sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12689: Blogpoesia (367): O passado e o presente no futuro (José Teixeira)

José Teixeira e as crianças da Guiné-Bissau que sonham com o futuro
Foto: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro de 2014, a propósito do seu aniversário:

Carlos
Gostava de agradecer a todos os camaradas que neste dia muito especial me dispensaram o seu afeto e carinho.
Creio que nada melhor que oferecer-lhe um poema que escrevi.


O passado e o presente no futuro

O palácio que construí no tempo,
É um local aprazível para habitar.
Nele repousam os eventos que me deram vida,
E foram razão do meu peregrinar.
Os sonhos realizados e os que ficaram pelo caminho,
Os gostos e os desgostos…
Os gestos de amor e carinho –
Tudo lá está guardado num cantinho.
E repouso confortavelmente neste passado,
Cujo tempo me foi roubado.

E não gosto do presente,
Que me arrebata o tempo, para saborear a vida
Pelo seu andar tão apressado.
Já é tempo de fazer parar o tempo e a sua influência,
Deixar-me de correrias, nesta vida repartida,
E viver cada dia que nasce,
Com se fosse o último da minha existência.

Abeira-me do futuro a largo passo,
Com a sua incongruência.
Pintam-no com sinais de esperança,
Salpicados com profundos laivos de terror,
Tornando o tempo do futuro, assustador.
E quanto mais rasgo o horizonte,
Menos tempo tenho para viver,
Porque futuro aproxima-me do tempo de morrer.

E eu apenas quero viver.
Viver a realidade dos acontecimentos,
E tudo o que existe em meu redor
Comedidamente,
Saborosamente,
E serenamente,
Como quem não tem nada a perder.
Perdido no tempo que não deixa de correr,
E com estrita obediência,
Ao que me ditar a minha consciência.

José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12584: Blogpoesia (366): Por uma simples questão de aritmética, cheguei à conclusão que o inferno não existe... [Ou, se existe, só pode ser cá na terra, Joaquim!... LG]

Guiné 63/74 - P12688: Notas de leitura (560): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 1 de 4 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Setembro de 2013:

Queridos amigos,
Ao longo de anos, foram-se reunindo vários painéis sobre a descolonização da Guiné nos conceituados encontros da Arrábida.
Como se pretende, dentro das nossas modestas possibilidades, fazer um arquivo do que de essencial se tem escrito sobre a Guiné, a sua guerra, a sua história, a sua cultura, e até a sua descolonização, não teria sentido deixar de dar a voz a diferentes protagonistas e aos seus depoimentos por vezes muito relevantes.
Faz-se aqui a síntese do painel de Agosto de 1995, em breve se dará seguimento aos outros que tiveram lugar naquela idílica serra da Arrábida.

Um abraço do
Mário



A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas (1)

Beja Santos

No site que se indica (http://www.ahs-descolonizacao.ics.ul.pt/guine.htm) o confrade tem acesso a sucessivas jornadas de trabalho promovidas no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida dedicadas à descolonização portuguesa. A Guiné foi alvo de várias jornadas de trabalho, aqui se sintetiza a primeira, pelo adiante se resumirão as posteriores. Em 29 de Agosto de 1995, depuseram o general Mateus da Silva (membro do MFA e Encarregado do Governo da Guiné depois do 25 de Abril) coronel Carlos de Matos Gomes, Oficial dos Comandos, que pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na Guiné e é o conhecido escritor Carlos Vale Ferraz, José Manuel Barroso, jornalista, capitão miliciano na Guiné e membro do MFA da Guiné e coronel Florindo Morais que foi o último comandante do Batalhão dos Comandos Africanos na Guiné.

O general Mateus da Silva referiu a atmosfera de uma quase contestação aberta dos militares a que se seguiu uma consciencialização política. Exemplificou com a revista ZOE que circulava desde Agosto de 1972 em todas as unidades do território com uma linha editorial que veladamente criticava a política do regime; e as reuniões realizadas na messe de oficiais de Bissau e no agrupamento de transmissões, em Agosto e Setembro de 1973, onde se falava já abertamente no derrube do regime. Na Guiné se foi construindo um ambiente específico que justificou ali um golpe de Estado em 26 de Abril, assinalou a contestação ao Congresso dos Combatentes, o facto da maior parte dos militares que veio a participar no 25 de Abril ter passado pela Guiné. E observou:
“A Guiné era a única colónia onde o MFA estava organizado antes do 25 de Abril; por duas vezes, antes do 25 de Abril, se encarou localmente a hipótese de iniciar a revolução. A Guiné foi o único território onde o MFA tomou a iniciativa de acompanhar o 25 de Abril com um golpe que destituiu o poder político-militar no território”.

A chegada do tenente-coronel Carlos Fabião, em 7 de Maio, veio reforçar a linha do MFA: reunia-se todos os fins de tarde com os quatro elementos da Comissão Central do MFA. Em 24 de Maio Fabião emitiu uma diretiva: “A partir desta data todos os militares que estão na Guiné pertencem ao MFA”. Repertoriou as múltiplas reuniões havidas na Guiné antes do 25 de Abril. Depois do 16 de Março, houve que estabelecer uma organização mais sólida para o levantamento e requereram-se apoios à Guiné. Aos poucos, constituiu-se na Guiné a direção da conspiração em que tomaram lugar o comandante do Batalhão de Comandos, os comandantes do Batalhão de Paraquedistas, o comandante da Polícia Militar, o comandante das Transmissões, o comandante da Engenharia e o comandante da Artilharia. Na manhã de 26 de Abril, o general Bethencourt Rodrigues foi detido na Amura, seguiu para Cabo Verde e daqui para Lisboa. Mateus da Silva, por decisão do MFA da Guiné, tomou posse como encarregado de Governo. As manifestações populares surgiram logo no dia 27, anulou-se a PIDE/DGS, libertaram-se os presos da Ilha das Galinhas. A grande instabilidade surgiu do Batalhão de Comandos, Spínola dissera repetidamente:
“Nunca o PAIGC tomará conta disto porque em último caso, se nós sairmos, vão ser vocês os líderes da futura Guiné”. A população agitava-se nas ruas, os Comandos entraram numa grande instabilidade.

Em 12 de Maio, Mário Soares reuniu-se com Aristides Pereira em Dakar, Senghor estava de visita à China, foram recebidos pelo primeiro-ministro Abdou Diouf, terminada a reunião em privado, todos se lançaram nos braços uns dos outros, a confraternizar como irmãos desavindos que finalmente se tinham reencontrado.

O coronel Matos Gomes debruçou-se sobre vários contextos: as linhas étnicas que atravessavam a composição do Batalhão de Comandos; o facto de que os mísseis implicaram uma resposta para os contrariar mas tornavam claro que aquela guerra estava de facto perdida, esclarecendo que tinha sido na Guiné que surgiram praticamente todos os oficiais que vão desempenhar um papel decisivo no MFA, reforçando a ideia de que o que se passara na Guiné em 26 de Abril foi um golpe autónomo onde não participaram os spinolistas. Num clima já de debate, foi discutido o documento “A Situação Político-Social na Guiné”, documento de apoio a uma reunião que foi feita em Bissau, em Setembro de 1973.

José Manuel Barroso debruçou-se sobre a perspetiva militar que ele pôde observar desde 1972 em que era ponte assente que os militares não permitiriam que a Guiné não se transformasse numa segunda Índia, mesmo que tivessem de atuar contra a metrópole. Descreveu a rede de contactos montada por Spínola com figuras de oposição, financeiros e importantes jornalistas. Por exemplo, Spínola estabeleceu relações privilegiadas com o diretor da República, Raul Rego. No seu depoimento, Barroso contou uma conversa havida com Spínola logo a seguir ao assassinato de Amílcar Cabral: “Isto é um perfeito disparate. Apesar de tudo, o Amílcar era um tipo com fortes raízes portuguesas, era um interlocutor, agora não sei quem é que vem. Apesar de todas as asneiras que nós possamos ter feito para trás, hoje, o assassinato do Amílcar é um erro”.
Mais adiante observou que a continuada negociação do governo de Marcello Caetano para a obtenção de novas armas (mísseis red eye) era uma tentativa de ganhar tempo para que as forças portuguesas na Guiné dispusessem de alguns recursos militares que aumentassem a sua capacidade de defesa. Baseava esta observação em conversas havidas com altos dirigentes políticos do Estado Novo que lhe confirmaram que era preciso encontrar uma forma de negociar numa posição de muito mais força, aquelas novas armas não dariam superioridade militar às forças portuguesas, eram uma antecipação a meios aéreos que o PAIGC viesse a ter, eram meios de defesa, era mísseis antiaéreos.

Na mesa redonda abordaram-se alguns assuntos delicados como os militares do Batalhão de Comandos terem, na sua esmagadora maioria, recusado a proposta de virem para Portugal e serem integrados nas Forças Armadas Portuguesas, preferiram receber vencimentos até Dezembro de 1974; falou-se de pouco significado que teve a agitação dos movimentos esquerdistas polarizado pelo Movimento para a Paz que aspiravam para um regresso imediato irresponsável a Portugal; referiu-se como o potencial humano militar estava praticamente esgotado no 25 de Abril, uma percentagem esmagadora das subunidades importantes na quadrícula, que eram as companhias, eram em cerca de 90 % comandadas por milicianos, de um modo geral impreparados; exprimiu-se também a situação altamente sensível de que se estava a transferir poder, já não era um reconhecimento de Portugal da independência da Guiné-Bissau, o que eles asseguraram fazer e não cumpriram e os fuzilamentos e outras malfeitorias praticadas só a Guiné-Bissau pode responder perante a comunidade internacional, as autoridades na Guiné cumpriram estritamente o que foi assinado nos acordos de Argel.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12687: Filhos do vento (27): Manuel Barros Castro, natural de Fafe, fur mil enf, CCAÇ 414 (Catió, Bissau e Cabo Verde, 1963/65) teve uma filha, de mãe guineense, e que ele de imediato perfilhou, Maria Biai Barros Castro (1964-2009)... Uma história exemplar (Jaime Bonifácio Marques da Silva)


Foto 1 > Grupo de Sargentos. No barco, "Ana Mafalda",  a caminho da Guiné. O Castro é , o 5.º na fila da frente, de óculos, a contar da esquerda para a direita.


Foto 2 > Grupo de sargentos regressados de uma operação. O Castro é o 4º, de óculos na fila de pé, a contar da esquerda para a direita.

Foto 3 > "Com dois nativos de etnia Fula. O terceiro é o célebre João Baker, mais tarde integrado no exército. Quando morreu de atentado era capitão do PAIGC". O  Castro  é o segundo, de óculos, a contar da esquerda para a direita.

[ É Bacar e não Baker... Nome lendário... Sim, era natural de Catió... E nunca foi do PAIGC, morreu em combate... Era capitão comando graduado, comandante da 1ª Companhia de Comandos Africanos, uma subunidade que eu vi nascer, e que era muito temida pelo PAIGC. Em 1978, ainda no tempo de Luís Cabral, a maior parte dos graduados desta companhia foram fuzilados... Conheci pessoalmente o João Bacar Jaló, aquando da formação da companhia, em Fá Mandinga, em 1970...] (LG)

Fotos (e legendas): © Manuel  Barros Castro (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG; legendagem complementar: JBMS]


1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, Jaime Bonifácio Marques da Silva [, foto atual à esquerda], com data de 26 de janeiro último

Caro Luís

Como é do teu conhecimento o Núcleo de Artes e Letras de Fafe, com o apoio da Câmara Municipal de Fafe, realizou de 24 de outubro a 21 de novembro de 2013 no auditório da biblioteca Municipal,  às 5.ªs feiras das 18.30 às 20 horas o Curso Livre de História Local, cujo tema lecionado neste II Curso foi "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961 – 1974)",

Pediram-me que orientasse a sessão de 31 de outubro onde abordei o tema: “A participação dos militares de Fafe no Ultramar: contributo para a explicação da história da guerra: uma visão pessoal".

Depois de enquadrar o tema, referi que a minha intervenção se limitaria aos acontecimentos ocorridos durante a guerra, após a decisão política de Salazar quando ordenou: “Para Angola e em força” e, relativa, só, aos elementos que tenho disponíveis sobre à participação dos militares de Fafe em África.

Comecei por analisar a lista e a identidade da grande maioria dos mortos em cada teatro de operações, levantando, depois, algumas questões para debate, nomeadamente, quantos:  i) prestaram serviço em cada um dos Ramos das Forças Armadas (Marinha, Força Aérea, Exército); (ii) pertenceram a especialidades que os livraram das operações do mato; (iii) foram colocados nas grandes cidades; (iv) efetivamente participaram em operações com emboscadas, mortos, feridos, minas, acidentes, etc.

Entretanto, deixei para o final algumas questões, de acordo com a minha experiência e vivência em Angola durante a Comissão e relacionadas com a nossa aproximação e relacionamento com as populações nativas.  Entre outras questões, levantei duas que te quero falar com autorização dos dois ex-combatentes da Guiné, meus amigos:

(i) Uma das questões foi: “Quem, nas horas vagas, decidiu oferecer-se como professor” ou ajudar de outra forma as populações?

Um deles, participante no curso, foi o Furriel Alves que esteve na Guiné na CART 1742, (hoje, professor reformado) e cujos elementos, enviar-te-ei logo que ele me dê duas fotos que lhe pedi.

Eu, no leste de angola (Léua) dei explicações de Geografia a um africano que queria fazer o 5.º ano e ensinava-lhe o que vinha no manual. Por exemplo, onde nascia o Rio Minho, etc. !
(ii) Outra questão que levantei foi: “Quantos de nós deixaram por lá os, hoje, designados 'filhos do vento ' e não assumiu?"
- Eu assumi -  interveio o Furriel Castro.

Luís, esta história merece ser conhecida e divulgada.

Falei com o ex-combatente Furriel Manuel Barros Castro, natural de Fafe e que me deu autorização para falar contigo no sentido de poderes divulgar a história no teu Blogue.

O texto já foi lido e corrigido por ele.


2. A história de Manuel Barros Castro (Fafe), recolhida por Jaime Silva

Esteve na Guiné e pertenceu á Companhia Operacional Independente (atiradores) a CCAÇ 414, sediada em Catió, onde o pessoal se instalou em tendas de lona.  Era furriel e tinha a especialidade de enfermeiro.

Desembarcou em Bissau no dia 21.3.63 e regressou a Portugal a 4.5.1965

Formou companhia em Chaves, a qual esteve mobilizada para Moçambique, sendo à última hora desviada para a Guiné.

Nas conversas que, entretanto, ele fez o favor de ter comigo (eu conhecia a filha, mas não conhecia o contexto que tinha gerado a situação), ao falarmos do nosso relacionamento com as mulheres africanas, disse, eu, a determinada altura: “até porque havia algumas facilidades de relacionamento pela facto de algumas se oferecerem para ser as nossas lavadeiras”.

“Não. Ela não era a minha lavadeira. Houve empatia entre os dois. Eu, como enfermeiro, dava apoio à população, distribuía medicamentos e foi nesta circunstância que a conheci”, disse, emocionado. “Emociono-me, sempre que falo neste período da minha vida”.

A gravidez foi problemática e apesar de a jovem ser acompanhada por dois médicos militares, teve que ir para Bissau por falta de condições.

Em Bissau, para onde a companhia (CCAÇ 414) se tinha deslocado temporariamente, soube, por uma tia da jovem, que esta estava hospitalizada e numa das vezes qua a visitou perguntou-lhe se ela concordava em entregar-lhe a filha, ao que ela respondeu que “só queria que ela seja branca”. Era uma jovem sem instrução que, embora não fosse católica,  concordou em batizar a filha.

Após 18 meses no mato a companhia, em vez de ficar em Bissau como estava previsto inicialmente, foi parar a Cabo Verde, alterando os planos do Furriel Castro. Disse que já tinha tudo preparado para instalar a filha, conhecida já como “a menina da companhia” e protegida da esposa do comandante da companhia.

A menina nasceu a 16 de maio de 1964 e foi-lhe dado o nome de Lurdes Maria Biai Barros Castro. A Mimi, para a família e amigos.

A companhia esteve nove meses em Cabo Verde e durante esse tempo a Mimi esteve, primeiro, internada num orfanato em Bissau, por interferência do Bispo de Bissau, depois ao cuidado da madrinha, uma senhora nativa que era funcionária nos CTT de Bissau, para quem o Castro mandava mensalmente uma pensão.

Alguns anos depois (1969) de ter terminado a Comissão, a madrinha da Mimi veio a Portugal trazer a menina, cuja mãe, entretanto, falecera.

A Mimi fez o seu percurso escolar em Fafe, tal como os irmãos (um irmão e uma irmã), concluiu a Curso de Professores do 1.º ciclo e, infelizmente, faleceu com 45 anos em setembro de 2009, de doença incurável, quando trabalhava numa escola do concelho da Póvoa do Varzim, Maceira da Lixa.

Disse-me, ainda, que sempre se revoltou contra a falta de responsabilidade daqueles camaradas de armas que não assumiram os filhos que deixaram por lá, e foram muitos, tanto na Guiné como em Cabo Verde,

Contou-me um episódio, relativamente recente, em que uma mulher guineense a residir nos Estados Unidos, filha duma situação ocorrida na sua companhia e que tinha descoberto a morada do pai, fez questão de vir a Portugal encontrar-se com o pai no aeroporto, só para lhe dizer: “eu sou sua filha, aquela mulher ali é a minha mãe. Eu não quero nada de si. Vim só para o conhecer. Passe muito bem!"

Caro Luís:
Uma história de vida edificante, sem dúvida. É exemplar e merece ser conhecida.
Abraço, Jaime

3. Comentário de L.G.

A CCAÇ 414, independente (ou seja, não integradas em nenhum batalhão), foi mobizada pelo BCAÇ 10, partiu para o TO da Guiné em 21/5/1963, esteve em Catió e Bissau e acabou por partir para Cabo Verde em 29/4/1964 (?). Terá regressado à metrópole em maio de 1965.  O comandante era o  cap inf Manuel Dias Freixo [, já falecido em 7/10/1988; foi comandante do BCAÇ 5017 / 74 - Angola].

Jaime, dizes bem: é "uma história exemplar", um exemplo de grande nobreza. Transmite ao nosso camarada Castro as nossas melhores saudações bemcomo o nosso pesar pela morte da sua querida filhja e reitera-lhe o meu convite para ele integrar a nossa Tabanca.

Temos poucos camaradas do tempo do Castro: temos por exemplo o Alcídio Marinho, ex-fur mil da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), mas ninguém da CCAÇ 414... Já sobre Catió temos 185 referências... E 15 sobre o João Bacar Jaló.

Jaime, pede ao Castro uma foto individualizada, do tempo da CCAÇ 414, e outra atual, para o podermos apresentar, como deve ser, à Tabanca Grande.
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Guiné 63/74 - P12686: Bibliografia (39): Um pouco mais do meu livro "Bissaulónia" (Mario Serra de Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data 31 de Janeiro de 2014:

Olá Carlos:

À tua consideração, junto mais um excerto do início de "Bissaulónia"(*).
Confessando uma parte fraca minha, é o facto que eu, enquanto estive na Guiné, não tinha tempo para fotografias e, se em algo sou pobre, é nisso mesmo. Seria pois para mim poder contar com algumas fotos devidamente autorizadas, mesmo que fosse facilitadas pelos nossos camaradas, para não “violar” direitos de ninguém.

A intenção é adicionar algumas desta fotos para alegrar um pouco o livro, já que, alguns dos temas em discussão, só me dão raiva muda.

Estou certo que, entre os nossos camaradas há-de haver fotos interessantes. Eu só tenho a do postal ilustrado do Pelicano.
Abraço a todos.
Mário Serra de Oliveira


"BISSAULÓNIA"
Próximo livro de Mário Tito

NOTA DO AUTOR

Seguidamente, através do progresso da leitura destas linhas, os leitores irão notar que, certos episódios aqui relatados, são descritos numa linguagem sem rodeios e sem preconceito algum, considerando que, ao pretender “ser eu mesmo”, não hesitarei em chamar aos protagonistas de certos acontecimentos e episódios onde estive envolvido, pelo nome que considero apropriado, reflectivo do meu estado de espírito na ocasião, sem que, com isso, a minha referência pessoal a estes indivíduos, seja considerada extensiva a mais alguém, além dos “atingidos”. De modo algum, é minha intenção ofender alguém, generalizando qualquer “palavra” mais descritiva da minha opinião para com os indivíduos em causa.
Quem mal não me fez, mal não deve esperar de mim.

Aqui, tudo o que eu disser, é o fruto da emoção da ocasião, perante a incerteza reinante, pela raiva contida dentro de mim, devido à autocrática atitude de alguns dos elementos envolvidos, numa demonstração de ingratidão total para com quem “confiou cegamente” que, valeria a pena “arriscar e ficar por ali” no meio do povo da Guiné, o qual sempre respeitei e respeito profundamente, na esperança que poderia servir de um exemplo de boa convivência, onde os meus serviços fossem úteis e apreciados, esperando como reconhecimento, o respeito e nada mais.

Infelizmente, a esperança despertada em mim, quando fiz a decisão que fiz, em ficar por ali, foi atraiçoada, deitada por “água-abaixo”, não por “obra e graça” do Povo da Guiné, mas sim por “obra, abuso e prepotência total” de meia dúzia de “energúmenos mal paridos”.

Como já disse, não procuro “ofender” ninguém, nem tão-pouco, agradar a ninguém. Não tenho “feitio” para fingir, a não ser em casos de extrema gravidade onde, por exemplo, “ao dizer-se a verdade” se possa causar danos ou emoções pessoais irreparáveis. Aqui, nestas linhas, não será esse o caso e, como tal, limitando-me a ser “eu mesmo”, como já disse, não hesitarei um “iota”, em tentar “pegar o touro pelos cornos”.

O touro, aqui, poderá ser considerado a situação de alguns “seres humanos” que, pela sua origem genética, possam ser - ou parecer ser - alvo de possíveis referências menos “elogiosas” da minha parte, devido às circunstâncias da vida, que os colocou na “linha de fogo” dessas possíveis referências, quantas e quantas vezes sem culpa própria de si mesmo. De facto, a existir alguma culpa em relação a alguns “indivíduos”, nada terá a ver com a sua “genética ou sua origem” mas, sim e somente, pela sua atitude através da sua intervenção em episódios vários que, pela sua complexidade, não adianta mencionar aqui, nesta secção.

Por exemplo, enquanto há pessoas que se “encolhem” em fazer referências ao aspecto “racial ou étnico”, de uma determinada forma, para não “levantarem pó”, devido à sensitividade relacionada com este aspecto “sociológico” – normal, diria eu – como, por exemplo, terem acanhamento em “referir directamente” que… “preto é preto”, “branco é branco” e, “mestiço é mestiço”, sendo que, na realidade, não deixam de ser todos seres humanos, em igualdade de circunstâncias.

Quem faz o carácter do ser humano não é, por certo, a “cor da pele do preto, do branco ou do mestiço” mas, sim, a forma de ser de cada quem, bem como o relacionamento de cada um dos “portadores da cor da pele em questão”, em relação aos outros seres humanos, seja nas lides do dia-a-dia, ou seja pelas suas decisões quando em posição de as tomar, em relação aos “portadores” de uma tese de pele diferente da sua.

Por isso, qualquer referência, aparentemente “negativa”, que acaso eu venha a fazer aqui, nalgum lado nestas linhas, nada tem a ver com o facto da “pessoa-alvo” dessa referência, seja “preta, branca ou mestiça”. As minhas referências, tipo “queixas ou desabafos”, são dirigidas ao ser humano e não “à pigmentação da pele” de quem quer que seja.

Que fique bem claro, na mente de todos os leitores. Depois, há ainda aquelas circunstâncias que levam determinadas pessoas a pensarem que podem “pensar pelos outros” quando é possível que, aquilo que essas pessoas possam pensar, possa não ser “exactamente” aquilo que, as pessoas sobre quem “estas pessoas pensam como pensam” poderiam vir a pensar livremente, sem a interferência de estranhos.

Confuso? Talvez… mas a culpa não é minha. Pensassem todas as pessoas “razoavelmente” e sem preconceitos, talvez eu não tivesse que fazer este esclarecimento tão pormenorizado. Com isto, a referência feita mais adiante a pessoas “mestiças” originárias de Cabo Verde, não significa qualquer animosidade para com os “cabo-verdianos” em si mesmo mas, sim e somente, serve para ilustrar um problema existente, amplamente do conhecimento publico, no que concerne ao relacionamento entre “guineenses e cabo-verdianos” na ex-Guiné Portuguesa, agora Guiné-Bissau. Mais adiante os leitores irão ter a oportunidade de se dar conta do que aqui tento explicar.

Mas, levantando um pouco “o véu” sobre o tema, referir-me-ei àquela espécie de “romanticismo” existente ainda nos dias de hoje - de uma forma exagerada quanto a mim - à volta de toda a figura de Amílcar Cabral, proclamado fundador (6) do PAIGC e, principal dinamizador da luta armada para libertação da Guiné e Cabo Verde. Mas não o único! De facto, todos os romances “são bonitos”, se bem que, na minha opinião, todos pecam pelo exagero na “mistificação” de alguns dos seus personagens principais. Porquê? Pois, em parte porque, nenhum destes personagens foram ou são perfeitos seres humanos e, como tal, poderão estar recheados de imperfeições e julgamentos menos afortunados, completamente fora da realidade (7).

Finalmente, nesta nota, permitam-me referir também que, pela minha educação (4ª classe, à idade de 11 anos e, mais tarde, já com cerca de 50 anos, a equivalência ao 12º grau, sem cursos superiores… além do “mestrado” da mundialmente afamada universidade da “pdv” – creio que, se juntarmos a isso, a longa ausência da “Mãe Pátria”, os leitores não deveriam esperar de mim, que vos apresentasse aqui um texto sem erros verbais ou literários.

Mais! Atrevo-me a dizer que, até seria um erro, se erros aqui não houvesse porque, conforme diz um dos meus “slogans”... “a minha imperfeição, é o que faz de mim, um perfeito cidadão”. Deste modo, sendo cronologicamente o 5º filho, de um conjunto de sete, de uma das famílias mais pobres da minha aldeia – o Alcaide, situado na encosta Norte da serra da Gardunha, “capital da minha constante saudade e sombra que me acompanha 24 horas por dia” - qualquer expectativa, por parte dos leitores, de virem aqui encontrar uma linguagem “polida”, com frases compostas para “agradar à plateia” e, portanto, uma linguagem “falsa e disfarçada” das mazelas literárias do autor, sem “defeitos linguísticos”, estão redondamente enganados.
Aqui, tal como numa feira de burros… “o animal que vêem, é o animal que compram” porque, para mais não deram, e só a tanto chegaram, os meus parcos conhecimentos. Tudo o que aqui for escrito, será só e somente da minha responsabilidade, sem interferência alguma de outrem, (8) “tanto para o bem como para o mal”.

De um modo geral, o que aqui for escrito, reflecte o que a linha de pensamento do “meu ser” exige que escreva, saindo “directamente” das profundezas das minhas entranhas, sentindo às vezes raiva de mim próprio, perante tanta “falta de saber” mas que, no fundo, me deixa feliz da vida, pela teimosia em insistir e “atrever-me”, a mais uma aventura literária, para a qual sinto que nasci mas que, as “fortunas da vida” não me prepararam convenientemente.
É como tentar “remar” contra a maré, sem marinheiro nunca ter sido.

Permitam-me recordar que, o meu 1º livro solo da minha autoria, já foi publicado pela editora do Chiado, cujo título é…. “Palavras de um defunto, antes de o ser”.
É um livro misto, baseado em episódios de ficção e factos factuais, descritos de uma forma humorística. E, à data destas linhas, participei ainda, de uma forma conjunta – como co-autor – em dois outros livros de poesia, publicados pelas editoras “edições e-copy” e, mais uma vez, editora do Chiado.

É tudo, nesta nota.

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INTRODUÇÃO

Conforme o título deste livro indica, a cidade de Bissau é a protagonista sobre a qual, o titulo deste livro foi inspirado, tendo como referencia os períodos de “antes e depois da independência”, em relação às mudanças “visualizadas” pela minha pessoa, no que concerne à composição da “textura humana” da cidade, desde o ponto da minha chegada a 17 de Maio de 1967, e o período pós independência – 10 de Setembro de 1974 sem que, com isso, me venha a envolver demasiado a descrever todo o passado da mesma, nem tão-pouco descrever a origem dos vários povos que ocuparam a zona da ilha de Bissau, anteriormente à chegada dos portugueses, incluindo episódios de resistência desde o início da ocupação do território, que é hoje conhecido como Guiné-Bissau.

Este aspecto, se bem que, aqui e ali, poderá ser alvo de alguma referência, não faz parte da minha intenção inicial. E, se acaso alguma referência vier a fazer, será mais para “realçar” qualquer outro ponto que queira chamar a atenção, tal como o facto que, na verdade, vários foram os povos que “povoaram a Guiné-Bissau” e que, periodicamente travaram lutas entre si, incluindo a união de forças contra o último dos ocupantes - os portugueses. De facto, quase que se poderia dizer que, desde a chegada dos portugueses, sempre existiu alguma determinada forma de “resistência”.

O título, é ainda inspirado na “base” das drásticas mudanças feitas pelas autoridades locais pós independência, com decretos e leis desconhecidas de todos - excepto os que as decretaram - até serem implementadas de um modo “punitivo”, sem qualquer condescendência pelo desconhecimento de tais leis, com um impacto tremendo no dia-a-dia da vida quotidiana e financeira, logo após a independência, em detrimento do modo de vida, bem como nas perspectivas de se poder exercer uma actividade comercial livre e promissora, que incutisse esperança no futuro.

Continuando, a ideia deste livro, tem por base a descrição de Bissau, perante a minha própria percepção ou óptica de modesto observador, adquirida logo aquando da minha chegada à Guiné, em comparação com a radical transformação notada, após a independência. Mas, francamente, reconheço que até poderei cometer algum erro de análise na minha “observância”, quando comparada com o título do livro que escolhi, pelo que, se assim for, mais uma vez junto a “referência feita antes” na nota de autor, onde tento alertar para qualquer imperfeição literária, considerando a minha pobre preparação nestes “meandros” de escrever para o público.
Espero que compreendam o quero dizer e onde quero chegar.

Finalmente, creio que como introdução descritiva de alguns pontos que considerei necessário fazer, já foi dito o suficiente e, como tal, termino esta introdução, convicto que os leitores irão gostar imenso de ler este livro, fazendo votos sinceros de uma agradável leitura, começando pelo 1º capítulo, intitulado “O começo do fim”.

Que tenham uma boa leitura, são os meus votos.
Mário Tito
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Nota do editor

(*) - Vd. poste de 30 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12654: No meu próximo livro intitulado "Bissaulónia", a minha homenagem a alguns dirigentes do PAIGC, governantes da Guiné-Bissau no pós-independência (Mário Serra de Oliveira)

Guiné 63/74 - P12685: Os nossos seres, saberes e lazeres (66): O fim dos lobos em Brunhoso (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 4 de Fevereiro de 2014:


FIM DOS LOBOS EM BRUNHOSO

Na Guiné, para pena minha, não encontrei a fauna selvagem que imaginava, fruto da minha leitura de livros e revistas sobre África. Os únicos animais que vi em abundância na floresta foram os macacos-cães que costumavam andar em grandes bandos e faziam uma chinfrineira dos diabos.
Recordo-me que nos primeiros dias, só ao ouvir o barulho, sem os avistar, me senti confuso a pensar na quantidade de cães que lá haveria, pois nunca tinha ouvido ladrar tanto.
Com o tempo descobri ainda outras raças de macacos mais pequenos.

Além dos macacos, só vi um dia, aliás viram quase todos os militares que estavam no quartel de Buba: oito javalis a cerca de 500 metros, na outra margem do rio Grande Buba, alguns tropas pegaram nas G3 e fizeram umas rajadas para o grupo e não mataram nenhum. Sem nunca as ter visto, sei que havia muitas gazelas, porque em Buba um caçador nativo vendia dessa carne em abundância para o rancho da companhia. Ainda hoje estou enfastiado de tanta carne de gazela.

O homem nasce em determinada região e é moldado nesse barro e nesse ambiente onde habita e cresce. O mapa geográfico de cada um de nós desdobra-se a partir da nossa terra, seja grande ou pequena. É lá que vamos buscar ânimo para todas as nossas viagens e descobertas.
O laboratório animal, humano, social, etc. donde parte todo o nosso conhecimento emotivo e intelectual, todo o nosso espanto perante os mistérios da vida, todas as nossas interrogações mais banais ou metafísicas é essa primeira terra que para cada um de nos é o centro do universo.

Brunhoso, uma pequena aldeia nos confins de Trás-Os-Montes tem para mim essa importância desmedida que tem a terra de cada um de vós. Por analogia com a sua flora, já falei neste blogue da flora da Guiné. Hoje camaradas peço permissão para falar da fauna selvagem da minha terra, sobretudo do lobo, esse rei morto, já que a restante são alguns exemplares de caça cada vez menos significativos.

Brunhoso - Foto: Brunhoso Mogadouto, com a devida vénia

"Quando os Lobos Uivam" é o nome dum livro de que eu gosto particularmente, logo à partida pela beleza e ressonância do título. Um título que por vezes me surge no pensamento a propósito de tudo ou de nada, como por vezes surgem palavras soltas ou o refrão de alguma canção em voga.
O livro é já um clássico da literatura portuguesa, da autoria de Aquilino Ribeiro, esse mago da Beira Alta que deu voz àquelas serranias e retratou a miséria e a dignidade das suas gentes.

Aquilino Ribeiro [foto à direita], um irmão do transmontano Miguel Torga que criou uma epopeia com o rio Douro e os montes, como pano de fundo, para falar do drama daquela gente esforçada em procurar sobreviver e criar trigo e vinho no meio de montes de tojo, estevas, granito, xisto e outras pedras.

Quando era muito jovem, ainda menino, recordo-me dos medos próprios da idade. Sobretudo a noite, a mãe de todos os medos, ao cobrir tudo de negro e de sombras. Electricidade não havia, portanto depois do pôr-do-sol a aldeia e tudo o que se conseguia avistar em redor era um jogo de sombras mais ou menos carregado, dependente do luar ou da luz das estrelas. Em noites de frio, chuva e vento, ouvi muitas vezes o uivar dos lobos nos montes e campos circunvizinhos da aldeia, e o ladrar dos cães em resposta, tudo isso misturado ao assobiar do vento e ao barulho da chuva sobre os telhados. Sinfonia da terra, que acabou porque hoje faltam os lobos com o seu canto arrastado que parecia um lamento.

Todos os povos antigos, africanos, asiáticos ou americanos, tinham e ainda têm em muitos casos, animais selvagens com que se identificavam, que festejavam e por quem tinham muito respeito e alguma adoração, por muitas e diferentes aptidões e características, agilidade, força, manha, velocidade, inteligência instintiva, solidariedade de grupo.
Os exemplos são muitos, o leão, a cobra, o tigre, o crocodilo, o elefante, a águia, etc.
Os povos europeus também terão tido os seus animais selvagens de eleição e provavelmente alguns estarão até retratados nas pinturas rupestres que abundam pelas suas grutas e rochas. Sou tentado a identificar o lobo, por algum conhecimento e proximidade que ainda tive da sua vida selvagem na aldeia, como o animal tutelar dos povos antigos que habitaram o território da região onde nasci e talvez de toda a Lusitânia montanhosa.

Lobo - Foto: Animais e Atitudes, com a devida vénia

O padre Fontes [foto à esquerda], quando fala nos deuses do Larouco não sei se inclui o lobo nesse rol. Os últimos lobos, verdadeiramente selvagens de que guardo memória, terão existido nos campos e florestas da minha aldeia há aproximadamente 50 anos. Um deles foi barbaramente morto num vale da aldeia, com paus e pedras cercado por 50 ou mais naturais da terra que andavam a apanhar a azeitona. Recordo que a morte desse lobo deu muito brado na terra e foi festejado com o seu corpo a ser passeado por todas as ruas,  como se tratasse dum troféu de guerra. Provavelmente seria o chefe da matilha, que vivia na área territorial da aldeia, porque no espaço de pouco mais de um ano mataram mais três ou quatro provavelmente desorientados com a morte do chefe, e os lobos acabaram na aldeia.

Nunca compreendi muito bem a ferocidade desses homens, meus conterrâneos, em relação aos lobos, já que eles, apesar de muitas crenças em contrário, sempre respeitaram as vidas humanas. Desde tenra idade os seus filhos saíam para ajudar nas tarefas do campo, sós ou acompanhados, sem qualquer perigo de serem atacados. Os lobos matavam cabras e ovelhas para se alimentarem. Eram tempos de pouca fartura e nenhum tipo de alimentação, sobretudo sendo carne, se podia perder.
Talvez já há mais de 100 anos os seus antepassados tinham acabado com as gazelas, cabras do mato e javalis, alimentação natural dos lobos. Mas entre homens e animais não há lugar à justiça, já entre homens também não há muita. Sei que eram tempos difíceis para as gentes da terra. Terrenos agrícolas pobres e divididos de acordo com as heranças e não com as necessidades, não conseguiam garantir a alimentação e subsistência de uma população em permanente explosão demográfica, porque os casais podiam ter dificuldade em garantir a alimentação da família, mas para procriar ainda tinham forças e o resultado via-se no elevado número de filhos.

A solução tão antiga, como actual, foi sempre a emigração. Segundo consta até já terá sido instituída actualmente como método de governação. Ora acontece que nos princípios da década de 60, do século passado, o Brasil, destino habitual de muitas famílias nas décadas anteriores, já não oferecia boas perspectivas de trabalho. Já não havia "cartas de chamada" dos familiares do Brasil.
Dos últimos a tentar esse destino terá sido o tio António Neto. Era um homem, não muito pobre, dado que possuía alguns bens, que trabalhava com a mulher e as filhas quase sem necessidade de trabalhar para outros. Para isso terá contribuído também o facto de já estar no Brasil a filha mais velha, que para lá tinha ido ainda menina, com familiares.

Um dia o tio Neto vendeu todos os bens, em praça pública, no adro da igreja e comprou as passagens para essa longa viagem. No dia aprazado apanhou o comboio, com a mulher e duas filhas, rumo a Lisboa, onde embarcariam num navio rumo ao Brasil. Porém chegados ao Porto, ele não quis prosseguir viagem. Saudades da aldeia, da horta de Lamas, dos olivais das Picotas e do Cachão, da burra, da junta de mulas? Não se sabe ao certo. Certo e sabido, facto histórico da aldeia, é que ele se dirigiu à bilheteira da estação de S. Bento e disse:
- Quero quatro bilhetes para a Estação.

De dentro o funcionário perguntou:
- Estação, qual estação?
- A Estação, caraistacosa, não conhece a Estação, onde se leva o trigo o celeiro?

Não se sabe bem como, não consta nos anais da aldeia, mas o funcionário acabou por lhe vender os quatro bilhetes para a estação de Mogadouro. Chegado a Brunhoso, os conterrâneos acabaram todos por lhe devolver os bens que tinham comprado pelo valor que tinham pago.
A saga da emigração para o Brasil acabou com o tio António Neto, também conhecido pelo "Caraistacosa".

A meia dúzia de anos que mediou entre o fim da emigração para o Brasil e a "fuga em massa", por montes e vales através da Península Ibérica para França, terá sido um período de mais fome e raiva que, entre outras causas, também terá contribuído para o extermínio dos lobos na terra.
Dois ou três anos antes seguia eu por um caminho rústico em cima dum carro de bois e vi, a cerca de 50 metros, três lobos a atravessar o caminho. Olharam para mim e para os bois e continuaram calmamente a sua caminhada. Para mim foi um momento de espanto e surpresa. Já tinha ouvido muitas vezes o seu uivar mas nunca tinha visto nenhum. Pela vida fora conservei sempre essa imagem, como se duma aparição se tratasse.

Eu, nada católico e pouco religioso, tenho santos da minha devoção, pela sua bondade, humildade, inteligência e outros atributos. São eles: S. João, S. Francisco e Santo António. Tenho pensado se o que eu vi seriam três lobos ou estes três santos, que na sua calma iam a cantar os salmos do rei David.
Tenho um grande respeito e admiração pelo lobo. Já existem poucos lobos em Portugal, em Trás-Os-Montes julgo que só na serra de Montesinho. Em cada serra de Portugal devia haver uma estátua em sua memória para recordar este caçador altivo, insubmisso e inteligente.

Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12661: Os nossos seres, saberes e lazeres (65): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (9) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12684: Memória dos lugares (263): O Xime, ao tempo da CART 2520 (1969/71), comandada pelo cap mil António dos Santos Maltez, natural de Aveiro (Renato Monteiro)


Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 8 >  "No regresso de uma  operação no subsetor do Xime" (RM)... Uma máscaraa de sofrimento... Esta foto também vem reproduzida, na pág. 215, do  livro de que é coautor  (Renato Monteiro e Luís Farinha: Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: Círculo de Leitores / Publicações D. Quixote. 1990. 307 pp). (LG).


Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 3 > "O meu pelotão (ou parte dele) acabado de chegar de Bambadinca ou de Bafatá onde íamos frequentemente abastecer-nos e trazer o correio".

Do Xime até Bambadinca ia-se aramado até aos dentes... A estrada alcatroada ainda só estava no papel...  Será que neste grupo de combate está o sold atirador Joaquim Sotero Bravo, tal como foi identificado pela sua filha ? (*).




Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 6 > Destacamento da ponte sobre o Rio Udunduma, afkuente do Geba... O Renato Monteiro, à esquerda, com outro camarada não identificado, procurando "matar o tempo" numa improvisada jangada feita de bidões de combustível da SACOR... Como se sabe, os bidões tinham cores diferentes conforme o combustível: Vermelho (gasolina), verde claro (petróleo branco), azul (gasóleo), amarelo (óleos)...


Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 7 > "Bar de sargentos do Xime" (RM).


Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 1 > "Bar de Sargentos do Xime. Em cima do balcão um barril com uma função meramente decorativa. Mas a telefonia estava operacional bem como um pequeno gira-discos. O Je t’aime, moi nos plus [, Serge Gainsbourg & Jane Birkin, 1968, ] fazia furor e a cantinela Mãe, não chores que o teu filho há-de voltar estava no topo. Ambas puxavam por mais um copo. O camarada, de caça ao piolho, de quem guardo uma boa recordação, era um tipo duro e fixe" (RM).


Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 21 > "Duvido que esta foto tenha sido tirada por mim… Na minha opinião, e apesar de tão maltratada, é a melhor do conjunto. Do lado esquerdo do poste, o Capitão por quem eu nutria uma grande simpatia e cujo paradeiro ignoro. Não faço ideia nenhuma onde teve lugar a cena ilustrada" (RM)...

Trata-se do desembarque de mercadorias para reabastecimento da companhia, e respetiva conferência, sob o olhar do cap mil Maltez... As mercadorias devem ter vindo de barco"(LG).



Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 21 > "Salvo os graduados, a maior parte [da CART 2520] era constituída por malta recrutada no Alentejo, tendo como comandante um homem com quem apenas troquei duas ou três brevíssimas conversas, uma das quais em torno de livros que líamos e autores que apreciávamos....

"Igualmente miliciano, de formação católica, de quando em quando, procedia a uma breve cerimónia no centro da parada, junto a um padrão ou coisa do género, onde lia umas passagens da Bíblia a muito poucos (meia dúzia ?) de soldados que, voluntariamente, o acompanhavam...

"Ao que julgo, era professor de Química e, apesar de não recordar o seu nome (imagina, como trabalhei para a evaporação destas memórias) conservo dele amelhor das lembranças... Aceitava pacificamente a minha tendência para o desalinho (se é que dava por isso) e eu respeitava-o" (RM).

Renato: já o tinha identificado há tempos, já é que é um camarada do meu tempo, com quem a CCAÇ 12 fez operações em conjunto do subsetor do Xime:  Cap  Mil Art António dos Santos Maltez.  Sobre ele escreveu o Jorge Picado, no psote P3285, de 9/10/2008: 

"Trata-se dum contemporâneo meu, do Liceu José Estêvão, de Aveiro, licenciado em Físico-Químicas pela Universidade de Coimbra, do mesmo curso da minha falecida mulher e que foi igualmente professor naquele Liceu juntamente com ela. Sei que tinha feito a comissão na Guiné naquela zona, pois contou-me ele próprio. Como era de curso de COM anterior foi chamado para CPC antes de eu o ter sido. Já não tenho notícias dele há longo tempo, mas creio que ainda está por cá por Aveiro onde vivia".

Era camarada do leste de quem também eu guardava  uma boa memória... Também tinha a ideia de que era, na vida civil, professor do ensino secundário (liceu, como se dizia, na época). Vou desafiar o Jorge Picado para o trazer até à Tabanca Grande!... (LG)



Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 13 > Cais do Xime, em frente à bolanha do Enxalé > "Poucos de nós se atreviam, solitariamente, a pisá-lo por estar demasiado exposto… Mas havia um puto que apanhava aí camarão, enquanto sonhava com o momento de vir para Lisboa estudar" (RM)...

O camarão (gigante) desta parte do Geba era muito apreciado e pago a 50 pesos o quilo em Bambadinca, na tasca do Zé Maria...  Esse puto, de que fala o Renato Monteiro, só poderia ser  o nosso amigo, hoje engenheiro, e membro da nossa Tabanca Grande, José Carlos Mussá Biai...

Aqui era a entrada (obrigatória) na "zona leste"... Milhares e milhares de homens e de viaturas passaram por aqui, ao longo de toda a guerra... Havia tensão naquela ponte. Ali começava o Geba Estreito, navegável até Bafatá!..

A montante e a juzante, havia ataques do PAIGC contra as nossas embarcações: Ponta Varela, Mato Cão... O aquartelamento do Xime era flagelado ou atacado com frequência, e o subsetor do Xime era um osso duro de roer ... O PAIGC tinha, desde o início da guerra, uma boa implantação no triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, entre a margem direita do Rio Corubal e a estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole. Na região do Poindon/Ponta do Inglês perderam-se muitas vidas... Por sua vez, a saída do Xime para Bambadinca, em Madina Colhido, era temida... (LG)




Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto nº 14 > "Cais do Xime, a cores já esbatidas" (RM)…

Atracagem de uma LDG - Lancha de Desembarque Grande... Em primeiro plano, o Fur Mil Renato Monteiro, meu amigo de Contuboel, que foi parar ao Xime (e depois ao Enxalé, destacamento do Xime, no outro lado do Rio Geba) por não morrer de amores pelo comandante da sua unidade de origem, a CART 2479 (1968/70), maos tarde CART 11 e finalmente CCAÇ 11... Conheci-o em Contuboel, em Junho/Julho de 1969. Nunca mais o vi... até nos reencontramo-nos, em Lisboa, graças ao nosso  blogue... É a essa história de um feliz acaso já aqui foi contada . Ele era(é) o misterioso homem da piroga, fotografado comigo no Rio Geba, em Contuboel, uma das poucas fotos que tenho da Guiné.

O portuense Renato Monteiro (n. 1946), professor do ensino secundário reformado, é hoje um notável fotógrafo. Tem entrada na Wikipédia.  E um blogue que merece visita: Fotografares. Um fraterno alfabravo para ele! (LG).


Guiné 63/74 - P12683: Tabanca Grande (425): António Rocha Costa, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2539/BCAV 2876, S. Domingos, Antotinha e Bissau, 1969/71)

1. Mensagem enviada, no dia 3 de Fevereiro de 2014, ao nosso camarada, e meu vizinho de há muitos anos, António Manuel Rocha Costa:

Caro camarada, amigo e vizinho António Costa
A propósito do comentário que fizeste, sabendo que acedes por vezes ao nosso Blogue, lembrei-me de te convidar para a nossa tertúlia.
Esta nossa página pretende apenas ser um repositório de memórias escritas e fotográficas dos ex-combatentes da Guiné, ex-militares milicianos e profissionais. Deste último grupo temos felizmente alguns representantes que não se importam de conviver com a esmagadora maioria daqueles que foram civis fardados para participarem na guerra do ultramar. Por outro lado, a tua Unidade só se encontra representada pelo nosso camarada João Manuel Félix Dias.

Precisamos de mais histórias e fotos da CCAV 2539, assim como possíveis memórias tuas, e fotos que tenhas guardadas que podem aumentar o nosso espólio colectivo, e quem sabe, futuro local de pesquisa para quem quiser um dia refazer a História de Portugal dos anos 60 e 70, particularmente a parte da guerra colonial.
Podes dizer-me que há o facebook onde a malta vai publicando e mandando umas bocas, às vezes foleiras, mas num blogue consegue-se alguma organização que o "face" não contempla, digo eu que não me entendo muito bem lá.

Posto isto e se te que quiseres juntar ao numeroso grupo de leceiros que fazem já parte da nossa tertúlia, envia-me uma foto actual, outra do tempo de Alferes e uma pequena história que servirá de apresentação.
O teu posto terá sido Alferes de Cavalaria, mas queremos saber a especialidade. Atirador?
Se foste e vieste com a tua CCAV, às vezes aparecem casos de rendição individual, locais por onde andaste, etc.
Para desfazer qualquer dúvida que queiras ver esclarecida quanto ao funcionamento do Blogue, forma de navegação no mesmo, etc, fico à tua disposição.

OBS: - As chamadas fotos da praxe que te peço são para encimar os postes publicados, como poderás verificar.

Por agora é tudo, recebe um abraço
Carlos Vinhal


2. Resposta chegada ao nosso Blogue no mesmo dia, do nosso camarada, e novo tertuliano, António Rocha Costa, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2539/BCAV 2876, S. Domingos, Antotinha e Bissau, 1969/71:

Olá Vinhal,
Pois, como é mais que óbvio, não posso deixar de aceder ao vosso convite para fazer parte do grupo de leceiros que fazem parte da vossa tertúlia e para tanto começo por anexar as fotos pretendidas: uma "selfie" tirada hoje mesmo e uma outra tirada em Dão Domingos em 1969.

A minha apresentação:
A minha "guerra" começou em 16-07-1968 em Mafra onde depois dos habituais 3 meses de recruta, fui "selecionado" para Lamego, onde tirei a especialidade de "Operações Especiais". Portanto, sou um homem de infantaria.

Formei batalhão (2876) em Estremoz num Batalhão de Cavalaria, tendo sido agregado à CCAV 2539.
Embarquei para a Guiné em 19-7-1969, data da minha promoção.

Lisboa - Julho de 1969 - Desfile que antecedeu o embarque para a Guiné. Reconhece-se: Porta bandeira: sargento Gonçalves; atrás eu e os meus furriéis: o Henriques, o Lage e o Mendes; ao lado esquerdo o Paiva e os seus furriéis: o Brandão e ???

Um dia em Bissau, e deslocação imediata para São Domingos, com passagem por Cacheu, onde tivemos a nossa primeira prova de fogo. Uma brincadeira dos "velhinhos" do Cacheu, que irritou sobremaneira o comandante do batalhão, pois, grande parte dos "piriquitos" limparam os carregadores!

Nunca mais me esqueço que o único "esperto" do nosso Unimog foi o básico Melécio, um alentejano muito débil que ia tão fraquinho, tão fraquinho, que nem capacidade teve para reagir!

Depois da descompostura do Coronel Sirgado Maia, lá prosseguimos em direção a São Domingos. Fomos substituir a Companhia 1790, uma companhia toda esfrangalhada pelo triste episódio da travessia do rio Corubal onde pereceram cerca de 50 militares, após retirada de Madina de Boé, companhia essa comandada pelo capitão Aparício, um militar com muito prestígio.

Estive em São Domingos até finais de 1970, altura em que o meu pelotão foi destacado para Antotinha, dentro da chamada "psico" preconizada pelo General Spínola. Apesar de eles não gostarem de nós, aqui, foi uma guerra santa. Um mês de comissão liquidatária em Bissau e eis-me de regresso a Portugal em 26-07-1971.

São Domingos 1969 - Av Central que ia do porto até a Administração local o edifício que se vislumbra lá em cima.

Antotinha, 2 de janeiro de 1971 - Na traseira do meu quarto

Bissau, Junho de 1970

Fotos: © António Rocha Costa

Não quero deixar de referir dois dos episódios mais marcantes nesta "viagem" até à Guiné:
1. - A maneira desumana como foram transportados os soldados no Uíge: nós, como uns lordes lá em cima, não faltava nada, mas mesmo nada; eles, nos porões tratados como mercadoria, como gado (alguns nunca chegaram a vir ao convés: escandaloso); chocante o contraste;
2. - A forma como viviam as populações, a falta de tudo, o primitivismo, ficava indignado com tudo isto e muitas vezes interrogava-me: mas o que fizemos aqui, nos últimos 500 anos?!
Foi assim que começou a minha politização, eu, diga-se em abono da verdade, que ia todo convencido da minha... missão.

Um abraço
António Rocha Costa


2. Comentário do editor:

Caro amigo Lelo, muito obrigado por te juntares a nós.
Passámos anos sem falar e num curto espaço de tempo, pessoalmente e no facebook, já nos encontramos vezes sem conta.

Cabe aqui uma explicação breve. O nosso camarada Costa, mais conhecido entre a malta por Lelo, é mais velho do que eu cerca de 3 anos. Se pensarmos nos nossos 9/10 anos, 3 são uma diferença muito grande. Cada idade tem o seu núcleo de amigos, como se sabe.
Une-nos a amizade que mantive com o seu irmão Alfredo, meu companheiro de instrução primária, que infelizmente nos deixou muito cedo. Agora, na casa dos 60, quase 70, quando somos já da mesma idade, reatamos a conversa e começamos a falar dos amigos comuns e das referências da nossa meninice e juventude, enquanto leceiros. Descobri também nele há pouco tempo aquele "virus" tão vulgar entre muitos ex-combatentes da guerra do ultramar, a Guiné. Convidá-lo para se juntar à nossa tertúlia foi a cereja em cima do bolo.

Amigo Lelo, sabes quais são as nossas intenções quanto ao Blogue e o que queremos de ti. No "face" tens imensas fotos que, se não te importares, publicarei aqui, salvaguardando sempre a tua propriedade intelectual, como é óbvio. Contamos também com as tuas memórias escritas, onde nos poderás descrever  a experiência de viver entre aquele povo extraordinário, os felupes, com usos e costumes tão peculiares.
Outra forma de participação activa, é reagir ao que se publica, comentando nos postes ou enviando aos editores textos com os contraditórios que achares oportunos.

Termino, enviando-te um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia em geral.
Podes contar comigo para qualquer esclarecimento adicional, por escrito ou pessoalmente.

Até um destes dias em qualquer rua de Leça City
Carlos Vinhal
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Nota do editor:

Último poste da série de 3 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12672: Tabanca Grande (424): Carmelino Cardoso, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912, Condutor ao serviço do então Major Carlos Fabião, (QG/Bissau, 1970/72), grã-tabanqueiro n.º 644

Guiné 63/74 - P12682: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (9): SOS, procuro os meus camaradas 'Zorbas', José Paulo Oliveira de Sousa Teles (alf mil), Luís Alberto Alves de Gouveia (alf mil), José Fernandes Durães (fur mil enf), José Norberto Rodrigues Vieira (fur mil), Carlos Alberto Monteiro Leite (fur mil), Rui Filipe Alves Ribeiro (fur mil),

1. Mensagem, com data de ontem, do Mário Gaspar [, foto atual, à esquerda] (*):

À procura dos “Zorbas”

Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659

Gadamael Porto e Ganturé

1967/1968


Eu, Furriel Miliciano n.º 03163264 – Mário Vitorino Gaspar – Comandante de Secção da Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659 (1967/1968), gostaria de encontrar os seguintes camaradas de armas:


Alferes Miliciano n.º 01107864 – José Paulo Oliveira de Sousa Teles – Comandante de Pelotão;

Alferes Miliciano n.º 06554163 – Luís Alberto Alves de Gouveia – Comandante de Pelotão (a);

Furriel Miliciano n.º 09309564 – José Fernandes Durães – Enfermeiro;

Furriel Miliciano n.º 03738765 – José Norberto Rodrigues Vieira – Comandante de Secção;

Furriel Miliciano n.º 05015765 – Carlos Alberto Monteiro Leite – Comandante de Secção;

Furriel Miliciano n.º 05704665 – Rui Filipe Alves Ribeiro – Comandante de Secção.


a) A informação que tenho é que morreu, oxalá seja  engano.


2. Comentário de  L.G.:

Mário, se bem te recordas, já apareceu aqui um camarada teu, o Joaquim Fernandes Alves, ex.fur mil, com residência em Olival, Vila Nova de Gaia, à procura dos "Zorbas" [, foto atual, à direita]... 

Tu não és, pois, o primeiro. Aliás, o Joaquim foi o primeiro "Zorba" a entrar para a  nossa Tabanca Grande, com o o nº 625 (**)... Antes de ti, portanto... Vou-te pô-lo em contacto contigo, se é que ainda não se encontraram ou não comunicaram um com o outro.   Um alfabravo. Luis


(**) 20 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11738: Em busca de... (225): Os "Zorbas", camaradas da minha CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (Joaquim F. Alves, ex-fur mil, residente em Olival, Vila Nova de Gaia)

Guiné 63/74 - P12681: Parabéns a você (688): Ana Duarte, amiga Grã-Tabanqueira, viúva do nosso camarada Humberto Duarte; Fernando Franco, ex-1.º Cabo do PINT 9288 (Guiné, 1973/74); Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)


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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12674: Parabéns a você (687): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12680: Em busca de... (237): Joaquim Sotero Bravo, ex-Soldado atirador da CART 2520, (Xime e Quinhamel, 1969/71) procura os seus camaradas

1. Mensagem de Guida Bravo, jornalista e filha do nosso camarada  Joaquim Bravo, com data de 31 de Janeiro de 2014:

Caro Sr. Luís Graça,
Sei que não me conhece.. e que concerteza se pergunta, "Quem é esta criança? O que quer de nós? Antigos lutadores cheios de lembranças..."

Eu sou jornalista da Celorico da Beira TV. Vivi muitos anos da minha vida em Lisboa, e hoje... por questões de trabalho estou no Distrito da Guarda.

Estou a contactá-lo porque no âmbito de um trabalho que eu e os meus colegas de equipa estamos a fazer "Histórias de Vida", me dei conta que o meu pai tem algum material da sua estadia na Guiné, entre os anos de 1969 e 1971.
Decidi então... e nada melhor que isso pedir ao meu pai, Joaquim Sotero Bravo que revelasse a sua experiência no Ultramar... pesquisei imenso... mas realmente informação sobre a companhia de artilharia 2025 não há muita coisa! De maneira que eu acho que o vosso grupo estará interessado em ver essa reportagem quando ela sair... o Sr. Joaquim Sotero Bravo, vai sentar-se à frente de uma câmara e falar... dos bons e dos maus momentos... porque "vocês" merecem distinção pelos perigos passados em terras desconhecidas. E isso no meu entender deve acontecer enquanto são vivos.
A geração moderna não se dá conta dos sacrifícios passados e da adolescência e vidas perdidas... Por isso é que entrei em contacto consigo... e única forma de o meu pai saber que existem mais como ele... neste momento sou eu! Porque ele não mexe em qualquer tipo de tecnologia a não ser o telemóvel.

Encontrei uma foto postada por si em que ele aparece! O meu pai nem acreditava... já se passou tanto tempo!!! Isto trouxe-lhe uma doce lembrança... mas ao mesmo tempo ele nunca gostou de falar do que aconteceu na Guiné aos filhos e à mulher... De maneira que eu estou esperançosa de que vamos conseguir fazer uma boa reportagem, óbvio não irá fazer frente a tudo que passaram mas que concerteza é mais uma lembrança que ficará gravada para a eternidade.

Muito obrigada pelo seu bocado e peço desculpa pelo testamento, mas fiquei empolgada ao estudar e pesquisar o vosso passado.
Podemos combinar a partilha de fotos... não são muitas... mas as que tenho eu adoro!

Para qualquer assunto agradeço que me contacte.
Guida Bravo


2. No dia 4 de Fevereiro foi endereçada mensagem à nossa amiga Guida Bravo:

Cara amiga Guida Sofia
Estou a responder em nome do nosso Editor Luís Graça.
Tem de perguntar ao pai qual foi exactamente a Unidade em que foi para a Guiné porque não encontramos nenhuma CART 2025, seja como Companhia independente, seja como integrada em Batalhão.
Precisava que ele nos dissesse onde formou Companhia (ou Batalhão), datas aproximadas de ida e volta da Guiné, e locais onde esteve a cumprir a comissão. Só com estes elementos poderemos dizer alguma coisa de concreto. Em relação aos seus dados pessoais, indique-nos o seu antigo posto e a especialidade. Pode e deve mandar as fotos do pai para publicação, se possível com as legendas à parte.
Ficamos ao vosso dispor.
Receba um abraço e transmita outro ao senhor seu pai e nosso camarada
Carlos Vinhal


3. No mesmo dia recebemos esta resposta:

Caro Carlos Esteves
O meu pai diz que fez parte da companhia de Artilharia 2025 que esteve a prestar serviço em Xime, chama-se Joaquim Sotero Bravo.
Ele diz que esteve em Santa Margarida. E diz que pertencia a Torres Vedras.
Esteve em Guiné entre 1969 e 1971. Se não me engano era atirador, segundo li na caderneta militar. Tendo terminado o serviço no último ano em Bissau, como vigia da estrada que dava para o aeroporto. Tinha como capitão o Senhor António dos Santos Maltez.
Não sei se estou a conseguir ajudar... mas pouco sei... e ele pouco me diz!
Junto lhe envio algumas fotos...









Fotos: © Joaquim Sotero Bravo / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


4. Nova mensagem enviada à nossa amiga:

Cara amiga Guida Sofia
O pai fez parte da CART 2520 (não 2025) e foi mobilizado em Torres Novas (não Torres Vedras).
Verdades: esteve no Xime, o seu comandante foi o Cap Maltez e esteve na Guiné de 1969 a 1971. 
Não sei se me vai enviar mais fotos para publicar, além destas, mas pedia-lhe para já o favor de perguntar ao pai onde estas foram tiradas. Aquela do autocarro deve ter sido tirada muito perto de Bissau.
Se o pai quiser através de si contar algumas histórias ou memórias e/ou enviar mais fotos para publicar no nosso blogue, talvez fosse melhor aderir formalmente à nossa tertúlia. Não lhe traz nenhuma obrigação especial.
Se o pai quiser com a sua ajuda pesquisar coisa da CART 2520 tem este link: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/CART%202520
Sobre o Xime, tem este:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Xime
Podemos também publicar um post se o seu pai quiser tentar encontrar os seus camaradas. Não sei se se tem encontrado com eles em convívios.

Fico por aqui ao vosso dispor
Abraços
Carlos Vinhal


5. Finalmente a mensagem que recebemos hoje:

Muito Obrigada.
Eu vou tentar reunir melhor a informação junto dele, para que não haja trocas como houve, e peço desculpa por isso.
Tenho mais fotos sim. E eu teria imenso prazer de conseguir reunir o meu pai com os seus antigos colegas... acho que seria bom para ele conviver um pouco para além do dia-a-dia.
O único contacto que tenho é de Carlos Macedo... e foi porque o vi na internet. Tirando isso não me recordo de alguma vez o meu pai ter ido a algum encontro desde que sou nascida.

Muito obrigada pela colaboração,
Guida Bravo
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Notas do editor:

Eventuais pistas sobre contactos dos camaradas de Joaquim Bravo podem ser dadas directamente através do seu telemóvel n.º 960 308 378

Último poste da série de 2 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12667: Em busca de... (236): Pessoal da madeirense CCAÇ 4945/73, mobilizada no BII 19 do Funchal (Bernardino Laureano)

Guiné 63/74 - P12679: Direito à indignação (11): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Belarmino Sardinha / Cândido Morais)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 6 de Dezembro de 2009 > O menino de Iemberém 

Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74):

Meus Caros Editores,
Desculpem se tenho andado ausente e de repente apareço sem mais nem porquê, mas há coisas que, mesmo não sendo engraçadas têm a sua piada, mesmo falando de guerra…

Leitor diário do blogue, nem sempre lhe dou a devida atenção e reconheço que isso leva-me a deixar para trás algumas coisas sobre as quais podia comentar ou até falar, mas está tudo dito e bem, para quê chover no molhado, mas sobre o P12669 achei que me apetecia dizer alguma coisa, por isso, se acharem bem podem publicar, garanto que é verdade e nada mais que a verdade tudo o que aqui escrevo.
Também quero que os meus filhos e os filhos dos outros se regozijem deste pai de família. Sempre achei que este espaço deveria servir para deixarmos um testemunho sério e verdadeiro, relatos dos acontecimentos marcantes de várias gerações de sacrificados pela luta com armas, mas o P12669 explica muita coisa, nunca pensei ter feito parte de um Western Hollywoodesco de Cowboys (o estrangeirismo fica sempre mais bonito na escrita) se escrevesse cinema do oeste português e rapaz das vacas poderiam pensar que estava a falar de alguma casa de alterne.

Tudo parece ter ocorrido em Outubro do ano da graça de 1968, tinha eu então dezoito anitos, mas se não foi em Outubro, foi nesse ano. Não sei se conseguirei escrever tudo que gostava ou quero, só agora me debrucei mais atentamente sobre as intervenções neste blogue e confesso-me de cara-à-banda. Estou feliz finalmente, descobri a razão da minha mobilização para a Guiné em 1972, sei agora, sem margem para dúvidas que foi para limpar a porcaria que lá ficou pelos milhares de mortos inimigos feitos num só dia, por pouco quando lá cheguei já não havia para mim.

Caíam como todos, abanávam as árvores e caíam pelo efeito do shelltox (mata que se farta, passe a publicidade). Lembrei-me até que um deles, meu amigo, ficou cego de uma vista, estava a espreitar num buraco de uma árvore, veio de lá o chefe da família do Pica-pau Amarelo e deu-lhe uma bicada num olho, chamava-se Luiz Vaz de Camões, mais tarde escreveu um livro muito apreciado chamado Lusíadas. 
Desculpem mas estou tão “emulsionado” que vou parar aqui este escrito. Acreditem em mim, ainda ando a bater mal pois conhecia-os a todos, de um e outro lado e até tinha os seus contactos de telemóvel.
Aos que ainda restam e por cá andam, são e vão continuar a serem penalizados, pois além das pensões, se chegaram a este ponto da leitura já levaram comigo, para todos, aqueles que vão escrevendo a história dos acontecimentos e aos que não são maus rapazes, os progenitores é que não deviam ter nascido, o meu abraço.

BS

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1. Mensagem do nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caro amigo
Considero também que estas iniciativas locais ("recolher história" sobre a guerra colonial), não deveriam ser levadas a cabo de qualquer maneira.
Como militar, estive também na Guiné, na zona leste (Piche, Buruntuma, Canquelifá, Bajocunda, Copá, Tabassai, Amedalai...) e revoltam-me comentários como aquele que tive oportunidade de ler: "despachamos milhares de inimigos"...

Hoje, dada a convivência que recordo ter mantido com a gente das tabancas que o arame farpado e os postos avançados dos quartéis protegiam das incursões do IN, sinto até uma certa repugnância pelos termos em foi descrita uma pseudo-acção militar, algures no território do Senegal. Aliás, mesmo quando refiro algumas das minhas memórias do tempo da guerra colonial, eu confesso que me custa escrever a palavra "inimigo", e quase sempre encontro forma de contornar esse obstáculo, às vezes utilizando o termo "IN".
Eu acho que nós, ex-combatentes, temos um enorme manancial de histórias para contar, mas nem precisamos sair do âmbito das lições de humanidade, de entreajuda, de amizade... que vivemos no teatro da guerra. O soldado português, penso eu, tinha uma inigualável capacidade para se fundir com as populações locais, com quem se confundiria se conseguisse mudar a cor da pele... Violência? Morte? Infelizmente existem em todas as guerras, mas não fomos nós que as inventámos. No entanto, existe na guerra uma quantidade tal de exemplos de grandeza e de elevação, que facilmente fazem esquecer as maiores vicissitudes e os maiores erros.

Sugiro que se recomende ao Sr. Presidente da Câmara um maior cuidado na recolha de relatos da guerra colonial. Primeiro, porque já passou muito tempo e as coisas podem ser deturpadas, depois, porque existem espíritos inquietos que não se preocupam com a exigível fiabilidade dos seus relatos, depois ainda, há quem pense que "matar gente" é a grande missão de um soldado.
Que diabo, por que é que nós, últimos soldados de um Império grandioso que a nossa História descreve e se ufana, mormente quando fala nos Descobrimentos, continuamos a ser massacrados de mil e uma formas?

Penso que, para quem não sabe, há sempre instituições credíveis que podem ler e avaliar textos que farão parte de uma qualquer memória futura. É preciso muito cuidado, e é preciso que prevaleça a verdade.

Um grande abraço
Cândido Morais

PS: - Estive na Guiné em 70/71, e passei o meu último mês de comissão em Bafatá (em merecidas férias com o meu pelotão) e a população ainda ouvia com espanto alguns rebentamentos a quilómetros de distância (a Guiné é plana e ajuda nisso), e por isso eu concluo que por ali não havia memórias perceptíveis de guerra. Quanto a Bissau, ouvi falar de um qualquer acontecimento, uma flagelação à distância...
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Nota do editor:

Último poste da série de 4 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12677: Direito à indignação (10): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Luís Graça / Carlos Pinheiro / Sousa de Castro / José A. Câmara)