quarta-feira, 14 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17472: Convívios (811): Operação na cidade de Tondela pela CART 3494 (Sousa de Castro)



1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte reportagem do Encontro/Convívio do pessoal da sua Companhia, que decorreu no dia 11 de Junho, em Tondela – Viseu.


CONVÍVIO DA CART 3494


No passado dia 11 de junho de 2017 realizou-se o 32º encontro/convívio da CART 3494 do BART 3873 na Cidade de TONDELA (cidade dos Besteiros¹) junto da Associação dos Combatentes do Ultramar, onde fomos recebidos por alguns membros da direcção.


Decorreu com o brilho que já nos habituou ao longo dos anos. Esta Op com nome de código:

“XXXII encontro/convívio”, pautou pela boa disposição e muita alegria, obviamente.

Três novos camaradas que pela primeira vez se apresentaram ao serviço, nomeadamente o homem do Clarim (peço desculpa por não me recordar do nome), o ex. Sol. NM 14203071 - Jaime da Costa Latada e o ex. 1º cabo NM 14008971 Joaquim da Silva Oliveira. Para além destes, também um camarada da CCS/BART 3873 que fez questão de participar neste e nos próximos eventos, de seu nome: Ex. Fur. Milº Alim. NM 00832271 – Américo da Silva Santos Russa. 


Junto ao monumento dos Combatentes do Ultramar, seguiram-se actos de homenagem com a colocação de um ramo de flores na base daquela memória, guardamos um minuto de silencio aos que desencarnaram da vida terrena e fizemos a foto de família.

Rumamos de seguida em caravana auto para Quinta do Barreiro onde foi servido um excelente repasto.

Finalmente procedeu-se à nomeação do próximo organizador. Depois de alguns contactos com vários camaradas, o nosso camarigo das transmissões, José do Espírito Santo Vicente decidiu aceitar o desafio para a realização do “XXXIII encontro/convívio”, é pela 3ª vez que fica com esta responsabilidade de levar o pessoal até OLIVEIRA DO HOSPITAL ou
arredores. Avançou de imediato a data de 09 de junho de 2018 para o referido evento.

¹Tondela (Cidade de Besteiros); História

O actual concelho de Tondela compreende as freguesias que constituíam o antigo concelho de Besteiros, ao qual vieram a anexar-se, com o andar dos tempos e depois de múltiplas reformas administrativas, os antigos coutos, depois concelhos da Serra do Caramulo - S. João do Monte e Guardão. Também terra chã, os de Mouraz, Sabugosa, Canas de Santa Maria, S. Miguel de Outeiro e algumas freguesias que pertenciam ao termo de Viseu e a outros pequenos concelhos, Barreiro e Treixedo. Segundo documentos dos séculos X, XI e XII designava-se esta região por Terra de Balistariis. Esta designação tem por origem a palavra balista ou besta, máquina de guerra usada pelos besteiros na idade média. Fonte: Wikipédia

FOTOGALERIA 









Sousa de Castro
Junho 2017 
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

13 DE JUNHO DE 2017 > Guiné 61/74 - P17463: Convívios (810): STM - Almoço dos velhos com novos à mistura, assim foi no dia 3 de Junho de 2017, no Porto, no antigo Quartel de Arca d'Água (Belarmino Sardinha)

Guiné 61/74 - P17471: Fotos à procura de... uma legenda (86): um achado macabro em 23 de março de 1970, depois do ataque a Cabuca (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Foto nº 1


Foto nº 2 A 


Foto nº  2

Guiné > Região de Gabu > Cabuca > CART 2479 / CART 11 > 23 de março de 1970 >  Material do PAIGC abandonado (morteiro 82, completo, e granadas) e um morto


Fotos: © Valdemar Queiroz (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] 

Data: 4 de junho de 2017
Assunto: Muito mais que fotos à procura duma legenda ou o macabro acontecimento


Luís Graça:

Ando, desde que entrei para o nosso grande blogue/convívio da rapaziada que esteve na Guiné, para publicar/apresentar estas fotos de quando o meu 4º Pelotão da CART11 foi, de Nova Lamego a Cabuca, em 23 de março de 1970, acudir, ao que tinha sido um grande ataque a Cabuca, no dia, tarde ou  noite anterior, não sei ao certo, e levar munições e mantimentos.

Foi o meu 4º Pelotão que saiu muito cedo de Nova Lamego para Cabuca [, a sudeste de Nova Lamego, e a nordeste de Canjadude], já com a estrada picada pela milícia, era sempre assim, para podermos avançar, quem não se lembra destas picagens ?!

Lá fomos estrada/picada fora, nunca dantes vista por nós, deveria ter sido a nossa primeira intervenção, até Cabuca,  levar reforços em munições e mantimentos. Sem problemas chegámos a Cabuca que tinha sido fustigada no dia ou noite anterior.

Não conheço testemunhos descritos no nosso blogue do que aconteceu em Cabuca, no dia 21 ou 22 de março de 1970. [Sobre Cabuca há 3 dezenas de referências no nosso blogue.]

Quando lá chegámos, verificámos que tinha havido um grande ataque à tabanca e instalações da tropa e até a Capela tinha sido destruída com morteirada.

Não percebo, ou melhor eu agora não percebo, como é que foi feito o contra-ataque da tropa de Cabuca para o IN ter sido desbaratado, deixando grande quantidade de material de guerra (foto nº 1) e um morto no terreno (foto nº 2).

O que estas fotos, que remeto em anexo, têm de macabro, é eu a olhar para o homem do IN, morto em combate, atingido por vários tiros ou estilhaços e, também, ter ficado sem um pé (ver caixa metálica, em cima, com o pé dentro) (foto nº 2A).

Valdemar Queiroz



Guiné > Carta da Província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: o triângulo Nova Lamego - Canjadude > Cabuca.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


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Nota do editor:

Último poste da série >  7 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)

Guiné 61/74 - P17470: Manuscrito(s) (Luís Graça) (119): Parabéns, doutor Francisco Silva

Parabéns, 
querido Francisco!

por Luís Graça
(grato ao seu ortopedista, 
amigo e camarada)

Veio da terra da Laurissilva,
É camarada, amigo, solidário,
O afável doutor Francisco Silva
Tem hoje o seu dia de aniversário.


Mas não pensem que é dia de gazeta,
Ortopedista é sempre um guerreiro,
A idade, para ele, é uma treta,
Parabéns ao nosso grã-tabanqueiro.

Reformado está, mas não arrumado,
Tem mãos de artista e ainda opera,
Não gosta de ver ninguém aleijado.

Pela sua Maria e queridos filhos,
Tinha a Guiné em lista de espera,
Pois voltou, percorrendo os velhos trilhos!

Luís Graça
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Notas do editor:

Último poste da série >  20 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17381: Manuscrito(s) (Luís Graça) (118): o deus da guerra


9 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8651: Blogpoesia (157): Não sei qual é mais feio: / se o meu joanete, se a minha alma, se o mundo... (Luís Graça)

28 de junho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11772: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (7): O Xitole e o "alfero" Francisco Silva (CART 3492, 1971/73), a emoção de um regresso

Guiné 61/74 - P17469: Os nossos seres, saberes e lazeres (217): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (6) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 3 de Março de 2017:

Queridos amigos,
A etapa seguinte ao Vale das Furnas foi um tanto frustrante, se é verdade que a vegetação luxuriante do Nordeste só por si dá vontade de regressar, caiu depois um dilúvio que tudo alagou, impediu o passeio, a partir da Achada, até ao Parque da Ribeira dos Caldeirões, também ficará para a próxima.
E regressou-se a Ponta Delgada, é a penúltima paragem, mete museus, uma longa tarde sem fastio, do Museu Carlos Machado se falará em próximo folhetim, tal e tanta é a sua riqueza.
E a seguir a derradeira viagem, com a Lagoa do Fogo, passar-se-á pela Ribeira Grande até se ser depositado no aeroporto, já cheio de saudades. A dado passo escrevi uma observação de José Tolentino Mendonça, tenho comigo que é verdade axiomática: "A verdadeira viagem é aquela que dura tanto que já não se sabe porque se veio ou porque se está".

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (6)

Beja Santos

Vamos agora viajar para o Nordeste, a ideia é conhecer toda esta região de autocarro, ficar na Achada, conhecer o Parque da Ribeira dos Caldeirões, ter algum deslumbramento com os oceanos de vegetação, o incenso a derramar-se sobre o oceano lá ao fundo, sentir a beleza edénica da Ponta da Madrugada, tomar o peso ao que se pode desfrutar da Serra da Tronqueira, há apreciadores da Ilha do Arcanjo que classificam esta região nordestina como mais genuína e variada. Gostos não se discutem, vem-se à descoberta, o busílis é que se anuncia o mau tempo, sente-se a temperatura a descer enquanto o autocarro sobe, já se avista a Tronqueira, alguém pergunta se conhecemos os pássaros únicos e solitários que são os priolos. O viajante quer pouca conversa, enfronhou-se neste anfiteatro vegetal, a natureza parece enrugar-se e abrir veredas, passa-se por miradouros, avistam-se pontes, há mesmo quem sugira que não se pode sair deste passeio sem ir ao Pico da Vara, o ponto mais alto da ilha de S. Miguel, paciência, fica para a próxima, a pé ou de carro ir-se-á ao Pico Bartolomeu, ao Planalto dos Graminhais, ao Salto da Farinha e depois à Ponta da Madrugada. E assim se chega à Achada, não longe da Achadinha, ainda não chove mas está quase. Não há onde comer na Achada, a estalajadeira leva-nos até perto da Maia, foi um regalo de peixe, uma caldeirada de congro e algo mais. Depois começou o dilúvio, ao amanhecer ainda se conseguiu esta imagem, passeou-se pela Achada sob chuva inclemente, enfim, na Achada deu-se um achado, fotografou-se a primeira hidrângea, um ténue sinal de Primavera ainda por anunciar.


Segue-se agora de autocarro para Ponta Delgada, ainda chuvisca, mas dá perfeitamente para ver lá do alto o parque da Ribeira dos Caldeirões, cascatas elevadas, antigos moinhos, percebe-se que é uma preciosidade, o andarilho não sente o peso da deceção, fica para a próxima, é mais uma razão para voltar. Assim se chega à capital, na noite anterior, enquanto a ventania se assobiava de terra para o mar, pegou-se nesse ternurento manual que Armando Côrtes Rodrigues escreveu sobre os Açores, uma obra de amor onde tem palavra os primeiros escritores como Diogo Gomes de Cintra ou Gaspar Frutuoso, onde Sena Freitas descreve o Vale das Furnas e Guilherme Read Cabral fala desta ilha que tem identidade na sua arquitetura, nas cores do casario, no labor dos passeios, nos jardins mimoseados, no culto dos seus valores. Olhem bem esta casinha, vejam o passeio, contemplem a veneração a Antero de Quental que pôs termo à vida aqui a pouca distância, junto ao Convento de S. Francisco, que acolhe o orago indiscutível da região açoriana: o Senhor Santo Cristo dos Milagres.





Quando aqui cheguei em 1967, a Igreja do Colégio estava fechada ao público, não obstante, sempre que podia, vinha contemplar esta obra-prima da arquitetura do barroco jesuítico, hoje está aberta ao público, o viandante apanhou as obras em curso, percorreu a igreja e visitou o Núcleo da Arte Sacra do Museu Carlos Machado, opulento e muito bem restaurado, belas telas, azulejos e a espantoso altar-mor da Igreja de Todos os Santos. E daqui foi para o Convento de S. André, nova contemplação, cheia de embevecimento, que belas janelas, em proporção e harmonia, aqui se acolhe um museu singularíssimo, o Museu Carlos Machado, antes porém, e ali a poucos metros, o viandante foi ao núcleo de Santa Bárbara, prestar homenagem a um daqueles açorianos que prestigiou o nome de Portugal fora de portas, Ernesto Canto da Maia, um escultor que é santo do culto de quem o vem venerar, trata-o como o nome preeminente da escultura Arte Deco, tem linhas assombrosas, traços meigos e delicados.




Fica aqui uma amostra do portentoso Museu Carlos Machado, há um pouco de tudo em núcleos tidos como de imensíssimo valor, da ornitologia à oceanografia, o viandante passa resvés, quer finalmente conhecer a igreja do convento, onde nunca entrou, será o capítulo que se segue. Mas especou-se diante desta escultura que fazia parte da proa de um navio, que coisa tão bela. E ocorreu-lhe aquela frase de José Tolentino Mendonça: “A verdadeira viagem é aquela que dura tanto que já não se sabe porque se veio ou porque se está”.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17441: Os nossos seres, saberes e lazeres (216): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17468: Historiografia da presença portuguesa em África (79): Carta da Guiné com o itinerário da viagem do subsecretário de Estado das Colónias em fevereiro de 1947 e obras do V Centenário

Viagem ministerial  e Obras do V Centenário do Descobrimento da Guiné.
Composição e desenho de A. T. Mota [1947]





Carta da Guiné (, elaborada por 2º tenente Teixeira da Mota, ) com o itinerário percorrido (linha a cheio com setas) pelo subsecretário de Estado das Colónias, em fevereiro de 1947, e que já levava 9 anos no cargo, com indicação das obras construídas no âmbito do V Centenário do Descobrimento da Guiné:  a sublinhado (linha horizontal por baixo do símbolo), as que as que foram iniciadas pelo subsecretário de Estado ou que já estavam em construção nessa data (fevereiro de 1947). Grande parte parte destas obras foram inauguradas ou visitadas pelo representante do Governo da metrópole nesta "histórica" visita.

Fonte: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol II - Número Especial, [Comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné], 1947, 454-455 pp. [O nº completo está disponível "on line" aqui]


1. Esta curiosa (e preciosa) carta da Guiné foi-nos enviada em 1/6/2017 pelo nosso amigo Armando Tavares da Silva, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.). 

Ele fez questão de frisar que a fonte da  documentação fotográfica, que nos mandou (incluindo esta carta), é o número especial de outubro de 1947 do "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa" (BCGP). As imagens foram, no entanto,  tiradas de uma cópia pessoal do BCGP e digitalizadas por ele.  Pela nossa parte, editores, fizemos a ampliação da carta (que consta das pp. 454-455 desse nº especial do BCGP) e recortámo-la em quatro quadrantes, grosso modo, correspondentes às principais regiões:

(i) norte-oeste: região do Cacheu e região do Oio;

(ii) sul-oeste: regiões de Bissau, Bolama/Bijagós, Quínara e Tombali;

(iii) norte-leste: regiões de Bafatá e Gabu;

(iv) sul-leste: regiões do Boé e Tombali.

Um quinto recorte dá-nos uma ideia mais detalhada da região de Bissau (centro da Guiné). No sexto recorte, podem ver-se as legendas.

Pelo itinerário da "viagem ministerial" (sic), verificamos que, por exemplo, no leste, o subsecretário de Estado das Colónias, engº Rui Sá Carneiro, acompanhado do governador Sarmento Rodrigues e comitiva, visitou apenas o eixo Bambadinca-Bafatá-Gabu. A visita, de carro, estava condicionada pela fraca rede rodoviária da colónia... De Gabu para o nordeste (Piche, Buruntuma, Canquelifá,
Pirada), só se devia ir por picada... Por sua vez, a região do Boé era praticamente desértica...

Em matéria de "estradas" (símbolo //), só havia em rigor alguns troços:

(i) Varela-Susana-São-Domingos-Sedengal-Barro;

(ii) Bissau-Nhacra-Jugudul:

(iii) Bissau-Bor-Prabis;

(iv) Bissau-Quinhamel;

(v) Bafatá-Gabú;

(vi) Bambadinca -Xitole;

(vii) Fulacunda-Buba



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Novembro de 2000 > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhado do Ministro do Ultramar, capitão de mar e guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. Era Governador Geral da Província Portuguesa da Guiné (tinha deixado de ser colónia em 1951, tal como os outros territórios ultramarinos...) o capitão de fragata Diogo de Melo e Alvim.

Foto: © Albano Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


No rio Corubal ainda não existia, em 1947, a ponte do Saltinho (general Craveiro Lopes, inaugurada em 1956), impossibilitando portanto a ligação do leste às regiões de Quínara e de Tombali... Na margem direita  do Rio Corubal, a comitiva só vai chegar até ao Xitole (em 7 de fevereiro de 1947)... A ponte marechal Carmona tinha, entretanto, colapsado logo a seguir à sua construção em 1937...

2. Relativamente às obras, não as construídas,  mas as iniciadas ou em fase de construção (símbolos com sublinhado, com traço horizontal), no âmbito do Centenário,  ao tempo do Subsecretário de Estado das Colónias (que tomara posse do cargo em 1938), pode constar-se, por exemplo, que:

(i) em Bafatá, sede de circunscrição,  as obras do Centenário iniciadas ou em fase de construção eram um monumento (a Oliveira Muzanty), um edifício público, um celeiro, o sistema de abastecimento de água e o hospital; em contrapartida, estava já construído o cais do porto fluvial, o bairro indígena e o matadouro;

(ii) em Gabu, também sede de circunscrição,  tinha-se iniciado a construção ou estava em construção a igreja/capela, a energia elétrica e um bairro indígena; pronta, só estava a fonte;

(iii) em Bambadinca e no Xitole, postos administrativos, montava-se  o telefone; prontos só estavam a escola (em Bambadinca) e o posto sanitário provisório (em Bambadinca e no Xitole).

Dá para perceber quais eram as localidades mais importantes do leste ("chão fula") nessa época; além das já citadas, temos Chime (ou Xime), Fá, Geba, Dandum, Contuboel (posto administrativo), Sonaco (posto administrativo), Pirada (posto administrativo), Cam Quelefá (ou Canquelifá), Buruntuma, Piche (posto administrativo),  Madina (Boé)... E ainda Sinchã Tom Bom, sede do regulado de Chanha...).

Ficamos também a saber que, em matéria de equipamentos sociais (escola, enfermaria, hospital, posto sanitário, fontanário, etc.) o interior da Guiné era ainda muito pobre... e o programa de obras públicas do Estado Novo concentrava-se sobretudo em Bissau, a nova capital (a partir de 1941, em substituição de Bolama, que entra em decadência). Em Bissau, as obras do Centenário incluíam: monumentos (2), campos desportivos (2), igreja (1),  além de comunicações telefónicas, abastecimento de água, hospital, maternidade, posto sanitário, edifícios públicos, cais portuário, campo de aviação (Bissalanca)...

Além de Bissau, a capital, Bafatá e Gabu (mo leste), as sedes de circunscrição eram: 

São Domingos e Canchungo (região do Cacheu);
Farim e Mansoa (região do Oio); 
Fulacunda (região de Quínara);
Bolama (região de Bolama/Bijagós);
Catió (região de Tombali).

Não sabemos se nesta altura já havia as atuais regiões (ou as regiões do nosso tempo). 

Todas estas sedes de circunscrição foram contempladas pela "visita ministerial", bem como a maior parte dos respetivos postos administrativos... Ficaram de fora, por exemplo, no leste, Contuboel, Sonaco, Pirada e Piche... 

Em contrapartida, nas regiões de Quínara e de Tombali, o subsecretário de Estado das Colónias visitou (ou passou por) Catió, Bedanda, Guileje, Balanazinha, Balana, Mampatá, Teroiel e Missirá, vindo de (e regressando a) Bissau, por Enxudé, Tite, Fulacunda e Buba... Ficou de fora, por exemplo, Empada e Cacine,  que eram postos administrativos...

Verificamos, por este valioso documento, que alguns dos topónimos da Guiné ainda estavam por fixar em 1947: caso de Chime (hoje, Xime), Chitole (hoje, Xitole), Canchungo (, mais tarde, Teixeira Pinto), Dandum (, mais tarde, Dando), Gabú (mais tarde, Nova Lamego), Cam Quelefá (hoje, Canquelifá), Begene (hoje, Bigene), Ingtorei (hoje, Ingoré)... (Comparar com carta da província de 1961.)


4 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17318: Historiografia da presença portuguesa em África (75): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte IV: No chão fula, Bafatá e Gabu, 6 de fevereiro de 1947...

26 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17287: Historiografia da presença portuguesa em África (74): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte III: Por Cacheu, São Domingos e Farim, a 2, 3 e 4 de fevereiro de 1947... No tempo que ainda era politicamente correto falar-se em colónias, raças, população indígena, colonos europeu... e felupes que "nasceram e querem morrer portugueses", setenta anos depois do "desastre de Bolor"

9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço

19 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17155: Historiografia da presença portuguesa em África (72): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte I: A consagração do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues, como homem reformador e empreendedor (Reportagem de Norberto Lopes, "Diário de Lisboa", 27/1/1947)

Guiné 61/74 - P17467: (De) Caras (75): "Contrabando de ternura": os tentáculos da minha rede não chegavam ao mato, funcionavam entre Moscavide e Bissalanca... graças a um amigo piloto da TAP... (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

1. Mensagem do José [Botelho] Colaço,  ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008; tem 7 dezenas e meia de  referência no nosso blogue.

Data: 12 de junho de 2017 às 16:14

Assunto: "Contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"...


Caro Luís, aqui vai parte que ficou da minha rede de "contrabando de ternura"...  porque, passados 54 anos e 74 de idade, muita coisa se apagou, mas achei o tema bastante interessante. Também eu fui um dos beneficiados, embora os tentáculos da minha rede não atingissem o mato, ficavam-se por Bissau.

Como funcionava o meu sistema ? A minha família morava em Moscavide, e em Moscavide morava também um senhor amigo, piloto da TAP,  que fazia a carreira semanal da TAP para a Guiné. Assim que soube que eu ia para a Guiné, prontificou-se a levar uma encomenda todas as semanas. A encomenda tinha uma norma: não podia pesar mais do que 500 gramas.

Ele deixava a encomenda no aeroporto de Bissalanca, numa secção de confiança dele e do meu conhecimento, eu era avisado com a antecedência possível pela minha família via SPM e, logo que tivesse disponibilidade, ia lá, identificava-me, levantava ou davam-me a encomenda.

O normal da encomenda era ser presunto, linguiça e queijo e tudo funcionava às mil maravilhas e a festa com os amigos e alguns "amigos do bornal"... Só que a ordem de ir para o mato não tardou e a terceira encomenda, como eu não a fui levantar, regressou a Moscavide pela mesma via.

Passados cerca de 11 meses regressei a Bissau, em Dezembro de 1964, activei novamente o sistema que durou até fim de Abril de 1965, altura em que fui para Bafatá.

Um abraço,  Colaço.

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Vd. postes anteriores:

13 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17464: (De) Caras (80: Também levei uma encomenda, no regresso de férias em novembro de 1963, a pedido da mãe de um camarada... Era uma lata de salpicões em azeite, para um soldado que estava em Fulacunda e que, infelizmente, morreria entretanto numa emboscada... Acabámos por comer os salpicões em Cantacunda... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

12 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17456 (De) Caras (79): em outubro de 1972, vim de férias e uma vizinha meteu uma cunha à minha mãe para eu levar uma encomenda para o namorado da filha que era furriel e que eu não conhecia de lado nenhumm... Quando a encomenda chegou ao destino, já o namoro se tinha desfeito, como vim a saber 17 meses depois... (Juvenal Amado, autor de "A tropa vai fazer de ti um homem!"... Lisboa, Chiado Editora, 2016)


10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (77): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II

9 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17451: (De) Caras (76): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte I

Guiné 61/74 - P17466: Parabéns a você (1271): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e CMDT do Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17452: Parabéns a você (1270): Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador do BART 2913 (Guiné, 1967/69)

terça-feira, 13 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17465: (De) Caras (74): "Contrabando da ternura": que bem me sabiam essas encomendas, de que fui portador (na marinha mercante) mas também recetor (Augusto Silva Santos, ex-tripulante da marinha mercante e ex-fur mil da CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).



Foto 1 – Bissau, Abril de 1970. A bordo do N/M "Alfredo da Silva", com a restante pessoal das máquinas. Sou o primeiro da direita



Foto 2 – Bandeira dos navios da Sociedade Geral [, fundada em 1919 pelo industrial Alfredo da Silva, o líder da CUF - Companhia União Fabril; em pouco mais de meio século de existência, teve 57 navios, fora rebocadores, tornando-se um dos mais importantes armadores do país]




Foto 3 . N/M "Rita Maria", da SG


Foto 4 – N/M "Alfredo da Silva", da SG



Foto 5 – Bandeira dos navios da Companhia Nacional de Navegação


Foto 6 – N/M "Niassa", da CNN





Foto 7 – CCAç 3306, Jolmete, Novembro de 1972. Em convívio com outros camaradas, após termos “devorado” umas das célebres encomendas vinda da metrópole, com os saborosos enchidos e queijos. Estou ao centro da mesa. 




Foto 8 – CCAÇ 3306, Brá, Novembro de 1973. Por vezes essas encomendas também chegavam com um “bom” vinho.



Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada, foi tripulante da marinha mercante e depois  fur mil da CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).


Camarada e Amigo Carlos Vinhal, bom dia!

Sobre o assunto em referência, a par dos outros camaradas que já escreveram sobre o assunto (Tony Levezinho, Hélder Valério Sousa, e Juvenal Amado), também eu tenho alguma coisa a contar, por ter estado muitas vezes envolvido nesse saudável "contrabando".

Se achares interessante, agradeço a publicação do que junto envio.

Forte abraço com votos de muita saúde.

Augusto Silva Santos


2. “Contrabando da Ternura”

por Augusto Silva Santos


Tendo eu começado a minha vida de marinheiro muito cedo, assim também cedo me iniciei no agora chamado “contrabando da ternura”, pois andei embarcado nos navios da marinha mercante dos 18 aos 21 anos ("Rita Maria", "Alfredo da Silva" e "Niassa") até ser chamado para a vida militar e, posteriormente, mobilizado para a Guiné.

Pela razão acima, algumas foram as vezes que mães, pais, amigos e até namoradas, de vizinhos meus mais velhos já mobilizados, sabendo das minhas viagens para terras do ultramar, nomeadamente para Cabo Verde, Guiné, Angola, e Moçambique, algumas vezes me solicitavam para ser portador desta ou daquela encomenda, nem sempre de comes e bebes, como se costuma dizer. 

Eram de facto muito diversas essas célebres encomendas, que felizmente sempre consegui fazer chegar aos seus destinatários através dos mais diversos meios, normalmente através dos amigos que se encontravam sediados nas cidades onde aportávamos, que posteriormente as encaminhavam até ao mato.

Um dos beneficiados ainda chegou a ser o meu irmão, que nos finais de 1970 já se encontrava na Guiné no BCaç 3833 / CCaç.3307 – Pelundo, encomendas essas que um ou outro amigo recolhia e fazia chegar até à “arrecadação do Batalhão” sita em Brá / Quartel dos Adidos, e que ele acabava por receber sempre que havia uma coluna da Companhia de Transportes ou da própria Companhia. 

Quis o destino que também eu viesse mais tarde a ser mobilizado para a Guiné, e fosse parar em rendição individual a uma das Companhias desse Batalhão, neste caso para a CCaç 3306 – Jolmete. Aí, passei também eu a ser contemplado, neste caso por via das encomendas que os meus pais despachavam por um vizinho meu (infelizmente já falecido) que comigo andara embarcado no "Alfredo da Silva".

Importa salientar que, sendo o meu falecido pai do quadro do pessoal civil da Marinha de Guerra, também ele tinha vários elementos amigos a cumprir serviço militar em diversos sítios, nomeadamente na Guiné, e também para eles fui algumas vezes portador de encomendas. 

Mais tarde, nomeadamente quando já estava colocado no Depósito de Adidos em Brá, passei a ser também receptor, mas nem sempre bem sucedido. Lembro-me que, numa dessas ocasiões, tendo recebido uma “valente” encomenda (um saco de viagem cheio das mais diversas iguarias), alguém durante a noite fez com que o mesmo tenha simplesmente desaparecido, sem que tenha havido qualquer magia. Foi mesmo roubada. 

Na altura, debaixo da revolta pelo acontecido e mesmo não o conhecendo, ao “amigo do alheio”, roguei-lhe as mais diversas pragas mas, passados todos estes anos, sinceramente espero que lhe tenha feito muito bom proveito, porque se calhar bem mais precisava do que eu.

Que bem me sabiam essas encomendas da ternura ou da saudade!

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17464: (De) Caras (73): Também levei uma encomenda, no regresso de férias em novembro de 1963, a pedido da mãe de um camarada... Era uma lata de salpicões em azeite, para um soldado que estava em Fulacunda e que, infelizmente, morreria entretanto numa emboscada... Acabámos por comer os salpicões em Cantacunda... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

1. Comentário, ao poste P17454 (*),  do Alcídio [José Gonçalves] Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65): 


Quando vim de férias (Prémio Governador da Guiné), em Novembro de 1963, também me foi pedido para levar uma encomenda para um soldado que estava em Fulacunda,

Então, mandei que a mãe do camarada fosse a um latoeiro, mandar fazer uma lata e para colocar na mesma os salpicões, encher de azeite e depois o latoeiro devia soldar a tampa.

Assim a senhora procedeu e no regresso, já com o SPM escrito num papel colado na lata, transportei a encomenda para Bissau. Como cheguei a Bissau e embarquei logo, num barco para Bafatá, não tive tempo para despachar a encomenda para Fulacunda.

No entanto, indaguei com o nosso Furriel de Transmissões, Rui Freitas Pereira (madeirense), da possibilidade de saber se o referido soldado ainda se encontrava em Fulacunda, para ter a certeza que a encomenda chegava ao destino.

Atravês do Rádio, fiquei a saber que, infelizmente, o referido soldado tinha morrido numa emboscada. Logo em seguida, recebi um aerograma de minha mãe, dizendo-me que abrisse a encomenda e comesse o seu conteúdo, como tinha indicado a mãe do referido camarada.

Assim, quando cheguei a Cantacunda, nós, os furriéis e o alferes,  comemos os salpicões, não  sem antes prestarmos um minuto de silêncio em homenagem do camarada falecido. Aproveitamos o azeite nos cozinhados 

Como eram bons os salpicões!

Alcidio Marinho
CCaç 412

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Notas do editor:



(**) Último poste da série > 12 de junho de  2017 >  Guiné 61/74 - P17456 (De) Caras (79): em outubro de 1972, vim de férias e uma vizinha meteu uma cunha à minha mãe para eu levar uma encomenda para o namorado da filha que era furriel e que eu não conhecia de lado nenhumm... Quando a encomenda chegou ao destino, já o namoro se tinha desfeito, como vim a saber 17 meses depois... (Juvenal Amado, autor de "A tropa vai fazer de ti um homem!"... Lisboa, Chiado Editora, 2016)