sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14275: (Ex)citações (261): Uma coisa posso dizer com clareza: o povo guineense é um povo digno de admiração (Manuel Joaquim, membro da ONGD Ajuda Amiga)









Fonte: Solidariedade - Para Amizade Sovieto-Africana, boletim de informação, agência Novosti, 8, 1969, p.4. (Material apreendido ao PAIGC em Nhacobá,. Região de Tombali, Guiné, em maio de 1973 (*).. Coleção de António Murta [ex-alf mil inf , Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74]

Foto: © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição de CV]



Sintra > Azenhas do Mar > Setembro de 1977 > Adilan, o menino balanta-mané que o Manuel Joaquim trouxe da Guiné em 1967 e que criou como se fosse seu filho... Aqui,com as suas "manas"... Hoje, o José Manuel S. C., com 54 anos, casado, pai de filhos, é cidadão português e está plenamente integrada da sua segunda pátria.

Foto: © Manuel Joaquim  (2010). Todos os direitos reservados.



Cascais > Janeiro de 2011 > Quando fez 50 anos, em 12 de janeiro,  o Adilan [, José Manuel S.C....] com as suas "manas", não de sangue mas de afeto... Uma belíssima história, já aqui contada e recontada, e que na começa num operação militar ao Morés (**)...

Foto: © Manuel Joaquim  (2011). Todos os direitos reservados.



1. Comentário de Manuel Joaquim (***) [, membro da ONG Ajuda Amiga,  ex-fur mil  armas pesadas, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67; padrinho do "Adilan, nha minino";  professor do ensino básico, reformado; por todas as razões, talvez o camarada da Tabanca Grande que menos de lições precisa de dar e receber  em matéria de afetos lusoguineenses...]

Vamos aos afectos, queridos camaradas da Guiné! (Veem como estou afectuoso?) Falo por mim que de afectos é o que mais preciso agora, neste momento de opinar.

Isto de levar a dianteira em matéria de afectos será complicado de gerir pelos sujeitos da afeição:"Quero lá eu saber se aquele chegou em 1º ou em último lugar; agrada-me é que gostem de mim, o resto é lá com eles".

Bem, não dirão nada pois não terão conhecimento desta tão agradável notícia, digo eu.

O objectivo é saber se há uma relação afectuosa entre alguns (muitos, poucos?) portugueses e os guineenses. Porque entre os dois conjuntos, "povo português" e "povo guineense", duvido que alguém consiga avaliar essa relação. E penso que, a ser avaliada, não obteria uma posição de relevo se comparada com a de outros povos ditos amigos da Guiné-Bissau.

É verdade que tenho afeição ao povo guineense mas este inquérito não é sobre afectos individuais.
Começo já por dizer que concordo totalmente que "em matéria de afectos e em relação aos guineenses, levamos a dianteira ....". 

Mas agora me pergunto: Qual a posição nessa dianteira? Encostados, mais ou menos perto ou muito à frente do segundo lugar?

Não sei responder. Russos, chineses, cubanos, suecos, etc.etc., actuaram na guerra colonial em favor do povo guineense?

Aceitando a linguagem política da questão, digo que sim, que actuaram na retaguarda, na formação militar e ideológica e na logística da guerra do PAIGC, alguns a participarem directamente nos combates (quase só cubanos).

Ajudaram sob o signo da amizade? Ajudaram, sim. Mas não o fizeram só pela amizade (ficava-lhes caro demais). 

As «Associação de Amizade X - Guiné-Bissau», (sendo, por exemplo, X o nome de um dos países ajudantes) parecem querer dizer que sim mas a Amizade" talvez seja o último dos objectivos a atingir pelos parceiros da Guiné-Bissau. Há outros, económicos e estratégicos, mais importantes e prioritários. De resto a chamada "amizade entre os povos", notariada em cerimónias diplomáticas, é quase sempre fantasia para uso político-económico, onde os afectos não contam.

Na dianteira dos afectos vão os portugueses. Acredito, mas até quando?

Afinal o que é que nos liga à população guineense, qual foi o "cimento" e o adubo desses afectos?
Penso que o "cimento" foi a guerra colonial e o adubo tem vindo a ser distribuído desde o início da guerra. Mas não podemos equiparar à realidade actual o grau afectivo das relações entre muitos dos antigos combatentes portugueses e a população guineense com quem conviveram. E é o que pode acontecer quando se escrutinarem os resultados desta consulta, pois quer-me parecer que haverá gente a responder pensando "particular" (em si) e não "global".

Esta afectividade ainda existente, não sei em que grau, deve muito aos afectos nascidos durante a guerra e presentes na memória de muitos dos participantes nessa guerra ainda vivos, combatentes ou não, militares ou civis.

Mas o tempo não perdoa. Muitos dos usuários dessa memória, a maior parte deles guineenses, já morreram. Por isso não acredito que os laços afectivos se tenham vindo a fortalecer apesar de não ser difícil encontrar notícias de afectividades recentes resultantes dos contactos de cidadãos portugueses que têm visitado a Guiné nos últimos anos. Tenha-se em atenção que muitas destas afeições são interesseiras, só existem no discurso: "a necessidade aguça o engenho!".

Creio que esta relação afectiva não é igual de parte a parte. Será mais forte do lado guineense do que do lado português. O desenrolar da vida política, social e económica da Guiné tem sido um desastre desde a sua independência. Como não admitir que o povo sabe fazer comparações sobre a sua situação entre os tempos de antes e o pós-independência?

 Afinal o que é que liga à Guiné, afectuosamente, muitos dos antigos combatentes portugueses?
Será a recordação dos tempos difíceis e das situações aflitivas por que passaram, dos momentos de camaradagem, de alegria e de sofrimento, das marcas deixadas pela guerra e que, para o bem e para o mal, não se apagaram?

Serão as memórias da sua juventude passada na Guiné, para muitos deles tempos de muitas dificuldades mas também tempos de revelação de si próprios,  das suas capacidades e do comportamento humano perante o bem e o mal, tempos de descoberta de outros "mundos", de outros lugares, de outro(s) povo(s) com seus usos e costumes?

Será para alguns a lembrança da ternura e da afabilidade sentidas nos momentos de convívio com a população que os rodeava, contrapondo esses consolos aos momentos de tristeza e medo, provocados pela guerra para onde foram obrigados a ir e de onde regressaram (os que regressaram) muito diferentes do que eram quando lá chegaram?

Procurar conviver com a população foi para muitos um objectivo facilmente cumprido pois o povo que os "recebeu" tinha, em geral, um comportamento não conflituoso com os militares. Era mais frequente mostrar afabilidade que indiferença. Sinais visíveis de desprezo seriam raros, o que não quer dizer que não pudessem existir em número mais elevado. Mas também havia sinais de dedicação e de sacrifício no apoio a muitos militares portugueses.

A afectividade ainda hoje existente nasceu de tudo isto?

Os afectos que muitos dos ex-combatentes têm por muitos guineenses poderão assentar nestas recordações de uma terra estranha para onde foram lançados e onde se viram obrigados a situarem-se de modo a lhes ser mais fácil alimentar a esperança de regressarem, vivos e inteiros.

Procurando um ponto de equilíbrio, conscientemente ou não, criaram laços, criaram amigos, "forçaram" relações pessoais e/ou aceitaram de bom grado outras delas, entraram de cabeça, uns, de mansinho e receosos outros. E assim conviveram sem sobressaltos de maior com o povo que lhes rodeava os aquartelamentos.Quem perde a memória feliz daqueles momentos?

 Durante algumas centenas de anos não houve naquela terra qualquer tipo de convívio social de portugueses com a generalidade da população da Guiné. Não me admira nada, os tempos eram outros, a visão centralista europeia olhava os povos africanos não como seus semelhantes mas como seus servidores. Portanto não acuso ninguém.

Não houve convívio mas houve muitos conflitos violentos, guerras mesmo.

Algumas relações sociais existiram mas para permitir acordos de negócios entre as partes, entre o poder colonial, oficial ou particular, e o dos chefes tradicionais locais. Acordos estes que variavam "conforme os ventos".

Outras relações, entre patrões e serviçais, entre dominadores e dominados, "colonos" e "colonizados", estavam assentes em posições de domínio absoluto do mais forte.

O poderem ter acontecido relações afectivas, pontuais e muito limitadas no tempo, no espaço e na sua abrangência, não me leva a dizer que as relações do poder com a população criaram afectos que se foram cimentando no decorrer do tempo. Não se acusa ninguém, há que ter em conta a relatividade histórica na análise do comportamento das sociedades.

Para que serve, então, bater na tecla das relações de amizade com os povos da Guiné, de há 500 anos para cá? Não serve nada, deixemos esta balela para gestão política.

Relações de amizade? Não estou a falar de relações sociais, amigas ou não, entre reduzidos números de portugueses residentes e algumas entidades gentílicas. 

Falo dos afectos resultantes da convivência diária, da partilha de vivências, da aculturação mútua surgida de contactos mais duradouros que foi o que se verificou em muitos lugares durante a guerra colonial de 1963/74.

A ida para a Guiné de tantos militares transportando a diversidade cultural existente na sociedade portuguesa, proporcionou ao povo guineense o ter alguma noção do que é "ser português" (o povo não é burro). Apesar de andarem de armas na mão, estes militares, não se pareciam com os antigos que, há séculos, se vinham sucedendo muitas vezes lançados ao deus-dará e a assumirem o poder colonial sem que para isso estivessem preparados nem mandatados, decididos a serem obedecidos a qualquer preço, na satisfação dos seus caprichos e ambições.

E quanto ao futuro?

Vai havendo bom trabalho, feito por organizações portuguesas e guineenses. Mas é pouco. Sei alguma coisa do que falo. Sabemos, aqui no blogue, de algumas associações e do seu trabalho na manutenção deste ambiente solidário e amigo entre muitas pessoas da Guiné e de Portugal. Convivo regularmente com guineenses, alguns deles antigos militares portugueses.

A base de sustentação dos afectos está, principalmente, nos antigos combatentes na Guiné e em poucos mais. Mas estes poucos mais não são  "pouco", são o sinal de que a solidariedade afectiva não morreu. Na Guiné sucede o mesmo. Há muita gente que gosta dos portugueses mesmo que políticos de serviço tenham algumas vezes afirmado o contrário. A população que conviveu com os militares portugueses não os esqueceu.

Não deixámos más memórias ao povo com quem convivemos. Isto na generalidade pois pode sempre haver "fruta podre nas caixas". Mas o povo não é estúpido em lugar nenhum do mundo, ainda que muita gente o afirme.  E, normalmente, sabe relativizar os acontecimentos, princípio básico necessário à sua sobrevivência com alguma dignidade social.

E uma coisa posso dizer com clareza: O povo guineense é um povo digno de admiração.

Agradecendo a quem se deu ao trabalho de ler todo este meu "discurso" um pouco atabalhoado. (****)

Abraços para todos
Manuel Joaquim
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14226: A guerra vista do outro lado... Documentos apreendidos ao PAIGC em Nhacobá em 17 de maio de 1973 - Parte I (António Murta, ex-alf mil inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

(**) Vd. poste de:

 10 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7261: História de vida (32): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 1ª Parte (Manuel Joaquim)

12 de novembro de 2010 >  Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)

(***) Vd. poste de 11 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14240: Sondagem: somos um povo de afetos ? Resultados preliminares (n=70): 80 % dos respondentes "concordam totalmente", com a proposição segundo a qual "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14274: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (3): Abertura das inscrições e outras informações complementares

Monte Real, 14 de Junho de 2014 > Foto da Grande Família do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné
Foto: © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados.


X Encontro Nacional da Tertúlia

Mensagem da Organização

Estão abertas as inscrições

Definitivamente estamos a arrancar com a Operação Monte Real 2015.

A partir de hoje, e até ao dia 10 de Abril, aceitaremos as inscrições da tertúlia e demais combatentes da Guiné, assim como de seus familiares e/ou amigos, que queiram participar no X Encontro Nacional da Tabanca Grande, a levar a efeito no próximo dia 18 de Abril, no Palace Hotel de Monte Real.

Como dissemos no último Poste, o Hotel vai manter o preço do almoço dos anos anteriores, 30€ para adultos e 15€ para os mais pequenos, lanche incluído. 

É também disponibilizada a hipótese de os participantes pernoitarem no Palace Hotel de Monte Real pelos preços de:
Quarto duplo - 60€
Quarto Single -  55€
Pequeno-almoço incluído.

A reserva para pernoita deve ser feita só através da Organização do Encontro, sendo confirmada, logo que possível, de acordo com a disponibilidade do Hotel.

Voltamos a lembrar que no acto da inscrição devem identificar a/o vossa(o) acompanhante, mencionarem de onde se deslocam e se querem pernoitar no Hotel.

Como sempre, pedimos que não se deixem para tarde para facilitarem a vida a quem tem em mãos a coordenação das reservas para o Hotel e das inscrições para o almoço, no caso, o nosso camarada e amigo Joaquim Mexia Alves.

Este ano o camarada Miguel Pessoa vai enviar aos participantes no X Encontro um modelo de crachá, personalizado, que servirá também para futuros Convívios e outras ocasiões onde os seus possuidores se queiram identificar como pertencentes à Tertúlia do nosso Blogue.
Futuramente estes mesmos crachás serão enviados só a novos participantes dos nossos convívios ou a quem o solicitar.

O camarada Joaquim Mexia Alves, a exemplo dos dois últimos anos, vai diligenciar no sentido de ser celebrada, pelas 11h30, uma Missa de sufrágio pelos nossos camaradas e amigos caídos em combate e pelos que nos foram deixando ao longo do tempo depois de cumprir as suas missões terrenas.

Em tempo: 
Está confirmada Missa às 11h30 na igreja matriz de Monte Real, celebrada pelo Padre David Nogueira, pároco de Monte Real. 
O Pe David, é um homem novo e conhece África pois já esteve como missionário em Angola, recentemente.

Após a Missa será efectuada a foto de família.

Relembramos que este Convívio é destinado à tertúlia do nosso Blogue, acompanhantes por eles inscritos (amigos e/ou familiares), extensivo também a todos os camaradas que tenham cumprido a sua comissão de serviço na Guiné, ou a pessoas que de alguma maneira se sintam ligadas à actual Guiné-Bissau, por exemplo: cooperantes, naturais e outros.
A Organização poderá rejeitar a inscrição de pessoas que não se encontrem nas condições acima descritas.

Continuamos ao vosso inteiro dispor no email carlos.vinhal@gmail.com para qualquer esclarecimento adicional.

OBS: - Se eventualmente já se inscreveram e o vosso nome não consta da lista que se segue, por favor reinscrevam-se.

Albano Costa e Maria Eduarda - Guifões/Matosinhos
António Osório, Ana e Maria da Conceição - Vila Nova de Gaia
António João Sampaio e Clara - Leça da Palmeira/Matosinhos
Carlos Alberto Cruz, Irene e Paulo Jorge - Oeiras
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira/Matosinhos
Coutinho e Lima - Lisboa
João Alves Martins e Graça - Lisboa
João Sacoto e Aida - Lisboa
Joaquim Mexia Alves - Monte Real
Lucinda Aranha e José António - Torres Vedras
Luís Graça - Alfragide
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa
Ricardo Sousa e Georgina - Lisboa

Os Organizadores:
Luís Graça
Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal

E M E N T A

____________

Nota do editor

Poste anterior de 6 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14124: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, 18 de Abril de 2015 (2): Divulgação da Ementa, preços, prazos para as inscrições e outras informações (Joaquim Mexia Alves / Miguel Pessoa / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P14273: (Ex)citações (260): Posso afirmar com conhecimento de causa que muitos deles se sentem “guineenses de Portugal” e eu sinto-me "português da Guiné" (José Teixeira)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > 2 de maio de 2013 > O nosso camarada Zé Teixeira, "régulo" da Tabanca Pequena de Matosinhos,  com o régulo de Medjo, na sua última viagem à Guiné-Bissau.


Foto: © José Teixeira (2014). Todos os direitos reservados



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > Tabanca Lisboa > 2005 > O José Teixeira com o chefe da tabanca e a sua lindíssima filha. "Um feliz reencontro. Regresso às origens em 2005. Encontro com um Português da Guiné, antigo paraquedista, que tem uma linda história para ser contada, pelo que sofreu e como consegui iludir o PAIGC para sobreviver à chacina de antigos combatentes portugueses".

Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados


1. Comentário do José Teixeira José [ ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatáe Empada, 1968/70; membro fundador e animador da Tabanca de Matosinhos]:

Em matéria de afetos, não tenho dúvidas que estamos à frente, a muitas léguas de todos os povos que acidentalmente passaram pela Guiné. Digo acidentalmente, porque na realidade só houve um povo, o português, que deixou raízes. Foram quinhentos anos de vida em comum. Houve violências de parte a parte e os últimos doze anos de convivência foram terríveis por um lado e exemplares por outro, quando tratávamos as populações que estavam do nosso lado com respeito e as defendíamos de um inimigo comum.

Confesso que quando lá voltei em 2005 pela primeira vez, ia preocupado com a possível reacção dos guineenses, afinal eu tinha sido um "tuga", mas fui desarmado logo na fronteira, com o sorriso do guarda, que me perguntou onde estive no tempo da guerra e ao saber que estive em Buba, retorquiu: "Então conheceste o meu irmão que foi soldado milícia em Buba". Confesso que me senti, de imediato, em casa, e é assim que me sinto, quando aterro em Bissalanca.

Outras vezes se sucederam. A ligação ao povo português é de irmão para irmão. Antigos guerrilheiros abraçam com mesmo calor, que antigos soldados do exército português, qualquer de nós. É evidente que as conversas são naturalmente diferentes, mas já vi mais que uma vez, antigos "turras" a analisarem, com visitantes portugueses, no terreno, sem "paixões" acontecimentos que forma vivenciados em campos opostos. E também já senti na pele e de lágrimas nos olhos o prazer de abraçar inimigos do terreno que se cruzaram comigo, analisaram comigo os acontecimentos vivenciados, pediram “discurpa” e pediram para a partir dessa data sermos “ermons”,  é gente que acabada a guerra, voltou às suas terras, fez a paz com os familiares que estavam da outra banda e continuaram a construir o futuro.






Guiné-Bissau  >  Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de  2013 > "O Francisco Silva  mais um antigo guerrilheiro do PAIGC, procurando localizar pontos de guerra comuns". [ Companheirop de viagem do Zé Teixeira, em 2013 (**), o Franscisco, hoje cirurgião,  esteve no Xitole, como laf mil, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973]

Foto (e legenda): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados


As marcas que ficaram da guerra colonial estão a desaparecer ao ritmo do desaparecimento prematuro dos combatentes guineeses. Nós, portugueses,  temos uma vida mais longa. Os guineenses mais novos, naturalmente, como os nossos filhos estão insensíveis à guerra, mas o testemunho que ficou é, a meu ver, pelas experiências que já tive nas várias visitas que fiz à Guiné, extremamente positivo em relação aos portugueses. O sonho deles é vir para Lisboa.

A luta, de facto, não era contra o povo português, mas contra o regime e Amilcar Cabral conseguiu passar bem esta ideia, tendo como colaboradores diretos os nossos soldados, a começar pelo Governador Spínola que colocou o povo guineense em primeiro lugar, apesar da luta que se travava.
Recordo por exemplo as palavras do tabanqueiro Zé Belo, meu comandante, ao chegar a Mampatá. Foi mais ou menos isto. "rapazes,  se tratarmos bem esta gente, seremos bem tratados e respeitados e eu quero levar-vos todos para casa daqui por dois anos. Se receber alguma queixa da população, o desgraçado comerá com toda a justiça do RDM que eu lhe puder dar".

E ao fim de 6 meses quando fomos deslocados para Buba, a população veio despedir-se de nós junto à saída para a picada.

Foram marcas como estas que vingaram. Éramos duros e agressivos no mato. Reagíamos com violência aos ataques do inimigo, mas tratávamos bem a população que estava connosco.
Hoje, posso afirmar com conhecimento de causa que muitos deles se sentem “guineeses de Portugal” e eu sinto-me "português da Guiné". (***)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de 8 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14234: Sondagem: opinião "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"...




Guiné 63/74 - P14272: Inquérito online: 88% está de acordo com a proposição segundo a qual "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"







Lisboa > 5 de janeiro de 2015 > Um dos mais célebres murais de "street art" de Lisboa > "O  androide dos artistas VHILS e  PIXEL PANCHO

"Depois de esculpir rostos pelas ruas de Lisboa, o artista Alexandre Farto (mais conhecido por “Vhils”) juntou-se ao artista italiano Pixel Pancho e passou quatro dias a trabalhar numa obra junto ao rio no Jardim do Tabaco. O mural mistura o estilo dos dois, com figuras robóticas que são a imagem de marca de Pixel Pancho, e um típico rosto esculpido por Vhils. Foi assim criada uma imagem de um androide destruindo um barco com a mão, e quem for vê-la de perto poderá também deparar-se com barcos verdadeiros, pois a obra encontra-se junto de um dos terminais de cruzeiros da cidade." (Fonte: LisbonaLux.com)

Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.

A. Resultados finais da nossa última sondagem (*)


1. Concordo totalmente  > 87 (80,6%)

2. Concordo em parte  > 8 (7, 4%)

3. Não concordo nem discordo / Não sei  > 7 (6,5%)

4. Discordo em parte  > 2 (1,8%)

5. Discordo totalmente  > 4 (3,7%)

Votos apurados: 108

Sondagem fechada em 15/2/2015, 15h

B. Alguns comentários (a desenvolver em postes posteriores) (*):


(i) Carlos Vinhal:

(..:) Pressupõe-se que temos de responder como portugueses e não na qualidade de ex-combatentes.
Surge-me uma pergunta, por que se põe esta questão em relação à Guiné e não a Angola ou a Moçambique onde residiam mais portugueses (da metrópole) e o número de combatentes foi muito maior?  Que diz a Guiné em relação aos normais portugueses? Lembram-se de quando éramos mobilizados para a Guiné, aqui tão perto, as pessoas ficavam mais aterrorizadas do que se fôssemos para o distante território de Timor, lá do outro lado mundo?

Estou-me a lembrar de que nos primórdios dos anos 80, Matosinhos se geminou com Mansoa. Pergunto, quem da minha cidade saberá onde fica Mansoa? E o que fez Matosinhos por Mansoa?
Quebrando o sagrado segredo de voto, digo que respondi que não sabia, porque como português não sei da qualidade dos afectos dos meus compatriotas para com os guineenses. Se fosse sobre o meu afecto, enquanto ex-combatente, a isto sim saberia responder. (...)

(ii) Cherno Baldé (Guiné-Bissau):

(...) A semelhanca de alguns intervenientes, acho que esta sondagem só pode ter interesse na medida em que seja considerada simplesmente pedagógica e, ainda assim, ficam muitas questoes sem resposta, dependendo da posição o em que nos situamos e da perspectiva que temos do assunto, desde o mais pessimista aos mais positivos ou sentimentais.

(...) Eu não votei, na mesma linha que o Carlos porque, também, não sei qual a afeição que o povo português nutre em relação ao povo guineense, para além da evidente necessidade de encontrar um refúgio temporário que se transformaraá em definitivo mesmo se a Europa não levar a cabo a presente integração forçaada com capa de laicidade e de republicanismo que nunca existiram. (...)

(...) Quanto aos paises citados, podemos falar, sim, de afectos em relação aos Cubanos, mas duvido que o mesmo se possa dizer dos Russos e Suecos que são povos simpaticos, mas não conhecem o nosso povo, a nossa realidade e só ouviram falar de longe. Com os portugueses é diferente, foi uma relação difícil mas que deixou marcas que ninguém pode ignorar. (...)

(iii) António Rosinha: 

(...) Na Guiné ou em outra ex-colónia, quando algum cidadão desses países tem algum bom relacionamento com portugueses, corre o risco de os vizinhos ou colegas o alcunharem de "lacaio" ou mesmo no caso do crioulo "catchurro" do tuga.

Com o tempo esse risco pode diminuir, mas devido ao discurso político urdido por conveniências políticas, ainda vai demorar uns tempinhos ao estigma colonial desvanecer. (...)

(iv) José Belo (Suécia):

(...) Afectos entre povos em busca de graduações valorativas?

Nos exemplos apresentados,(portugueses, russos, chineses, cubanos,suecos, alentejanos, etc) aspectos menos platónicos não deveräo ser escamoteados. "Com carinho e com afecto" do luso-tropicalismo,ou "com economia e com afecto" à sueca? (...)

(v) António José Pereira da Costa:

(...) Olá,  Luís. Estou como disse o Beja Santos: continuas a provocar o "nativo". É bom. Para ver se isto aquece e o debate se instala, mas acho que as "declarações de voto" que acabo de aqui ver resumem muito bem a situação.
É certo que só os velhos e ainda por cima que passaram pela Guiné é que votam. Há um indício técnico para que quero chamar a tua atenção. Neste momento há convívios de ex-combatentes em que as mulheres vão para uma mesa e os maridos para outra.  Isto significa que elas, que nunca lá foram (...), começam a ter dificuldade em se rever no fenómeno e que os "ex-" estão cada vez mais sozinhos na sua nostalgia. (...)

(vi) C. Martins:

(...) Nem é preciso sondagens...digo eu. Quem já lá foi após a independência e desde que os tratemos com respeito manifestam-nos a sua profunda amizade e até os próprios guerrilheiros do PAIGC  pedem desculpa: "era a guerra" dizem ... mas agora podemos ser amigos. Falo obviamente da população, porque os "políticos"... sobre esses estamos conversados. (...)


(vii) Vasco Piers (Brasil):

(...) Dizes bem, Luís, mais exploradores que conquitadores.  Ousaria dizer, que somos o povo de um pequeno País de costas voltadas à Europa que precisou de buscar a sua subsistência (a partir do século XV) no mar e pelo mar.  Desde Ceuta,andamos por aí,em busca "do pão " que rareava em casa.  As feitorias, o ouro da Mina, os escravos, a "pimenta " da Índia, o ouro do Brasil, a volta a África, sempre em busca da subsistência como povo, e consequentemente da nossa existência como Nação.

Após a morte do nosso "último Imperador",e com o fim do sonho Imperial, voltamos á Europa,e parece que não deu muito certo.  Nessa nossa saga através dos mares,até longínquos povos,tivemos um relacionamento "sui generis" com esses povos, bem diferente dos nossos nossos vizinhos do Norte.  Miscigenamo-nos,como já tínhamos feito com Bérberes e Semitas,na África, na Ásia, na América, logo a nossa relação afetiva com outras gentes,foi necessariamente diferente da de outros colonizadores.

Melhor? Pior? Será que compete a nós dizê-lo? (...) (*)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14271: In Memoriam (219): Faz hoje um ano que o Pepito nos deixou, demasiado cedo, sem tempo para se despedir dos muitos amigos que tinha (e continua a ter) pelo mundo... Vamos recordá-lo numa documentário que a RTP2 passou em 2011 ("Eu Sou África - Carlos Schwarz da Silva, Episódio 10")... E vamos fazer força para que o seu nome passe a ser recordado numa rua de Bissau



Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA > 6 de setembro de 2007 > Engº Agrº Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014).

Pepito, para sempre! (*)...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.


Portugal > Alcobaça > São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro  > c. 1957 > O pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), com os filhos,  da esquerda para a direita, João, Iko e Carlos (1949-2014).  Cortesia de João Schwarz da Silva, que nos diz que a data deve ser "provavelmente 1957"... Teria então o Pepito (, nascido em Bissau, em 1949) os seus oito anos...

Foto (e legenda): © João Schwarz da Silva  (2015). Todos os direitos reservados.




São Martinho do Porto > Estrada do Facho > 7 de Agosto de 2008 > Casa do Cruzeiro, a casa de verão de Carla Schwarz da Silva, mãe do nosso saudoso amigo Carlos Schwarz (Pepito) (1949-2014)...
 Uma vista fabulosa da baía de São Martinho do Porto, a partir da janela do quarto que era, na altura, do Pepito e da Isabel Levy Ribeiro.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro > 7 de Agosto de 2008 > Casa de verão de Carla Schwarz da Silva, mãe do nosso saudoso amigo Carlos Schwarz da Silva (Pepito) (Bissau, 1 de4 dezembro de 1949 - lisboa, 18 de fevereiro de 2014). Na foto, mãe e filho.

O Pepito vinha todos os anos,com a família, passar férias nesta casa de praia, em agosto. Adorava estar horas, em amena cavaqueira coma família e os amigos, á sombra dos pinheiros da casa. A casa era já secular, tendo  pertencido a um conhecido ator do teatro de revista, de Lisboa. O avô do Pepito, Samuel Schwarz, comprou-a e ofereceu à fillha, em meados dos anos 30, se não erro.  Artur Augusto Silva foi advogado em Alcobaça e em Porto de Mós no pós-guerra. O casal viveu em Alcobaça entre 1945 e 1949, antes de partirem para a Guiné (ele, em finais de 1948 e o resto da família em 1949). Foram amigos pessoais e visitas de casa do pintor Luciano Santos (Setúbal, 1911-Lisboa, 2006).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



Lisboa > 1950  > Em primeiro plano, o Carlos, ainda bebé, mais os irmãos Henrique (Iko) e João.

Foto: © António Lopes (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.Todos os direitos reservados.


1. Morreu faz um ano, hoje... De repente, demasiado cedo,  sem se poder despedir da  vida e dos muitos amigos que tinha pelo mundo...  Tinham vindo a Lisboa para celebrar os 99 anos da mãe (a 14 de fevereiro de 2014) e fazer exames médicos... Morreu 4 dias depois...

Sentimos todos a sua falta... Vamos recordá-lo numa documentário que a RTP2 passou em 2011...

Carlos Schwarz da Silva | 09 Abr, 2011 | Episódio 10

http://www.rtp.pt/play/p663/e43062/eu-sou-africa



Ficha Técnica:

Género: Documentário
Produção: Vitrimedia;
Realização: Maria João Guardão


Sinopse:

Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em [Bissau], em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. 

Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de Estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento. Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um “homem grande”. 

"Eu Sou África” é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP: Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de uma africana ou africano implicado na história e no desenvolvimento social, político e cultural do país onde nasceu. “Eu Sou África” revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser.

(Fonte: RTP, com a devida vénia)

2. Comentário de L.G. (**):

O Pepito (1949-2014) foi, em 2011,  uma das vinte personalidades escolhidas pela realizadora do programa "Eu Sou África", Maria João Guardão, para ilustrar a ideia de que a África, a África dorida e sofrida de ontem e de hoje, é um continente de esperança e de futuro.

O programa, em dez episódios, passou na RTP2, e na RTP África. Em  9/4/2011, a realizadora do programa, Maria João Guardão, mandou-nos uma sinopse do vídeo do episódio nº 10, com uma simpática  mensagem  dirigia ao nosso blogue no dia em que o filme passou na RTP2:

 (.,..) Sou realizadora de uma série documental - Eu Sou África - , cujo último episódio se mostra hoje [, sábado,] na RTP2, 19h. Sucede que este último episódio se fez com e à volta de Carlos Schwarz da Silva, Pepito, e dos seus. E sucede ainda que a primeira vez que li a historia da vida dele foi no auto-retrato publicado na sua Tabanca [, vd. A sombra do pau torto, por Carlos Schwarz] (...)

Um ano depois da sua morte sabemos que há gente que o amava e admirava que está a fazer esforços para perpetuar o seu nome numa rua de Bissau. Foi a boa notícia que há dias nos deu a Catarina Schwarz:

(...) A minha avó em tempos e em tom de desabafo, disse que gostaria de ver o nome do meu pai numa rua de Bissau. Nós começamos a tratar desse assunto junto à Câmara Municipal de Bissau e ao que parece a Associação de Moradores de Quelelé [, bairro onde a AD tem a sua sede e fica a casa de família] teve a mesma ideia e intenção. Vamos muito provavelmente unir esforços para que isso aconteça. (...)

Vamos também juntar os nossos pauzinhos e dar força a esta iniciativa. A Guiné e a África precisam de exemplos de vida como a deste  homem com quem tivemos o  privilégio de conviver e que contava, na nossa Tabanca Grande, com bastantes amigos, gente que o estimava e admirava(**)

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 18 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14262: In memoriam (218): morreu um "homem grande", o nosso camarada Amadú Bailo Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), que fez parte do Batalhão de Comandos Africanos e da CCAÇ 21, um combatente valoroso e um homem de valores (Virgínio Briote)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14269: Agenda cultural (376): Sessão de apresentação do Projecto "MGF, NÃO", dia 19 de Fevereiro de 2015, a partir das 14h20, no Edifício Municipal, Campo Grande n.º 25, Lisboa (Beja Santos)

C O N V I T E

SESSÃO DE APRESENTAÇÃO PROJECTO "MGF, NÃO", DIA 19 DE FEVEREIRO DE 2015, A PARTIR DAS 14H20, NO EDIFÍCIO MUNICIPAL, CAMPO GRANDE, 25 - SALA 1, LISBOA


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Notas do editor

MGF - Mutilação Genital Feminina, vd. os sítios da APAV e da Aministia Internacional Portugal

Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14265: Agenda cultural (379): Apresentação do livro "Dois Destinos, Dois Amigos", de José Alvarez, dia 19 de Fevereiro de 2015, pelas 18h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa

Guiné 63/74 - P14268: Historiografia da presença portuguesa em África (54): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: monumentos - Parte II (Mário Vasconcelos): o moderno aeroporto de Bissau e o cais do Pidjiguiti




Guiné > Bissau > 1956 > O modermo aeroporto de Bissau e o cais do Pidjiguiti...

Imagens de zincogravuras, reproduzidas, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Digitalizações: Mário Vasconcelos (2015). [Edição: LG]


Guiné > Bissau > s/d > Aeroporto Craveiro Lopes. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 121". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL).


Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações e edição: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


1. As duas imagens de cima, a preto e branco, são uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição da revista Turismo, no espólio do seu falecido pai.

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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P14267: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat (Virgílio Valente / Wai Tchi Lone, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau,, há mais de 2 décadas;  ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; foto atual à esquerda; agradecemos e retribuímos os votos de  Feliz Ano Novo Chinês, e fazemos, da nossa partem votos para que seja no ano da Cabra que o nosso camarada Wai Tchi Lone nos mande as prometidas fotos de Gampará ou do tempo da tropa para a gente formalizar a sua entrada na Tabanca Grande]:


Data: 16 de fevereiro de 2015 às 16:31

Assunto: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat


Feliz Ano Novo Chinês
Happy New Year
新年快樂
Boa Saúde
Good Health
身體健康
Kung Hei Fat Choi
恭喜發財



«如果你想要去的快,一個人去! 如果你想要走多遠,走起來!»

«Se quer ir depressa, vá sózinho!   Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)

«If you want to go fast, go alone!  If you want to go far, go together!» (African Proverb)

Guiné 63/74 - P14266: Convívios (650): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 15 de Março de 2015, na Batalha (Delfim Rodrigues)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14180: Convívios (649): Rescaldo do último Encontro da Magnífica Tabanca da Linha levado a efeito no passado dia 22 de Janeiro de 2015 (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P14265: Agenda cultural (375): Apresentação do livro "Dois Destinos, Dois Amigos", de José Alvarez, dia 19 de Fevereiro de 2015, pelas 18h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa

Convite para a apresentação do livro "Dois Amigos, Dois Destinos" de José Alvarez, Editora Âncora, a ter lugar no próximo dia 19 de Fevereiro pelas 18h30 na Livraria Ler Devagar, em Lisboa.

A obra será apresentada pelo Eng.º Fernando Tabanez Ribeiro e pelo Dr. Mário Beja Santos.


Sinopse:
A trama inicia-se em Cabo Verde, num cenário de intrigas da aristocracia colonial e da relação de poder com os locais. Com a Guerra Colonial em pano de fundo, a acção desloca-se mais tarde para a Guiné e, finalmente, para Lisboa, onde o jovem guineense universitário Eduardo conhece Joana, por quem se enamora, e o companheiro de estudos Tomás, que, tal como ele, é jogador de rugby.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14244: Agenda cultural (378): A banda musical "Melech Mechaya" [leia-se: o rei da festa...] vai animar a longa louca noite de "Sexta-feira 13", em Montalegre, a rija capital do Barroso e do misticismo... Vivam os folgazões e prazenteiros barrosões! Vivam os nossos camaradas transmontanos!

Guiné 63/74 - P14264: Notas de leitura (682): "Guerra Colonial - Fotobiografia", por Renato Monteiro e Luís Farinha, Publicações D. Quixote (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Maio de 2014:

Queridos amigos,
Muitos dirão que a substância desta fotobiografia está completamente ultrapassada. Atenda-se, porém, ao facto de que nos anos 1990 ainda não tinha aparecido um documentário sequenciado sobre a guerra, repertoriando acontecimentos, protagonistas, ações de guerra dos dois lados, apreciações do quotidiano, as orquestrações da propaganda e, enfim, a descolonização.
João de Melo escreveu então com propriedade: “Com exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual”.
Este panorama mudou drasticamente, como diariamente podemos testemunhar, aqui, no nosso blogue, porventura a mais vasta fotobiografia jamais organizada por largas centenas de figurantes que, sem qualquer rebuço, falam de si e do que experimentaram. Mas, apesar de tudo, esta Fotobiografia foi um empreendimento editorial cuja importância não se pode iludir como peça histórica.

Um abraço do
Mário


Guerra colonial em fotobiografia

Beja Santos

Quase coincidindo com o lançamento de “Os Anos da Guerra”, coordenado por João de Melo, nas Publicações Dom Quixote, e de que já fizemos ampla referência, Renato Monteiro e Luís Farinha lançaram mão a um projeto ao tempo inovador, uma fotobiografia da guerra colonial, desde 1961 até à descolonização. A primeira edição surgiu em 1990 e a segunda em 1998. Edições que foram um êxito, e percebe-se porquê. Ao tempo, ainda não havia nenhuma história da guerra de África, no todo ou na parte. E o estado de alma dos combatentes ainda era de uma grande hesitação: escrever para quê e para quem? Mostrar as recordações com que fito? Daí perceber-se a observação de João de Melo na introdução desta fotobiografia, tenha-se em atenção que foi escrita há cerca de 25 anos:
“Com a exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual. Denunciados por quantos se não conformaram com os lugares, os silêncios, as responsabilidades não assumidas e os preconceitos de um sistema de rasura e de apagamento progressivo das suas consequências, os autores dessas denúncias e análises são ainda hoje objeto de toda a sorte de incompreensões. E, se é verdade que essa guerra modelou o imaginário de muitos escritores e de alguns cineastas portugueses, é pouco provável que ela subsista, no nosso comportamento coletivo, para além de um aparente exercício de ficção”. E a finalizar, o escritor cola-se ao empreendimento que constitui o saber alinhar imagens como ponto de partida para o conhecimento histórico:  
“Somos, muitos e muitos de nós, personagens desta Fotobiografia, colhidos por estes lugares, pelos gestos suspensos dos pequenos e grandes atos, sobretudo pela soma das tragédias que em parte explicam o acaso, a sorte e a certeza de estarmos vivos, rendidos à grande e única paixão que é a vida”.

O documental prevalece sobre o estético, há que entender o início da guerra nas três frentes, os embarques de 1961, os protagonistas de Angola, como Mário de Andrade, Joaquim Pinto d'Andrade ou Agostinho Neto, mostrar as plantações de algodão na Baixa do Cassange, as destruições, o contra-ataque, a propaganda. E neste contexto mostra-se uma imagem rara, uma manifestação patriótica junto do palácio do governador da Guiné, em 15 de fevereiro de 1959, de repúdio pela atitude da Comissão de Curadoria das Nações Unidas, e de seguida o Pindjiquiti, Amílcar Cabral e Nino Vieira. E depois o dealbar da insurreição a cargo da FRELIMO.


O prato substância deste escol de imagens denomina-se ação armada, a guerrilha e a contraguerrilha, picadas, colunas, embarques para operações, patrulhamentos, emboscadas, banda desenhada de caráter épico, desativação de minas, viaturas destruídas, aldeamentos bombardeados, devastações de toda a ordem; e golpes de mão, manuais escolares encontrados nas bases dos rebeldes, páginas de diários, metralhadoras antiaéreas, viaturas destruídas; e Angola em toda a sua complexidade de uma guerrilha com diferentes grupos rivais. E noutro segmento, os autores desdobram-se para mostrar as múltiplas manifestações do ganhar confiança junto das populações: construção de escolas, transporte das populações, reordenamentos, confraternizações, brochuras, panfletos, iniciativas do Movimento Nacional Feminino, olhares dos militares para as carências sobretudo dos jovens. Alguém escreve na Guiné em 1970:  
“À hora da refeição chega o rapazio. Uma vintena. Trazem latas e, depois de se banquetearem com o que sobeja, correm para o rio, onde se refrescam. Todos os dias almoçamos com a imagem da fome diante de nós”.


E temos o incomensurável quotidiano, o confronto com o desconhecido, a mata temerosa, a precaridade dos elementos, a imagem do cansaço, a chegada de feridos ao hospital, a missa campal, os jogos de futebol, voleibol ou cartas, enfim, as lavadeiras, até brinquedos de criança como uma camioneta Berliet feita com paus.

E a fotobiografia culmina com a descolonização, lanchas ajoujadas com os pertences dos militares na hora da abalada até Lisboa.

Esta fotobiografia, para que não subsistam dúvidas, colheu o triunfo graças ao seu ineditismo. Na viragem do século, tudo mudou, a começar pelo panorama editorial, reformados, sexagenários, septuagenários, aperceberam-se que nada tinham a perder em desencadear o coração e a emoção, sucederam-se os blogues, os desabafos nas redes sociais, multiplicaram-se os colóquios, a história contemporânea, mesmo com sérios embaraços, desatou a ouvir os protagonistas. Mas esta fotobiografia é um pilar incontornável do chamamento à atenção entre as gerações, aquelas imagens, para o bem da História, ali estavam cristalizadas e prontas a serem interpeladas. Como foram e continuaram a ser.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14246: Notas de leitura (681): "Os Princípios do Pan-africanismo", por Charles Olapido Akinde e “Os Condenados da Terra”, por Frantz Fanon (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14263: Parabéns a você (861): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil Inf da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1974)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14248: Parabéns a você (860): Senhora Dona Clara Schwarz, Amiga Centenária, Grã-Tabanqueira

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14262: In memoriam (218): morreu um "homem grande", o nosso camarada Amadú Bailo Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), que fez parte do Batalhão de Comandos Africanos e da CCAÇ 21, um combatente valoroso e um homem de valores (Virgínio Briote)

Amadu Bailo Jalo
 (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015)
1. Mensagem do nosso editor jubilado Virgínio Briote:

Data: 15 de fevereiro de 2015 às 13:27
Assunto: Amadú Bailo Jaló

Caros Camaradas,

Faleceu hoje no Hospital Militar, no Lumiar, o Amadú. Ainda não se conhecem datas e locais do funeral. (*)

Abraço
V Briote



2. Comentário de L.G.:

Estou fora de Lisboa. Mais uma brutal notícia que,  embora não nos colhendo de surpresa, nos entristece profundamente: sabíamos que o Amadu estava 
internado há algumas semanas e que a saúde já era precária há anos...

 Íamos sabendo notícias dele através do Virgínio que foi, para ele, mais do que um camrada e um amigo.... Tinha planeado ir visitá-lo ao Hospital e ainda há dias falei dele a um dos meus alunos que trabalha como enfermeiro no hospital militar, no Lumiar. Infelizmente já não irei a tempo de poder estar ao seu velório e prestar-lhe a minha última homenagem. Terei que o fazer à distãncia,


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > Em primeiro plano, o Virgínio Briote e o Amadu Djaló, um e outro muito acarinhados por todos. Dois homens sábios e dois combatentes valorosos, que muito orgulham a nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Luis Graça (2010). Todos os direitos reservados


Vou pedir aoi Virgínio que nos faça uma pequena resenha biográfica (**): ele ajudou o Amadu a escrever e a publicar as suas memórias (Amadu Bailo Djaló - "Guineense, Comando, Português", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada). 

Foi pena  que, com a degradação da saúde do Amadu,  nestes últimos anos, não tenha podido sair, como planeado, o 2º volume, com as aventuras e desvanturas do autor, a seguir à independência do seu pais. Vivia há largos em Portugal, na Amadora, com uma filha e netos. E de tempos a tempos ia até Londres juntar-se ao filho. 

Acabou a sua longa carreira militar (iniciada em 1962) como alf comando graduado, na CCAÇ 21, comandada pelo tenente cmd grad Jamanca, um dos primeiros camaradas guineenses a ser fuzilado pelo PAIGC.

Os sentidos pêsamos à família,  por parte dos editores, colaboradores e demais membros da Tabanca Grande. Morre uma homem bom, um grande e bravo combatente, um digno muçulmano  e um português que se orgulhava das suas origens como fula e guineense. 

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  14 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14257: In Memoriam (217): Britt-Marie, esposa do nosso camarada José Belo, faleceu no passado dia 12 de Fevereiro

(**) Vd,. poste de 21 de abril de  2009 >  Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)

(...) As memórias, como já referi, cobrem todos os anos da guerra. De ainda antes, até. O nascimento em Bafatá, a frequência da escola corânica e depois a da missão católica, de uns padres italianos, a permanência de dois meses no mato para a cerimónia da circuncisão, aos 13 anos a viagem com o irmão mais velho a Boké, os negócios da venda de tecidos e bugigangas na República da Guiné-Conackry, as saudades dos pais e da vida de Bafatá e o regresso à cidade natal.

A incorporação na tropa deu uma grande volta à vida dele. O contacto com os militares europeus, a passagem por Bolama, Cacine, Bedanda, Farim, o 1º ataque do PAIGC a Farim, as 3 emboscadas, no mesmo dia, na estrada Cuntima-Farim, o 1º morto do PAIGC que ele viu ser arrastado pelo soldado Solda, do BCav 490, em 1964, o regresso à CCS do QG, a entrada para os comandos do Saraiva. Uma grande volta na vida dele.

Com o Saraiva viu coisas que nunca imaginou. Viu tudo. Inaugurou a pista de Madina do Boé. Desembarcou de uma das cinco DO 27, que levaram o grupo para Madina. Ao som de tambores, percorreram o trajecto da pista, acabada nesse mesmo dia, até ao aquartelamento. Episódios de Madina que não esquece: a ida com o Saraiva e com o régulo a Hore Moure, na Rep. da Guiné-Conackry, os três vestidos à fula, com duas granadas ofensivas cada um com o grupo emboscado a cerca de 500 metros. A entrada nas casas, que serviam de pouso à ainda incipiente guerrilha apenas durante o dia. A história da mina que matou quase metade do grupo em Gobige. Os funerais em Bissau, a reunião em Brá para discutirem os procedimentos que tinham tomado em Madina e logo a seguir a ida para o Oio, com mais 11 camaradas. Nesta acção, indescritível para os nossos olhos de agora, viu mesmo tudo o que de pior a guerra, qualquer guerra, tem. Crianças, velhos, paralíticos, gado, ficaram-lhe na memória como os principais actores dessa saída.

E depois, Burontoni e o Malan, um miúdo de 7 ou 8 anos que vivia com os pais, junto a um acampamento da guerrilha. Ninguém queria ficar com o Malan. O Saraiva não queria mascotes, o capitão L., da Companhia local respondeu negativo. Amadu trouxe a criança para Brá. Depois, com 4 metros de tecido que um camarada tinha apanhado num acampamento, foi a um alfaiate fazer 4 calções e 3 camisas. Uns sapatos e uns chinelos completaram o guarda-roupa do Malan, que teve de mudar o apelido para Djaló.

Malan Djaló passou a viver na grande família Djaló. Nunca ninguém soube a história do rapaz até 1973. Malan cresceu, andou na escola, aprendeu bem o português. Quando chegou a independência voltou a ver os pais, mas à noite regressou à família Djaló. Passou a dar aulas de português em quartéis do PAIGC, até conhecer uma jovem por quem se apaixonou. Casou e nasceu-lhe uma menina. A sorte da vida não estava com o Malan. Uma doença rápida, em dias, matou-o numa cama do hospital de Bafatá. Um ano depois, a menina morreu também, vitima da mesma doença, presume o Amadu.

Histórias, umas atrás das outras, que a guerra foi muito longa e foi feita de muitos episódios. Tem sido este o meu trabalho, caros Camaradas. Programei a entrega do texto para o final deste mês. (...)


Vd. ainda poste de 13 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6149: Amadú Bailo Djaló, meu camarada: 
tem o seu dia de festa no dia 15, no Museu Militar, às 18h (Virgínio Briote)


(...) O Amadu Djaló foi meu Camarada nos Comandos em Brá, entre 1965 e 1966, embora não tenha feito parte do meu grupo. Em 1964 pertenceu ao grupo do então Alferes Maurício Saraiva e em 1965 transitou para o do Alferes Luís Rainha. Acabada a Companhia de Comandos do CTIG, depois de uma breve estadia em Bafatá,. foi para Fá Mandinga, para colaborar na formação dos Comandos Africanos e depois participou em numerosas operações até ao fim do conflito.

O livro começa por falar da vida na cidade natal, Bafatá, do convívio com os Pais, Irmãos, Avô e os amigos mais chegados. A ir e a regressar, acompanhando um primo, feito djila [1], ao Senegal. A hesitar na incorporação, a tentar adiar, enquanto abria uma banca para negociar, no Mercado de Bafatá.

Não pôde evitar, fugir não fazia parte da sua maneira de ser, nem lhe cabia na cabeça deixar os Pais e a família para trás. Ainda faltavam uns meses para começar a guerra a sério, mas já havia cheiro a pólvora no ar.

Depois da recruta em Bolama, entre 1962 e 1964 deambulou como condutor por Cacine, Bedanda, Catió, Cufar e Farim. Removeu abatizes, viu os efeitos das primeiras minas e caiu nas primeiras emboscadas. Mas naquele tempo ainda era possível ir de Farim a Susana, em coluna, em viagens intermináveis.

Cansado de ser “rebenta minas”, pediu a transferência para a 4ª Rep, do QG, em Bissau. Foi-lhe concedida. No parque das viaturas da C.C.S. do Q.G. teve a sorte e o contentamento de encontrar o seu amigo, o Tomás Camará, que estava no grupo de Comandos do então Alferes Saraiva.
- Comandos? Que é isso de Comandos de Saraiva?

Não precisou de muitas respostas para, tempos depois, estar em Madina do Boé com o grupo. Para participar, e de que maneira, num acontecimento que o marcou para sempre: a mina no pontão do Gobige, na estrada de Contabane para Madina, que matou todos os Camaradas, menos um, que vinham na segunda e última viatura.

Um grupo de vinte homens, repartido em duas viaturas, de um momento para o outro, estava reduzido a metade. Não podiam ir todos buscar socorro a Madina, a cerca de trinta quilómetros de distância. Alguém tinha que ficar ali, a amparar os feridos, a guardar os mortos. Uma tarde que pareceu um ano, junto à estrada para Madina, a assistir ao morre este, agora aquele, até à noite, quando chegou o socorro. E, logo dois ou três dias depois, foram para o Oio e a história quase se repetiu. Porque a guerra é assim, é feita de repetições, os que morreram já não morrem outra vez, morrem outros, os feridos é que podem ter mais sorte, podem voltar a ser feridos outra vez.

Já quase no final da comissão do grupo foram ao Como. Outra odisseia. O grupo de Saraiva, como lhe chamavam, despedia-se numa operação, a que o alferes pôs o nome de Ciao. Tudo correu bem a princípio. Depois, já na retirada, o alferes não quis sair de lá sem trazer a MP [2], que alguns afirmavam ter sido usada contra eles. Alguns ofereceram-se para voltarem ao acampamento em chamas. Dos dez que reentraram nas barracas, um morreu, um ficou ileso e os restantes foram atingidos pelo fogo inimigo.

O grupo de Saraiva acabou e o Amadú achou que já era tempo de ter um pouco de paz. Afinal era um condutor encartado e era mais antigo que muitos. E como condutor ganhava mais 150 escudos que nos Comandos de Brá e, na altura, 150 escudos davam para comprar muito arroz.
Até que apareceu lá na 4ª Rep, um alferes, o Luís Rainha, do grupo Centuriões, que tinha substituído o grupo de Saraiva, com uma autorização da 1ª Rep para o levar, outra vez, para os Comandos de Brá.

Pouco tempo depois, entrou numa nomadização, prevista para durar 48 horas, na zona de Faquina Mandinga, Sitató, na fronteira com o Senegal. Uma nomadização que acabou por se tornar num golpe de mão, guiados pelas vozes e gargalhadas dos guerrilheiros, que se achavam seguros até verem os Comandos entrarem pelo acampamento.

E, outra vez em Maio, tal como no ano anterior com o grupo de Saraiva, nova teimosia, desta vez do Rainha. Ao mesmo acampamento, no Como, para vingar as baixas que o 'grupo de Saraiva' tinha tido. Entre outro material trouxeram a pistola, de coronha nacarada, do Pansau Na Isna e o chapéu chinês dele, também.

Depois a Companhia de Comandos do CTIG acabou. E sempre que a unidade acabava, ou alguma coisa não lhe agradava, o Amadú pedia transferência para a 4ª Rep, a sua eterna casa-mãe.

Tempos depois, estava em Bafatá, quando chegou uma ordem do General Spínola para todos os Comandos Guineenses se concentrarem em Bissau, para fazerem provas e novo curso para a constituição de uma Companhia de Comandos Africanos.

Depois, foram operações atrás de operações da 1ª Companhia de Comandos Africanos, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló [, na foto a esquerda, ao meio], enquanto, em Fá Mandinga, se formavam outras Companhias que iriam constituir o Batalhão de Comandos, sob a orientação do então Capitão Almeida Bruno.

Nos anos que durou a guerra participou em acções em todo o território onde a presença do PAIGC se fazia sentir. Percorreu matas e carreiros de Bambadinca, Canquelifá, Cobiana, Conakry, Cumbamori, Cuntima, Fá Mandinga, Farim, Gandembel, Gadamael, Gabu, Guidage, Guileje, Madina do Boé, Mansabá, Morés, Piche, passou e voltou a passar pelos rios e margens do Cacheu, do Geba, do Corubal, chafurdou e chorou nos tarrafos, em operações umas atrás das outras.

Em 25 de Abril de 1974 andava atrás da guerrilha, na zona de Piche, quando ouviu no rádio de um milícia que tinha havido um golpe militar em Lisboa.

A guerra acabou e começou outra, a luta pela sobrevivência na Guiné-Bissau. A entrega das armas, a vida civil sem amigos, as prisões dos camaradas, os fuzilamentos, a prisão dele e a escapadela numa hora que só costuma acontecer uma vez na vida de um homem, graças a um acto digno e cavalheiresco de um comandante do PAIGC.

A Bissau de Luís Cabral, em 1975, tornou-se uma cidade triste, com recolheres obrigatórios, denúncias, falta de arroz, falta de tudo, menos de 'milho para burro', que um país amigo lhes enviara num navio. O golpe do Nino foi para ele e para muitos o renascer de uma esperança. A seguir veio a desilusão e a viagem para Portugal. (...)

Vd. também os postes:


 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (1): "Os cobardes, esses, vivem mais, mas nunca hão-de ter música para dançar" (provérbio tradicional guineense)

17 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6169: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (2): Um grande contador de histórias, um homem bom, um notável condutor de homens...