Os Refractários, os Objectores de Consciência e os Desertores
A guerra que Portugal enfrentou nos territórios ultramarinos, durante quase toda a década de sessenta e metade da década seguinte, condicionou a vida de largas centenas de milhares de jovens portugueses que tiveram que interromper o curso normal das suas vidas para, ao serviço da Pátria ou de uma doutrina forjada pelos donos da Pátria, combaterem as insubmissões dos povos das nossas colónias africanas.
Não foi uma tarefa fácil, nem de efeitos inócuos esta guerra imposta aos jovens desses tempos, hoje alquebrados sob o peso dos sacrifícios físicos e pelas feridas do corpo e da alma que de lá trouxeram. Não admira, por isso, que muitos fossem os que, atempadamente, (fala-se em 200.000) ainda antes de darem o nome ou antes da inspecção, tivessem atravessado fronteiras para se evadirem ao cumprimento do serviço militar que, quase sempre, correspondia ao embarque para uma das três frentes de guerra. Eram os chamados refractários.
Outros, (talvez 8000) já no decurso do serviço militar, antes do embarque ou já depois de provarem alguns meses de guerra, repudiavam aquela vida e, na primeira oportunidade, lá iam eles, para qualquer país onde encontrassem guarida. Eram os desertores.
Havia ainda os objectores de consciência cujas ideias religiosas ou filosóficas os impediam de combater.
Numa malha mais fina, havia também os que, com a protecção de gente poderosa, “arranjaram” doenças para sair do mato e ficar internados durante mais ou menos meses até à desmobilização definitiva.
O meu propósito não é julgar nenhum deles. Não devo nem posso fazê-lo. Porquê? Julgar os outros não é tarefa fácil, muito menos quando eles não estão presentes para se defenderem. Menos ainda quando eu, se tivesse tido oportunidade, também me teria eximido ao cumprimento da minha comissão na Guiné.
Na hora da última formatura, no quartel de V. N. de Gaia, antes da partida para Lisboa, faltava um alferes que nunca mais apareceu, mais tarde, ainda antes de meio ano de comissão, outro alferes aproveitou a vinda de férias para não mais voltar ao mato. Não os nomeio por uma questão de respeitar o seu bom nome, porque eles fizeram o que entenderam ser a melhor opção e eu bem gostava de os reencontrar para lhes dar um abraço.
Esta minha confissão perante os meus camaradas do Blogue Luís Graça servirá para ajudar a sair do limbo aqueles camaradas que têm algum rebuço em aparecer no nosso meio. Eles tomaram a atitude que julgaram correcta para se libertarem daquele ambiente de sofrimento. Eu só não o fiz porque não pude.
MEDAS: 2016/10/30
Carvalho de Mampatá
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16620: (Ex)citações (320): Fiquei triste e revoltado com a imagem da piscina do QG de Bissau, parecia um SPA!... Era uma afronta para estava no mato (Armandino Oliveira, ex-fur mil, CCS / BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68; vive no Brasil há 40 anos)
Esta minha confissão perante os meus camaradas do Blogue Luís Graça servirá para ajudar a sair do limbo aqueles camaradas que têm algum rebuço em aparecer no nosso meio. Eles tomaram a atitude que julgaram correcta para se libertarem daquele ambiente de sofrimento. Eu só não o fiz porque não pude.
MEDAS: 2016/10/30
Carvalho de Mampatá
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16620: (Ex)citações (320): Fiquei triste e revoltado com a imagem da piscina do QG de Bissau, parecia um SPA!... Era uma afronta para estava no mato (Armandino Oliveira, ex-fur mil, CCS / BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68; vive no Brasil há 40 anos)