sexta-feira, 30 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17529: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (1): Até à pág. 8

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", da autoria de Gabriel Moura


I. Mensagem do nosso camarada Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 2 de Setembro de 2016:

Olá Luís, muito bom dia.
Espero que tenhas recarregado todas as tuas baterias, e estejas pronto para mais um ano de luta.
Em tempos falei-te de um trabalho de uma camarada nosso - Gabriel Moura - que esteve em Tite a partir de 1961, ou seja, assistiu e foi intérprete do primeiro ataque formal do PAIGC na Guiné. Ao dar-te notícia deste trabalho, falei-te na possibilidade de ele te ser enviado para análise e, cumulativamente, passar a integrar o espólio do teu blogue. Para o efeito, tinha contactado a filha - Gabriela Moura - uma colega minha de trabalho, que, gentilmente mo tinha feito chegar à mão, pedindo-lhe autorização para to enviar, explicando-lhe as razões de tal pedido. A Gabriela falou com a mãe e os irmãos - o pai já faleceu há algum tempo - que acederam ao meu pedido.
Assim, após deixar passar o período de férias, aqui estou para cumprir o prometido e remeter-te o trabalho em questão. Dele direi que é precioso na informação do tal primeiro ataque do PAIGC, assim como os pormenores com que descreve o quotidiano em Tite nas vésperas da guerra ter início. Ainda me parece de especial realce os dados referentes à sua mobilização, descrevendo o caos absoluto em que se encontrava o nosso aparelho militar. Tem outras flores narrativas com muito interesse, mas, estas foram as que mais me chamaram mais a atenção.
Outro aspecto relevante, é o seu acervo fotográfico, que é riquíssimo. Pedi à minha colega que tentasse descobrir no espólio do pai, se os originais das fotografias do livro ali se encontravam, a fim de as poder digitalizar, para te serem enviadas.
Aguardo da Gabriela uma resposta.
Espero que seja do teu agrado o texto do nosso camarada Gabriel Moura.

Um grande abraço.
Francisco Gamelas
************

II. Mensagem de resposta do editor Luís Graça com data de 5 de Setembro de 2016:

(c/c Gabriela Moura, Carlos Vinhal, José Martins e Carlos Silva)

1. Recordo-me de me teres falado, ao telefone, neste trabalho, de fôlego, do nosso camarada Gabriel Moura. Na altura não fixei o nome. Afinal, já tínhamos publicado, em tempos, alguns excertos desse trabalho, que nos chegaram à mão por via do Carlos Silva, advogado, seu amigo e conterrâneo de Gondomar.

Na altura um dos colaboradores permanentes do nosso blogue, o José Martins, escreveu o seguinte:

(...) "Quando li ou reli o texto do Moura, senti-me "muito pequeno", pelo que estava a ler. É um texto que emociona qualquer um. quer tenha ou não experiência de combate. É realista e, para mim, muito credível. Proponho que o seu nome passe a figurar, entre os "grã-tabanqueiros que da lei da morte se foram libertando". Seria uma forma de honrar a sua memória".

Pelo exposto, e pensando "com os meus botões", achei oportuno lembrar os que se tinham distinguido, para o bem ou para o mal, o facto de que se vai ao perfazer os 50 anos: Quem atacou, quem reagiu e quem tombou. Daí a sugestão de (re)leitura dos postes do Carlos Silva/Gabriel Moura" (...)

Temos 4 referências ao Gabriel Moura no nosso blogue... Foram publicados 3 postes, com excertos do pdf (que terá chegado às mãos do Carlos Silva diretamente remetido pelo autor, em 2004.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Gabriel%20Moura

Gabriel Moura

2. Faltava-nos um elo (perdido) da cadeia que nos leva agora à família, e em especial à filha do Gabriel Moura. Faz todo o sentido publicar na íntegra este manuscrito, importantíssimo para a historiografia da guerra colonial na Guiné. Estou grato a ti e à Gabriela por nos terem feito chegar, em pdf, este trabalho que, segundo creio, é de 2004. Seria um "crime de lesa-memória" que o documento não chegasse ao público-alvo a que se destinava, para além da família e amigos mais próximos. (Foi nesse sentido que o Carlos Silva começou a publicá-lo no seu blogue mandou-nos alguns excertos, mais especificamente sobre o ataque de 23 de janeiro de 1963).

Vamos abrir uma série nova, mas para isso precisamos de um bom título... Tite Guiné 1961/1963 é demasiado telegráfico e impessoal... O nome do Gabriel Moura deverá constar do título da série... Podemos trocar impressões com a Gabriela sobre o título... E sobre o formato da série... Dado tratar-se de um blogue, não podemos publicar textos extensos... O ideal, para manter a "legibilidade", é publicar, postes com 3/4 pp., no máximo, com fotos, e talvez duas vezes por semana...

E é também chegada a ocasião de, aceitando a sugestão do José Martins, juntar o nome do Gabriel Moura (que morreu em 2006, e cujo ano de nascimento desconhecemos) à lista dos nossos camaradas que "da lei da morte já se foram libertando"... Honramos a sua memória e a de todos os nossos camaradas que passaram por Tite e pela Guiné no início da guerra, em circunstâncias extremamente duras e difíceis.

Com o Gabriel Moura passaremos a ser um comunidade virtual de 726 grã-tabanqueiros, dos quais 679 vivos e 47 mortos... Só precisamos da autorização da família. O seu nome passa a figurar permanentemente na página de rosto do nosso blogue, na extensa coluna do lado esquerdo...

A Gabriela, como filha, também nos pode honrar com a sua presença (formal). É uma questão de querer "dar a cara"... Temos, entre nós, diversos filhos, filhas, netos, netas, viúvas e outros parentes de camaradas nossos já falecidos... . Como sabes, encontramo-nos, a Tabanca Grande, todos os anos em Monte Real, e além disso temos diversas tabancas, filiais da TG, que se reúnem com regularidade (Tabanca do Centro, Tabanca da Linha, Tabanca de Matosinhos, Tabanca dos Melros, em Gondomar...).

A Gabriela poderá escrever, se assim o entender, um pequeno texto de apresentação sobre o pai e sobre as suas memórias da Guiné. E sobre si própria, se nos der a honra de se juntar a este blogue de partilha de memórias (e de afetos) à volta da Guiné e da guerra de 1961/74...

Pedi ao meu coeditor Carlos Vinhal para se incumbir da edição regular desta nova série. A Gabriela fica também com o contacto (email) dele.

Ficamos a aguardar, entretanto, o eventual envio das fotos digitalizadas. Seria bom encontrar os originais do Gabriel. Não sei se tu, Francisco, te poderias encarregar de os digitalizar, com boa resolução, como fizeste com o teu belíssimo álbum fotográfico que temos vindo a publicar...

Vamos ficar em contacto.

Um abraço fraterno.
Luís Graça

************









(Continua)

Guiné 61/74 - P17528: (De) Caras (82): O 1º cabo Alfredo Ferreira, o "Geada", da Murteira / Cadaval, o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... Era um camarada divertido e generoso, que não negava um pão a ninguém. O pão de Buba tinha fama, até o gen Spínola chegou a levar pão para casa... Recorde-se entretanto uma efeméride: fez 49 anos, em 22 de junho, que a tabanca de Contabane ficou totalmente destruída num ataque do PAIGC (Manuel Traquina / José Manuel Cancela)


Foto nº 1 > O "Geada", o padeiro da CCAÇ 2382, o 1º cabo Alfredo Ferreira, à esquerda, com um "balaio"


 Foto nº 2 > Militar não identificado, no WC, com  um pedaço de tecido dos sacos de farinha 
 a servir de "saia"

Fotos (e legendas): ©  Manuel Traquina (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Manuel Traquina, com data de 25 do corrente:

Amigo Luís Graça, aí vão duas fotos. A foto individual [nº 2] com a "farda de trabalho" penso que seja o "Geada" (será?) (*). A outra  [foto nº 1] são alguns dos ajudantes de cozinha de Buba, de que não recordo os nomes.

Um abraço,
Traquina



2. Comentário do José Manuel Cancela, com data de 26:

Olá, amigo Traquina. A foto de um só [nº 2] não é o "Geada", nem estou a ver quem seja.

Mas na foto do trio [nº 1] ,o primeiro da esquerda, é realmente o "Geada"  (**),  o segundo é o Guimarães,  mais conhecido, entre nós, pelo "Periquito", e o terceiro é o Zé Henriques,que também pertencia ao meu pelotão, tal como os outros, mas infelizmente já falecido.......

Um abraço e um bj. para a tua Fátima...


3. Observações dos camaradas sobre o Alfredo Ferreira:

(i) Manuel Traquina, 22/6/2017

(...) Vou ver se tenho a foto de um padeiro de Buba, que calculo seja do "Geada"... Era um bom elemento, sempre bem disposto!

O pão de Buba era óptimo, mas anteriormente quando estivemos em Mampatá, aí tivemos que construir o forno, depois numa visita do General António Spínola. Ele e o seu ajudante de campo, o cap Bruno (se a memória não me falha) gostaram tanto do pão que pediram se havia para levar alguns para Bissau, e acho que não foi só uma vez.

O pão de Bissau creio que era à base de farinha de arroz, deixava muito a desejar...

Já agora recordo que hoje, dia 22 de junho, foi um dia que ficou na memória de muitos. Foi na noite deste dia do ano de 1968 que na aldeia de Contabane, próximo de Aldeia Formosa, dois pelotões da CCaç 2382 sofreram o ataque que reduziu a aldeia a cinzas, depois foi uma trovoada que tudo transformou em lama. A CCaç 2382 estava havia pouco mais de um mês na Guiné. Muitos ficaram apenas com a roupa que tinham vestida e a G3 na mão. (...) (***)

(ii) José Manuel Cancela, 25/6/2017

(...) Não te cheguei a responder, no último mail que te mandei, acerca do tecido dos sacos de farinha, que o Geada distribuía às "beijudas" para confeccionarem tangas ou saiotes ... Como já deves ter adivinhado, era um modo de fazermos... acção psicossocial...

Como era a minha companhia que estava a tomar conta do quartel [de Buba], havia alguns postos, com uma certa relevância, nesta matéria, e não só o padeiro: o  dos géneros, as cantinas, as messes, e outros, que também tinham os favores das "beijudas".

No que respeita ao pão, o "Geada" era realmente um especialista, era a arte dele. E, coisa admirável, raramente recusava um pão, quando estava a sair do forno, a qualquer camarada.  (...)

(iii) José Manuel Cancela, 24/6/2017

(...) Se calhar o tempo acaba por trair a nossa memória. O meu camarada "Geada" nunca foi apontador de qualquer morteiro, não quero dizer que não o tivesse feito esporadicamente, mas a arma que lhe estava distribuída, quando saíamos do quartel, era uma G3 de fita, não me recordo do nome certo desta arma [HK 21].

O apontador do morteiro 60 era um camarada chamado Silva, que nos safou aquando do ataque à aldeia de Contabane, perto do Quebo, fez precisamente antes de ontem, Quarenta e Nove Anos!!! (...) (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

15 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

22 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17502: Memória dos lugares (360): Murteira, união das freguesias de Lamas e Cercal, concelho de Cadaval: monumento aos 61 ex-combatentes da guerra do ultramar (1954-1975): Cabo Verde (1), Angola (31), Índia (2), Timor (1) , Moçambique (12) e Guiné (14) (Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12, 1968/69)

(**) Último poste da série > 29 de junho de 2017 >  Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)

(***) Vd. postes de:

19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3141: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (2): O ataque de 22 de Junho de 1968 a Contabane

27 de maio de  2010 > Guiné 63/74 - P6479: Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (2): Noite longa em Contabane

29 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6489: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (15): A minha homenagem à enfermeira pára-quedista Ivone Reis que ficou em Contabane a cuidar dos feridos graves (Carlos Nery)

Guiné 61/74 - P17527: Tabanca Grande (440): Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-alf mil médico, CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), nosso grã-tabanqueiro nº 747... Mais um camarada que não queremos que fique na vala comum do esquecimento


Cartoon > Homenagem ao ex-Alf Mil Médico Alfredo Roque Gameiro Martins Barata, da CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), por parte do seu irmão, arquitecto, pintor e ilustrador José Pedro Roque Gameiro Martins Barata.

(Cortesia  do autor e do JERO -  José Eduardo Oliveira, ex-fur mil enf, da CCAÇ 675)


1. Aqui fica um comentário à morte do ex-alf mil  médico Alfredo Roque Gameiro Martins Barata, da CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66),  e uma sugestão, por parte do nosso editor-mor,  Luís Graça,  para que o seu nome passe doravante a figurar e a ser honrado na lista alfabética da nossa Tabanca Grande (*)... 

Pois que assim seja: o Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017) passará a ser o nosso grã-tabanqueiro n.º 747. (**)


JERO: antes de mais, aceita os meus votos de pesar pela morte, sempre prematura, de mais um bravo da Guiné. À família enlutada, transmite a nossa homenagem e o nosso apreço por este camarada, veterano, como tu, da CCAÇ 675, bem como o nosso pesar pela sua perda. 

Os furriéis enfermeiros como tu e os alferes médicos como o Alfredo Roque Gameiro Martins Barata,  a par dos 1.ºs  cabos aux enf que andavam connosco no mato, tinham, na Guiné, uma elevada cotação e eram camaradas particularmente respeitados e estimados. Sempre soubemos contar com vocês, pessoal de serviço de saúde militar, nas horas difíceis.

A vossa família maior, a CCAÇ 675, também está de luto. E com ela a Tabanca Grande. A ti, que és um talentoso escritor, e o porta-voz dos bravos da CCAÇ 675, já com perto de 140 referências no nosso blogue, deixa-me dizer-te que li, deliciado, este naco de prosa de primeira água que é a aventura e desventura da ida do Martins Barata de Binta até Bissau para apanhar o avião, e gozar as merecidas férias de um mês na metrópole. É um texto de antologia.

A preservação da memória do Martins Barata fica, deste modo, acautelada. Mas, na qualidade de fundador, administrador e "editor-in-chief" deste blogue, eu vou propor ao nosso incansável e sempre atento Carlos Vinhal que acrescente à lista dos nossos 746 grã-tabanqueiros o nome do Martins Barata. Vai diretamente para o nosso panteão onde estão já todos aqueles de nós que "da lei da morte se foram libertando". Penso que estou também a interpretar corretamente os sentimentos de toda a nossa Tabanca Grande. 


De resto, e como nós gostamos de dizer, com o nosso humor de caserna, "Não é o Panteão Nacional, é melhor, é... a Tabanca Grande"...

Carlos e Jero, são seis da manhã, estou na Madalena, Vila Nova de Gaia, e justamente também a ultimar a escrita da "oração fúnebre" que vou postar na página da família, "A Nossa Quinta de Candoz", e que gostaria, em nome da nome da família Carneiro, de eventualmente poder ler, no Tanatório de Matosinhos, a um sobrinho da minha mulher que morreu este fim de semana num brutal acidente na A41.  O Jorge Dinis (1962-2014), economista, gestor de empresas,  deixa viúva e duas filhas, estudantes, de 18 e 16 anos... e uma legião de amigos que iam desde o mundo da moda ao desporto automóvel.


Em suma, já não estamos em guerra, mas a morte continua a fazer parte das nossas vidas. Vamos ter que saber continuar a olhá-la, olhos nos olhos, ontem como hoje, e a tentar fintá-la. Mas quando cairmos, que haja sempre um ou mais camaradas que não nos deixe enterrar na "vala comum do esquecimento". Alguns dos "provérbios" que usamos aqui, reforçam a nossa vontade de continuar a lutar contra o esquecimento da nossa geração que soube fazer a guerra e a paz (***)
  • Ainda pior do que o inferno da guerra, é o inverno do esquecimento dos combatentes. 
  • Camarada não tem que ser amigo: é o que dorme no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo. 
  • Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve! 
  • In Memoriam: para que não fiques, pobre camarada, na vala comum do esquecimento. 
  • Não deixes que o teu espólio de memórias vá parar à Feira da Ladra. 
  • Não fazemos a História com H grande, mas a História não se fará sem a nossa... pequena história. 
  • O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! 
  • Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício: "Guiné? Guerra do Ultramar? Guerra Colonial? Não, nunca ouvi falar!"... 
  • Sempre presentes, aqueles que da lei da morte já se foram libertando. 
  • Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa 
  • Tuga, que Deus te livre da doença do... alemão.

PS -  O nosso camarada Alfredo Roque Gameiro Martins Barata  era um dos 4 filhos o casal de artistas plásticos Jaime Martins Barata e Maria Emília (Màmia) Roque Gameiro, filha do pintor e e desenhador Alfredo Roque Gameiro
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17511: In Memoriam (299): Dr. Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 675, Binta e Guidaje, 1964/66 (José Eduardo R. Oliveira)

(**) Último poste da série > 18 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17484: Tabanca Grande (439): João Cerina, ex-Fur Mil da CCAV 1615/BCAV 1897, passou à disponibilidade em 1972 como Segundo-Sargento Miliciano, vive na Guiné-Bissau e é o 746.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

Guiné 61/74 - P17526: Notas de leitura (973): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (1) Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Não conheço na investigação da história da Guiné levantamento mais minucioso, ainda por cima para um período que não chega a 50 anos.
Um desastre militar em Bolor, no Norte da Guiné deixa os políticos de Lisboa siderados, dá-se a criação da província da Guiné Portuguesa, autónoma de Cabo Verde.

O ar do tempo é o da Conferência de Berlim, que se realizará anos depois: não há direitos históricos, quem quer ter colónias ocupa-as e administra-as. Assim se inicia numa atmosfera de turbulência, com levantamentos de diferentes etnias, a criação de uma capital em Bolama, surgem tensões graúdas com os franceses, os seus apetites não estão só no Casamansa, estão também no rio Grande.

Temos mais de 900 páginas para acompanhar as sagas ocorridas nesta sequência cronológica.

Um abraço do
Mário


A Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926, 
Por Armando Tavares da Silva (1)

Beja Santos

Dentre os mais importantes trabalhos historiográficos referentes à Guiné, é da mais elementar justiça pedir a atenção de todos os interessados para uma investigação de grande fôlego: “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016.

Que o leitor se previna: são mais de 960 páginas, uma belíssima apresentação gráfica, poder-se-á mesmo adjetivar que é inexcedível, um bom acervo fotográfico e um conjunto de mapas que facilitam a leitura de tão avultado miolo. O investigador escolheu aquele período peculiar que vai das primícias da autonomização da Guiné face a Cabo Verde até à chegada da Ditadura Nacional, correspondente na colónia a uma fase que prometia arranque económico, num quadro de uma certa pacificação, em que a administração colonial se estava a disseminar por pontos importantes no território.

O autor dá explicações para o seu trabalho: a escassez de estudos, a pretensão de dar a conhecer as razões que levaram as autoridades a empreender um conjunto de operações do foro militar que se sucederam no território durante dezenas de anos. A base principal do trabalho reside na documentação existente no Arquivo Histórico Ultramarino relativo à Guiné. Pretende igualmente o autor vincar a existência de dois grupos antagónicos que disputavam a vida económica e administrativa da Guiné.

E é na interrogação final com que termina o texto que se pretende marcar a existência de tal “problema” e, para ele, atrair a atenção do leitor. É de facto no termo do seu livro, que depois de abordar uma paz que tinha durado uns escassos 30 anos, a que se seguiria a eclosão da guerrilha que culminou na independência do Estado da Guiné-Bissau, que o autor questiona: “Seria o ressuscitar do conflito de interesses e das velhas tensões que estiveram na base das questões de Bissau de 1891, 1894 e 1915?”. A seu tempo, se procurará contestar tal questionamento, tanto no que respeita a existência dos dois grupos antagónicos como na inexistência de qualquer relação entre a guerrilha e o que se passara em poderosos conflitos havidos em Bissau, muitas décadas antes.

No capítulo introdutório, a súmula apresentada é sugestiva, tocando em aspetos essenciais: continua a não haver precisão quanto à data da chegada dos portugueses ao território do que foi a colónia da Guiné e é hoje a Guiné-Bissau; facto é que os portugueses estabeleceram relações com os potentados indígenas e que a partir da segunda metade do século XVI a presença portuguesa era um facto, ali se comerciava em concorrência com franceses, ingleses e holandeses. Os ingleses tudo tentaram para estabelecer feitorias na Guiné, privilegiaram Bolama, a colónia falhou rotundamente, o clima vitimou-os, ensaiaram continuar em Bolama houve que recorrer à sentença arbitral do Presidente dos Estados Unidos, Ulysses Grant.

Seguiram-se os franceses, nas suas cobiças no Casamansa, virão a ter sucesso nas suas pretensões na Convenção Luso-Francesa que definirá os traços essenciais da Guiné Portuguesa. E a Conferência de Berlim gerou um novo paradigma político: Portugal deixaria de se limitar a uma presença periférica, teria de conseguir uma ocupação efetiva, ter uma administração presente na colónia, cuidar do bem-estar das populações, zelar pela economia do território, pelas exportações.

 É dentro desta sequência cronológica definida pelo autor que estamos em 1878-1879, há uma visita do Governador-geral de Cabo Verde, o Ministro Thomaz Ribeiro recomenda ao Governador um plano de administração e a toma de medidas “que possam levantar aquele ubérrimo país do abatimento, do quase esquecimento em que tem jazido”.

O Governador responde com relatório, descreve detalhadamente o estado geral das fortificações de Bissau, Cacheu, Geba, Bolama, Colónia e Buba, havia os pequenos redutos de defesa em Ziguinchor, Farim, Bolor e ainda outros pontos. Sugere-se um pessoal militar à volta de um batalhão de caçadores com a força de 400 praças e uma companhia de artilharia com 100 praças europeias; havia ainda a considerar o apoio para uma força militar naval, composta de uma pequena canhoneira a vapor e três lanchões a vapor.

Em Bolor, no norte do território, tribos revoltadas tinham atacado e arrasado a população, havia incidentes no presídio de Geba e é neste contexto que ocorre em Dezembro 1878 o chamado desastre de Bolor, uma chacina que deixou os políticos de Lisboa em grande consternação, tomou-se a decisão de transformar a Guiné em província independente, o governo da província teria a sua sede na ilha de Bolama, transferiam-se de Cabo Verde para a Guiné um efetivo militar e o governo ficava autorizado a organizar uma bateria de artilharia para guarnecer as fortalezas da província da Guiné, bem como a adquirir alguns barcos de vapor.

O primeiro Governador da Guiné Portuguesa foi o Tenente-Coronel Agostinho Coelho, que toma posse em Bolama no início de Maio de 1879. É uma frase de organização do território em que a Guiné fica dividida em quatro concelhos administrados por oficiais militares, as sedes dos conselhos seriam Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola; o concelho de Bolama compreendia a povoação denominada “Colónia”, na ilha de Orango e todos os estabelecimentos de qualquer caráter oficial que viessem a existir no arquipélago dos Bijagós; o concelho de Bissau compreendia a vila de S. José e o presídio de Geba; o concelho de Cacheu incluía a praça e os presídios de Farim e Ziguinchor e as povoações de Mata, Bolor e outras desta última dependência; o concelho de Bolola compreendia Santa Cruz de Buba e todos os mais pontos que viessem a ser ocupados no rio Grande, não se escondia haver muitos pontos ocupados e de domínio duvidoso ou mesmo não existente.

O autor reporta às forças navais no início deste primeiro governo da província da Guiné, o surgimento de problemas com forças nativas, as pretensões territoriais francesas à volta do rio Grande, a sublevação de tropas e trata, a questão da Guiné como depósito de degredados. Inicia-se a delimitação da Guiné e avançam-se medidas para tratados que permitam mais harmonia entre o colonizador e o colonizado. Enquanto decorre esta tentativa de organização do território e se procura responder às pressões francesas, encetam-se esforços para a pacificação do Forreá que culminará com um tratado de paz. Mas os problemas de pacificação estavam para durar, houve levantamento dos Beafadas de Jabadá, chegou-se a um compromisso.

Em 1881, Agostinho Coelho cede a governação a Pedro Ignácio de Gouveia.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17513: Notas de leitura (972): “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17525: Parabéns a você (1280): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17521: Parabéns a você (1279): José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil, Pel Mort Ind 912 (Guiné, 1964/66)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17524: Facebook...ando (46): o pesadelo da... festa do carneirinho (Joaquim Peixoto, prof ensino básico, reformado, Penafiel; ex-fur mil MA, CCAÇ 3414, "Os Falcões de Sare Bacar", Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)





Penafiel > Corpo de Deus - Festa das Cidade de Penafiel > Cortejo do Carneirinho > 14 de junho de 2017 > O senhor professor Joaquim Peixoto convidou os seus ilustres amigos e camaradas para assistirem ao lindo cortejo e inteirarem-se desta tradição, única no País, "com a promessa de seguidamente rumarmos ao 'Ramirinho' para saborearmos o que de bom há nesta região"...

Fotos e texto: Página do Facebook do nosso camaradas Joaquim Carlos Rocha Peixoto [professor do ensino básico reformado, residente em Penafiel, ex-fur mil inf MA, CCAÇ 3414, Os Falcões de Sare Bacar (Bafatá e Sare Bacar, 1971/73, régulo da tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães].
O casal Peixoto, ambos professores do ensino
básico, reformados, dois dos nossos grã-tabanqueiros:
ele, Joquim, ela, Margarida.
Foto do Manuel Carmelita (2010)

1. Penafiel > O Pesadelo... do Dia do  Carneirinho

por Joaquim Peixoto


Hoje acordei mais cedo e um certo nervoso tomou conta de mim. Sim, era o dia do carneirinho, mas eu já o recebo há tantos anos que não sei por que motivo estou nervoso.

A verdade é que convidei alguns amigos para virem apreciar este cortejo. Queria que os meus amigos, tudo pessoas ilustres, vissem o carneirinho que os meus alunos me iam oferecer. O grupo de amigos era composto por um ilustre escritor, com alguns livros publicados, três fotógrafos (um deles fotojornalista desportivo), um Presidente de um Bando, um ex-enfermeiro, outros que vinham por curiosidade e outros que vinham “ só “ para comer.

Queria que os meus amigos ouvissem os meus alunos a gritarem bem alto:
- Viva o Professor Peixoto!!!

Como estava a dizer, levantei-me cedo e fui para as ruas de Penafiel escolher o melhor local para ver o desfile. Ainda o trânsito não estava interrompido e as ruas muito desertas. Passado muito tempo começaram a aparecer os meus amigos. Escolhemos um local estratégico. Finalmente o desfile dos alunos com os carneirinhos ia começar. À frente vinha a Serpe e os bombos. Embora o barulho fosse ensurdecedor lá expliquei aos amigos o que era e representava a Serpe.

Passaram, em primeiro lugar, os alunos dos infantários. Carneirinhos muito bem enfeitados e os miúdos a darem “ vivas “ às Educadoras de Infância.

Iam passando os carneirinhos. Uns iam em carros de supermercados, outros em tractores engalanados com bandeiras e flores. Cada vez que passava um carneirinho bem enfeitado, eu dizia para os amigos:
- Quando vier o meu, vão todos ficar admirados.

Passaram os alunos do meu amigo Carlos Rocha. O carneirinho ia muito bem ornamentado. Os fotógrafos não paravam de tirar fotos. Eu ia avisando:
- Não gastem o rolo todo. Esperem que venham os meus alunos.

Não valeu de nada este meu aviso. Continuavam a fotografar tudo. O cortejo ia passando há muito tempo, e os meus alunos não apareciam com o animal. Comecei a ficar preocupado. Cartazes a falarem dos Professores José, Isabel Laura, Miguel etc… Do Professor Peixoto … nada.

Passou o último… As lágrimas vieram-me aos olhos. Estava desanimado e envergonhado. Desanimado por não ver os meus alunos a compreenderem o meu trabalho. Envergonhado, porque o que iriam dizer os meus amigos. Tentaram animar-me. Dizia um:
- Talvez o carneiro tenha fugido e os alunos andem a procurá-lo.

Logo outro dizia:
- Devem-se ter enganado no caminho e ido para outro lado.

Um enfermeiro das Medas queria dar-me uma “pastilha” para me acalmar. Nada disto me animava até que veio o Zé Manel da Régua com a piadinha do costume:
- Seria o Cancela que o apanhou?!!!

Não gostei nada da piada. O amigo Cancela não era capaz de me roubar o carneirinho (*). Ele não estava na Guiné. Para me animarem iam-me dando palmadas nas costas. Uma, talvez fosse com mais força chamou-me a atenção e ouvi a minha mulher a dizer:
- ACOOOOORDA!!!. Estás a ter um pesadelo!

Acordei. Claro que tinha que ser um pesadelo. Já estou reformado há seis anos. Virei-me para o outro lado para tentar dormir. Não conseguia adormecer. Porque seria? Levantei os olhos. Olhei para o relógio da mesinha de cabeceira: onze horas da madrugada. (**)

2. Nota do editor:

Segundo a página oficial da Câmara Municipal de Penafiel,  "o cortejo do Carneirinho, tradição única no país, que remonta ao ano de 1880, [marca] o início das festas da cidade [, que são na semana do feriado no Corpo de Deus], onde centenas de crianças, de várias escolas do 1.º ciclo do concelho, [percorrem] as avenidas principais da cidade. Cada turma leva consigo o seu carneirinho, enfeitado, que por sua vez, será oferecido ao seu Professor, como sinal de gratidão e respeito. O cortejo concentrar-se-á no Largo Conde Torres Novas, vulgarmente designado por Campo da Feira, percorrendo depois as principais ruas da cidade, enchendo de cor e alegria o primeiro dia de comemorações da festa da cidade."
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17438: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (43): O Zé Manel dos Cabritos e os amigos invejosos

Guiné 61/74 - P17523: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (1): Até à pág. 14 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)


Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > 1908 > "Bissau: Soldados em grupo dentro da fortaleza"... Foto proveniente do Arquivo Histórico Militar, que nos chegou pela mão do nosso camarada Carlos Cordeiro, açoriano,  professor universitário. Ainda hoje a fortaleza está coberta de poilões centenários como este, seguramente contemporâneos das "campanhas de pacificação" da Guiné, do 1.º Tenente Oliveira Muzanty (1908) e do capitão Teixeira Pinto (1913-1915).

Foto: Arquivo Histórico Militar  (com a devida vénia...)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Parque da cidade com a estátua de Oliveira Muzanty e, ao fundo, a Casa Gouveia, dois símbolos do "colonialismo"... A estátua foi apeada (e provavelmente destruída) depois da independência da Guiné-Bissau. "Estupidamente", acrescente-se... Não há história sem memória, e a história da Guiné-Bissau, não começou com a "gloriosa luta" do PAIGC contra os "tugas"... Oliveira Muzanty e todos os "tugas", colonialistas e anticolonialistas, fazem parte da história da Guiné-Bissau. Tal como as legiões romanas, o direito romano e o latim fazem parte da história de Portugal e da identidade dos portugueses... Todos os iconoclastas são fundamentalistas e terroristas... Porque, afinal, só há uma terra e uma humanidade... O esclavagismo, o colonialismo, o fascismo, o nacionalismo, o chauvinismo, e todos os demais ismos, incluindo o racismo e a estupidez dos iconoclastas, não têm pátria...

Foto: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada, o "veteraníssimo" Alberto Nascimento [na foto à direita] (ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63), enviou-nos um pequeno livro, em formato PDF, datado de 1937, de autoria do 2.º Sargento reformado António dos Anjos, para publicarmos no nosso Blogue.

Trata-se de um opúsculo que tem um título do tamanho de um comboio ("Resumo do que era a Guiné Portuguesa e há vinte anos e o que é hoje:  para cujo progresso muito contribuiu o capitão de infantaria João Teixeira Pinto", 97 pp. ).

O ficheiro que nos chegou é proveniente da digitalização de uma cópia pessoal que está nas mãos do Alberto Nascimento e que lhe terá sido entregue por um familiar, um amigo ou simples conhecido do autor, já falecido, António dos Anjos, um transmontano de boa cepa, como muitos dos militares que por andaram nesta época.

Trata-se de uma edição de autor. O livro foi impresso na Tipografia Académica, Bragança. Os acontecimentos relatados por ele remontam às "campanhas de pacificação" dos princípios do séc. XX. Não sabemos em que ano o autor terá morrido. Terá nascido por volta de 1890, a ser vivo teria agora quase 130 anos. Em 1953, ainda estaria vivo, tendo publico um livrinho de versos: "Campanhas, resistências na Guiné: heroicidades" (ed. autor, Bragança, tip Académica).

Depois de ponderados os prós e os contras, e não são sabendo ao certo se a obra é do domínio público, decidimos a sua publicação no nosso blogue, baseados no seguintes pressupostos e fundamentos:
(i) a obra foi há publicada há 80 anos, mas o autor deve ter morrido há menos de 70;
(ii) os nossos leitores (e nomeadamente os camaradas que fizeram a dura guerra da Guiné entre 1961 e 1974) têm o "direito" de conhecer este livrinho;
(iii) o autor, que é um camarada nosso, mais velho, quis publicamente fazer uma homenagem a um português, o Cap Inf Teixeira Pinto, sob cujas ordens serviu; e
(iv) o 2.º Sargento António dos Anjos, reformado à data da publicação deste seu livrinho de memórias, viveu 25 anos na Guiné, conheceu-a, de palmo a palmo, é credor do nosso apreço e admiração.

Para o efeito vamos publicar 10 postes com uma média de 9 páginas em formato JPG.

Agradecemos ao camarada Alberto Nascimento a possibilidade de dar a conhecer e divulgar desta obra já com 80 anos, esperando que desperte a atenção (e os comentários) dos nossos leitores.

O editor,
Carlos Vinhal

PS - Síntese: o autor oferece-se para uma comissão de serviço de dois anos na colónia da Guiné e acaba por lá ficar 25 anos. Desembarca em Bissau em 29/3/1911. Na altura, havia uma surto de febre amarela que terá feito bastantes vítimas. Nas 15 primeiras páginas, recapitula, de memória, algumas das principais rebeliões dos povos da Guiné desde 1844 até às "campanhas de pacificação" dos finais da monarquia e princípios da República. O paciente e conhecedor leitor irá, por certo, identificar facilmente e desculpar algumas gralhas, erros e imprecisões: por exemplo, topónimos (Bafatá e não Rafatá, p. 9), onomástica (Muzanty e não Mozanti)...

Recorde-se que nesta época, estava  à frente dos destinos da província o Governador João Augusto de Oliveira Muzanty (1906-1909), 1.º Tenente da Marinha. Sobre as campanhas de Oliveira Muzanty, nos anos de 1907-08, vd., aqui texto do José Martins.



(Continua)

Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (81): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)


Guiné > Zona de Quínara > Tite > BCAÇ 237 (Tite,  julho de 1961/outubro de 1963) > CCAÇ 423 (São João e Tite, abril de 1963/  abril de 1965) > O estado em que ficou a GMC sinistrada devido ao rebentamento de um  fornilho na estrada entre Nova Sintra e Fulacunda, em 18 de julho de 1963, qual vitimou  o tenente mil inf Carlos Eduardo Afonso de Azevedo, natural de Angola. Pertencia à CCAÇ 423.

Quinze dias antes, a 3 de julho de 1963, tinha sido aciocinado, no mesmo troço, o primeiro fornilho da história da guerra na Guiné, de que uma das vítimas foi o fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, também da CCAÇ 423.

A CCAÇ 423 foi mobilizada pelo RI 15, esteve em São João e Tite, entre abril de 1963 e abril de 1965. Comandante: cap inf Nuno Gonçalves Basto Machado. Esteva adida ao BCAÇ 237 (Tite, julho de 1961 / outubro de 1963)

Foto : Cortesia de; © Sol da Esteva  editor do blogue Acordar Sonhando (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné]



1. Comentário (*)  do ex-alf mil António Abrantes, da CCAÇ 423  (São João e Tite, 19763/75):

Data: 27 de junho de 2017 às 23:12

Assunto: Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P9507: Em busca de... (184): Camaradas do Fur Mil Hércules de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, em julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda (Maria Luísa Sousa Lobo)

Enviado do meu iPad

Gostaria de poder entrar em contacto convosco mas não tenho conseguido e isto especialmente no que respeita à primeira mina/fornilho colocada na Guiné, mais concretamente em Bianga, a poucos kms de Fulacunda, na estrada S.João - Nova Sintra - Fulacunda. 

Infelizmente era eu, ex- alferes miliciano, António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, o comandante da força da CCAÇ 423, sediada em S. João, que, no regresso da deslocação a Fulacunda, sofreu este rebentamento, mais ao menos no mesmo local onde na véspera tinha sido emboscado debaixo de uma forte chuvada.

 O rebentamento ocorreu às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, debaixo do depósito de uma GMC e vitimou vários militares do meu pelotão, entre eles o furriel miliciano inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, que viria a falecer cerca de 13 a 15 dias depois em Lisboa [, mais exatamente em 16 de julho de 1973], devido às graves queimaduras sofridas.  (**)

O relatório desta operação foi, como é óbvio, enviado para o Comando do Batalhão estacionado em Tite [BCAÇ 237]. Posteriormente e já vários anos depois enviei cópia para a Liga dos Combatentes da qual sou sócio. 

A propósito de Tite, a foto da GMC que dizem ser da primeira mina é tirada em Tite, é da segunda mina, a qual vitimou [, em 18 de julho de 1963]  o tenente mil inf Carlos Eduardo Afonso de Azevedo. Isto porque esta [GMC]  tinha capota de lona pela qual foi projectado o referido tenente que, contrariamente ao referido, não faleceu no local mas sim em Tite. (***)

A GMC da primeira mina [, 3 de julho de 1963,]  tinha capota rígida sobre a qual eu havia mandado instalar uma metralhadora Breda.. 

Um Grande Abraço a todos os camaradas,
António Abrantes
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Notas do editor:


(...)  José Marcelino Martins disse...

Furriel Miliciano Atirador Hérculçes Arcádio de Sousa Lobo
:  Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15 - Tomar, para a Companhia de Caçadores nº 423. Solteiro, filho de Emídio Sousa Lobe e Cacilda Sousa Lobo, natural da freguesia de Nossa Senhora das Dores, concelho do Sal, em Cabo Verde. Faleceu no Hospital Militar Principal, em Lisboa, no dia 16 de Julho de 1963, vitima de ferimentos em combate, provocados pela explosão de um fornilho em 3 de Julho de 1963, na estrada Nova Sintra - Fulacunda. Foi inumado no cemitério do Alto de São João.

(CECA- 8º volume - livro 1 - página 31/3) (...)


Abreu dos Santos (senior) disse...

... ajudas de memória: (...) deflagração de um fornilho que causa às NT duas baixas mortais instantâneas (Soldados apontadores-de-metralhadora Alberto dos Santos Monteiro e José Isidro Marques), e cinco feridos graves pouco depois heli-evacuados para o HM241- Bissau, onde ainda naquele mesmo dia vem a falecer o 1º Cabo Ap Met António Augusto Esteves de Magalhães; os outros três feridos graves são aerotransportados para o HMP-Estrela, onde dois sucumbem aos graves ferimentos, em 16Jul63 o Furriel miliciano Atirador Hércules Arcádio de Sousa Lobo, e em 20Jul63 o Soldado Atirador Alpoím Pereira Rodrigues.

Na 5ª feira 18Jul1963, um pelotão daquela mesma subunidade, comandado pelo Tenente miliciano de infantaria Carlos Eduardo Afonso de Azevedo, quando em deslocação-auto entre Tite (sede do BCac237) e Nova Sintra, é alvo da deflagração de outro fornilho que causa às NT a morte instantânea do citado oficial, e do Soldado Ap Met José Rato Casaleiro, e ferimentos graves ao Soldado Ap Met Joaquim da Silva Bento Jorge, heli-evacuado para o HM241 onde vem a falecer decorridos onze dias. (..:) 


Guiné 61/74 - P17521: Parabéns a você (1279): José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil, Pel Mort Ind 912 (Guiné, 1964/66)


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17516: Parabéns a você (1278): Vítor Caseiro, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4641 (Guiné, 1973/74)

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17520: (De) Caras (80): Maria Sofia Pomba Guerra (1907- c.1970), mais uma "desterrada política", tal como Fausto Teixeira, elogiada pelos históricos dirigentes do PAIGC

1. O nome de Fausto Teixeira parece estar hoje esquecido (espero bem que não esteja proscrito ...), ao não contar da lista dos "antifascistas da resistência"... Pelo menos não aparece na lista das 600 personalidades que constam, como tal,  no respetivo blogue e na respetiva página do Facebook (" notas biográficas de cidadãs e cidadãos que lutaram contra o fascismo e o colonialismo").

Provavelmente falta-lhe um biógrafo ou um "advogado", mesmo que oficioso... Mas o mesmo acontece com outros dos seus companheiros de desventura:  de facto, também não contam dessa lista os nomes de Gabriel Pedro (1898-1972) (igualmente desterrado para a Guiné e depois para o Tarrafal, tal como o seu filho Edmundo Pedro) e de Manuel Viegas Carrascalão (1901-1977) (operário gráfico, anarcossindicalista, preso sob a acusação de bombismo e de pertencer,  tal como Fausto Teixeira e Gabriel Pedro, à "Legião Vermelha", acabando por ser desterrado para Timor em abril de 1927, no navio "Pêro de Alenquer", numa viagem que vai demorar  5 meses, com passagem por Cabo Verde, Guiné, onde desembarcam alguns deles e entram outros, e Moçambique onde é rendido o comandante do navio.). 

Admite-se que, no caso do Fausto Teixeira, a omissão do seu nome  seja  devida, pura e  simplesmente, ao facto de lhe terem perdido rasto, desde que, com 25 anos, foi desterrado para a Guiné, em 1925, não pelo "fascismo" da Ditadura Militar / Estado Novo mas pela I República. 

De qualquer modo, a Guiné e  Timor era dois dos piores sítios do nosso glorioso Império para onde o Estado mandava os desgraçados dos "desterrados políticos", sendo ali entregues à sua sorte. Para este inferno, que eram estas duas colónias, iam em geral os indivíduos de profissões manuais ou, no caso de militares, os soldados e os marinheiros. 

Até no exílio e deportação, todos eram iguais mas uns eram mais iguais do que outros.
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[Foto acima: Maria Sofia Carrajola Pomba  Amaral da Guerra, cortesia do blogue "Silêncios e Memórias", editado por João Esteves]


2. O nome de Fausto Teixeira (ou Fausto da Silva Teixeira] aparece associado ao de Maria Sofia Carrajola Pomba [Amaral da Guerra, por casamento], sobre a qual colhemos as seguintes informações, a partir dessa página do Facebook e outras fontes na Net:

(i) nasce a 18 de julho de 1906, em São Pedro, Elvas, distrito de Portalegre (terra igualmente de uma militante pioneira do feminismo, a médica Adelaide Cabete, 1867-1935);

(ii) licencia-se em Farmácia pela Universidade de Coimbra, no princípio dos anos 30 (no ano lectivo de 1926/27, está no 2º ano, segundo apurámos por conta própria);

(iii)  a partir de meados da década de 30, vai para Moçambique [deve ter sido em 1933:
vd. GUERRA, Maria Sofia Pomba - Dois anos em África / Maria Sofia Pomba Guerra. - : Ed. do Autor, 1935. - XIII, 206 pp.]

(iv) em Lourenço Marques, publica alguns estudos sobre frutos silvestres e produtos exportáveis, é analista no Hospital Miguel Bombarda, lecciona na Escola Primária Correia da Silva, onde tem como aluno o poeta, jornalista e activista moçambicano Rui Nogar (1932-1993);

(iv) terá aderido ao PCP - Partido Comunista Português, em Lourenço Marques, por intermédio de um  ferroviário, o  Cassiano Carvalho Caldas [1915-c..2002/03, ], no final da década de 1930 ou princípios de 1940;

(v) mantém naquela cidade do Índico uma  militância activa, colabora nos jornais "Emancipador" e a "Itinerário", publicação editada entre 1941 e 1955, participa entre 1947 e 1948, na construção de uma estrutura comunista local [Fonte: José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal, vol. 3] e desenvolve, juntamente com Noémia de Sousa, actividades no âmbito do Movimento dos Jovens Democratas Moçambicanos, versão local do MUDJ da metrópole, integrando a direcção;

(vi) em 1949, torna-se na primeira mulher branca a ser presa e deportada para a metrópole: apresentada na PIDE em 23 de novembro de 1949, fica detida em Caxias até 4 de julho de 1950; será então libertada por ordem do Tribunal Plenário de Lisboa, por ter sido absolvida;

(vii) parte a seguir  para Cabo Verde, onde se junta ao marido, médico,  colega de Coimbra [ Platão Zorai do Amaral Guerra] e dali para a Guiné, onde vem a ser proprietária da Farmácia Lisboa;  ensina inglês no Liceu de Bissau (acabado de fundar) [não fica claro se vem para a Guiné como "deportada" ou se de livre vontade...];

(viii) em Bissau, vai procurar reatar a sua actividade política, juntamente com o empresário Fausto Teixeira e o médico Gumercindo de Oliveira Correia: segundo Pacheco Pereira [Álvaro Cunhal, vol. 3];

(ix)  Sofia Pomba Guerra era vigiada pela PIDE (instalada em Bissau a partir de 1957), que sabia que a farmacêutica recebia e fazia circular revistas comunistas francesas e panfletos portugueses, procurando mesmo organizar células comunistas no seio da população trabalhadora urbana (incluindo o incipiente operariado);

(x) o seu apoio, ao embrionário nacionalismo independentista, é reconhecido pelos históricos dirigentes do PAIGC  que não poupam elogios ao seu papel na luta anticolonialista, nomeadamente no auxílio à organização clandestina de reuniões, na prestação de informações relevantes sobre prisões iminentes, como a de Carlos Correia, e na preparação de fugas, como a de Luís Cabral (auxiliado também por Fausto Teixeira);

(xi) está associada, em 1958, à fundação do Movimento de Libertação da Guiné (MLG) (mais moderado que o PAIGC, defendendo uma solução de tipo federalista entre a Guiné e Portugal);

(xii) na sua farmácia trabalham destacados futuros combatentes do PAIGC como Epifânio Souto Amado e Osvaldo Vieira (este, um dos principais combatentes do PAIGC, morto em 1974, mas igualmente suspeito de envolvimento no complô contra Amílcar Cabral que levaria ao seu assassinato em 20/1/1973);

(xiii) Amílcar Cabral [Bafatá, 12/9/1924-Conacri, 20/01/1973], com quem Sofia convive na década de 50, no discurso pronunciado num Seminário de Quadros do PAIGC, efectuado entre 19 e 24 de novembro de 1969, refere-se à contribuição de dois brancos [Fausto Ferreira e Sofia Pomba Guerra]  na fuga de Luís Cabral da capital guineense, afirmando explicitamente que “uma pessoa que teve influência no trabalho do nosso Partido em Bissau, foi uma portuguesa", e acrescentando: "só quem não está no Partido é que não sabe isso. Ao Osvaldo, a primeira pessoa que lhe ensinou coisas para a luta, foi ela, não fui eu. Eu não conhecia o Osvaldo” [Amílcar Cabral, Alguns Princípios do Partido, pp. 21-22];

(xiii) mais tarde, Luís Cabral, nas suas memórias, a Crónica de Libertação [1984], evoca os contactos que manteve com esta “deportada para a Guiné", com a ficha na PIDE e a indicação de se tratar de "um elemento altamente perigoso”:  e acrescenta:  “embora vigiada pela polícia política, cujo chefe veio morar mesmo em frente da sua casa, retomou na primeira oportunidade as suas actividades políticas”;

(xiv) relaciona-se com Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Fernando Fortes, Luís Cabral, a quem dá lições de Inglês do 7.º ano do liceu, e muitos outros;  “apesar da posterior separação da actividade anticolonialista do movimento geral antifascista, a dr.ª Sofia Pomba Guerra continuou, como no passado, a ser a amiga e conselheira de cada um de nós” [idem]; foi ela quem apresentou Aristides Pereira a Amílcar Cabral quando este chega à Guiné no início dos anos 50;

(xv) o rótulo de "desterrada política antifascista e comunista" (sic) acompanha-a por todos os locais por onde passa  mas isso nunca a impedirá de intervir politicamente e manter-se fiel às suas ideias;

(xvi) morre sem chegar a ver a  independência, da Guiné-Bissau,  em data que não sabemos precisar, talvez no início da década de 70;

(xvii)  muito mais tarde, Luís Cabral terá reencontrado em Portugal o marido, o dr. Guerra, “que parecia estar sempre muito distante das actividades da esposa, [mas] era um grande patriota e democrata português que encorajava e apoiava essa actividade” [idem], com a filha mais nova Tafia;

(xviii) é autora de várias publicações  de natureza económica e científica, em Moçambique, outras: “Fruta de Moçambique” (1936), “Alguns frutos silvestres de Moçambique” (1938), “Alguns produtos exportáveis de Moçambique e os seus mercados externos” (1939);

(xviii) colaborou ainda  com o Centro de Estudos Culturais da Guiné Portuguesa:  vd.  GUERRA, Maria Sofia Pomba - Amendoim e palmeira do azeite : pilares económicos da Guiné portuguesa / Maria Sofia Pomba Guerra. In: Boletim cultural da Guiné portuguesa. - Vol. VII, nº25 (1952), p.9-83.
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Fonte: Adapt.com a devida vénia, do blogue "Silêncios e Memórias", editado por  João Esteves > 12 de junho de 2015 > [0998.] Maria Sofia Carrajola Pomba Amaral da Guerra [I]

Vd. também a nota biográfica da autoria de historiador João Esteves com colaboração de Helena Pato, sendo a fotografia,  acima publicada, enviada ao João Esteves por uma das netas da biografada, Maria Leonor Guerra Rodrigues Eisman > Página do Facebook Antifascistas da Resistência.
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17512: (De) Caras (86): Francisco Augusto Regalla (1871-1937), médico militar: a história de uma família ou de um clã (Juvenal Amado / Manuel Coelho / Armando Tavares da Silva / Patrício Ribeiro / Ricardo Regalla Dias-Pinto)

Guiné 61/74 - P17519: Os nossos seres, saberes e lazeres (219): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (8) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 14 de Março de 2017:

Queridos amigos,
Não há bem que sempre dure, mas dá satisfação fazer-se este relatório sobre um sonho realizável e realizado, aqui cheguei como aspirante a oficial miliciano, dei duas recrutas, fiz amizades inquebrantáveis, tenho permanentemente vontade de regressar, posso testemunhar, com tanta visita, como São Miguel se desenvolveu e é uma pérola do turismo à escala mundial.
Foi um último dia de viagem bastante longo, graças ao meu amigo Mário Reis pude contemplar essa jóia da natureza que é a Lagoa do Fogo e antes de chegar ao aeroporto ainda voltei à Ribeira Grande, bastante irreconhecível, com exceção do seu belíssimo património arquitetónico religioso e civil.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (8)

Beja Santos

O viandante está no último dia da sua itinerância micaelense. Graças à generosidade de um amigo de longa data, Mário Reis, o defensor dos consumidores mais conhecido da região, conta com um passeio que o conduzirá a um dos locais mágicos da ilha, a Lagoa do Fogo. Antes porém, ao raiar da aurora já se pôs a caminho para ir visitar um dos belos jardins de Ponta Delgada, desta feita o escolhido foi o jardim que circunda o palácio dos marqueses de Jácome Correia, hoje sede da Presidência do Governo Regional dos Açores.
Belíssimo jardim, uma amostra eloquente de toda a flora endémica e importada, mete palmeiras, criptomérias, azálias, e tudo mais. Deu para ficar especado a ver os trabalhos de jardinagem, feitos com imenso desvelo. Poucas flores naquele início de Fevereiro, mas impressiona a imensidão exuberante do verde, os belos caminhos, tudo tratado a preceito, como se pode ver.




Aqui viveu uma mulher espantosa, belíssima e infeliz nos seus amores e desamores, Margarida Jácome Correia, com ligações que deram brado, sobretudo a dois intelectuais de alto gabarito, Armando Côrtes Rodrigues e Vitorino Nemésio. Escreveu as suas memórias biográficas “Os amores de uma cadela pura”, desnudou-se ao limite das convenções da época, a sua autenticidade custou-lhe o ostracismo.


Hoje, a rede de estradas facilita a vida do turista quando vai de Ponta Delgada até à Lagoa do Fogo. Diga-se em abono da verdade que o viandante recorda com saudade passeios semelhantes dados nos últimos cinquenta anos envolvendo locais paradisíacos como a Serra de Água de Pau, o Pico da Barrosa e depois a descida até à Caldeira Velha, como hoje vai acontecer. No entanto, temos a neblina a dificultar as panorâmicas, lá se vai subindo a estrada sinuosa até chegar a esse local onde se desfruta uma das visões mais intensas, marcadas pelo vulcanismo adormecido. A última erupção data de meados do século XVI, a Lagoa fica lá bem no fundo, pertence à Rede Natura, está muitíssimo bem conservada, é flora e fauna harmoniosamente conjugadas, por ali passeiam-se umas aves que formam um concerto apropriado. Olhamos para o relógio, toca de partir para a Caldeira Velha, este passeio dos 50 anos ainda tem mais etapas à frente, caso da paragem pela Ribeira Grande.



Cá vamos a caminho da Caldeira Velha, anda-se um bom bocado até se chegar ao banho quente, hoje altamente frequentado. Não há transportes públicos, ou carro ou via pedestre é que asseguram o acesso a este exotismo floral, vale a pena estar para aqui especado a ver estas feridas de água, as pastas borbulhantes da lama vulcânica, os trilhos aliciam os amantes da natureza a passarem horas sem fim neste santuário verde e de águas quentes.



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17497: Os nossos seres, saberes e lazeres (218): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (7) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 27 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17518: Antologia (76): "O Correio durante a guerra colonial", por José Aparício (cor inf ref, ex-cmdt da CART 1790, Madina do Boé, 1967/69)... Homenagem ao SPM - Serviço Postal Militar, criado em 1961 e extinto em 1981.


Um aerograma expedido pelo nosso camarada Silvério Dias, na altura 2º srgt art, CART 1802, Nova Sintra, 1967/69, SPM 4618 [e depois 1º Srg Art, locutor do PFA, Bissau QG/CTIG, 1969/74], para a esposa, a residir em Carnide, Lisboa.

Os indicativos postais tinham 4 dígitos. No caso da Guiné, terminava sempre em 8 (oito).

Foto: © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Em agosto de 1961, foi aprovado o celebre "aerograma", considerado um impresso-carta, isento de porte e de sobretaxa aérea, e que era constituído por 1 folha de papel com o peso máximo de 3 gramas, dobrável em 2 ou 4 partes, mas de forma que as suas dimensões depois da dobragem não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mms, e mínimos de 100x70 mms. Dele apenas podia constar o nome, posto, e número e o indicativo de SPM atribuído. 

Na Guiné, o aerograma era carinhosamente conhecido como "bate-estradas" ou "corta-capim".

No final da guerra, o Movimento Nacional Feminino, criado também em 1961, tal como o SPM, estava a imprimir e distribuir 32 milhões de aerogramas por ano. Durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas (incluindo aerogramas, cartas, encomendas postais, valores declarados...).

O SPM terá sido um dos serviços militares que melhor funcionou durante toda a guerra colonial... 

Achamos oportuno reproduzir aqui, nesta série antológica, um texto da autoria do cor inf ref José Aparício, de resto nosso camarada na Guiné, na qualidade de comandante operacional da CCAÇ 1790, a subunidade que retirou de Madina do Boé em 6/2/1969 e que, na travesssia do rio Corubal, em Cheche, perdeu 25 dos seus homens (Op Mabecos Bravios).

José Aparício foi cmdt da PSP de Lisboa, a seguir ao 25 de Abril.


2.  O Correio durante a Guerra Colonial 

por José Aparício  [cor inf ref, ex-cmdt CCAÇ 1790, Madina do Boé, 1967/69]

[com a devida vénia ao portal Guerra Colonial 1961-74, da A25A - Associação 25 de Abril];  revisão e  fixação de texto: LG]


Com a deslocação para África de grandes efectivos militares a partir de 1961, as Forças Armadas Portuguesas foram confrontadas com a necessidade óbvia de fazer chegar "O Correio" a todos os locais onde estivessem estacionadas unidades militares. Naturalmente, a grande maioria das forças do exército encontrava-se dispersa no mato em grandes áreas, onde não havia estações dos correios normais, muitas vezes em locais isolados e inóspitos, alguns de muito difícil acesso.

Do antecedente o Exército Português tinha a experiência vivida na Flandres durante a 1ª Grande Guerra, quando foi criado, aprovado, e posto em execução o "Regulamento do Serviço Postal do Corpo Expedicionário Português - CEP" que serviu as tropas portuguesas em França em 1917 e 1918.

No final dos anos 50 início da década de 60, houve necessidade de tornar operacional a Chefia do Serviço Postal da Divisão quando o Exército constituiu e tornou operacional a divisão "Nuno Álvares" integrada no SHAPE. O activar deste serviço nas grandes manobras que então ocorriam durante todo o mês de Setembro em Santa Margarida, e que envolviam cerca de 10,000 militares, aconteceu nas manobras de 1960.

Para exercer as funções de chefia desse serviço postal, o Estado Maior do Exército requisitou aos serviços dos Correios um seu funcionário qualificado que graduou em Capitão, e que desempenhou com toda a eficiência a sua missão. Terminadas as manobras este quadro dos CTT regressou à sua anterior situação.

Quando em 23 de Junho de 1961 foi decidido criar um serviço de correios militar, o general Câmara Pina, Chefe do Estado Maior do Exército [CEME], requisitou de novo aos CTT o mesmo funcionário a quem, depois de graduar de novo em capitão, encarregou expressamente de organizar e pôr em funcionamento um Serviço Postal Militar no Ultramar. Nasceu assim o Serviço Postal Militar (SPM) tendo sido o seu primeiro responsável e Chefe do Serviço o capitão miliciano graduado Ernesto Lourenço Dias Tapadas, que até ao fim desenvolveu um trabalho notabilíssimo.

Aproveitando a experiência adquirida pelo Exército português na 1ª Grande Guerra, adaptou o que achou por conveniente, percebeu rapidamente todo a problemática envolvente, e estabeleceu o seu plano de acção eliminando com muita habilidade e diplomacia todas as dificuldades que foram surgindo com os 2 colossos monopolistas, que eram os CTT Continentais e os CTTU do Ultramar, e também com os serviços de Alfândega metropolitanos e ultramarinos.

A definição dos códigos de endereços foi a tarefa imediata a que a Chefia do SPM se dedicou e que se tornou determinante para o lançamento do serviço. Esses códigos eram constituídos por 4 dígitos, dos quais os primeiros 3 definiam a unidade militar, e o ultimo a província ultramarina. Assim, inicialmente o digito 1 correspondia à Índia, o 2 a S Tomé, o 3 a Macau, o 4 a Moçambique, o 5 a Timor, o 6 a Angola, o 7 a Cabo Verde, o 8 à Guiné, e o 9 à Metrópole.

Devido ao cada vez maior número de unidades em Africa, o critério inicial teve de ser rapidamente alterado, e a atribuição dos IP (indicativos postais) passou a ser feita, pelo Estado Maior do Exército [EME] para as unidades mobilizadas no continente, e pelos respectivos Comandantes Militares nos diferentes territórios para as unidades ali organizadas, mantendo-se sempre o ultimo digito definidor do território de destino.

Um problema entretanto surgido foi com os navios da Armada que quando saíam das suas localizações iniciais, e navegavam para outros territórios, e de e para a metrópole, recebiam a correspondência com atraso. Para resolver o problema, o 4º dígito 1, que inicialmente dizia respeito a Índia, passou a ser atribuído aos navios da Armada, em substituição dos dígitos recebidos inicialmente conforme os locais onde se encontravam Após algum tempo, a atribuição de todos os IP foi atribuída a Chefia do SPM.

Entretanto em Agosto de 1961, depois de difíceis e complicadas reuniões entre o Secretariado Geral da Defesa Nacional , a Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) e os Correios Telégrafos e Telefones do Ultramar (CTTU), foi aprovado o celebre "aerograma", considerado um impresso-carta, isento de porte e de sobretaxa aérea, e que era constituído por 1 folha de papel com o peso máximo de 3 gramas, dobrável em 2 ou 4 partes, mas de forma que as suas dimensões depois da dobragem não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mms, e mínimos de 100 x 70 mms.

As regras estabelecidas para o endereço a colocar em toda a correspondência a enviar para as unidades expedicionárias obrigavam a que dele apenas constasse o nome, posto, e número e o indicativo de SPM atribuído.

A organização geral do SPM consistia numa Chefia em Lisboa, pelo menos uma Estação Postal Principal em cada território, e dentro destes tantas Estações Postais Secundárias quantas as que se revelaram necessárias face ao respectivo movimento postal, e ao número de PMC (Postos Militares de Correio), cada um destes apoiando até 2500 homens.

No fim da cadeia, havia em cada unidade um Encarregado da Delegação Postal da Unidade (EDPU) normalmente o(s) cabo(s) escriturário(s) da(s) unidade(s), que recebiam formação específica para essas funções.

Em 21 de Julho de 1961 entrou em funcionamento em Luanda a Estação Postal Militar Principal nº 6, menos de um mês depois da criação do SPM! Quando se iniciaram as hostilidades na Guiné e em Moçambique já ali se encontrava completamente operacional o SPM.

O SPM foi um serviço totalmente constituído por milicianos, nele tendo servido 202 oficiais e 504 sargentos. O seu quadro foi constituído inicialmente apenas por funcionários dos CTT e CTTU, graduados em oficiais e sargentos conforme a sua posição hierárquica nos seus serviços. A partir de 1966 o recrutamento passou a fazer-se entre oficiais e sargentos milicianos da metrópole a quem era dado um curso específico no Centro de Instrução do SPM no Forte do Bom Sucesso em Lisboa.

O serviço prestado pelo SPM foi notável. Muito para além dos números impressionantes de milhões de aerogramas, cartas, encomendas, vales do correio e valores declarados, por eles tratados e enviados; durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas. É que nunca falhou, mesmo nos locais mais perigosos, difíceis e isolados, e os prazos médios entre a expedição e a recepção eram mínimos.

Só quem ali viveu esses tempos pode testemunhar o alvoroço e a alegria da chegada do correio, o conforto e ajuda que todos sentíamos pelas noticias da família e dos amigos.

O SPM foi extinto em 10 de Julho de 1981, cessando toda a sua actividade em 31 de Dezembro de 1981. Com a discrição com que iniciaram os seus trabalhos, assim os terminaram, como se nada de especial tivessem feito, naturalmente sem reconhecimento público assinalável. O SPM que escolheu como divisa do seu guião "A vida por uma mensagem", bem a honrou até ao fim.

Ao Capitão Miliciano Ernesto Tapadas, e a todos os que integraram o SPM durante toda a sua existência, é devida uma enorme gratidão por milhões de portugueses; por todos os que, de 1961 a 1975, serviram na Índia, em África, em Macau e em Timor, e também por todas as suas famílias que em Portugal mitigavam as saudades e as suas angústias com as noticias dos seus filhos tão longe. Os que estiveram na guerra nunca os esquecem!
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Nota do autor:

A informação relevante acima descrita foi retirada de: BARREIROS, Eduardo ; BARREIROS, Luís - História do serviço postal militar. [Lisboa] : E. Barreiros, D.L. 2004. 460 p. : il. ; 30 cm. Ed. bilingue em português e inglês. Bibliografia, p. 458-460. ISBN 972-9119-65-1
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9000: Antologia (75): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (8): Ilha do Como, 15 de Março de 1964: E Deus desceu à guerra para a paz (Último episódio)...