[Foto do poeta, à esquerda, em Berlim, com 2 dos netos: ele lançou recentemente o seu 1º livro de poesia, "Baladas de Berlim" (Lisboa: Chiado Editora, 2013, 229 pp., Coleção Prazeres Poéticos, preço de capa: 15 €) ].
(i) As libelinhas...
Há quem deteste as libelinhas...
Está tudo a postos.
O chão estiolado,
Estendido ao comprido,
(iv) Molho de chaves...
Tenho um molho de chaves,
Religiosamente guardado,
Desde os meus verdes anos.
Desde a altura
Em que me senti entregue a mim.
Nos anos de 52...
A primeira foi da mala,
Onde transportei meu enxoval,
Quando entrei no seminário.
Mala em pinho,
De encomenda,
Ao carpinteiro amigo
Do meu Pai.
Em ferro forjado.
Uma verdadeira miniatura,
Que a ferrugem come,
Da chave duma casa.
Depois, a da mala de cartão castanho.
Muito minúscula.
Pareceria agora um brinco...
Onde trazia a roupa e livros,
Quando vinha e ia no fim das férias.
A terceira, deu-ma a tropa.
Era singela...
Para um saco em pano,
Em manga d’alpaca,
Até à hora solene
Em que me vi oficial.
Mais fidalga...
Luzia a prata.
Viajava em primeira,
Nos comboios
E no paquete
Que me levou,
Num camarote,
Até ao Funchal.
E dali, até à Guiné...
Muito velhinha,
Só ela sabe o que lá passei...
Depois, a do quarto,
Como dum armário,
Em Lisboa,
Que eu tirei à dona,
Onde fui hóspede,
Até casar.
Fui saltitão,
De casa em casa,
Até assentar.
Do sul ao norte,
Terão sido sete
As casas onde eu vivi,
E criei os filhos.
Agora, em Berlim,
Onde me trouxe o vento...
Que grande molho!
Com tantas histórias...
Até à derradeira,
Último poste da série > 14 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12294: Blogpoesia (359): Um poema a África (Juvenal Amado)
Há quem deteste as libelinhas...
Sentem pavor, se uma só se abeira.
Agora, imaginem-se num descampado.
Há um avião de caça,
Teatro de guerra,
Com o prego a fundo,
Direitinho a si...
Se não se morrer de susto,
Não há quem escape...
Falo, por experiência própria...
Foi na Guiné.
Ainda aqui estou.
E cada vez mais gosto das libelinhas!...
Berlim, 26 de Novembro de 2013, 22h26m
[Foto acima, à direita: um heli AL III, Bambadinca, c. 1970; créditos fotográficos: Humberto Reis]
Agora, imaginem-se num descampado.
Há um avião de caça,
Teatro de guerra,
Com o prego a fundo,
Direitinho a si...
Se não se morrer de susto,
Não há quem escape...
Falo, por experiência própria...
Foi na Guiné.
Ainda aqui estou.
E cada vez mais gosto das libelinhas!...
Berlim, 26 de Novembro de 2013, 22h26m
[Foto acima, à direita: um heli AL III, Bambadinca, c. 1970; créditos fotográficos: Humberto Reis]
Está tudo a postos.
O chão estiolado,
Estendido ao comprido,
Sem cor.
As árvores ao ar,
De braços abertos rezando,
Despidas das folhas.
As árvores ao ar,
De braços abertos rezando,
Despidas das folhas.
As folhas mortas,
Jazidas na terra
Juntam-se aos montes,
Nas bermas da estrada.
Como quem espera a carrada.
Os telhados tristonhos,
De abas caídas,
Vêem-se sozinhos,
Sem pombas, nem andorinhas
Aos pares.
E os caminhos estragados
Pelos golpes da chuva,
Sangram de dor.
Esperando algodão que os sare.
Parece a hora da morte.
Que tudo acabou.
Jazidas na terra
Juntam-se aos montes,
Nas bermas da estrada.
Como quem espera a carrada.
Os telhados tristonhos,
De abas caídas,
Vêem-se sozinhos,
Sem pombas, nem andorinhas
Aos pares.
E os caminhos estragados
Pelos golpes da chuva,
Sangram de dor.
Esperando algodão que os sare.
Parece a hora da morte.
Que tudo acabou.
O céu anda cansado e tristonho,
Saudoso de luz.
Meus netos, já irrequietos,
Impacientes,
Se voltaram para mim:
– Avô! Quanto é que vem a neve
Para a gente brincar?...
Porque sou homem de palavra e de fé,
Saudoso de luz.
Meus netos, já irrequietos,
Impacientes,
Se voltaram para mim:
– Avô! Quanto é que vem a neve
Para a gente brincar?...
Porque sou homem de palavra e de fé,
Com firmeza lhes digo:
–Tenham mais um pouco de paciência!...
O Menino Jesus está quase a chegar...
Ouvindo Hélène Grimaud,
Berlim, 24 de Novembro de 2013, 7h53
[Acima: imagem que ilustrava areograma natalício, editado e distribuído no TO da Guiné, pelo Movimento Nacional Feminino. s/d. Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
[ Foto à esquerda: Mãe e filha, com António Teixeira (1948-2013), em Bedanda, c. 1972/73. Foto do nosso saudoso Tony Teixeira, que se despediu hoje da "terra da alegria"...]
–Tenham mais um pouco de paciência!...
O Menino Jesus está quase a chegar...
Ouvindo Hélène Grimaud,
Berlim, 24 de Novembro de 2013, 7h53
[Acima: imagem que ilustrava areograma natalício, editado e distribuído no TO da Guiné, pelo Movimento Nacional Feminino. s/d. Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
[ Foto à esquerda: Mãe e filha, com António Teixeira (1948-2013), em Bedanda, c. 1972/73. Foto do nosso saudoso Tony Teixeira, que se despediu hoje da "terra da alegria"...]
(iii) Negra e só nas terras d’África...
Tinha tranças pretas
Aquela moça morena,
De olhos tristes.
Viu-o partir,
Banhada em lágrimas.
Bendita a guerra que o fez chegar.
Durante dois anos,
Que feliz foi...
Um príncipe encantado,
Que se enamorou dela
E a fez sonhar.
Tantas noites belas,
Na tabanca em festa,
Mesmo de colmo,
Uma fogueira a arder,
Com batuque,
Em chama.
À luz do luar.
No seu ventre de amor,
Nasceu-lhe um tesouro.
Seria moreno,
De olhos azuis.
Um rosto de cor,
Entre o branco e o negro.
Um botão a abrir,
Em primavera em flor.
Foi o fim da guerra
Que o fez partir,
Jurando promessas
De um dia voltar...
Cruel força do destino,
Tão fatal em os prender...
Como de cego em os separar!...
Que será feito dela
E do fruto do seu amor?..
Não há nada no mundo,
Nem de dia,
Nem de noite,
Que os faça esquecer.
Ele, longe, no fim do mundo,
E ela, negra,
Nas terras d’África...
Berlim, 23 de Novembro de 2013, 15h2m
[Foto à esquerda: grupo de oficiais no bar Tombali, em Catió, c. 1964/66; um deles, assinalado com um círculo a vermelho, é o 'palmeirim' J.L. Mendes Gomes; foto do autor]Tinha tranças pretas
Aquela moça morena,
De olhos tristes.
Viu-o partir,
Banhada em lágrimas.
Bendita a guerra que o fez chegar.
Durante dois anos,
Que feliz foi...
Um príncipe encantado,
Que se enamorou dela
E a fez sonhar.
Tantas noites belas,
Na tabanca em festa,
Mesmo de colmo,
Uma fogueira a arder,
Com batuque,
Em chama.
À luz do luar.
No seu ventre de amor,
Nasceu-lhe um tesouro.
Seria moreno,
De olhos azuis.
Um rosto de cor,
Entre o branco e o negro.
Um botão a abrir,
Em primavera em flor.
Foi o fim da guerra
Que o fez partir,
Jurando promessas
De um dia voltar...
Cruel força do destino,
Tão fatal em os prender...
Como de cego em os separar!...
Que será feito dela
E do fruto do seu amor?..
Não há nada no mundo,
Nem de dia,
Nem de noite,
Que os faça esquecer.
Ele, longe, no fim do mundo,
E ela, negra,
Nas terras d’África...
Berlim, 23 de Novembro de 2013, 15h2m
(iv) Molho de chaves...
Tenho um molho de chaves,
Religiosamente guardado,
Desde os meus verdes anos.
Desde a altura
Em que me senti entregue a mim.
Nos anos de 52...
A primeira foi da mala,
Onde transportei meu enxoval,
Quando entrei no seminário.
Mala em pinho,
De encomenda,
Ao carpinteiro amigo
Do meu Pai.
Em ferro forjado.
Uma verdadeira miniatura,
Que a ferrugem come,
Da chave duma casa.
Depois, a da mala de cartão castanho.
Muito minúscula.
Pareceria agora um brinco...
Onde trazia a roupa e livros,
Quando vinha e ia no fim das férias.
A terceira, deu-ma a tropa.
Era singela...
Para um saco em pano,
Em manga d’alpaca,
Até à hora solene
Em que me vi oficial.
Mais fidalga...
Luzia a prata.
Viajava em primeira,
Nos comboios
E no paquete
Que me levou,
Num camarote,
Até ao Funchal.
E dali, até à Guiné...
Muito velhinha,
Só ela sabe o que lá passei...
Depois, a do quarto,
Como dum armário,
Em Lisboa,
Que eu tirei à dona,
Onde fui hóspede,
Até casar.
Fui saltitão,
De casa em casa,
Até assentar.
Do sul ao norte,
Terão sido sete
As casas onde eu vivi,
E criei os filhos.
Agora, em Berlim,
Onde me trouxe o vento...
Que grande molho!
Com tantas histórias...
Até à derradeira,
Parecerá de oiro...
Que me levará para a cova...
Berlim, 19 de Novembro de 2013, 16h7m
© Joaquim Luís Mendes Gomes. Todos os direitos reservados
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Que me levará para a cova...
Berlim, 19 de Novembro de 2013, 16h7m
© Joaquim Luís Mendes Gomes. Todos os direitos reservados
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Nota do editor: