sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12092: Notas de leitura (523): "Missão na Guiné", publicação do Estado-Maior do Exército e "Histórias de Guerra, Índia, Angola e Guiné, Anos 60", por José Pais (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
Não tive o privilégio, quando cheguei à Guiné, de me oferecerem a brochura “Missão na Guiné”, apresentado como uma ferramenta necessária para eu construir uma primeira ideia da província. Gostaria imenso de saber quem recebeu a brochura que até não esquecia os leitores mais exigentes propondo-lhes que fossem a bibliotecas à procura dos “Subsídios para a História da Guiné e Cabo Verde”, de Senna Barcelos ou “Os Movimentos Terroristas de Angola, Guiné e Moçambique”, por Hélio Felgas, hoje parece uma pitada de humor negro. E, valha-nos isso, a brochura fornecia mesmo uma síntese de conhecimentos que qualquer um teria tido a satisfação de receber.
Volto a lembrar-lhe que José Pais é um escritor de primeira água, como estas “Histórias de Guerra” comprovam, é inadiável a família procurar editor para um trabalho tão valioso, para nós e gerações vindouras.

Um abraço do
Mário


"Missão na Guiné"

Beja Santos

Editado pelo SPEME (Serviço de Publicações do Estado-Maior do Exército), “Missão na Guiné” (1967) era apresentado como a publicação onde o combatente iria encontrar as ferramentas necessárias para construir uma primeira ideia da Guiné. As ferramentas eram arrumadas em três secções: aspeto físico, aspeto humano e aspeto económico. O primeiro aspeto bizarro do texto era o de recomendar a leitura de algumas publicações que facilmente que podiam conseguir em qualquer biblioteca pública: “Crónicas dos Feitos da Guiné”, por Eannes de Azurara; “Guiné Portuguesa”, por Avelino Teixeira da Mota; “Guiné Portuguesa”, por Luís António de Carvalho Viegas; “História da Guiné”, por João Barreto; “Os movimentos terroristas de Angola, Guiné e Moçambique”, por Hélio Felgas e “Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné”, por Christiano José Senna Barcelos.

Os autores da publicação apelavam ao combatente para respeitar as populações, os soldados nas suas relações com as populações deviam pautar-se como o modelo de dignidade, um exemplo de compostura, cortesia e humanidade. E para que não subsistissem dúvidas, a publicação abria com versos de “Os Lusíadas”, Canto VII:

“Vós, Portugueses, poucos, quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que à custa de vossas várias mortes
A lei da vida eterna dilatais”.

Oferecia-se ao combatente noções elementares do aspeto físico, abrangendo o relevo e a hidrografia, o clima e a vegetação. Quanto ao aspeto humano, fazia-se uma descrição de todos os grupos étnicos; enumeravam-se os principais centros populacionais, o tipo de governo e de administração.

Quanto ao resumo histórico, chamava-se a atenção para a confusão e a violência que tinham alastrado por quase todo o continente africano logo após II Guerra Mundial: “Em busca de uma impedância que, na maioria dos casos, não podia servir os seus próprios interesses, os povos africanos tornaram-se presa fácil para a rede de subversão preparada, desde há muito tempo atrás, pelo comunismo internacional”. E, mais adiante: “Em princípios de 1959, Amílcar Cabral – um cabo-verdiano renegado, engenheiro agrónomo pela Universidade de Lisboa e funcionário público em organismos da Metrópole e da Guiné -, após ter visitado a União Soviética e outros países comunistas, decide iniciar a organização da luta das províncias da Guiné e Cabo Verde”. Em jeito de balanço sobre a guerrilha desenvolvida nesses anos, escreve-se: “A atividade daqueles bandos, que desde o início utilizaram armamento moderno das mais variadas origens, tem-se feito sentir em todo o Sul da Província, faixa entre o rio Cacheu e a fronteira Norte, na tradicionalmente insubmissa região do Oio, no triângulo Xime-Xitole-Bambadinca, no Boé e no canto NE da Província. A resposta das nossas tropas não se fizera esperar, os nossos soldados confirmavam na Guiné as capacidades de adaptação a novas gentes, característica de um povo que, como nenhum outro, sempre soube viver entre gentes de todas as raças e de todos os credos".

Dava-se ainda um quadro sobre saúde e instrução pública, religiões, imprensa e rádio.

Quanto ao aspeto económico, destacava-se a importância da agricultura e florestas, pecuária e pesca, recursos de origem mineral (dando como certo e seguro a existência de petróleo), energia e vias de comunicação, ligações marítimas e fluviais, indústria e comércio.

A publicação incluía legislação militar acerca dos vencimentos normais diários e gratificações das praças oriundas da metrópole e recordava a subvenção de família. No respeitante à correspondência postal, realçavam-se os aerogramas, as encomendas e correspondência selada. Por último, o soldado ficava a saber como podia ouvir a emissora nacional e como se faziam as ligações aéreas entre a Guiné e a metrópole.

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"Histórias de guerra, Índia, Angola e Guiné, Anos 60", por José Pais

Já aqui se fez recensão do livro “Coisas de África e a Senhora da Veiga”, por José Pais, um oficial do Exército que fez quatro comissões, uma na Índia, duas em Angola e outra na Guiné. Anos depois de uma edição de autor, resolveu dar à estampa em texto ampliado sobre o título “Histórias de guerra, Índia, Angola e Guiné, Anos 60”, Edições Prefácio, 2002.

José Pais é um notável contador, maneja habilmente as frases cortantes, tudo com um sabor à economia de relatórios abreviados. As novidades nesta edição são o capítulo dedicado à Índia, a sua participação antes e depois do 25 de Abril em lutas a favor da liberdade.

É uma pena que esta prosa assombrosa esteja completamente esgotada, é um imperativo a sua reedição, atenda-se ao facto de que se deve a José Pais relatos singularíssimos sob a queda do Estado português da Índia, sob os primeiros tempos da guerra em Angola, andou por Quipedro, entre Zala e Nambuangongo, na região dos Dembos, na Guiné ficou severamente ferido na região de Farim.

Se eu já era seu adepto incondicional pelo que escreveu sobre a Guiné e Angola, mais seduzido fiquei com o relato da invasão do Estado da Índia pelos exércitos da União Indiana e vicissitudes subsequentes. Era o alferes mais antigo, coube-lhe avançar imediatamente para as posições defensivas, cerca de dois mil homens aquartelados no mastodôntico Convento de Santa Mónica, mais a baixo do grandioso Convento de Bom Jesus, onde repousam as relíquias de São Francisco Xavier. Chegam a Banastarim, ai a missão seria rebentar a ponte, depois dirigiram-se a Agaçaim, aí a missão era impedir a progressão do inimigo para a península de Mormugão. Mostra a pobreza do armamento português e o ataque indiano no alvorecer do dia 18 de Dezembro de 1961, liquidaram as comunicações, tornaram impraticável o aeroporto, atacaram o Aviso Afonso de Albuquerque. O general Vassalo e Silva rendeu-se, os militares portugueses foram para o campo de Alparqueiros, campo de prisioneiros de guerra: “Durante dois dias foi o caos entre os 1600 prisioneiros do campo de Alparqueiros. Disputava-se tudo a murro: camas, colchões, mantas, comida, beatas de cigarros e, sobretudo, água. O egoísmo feroz e animal veio ao de cima. Deixaram de ser gente civilizada, comportando-se como bichos lutando pela sobrevivência”.

É imperdoável que um livro tão bom não esteja à disposição das novas gerações e dos companheiros de guerra de José Pais.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12074: Notas de leitura (522): "No Ocaso da Guerra do Ultramar", por Fernando de Sousa Henriques (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12091: Inquérito online sobre o futuro das relações da Guiné-Bissau com Portugal, 40 anos depois da proclamação (unilateral) da independência em Vendu Leidi, na região do Boé, na fronteira leste com a Guiné-Conacri Resultados preliminares (n=134)


Guiné > Mapa geral da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Detalhe da região do Boé. Posição relativa de Madina do Boé, Beli, Lugajole e Vendu Leidi. Foi numa mata, nas proximidades de Vendu Leidi e da fronteira com a Guiné-Conacri, que se terá  realizado a cerimónia de proclamação (unilateral) da independência da Guiné-Bissau, imediatamente reconhecida por dezenas de países com assento nas Nações Unidas.

Umas escassas semanas antes, a cerimónia esteve para ser realizada na península de Cubucaré, ou seja em pleno Cantanhez, portanto no sul,  na região de Tambali, no setor de Bedanda (compreendendo hoje os regulados de Mejo, Iemberém, Cadique e Cabedu). Por razões de segurança, invocadas por 'Nino' Vieira,  foi escolhido outro local, à pressa, no leste, na região do Boé, mais a nordeste.

A distância entre Madina do Boé e Ventu Leidi, a leste, junto à fronteira é de 50 a 55 km, em linha reta, no mapa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).


1. Mensagem que acaba de circular pelo correio interno da Tabanca Grande:

Amigos e camaradas, membros da Tabanca Grande:

Está decorrer uma sondagem, no nosso blogue, sobre o futuro das relações da Guiné-Bissau com Portugal, e de Portugal com a Guiné-Bissau... 

Acabam de passar 40 anos desde a proclamação (unilateral) da independência da Guiné-Bissau, não em Madina do Boé, como nos fizeram crer, durante anos, mas em Vendu Leidi, em terra de ninguém, na fronteira com a Guiné-Conacri... 

Essa data e esse evento terão passado completamente despercebidos aos olhos  dos nossos camaradas que prestavam então serviço no TO da Guiné. Mesmo as autoridades políticas e militares da época subestimaram o alcance político, diplomático e jurídico dessa cerimónia, a proclamação (unilateral) da Guiné-Bissau, algures nas famosas "colinas do Boé"...

Com um medo terrível da nossa aviação, mas escudados nos Strela (e nas antiaéreas instaladas na zona de Madina do Boé, a mais de 50 km de quilómetros da fronteira)... Acontece que o grupo dos Strela, que terá vindo do sul para leste,  só trouxe os tuibos, e esqueceu-se dos... mísseis (!).

Terão assistido à cerimónia um número  indeterminado de militantes e convidados do PAIGC, incluindo estrangeiros, sendo alguns diplomatas e jornalistas. Se tem havido um ataque da FAP ao local, teria sido uma tragédia... E no entanto tudo correu aparentemente sobre rodas, embora sob grande tensão...

A ONU reconheceu de imediato o novo país africano, mesmo "em guerra"... Portugal só um ano depois o fez. A diplomacia portugues foi de algum modo apanhada desprevenida... Todavia, na pátria de Amílcar Cabral "os amanhãs que cantam" transformaram-se, depressa,  em pesadelo, com Luís Cabral, Nino Vieira, Kumba Ialá, e por aí fora... (vd. reportagem do jornal Público, de 24/9/2013 e de 30/9/2013).

A nossa atitude em relação ao futuro da  Guiné-Bissau é  importante... A sorte do povo da Guiné-Bissau  não nos é indiferente, pelo menos para uma boa parte de nós... Em contrapartida, temos os nossos próprios problemas e angústias face ao futuro como indivíduos, como veteranos de guerra, 
como cidadãos, como portugueses, como povo... Isso também pode "enviesar" os resultados da sondagem...

Fica aqui o desafio para aproveitarem, os não-respondentes, a última oportunidade de resposta à nossa sondagem... Obrigado aos 134 leitores do blogue que já o fizeram até ontem.  Falta 1 dia para encerrar a nossa consulta, que vale o que vale... (Não tem qualquer valor científico,  como qualquer sondagem "on line", porque não sabemos qual é o universo ou a população que nos lê; logo há problemas de amostragem, de tamanho da amostra, de inferência de resultados,. etc.... Trata-se apenas de uma forma de estimular a vossa participação na vida do blogue, e de vos convidar a pensar num problema que é relevante para os nossos dois povos)...


Um alfa bravo.
Luís Graça.

PS1 - Aqui vai um resumo, dos resultados provisórios (n=134), obtidos até agora.
Respondam diretamente no blogue

A sondagem aparece no canto superior esquerdo do blogue. Cada computador/leitor só pode votar uma vez. Mas é possível mudar o voto até ao último minuto...

PS2 - Depois de votarem, podem deixar aqui os vossos comentários, fundamentar a vossa opinião, etc.




Vd. no jornal Público, de 24 de setembro de 2013, uma interessante reportagem, de 4 páginas (30-33), do jornalista João Manuel Rocha, enviado a Bissau, e que recolhe depoimentos de destacados militantes ainda vivos que testemunharam os acontecimentos como: (i)  Carmen Pereira, então comissária política na frente sul, com 37 anos;  (ii) Lúcio Soares. então comandante da frente Norte (, com 31 anos, integrou a equipa de segurança); e (iii) Mário Cabral, mais tarde ministro e embaixador (que veio de avião, de Conacri para Boké)... E ainda outros, como o então jovem realizador de cinema, Flora Gomes (com 23 anos) que fez a cobertura cinematográfica da cerimónia.

Os entrevistados pelo jornal Público trocam com alguma frequência os topónimos, Lugajole e Vendu Leidi (que distam enter si cerca de 15 km)... O primeiro camarada a falar-nos de Lugajole e a mandar-nos fotografias do sítio, creio que foi o Patrício Ribeiro, em 4 de outubro de 2009. Afinal, sabemos que  Lugajole foi só para a "fotografia": o primeiro governo, do PAIGC, mandou lá construir um monumento à independência,  hoje em ruínas. O sítio é de dificílimo acesso. Em 1973 não havia GPS, nem ninguém sabia onde eram os marcos da fronteira... Vendu Leidi acaba por ser em terra de ninguém. Discuitir se foi mais um quilómetro à esquerda ou à direita, dentro ou fora do terrirório da colónia portuguesa é um exercício inútil. Onde seguramente não foi feita a proclamação unilateral da independência, em 24/9/1973, foi em Madina do Boé, onde as NT tinham um aquartelamento, retidado 4 anos antes, em 6/2/1969.

Ver aqui mais postes sobre Lugajole, de Rui Fernandes e de Tina Kramer.

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SONDAGEM: 40 ANOS DEPOIS DA PROCLAMAÇÃO (UNILATERAL) DA INDEPENDÊNCIA DA GUINÉ-BISSAU, A 24 DE SETEMBRO DE 1973, VEJO O FUTURO DAS RELAÇÕES (POLÍTICAS, DIPLOMÁTICAS, ECONÓMICAS, SOCIAIS, CULTURAIS...) DESTE PAÍS COM PORTUGAL, COM (... resposta numa escala de 1. Muito pessismo a 7. Muito otimismo):

1.Muito pessimismo
24 (17%)

2. Bastante pessimismo
22 (16%)

3. Algum pessimismo
27 (20%)

4. Indiferença. nem pessimismo nem otimismo
26 (19%)

5. Algum otimismo
31 (23%)

6. Bastante otimismo
2 (1%)

7. Muito otimismo
2 (1%)

Mude o seu voto
Votos apurados (até às 21h00 do dia  26/1/2013): 134
Dias que restam para votar: 1

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Nota do editor:

Vd. poste anterior > 22 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12071: Sondagem: 40 anos depois da proclamão (unilateral) da independência da Guiné-Bissau, a 24 de setembro de 1973, como vês o futuro das relações (políticas, diplomáticos, económicas, sociais, culturais, etc.) deste país lusófono com Portugal ? Com pessimismo, indiferença ou otimismo ? Resposta até 27/9/2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Guiné 63/4 - P12090: (Ex)citações (225): O nosso blogue e o último dos nossos direitos como veteranos de guerra e cidadãos, o "jus esperniandi", o direito de espernear... (Vasco Pires, ex-cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; e português da diáspora no Brasil)

1. Comentário de Vasco Pires, grã-tabanqueiro bairradino e "tuga" da diáspora no Brasil, ao poste P12073:

Caríssimos,

Em meados do ano 70, assumi o comando de uma unidade quase exclusivamente composta por tropa Africana, e por lá fiquei durante dois anos, em 72 saí de Portugal, e por aí vou andando, sou mais um desses milhões da Diáspora Lusitana. Logo não serei a pessoa habilitada para opinar sobre o pós 74.

 Diria: "Em briga de jacu,  inhambu não pia..", e terei que dar crédito de novo ao meu avô e à sua imensa sabedoria bairradino-brasílica. 

Todavia, sem fazer juízos de valor sobre a matéria, aqui de longe, não posso deixar de externar a minha profunda admiração pelo árduo, sereno, e sábio trabalho de edição de toda a equipe editorial, em assuntos apesar de distantes no tempo cronológico, ainda carregados de emoção. 

Equipe magistralmente comandada pelo Camarada Luis Graça, a quem eu qualifico, sem risco de exagero, como um Benemérito da nossa tão vilipendiada geração, nos proporcionando uma VOZ. É o último dos direitos do cidadão, o tal do "jus esperniandi".

forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-Comandante do 23° Pel Art
(Gadamael, 1970/72)

Guiné 63/74 - P12089: In Memoriam (161): José Marques Alves, de alcunha o "Alfredo" (1947-2013): natural de Campanhã, Porto, vivia em Fânzeres, Gondomar; foi 1º cabo da 2ª secção do 2º Gr Comb, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, maio de 1969/ março de 1971)


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > 2º Gr Comb a atravessar uma bolanha, no subsetor de Xitole, no decurso de uma operação. O 1º cabo José Marques Alves, o "Alfredo", está  assinalado com um círculo a vermelho. Duas lugares á frente, vinha o comandante da secção, o fur mil op esp Humberto Reis. Esta é também a foto de perfil, quer do nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné), quer da nossa página no Facebook (Tabanca Grande Luís Graça).



Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Regulado de Badora, tabanca em autodefesa de Sinchã Mamadjai. O 1º cabo Alves, com a sua secção. Do condutor, também da CCAÇ 12, falha-me agora o nome. Peço-lhe desculpa, se me estiver a ler. (A CCAÇ 12 tinha, no meu tempo, 15 sold cond auto, e um 1º cabo cond aut, o Luís Jorge M.S. Monteiro que, depois da peluda, vivia em Vila do Conde).


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > 2º Gr Com atravessar a bolanha de Finete, a caminho de Bambadinca, de regresso muito provavelmente de um patrulhamento ofensivo no Mato Cão. Em 2º plano, o "Afredo" e o Humberto Reis.


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Da esquerda para a direita, o "Alfredo", e os fur mil Humberto Reis e Tony Levezinho, do 2º Gr Comb, em Bamdainca, exaustos depois do regresso de mais uma operação.


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Desacamento da ponte do Rio Udunduma. 2º Grupo de Comb: "tugas", em primeiro palno, agachado, o Alves; de pé, o Arménio, o Humberto Reis e o Branco.



Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Agures, no mato, de pé em cima de uma viatura: do lado esquerdo, o alf mil Abel Maria Rodrigues (3º Gr Comb); do lado direito, o 1º cabo José Marques Alves (2º Gr Comb).


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Coluna, na estrada alcatroada Bambadinca-Bafatá. Em primeiro plano, o "Alfredo".


Fotos © Humbero Reis (20'06). Todos os direitos reservados. (Editadas por L.G.).

1. Morreu hoje o "Alfredo", o ex-1º cabo José Marques Alves, 2ª secção do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, maio de 1969 / março de 1971).

A funesta notícia foi-me dada logo pela manhã,  pelo seu antigo comandante de secção, o nosso grã-tabanqueiro Humberto Reis. E confirmada logo a seguir pelo seu filho Agostinho, ao telefone. Ele vivia em Fânzeres, Gondomar, e estava doente. Era natural do Porto, Campanhã.

O funeral será, em princípio, no próximo sábado, dia 28. Pelo que percebi,  a família aguarda a chegada de parentes, que vivem em França, "tios", disse-me o Agostinho. O corpo vai para o cemitério de Campanhã.

O "Alfredo" (como era carinhosamente tratado pelo Humberto e por todos nós) era o homem mais puro, generoso e brincalhão que eu conheci na CCAÇ 12. Era um hom afável, disponível, sempre bem disposto e pronto a ajudar. Era um tripeiro castiço, como o Arménio Fonseca. Viemos juntos no T/T Niassa, que partiu de Lisboa em 24/5/1969, os cinquentas quadros e especialistas da CCAÇ 2590 que deram depois origem à CCAÇ 12 (, extinta em 1974). Fizemos juntos muitas operações. Aqui, nbo blogue,  ao pé de nós, o seu nome e a sua memória ficarão melhor salvaguardados. Já pedi à família uma foto recente do nosso querido camarada Alves. É o nosso grã-tabanqueiro nº 628. O seu nome passa diretamenet para lista (n=26) dos que "da lei da morte se foram libertando".

2. É mais um camarada, um amigo, um irmão, que a família da CCAÇ 12 perde. Enviamos daqui, para a família de sangue, um xicoração de saudade, dor  e pesar pelo seu desaparecimento. Coragem para a viúva Beatriz e para os filhos Agostinho e Fernando. Aqui fica o telefone de casa, para quem quiser apresentar-lhes condolências: 224 801 560. E o telemóvel do Agostinho, o filho: 985 555 781.

Um abraço também para os meus camaradas do 2º Gr Comb. que ainda restam. (A maioria dos nossos camaradas guineenses, mais de 80%, infelizmente já não estão vivos).

Vou propor a entrada do malogrado José Marques Alves para Tabanca Grande, depois de fazer  este "In Memoriam". Ele não tinha email, nem sei se conhecia o nosso blogue. Sei que nasceu em 1947, e que ia fazer 66 anos. O seu rosto, gaiato, de há muito que circula nas magníficas fotos do Humberto Reis, publicadas no nosso blogue desde 2006, na I eII Séries.

3. Composição do 2º Gr Comb / CCAÇ 12:

Comandante: Alf Mil de Inf 13002168 António Manuel Carlão [, comerciante, vive em Fão, Esposende; foi cedo destacado para o reordenamento de Nhabijões, passando o comando do 2º Gr Comb a ser assegurado pelos seus dois furriéis, o Reis e o Levezinho]

1ª secção

Soldado Arvorado 82107969 Alfa Baldé (Ap LGFog 3,7)
Soldado 18968568 Arménio Monteiro da Fonseca [, vive no Porto, taxista; era 1º cabo, foi punido por um "chico"]
Sold 82118169 Samba Camará (FF)
Sold 82115369 Iéro Jaló (F)
Sold 82118869 Cheval Baldé (Ap LGFog 8,9) (F)
Sold 82103269 Aruna Baldé (Mun LGFog 8,9) (F)
Sold 82105169 Mamadú Bari (FF)
Sold 82116369 Sidi Jaló (Ap Dilagrama) (FF) [,dado como tendo sido fuzilado depois da independência]
Sold 82118669 Mussa Seide (F)
Sold 82117669 Amadú Camará (FF)
2ª Secção

Fur Mil Op Esp 05293061 Humberto Simões dos Reis [, engenheiro técnico, reformado, Alfragide / Amadora]
1º Cabo 17626068 José Marques Alves [, vivia em Fânzeres, Gondomar; nasceu em 1947, morreu hoje, 26/9/2013]
Soldado Arvorado 82116569 Mamadu Baldé (F)
Soldado 82101469 Udi Baldé (FF)
Sold 82101069 Sajo Candé (F)
Sold 82108069 Alfa Jaló (F)
Sold 82116469 Iéro Juma Camará (Ap Mort 60) (FF)
Sold 82111969 Mamadú Jaló (Mun Mort 60) (F)
Sold 82111069 Adulai Baldé (F)
Sold 82117269 Adulai Bal (F)

3ª Secção

Fur Mil 17207968 Antonio Eugénio S. Levezinho [, quadro técnico, reformado da Petrogal, vive em Sagres, Vila do Bispo]
1º Cabo 18880368 Manuel Alberto Faria Branco [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82116969 Braima Bá (F)
Soldado 82116669 Gale Colubali (Ap Metr Lig HK 21) (FF)
Sold 82116769 Mamadú Uri Colubali (Mun Metr Lig HK 21) (FF)
Sold 82111369 Amadú Turé (F)
Sold 82117469 Demba Jau (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82107869 Iero Jaló (FF)
Sold 82116869 Gale Camará (F)

[Entre parêntesis, no caso dos soldados guineense, a etnia: F=fula; FF=futa-fula]
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12088: In Memoriam (160): António Martins Pires Belo, ex-Soldado da CCAÇ 557, falecido em 19 de Setembro de 2013 (José Colaço)

Guiné 63/74 - P12088: In Memoriam (160): António Martins Pires Belo, ex-Soldado da CCAÇ 557, falecido em 19 de Setembro de 2013 (José Colaço)

ANTÓNIO MARTINS PIRES BELO 
Ex-Soldado da CCAÇ 557 
Falecido em 19 de Setembro de 2013


1. Mensagem de hoje, 26 de Setembro de 2013, do nosso camarada José Colaço [foto à direita], ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, CachilBissau e Bafatá, 1963/65:

Acabou-se a resistência do nosso "Alentejanito", Soldado n.º 938 da CCAÇ 557, António Martins Pires Belo que resistiu aos ferimentos das balas do inimigo na guerra da Guiné, mata do Cantanhez, em Cufar, onde foi ferido e evacuado para o HM 241, em Bissau, e daí para o Hospital Militar da Estrela, em Lisboa.

Quinta feira, 19 de Setembro de 2013 não resistiu a um AVC.
Este meu amigo é citado no Poste P5517 - Histórias de Heroísmo.


2. Comentário do editor:

Aos familiares do nosso camarada, agora falecido, apresentamos as nossas mais sentidas condolências.
Ao nosso tertuliano José Colaço, deixamos um abraço solidário, porque como ele, perdemos mais um camarada e amigo.
Todos ficamos mais tristes quando vemos partir um de nós. Como sempre dizemos, verdade dura e incontestável, cada vez somos menos.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12066: In Memoriam (159): Sadjo Seidei, o Menino da CCAÇ 4540, falecido em Setembro de 2013 na Guiné-Bissau (Eduardo Campos)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12087: Facebook...ando (27): 42 anos depois do regresso a casa... Convívio anual da CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)... Fotos do Américo Vicente







Herdade das Cortiçadas, S. Sebastião da Giesteira, entre Évora e Montemor > Comvívio da malta da CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, no passado dia 14, comemorando os 42 anos do regresso a casa. As fotos são da Cândida Vicente, esposa do nosso camarada Américo Vicente, amigo da Tabanca Grande. no Facebook. Reproduzidas aqui com a devida vénia.


Fotos © Cândida Vicente / Américo Vicente (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas por L.G.).



1. A CCAÇ 2615 fazia parte do BCAÇ 2892 (ten cor Manuel Agostinho Ferreira, Major José Sampaio e Major Pezarat Correia). Chegou a Bissau em 28 de Outubro de 1969. No regresso, embarcou,  em Bissau, 6 de Setembro de 1971. O Comando e os Serviços do Batalhão estiveram sempre em Aldeia Formosa (actual Quebo). A CCAÇ 2615 esteve em Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala. Foi seu Comandante o Cap Mil António Ramalho Pisco.  Outras companhias: CCAÇ 2614 e CCAÇ 2616.

O local do local do convívio e repasto foi na Herdade das Cortiçadas, S. Sebastião da Giesteira, entre Évora e Montemor, segundo informação do Manuel Amaro (que perdeu as fotos que tirou).Enfim, um local original para um convívio entre veteranos de guerra.

Por informação também do nosso camarada Manuel Amaro, ex-fur mil enf, o Américo Vicente fazia parte da equipa de saúde da CCAÇ 2615: José Boita, Amadu Djaló Candé, Américo Vicente e Manuel Amaro (os quais estiveram juntos no convívio de 2009).  

O Américo Vicente fica automaticamente convidado para integrar também a Tabanca Grande do blogue. Precisamos apenas de uma foto sua, do tempo da tropa, e duas palavrinhas de apresentação (que podem ficar a cargo do Manuel Amaro, como "padrinho"). Sabemos que mora na Bobadela, Loures, e que fez recentemente aninhos (a 31 de agosto). Parabéns, muita saúde, longa vida, camarada Vicente.

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Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P11353: Facebook...ando (26): A CCAÇ 4541/72 em Caboxanque, donde saiu em LDG em maio de 1974, a caminho de Bissau (José Guerreiro)

Guiné 63/74 - P12086: (In)citações (54): Os EUA e a grandeza do reconhecimento aos seus combatentes (José da Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, BráBachile e Teixeira Pinto, 1971/73), enviada ao nosso Blogue no dia 23 de Setembro de 2013:

Meus caros amigos e camaradas,
Nas páginas do nosso Blogue tenho trazido à vossa consideração outras vivenças culturais e sociais, outras formas de exercer a cidadania. Também não é segredo o respeito e admiração que sinto pelo povo americano e pelas suas instituições, sem jamais esquecer as minhas raízes e o meu ser Português.

Hoje trago ao vosso conhecimento um exemplo de como os americanos tratam os seus militares.
José da Câmara


A grandeza do reconhecimento

Não é minha intenção fazer comparações entre os dois países que eu amo, Portugal e os EUA, mas tão-somente sensibilizar aqueles que poderiam fazer a diferença na forma oficial como Portugal trata os seus filhos: as chefias militares e os governantes do nosso País.
Na cerimónia militar que tereis a oportunidade de observar são concedidas medalhas por feitos heroicos na Guerra do Vietname, 42 anos depois de terem acontecido as acções.

Um dos combatentes daquela guerra é condecorado com a Silver Star e o outro com a Bronze Star, terceira e quarta mais altas condecorações individuais dos Estados Unidos da América. Mas o que importa mesmo realçar é o pedido formal de desculpas pela injustiça da demora, apresentado pelas mais altas esferas militares.

O nosso conceituado e dedicado amigo José Martins viu indeferido o requerimento que fez para que lhe fosse concedida a Medalha de Comportamento Exemplar, direito que lhe assiste por ter cumprido mais de três anos de serviço sem punições. O Exército Português apresentou como razão para o indeferimento o facto do requerente, o José Martins, não se encontrar no activo.

Não está, mas esteve e a falha foi do Exército que a não concedeu em devido tempo. Como era seu dever. Aliás na família do José Martins, também o avô, ferido em combate na I Grande Guerra, e o seu irmão mais novo, combatente na Guiné em 73/74, também nunca receberam as medalhas a que tinham direito.

E quantos de nós estaremos nas mesmas circunstâncias?

Do meu conterrâneo, o açorianíssimo Prof. Carlos Cordeiro, sobre este exemplo americano que agora se publica no nosso Blogue, recebi a seguinte mensagem que, com a devida autorização, aqui publico:
“Portugal sempre lidou mal com antigos combatentes e não só com os da guerra do Ultramar. É uma coisa que se não entende, mas que é verdadeira. Aliás, Carlos Matos Gomes, na «Nova História Militar de Portugal» (vol. 5, p. 172), diz-nos o seguinte a este propósito: 
«O Estado Português e a sociedade portuguesa no seu todo demonstraram sempre pouca consideração pelos seus militares que participaram em conflitos. A forma como os combatentes da Guerra Colonial foram tratados no seu regresso apenas confirma o acolhimento que já fora dado aos militares que regressaram da Grande Guerra de 1914-1918, aos da Índia, que sofreram ainda o opróbrio das autoridades que os acusaram de cobardia. Talvez já assim tivessem sido acolhidos os marinheiros que regressaram das descobertas e os contingentes que combateram na Guerra Peninsular»”.

Para vossa consideração:


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Nota do editor:

Último poste da série de 11 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11825: (In)citações (53): Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever, peço-te. Da filha que te adora (Paula Ferreira)

Guiné 63/74 - P12085: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (10): Actividades não oficiais

1. Continuação das "Memórias da Guiné" do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro de sua autoria com o mesmo título, Edições Polvo, 2005:


MEMÓRIAS DA GUINÉ

Fernando de Pinho Valente (Magro)
ex-Cap. Mil de Artilharia 

10 - ACTIVIDADES NÃO OFICIAIS



Na esplanada do café Bento, em Bissau, encontrei o Inocêncio, que conhecia da Metrópole. Ele tinha sido funcionário da Câmara Municipal de Viseu e era genro de um capataz de obras públicas da Junta Autónoma de Estradas onde eu trabalhara.

Fez-me uma festa.
- O Senhor Engenheiro aqui, na Guiné?!

Expliquei-lhe a situação em que me encontrava como Capitão ao serviço do Exército.
Disse-me ele que estava colocado nos Serviços Administrativos da Tecnil, uma empresa de construções, especialmente vocacionada para a abertura e pavimentação de estradas, cujos donos eram oriundos de Viseu. Também me disse que, naquela altura, não tinham nenhum técnico qualificado na empresa e que o Governo havia adjudicado à Tecnil as pavimentações de diversos arruamentos de Bissau. Que iria telefonar à noite para Lisboa ao Engenheiro Ramiro Sobral (um dos donos), como diariamente fazia, e o iria informar que eu estava em Bissau.

- O Senhor Engenheiro não nos quererá dar uma ajuda?

Disse-lhe que me era impossível, uma vez que estava preso ao serviço militar praticamente das 9 horas da manhã até às 17 horas.
Respondeu-me que bastaria que passasse todos os dias pela obra às oito horas da manhã, no início dos trabalhos, para combinar com o encarregado a tarefa do dia tirando-lhe qualquer dificuldade que tivesse. Depois, durante o dia mesmo à hora do almoço bastava que passasse rapidamente pela obra para me assegurar que os trabalhos corriam com regularidade. E isso chegava.
Nessas condições disse-lhe que poderia contar com a minha colaboração.

No dia seguinte o Inocêncio apareceu-me no Batalhão de Engenharia comunicando-me que o Engenheiro Ramiro Sobral me pedia que entrasse imediatamente ao serviço da Tecnil e começasse por estudar os processos de adjudicação das obras e as condições em que as mesmas teriam de ser levadas a efeito para que, logo que possível, os trabalhos pudessem ser iniciados.

Assim entrei ao serviço da empresa sem sequer saber qual seria meu ordenado. Só o vim a saber passados três meses, quando o Engenheiro Ramiro Sobral se deslocou a Bissau e me perguntou quanto queria ganhar.
Informei-o do tempo diário que dedicava à Tecnil, tanto nos locais das obras como com os estudos dos projectos. E disse-lhe que ele sabia melhor do que eu, naquelas condições, quanto poderia valer o meu trabalho.
Adiantou-me um valor mensal que era sensivelmente o que auferia a tempo inteiro em Viseu, na JAE. Aceitei imediatamente a sua proposta.

Trabalhando para a Tecnil, orientei os trabalhos de arranjo e modificação do perfil da Avenida da República junto ao Largo de Nuno Tristão e ao edifício da Sociedade Gouveia e do Café Bento, local onde, quando chovia, se juntava muita água e cujo escoamento era difícil.
Orientei ainda os trabalhos de pavimentação das ruas de Angola e de Moçambique e da estrada de Bor, desde o Largo de Teixeira Pinto até à estrada de Santa Luzia.
Projectei e executei, quase completamente, o edifício das novas instalações da Tecnil junto à estrada de Santa Luzia.

Largo de Nuno Tristão

Também encontrei em Bissau o Dr. Moniz, que conhecia de Viseu como professor da Escola Industrial.
O Dr. Moniz, que possuía uma casa senhorial em Rio de Moinhos, em certa ocasião necessitou de umas árvores e arbustos e dirigiu-se à Direcção de Estradas de Viseu no sentido de conseguir o que pretendia dos viveiros da JAE na Queiriga.
O meu Director mandou-o entender-se comigo, uma vez que, na altura, além da responsabilidade da conservação da rede rodoviária nacional da área de Viseu, também geria o referido viveiro da Queiriga.
Facultei-lhe o que pretendia.
O nosso conhecimento teve origem nesse facto e ele ficou-me sempre agradecido.

O Dr. Moniz informou-me que era Director da Escola Comercial e Industrial de Bissau e que precisava de professores.

- O Senhor Engenheiro é que poderia resolver-me um problema. Não tenho professores de Matemática nem de Desenho.

Disse-lhe que era absolutamente impossível satisfazer o que pretendia uma vez que saía do Quartel cerca das 17 horas.

- Mas o meu problema é justamente no horário nocturno.

Retorqui-lhe que já tinha o serviço da Tecnil e que, depois do jantar, ficava por casa a fazer companhia à família e a descansar.

- No entanto, continuou o Dr. Moniz, o horário nocturno aqui em Bissau começa justamente às 18 horas e o serviço docente a partir dessa hora é pago a dobrar. Não quererá o Sr. Engenheiro ao menos leccionar duas horas por dia das 18 às 20 horas?

Nessas condições aceitei o que o Dr. Moniz me propunha e passei a ser professor de Matemática e de Desenho Geral na Escola Comercial e Industrial de Bissau, exercendo essa actividade durante dois anos lectivos (1970-1971 e 1971-1972).

Fiquei com o meu tempo completamente preenchido até às 20 horas.

Nos fins-de-semana, e em casa à noite, ainda tive tempo de realizar alguns projectos de engenharia civil, a saber:
- Projecto de um edifício misto, com snack-bar, apartamentos e armazém para a Sociedade Comercial Ultramarina de colaboração com o Arquitecto Fernando Pereira Morgado, Capitão miliciano como eu;
- Projecto das infra-estruturas de um bairro de casas económicas para a Caixa de Previdência dos Funcionários Civis;
- Projecto de um bloco de apartamentos com rés-do-chão comercial para António Amaro;
- Projecto de um bloco de apartamentos e das instalações para uma fábrica de camisas.

Algumas pessoas que me estavam mais ligadas começaram, a dada altura, a aperceber-se destas minhas actividades bem como dos rendimentos que auferia e, por isso, na área militar passei a ser conhecido como "Capitão Caça-níqueis".

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12057: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (9): Os reordenamentos populacionais

Guiné 63/74 - P12084: Agenda cultural (283): Fafe, Biblioteca Municipal de Fafe, a partir de 17 de outubro de 2013 e até 21 de novembro, às quintas-feiras, curso livre de história local: "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)" (Jaime Silva)



Fafe > Monumento aos combatentes da guerra colonial, inaugurado em 5 de novembro de 2005.  Foto: Artur Coimbra  (2012) (`*)


1.  No àmbito das comemorações, em curso, do início da guerra colonial,  levadas a cabo pela Câmara Municipal de Fafe (**), vai realizar-se nos próximos meses de outubro e novembro, às quintas feiras e em horário pós-laboral, o II Curso Livre de História Local, sob o tema "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)".

O programa foi nos enviado, com pedido de publicação (***),  pelo nosso amigo (e camarada) Jaime Bonifácio Marques da Silva (, conhecido em Fafe por Jaime Silva), lourinhanense e ex-alf mil paraquedista (BCP 21, Angola, 1970/72),


II CURSO LIVRE DE HISTÓRIA LOCAL

O concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)


PROGRAMA

Quintas-feiras, 18h30/20h00

Biblioteca Municipal

17/18/10? - 1.º Módulo (Abertura Solene) – “A Guerra Colonial na vida e obra de Manuel Alegre” – Manuel Alegre – José Manuel Mendes (?)

24/10 - 2.º Módulo – “Uma abordagem à Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974) ” – José Manuel Lages

31/10 - 3.º Módulo – “A participação de militares do concelho de Fafe no Ultramar” – Jaime Silva

07/11 - 4.º Módulo – “ A Guerra Colonial nas páginas da imprensa local” – Daniel Bastos

14/11 - 5.º Módulo – “O conflito contado por aqueles que o viveram: imagens e testemunhos da Guerra Colonial” – Artur Leite


21/11 - 6.º Módulo – “Memórias literárias da Guerra Colonial” – Artur Coimbra

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Notas do editor:


(*) Informação reproduzida, com a devida vénia, no blogue de Artur Coimbra, Sala de Visitas do Minho > 3 de julho de 2012 > Viagem pelos Monumentos da cidade de Fafe (VIII) > Monumento aos combatenets da guerra colonial

(...) "Da iniciativa da Delegação de Fafe da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra, e em especial do activista Jaime Silva, o Monumento aos Combatentes da Guerra Colonial foi inaugurado em 6 de Novembro de 2005.

Localizado no jardim central da Avenida do Brasil, o monumento tem a assinatura da escultora Andreia Couto e consiste numa estátua em bronze, representando um soldado equipado conforme os militares portugueses operavam nas antigas colónias, em cima de um pedestal, de forma quadrangular, nos lados do qual se inscrevem os nomes dos 37 soldados fafenses que morreram na guerra.

O objectivo é exactamente prestar homenagem aos jovens oriundos deste concelho que tombaram para sempre ao serviço da Pátria nos confrontos que decorreram entre 1961 e 1974 nas províncias de Moçambique, Angola e Guiné.

A Câmara de Fafe contribuiu com 15 mil euros para que a associação conseguisse concretizar o sonho – que vinha já de 2001 – de erguer o memorial aos mortos da guerra colonial, orçado em cerca de 20 mil euros. As juntas de freguesia também colaboraram nesta iniciativa". (...)


(***) Último poste da série > 15 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12044: Agenda cultural (282): Festival Todos 2013. Além do Intendente alarga-se agora ao Poço dos Negros e a São Bento, Lisboa, 12-15 set 2013

Guiné 63/74 - P12083: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (31): testemunho gravado em Gadamael, a história do Oh! Alexandre, que conheceu o alf mil Manuel Vaz, da CCAÇ 798, bem como o pessoal da CCAÇ 1659, os Zorba


Vídeo (1' 50''). Alojado em You Tube > ADBissau

1. Mensagem enviada em 19 do corrente, pelo nosso amigo Pepito, da AD - Acção para o Desenvolvimeneto, com sede em Bissau:

Luís

Assunto - Gadamael, testemunho

Repara no testemunho do Oh Alexandre!

http://youtu.be/KM5bpbU165M

É impressionante a memória dele para o número das companhias e anos...

abraço
pepito

2. Comentário de L.G.:

Este homem trabalhou como "assalariado no hospital" (sic) de Gadamael... Queria ele dizer: no posto médico... Seria uma espécie de "auxiliar" de enfermagem ou "ajudante" de maqueiro... Civil, presumo ele, não deve ter sido tropa, muito menos operacional... Conheceu o alf mil [Manuel] Vaz,  da CCAÇ 798 (Gadamael, 1965/67), nosso estimado amigo e camarada que tem vindo a dedicar-se, com paixão e rigor, à historiografia militar de Gadamael.

O Oh! Alexandre, um dos dois indigitados guias do futuro Núcleo Museológico Memória de Gadamael,  lembra-se inclusive do SPM da companhia,  SPM 4078 (se bem percebo as suas palavras...)!.

Descreve o alf Vaz: "não era muito alto, era um bocado baixinho, e um bocado forte"... E faz referência a uma ponte onde passavam as viaturas, que terá sido construída no tempo do alf Vaz e onde ele deixou o seu nome gravado...

Depois veio a companhia Zorba, a CCAÇ 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68)...

O nosso homem ficou sempre conhecido por Oh! Alexandre, pelo pessoal das diversas companhias que passaram por Gadamael

Obrigado ao Pepito pela gravação deste pequeno vídeo e por esta deliciosa pequena entrevista em português. Julgo que vai ser uma surpresa, emocionante, para o Manuel Vaz... Reparem: são recordações de há quase 50 anos!...
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Nota do editor: 

Último poste da série > 24 de setembro de 2013 >Guiné 63/74 - P12077: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (30): Mais um vídeo com música do tempo da tropa colonial gravado recentemente em Gadamael Porto: Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu...


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12082: Os nossos médicos (71): Guiões, brasões e crachás das unidades em que prestou serviço o alf mil méd Amaral Bernardo: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72)














Guiões, brasões e crachás das unidades (batalhões) e subunidades (companhias) por onde passou o alf mil médico Amaral Bernardo, nosso prezado camarada da Tabanca Grande, que esteve no TO da Guiné nos anos de 1970/72.


1. Este material já nos tinha sido enviado por email de 30 de março de 2011. Por lapso, só agora descobrimos o seu paradeiro: estava numa das nossas caixas de correio, pouco usadas... Pedimos desculpa ao autor e aos leitores.

O Amaral Bernardo esteve ao serviço de dois batalhões: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72), como de resto se infere dos louvores que lhe foram atribuídos:









Fotos: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

Guiné 63/74 - P12081: Memórias de Mansabá (28): Minas na estrada de Mansabá (Francisco Baptista / Carlos Vinhal)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 19 de Setembro de 2013:

É muito difícil para mim falar da guerra da Guiné.
Porque eu não quis essa guerra nem as das outras colónias.


Um dia nos finais de 1971, o comandante da companhia mandou-me com o 4º pelotão da CART 2732, a Mansoa, esperar e trazer sob protecção uma coluna de reabastecimento com destino a Mansabá, K3 e Farim.

Mansoa, segundo a ideia que me vem à memória, era um quartel bastante grande com boas instalações quando comparadas com a maioria dos quartéis da Guiné. Não sei quantas companhias estariam lá aquarteladas, mas pelos alferes que eu encontrava no bar deveria lá morar um batalhão, não sei ao certo.
Porque havia sempre alguns tiques diferentes entre as diversas armas, ao tempo não sei se esses militares não seriam de cavalaria. Em todo o caso aqueles que contactei em Mansoa foram sempre afáveis e simpáticos.

Nesse dia mal entrei falaram-me numa mina que estaria na estrada entre Mansoa, Mansabá e o K3. Eles tinham recebido a informação no dia anterior, através dos serviços secretos. Agradeci a informação, que não tinha recebido em Mansabá e no regresso fomos com mais cuidado e atentos a possíveis minas, na estrada que era de alcatrão.

Até Mansabá nada encontrámos. Continuámos na direcção de K3 e chegados ao Bironque, num pedaço de estrada sem alcatrão, por causa do rebentamento duma mina, muitos meses antes, detetamos uma mina anticarro.

O meu pelotão não tinha especialistas de minas e armadilhas. O alferes Couto que tinha sido o primeiro a comandar o pelotão infelizmente morrera ao levantar uma.

Recordo-me de dois especialistas de minas e armadilhas que ou já estavam connosco ou vieram na altura do quartel que até era perto. Acho que teriam vindo com mais alguns soldados do quartel. Talvez porque o assunto era delicado eles pouco falaram, pois viriam concentrados a pensar na melhor forma de o resolver.

Decidiram que iriam tentar levantá-la. A decisão teria que ser deles, e eu só teria que a acatar mas fiquei apreensivo, porque cerca de um ano antes, na CCaç 2616, em Buba, tinha morrido o meu amigo Furriel Ferreira ao tentar levantar uma mina anti-carro, o alferes Couto, primeiro comandante do pelotão morrera também ao levantar uma e o alferes Queiroz que eu tinha rendido em Buba, também morrera ao pisar uma.
Seria muito mau que uma mina provocasse outra tragédia semelhante.

Hoje penso, recordando o porte e postura de um deles e de alguém que revi há cerca de 2 meses, que um dos especialistas de minas era o nosso amigo Carlos Vinhal. Só ele poderá confirmar se quiser.
Mandaram pôr o pelotão à distância regulamentar e fizeram o levantamento da mina duma forma eficiente e segura. Por mim confesso que respirei de alívio.

Depois fomos até ao K3 a verificar se poderia haver outras minas, que não encontrámos. O aquartelamento de K3 que ficava junto ao rio Geba, antes da travessia para Farim, ao contrário do de Mansoa era pobre, feito de troncos de árvores, que ladeavam um grande terreiro poeirento, onde talvez estivesse uma companhia.
Mais parecia um forte como o dos filmes americanos que víamos quando éramos novos. O pessoal não o recordo tanto como o de Mansoa, talvez por serem menos, talvez por eu ter ido menos vezes lá.

No regresso a Mansabá soube que a mensagem sobre as minas tinha sido recebida no dia anterior no aquartelamento mas não foi comunicada à CART 2732.
Foi uma falha humana, como infelizmente há muitas e havia muitas.
Felizmente não houve vítimas a lamentar.


2. Comentário de Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732

Não na qualidade de editor, mas como interveniente no acontecimento que o ex-Alf Mil Francisco Baptista aqui lembra, vou comentar e dar a mão à palmatória por em tempos ter sido impreciso, por lapso de memória.
Fica mais uma vez provado que há pormenores que nos vão escapando.
Passemos então ao comentário.

Em 9 de Julho de 2006 escrevi no Poste 948*:

Durante uma grande parte da comissão fui encarregue da gerência dos bares do aquartelamento. Por inerência do cargo ia quase todos os meses com o meu camarada Costa, Fur Mil Alimentação, a Bissau para acompanharmos no regresso os reabastecimentos da Cantina e Bares.

As colunas de reabastecimento eram compostas por um número elevado de viaturas de carga civis e militares, carregadas com víveres destinados a Mansoa, Mansabá, K3 e Farim. As viaturas militares de mercadorias eram pertença da Companhia de Transportes Militares e eram comandadas normalmente por um Furriel Miliciano que coordenava também as viaturas civis, alugadas para reforço. A protecção da coluna era assegurada entre Bissau e Mansoa pelas forças de Mansoa. A minha Companhia, por sua vez, esperava ali a coluna de onde fazia protecção até Mansabá e daqui ao K3. As viaturas de carga destinadas a cada aquartelamento iam ficando sucessivamente a descarregar, sendo apanhadas, mais tarde, no regresso da coluna para Bissau.

No dia 3 de Dezembro de 1971, num desses reabastecimentos, chegou, ainda em Bissau, uma informação de que teria sido montada, pelo IN, uma mina anticarro no trajecto entre Mansoa e o K3. Deram-me conhecimento do facto por eu ser o único graduado com o curso Minas e Armadilhas na coluna. Dirigi-me ao comandante das viaturas de reabastecimento, por sinal um Furriel Miliciano recentemente chegado à Guiné, para o avisar de que os condutores das viaturas de carga deveriam conduzir com cuidado, porque a todo o momento poderiam surgir complicações. Julgando que eu estava a amedrontá-lo por ele ser periquito, não me levou muito a sério.

Foram precisos sete anos para se saber a verdade. Não foi em Bissau que eu soube da possível existência mina, mas, segundo o testemunho do camarada Francisco Baptista, foi em Mansoa.
Se pensarmos bem, até é mais lógico porque ali era sede de Batalhão e era ali que começava o perigo.
Em Mansabá, ao tempo, estava activado o COP 6, logo estou em crer que a mesma informação também lá estivesse. Pelos vistos estava, mas dela não foi dado conhecimento a quem de direito, ao CMDT da coluna, Alf Mil Francisco Baptista.

A detecção da mina deveu-se à informação recolhida em Bissau e ao bom hábito de picar a zona da cratera sempre que ali passávamos.

Aqui também devia ter dito que a detecção da mina deveu-se à informação recolhida em Mansoa e acrescentar: ao especial cuidado do Comandante da coluna que mandou picar aquela zona com especial atenção.

Analisada a situação, afastámos toda a gente para uma distância de segurança e metemos mãos à obra. Por sorte a mina, uma TM42, que possui uma asa própria para transporte, tinha-a acessível sem necessidade de lhe mexer muito. Foi só afastar um pouco de terra com cuidado não fosse estar armadilhada. Atámos-lhe uma corda estendendo esta de modo a, por de trás de uma árvore, puxar a mina até ela se soltar. À conta de alguma força, lá a conseguimos soltar. Para a tornar inofensiva, removi-lhe a espoleta e ei-la em condições de ser tocada e fotografada para a posteridade.

Cabe aqui um pedido de desculpas ao camarada Francisco Baptista pela angústia que lhe causamos, que felizmente não notei. Claro que eu também estava tenso, pelo menos até saber como íamos dar a volta ao caso. Cabe aqui também uma palavra de apreço ao meu camarada de Minas e Armadilhas, Fur Mil Sousa. Foi um trabalho de equipa.

Para relembrar, ficam as fotos então publicadas, com legendas de hoje:

Bironque, 03DEZ71 - A mina AC TM42 momentos antes de ser levantada e neutralizada 

Parafraseando Francisco Baptista: "Mandaram pôr o pelotão à distância regulamentar e fizeram o levantamento da mina duma forma eficiente e segura".

Acabada a operação, e aproveitando a presença do fotógrafo, (quem seria?) fez-se a foto de família para a posteridade. O Sousa segura a menina com o prazer do dever cumprido. Agora reparo que saí para o mato com os galões de furriel nos ombros. Tal foi a pressa.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 DE JULHO DE 2006 > Guiné 63/74 - P948: Memórias de Mansabá (3): A angústia do minas e armadilhas (Carlos Vinhal)

Último poste da série de 15 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11396: Memórias de Mansabá (27): Naquele Domingo de Páscoa de 1971, festejei os meus 34 anos (Jorge Picado)

Guiné 63/74 - P12080: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (11): Djassi, o ordenança

1. Em mensagem do dia 21 de Setembro de 2013, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense. CSJD/QG/CTIG, 1973/74), ao contrário do que costuma fazer, fala-nos muito a sério de um caso que se multiplicou por muitos, o abandono puro e simples dos nossos camaradas Guineenses.


Um Amanuense em terras de Kako Baldé

(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné) 


11 - Djassi, o ordenança

Como já referi em post anterior, prestei serviço na CSJD/QG/CTIG (Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina do Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné) situado nas instalações militares de Santa Luzia.

Há quem, neste blogue, confunda o QG/CTIG com o QG da Amura. Aí estava instalado o QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné. Isto é: O QG/CTIG era o Quartel General do Exército, enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território.

No tempo em que por ali andei (1973/74), o primeiro foi comandado pelo Brigadeiro Alberto da Silva Banazol e depois pelo Brigadeiro Galvão de Figueiredo; o segundo pelo General Spínola e depois pelo General Bettencourt Rodrigues.

Em Agosto de 1974 na CSJD tínhamos um ordenança, o Djassi, soldado nativo que aparentava ter já ultrapassado os 30 anos de idade e que, enquanto operacional, foi gravemente ferido, tendo-lhe sido retirado um pulmão e integrado nos serviços auxiliares, sendo ali colocado para efectuar pequenas tarefas relacionados com aquele Serviço.

O Djassi apresentava invariavelmente um semblante carregado e raramente esboçava qualquer sorriso, denotando, porventura, algum sofrimento pelo seu débil estado de saúde, mas era um indivíduo afável, educado, disciplinado e prestável. Dava gosto lidar com ele. Nunca o vi aceitar com azedume qualquer tarefa oficial ou particular que se lhe solicitasse.

Nessa altura, Agosto de 1974, já muitas Companhias tinham abandonado os seus quartéis no mato e regressado à Metrópole, e outras encontravam-se estacionadas em Bissau a aguardar igual destino.
Por essa razão, estavamos assoberbados com papelada decorrente do "fecho de contas" daquelas Companhias o que indiciava que nós, os do "ar condicionado" seríamos talvez os últimos a "abandonar o barco".
A situação era confusa. Sabíamos que iríamos abandonar a Guiné, mas não sabíamos como, nem se o faríamos definitivamente, nem quando.

Começou a correr a informação de que a partir de finais de Agosto não seriam autorizadas férias a ninguém.
Ora, eu e o meu camarada Silva do Barreiro, nessa altura já os mais "velhinhos" da CSJD com excepção do Ten Cor e do Major, estávamos há já mais de um ano sem gozar férias e começamos logo a tratar da papelada para o efeito.
Lá viemos de férias em meados de Agosto e, entretanto, o "êxodo" continuava e com maior cadência.
Findas as férias, regressamos à Guiné exactamente no dia em que foi reconhecida a independência por parte de Portugal - 12 de Setembro de 1974.

As patrulhas na cidade eram efectuadas pela PM conjuntamente com elementos do PAIGC, muitos estabelecimentos tinham encerrado, a tropa que ainda restava era composta de "piriquitos" oriundos das Companhias mais recentemente chegadas à Guiné, na CSJD só o Ten Cor e o Major não tinham ainda sido substituídos, os bens escasseavam, na messe de Sargentos só se encontravam "piriquitos", etc., etc.. Ou seja: eu e o Silva estávamos completamente deslocados e se não tivéssemos a estúpida ideia de meter férias naquela altura, teríamos certamente regressado definitivamente, sem necessidade de desembolsar os "pesos" que nos custou a viagem.

Logo tratamos de, junto do Ten Cor, dar conhecimento da nossa "triste" situação e efectuar o "choradinho" adequado.
Fomos então incumbidos de queimar todo o arquivo morto da CSJD que ocupava totalmente uma daquelas pequenas vivendas tipo colonial e que era composto por processos instaurados desde o tempo em que ainda não havia guerra na "Província", após o que poderíamos "meter os papéis" para regressar à Metrópole.

A tarefa impunha alguma responsabilidade e cuidado pois não podia ficar qualquer fracção de papel por arder o que, nos processos mais volumosos, nos obrigava quase a arrancar folha por folha.
Ali estivemos quinze dias a queimar papel que, quando amontoado, nos obrigava a remexê-lo com um pau para que não se apagasse e, no fim de cada dia, só abandonávamos o local quando existissem apenas cinzas.
De quando em vez, um ou outro processo despertava a nossa curiosidade pelos objectos de prova que continha e cheguei mesmo à tentação de desviar alguns, mas o desejo de regressar a casa depressa e bem, falava mais alto.

A nossa vontade em terminar a tarefa o mais rapidamente possível era tanta que logo que o sol dava sinais de vida, lá íamos nós p'ra "incineradora" e um dia tivemos a sorte de nos cruzarmos com o Ten Cor que, talvez sensibilizado pela nossa madrugadora actividade, nos mandou chamar para que "metêssemos a papelada para bazar dali".

A tarefa ainda não estava terminada, mas o Ten Cor, face à nossa proficiência e empenho, achou por bem mandar para lá alguém mais "piriquito" e nós lá regressamos à Metrópole quinze dias depois de lá termos vindo no final das férias.

E foi numa deslocação a Bissau para, no mercado negro, "despachar" os últimos pesos que tinha comigo (na messe de sargentos de Santa Luzia já nada havia para comprar) que encontrei o Djassi, já civil e que me interpelou de uma maneira agressiva como nunca imaginei que fosse capaz, confrontando-me com a situação para a qual o Exército Português o tinha atirado e dando-me a entender que, naquele momento, para ele, eu era o representante daquele Exército e exigia-me explicações que eu não podia dar.

- Furriel, eu fui ensinado a respeitar a bandeira portuguesa desde que nasci, andei muitos anos no mato a lutar por Portugal, fui ferido várias vezes, fiquei sem um pulmão, sou português, sempre me considerei português!
- E agora, dão-me dinheiro e vão-se todos embora?! - O que vai ser de mim?! - O que é que o PAIGC vai fazer comigo?!

Naquele momento senti-me envergonhado por ainda pertencer ao Exército que abandonara à sua sorte o exemplar militar português que era o Djassi.
Emudeci e não me recordo de lhe ter dirigido grandes palavras de conforto para além de um lacónico: "Calma, vai correr tudo bem".

Cabisbaixo e algo deprimido retirei-me do local, mas confesso que, minutos depois, o egoísmo veio ao de cima e já só pensava nas "voltas" a dar no sentido de embarcar com destino à Metrópole.

Quando, tempos depois, já na Metrópole, comecei a ouvir os noticiários sobre os fuzilamentos de antigos militares portugueses da Guiné, muitas vezes me veio à memória (e continua a vir quando se fala no assunto) o exemplar militar Djassi e questiono-me sobre o destino que teria tido e se os capitães de Abril (na altura no poder) não teriam podido fazer mais por aqueles que combateram ao nosso lado.

Há muito que tinha em mente falar sobre o Djassi, ordenança da CSJD/QG/CTIG, mas como tenho o hábito de salpicar a minha "prosa" com tiradas pseudo-humorísticas (está-me no sangue), tenho alguma dificuldade de escrita para assuntos mais sérios como este. Dispus-me agora a fazê-lo, reconhecendo, no entanto, que este episódio era merecedor de uma escrita mais adequada ao fim a que me propus:

Prestar uma sentida homenagem a todos os "Djassis" da Guiné-Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11466: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (10): Bombeiro (in)voluntário e outras histórias

Guiné 63/74 - P12079: Os nossos médicos (70): Amaral Bernardo, do Porto, foi o primeiro médico da açoriana CCAÇ 2726, que era comandada pelo cap inf David C. Gomes de Magalhães (Cacine, 1970/72)




Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine a caminho de Gadamael > c. 1970 > O alf mil méd Amaral Bernardo esteve na CCAÇ 2726, uma companhia independente, açoriana, que guarneceu Cacine (1970/72). Amaral Bernardo pertencia  à CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), e passou cerca de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6).

Foto: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



1. Mensagem de Amaral Bernardo, acabada de chegar às 07:18:

Luís:

Há cerca de dois anos enviei-te os crachás das companhias por onde andei na Guiné (e que nunca foram referenciados neste blogue) e penso (mas vou verificar, e gostava que o fizesses também) que o da CCaç 2726 que hoje mostram,  pertence a essa colecção. (Caso não seja assim, este mail não existiu).

Essa foi a primeira companhia que tive na Guiné em conjunto com Gadamael. Depois estive os tais 11 meses em Bedanda com apoio ao Guilege e esporadicamente a Cacine.

Era comandada pelo capitão Altino (penso) de Magalhães[, não,  era o cap inf David C. Gomes de Magalhães] (**)

Dessa época não me lembro de nenhum colega de Coimbra que estivesse lá estado. O apoio a Cacine era feito pelos médicos de Catió, como é sabido. 

O Mário [Silva] Bravo substitui-me em Bedanda quando fui para Tite. Cruzámo-nos no "Aeroporto Internacional de Bedanda", na rendição.

Somos da mesma Faculdade [de Medicina do Porto] e amigos de longa data.

Desculpa este flashback.

Abraço rijo

Amaral Bernardo

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Amaral,  pela tua pronta resposta ao solicitado no nosso último poste,  P12078, de hoje (*).  Aqui tens mais uns elementos informativos sobre a tua primeira companhia,  onde  estiveste como médico.  O pessoal era açoriano. É pena que não tenhamos ninguém a representá-la aqui, na nossa Tabanca Grande.

Encontrei, no portal Dos Veteranos da Guerra do Utramar [Ultramar Terraweb]  um contacto de um militar dessa companha, o Luís Cândido Tavares Paulino, que organizou o 7º convívio do pessoal da  CCAÇ 2726, no Faial e no Pico, em 2011. Telefone: 214 102 686. Talvez esse camarada nos possa dizer quem, além de ti, foram os médicos que passaram por Cacine, entre 1970 e 1972, ao tempo da CCAÇ 2726.

Quanto ao mail que me terás enviado há cerca de 2 anos, com os crachás das tuas companhias, é bem possível que se tenha estraviado ou esteja algures, ainda por abrir,nalgumas das minhas caixas de correio que já não está ativas. Numa primeira rápida pesquisa não encontrei nada. Se ainda te for possível, reencaminha-me, por favor, esse mail. Saúde da boa para ti!... De Lisboa, com um alfa bravo. Luis.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 24 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12078: Os nossos médicos (69): Quem foi o colega de Coimbra que em 1970 passou pela açoriana CCaç 2726 (Cacine, 1970/72) ? (Flávio Rodrigues, médico, Loures)

(**) A CCAÇ 2726, independente, foi mobilizada p'elo BII 18, partiu para o TO da Guiné em 11/4/1970 e regressou a 27/2/1972. Esteve sempre em Cacine. Era comandada pelo cap Inf  David Custódio Gomes de Magalhães.

Vd. poste de 16 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4961: Histórias de Juvenal Candeias (4): Há periquitos no Quitáfine

(...) A CCaç 3520 tinha chegado ao porto de Cacine, a bordo da LDG Montante, em 24 de Janeiro de 1972, para render a CCaç 2726, companhia açoriana comandada pelo Capitão Magalhães, o homem que retorcia as pontas do bigode com cera e a quem o tabaco nunca faltava! Dizia-se mesmo, à boca pequena, que, quando o tabaco acabava em Cacine, o PAIGC deixava, no mato, uns macitos para o Capitão! Rumor ou realidade… ninguém sabe! Ficou por provar! (..:)

Guiné 63/74 - P12078: Os nossos médicos (69): Quem foi o colega de Coimbra que em 1970 passou pela açoriana CCaç 2726 (Cacine, 1970/72) ? (Flávio Rodrigues, médico, Loures)


Crachá da CCAÇ 2726 (Cacine, 1970/72). uma companhia açooriana, mobilizada pelo BII 18. Slogan: In hoc signo vinces (Com este sinal, vencerás!).


Foto: © Mário Bravo (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Flávio Rodrigues, nosso leitor (e camarada, médico, presumivelmente alferes mil médico; tem consultório em Loures e é de clínica geral):

 De: Flavio Rodrigues
Data: 14 de Setembro de 2013 às 15:16
Assunto: Quem foi o Médico de Coimbra que em 1970 passou pela CCaç 2726 em Cacine

Colega Luís Graça;

Se souber quem foi o colega de Coimbra que,  em 1970, passou pela CCaç 2726,  em Cacine,  agradeço que me diga para eu entrar em contacto com ele para recordarmos episódios.

Agradece, Flávio Rodrigues

2. Resposta de L.G.:

Camarada, não tenho a certeza, mas pode ser o Mário Bravo, cirurgião, ortopedista, hoje a viver no Porto ou Grande Porto, e membro do nosso blogue desde janeiro de 2007. Não sei se ele estudou em Coimbra. A imagem do crachá que acima reproduzimos, foi ele que nos mandou. Pode ser que ele possa responder à tua pergunta. (No blogue tratamo-nos por tu, na nossa qualidade de antigos camaradas de armas; aproveito para te convidar a ingressar na Tabanca Grande e escrever aqui algumas das tuas boas e menos histórias da guerra: presumindo que passaste também pela Guiné, pelo sul, nesta época conturbada de 1970/72).

Infelizmente, não temos ninguém dessa companhia representado no blogue. A CCAÇ 2726 era composta maioritariamenye por camaradas dos Açores, 

Pode ser que o Mário [Silva] Bravo nos possa dar alguma pista... O Mário Bravo, ex-alf mil médico, passou por Bedanda, neste caso pela CCAÇ 6, entre Dezembro de 1971 e Março de 1972 e depois por Teixeira Pinto, ficando o resto da comissão no HM 241, em Bissau.

Outro médico que te pode dar uma ou mais pistas é o [José Maria Ferreira do ]  Amaral Bernardo (ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 2930, Catió, 1970/72). 

Vamos também pedir ajuda aos nossos camaradas, que nos leem, e em especial aos açorianos...

Um abraço. Luis