade visitas o blogue (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)?

R - Vejo o Blogue quase diariamente, à noite, quando estou à espera do sono.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?

R - Já mandei material para o Blogue. Fotografias do Sal (Cabo Verde), Bissau, Bissorã e Olossato. Enviei também alguns textos e um filme sobre a CArt 566 realizado pelo Comandante da Companhia.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?

R - Conheço bem a nossa página do Facebook, Tabanca Grande, Luís Graça. Tenho como endereço: https://www.facebook.com/jose.mirandaribeiro.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?

R - Ultimamente tenho ido menos vezes consultar o Blogue, do que o Facebook por este, ser novidade para mim.

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?

R - Gosto mais do Blogue, porque nos dá mais informações sobre a Guerra Colonial na Guiné, fala dos nossos camaradas conhecidos e desconhecidos, que agora, muitos já passaram a ser do meu conhecimento.

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?

R - Nestes quatro meses, não encontrei nada, que mereça a classificação “de não gostar”. De um modo geral, tudo me tem agradado. Se encontrar alguma vez, algo que não concorde, saberei fazer a minha crítica construtiva.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

R - Tenho tido algumas dificuldades, em aceder ao Blogue, mas a pouco e pouco vou aprendendo a procurar os assuntos, que mais me têm cativado. O meu maior problema é escrever nos espaços apropriados. Vou tentar vencer esta dificuldade, porque eu sou “um jovem” interessado em aprender e as minhas netas dão-me lições de Informática, em troca das explicações de Matemática que habitualmente lhes dou.

Em relação à lentidão no acesso ao Blogue e ao Facebook, a que se refere o Inquérito, informo que,  para mim, não tem havido qualquer lentidão.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 

R - Como encontrei o Blogue, há relativamente pouco tempo, o que ele representa para mim é o que ele representou no início. O Blogue e a nossa página no Facebook representa para mim o reviver de tempos passados, que nunca mais esquecerei. É a falar nos episódios difíceis, onde eu fui protagonista, e que me marcaram psicologicamente, que encontro a “cura” para o meu stress de guerra.

Creio que foi uma ótima ideia a sua criação e oxalá continue, cada vez com mais entusiasmo e que os camaradas mais novos, não o deixem morrer, pois que muitos temas, aqui abordados, poderão mais tarde contribuir para a história da Guerra Colonial, em especial no que se relaciona com os militares que nela participaram. 

Nas invasões francesas, por exemplo, só se fala em generais, Junot, Massena, Ney, Loison (o Maneta), Claussel, Solignae, etc. e do lado das tropas portuguesas fala-se excecionalmente no Furriel Vitorino de Barros Carvalhais, que comandou um grupo de 15 académicos (milicianos), que com a ajuda de muitos populares impediram as tropas francesas de entrarem na cidade de Coimbra. 

Quem defende a sua Pátria, a sua terra, a sua família tem mais força, mais coragem do que quem ataca. Da nossa Guerra Colonial poderá falar-se, um dia, nos valentes soldados de qualquer secção de 9 homens, muitas vezes com poucas munições, que tiveram de se defender de grupos inimigos, com mais de 200 elementos. 

Na minha opinião, nós na Guiné defendiamo-nos, a nós próprios e aos nossos companheiros. Um dia, num domingo de manhã, depois de ter chovido abundantemente toda a noite, recebi ordens para ir com a minha Secção realizar uma patrulha de reconhecimento nos arredores do Olossato. Na minha Secção tinha três elementos voluntários africanos, um mandiga, outro balanta e o terceiro era manjaco, cujos nomes já passaram ao esquecimento. O mandinga, era quase o meu braço direito, ia sempre perto de mim e fazia-me observar muitas anormalidades. Naquele dia, repentinamente mandou parar todos, e disse-me que queria ir sozinho à frente para observar. 
Falou numa linguagem clara que era quase a Língua Portuguesa, Eu concordei e ficámos todos parados em alerta. O mandinga volta para trás e disse: - Vêem aqui estes passos, de pés descalços a saírem do capim? Foi alguém (deles) que veio ver se a armadilha, que aqui terá colocado, já rebentou, porque depois voltou para trás. Disse isto, mostrando-nos as pegadas em sentido contrário. 

Com as facas do mato preparámos umas varas compridas cortadas de uma árvore que parecia um salgueiro. Com as varas esgravatámos aquele chão ainda encharcado da chuva da noite anterior. Finalmente encontrámos, a poucos metros, uma mina antipessoal que tinha o tamanho aproximado de uma caixa de fósforos. Qualquer um de nós poderia ter ficado sem uma perna, como já acontecera antes. Nenhum era especialista em minas e armadilhas, por isso, levámos aquela mina com todo o cuidado, na palma da mão até ao quartel. 

Cerca de 100 metros, antes de entrarmos pela porta do lado de Bissorã, vimos um papel pregado numa árvore, que dizia: “Salazaristas filhos da puta, ide-vos embora. Esta terra é nossa”. 
Estas palavras deram-me muito que pensar. Só vi este problema a ser resolvido, ao chegarmos ao 25 de Abril. 
  
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?

R - Nunca participei em qualquer encontro da Tabanca Grande.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?

R - Já estou inscrito para o próximo Encontro Nacional que se irá realizar em Monte Real, no dia 8 de Junho.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?

R - Sou otimista e por isso acho que este Blogue ainda terá fôlego, força anímica e garra para continuar por mais alguns anos, mas é preciso que todos vão contribuindo, e fazendo pequenas intervenções, que possam motivar alguns dos nossos camaradas, que já se “sentem velhos” para relembrar o passado.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

R - Não tenho críticas a fazer, por enquanto, mas, como já disse anteriormente, se as fizer algum dia, serão críticas construtivas.

Como comentário quero confessar que me sinto triste de ser o único “tabanqueiro” da CArt 566. 
Já fiz, sem sucesso, vários apelos aos “Bravos e Sempre Leais”, meus camaradas de Companhia, muitos deles que comparecem todos os anos na Serra do Pilar, onde temos uma cerimónia religiosa e na Parada daquele Quartel uma cerimónia militar, onde o nosso Ex-Comandante, a quem se deve todo o êxito da Companhia, coloca uma coroa de flores, com guarda de honra e ao toque de clarins, junto ao painel de pedra que contém o nome de todos os camaradas, daquela unidade, mortos em combate. O dia termina com um longo almoço, no Restaurante Boucinha, em Avintes, que é do nosso camarada Madureira. Ali o General Albuquerque Nogueira, que continua a ser a alma da CArt 566, recorda-nos, nos seus discursos “o esforço daqueles jovens na flor da idade, que deixaram a família, as namoradas e os amigos, para cumprirem o dever…”

José Augusto Miranda Ribeiro

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2. Respostas ao questionário do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro Gomes (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné, Catió e Bissau, 1970/72): 

1 - Em 23-12-2011. 

2 - Através do camarada Hélder de Sousa.

3 - [Sou membro da Tabanca Grande,] desde Agosto 2012. 

4 - [Visito o blogue] todos os dias.

5 - Pouco mas já mandei.

6 - Sim, conheço.

7 - Mais ao blogue.

8 - O passado que eu não conhecia.

9 - Gosto de tudo. 

10 - Não nunca tive ] dificuldades de acesso ao blogue].

11 - Representa as memorias dos tempos que passei na Guiné.

12 - Ainda não.

13 - Sim,  estou com ideias de estar presente [no VIIi Encontro Nacional, em Monte Real, dia 8 de junho].

14 - Penso que sim, ainda tem muito caminho para andar.

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3. Respostas ao questionário do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa e Bissau, 1970/72):

(1) Quando é que descobriste o blogue? 

R - Em 2010.

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

R - Através do nosso camarada Manuel Traquina, no exercício da minha atividade profissional.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 

R - Sim, desde 2011.05.21.

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

R - 1 a 2 vezes por semana.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 

R - Tenho mandado, condicionado à disponibilidade temporal e às ocorrências. Penso continuar. 

 (6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 

R - Não.

 (7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 

R - Ao Blogue. 

 (8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 

 R - As verdades.

 (9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 

R - As inverdades.

 (10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 

R - Não. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 

R - O despertar de emoções só compreendidas por quem as viveu. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 

R - Sim. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 

R - Sim.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 

R - Com certeza que sim, até que haja um ex-combatente da Guiné “de pé”.
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Nota do editor:

Último poste da série de 20 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11601: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (51): Respostas (nºs 111/112): Carlos Sousa (CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha, 1968/69); e António Barbosa (2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11602: Convívios (525): Encontro do pessoal da CCAÇ 4740, dia 15 de Junho de 2013 em Fátima (Armando Faria)

1. A pedido do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), damos notícia do próximo Encontro Nacional do pessoal da CCAÇ 4740 a levar a efeito no dia 15 de Junho de 2013 em Fátima

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11593: Convívios (524): Rescaldo do Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, no passado dia 11 de Maio, em Ançã - Cantanhede (César Dias)

Guiné 63/74 - P11601: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (51): Respostas (nºs 111/112): Carlos Sousa (CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha, 1968/69); e António Barbosa (2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74)


1. Resposta nº > Carlos Sousa [, ex-alf mil op esp/ Ranger,  CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69]



Caro Luis,
Não tenho participado muito do nosso fórum, mas quero manter-me "vivo".
Não sei como é que queres que responda ao inquérito, mas posso desde já deixar aqui uma resposta em formato livre:


(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Em 2009

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
Através do camarada Eduardo Magalhães Ribeiro (Ranger)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Sim [, desde 17 de setembro de 2009].

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

De tempos a tempos.


(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Só mandei no início.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Sim.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Não tenho ido a nenhum deles.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Do blogue gosto das recordações lá colocadas.


(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Não tenho referências negativas.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Tenho tido poucos acessos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não.


(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Acho que sim.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Nada.

Um abraço, Carlos Fernando da Conceição Sousa

 2. Resposta > António Barbosa [Santarém] [ex-alf mil op esp/Ranger, 2.ª CART/BART 6523,  Cabuca, 1973/74]



1) Descobri o blogue em Agosto de 2009.

2) Descobri-o através do também Ranger Magalhães Ribeiro

3/4) Visito o Blogue quase diariamente.

5) Já mandei várias publicações, bem como parte significativa do meu álbum fotográfico.

6) Conheço a página no Facebook

7) Visito mais vezes o blogue que a página

8/9) Gosto do rigor e qualidade das postagens no blogue.

10) Ultimamente não me posso queixar na rapidez de acesso ao blogue.

11) Para mim o blogue representa a mesa de café (gigante) em que livremente podemos expor as n/ opiniões reviver velhos amigos, partilhar informação que por certo irá servir para engrandecer a História de Portugal, enfim podemos recordar os bons e maus momentos por que todos nós passámos, momentos esses que nos ajudaram a crescer e a tornar-nos nos pais e avós que hoje somos.

12/14) Embora seja minha vontade ir ao VIII Encontro [, em Monte Real, no próximo dia 8 de junho], ainda não poderei garantir com exactidão a minha presença.

14) Bem hajam pelo bem que tem feito aos combatentes. Um Abraço.
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Guiné 63/74 - P11600: Notas de leitura (484): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Fevereiro de 2013:

Queridos amigos,
Creio que a reedição desta obra era um facto cultural da maior importância para Portugal e Guiné-Bissau. António Carreira até hoje não foi contestado nas suas observações bem cruas sobre a presença portuguesa, a sua incapacidade para travar a presença francesa que culminou num acordo com a perda de um território que secularmente era ocupado pelos portugueses, mesmo que superficialmente – o Casamansa.
Ao exemplificar com a formação tardia do crioulo guineense como língua franca, Carreira destaca a precariedade da nossa ocupação, chefes tradicionais poderosos resistiram à potência colonial.
E como ele lembra, o PAIGC apostou fortemente no crioulo para procura unir os guineenses.

Um abraço do
Mário


Os portugueses nos rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (3)

Beja Santos

Se há título indispensável para conhecer, sob a forma de resumo, a presença portuguesa num território amplo, nos primeiros séculos, e progressivamente minguado até se ter chegado à Convenção Luso-Francesa de 1886 que no essencial consagrou as fronteiras atuais, é este livro de António Carreira. Carreira era já um investigador de créditos firmados quando se lançou nesta edição de autor, coisa estranha, parecia um testamento sobre a sua visão da Guiné, um olhar pessoalíssimo como atesta o que escreveu sobre a presença portuguesa no século XIX. Adiante se verificará como escreveu para a História.

Recorde-se que Carreira enfatiza as guerras e escaramuças entre grupos étnicos, no período entre 1840 a 1899, os portugueses a tudo assistiram impotentes, era impossível qualquer intervenção com tão magros efetivos nas praças, tal o armamento obsoleto e a falta de meios navais. Quem dessa impotência se aproveitou foram os franceses que visavam a consolidação do seu domínio nas chamadas rias do Sul e mesmo no Casamansa. Só depois de tudo perder é que Lisboa decidiu melhorar os efetivos para assegurar a integridade das praças de Geba e Buba, elas foram reforçadas com vista a garantir os direitos de ocupação de todo o território. Carreira reflete sobre este “pandemónio” de praticamente meio século observando que se deveu a múltiplos fatores que ele aliás regista cuidadosamente: a decisão dos Fulas-Pretos de se libertarem da escravização a que se encontravam submetidos pelos Fulas-Forros; a conquista do poder dominava os jovens, eles esforçaram-se pela expulsão dos velhos régulos, déspotas que governavam microsociedades sem nenhum desejo de mudança; e a imposição do islamismo aos povos animistas, em que o papel mais ativo foi desenvolvido pelos almanis do Futa-Djalon.

Dá-se, entretanto, nesse estado de deliquescência a separação do Governo da Guiné do de Cabo Verde, em 1879. Mas mesmo com a autonomização do Governo, não foi possível dominar a situação na periferia das praças, estas continuaram a ser atacadas com frequência. Como o autor regista, de 1864 a 1919, as diversas praças e presídios sofreram pelo menos 30 ataques das populações nativas. Parte das sublevações terminou com a assinatura de tratados em que os régulos e chefes tradicionais intervieram como se fossem entidades soberanas. Tem aqui todo o sentido respigar um texto do governador Correia Lança no seu relatório em 1888: “Nos tratados estabeleceram-se cláusulas que nunca se observaram e obrigações que não se cumpriram”. Aos poucos, cada praça foi equiparada a comando militar. Nos primeiros anos de 1900 tentou-se a instituição de um regime de administração civil denominado as Residências, substituindo os comandos militares. No ano que preludia as medidas efetivas de pacificação foram criadas as circunscrições civis.

Em 1913, o Governo, na convicção de que os Papéis não voltariam a atacar a praça de Bissau, deliberou a demolição das muralhas construídas à volta da fortaleza de S. José, a Amura. A partir de 1919, foram sendo criados centros fixos em locais de reconhecido interesse comercial e administrativo, era mais uma tentativa de ocupar território e de impor a lei portuguesa. E convém não esquecer que mesmo após a pacificação se viveu um período de grande intranquilidade nos anos de 1919 e 1920.

Carreira lembra as diferenças abissais nas culturas guineenses e cabo-verdiana. Na Guiné, as sete escolas primárias oficiais que funcionaram no ano letivo 1899-1900 com 303 alunos destinavam-se a filhos dos colonos, dos funcionários, filhos dos cristãos e grumetes já fora das suas comunidades de origem. Nesse mesmo ano letivo funcionavam nas ilhas de Cabo Verde 42 escolas primárias oficiais com 4275 alunos, além das escolas particulares. Isto serve para compreender como é que a massa esmagadora dos cabo-verdianos usavam na plenitude o crioulo como língua materna e na Guiné, no final do século XIX, o crioulo estava circunscrito aos escassos 7000 cristãos e grumetes residentes nas praças e presídios.

Então, Carreira desenvolve a sua tese observando que parece lícito afirmar que até à segunda metade do século XIX a evolução do processo histórico da Guiné mostra que o território viveu quase fechado a culturas estranhas, com a sua economia de subsistência, esta auxiliada pela comercialização, em modesta escala, de couros, cera, algum marfim, panos e bandas de algodão de confeção local, e pouco mais. Evidentemente, o tráfico de escravos foi, até à sua extinção, uma notável fonte de rendimento dos régulos e seus guerreiros.

A moeda praticamente não funcionava no comércio. Terá sido a introdução do cultivo do amendoim a primeira tentativa positiva de viragem económica. Mas as guerras tribais tudo dificultavam. O mil reis português, em prata, e a moeda divisionária em prata ou em cobre mal circulavam. As moedas verdadeiramente importantes eram a pataca espanhola, o peso mexicano, o peso boliviano, o franco francês (conhecido por peso) e a libra.

Urgindo concluir, estão apontadas as dificuldades que se depararam à fixação dos portugueses na costa africana, elas ajudam a entender como era difícil a formação de um crioulo que pudesse ultrapassar as exíguas áreas que os régulos arrendavam para a implantação das praças e presídios. Tudo contrariou à aceitação do crioulo, os chefes sentiram que esta língua franca faria perigar o seu poder e os modos de vida. E Carreira opina que não se criou nenhum crioulo na área conhecida por Guiné, o que se deu foi a difusão dos rios da Guiné do crioulo nado nas ilhas de Cabo Verde, difusão essa feita pelos lançados crioulófonos para ali enviados a partir dos primeiros anos para o resgate de escravos.

Outra razão que levou à dificuldade em formar-se o crioulo da Guiné foram os dois grandes grupos linguísticos, a língua sudanesa (mandingas e fulas) definido pelo uso de sufixos plurativos e o grupo étnico-linguístico classificado de Semi-Banta, de línguas aglutinantes (balanta, papel, manjaco, felupe, banhum…). São dois grupos que não possuem grandes afinidades com o crioulo. O crioulo guineense, com o andar dos tempos, tornou-se permeável à influência destes dois grupos. A partir de 1900, e depois com a Pax Lusitana, a situação alterou-se. Os próprios negociantes tiveram um papel fundamental na divulgação do crioulo, ele entrou em expansão nas décadas de 1920 e 1930. E Carreira observa que a luta pela independência foi outro dínamo para acelerar a aprendizagem do crioulo.

António Carreira junta um apenso documental do maior interesse para a compreensão da presença dos portugueses e das múltiplas dificuldades que se puseram à sua fixação, inclusive demonstra como o processo da missionação falhou rotundamente, impedindo a cristianização maciça dos guineenses.
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Notas do editor:

Vd. postes anteriores de:

13 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11562: Notas de leitura (480): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (1) (Mário Beja Santos)
e
17 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11581: Notas de leitura (481): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11597: Notas de leitura (483): Soronda - Revista de Estudos Guineenses - Dezembro de 2000 (2) (Francisco Henriques da Silva)