segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13908: Fotos à procura... de uma legenda (43): Verdes são os campos... e o talhão dos combatentes portugueses no cemitério velho de Bissau




Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério de Bissau > Talhão dos Combatentes Portugueses > s/d > 

Fonte: Portal Triplov > Guiné-Bissau (s/d) (Com a devida vénia...) [Edição: LG]



1. Muitas imagens (para não falar de textos, copiados e recopiados...) passam na Net e, cada vez mais , nas redes sociais com destaque para o multimilionário e arquipoderoso Facebook (onde a vida de milhões de pessoas está escarrapachada a toda a largura e profundidade das páginas; como se costuma dizer, hoje ninguém "dá um peido", sem logo tirar uma chapa e pôr no Facebook: ... Agora a moda parece que é os "after sex selfies"...).

Chateia-me ver,   cada vez mais,  imagens (para além de textos, incluindo artigos e trabalhos académicos...) reproduzidos na Net sem o mínimo de pudor... Em boa português, "com toda a lata"... Neste caso, sem respeito pela propriedade intelectual ou pelos direitos de autor...  (Já não fala da fraude, da pirataria, do copianço descarado...).

As duas fotos que se reproduzam acima dizem respeito ao cemitério de Bissau e ao talhão dos combatentes portugueses. Não sei de quem são, nem em que ano foram tiradas... Percebece-se que as fotos foram tiradas no início do tempo das chuvas... A erva já crescinha, fofinha e verdinha... De qualquer modo,  revelam sobretudo o habitual estado de abandono a que são votados muitos dos nossos cemitérios, em particular os da diáspora lusitana... 

N a Guiné-Bissau, e em particular em Bissau, este estado de abandono deve-se repetir com frequência, até que alguém (talvez da embaixada de Portugal em Bissau) se lembre de pagar ao coveiro para limpar as ervas e dar um ar minimamente digno a este local sagrado onde repousam alguns dos nossos primeiros mortos da guerra colonial (cerca de 150, se não errro, e que o Estado Português pura e simplesmente ignorou e abandonou... 

Recorde-se que até 1968, se não erro,  os nossos mortos eram inumados nos cemitérios locais, sendo-lhes recusada a trasladação, a expensas do Estado, para a sua terra natal... Eles só eram valiosos para a Pátria enquanto vivos e de boa saúde... Os mais ricos ou remediados sempre tinham direito a um condigna trasladação... Nalguns casos os camaradas da unidade ou subunidade quotizavam-se e pagavam os cerca de 11 contos (!) que custavam as operações de trasladação...

Estas fotos circulam por aí, sem data nem autor. Feita uma pesquisa na Net, fomos localizá-las no portal Triplov, numa página onde se pode ler: "Imagens da Guiné-Bissau na atualidade: uma nação bascente, um país lindo, a precisar de se erfuer dos escombros da guerra e da corrpução do poder, como exemplo de civilização para o mundo. Fotos enviadas por colegas guineenses, legendas do Triplov"...  Algumas dessas imagens são do nosso blogue, ou de camaradas nossoas (como o Eduardo Magalhães Ribeiro que documentou o arriar da última bandeira portuguesa no dia 9 de setembro de 1974 em Mansoa) sem identificação de fonte ou de autor.

Até pela sua intemporalidade e sobretudo pelo o seu simbolismo, estas duas fotos merecem ter uma legenda apropriada... Fica aqui o desafio aos nossos leitores. (LG)

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Guiné 63/74 - P13907: Blogpoesia (395): Sofrido povo de marinheiros (Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6)

1. Em mensagem do dia 24 de Outubro de 2014, o nosso camarada e novo amigo Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, enviou-nos este poema de sua autoria:
 

Sofrido povo de marinheiros

Brancos. Negros. Que importa a cor,
Morriam todos da mesma maneira.
Todos unidos na mesma dor.
Cobertos pela mesma bandeira.

Derramaram seu sangue sem se opor,
Todos companheiros da mesma trincheira
Por aqui exaltaram o seu valor.
Pelas cores da mesma bandeira

Que importância, tinham as dores.
Nos cemitérios, também há flores.
Marinheiros, soldados, de todas as cores.
Honrando a mesma bandeira.

Brancos negros. Homens de grande valor
Não tinha importância, a sua cor
A todos, o sangue vermelho, escorria das veias
Partilhavam a mesma dor, pela cor da sua Bandeira

Aos 22 de Abril de 2014
Jesus
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 Nota do editor

Último poste da série de 28 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13816: Blogpoesia (394): Baladas de outono (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1984/66; autor de "Baladas de Berlim", Lisboa, Chiado Editora, 2013)

Guiné 63/74 - P13906: Agenda cultural (357): Apresentação do livro "Nós Enfermeiras Paraquedistas", dia 26 de Novembro de 2014, pelas 18h00, no Estado-Maior da Força Aérea, em Alfragide (Miguel Pessoa)



"NÓS, ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS"
LIVRO VAI SER APRESENTADO NO PRÓXIMO DIA 26 DE NOVEMBRO, PELAS 18H00
NO ESTADO-MAIOR DA FORÇA AÉREA, EM ALFRAGIDE

Custou, mas... Finalmente, está prestes a ver a luz do dia o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", uma obra para a qual contribuiu um bom número de enfermeiras paraquedistas com as suas memórias pessoais de um período muito rico da sua vida pessoal e profissional ao serviço da Força Aérea.

O livro é pois o resultado do esforço desse grupo de enfermeiras que decidiu dar cumprimento a um desejo da sua colega Zulmira, infelizmente já falecida, de escrever um livro sobre a vivência deste grupo de mulheres na Força Aérea, nos tempos da guerra do Ultramar.

Vários livros têm sido publicados sobre a actividade das enfermeiras paraquedistas, mas nenhum por iniciativa própria. Talvez por isso, nenhuma dessas obras traduz o que elas pensavam e sentiam naquele que a maioria considera hoje ter sido um "período de ouro” das suas vidas.

Nenhuma dessas obras narra os seus sentimentos, as suas angústias, as suas alegrias, o medo que tantas vezes as assaltava, a saudade que as corroía, as dúvidas que por vezes as intimidavam, o sentimento de culpa pelos insucessos, o entusiasmo ou o desânimo, e muitos outros sentimentos que as assoberbavam no dia a dia de dura labuta, em terra ou no ar, na Metrópole, em Angola, Moçambique ou Guiné, ou ainda sobrevoando o Atlântico nas longas evacuações de feridos. O que passaram, que caminhos trilharam, os riscos que correram, o que viram e tudo a que assistiram, ao serviço da Força Aérea! Era tudo isso que pretendiam contar, num livro.

Também nenhuma dessas obras descreve o que arrastou cada uma delas para aquela “aventura”; ou o que sentiram ao entrar num mundo exclusivo dos homens, ou como a ele se adaptaram; ou o que custou, a quem nunca tinha sequer estado junto a um avião, saltar dele em voo, utilizando um paraquedas que lhe colocaram nas costas, prometendo-lhe que ele ia abrir “de certeza absoluta”. Nenhuma dessas obras refere o que, passados tantos anos, cada uma delas pensa do que foi servir na Força Aérea como enfermeira paraquedista e o que “isso” significou depois ao longo das suas vidas.

É tudo isto ─ não apenas as suas memórias, mas também os sentimentos que então as acompanharam ─ e muito mais, que quiseram expressar num livro, para deixar às gerações futuras.

Decidiram por isso que, em vez de darem o seu contributo para a elaboração de livros de outros, deveriam tomar a iniciativa de serem elas próprias a escrever num livro a forma como desempenharam a sua profissão num ambiente tão diferente do tradicional, que incluiu mesmo o de guerra. E que, para aquelas que tenham filhos e netos (e depois virão os bisnetos e …), isso seria uma forma ─ a melhor e mais perdurável ─ de lhes dar a conhecer algo de um período crítico da História do seu País, mas também de eles saberem que tinham tido uma avó (bisavó, trisavó, …) que contribuíra para essa mesma História andando na guerra, nas missões mais arriscadas, em África (ainda para mais como voluntária!), onde tinha passado as “passas do Algarve”, mas também usufruído de bons momentos…

No livro procuraram articular as suas memórias dos acontecimentos ou factos que viveram ou que testemunharam, ao longo daquele tempo. Uns são dramáticos, por vezes mesmo trágicos; outros são divertidos, se não mesmo cómicos; outros respeitam ao dia a dia no trabalho normal ou à forma como passavam os momentos de ócio; outros relatam a forma como conviviam num ambiente quase exclusivamente masculino, outros evidenciam a camaradagem e a amizade que estabeleceram com aqueles com quem trabalharam; outros focam o relacionamento com as populações; outros referem situações cheias de humanismo a que assistiram, sobretudo referentes aos feridos e às suas famílias. E tanta coisa mais que tinham para contar!

Uma obra que dará certamente uma panorâmica realista da actividade das nossas enfermeiras paraquedistas ao serviço da Força Aérea.

O livro, que tem como aliciante um prefácio escrito pelo Sr. Professor Adriano Moreira, será apresentado no auditório do Estado-Maior da Força Aérea, em Alfragide, pelas 18H00 do próximo dia 26 de Novembro.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13891: Agenda cultural (356): Apresentação do livro "O Corredor da Morte", dia 18 de Novembro de 2014, pelas 15h30, na Associação Apoiar, Lisboa (Mário Gaspar)

Guiné 63/74 - P13905: Notas de leitura (651): 1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2014:

Queridos amigos,
Chego ao fim dos meus comentários quanto ao que adquiri neste memorável 1 de Novembro na Feira da Ladra.
É tudo uma questão de paciência, permanecendo acocorado diante de caixas de onde saem imagens díspares; é tudo uma questão de paciência, percorrer bancas e ir perguntando. Ali tudo se encontra, aerogramas, distintivos militares, mas o espírito seletivo não pode transigir com tanto material imperial, só a Guiné e colaterais é que contam.
Este trabalho de António Carreira é soberbo é dá muito que pensar como foi possível endeusar uma unidade política com base em escassos filamentos e articulações históricas económicas. Mas é assim a imaginação do homem, quando tem um fito considerado superior por vezes não olha a meios.

Um abraço do
Mário


1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (3)

Beja Santos

“Cabo Verde, Aspetos Sociais, Secas e Fomes do Século XX”, por António Carreira, Ulmeiro, 1984, foi a minha última aquisição numa viagem coroada de êxitos em manhã ensolarada. A grande, a grande pechincha, ficou à guarda de um alfarrabista amigo, já não tinha cabedal para trazer os vários quilos de “As grandes polémicas portuguesas”, uma obra de estalo da nossa cultura, venho ajoujado com a Guiné e este precioso trabalho de António Carreira de Cabo Verde.

Se a ele vou dedicar reflexões neste espaço é porque a sua leitura permite desvelar a coesão de um povo, coesão e especificidade, muito rapidamente se fica a entender que aquele slogan da unidade Guiné e Cabo Verde não sendo vazio era destituído da lógica da razão.

Primeiro, as nomenclaturas do arquipélago, nomes portugueses, genuinamente portugueses: Santiago, Mário, Fogo, Brava, ilhéus de Santa Maria, S. Antão, S. Vicente, S. Luzia, S. Nicolau, Sal e Boa Vista, ilhéus dos Pássaros, Branco e Raso.

Segundo, uma organização social típica de um empreendimento povoador com senhores, plebeus, homens de ofícios e degredados, depois os mestiços, o caldeirão da crioulidade. E os escravos, como a maioria. E António Carreira tece um elucidativo comentário sobre as raízes euro-africanas: “Em todo o desenvolvimento deste processo de formação de classes teve influência decisiva o modo como foram distribuídas as terras e se constituíram as grandes fazendas, virtualmente em Santiago e no Fogo. Nestas duas ilhas as melhores terras e as de maiores superfícies tinham sido distribuídas aos reinóis e a estrangeiros feitos morgados por cartas régias; ao passo que em Barlavento se seguiu o sistema de concessões segundo a lei de sesmarias, dando-se a cada agregado familiar uma parcela para a satisfação das suas necessidades e por forma a garantir a sua fixação”. Diferente, profundamente diferente do povoamento que ocorreu na Madeira e nos Açores mas com paralelismos gritantes, a marca profunda da cultura líder que determinou a aculturação, e que chegou aos dias de hoje.

Terceiro, uma região cronicamente assolada por secas e fome, António Carreira deixa-nos aqui páginas pungentes de sofrimento e horror nestas sucessivas crises, cuja última, antes da independência, a de 1947/1948, foi tremenda. Secas influenciadas pelo deserto de Sara, pragas depredadoras e um crescimento populacional explosivo que incitou à emigração, e que levou o cabo-verdiano para os Estados Unidos, para Portugal, para o Senegal e para a Guiné e também para os Países Baixos, entre outros destinos.

Quarto, uma região com unidade religiosa, o primeiro bispado de África aconteceu aqui. E uma religião que proporcionou a difusão do ensino. O bispado de Cabo Verde foi criado em 1533, o seu cabido era constituído por 17 dignidades compreendendo mestres de escola, mestres de gramática e leitores de moral. Santiago, em 1582, tinha 11 freguesias e respetivo pároco. A partir de 1570, os párocos recebiam um estipêndio para ensinar doutrina cristã ao povo, nos tempos e pela maneira que o perlado ordenara, o mesmo é dizer o ensino das primeiras letras.

Quinto, a própria composição dos grupos sociais. Temos o emigrante cabo-verdiano letrado que passa a substituir o “branco da terra” nos lugares cimeiros. Não é por acaso que os postos da administração de Angola e da Guiné têm cabo-verdianos. A percentagem de brancos em Cabo Verde foi sempre baixa em todos os tempos, o que existe é o branqueamento da população, os mestiços, de um modo geral orgulhosos pela sua ascendência.

Sexto, a estrutura familiar cabo-verdiana é ímpar. Em regra, aportaram às ilhas homens brancos desacompanhados das suas mulheres. Pacificamente, constituíam família com mulheres locais, tudo isto era feito sem constrangimento, os relatos são elucidativos de como todos estes brancos se acasalavam, até o clero. É uma estrutura familiar sem qualquer paralelo em África. Julgou-se durante muito tempo que o espírito de cooperação, de entreajuda das comunidades rurais era algo que vinha de África, vinha dos escravos submetidos à disciplina das fazendas agrícolas. Sabe-se que no Norte de Portugal sempre houve a tradição comunitária em todas as fainas agrícolas, é uma hipótese que tenha sido transferida para Cabo Verde, a questão continua em aberto.

Sétimo, o cabo-verdiano é um ilhéu que sonha em emigrar, tem mesmo uma história dramática de emigração compulsiva para outras partes de África. A emigração para o estrangeiro começou muito cedo, através dos navios baleeiros americanos quando estes vinham aos mares do arquipélago à apanha de cetáceos. O estudo de Carreira mostra a importância que os EUA sempre tiveram na emigração cabo-verdiana. Bem assim como Portugal, Dakar-Gâmbia e Guiné. A guerra colonial acentuou a presença cabo-verdiana em Portugal, por falta de mão-de-obra de quem estava a combater ou emigrara para a Europa rica. A construção civil, o trabalho mineiro, os serviços de limpeza da cidade e áreas suburbanas, atraíram cabo-verdianos. O cabo-verdiano tem gosto pela aventura, sofre da “ânsia de invasão”, acultura-se bem. Aprendeu e permutou atividades semi-industriais, caso do fabrico de açúcar de cana, artesanato de têxteis (algodão, lã de carneiro e anil) e panaria (muito bela e original com mais de três séculos e meio). A internacionalização dos mercados pôs termo a muitas dessas atividades. A falta de chuvas, a erosão dos solos, os deficientes sistemas de amanho e preparação das terras foram pondo termo à base de subsistência do cabo-verdiano.

Ilhas povoadas por brancos (muitos deles degredados), gentes da Senegâmbia, um povoamento com características senhoriais e feudais, uma presença religiosa desde a primeira hora, e temos um povo engenhoso, um misto de África e da Europa que se espelha na alimentação, na cultura, na música, na vontade de partir sempre com saudade a marcar a distância. O livro de António Carreira é bastante elucidativo com os dados que apresenta sobre a geografia, a demografia, a organização social, a estrutura familiar. Uma superfície de aproximadamente 4 mil quilómetros quadrados, com jornais e revistas, com um leque precioso de bons escritores, com um gosto entranhado pelo seu património histórico bem tratado, e um povo orgulhoso pelas suas raízes e pela sua abertura. Este mesmo António Carreira em 1968 escreveu um artigo sobre a unidade da Guiné e Cabo Verde, fez declarações genéricas sobre a miscigenação e o estreitamento cultural e económico, com base na presença cabo-verdiana na Guiné. Lendo agora este ensaio, vê-se claramente que o cabo-verdiano é muito mais que africano, tem uma identidade própria não consentânea com parentelas continentais. Percebe-se hoje como Amílcar Cabral usou de tal bandeira para recrutar quadros. Mas a grande diferença não pôde ser mascarada por muito tempo. Agora, as feridas terão que sarar até que os dois países retomem a confiança e a solidariedade sentidas.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13889: Notas de leitura (650): 1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13904: Fotos à procura de... uma legenda (42): Partida de um grupo de combate para fora do arame farpado: foto de J. C. Lucas, ex-alf mil op esp, CCAÇ 2617, Magriços de Guileje (Pirada, Paunca e Guileje, 1969/71)


Foto nº 1 


 Foto nº 2


Foto nº 3


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Guileje > CCAÇ 2617, Os Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971) > Novembro de 1970:  Partida para uma operação.  (*)

Foto © José Crisóstomo Lucas (2014).Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Comentários (*):


(i) António Eduardo Ferreira:


As fotos que vemos neste poste,  apesar da distância no tempo, ainda causam calafrios a quem viveu momentos assim, e foram muitos. De todos os que compunham o grupo, apenas um parecia estar mais preocupado com o nariz que com o que lhes estava a ser dito pelos superiores, talvez fosse só uma maneira de disfarçar. A preocupação que se pode observar no rosto daqueles jovens não engana. Estavam a pensar em quase tudo, mas nada de bom.


(ii) Luís Graça:

Quase todos nós passámos por estes momentos: a partida para o mato, para operações no mato ...  Muito cedo deixamos de partir completos, com as primeirias baixas... Passamos, depois,  a partir desfalcados, em cada grupo de combate (ou pelotão), a começar por alferes, sargentos e cabos...

E depois, no regresso, nem sempre vínhamos todos... A tensão era sempre grande. (...) (**)

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(...) à esquerda, o alf m,il op esp J. C. Lucas, o furriel mil Durana Pinto e o Branquinho... Na primeira fila, ao centro e à direita, dois militares com o morteirete 60, uma das melhores armas que equipavam as NT... e que manobradas por bons apontadores faziam estragos no seio do IN. (...)


(**) 27 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13810: Fotos à procura de... uma legenda (41): dois chavalos e uma cadela, sentados na base do memorial ao alf mil op esp Rogério Nunes de Carvalho, da CART 2338 (1968/69), morto em combate pela Pátria (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 11, Contuboel e Nova Lamego, 1969/70)

domingo, 16 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13903: Consultório militar, do José Martins (10): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte IV - As três baixas mortais no decurso da Op Relance, no corredor de Guileje, entre a lala do Rio Tenhege e Guileje


Guiné > Região de Tombali > Mapa de Guileje > Escala 1\/50 mil > Posição relativa de Guileje e do rio Tenhege, a noroeste. Foi nesta região que o alf mil art Tavares Machado e os sold António Lopes e António de Sousa Oliveira (o "Francesinho") perderam a vida em combate, na decurso da Op Relance (local da operação: corredor de Guileje, numa lala do Rio Tenhege).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Quarta (e última) parte da informação recolhida pelo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas]. no âmbito do seu "consultório militar" e, mais concretamente, em resposta a um pedido de informação do nosso leitor Aníbal Teixeira, cunhado do alf mil art Nuno da Costa Tavares Machado, morto em combate em Guileje, em 28712/1967, e que pertenceu CART 1613 / BART 1896 (Guileje, 1968/68). (*)


2. Na História da Unidade [CART 1613] e à guarda do Arquivo Histórico Militar (AHM), que fomos consultar, consta na página número 127, a seguinte nota, relativa ao período de 1 a 31 de Dezembro de 1967:


Em 27 – Executado a Operação “Relance”

Missão – Emboscada no “corredor” de Guileje.

Forca executante:

- Companhia de Artilharia 1613 (incompleta)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia 1659 (**)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia 1622

- Pelotão de Caçadores Nativos 51

- Pelotão de Milícias 138

Resultados obtidos:

- Causados ao IN 4 mortos prováveis e feridos vários não controlados

- As NT sofreram 3 mortos, 4 feridos graves (3 milícias) e 3 feridos ligeiros (2 milícias).




Fonte:  CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 8.º Volume - Mortos em Campanha: Tomo II - Guiné - Livro 1 (1.ª edição, Lisboa 2001), p. 309.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > Aspeto geral do quartel. Messe e quartos dos sargentos com cozinha ao fundo. Os maloagrados alf mil art Tavares Machado, sold António Lopes e sold António de Sousa Oliveira (o "Francesinho")  devem-se ter cruzado, em vida, diversas vezes com estes putos que viviam na tabanca e aquartelamento de Guileje.

Foto: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores: 


13 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13885: Consultório militar, do José Martins (9): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte III - Ficha da Unidade, BART 1896, a que pertenciam as CART 1612, 1613 e 1614

Vd. também poste de 13 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13881: In Memoriam (206) Nuno da Costa Tavares Machado, alf mil inf, CART 1613, morto em Guileje, em 28/12/1967, e condecoado com a cruz de guerra, de 3ª classe, a título póstumo

(**) O nosso camarada Mário Gaspar, fur mil da CART 1659, tem uma versão em que não se faz referências a baixas entre as NT, de acrodo com a sua mensagem de 4 do corrente, de que transcrevemos alguns excertos:

(...) A  Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659 entrou na “Operação “Relance” (...)  – e eu estive lá, e participei nela (...)

A Operação Relance", consta no Blogue, no poste P12412 (...)


Na História da Unidade da CART 1659, pode-se ler que a Operação Relance” foi  em 21/28 DEZ67. Missão: Montar emboscada no “corredor de Guileje”, região de Famora. Forças – 1 Gr Comb., desta CART (...), juntamente com 1 GR.COMB da CCAÇ 1622 e 2 GR.COMB. da CART 1613.

As NT foram emboscadas por duas vezes, tendo reagido pelo fogo e manobra. O IN sofreu 4 mortos prováveis e vários feridos não controlados.

Quanto aos 4 mortos prováveis e feridos vários, foi a informação que passou pelo famoso Régulo Abibo Injasso e seus informadores. O Régulo que dizem ter morrido era uma boa alma, a Meca ia todos os anos, e o Exército Português pagava. As informações tinham uma tabela, grande parte das vezes era verdadeira. 

O que sei é que se fosse minar ou armadilhar determinadas zonas , e fosse somente a NT, e não iam nem Caçadores Nativos nem Praças “U”, para mim era sinal que o PAIGC se desviava, não do local nem da zona, era a garantia que tinha que por determinados locais das imediações de Gadamael Porto não passavam. Nada dizia, nem ao Capitão. 

Em relação [à informação] das NT sofrerem 3 mortes, 4 feridos graves (3 Milícias) e 3 feridos ligeiros (2 Milícias). Não tenho conhecimento que tivessem havido mortos e feridos. 

A Operação foi de 21 a 28 de Dezembro e estive sempre lá. (...)

Guiné 63/74 - P13902: Ser solidário (173):1ª Conferência Internacional de Arquitetura e Urbanismo na Guiné-Bissau, Bissau, 26-29 de novembro de 2014: adiada para data a anunciar, por razões de força maior (epidemia de ébola e dificuldades com as ligações aéreas) (NUGAU - Núcleo Guineense de Arquitetura e Urbanismo, Odivelas)

Micrografia electrónica do vibrião do vírus Ébola. 
USA

1. Mensagem de NUGAU - Núcleo Guineense de Arquitetura e Urbanismo, sediado em Odivelas:

 Data: 29 de Outubro de 2014 às 21:49

Assunto: CIAU2014_GB | Informação Importante


Excelências,

Há seis meses anunciamos a CIAU2014_GB, para 26-29 de Novembro do ano corrente (*), evento que há mais de um ano tínhamos vindo a preparar. A menos de um mês desta data vemo-nos forçados a fazer um novo anúncio:

O NUGAU vem pela presente informar a todos os seus parceiros, investigadores, participantes, simpatizantes e a todo o público em geral sobre a alteração da data da realização da CIAU2014_GB.

As razões que nos levam a tomar essa posição estão relacionadas com a preocupação e respeito que temos para com os nossos parceiros e os participantes. (**)

Tendo em consideração os seguintes fatores:

Avião da TAP em Bissau, 21 de abril de 2006. Foto de Hugo
Costa (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

- o adiamento de retoma do voo da TAP para  Bissau para finais de Dezembro, obrigaria os participantes a terem de fazer escalas em países vizinhos tornando longa e desconfortável a viagem;

- porém, a maior preocupação reside na questão da epidemia de ébola que neste momento ameaça a costa ocidental africana e o mundo em geral, cujo epicentro são os países vizinhos da Guiné-Bissau, daí a nossa preocupação com as escalas em países vizinhos.

Assim, como já observamos, por respeito e pela segurança dos nossos parceiros e dos participantes e pelo fato de haver um preocupante estado de alerta mundial sobre a epidemia de ébola, o NUGAU decidiu adiar a data da realização da CIAU2014_GB para os próximos seis meses.

Todavia, por causa de todo o trabalho feito e de todos os envolvidos, o NUGAU vai realizar no dia 26 de Novembro do corrente, uma conferência, onde anunciará a data da realização da CIAU, e que contará com a presença da Sua Ex.cia Sr Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Engº Domingos Simões Pereira e Sr Ministro das Obras Públicas, Construção e Urbanismo, Engº. José António Almeida.

Continuamos a contar sempre com o vosso apoio e interesse e com a vossa participação neste evento que não desvirtuará de forma nenhuma os ideais perseguidos até agora pelo NUGAU.

Sem mais de momento, agradecendo a vossa compreensão, enviamos os nossos mais cordiais cumprimentos.

NUGAU

Site: http://nucleonugau.wix.com/nugau

Blog: ciau2014gb.blogspot.pt

E-mail: nucleo.nugau@gmail.com
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Notas do editor:


Guiné 63/74 - P13901: Parabéns a você (817): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13894: Parabéns a você (816): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Pacífico dos Reis, Coronel Cav Ref, ex-Cap Cav CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

sábado, 15 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13900: Álbum fotográfico de José Crisóstomo Lucas, ex-alf mil op esp, CCAÇ 2617, Magriços de Guileje (Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71): partida e chegada de uma operação, Guileje, novembro de 1970


Guiné > Região de Tombali > Guileje >  Guileje > CCAÇ 2617, Os Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971) > "Partida para uma operação: à esquerda, o alf m,il op esp J. C. Lucas, o furriel mil Durana Pinto e o Branquinho"... Na primeira fila, ao centro e à direita,  dois militares com o morteirete 60, uma das melhores armas que equipavam as NT... e que manobradas por bons apontadores faziam estragos no seio do IN...



Guiné > Região de Tombali > Guileje >  Guileje > CCAÇ 2617, Os Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971) >  Novembro de 1970: Chegada da operação...


Fotos © José Crisóstomo Lucas (2014).Todos os direitos reservados



1. Fotos enviados pelo nosso camarada J. C. Lucas José Crisóstomo Lucas,  ex alferes miliciano, de operações especiais, CCAÇ 2617, Magriços de Guileje, Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71]


Data: 28 de Outubro de 2014 às 00:14
Assunto: fotos da Guiné NOV. 70


Junto envio 3 fotos: uma isolada, pessoal [, foto à direita,], uma  outra antes de uma operação e uma terceira  após a chegada dessa operação à base de " Paroldade".


Na foto da chegada da operação podemos ver, à esquerda ,
eu e o furriel Durana Pinto e o Branquinho

O prometido...

Por favor confirma a boa recepção deste email

Cumprimentos

J. C. LUCAS ( Magriços de Guileje)


2. Há tempos (12 de outubro último) também me
escrever a propósito da sondagem sobre o paludismo e o tema da água.  Por outro lado, sei que o nosso camarada  Lucas, anda a lutar, desde há um ano e tal contra uma filha da mãe de uma doença mas ele garante-me que anda em cima da "safada",  e "tento dar-lhe nas unhas fazendo umas almoçaradas com os Magriços" (*)... Aproveitou para me mandar a foto da praxe (atual) que nunca te tinha mandado... Obrigado, camarada, e força, contra a "safada"!... LG


Meu caro:


Paludismo ? Nunca tive... Lembraste-me a velha situação em que colocávamos um lenço a cobrir a água da “ poça “ e era o nosso filtro mágico. A maior parte das vezes o lenço não estava muito limpo

Só para recordar !!!...

Cps

J.C.Lucas

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 8  de julho de  2013 > Guiné 63/74 - P11815: Os nossos médicos (61): Lembrando o médico dr. Sousa Fernandes e o enfermeiro Silva Pinto (J. Crisóstomo Lucas, ex-alf mil, CCAÇ 2617, Magriços de Guileje, 1969/71)

Guiné 63/74 - P13899: Memórias de Gabú (José Saúde) (44): Imagens de Gabu em 1999

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU

Camaradas,

Texto retirado do meu livro GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74

Imagens de Gabu em 1999

O coração bateu forte! As lágrimas gotejaram perante o lobrigar de momentos ímpares de um passado que jamais voltará. Um misto de saudade e de ternura propuseram-me reviver locais por mim palmilhados enquanto militar na região de Gabu - 1973/74.

As imagens mexeram comigo! Retratam templos de um tempo inesquecível. O Quartel, o meu Quartel, onde dissequei momentos de prazer e de dor, mantém-se. O mastro da bandeira lá contínua. Hasteada, claro. A porta de armas, imperturbável a desavenças ocasionais, conserva o mesmo perfil. As instalações permanecem intactas. Ao lado esquerdo os aposentos dos oficiais e em frente o comando. 

O café onde bebíamos umas cervejolas em Nova Lamego agonizou-se no tempo: está em ruínas. Por outro lado, a cidade ganhou uma outra dimensão. A construção de novas casas trouxe à urbe um maior dinamismo habitacional. Na pista aterram e levantam pequenos aviões que cruzam os horizontes do céu guineense.

Como nota de roda pé, asseguro que os pequenos registos descritos e por mim narrados, alinhados na primeira pessoa, levam-me a suscitar na opinião pública o direito ao contraditório, reservando para os camaradas de armas os seus melhores pareceres quando colocamos sobre a mesa de leitura a nossa ação na guerra da Guiné.

Reconheço que cada um de nós foi, apenas, uma pequena peça de um colossal puzzle que se protelou no tempo ao longo do conflito. Fomos, afinal, protagonistas de um filme de longa-metragem onde as pequenas histórias, as nossas, se contam de acordo com o contexto real vivido pelo antigo combatente. 

Confesso que nutro por todos os camaradas um enorme respeito. Procurei, sinteticamente, relatar factos verídicos onde partilhei o meu saber primário. Deixo escrito para a posterioridade convicções onde a prosa se associa às imagens recolhidas.

Reforço, portanto, a ideia que ninguém é dono da razão. Todos temos histórias para partilhar. Existe o direito de auscultar e reformular eventuais opiniões adversas. Aceito!

Estas são, confesso, “AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABÚ” que tiveram o condão de passarem, em parte, ao lado dos conflitos armados no terreno! 

Obrigado camarada Amílcar Ramos, um amigo com o qual partilhei a messe de sargentos em Nova Lamego, e que teve o condão de me ofertar estas imagens recolhidas numa viagem feita em finais da década de 1990 à Guiné.





 Pista velha 

Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

2 DE NOVEMBRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13838: Memórias de Gabú (José Saúde) (43): Delegação do PAIGC em Bafatá. O tempo de afirmação.

Guiiné 63/74 - P13898: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XVI: maio de 1973: o IN recruta coercivamente mancebos nas tabancas sob seu controlo (Poindom, Ponta Varela, Ponta Luís Dias e Ponta do Inglês): um dos recrutas era informador das NT


Foto nº 1 > "Algumas centenas de metros mais abaixo o Corubal enfia-se no Geba (...). A vista é extasiante, o que mais perturba o Tangomau é imaginar que se viveu naquele inferno e com aquele panorama edénico, pelo menos o que se avista em direcção a Quinara, a escassos quilómetros. "


Foto nº 2 > "A vista é extasiante, o que mais perturba o Tangomau é imaginar que se viveu naquele inferno e com aquele panorama edénico, pelo menos o que se avista em direcção a Quinara, a escassos quilómetros. " (...)

Foto nº 3 >  "Pouco resta da casa de Inglês Lopes, ao que parece era este o dono da Ponta (... ) Entre 1964 e 1966, a qui esteve um pelotão destacado da companhia do Xime, mais um pelotão de milícias. (...) O destacamento vinha até junto à água, havia um pontão para receber as embarcações, tudo desapareceu".

[Nota de LG:   antigo embaixador em Lisboa da República da Guiné-Bissau, Constantino Lopes, ex-Combatente da Liberdade da Pátria, que esteve preso no Tarrafal, de 1962 a 1969, é hoje o único herdeiro e proprietário da Ponta do Inglês, exploração agrícola, de 50 hectares; o seu pai, Luís Lopes, tinha por alcunha o Inglês; informação que me foi dada pelo próprio Constantino Lopes em 12/11/2008, no Museu da Farmácia, no lançamento do livro do Beja Santos, "O Tigre Vadio"].


Foto nº 4 > "Gã Garneis [ou Gã Garnes, Ponta do Inglês], fixa-se a legenda, estamos no centro de um antigo quartel, apresentam-se pessoas, o Tangomau conversa com Jubalo Jau, que fora prisioneiro na luta, capturado numa operação entre o Buruntoni e a Ponta do Inglês" (...



Foto nº 5 > "É nisto que se faz a aproximação e se vêem as marcas das balas, sabe-se lá se de rajadas ou de tiro-a-tiro. O que interessa é que ficaram lá, entre esculturas. É impressionante, os próprios guias dizem que a população aqui vem regularmente relembrar o que faz uma guerra, ver as marcas que a natureza não pode absorver, as árvores não gritam, tornam-se esculturas vivas, memoriais de sofrimentos ignorados. Se os habitantes de cá respeitam estes pavores da guerra, o que é que nos falta para iludirmos que devemos alguma homenagem a quem tanto aqui penou, mesmo por escassos anos? " (...)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Gã Garnes [ou Ponta do Inglês] > Novembro de 2010 >  Viagem de Mário Beja Santos (Op Tangomau) (*)



Fotos: © Beja Santos (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação da História do 
António Duarte
BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, 
no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir
de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (**)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974;  foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso temos indicado); economista, bancário reformado, formador; foto atual à direita].

O único destaque do mês de maio de 1973, vai para: (i)  a  fraca atividade do IN no início do tempo das chuvas; e a (ii)  a informação de que está a "recrutar coercivamente" mancebos nas populações sob o seu controlo (Ponta Varela, Poindom, Ponta do Inglês. Ponta Luís Dias) (pp. 55/57) (LG).

Dez anos depois do início da guerra, o PAIGC continua a manter,  sob o seu controlo,  um importante núcleo populacional, espalhado pelo sector L1 (subsetores do Xime, Mansambo e Xitole: Cancodea Befada, Cancodea Balanta, Mina, Ponta João da Silva, Ponta Luís Dias, Satecuta. Mangai) e estimado em 4100 pessoas, em 1970, pelo comando do BART 2917, a que se deverá juntar mais 1900, a norte do Rio Geba, nas regiões de Madina e Banir). Contas feitas, no setor L1, o IN teria uma população de 6 mil sob o seu controlo. Em contrapartida, a populção sob controlo das autoridades portuguesas andaria à volta das 20 mil, também segundo a mesma fonte.

Ainda de acordo com a história do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72),  "na área do sector do Bart [2917]  existem muitas bolanhas ricas, verificando-se no entanto que estas, com excepção das do Enxalé, Nhabijões e Finete, ou estão abandonadas (Samba Silate, São Belchior, Saliquinhé, etc.) ou são exploradas por populações sob controlo IN (todas as bolanhas da margem direita do Rio Corubal e margens do Rio Malafo)."  (LG).

Maio de 1973: o IN recruta coercivamente mancebos nas tabancas sob seu controlo (Poindom, Ponta Varela, Ponta Luís Dias e Ponta do Inglês): um dos recrutas era informador das NT













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Notas do editor:

(*) Vd- poste de 11 de janeiro de  2011 > Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês


(...) Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês

1. Toda a região do Xime exerceu e exerce fascínio no Tangomau. (...)

Foi ali, de 1962 para 1963, que se abriu a segunda frente, Domingos Ramos vivia em Tubacutà, dentro da mata do Fiofioli; chegaram ao arrojo de colocar em Gundaguê Beafada um dístico “Aqui começa o território livre da República da Guiné, isto em 1963. 

A despeito do que era propalado pela propaganda, o controlo do Xime e Bissari, até ao Corubal, era exercido pelas forças comandadas por Domingos Ramos e pelos líderes que lhe sucederam. O Xime era um eixo estratégico e daí a tentativa, que se prolongou por alguns anos, de ter aberta a via até à Ponta do Inglês, na desembocadura do Corubal, em frente a Quinara.

 Esta estrada irá ser um calvário, entre minas e emboscadas, ali se verteu sangue e o destacamento da Ponta do Inglês tornou-se um inferno. O que o Tangomau conhecia era a região de Ponta Varela, o Poindom, até à Ponta do Inglês e respectivos acessos. A população cultivava as bolanhas, fundamentais para o aprovisionamento, era terras úberes; a navegação no Corubal fora tornada impraticável, de modo que qualquer saída do Xime e qualquer detecção significava confronto a prazo. (...)

Guiné 63/74 - P13897: Bom ou mau tempo na bolanha (75): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (15) (Tony Borié)

Septuagésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Resumo do dia décimo quinto

A povoação de Tok está situada numa grande planície no Vale do Tanana, entre o Rio Tanana e o “Alaska Range”, que é uma cordilheira com 650 Km de comprimento, relativamente estreita, na região centro-sul do território do Alaska. Esta povoação fica num cruzamento do “Alaska Highway”, com o “Glenn Highway”, com muita importância, tendo uma área de aproximadamente 132 Km2, tudo em terra, sendo a marca “Historic Milepost 1314”, do “Alaska Highway”, onde dormimos.

Pela manhã, tomando um copo com café, uma pessoa a nosso lado, aqui residente há muitos anos, mas que tinha vindo das ilhas do Hawai, querendo saber de onde éramos oriundos, começou por explicar que a povoação de Tok começou a ter alguma visibilidade a partir do ano de 1942, quando do início da construção do “Alaska Highway”, pois passou a ser um grande campo de construção e manutenção desta famosa estrada, até lhe chamavam o “Million Dollar Camp” e, até aquela data, era conhecida como uma aldeia onde viviam os “Athabascan”, um povo que aqui caçou, pescou e viveu por séculos.


Estávamos mais ou menos a 100 milhas (160 quilómetros) da fronteira com o Canadá, quando comprávamos alguma gasolina, o condutor de uma caravana, que vinha da fronteira, lavando os vidros da frente e as manetes das portas, explicou-nos que a estrada estava em construção a partir do quilómetro 15 ou 20, dentro do território do Canadá, para nos prepararmos para muitas paragens, mas com o nosso equipamento, não iríamos ter muitos problemas, ele sim, teve e, pelo aspecto da viatura, devia mesmo de ter tido.

A fronteira chegou, umas milhas antes existe um estabelecimento com um grande cartaz anunciando que é a última oportunidade de comprar gasolina, recordações, comida, bebida e outras lembranças do Alaska, havia algum trânsito, antes de entrar no edífio que cruza a fronteira, verificámos os documentos, tudo em ordem, sempre perguntam se levamos bebidas com álcool, dissemos que sim, eram ainda algumas garrafas de vinho que tinham vindo da origem, ou seja da nossa casa na Florida, o funcionário riu-se e desejou-nos “bon voyage”, em francês.


Depois da fronteira, algumas fotos, e eis-nos na estrada onde começaram a aparecer as tais obras de manutenção e alteração da via, com paragens sucessivas, longas esperas pelo “carro piloto’, onde as pessoas aproveitavam para sair das viaturas, tirar fotos do cenário, ou conversar, começando até novos conhecimentos.

Parámos na povoação de Beaver Creek, que marca o “Historic Milepost 1202”, onde dizem que é uma comunidade com poucos habitantes, pois além de ser a residência dos empregados do “Canada Border Services Agency”, tem só algumas “cabanas” para turistas que aqui querem passar algum tempo, pescando nos dois pequenos rios que por aqui passam.


Continuámos a nossa rota, rumo ao leste, paragens frequentes, desvios de estrada, parando na povoação de Burwash Landing, que marca o “Historic Milepost 1093” e, que é uma pequena comunidade encostada ao “Kluane Lake”, que é um grande e bonito lago, que primeiramente foi usada como “campo de férias de verão”, até começar a ser um “posto avançado de trocas”, que os irmãos Jacquot, por volta do ano de 1900, aqui construiram.


A pequena povoação de Destruction Bay, que marca o “Historic Milepost 1083”, era já ali, é uma pequena comunidade que sobrevive quase do negócio de turismo, com as pessoas que por aqui passam no “Alaska Highway”, até dizem que a sua população está a diminuir, pois já chegou a ter 59 habitantes e, presentemente andam à volta de 35.



Embora as obras na estrada nos obrigassem a frequentes paragens, um tempo depois, pois de acordo com os habitantes daqui, a distância não conta, o que conta é o tempo e, medem a distância de uma povoação a outra pelo tempo, não pela distância, ei-nos na povoação de Haines Junction, que marca o “Historic Milepost 1016”, que também começou a ter alguma visibilidade por altura do ano da construção do “Alaska Highway”, sendo neste momento um importante encontro de duas estradas, pois daqui segue a estrada número 3, com destino ao sul da província de Yukon. Antes, dizem que por mais de dois mil anos, era um campo de caça e pesca que o povo, “Southern Tutchone”, usava em algumas estações do ano.


E como já dissemos, também passado algum tempo, ainda de dia, embora fossem já 9 horas da noite, chegámos de novo ao pequeno óasis no deserto, que é a cidade de Whitehorse, que marca o ”Historic Milepost 918”, da qual já falamos anteriormente, onde depois de visitar o Centro de Turismo, procurámos comida e dormida, onde se pudesse tomar banho e dormir com algum conforto.


Já agora, queria lembrar que o trajecto que hoje fizemos, entre a cidade Tok, no estado do Alaska e a cidade de Whitehorse, na província do Yukon, já no Canadá, ficou por fazer, na viagem de ida para o estado no Alasca, pois nessa altura, nesta cidade de Withehorse, desviámo-nos para norte, fizemos o célebre “”Klondike Loop”, que nos levou à cidade de Dawson City, que depois de atravessar, numa jangada o rio Yukon, entrámos na estrada que chamam “Top of the World Highway”, onde fizemos a fronteira com o estado do Alaska, em direcção à cidade de Tok.

Neste dia, percorremos 452 milhas, com o preço da gasolina, variando entre $1.66 e $1.82

Tony Borie, Agosto de 2014.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13861: Bom ou mau tempo na bolanha (73): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (14) (Tony Borié)