quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17977: Historiografia da presença portuguesa em África (100): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte II: (iii) da pesca à agricultura; (iv) os primeiros chineses e seus descendentes




V Encontro Nacional da Tabanca Grande, Leiria, Monte Real, 2010 > António Estácio, 


1. Continuação da publicação da comunicação do António Estácio, sobre o contributo da comunidade chinesa na Guiné, para o desenvolvimento da cultura do arroz. nas primeiras décadas do séc. XX, Temos a autorização expressa do autor, o nosso amigo e camarada António [Júlio Emerenciano ] Estácio, que tem 45 referências no nosso blogue. Eis aqui uma breve nota curriucular sobre ele:

(i) é lusoguineense, nascido em 1947, e criado no chão de Papel, em Bissau, com raízes transmontanas, tendo vivido também em Bolama;

(ii) formou-se como engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), depois de frequentar o Liceu Honório Barreto;

(iii) fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72); 

(iv) trabalhou depois em Macau (de 1972 a 1998); 

(v) vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra; 

(vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010; 

(viii) tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "Mulheres Grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959);

(ix) o seu livro mais recente (2016, 491 pp.), de temática guineense, tem como título "Bolama, a saudosa", edição de autor;

(x) a comunicação que agora se reproduz foi feita no âmbito da V Semana Cultural da China, de 21 a 26 de janeiro de 2002;


2. O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte II: (iii) da pesca à agricultura: (iv) os primeiros chineses e seus descendentes (pp. 440-446)


In: Estácio, António J.E. (2002) – O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense, in: Actas, V. Semana Cultural da China, Centro de Estudos Orientais, ISCSP/UTL: 431‑66














(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série >  15 de novembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17974: Historiografia da presença portuguesa em África (99): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte I:  (i) preâmbulo: (ii) generalidades

Guiné 61/74 - P17976: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 3 e 4: Promovido a 1º cabo condutor autorrodas e colocado no RAL 5, em Penafiel



José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74. Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo hoje autor, com dois livros publicados (um de poesia e outro de ficção). Senta-se debaixo do poilão da Tabanca Grande no lugar nº 756.

Foto de cima: no Regimento de Cavalaria 6, 1972, depiois de ter feitoa recruta do CICA 1 - Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas, no Porto, junto ao paláciod e Cristal;promovido a 1º cabo condutor autorrodas será colocado em Penafiel, e daqui mobilizado para a Guiné.

Fotos: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Prosseguimos a pré-publicação do próximo livro do nosso camarada José Claudino Silva:



Sinopse (*): 

(i)  foi à inspeção em 27 de junho de 1970,  e começou a fazer a recruta,  no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1;


(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.



2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva,  ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 3 e 4: Promovido a 1º cabo condutor autorrodas e colocado mo RAL 5, em Penafiel


[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]


3º Capítulo > UM MILITAR FAMOSO



1972: foi um ano bissexto. Aproveitei o dia 29 de Fevereiro para escrever,  gabando-me tanto que, julgo, passados estes 45 anos, ainda estou todo babado. Nessa semana, soube que passei com distinção no exame de condução. Fui eleito o melhor do pelotão e o segundo da recruta. Senti-me um militar invencível. O Major Alvega que se cuidasse. Recebi uma medalha das mãos dum general qualquer. Cerimónia que foi filmada pela RTP e que foi para o ar, no dia 4 de Março de 1972. Foi o meu primeiro instante de fama.

Tendo o privilégio de poder escolher onde queria continuar a instrução, escolhi o Regimento de Cavalaria Nn 6 que ficava na Constituição, também na cidade do Porto.

Acho agora, a esta distância, que esses acontecimentos fizeram com que o exército me comprasse. Deram-me mais um pouquinho para eu lhes ser fiel, e eu, idiota como sempre fui, fiz exactamente o que esperavam de mim: esforcei-me por ser um militar exemplar, o que na realidade não  era.

Na época, havia três formas de sair da unidade, de forma legal:  (i) dispensa -que servia para algumas horas; (ii) pretensão - para passar a noite fora; e (iii)  passaporte - para passar o fim-de-semana. 

Estes três métodos dependiam sempre de autorização superior. Recordo-me que, devido às dificuldades em se obterem essas autorizações, muitos dos recrutas estavam dispostos a pagar, para poderem sair dos aquartelamentos. Reconheço que fui um oportunista e ganhei algum dinheiro com isso, pois nunca tive grande dificuldade em obtê-las e podiam trocar-se. Eis os preços: 

(i) Dispensa - 50$00 [, equivalente hoje a 11, 62 €, segundo o conversor da Pordata];

(ii) Pretensão - 100$00;[, eqquivalente a 23, 25 €)

(iii) Passaporte - 200$00. [, equivalente a 46,50 €]


Acreditem que era caro. Como quase tudo que é ilegal. A minha medalha e aparecer na TV abrira-me algumas portas e eu passei a lixar alguns camaradas, quando devia ter sido mais solidário com eles. Um dia, precisei de um passaporte, e o Luís vingou os colegas todos, exigindo-me 400$00 [c. de . 93,00 €]. Bem feito! Virou-se o feitiço contra o feiticeiro e acabei com o negócio.

O Exército continuava a premiar-me. No RC 6, recebi mais uma medalha e um diploma de 2º classificado na instrução, sendo promovido a 1º cabo C.A.R. [Condutor Auto.Ridas]. Mais uma vez, pude escolher para onde queria ir, tendo três unidades à disposição. Escolhi o Regimento de Transmissões em Arca de Água, no Porto.

Neste aquartelamento, dormi pela primeira vez na vida numa cama de esponja.


4º Capítulo > 1º CABO CONDUTOR AUTORRODAS



Recebi as divisas de 1º cabo, em 19 de Maio de 1972. Nesse dia, completei 22 anos. O meu primeiro serviço como cabo foi de 30 de Abril para 1 de Maio. O quartel estava de prevenção. Foi a primeira vez em que senti ser o 1º de Maio um dia importante; até essa altura não fazia a mínima ideia.

No dia 30 desse mês, fui transferido para o R.A.L. 5 (Regimento de Artilharia Ligeira Nº 5), em Penafiel. Estava em casa. O quartel distava mil metros da minha residência. Dali partiria para a Guiné. Tinha sido mobilizado para ir defender a minha Pátria.

Carlos Mendes tinha, recentemente, representado Portugal no Festival da Eurovisão, com uma canção com música de José Calvário e letra de José Niza. Chamava-se “Festa da Vida”. Eu iria representar Portugal, na Festa da Morte. O meu amigo Fernando já tinha cumprido esse desiderato. Fora precisamente na província da Guiné que dera a sua vida... “Em Nome da Pátria”.

[Continua]

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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série:

Guiné 61/74 - P17975: Parabéns a você (1342): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68) e T-Coronel José Francisco Robalo Borrego, ex-Furriel Art do QP do 9.º Pel Art (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17972: Parabéns a você (1341): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reabast Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Coronel Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17974: Historiografia da presença portuguesa em África (99): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte I: (i) preâmbulo e (ii) generalidades




V Encontro Nacional da Tabanca Grande, Leiria, Monte Real, 2010 > António Estácio, 


1. Por  expressa autorização do autor, o nosso amigo e camarada António [Júlio Emerenciano ] Estácio, que tem 44 referências no nosso blogue:´

(i) é lusoguineense, nascido em 1947, e criado no chão de Papel, em Bissau, com raízes transmontanas, tendo vivido também em Bolama;

(ii) formou-se como engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), depois de frequentar o Liceu Honório Barreto;

(iii) fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72); 

(iv) trabalhou depois em Macau (de 1972 a 1998); 

(v) vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra; 

(vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010; 

(viii) tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "Mulheres Grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959);

(ix) o seu livro mais recente (2016, 491 pp.), de temática guineense, tem como título "Bolama, a saudosa", edição de autor;

(x) a comunicação que agora se reproduz foi feita no âmbito da V Semana Cultural da China, de 21 a 26 de Janeiro de 2002;


2. O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte I:  (i) preâmbulo e (ii) generalidades (pp. 431-439)

In: Estácio, António J.E. (2002) – O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense, in: Actas, V. Semana Cultural da China, Centro de Estudos Orientais, ISCSP/UTL: 431‑66

Guiné 61/74 - P17973: Os nossos seres, saberes e lazeres (240): De Manchester para Lisboa, ficam as saudades (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 22 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo a um belíssimo circuito, de Manchester chegou-se a Leeds, houve um cheirinho dos vales de Yorkshire e rumou-se para o Sul da Escócia, diga-se sem modéstia que todo aquele cantinho foi passado a pente fino. Deu para acompanhar uma campanha eleitoral inesquecível, vamos ver se não é até memorável pelos resultados obtidos e pelas inequívocas manifestações dos britânicos não quererem perder as grossas amarras que os unem ao continente.
Por obra e graça dos voos low-cost, conheceu-se Manchester e traz-se boa memória, entre arte e arquitetura.
Resta agora o filtro das recordações e esta constante ebulição de estudar novo destino, fazer a mala, usufruir e relatar o que se viu.

Um abraço do
Mário


De Manchester para Lisboa, ficam as saudades (9)

Beja Santos

Escolheu-se Manchester para arribação e reembarque por razões estritamente económicas, há voos low-cost a preços da uva mijona, é uma tentação para qualquer andarilho. E goza-se do privilégio de haver uma mão amiga que nos transporta até Yorkshire, um dos locais ingleses que mais aprazimento traz ao viandante. Vem esta conversa só para justificar que havia dois dias para calcorrear Manchester, de que só se conhecia o aeroporto. É a segunda maior cidade inglesa, foi o polo de atração do mundo algodoeiro, ainda hoje se respira sinais de muita vida afortunada, há para ali planos de urbanização um tanto estrambóticos, constrói-se ultramoderno e as estatuárias do passado ficam um tanto à deriva, como aqui se exemplifica. Não é um tremendo choque visual, mas questiona-se se estes planificadores urbanos não podiam encontrar outras conexões entre o passado, o presente e o futuro. Vê-se e passa-se adiante.



Parou-se diante do obelisco pela especial razão de que um antigo combatente venera certo tipo de lembranças, com as das guerras que atravessaram entre 1914 e 1945 a memória britânica não brinca em serviço, foram trincheiras, afundamentos em vários oceanos, veio gente combater de vários continentes, os alemães temiam as tropas indianas, tal era a crueldade, veio o rolo compressor alemão sobre a França, veja-se como se comportaram em Dunquerque, na batalha da Grã-Bretanha e por aí adiante. Por isso o viandante pára e tira-lhes o chapéu, houve para ali bravura sem bazófia, nestas horas de discussão do Brexit o viandante nunca esquece que a eles muito deve a democracia.



Há um propósito nestas duas imagens, o viandante sente-lhes complementaridade, o fausto do hotel e um edifício harmonioso que enlaça um cruzamento, ambos têm harmonia, são um verdadeiro eco e uma vida metropolitana que não se perdeu, a despeito de gritantes desarranjos nas escalas de toda esta edificação, intui-se que não há qualquer concorrência com a mega cidade que é Londres, esta foi desenhada para ser capital de império, a sede de todas as instituições, ali está o poder, a começar pela praça financeira que corre o risco de se vir a fragmentar, esperemos pelos próximos andamentos do Brexit.



Poderá ser produto de pura imaginação, mas o viandante encontra analogias entre as imagens da Nova Iorque do princípio do século XX com o que aqui Manchester conserva. Quer os sinais de ostentação daquele edifício que terá sido um imponente espaço comercial e o outro mais minguado, estão felizmente bem conservados e dá gosto a sua contemplação, não quero cansar o leitor com a batucada das observações e porventura delírios de quem anda em viagem, mas há nesta cidade uma inequívoca dinâmica e nesta arquitetura um inequívoco orgulho de manter de pé e conservado aquilo que, em tantas cidades, deu origem a enxaquecas insolúveis, veja-se Glasgow, dotada de um património arquitetónico invejável, deitou-se abaixo sem pudor, enxertaram-se umas construções modernas odiosas, e não se sabe bem como é que se vai desatar o nó sem gastar fortunas. E pense-se em Bruxelas, onde bairros graciosos parece que foram bombardeados, para proveito daqueles que ganham fortunas com os funcionários das instituições europeias.


Aqui está um sinal da Manchester de outras eras, por estes cursos de água chegavam matérias-primas ou partiam produtos acabados, tivesse o viandante tempo e até iria mostrar velhas fábricas que por ali proliferam, às escâncaras, a aguardar revitalização. Cidades há como Leeds ou Bristol encontraram soluções para os armazéns que marcaram a paisagem destes canais. É tudo uma questão de engenho e apetência para que os centros se mantenham habitados e com caráter.



Já se está com o tempo contado, há um aeroporto à espera e um avião para nos trazer para Lisboa. O viandante nunca perde oportunidade para visitar um qualquer museu municipal. Foi graças a um processo de orgulho cívico que eles têm vindo a medrar onde há gosto pela civilização. Não há muito tempo o viandante visitara o Museu Municipal de Vila de Rei, singelo e bem ataviado, aproveitou-se um bom edifício, recriou-se uma casa agrícola, dispuseram-se com gosto objetos ligados à vida rural e até houve o cuidado de aproveitar um edifício apenso ao museu, uma antiga cadeia onde se retrata da cela do preso, tudo com respeito pela memória. Foi por esta razão que se quis ver o Museu Municipal de Manchester, tem um acervo esplendoroso, o viandante prendeu-se de amores pela propaganda que pôs Churchill ao lado de Estaline, coisas da luta contra o nazismo e depois a história dos conservadores, que tem aspetos brejeiros.



Ora cá está, Manchester e os negócios marítimos e a réplica de um interior doméstico de outras eras. Por razões compreensíveis, e por se tratar de um museu de dádivas de uma cidade de média dimensão, não se vê aqui muito a antiguidade nem obras de arte vultuosas, como é possível ver no museu da cidade de Londres, estranhamente pouco badalado e que é um portento. Foi uma bela visita, deixa saudades, diga-se em abono da verdade que tudo deixou saudades, foram 17 dias em cheio, com gente muito cordial, de Inglaterra à Escócia e regresso até esta cidade que tem encantos indisfarçáveis, resta relembrar que até se andou a mirar uma manif contra o racismo, bem vigorosa, por sinal.

Para terminar, logo que possa estou de regresso.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17947: Os nossos seres, saberes e lazeres (239): Lesmahagow, adeus a Moffat, primeiro dia em Manchester (8) (Mário Beja Santos)