terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18334: (De)Caras (105): Onde fica a Rua António da Silva Capela?... Fica em Lousa, Loures... Quem foi? Um herói limiano, esquecido na sua terra natal, Ponte de Lima (Mário Leitão / Adelino Silva)



Localização da Rua António da Silva Capela, Lousa, Loures. Fonte: © Google (2018)  (com a devida vénia...)

Freguesia: Lousa
Concelho: Loures
Distrito: Lisboa
GPS: 38.867017, -9.213068


1.  Como chegar à Rua António da Silva Capela, em Lousa, Loures?  O portal Moovitapp dá-te uma ajuda...

E sabes quem foi o António da Silva Capela? Não sabes, como ninguém sabe... tanto em Loures (onde está sepultado) como em Ponte de Lima (onde nasceu)... Ninguém sabe, nem está sequer interessado em saber... Para ter nome de rua, é alguém que já morreu...

É verdade, é alguém que já morreu. Um jovem minhoto, que morreu em combate, numa guerra já esquecida, e que ninguém quer lembrar: guerra do ultramar, para uns, guerra colonial, para outros... Em suma, um camarada nosso cuja memória temos a obrigação de honrar...

Foi homenageado em 1971, dois anos depois da sua morte, com um nome de rua no município onde foi sepultado (e onde deveria residir ao tempo em que fora chamado a prestar o serviço militar obrigatório)... Era então presidente da câmara municipal de Loures (1970-1974) um tal Luís Filipe da Cunha de Noronha Demony (nascido em Moçambique, em 1928)... Estávamos no "tempo do fascismo", dirão alguns... 

Hoje já ninguém se lembra dessa simples homenagem do município de Loures ao soldado limiano... Felizmente, há quem se recuse em deixar este nosso camarada, morto em combate na Guiné, no setor de Bula, em 18 de outubro de 1969, ficar "sepultado na vala comum do esquecimento"... Conterrâneos seus como Mário Leitão, nosso grã-tabanqueiro, ou o jornalista Adelino da Silva, fazem questão de resgatar a sua memória.

Sobre o herói limiano António da Silva Capela (Cabaços,. Ponte de Lima), escreveu o  nosso Mário Leitão:

(...) "Soldado Atirador 72441868. Este jovem deixou-nos algumas das mais lancinantes e emotivas imagens que se conhecem de toda a filmografia da Guerra do Ultramar, divulgadas pelo Institut National de l’Audiovisuel francês (...) Trata-se de um filme chocante sobre a agonia de António Capela, nascido em Cabaços no dia 25 de Outubro de 1947 e recenseado em Loures, onde está sepultado no Cemitério da Lousa. Foi mobilizado para a Guiné pelo Regimento de Cavalaria 7, extinto em 1975, como membro da Companhia de Cavalaria 2487, pertencente ao Batalhão de Cavalaria 2868, que embarcou no dia 23/02/1969 e regressou a 30/12/1970. Era filho de Gabriel dos Santos Capela e de Rosa Araújo da Silva." (...)


Adelino da Silva, por sua vez, escreveu, em 18 de julho de 2016, no portal "Vale Mais" um vibrante e brilhante artigo de opinião ("As lavadeiras do rio Lima e a guerra colonial") que merece ser conhecido dos amigos e camaradas da Guiné que aqui se sentam sob o poilão da Tabanca Grande.


2.  AS LAVADEIRAS DO RIO LIMA E A GUERRA COLONIAL

Opinião > Adelino Silva > Jornal Vale Mais, 18 Julho, 2016

[Texto e foto: reproduzidos com a devida vénia, ao autor e ao editor]

Estávamos em 18 de outubro de 1969, era um sábado de outono, morno e soalheiro. Vivíamos no “Portugal Maior” — assim batizado por Norton de Matos, o nosso General —, aquele Portugal, real e utópico, cujos territórios se estendiam do Minho a Timor.

Na Guiné-Bissau — uma das parcelas desse “Portugal Maior” —, os jovens soldados portugueses combatiam, há alguns anos, contra uma guerrilha “invisível”, mas vivamente determinada em derrotar o exército colonial, com emboscadas ferozes e minas insidiosas.

Em Ponte de Lima, na centenária vila, as mães desses soldados — as airosas e risonhas “lavadeiras do Lima” —, engalanavam o pitoresco areal, ainda doirado e luminoso, com fulgentes estendais, em cenário policromático matizado por incontáveis peças de roupa.

Na Guiné, nas rústicas tabancas, circundadas por verdes matas gementes, as mães dos guerrilheiros pilavam arroz e milho, de forma ritmada e vagarosa, em mais um dia longo e sonolento.

Perto de Bula, nos bosques viridentes e adversos, um jovem limiano de Cabaços (António da Silva Capela), integrava como soldado atirador, uma patrulha da “Operação Ostra Amarga” (*), precisamente aquela que Spínola — o enigmático comandante-chefe —, escolheu, como palco improvisado, para promover mais um episódio de propaganda inútil, levando, para os “trilhos da morte”, uma equipa de repórteres franceses, ao serviço da rádio e da televisão ORTF e da revista Paris-Match.

“Ostra Amarga” viria a tornar-se, nesse dia, num doloroso e gélido malogro para as nossas tropas e num invulgar batismo de guerra para os jornalistas franceses.

Em “direto”, a cores e debaixo de “fogo cerrado”, aquela equipa de ousados repórteres registou, em película, num longo travelling dantesco, o clímax dramático e apocalítico, tingido de rostos de dor, horror e tragédia, de uma das operações de combate mais desumanas, alguma vez filmada nas frentes da guerra colonial e que viria a ser fatal para o jovem limiano.

As imagens ácidas, cortantes e pungentes, resultantes de mais uma emboscada impiedosa, correram mundo; a televisão francesa emitiu-as em 11/11/1969; e a revista “Paris Match” publicou, em 15/11/1969, uma reportagem, sob o título, “Guiné: a estranha guerra dos Portugueses”.
UM POVO QUE LAVA NO RIO E A ESTRANHA GUERRA DA GUINÉ

Mas, para mostrar o contraste, entre essa “estranha guerra dos Portugueses” (a cores) e o “Portugal real” (a “preto e branco”), o realizador francês, um génio criativo sabedor da força da tessitura da cor e do poema “povo que lavas no rio”, de Pedro Homem de Mello (PHM), inseriu, no meio do caos cénico, alguns fotogramas pincelados de beleza extrema, onde brota o gracioso areal limiano, esmaltado por infindas peças de roupa a flutuar ao vento, em suaves bailados coreográficos, e vigiadas, com denodo, por duas mãos cheias de generosas mulheres — as míticas “lavadeiras do Lima”. 

[Vd. INA.fr., vídeo "Guerre en Guinée",  minuto 8, 47º segundo...]

São imagens expressivas, a “preto e branco”, onde sobressai o quotidiano simples dessas “mulheres-lavadeiras”, que o atento realizador francês, utilizando o efeito catalisador da arte cinematográfica, exibiu ao mundo, simbolicamente, como sendo as “mães de Portugal”, que sustentavam a “estranha guerra” da Guiné, com a seiva mais valiosa da juventude.

Hoje, na sempre vetusta e renovada vila, as “mães de Portugal” — as “lavadeiras do Lima” — deixaram de ser a imagem icónica do “povo que lava no rio” e, no pictórico areal do Lima, os lençóis de alvura reluzente já não tremulam, em animada sinfonia visual, com a pureza das brisas que passam. Na Guiné, as mães dos antigos guerrilheiros, continuam a viver nas tabancas, envolvidas por cortinados de paisagens de ruínas e de silêncio, e a pilar arroz e milho, em tardes sempre quentes e intermináveis.

Em 31/10/1971, António Capela foi homenageado com o nome de uma rua em Loures (onde se encontra sepultado), evento noticiado com grande brilho, em 15/11/1971, no jornal “Mirante”.

Mães que lavam no rio ou que pilam arroz nas tabancas, jovens soldados ou guerrilheiros que combatem ou morrem em “estranhas guerras”, são os laços traumáticos que unem dois povos, num véu de mágoa e de mistério, e que só serão suavizados pelas teias do tempo que passa. O resto, já o havia escrito, de forma sublime, PHM [Pedro Homem de Melo, 1904-1984], o tal poeta esquecido: “Pode haver quem te defenda; Quem compre o teu chão sagrado; Mas a tua vida não”.(**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2018 >  Guiné 61/74 - P18333: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Quem são os camaradas da CCAV 2487 / BCAV 2862 (Bula, 1969/70), que assistiram aos últimos minutos de vida do trágico herói limiano António da Silva Capela (1947-1969), uma das vítimas mortais da emboscada, em 18/10/1969, no último dia da Op Ostra Amarga ? Estou a fazer a biografia deste filho de Ponte de Lima, que não pode ficar sepultado na vala comum do esquecimento na sua terra natal... (Mário Leitão)

(**)  Último poste da série > 10 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18197: (De)Caras (103): Patrício Ribeiro, "pai dos tugas" ou o "último improvável herói tuga" na Guiné-Bissau?... Recordando o seu ato de heroísmo e altruísmo em Varela, em 1998, ao "pôr a salvo", na fragata Vasco da Gama, um grupo de portugueses e outros estrangeiros... 18 milhas / c. 33 km pelo mar dentro, numa canoa nhominca...

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18333: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Quem são os camaradas da CCAV 2487 / BCAV 2862 (Bula, 1969/70), que assistiram aos últimos minutos de vida do trágico herói limiano António da Silva Capela (1947-1969), uma das vítimas mortais da emboscada, em 18/10/1969, no último dia da Op Ostra Amarga ? Estou a fazer a biografia deste filho de Ponte de Lima, que não pode ficar sepultado na vala comum do esquecimento na sua terra natal... (Mário Leitão)




Foto nº 2


Foto nº 3


 Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6



Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


 Foto nº 10



Foto nº 11


 Foto nº 12


Foto nº 13



Foto nº 14

Footogramas, selecionados por Mário Leitão, do vídeo, em francês, "Guerre en Guinée" [, "Guerra na Guiné", ORTF, Paris, 1969] , hoje disponível no portal do INA - Institut national de l'audiovisuel (13' 58'').


1. Mensagem, com data de 8 do corrente, do nosso camarada: Mário Leitão [ hoje farmacêutico reformado, ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973; residente em Ponte de Lima, membro da nossa Tabanca Grande, escritor, autor de livros como "História do Dia do Combatente Limiano" (2017) e "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012).



Camarada Luís, um grande abraço!

Não sei se será possível ou oportuno pedir à nossa comunidade de grão-tabanqueiros e aos visitantes assíduos as identificações dos camaradas que aparecem nos frames do vídeo ORTF sobre a morte de ANTÓNIO DA SILVA CAPELA, ocorrida no último dia da Operação Ostra Amarga. (*)

A questão é a seguinte: estou a terminar a biografia desse herói limiano (que tem o seu nome numa rua de Loures, mas que é desconhecido em Ponte de Lima!) e gostaria de deixar para a história o maior número de referências possível!

Referir alguns dos camaradas cujos rostos aparecem no filme, seria elementar sob o ponto de vista de rigor histórico, creio eu.

De resto, a biografia do Soldado Atirador de Cavalaria António Capela (CCAV 2487) está bastante completa, havendo uma descrição cronológica dos acontecimentos desde a madrugada do dia 18/10/1969, até ao regresso ao aquartelamento, no final da tarde.

Se for possível lançar um SOS, seria muito bom!
Outro abraço, extensivo a toda a tua equipa!

Muito obrigado!


Foto nº 1 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAV 2497 / BCAV 2862  (Bula, 1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido, numa emboscada,  no decurso da Op Ostra Amarga (que ficou também ironicamente conhecida como Op Paris Match)... Os nossos camaradas foram atingidos por um LGFog inimigo.

As duas vítimas mortais foram: (i) o Henrique Ferreira da Anunciação Costa, soldado clarim n.º 03434368, natural de Ferrel,  freguesia de Atouguia da Baleia, concelho de Peniche,  que teve morte imediata; e (ii) o  António da Silva Capela, soldado atirador n.º 0721868, natural da freguesia de Cabaços, concelho de Ponte de Lima:  morreu à espera da helievacuação.  Está sepultado no cemitério de Lousa, concelho de Loures (, município onde tem também nome de rua, homenagem realizada dois anos depois, em 1971).

As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Capitão Cav José Sentieiro, hoje coronel ref) caem num emboscada do PAIGC... O combate é presenciado por jornalistas estrangeiros e registado em filme por uma equipa da televisão francesa... No fotograma acima (foto nº 1), as NT prestam os primeiros socorros a um dos feridos graves. Um dos militares transporta, às costas, uma fiada de granadas de LGFog 3,7...

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote, editor jubilado do nosso blogue (*)


2. Comentário do editor LG:


Fazemos um apelo para que os nossos leitores, e em especial os da CCAV 2487 / BCAV 2862 (Bula, 1969/70), possam idenrtificar estes camaradas que estiveram envolvidos na Op Ostra Amarga. (**)

O nosso camarada Mário Leitão tem-se dedicado, de alma e coração, à indispensável e exaustiva recolha e tratamento da informação relativa aos 52 limianos, os naturais do concelho de Ponte de Lima, mortos nos TO de Angola, Guiné e Moçambique bem como no continente ou outros territórios, no cumprimento do serviço militar, no período que abarca a guerra do ultramar (1961/74).

A lista (52 nomes no total). já aqui por nós publicada.  é enriquecida com fotos e valiosas notas biográficas. Os camaradas mortos no TO da Guiné  foram assinalados a vermelho (sublinhado). Um deles foi o António da Silva Capela, sold at, CCAV 2487 (1969/70), morto em combate no decurso da Op Ostra Amarga, e cuja atroz agonia foi filmada por uma equipa da televisão francesa, de visita ao TO da Guiné.

3. Este é o vídeo mais 'pornográfico' da guerra da Guiné, passado e repassado nas nossas estações televisivas,  na Net e no cinema, muitas vezes sem um mínimo de "pudor", sem uma informação de contexto, sem citação da fonte: a helievacuação ipsylon que não chegou a tempo, a atroz agonia do sold at da CCAV 2487, António da Silva Capela, natural de Ponte de Lima, mortalmente atingido nessa emboscada, no último dia da Op Ostra Amarga, no subsetor de Bula, região do Cacheu, uma ostra amarga para Spínola, para todos nós  e para os jornalistas franceses que cobriram este acontecimento de guerra.

O vídeo, em francês, "Guerre en Guinée" [, "Guerra na Guiné", com resumo analítico, em português, no poste P2249 (*)] , está disponível no portal do INA - Institut national de l'audiovisuel (13' 58''). Foi produzido pela ORTF, a estação de televisão pública francesa, em 1969. Não o podemos reproduzir, diretamente aqui, no blogue, pro razões de direitos de autor.  Mas apelamos a que os nossos leitores o vejam ou revejam, no portal do INA.fr [clicar aqui "Guerre en Guinée"]  para melhor identificação dos nossos camaradas, cujos fotogramas constam da primeira parte deste poste, e que vão renumerados, de 2 a 14.

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Guiné 61/74 - P18332: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (31): Abrantes, sede do antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2, mais tarde Escola Prática de Cavalaria (2006) e hoje Regimento de Apoio Militar de Emergência



Abrantes > O antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2 >  Hoje  Regimento de Apoio Militar de Emergência


Abrantes > O antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2 >  Já foi Escola Prática de Cavalaria (2006)

Fotos: © Manuel Traquina (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abrantes > RI 2 -  Regimento de Infantaria 2 > 1970 > A unidade mobilizadora de muitos batalhões que passaram pelo TO da Guiné como foi o caso  do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... Durante a guerra do ultramar, o RI2 incorporou, treina e mobilizou um total de 52.000 homens para os diverso Teatros de Operações. Mais concretamente, foi a unidade mobilizadora de  63 batalhões, 30 companhias independentes e 82 pelotões de apoio.

Na foto, em primeiro plano, o nosso camarada Otacílio Luz Henriques, a caminho da "peluda"...

Foto: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados.   [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abrantes > RI 2 -  Regimento de Infantaria 2 > 1969 > Vista aérea.

 Foto: Unidades do Exército Português > Regimento de Infantaria nº 2  (página  de Nuno Chaves, em construção) (com a devida vénia...)


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Traquina, deixada ontem na página do Facebok da Tabanca Grande:


Para aqueles que passaram pelo Regimento de Infantaria de Abrantes vão estas fotos.

O RI2, como em tempos o conhecemos, e por onde passaram largos milhares de militares, agora virou RAME - Regimento de Apoio Militar de Emergência. 

Com um número de militares muito reduzido em relação aos tempos de guerra, foi já também Escola Prática de Cavalaria [, em 2006].

2. Comentário do editor LG:

No seu livro, "Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné" [Edições Palha de Abrantes, 2009), o Manuel Traquina tem um pequeno capítulo dedicado ao RI 2. unidade que mobilizou a sua companhia, a CCAÇ 2382...E dai partiram para a Guiné... O Manuel Traquina "jogava em casa", já que era natural do concelho (, Souto, a 20 km da sede)...

Sobre a sua terra diz o seguinte:

"Curioso é que ainda hoje a cidade de Abrantes seja lembrada por muitos que por aqui passaram e, também, por alguns que aqui arranjaram madrinha de guerra, namorada e noiva... casaram e por aqui ficaram" (p. 31).

Meu caro Manuel, a minha companhia, a CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) foi mobilizada pelo RI 2. Aliás, éramos meia dúzia de gatos pingados (graduados e especialistas, uma meia centena). Formámos companhia, tirámos a Escola Preparatória de Quadros e fizemos a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, também "à pedrada", como vocês,  no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM), que ficava no concelho vizinho de Constança... A cerimónia de despedida foi junto à capela do CMSM, E dali fomos diretamente, de comboio (, tenho a ideia que de noite, quase como "clandestinos"...) para o Cais da Rocha Conde de Óbidos. Embarcámos no T/T Niassa em 24 de maio de 1969...

Da tua terra, Abrantes, não tenho memórias, desse tempo. Ou varreram-se-me as memórias, de todo.. Posso dizer que passei por Abrantes como cão por vinha vindimada... com os (des)acordes da fanfarra do RI 2 muito ao longe...


3. Recorde-se que o Manuel Traquina (ex-Fur Mil Mec Auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70) vive em Abrantes [, foto atual, acima]. Aliás,  nasceu no Souto, Abrantes, em 1945. 

Frequentou o Curso de Sargento Milicianos (CSM), nas Caldas da Rainha, no 1º trimestre de 1967. Em 30 de Março, dava início à especialidade de Mecânico Auto, na Escola Prática de Serviço e Material (EPSM), em Sacavém. Fez ainda estágio no Centro de Instrução de Condutores Auto nº 3 (CICA3) em Elvas. Em finais de Agosto, é transferido para o Depósito Geral de Material de Guerra (DGMG), em Beirolas. Quinze dias depois, a 13 de setembro, é mobilizado para a Guiné. A 19 de fevereiro de 1968, apresenta-se no RI 2, em Abrantes, a fim de integrar a CCAÇ 2382. Passados dois meses e meio, a 1 de Maio de 1968, parte no Niassa, com destino a Bissau, aonde desembarca a 6.

Na Guiné, passou pelos seguintes aquartelamentos: Brá, Bula, Aldeia Formosa e Bula. Regressa a Portugal em Abril de 1970, no mesmo T/T Niassa.

Depois da ‘peluda’, trabalhou em Angola, no Serviço de Emprego. Regressa Portugal, em 1975, na sequência do processo de descolonização. Em Abrantes, foi técnico de emprego, do Centro de Emprego local. Está actualmente aposentado do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFO). Tem página no Facebook > Manuel Batista Traquina.

Publicou "Os Tempo de Guerra, De Abrantes à Guiné”,  Edição Palha de Abrantes, 2009. E, mais recentemente,. em 2017, na Chiado Editora, "Angola que eu conheci: de Abrantes a Luanda"

(*) Último poste da série > 27 de abril de 2017 > Guiné 63/74 - P17290: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (30): Tavira, CISMI, onde há 48 anos frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos (António Tavares)

Vd. também 28 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

(...) Até que um dia me transmitem:
- Vais para Abrantes.

Bati o pé e disse:
- Não vou... Não vou... Não vou... 

E fui.

Em Abrantes, estava mais perto de casa [, Ponte de Sor], o que me agradou.

Lá se foi passando o tempo e coube-me ajudar o Oficial instrutor, ensinando novos militares. Por que alguns de nós, os recentes cabo-milicianos, estávamos já a ser mobilizados, fui-me preparando. Contudo, tal mobilização só veio a acontecer, quando já houvera prestado 20 meses de tropa.

Entretanto em Abril de 1965 e "por equivalência a seis meses consecutivos em Unidade Operacional, condição a que satisfaz para promoção ao posto imediato (sic)" , fui promovido a Senhor Furriel-Miliciano. Estava então em Tomar a preparar outros jovens, que afinal acabaram por ser os que fazendo parte da Companhia de Caçadores 1422, embarcaram comigo para a Guiné, em 18 de Agosto. (...)

Guiné 61/74 - P18331: Notas de leitura (1042): História do Dia do Combatente Limiano”, por Mário Leitão (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,

Mário Leitão entra por vezes pela nossa sala de conversa adentro e conta-nos o que faz em Ponte de Lima, no dever de memória. Ciranda pelos estabelecimentos de ensino, faz convergência com instituições cívicas, lança os seus apelos nos jornais. Acha que os combatentes da I Guerra Mundial e das guerras de África ainda não receberam a merecida homenagem, ele estuda afincadamente os que tombaram e neste livro menciona-os com elevo e ternura. É um combate que nos comove e enquanto lia o seu livro lembrava o privilégio que me tinha sido dado de ir a Fafe falar a antigos combatentes de um livro que fora escrito para cinzelar o seu esforço e os seus sacrificos.

Um abraço do
Mário


Honra e glória ao combatente limiano

Beja Santos

Mário Leitão costuma vir conversar connosco, é com toda a justeza o mais denodado estudioso e promotor em Ponte de Lima do dever de memória, não se cansa de lembrar que durante 100 anos Ponte de Lima esqueceu-se dos seus filhos sacrificados na I Grande Guerra e pouco faz por recordar os mais de 50 limianos que tombaram em África, entre 1961 e 1974. Desse labor, e em edição sua, publicou em 2017 a “História do Dia do Combatente Limiano”, honrou-me com a oferta do seu trabalho.

É sobretudo um documento tocante de alguém que não desfalece e que anda pelas escolas, pelas associações cívicas e pelos jornais a batalhar pela sua causa, a nossa causa. Logo no prefácio o Coronel Luís Gonzaga Coutinho de Almeida explica o sentimento que os irmana, conta uma história:

“Um dia, a ouvir a lancinante dor de uma mãe por não poder fazer o luto do filho que morreu em combate no Ultramar, onde ficou sepultado, também a minha vida mudou no dia em que soube que um jovem da minha terra havia tombado pela Pátria, em 1917, na batalha de La Lys, e que jazia esquecido no cemitério francês de Richebourg L’Avoué, no Norte de França.

Nesse Verão, peguei no meu automóvel e percorri mais de 4 mil quilómetros à sua procura. Quando o encontrei (no Talhão A, Fila 10, Coval 13) pus-me em sentido à sua frente e benzi-me. Depois, baixei-me e abracei a sua lápide. Chorei e pedi-lhe desculpa, em nome de todos os habitantes da minha freguesia, por o termos esquecido durante 96 anos. E, quando à noite, voltei ao hotel a Lille, sentia-me outra pessoa, com o sentimento de um dever cumprido, mas essencialmente feliz e livre”.

Evocam-se partidas e sacrifícios, páginas de exaltação, como aquela situação de Júlio Dantas a propósito do embarque das tropas portuguesas da primeira expedição para Angola, no início da I Grande Guerra:

“Vi-os passar. Caminhavam quase nos braços do povo. Pequenos, robustos, tisnados do sol, curvados sobre as mochilas enormes, os trigueiros doirados das cabeças espreitando da sombra dos capacetes de feltro, as pernas curtas apertadas nas grevas, avançando, cinzentos, baços, compactos, como uma espessa coluna de poeira que tivesse aberto o caminho entre uma multidão – respirava neles, nas suas figuras desmanchadas, truncadas e alegres, aquela simples e ingénua bravura, aquele risonho e resignado heroísmo, que foi sempre, desde que os burgueses escuros e bárbaros dos primitivos concelhos se bateram em Navas de Tolosa, a caraterística fundamental da nossa raça”.

Há 6 corpos de limianos que ficaram na guerra, 5 em Moçambique e 1 na Guiné, que se transformaram num luto incompleto, nunca cumprido e permanentemente recordado. O mesmo, ou pior, se passa com os corpos de Celestino Sousa e Júlio Lemos, não recuperados de afogamentos ocorridos em rios guineenses. Isto escreveu Mário Leitão na sua coluna regular em Cardeal Saraiva, um dos jornais de Ponte de Lima. Ele vai descrever com detalhe toda a sua militância para que se comemore o dia do combatente limiano, lembra que Ponte de Lima foi o primeiro município a celebrar a memória dos seus filhos mortos ao serviço da Pátria em territórios ultramarinos, o que aconteceu em 1986. 10 anos depois foi colocado uma placa alusiva à homenagem de Ponte de Lima com o nome de todos os cidadãos do concelho mortos em missão militar. Investigações ulteriores revelaram mais nomes, o número ultrapassa os 50. Tem havido homenagens, mas, ao que ele nos revela, há em Ponte de Lima uma rivalidade sem quartel entre o CDS e o PSD, decretou-se temporariamente que esse dia do combatente não tem razão de ser, é suficiente o que se comemora sob a égide da Liga dos Combatentes.

É uma edição profusamente ilustrada, com textos alusivos e de várias proveniências. Numa dessas homenagens aparece o Coronel António Feijó a recolher a última Bandeira Nacional que esteve hasteada na Guiné até à hora da sua independência. Aqui fica o seu registo e um abraço ao Mário Leitão, um corredor de fundo que acompanhamos de perto.


A última bandeira nacional a ser hasteada na Guiné. Foi trazida pelo Coronel Bruno Pereira de Castro, conjuntamente com o clarim usado na cerimónia de transmissão da soberania para a República da Guiné-Bissau. Foram confiados ao Dr. Francisco Maia de Abreu de Lima para fins museológicos. Cobriu a urna do Coronel Pereira de Castro do dia do seu funeral
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18324: Notas de leitura (1041): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (22) (Mário Beja Santos)

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18330: Agenda cultural (628): Apresentação do livro "Guiné-Bolama, História e Memórias", da autoria de Fernando Tabanez Ribeiro, dia 26 de Fevereiro de 2018, pelas 15 horas, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11 em Lisboa (António Estácio)



Sobre o autor:

FERNANDO TABANEZ RIBEIRO 
Nasceu em Coimbra a 11 de Junho de 1946. 
Viajou para a Guiné Portuguesa ainda na primeira infância, onde fez a escola primária e o antigo primeiro ciclo dos Liceus na modalidade de ensino particular, em Teixeira Pinto (Canchungo) e Bolama. 
Voltou à Metrópole para concluir o ensino secundário em Coimbra e seguidamente, o curso de Engenharia Química (1971) do Instituto Superior Técnico em Lisboa. 
Cumpriu o serviço militar na Armada entre 1971 e 1973, tendo sido mobilizado para a Guiné como oficial imediato de uma Lancha de Fiscalização Grande (LFG), navio patrulha das águas territoriais e dos principais rios da Província, durante a guerra colonial. 
O conhecimento da sociedade na Guiné e particularmente em Bolama, nestes dois períodos marcantes da sua vida, em criança e na fase adulta, analisado à luz da nossa histórica presença naquele território, está na origem deste livro. 
Regressado à Metrópole em 1973, desempenhou a sua actividade profissional na área da indústria alimentar como engenheiro, consultor e gestor, em Portugal e na R. P. Angola, encontrando-se hoje aposentado.

(Com a devida vénia a Âncora Editora
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18302: Agenda cultural (627): Foi inaugurado hoje, às 14h30, o Dino Parque da Lourinhã: mais de 400 milhões de anos de vida na terra, no maior museu ao ar livre do país... Mais de 120 réplicas de dinossauro em tamanho natural... Um projeto de ciência, educação e entretenimento, na Lourinhã, a "capital dos dinossauros"

Guiné 61/74 - P18329: Blogpoesia (553): "Sobressaltos...", "Libertação...", e "Poesia do calcanhar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Sobressaltos…

Inesperados, surgem de repente.
Revoltam a vida.
Atordoam. Escurecem.
Fica-se suspenso.
Desaparece o futuro.
O passado ardeu.
Estilhaçou-se a esperança.
Quem havia de dizer!...
Logo a mim.
Sempre foi na casa dos outros.
Desta vez, fui eu.
Por mais rico e forte.
Todos sujeitos.
É bom reflectir antes que seja.
Seja o que for, é preciso acalmar.
Fiquemos de pé.
Com tempo, a ordem virá.
Montanha sem vale, não há.
O caminho é subir e descer.
Desistir é perder passado e futuro…

Berlim, 12 de Fevereiro de 2018
8h31m
Jlmg

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Libertação…

Corrigir o caminho que nos leva ao abismo,
Voltar para casa ileso dum assalto violento,
Sair da falência que nos pôs na miséria,
Vencer o tumor, sentença de morte,
Sem a ajuda da químio,
Abrir o carro com a chave perdida,
Encontrar a carteira com tudo lá dentro,
Regressar são duma guerra malvada,
Recuperar o romance inteirinho que o computador escondeu,
Acordar de manhã e poder trabalhar,
Apanhar o comboio que já estava a apitar,
Deixar de fumar e começar a viver,
Sair da prisão a meio da pena, voltar para lá,
Conseguir o perdão na hora da morte
Que não chegou a chegar,
É como morrer e voltar a nascer…

Berlim, 14 de Fevereiro de 2018
8h34m
Jlmg

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Poesia do calcanhar…

É servil e humilde por função.
Ali está. Suportando o corpo na vertical.
Um par. Gémeo. Missão igual.
Ponto de partida e chegada.
Elegante, na marcha.
Se eleva e avança.
Com equilíbrio, pisa e aguenta.
O outro se lança.
Vence a distância.
Aproxima o distante. Ufano, segue atrás a planta do pé.
Segundo plano.
Que importa?
O que interessa é chegar.
Cisne volante,
Corpo a dançar.
Sente o chão.
Detesta tacões.
Com engenho, arguto,
Se arma de calos, contra as pedras e espinhos da terra.
Se agarra à perna como a quilha dum barco.
Ora, prá frente, ora para trás.
Repousa à sombra, deitado de lado…

Ouvindo “fantasia” em fá menor, de Schubert em piano
Berlim, 15 de Fevereiro de 2018
7h39m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18307: Blogpoesia (552): "Ao alcance da mão...", "Brandenburg", e "Saiu um vedor...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18328: O nosso blogue em números (51): atingimos a cifra dos 10,2 milhões de visualizações de página, com uma média díária de mais de 2,6 mil, nos últimos 30 dias (Jorge Araújo)


Infografia: Jorge Araújo (2018)é úme




Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974): nosso colaborador permanente


1. Mensagem do nosso próximo editor Jorge Araújo,  com data de ontem, às 00:40

Assunto - O nosso blogue em números - 8 400 000 visualizações

Caro Luís,

Boa Noite.

Após o jantar, decidi assistir ao jogo de futebol desta noite entre o Clube Desportivo FEIRENSE e o PORTIMONENSE Sporting Clube, com o objectivo de me preparar para o diálogo/debate com os meus alunos do ISMAT (Portimão), alguns aficionados e, simultaneamente, pertencentes aos quadros técnicos da colectividade algarvia.

Concluído o jogo, passei pela «Tabanca» e constatei que estava próxima mais uma visualização redonda e histórica - a 8.400.000 (oito milhões e quatrocentos mil). Esperei o qb, pois poderia ter sorte de voltar a seu o feliz contemplado... e fui mesmo. E ela aí está, en anexo.

Depois do teu excelente trabalho estatístico, referente ao ano de 2017, apresentado/partilhado com todos os nossos leitores [vidé P18210 + P18199 + P18192 + P18190 ...] (*), eis o meu pequeno contributo para mais tarde recordarmos.

Bom fim-de-semana, com saúde e boa disposição.

Um abraço.
Jorge Araújo.




Evolução do nº de visualizações do nosso blogue de 19/1 a 17/2/2017: o máximo de visualizações de página foi de 7362 (em 21 de janeiro) e o mínimo foi 1368 (em 24 do mesmo mês).

Resumo estatístico do período (correspondente a 30 dias, de 19/1 a 17/2/2018)

Visualizações de páginas de hoje > 4 098

Visualizações de página de ontem > 3 035

Visualizações de páginas no último mês > 78 784
Média diária > 2 626

Histórico total de visualizações de páginas > 8 404 350 [a que deverá ser acrescido mais 1,8 milhões, de abril de 2004 a julho de 2010, período em que tínhamos um  outro contador sem ser o Blogger).

Seguidores > 609

Fonte: Blogger (2018)


2. Comentário do editor LG:

Jorge,  estás sempre no sítio certo e na hora certa, "just in time"... Tens que jogar no Euromilhões, porque és um sortudo... Obrigado pelo teu contributo, mais um, para o conhecimento da dinâmica do nosso blogue que, ao fim destes anos todos, ainda consegue despertar e a atenção o interesse de muitos amigos e camaradas da Guiné, mesmo daqueles mais cansados do percurso pela picada da vida...

Já agora, completo a tua infografia, com o resumo estatístico do período de 30 dias, que vai de 19/1 a até hoje. Estamos com uma notável média diária de mais de 2600 visualizações por página.

Além disso, publicámos 148 postes desde o início do ano de 2018: média diária, 3,1 postes. O número de comentários até hoje anda nos 700, o que perfaz uma média de 4,7 comentários por poste. 
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Nota do editor:


Vd. também postes de:




sábado, 17 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18327: Os nossos seres, saberes e lazeres (253): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Era uma viagem de lembranças, um retorno com a distância de 40 anos, o objetivo primordial era abraçar amizades inquebrantáveis, rever os locais conhecidos em 1977, alargando a peregrinação a todos os espaços posteriormente conhecidos. Será o caso de Namur, como adiante se contará.
Hoje, o viandante anda de saco ajoujado com as compras feitas na Feira da Ladra, local mítico, sempre que alguém lhe entra em casa ele vai apresentando aguarelas, desenhos, estatuetas, esculturas, porcelanas e nunca se esquece de dizer: "Vieram da Place do Jeu de Balle". Há ali mesmo, no vestíbulo, um quadro imenso com uma esplêndida moldura de madeira entalhada que entrou num avião da TAP e terá seguramente deixado as piores recordações a uma hospedeira.
É muito bom ter Bruxelas em casa, naquele álbum fotográfico exótico de alguém que começou em Vilar Formoso, esteve em Fátima e em Lisboa, fotografou tudo, algures nos inícios da década de 1950, e há música mesmo, como a integral das sonatas para violino e piano de Beethoven por dois intérpretes lendários.
Afinal, também somos uma composição de lugares.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (3)

Beja Santos

A tendência natural para melhor tirar partido da viagem é ler um bom roteiro, conversar previamente com os autóctones, ver o traçado das artérias do local visado. Quase todos nós somos atraídos pelos bairros antigos. Quem vem a Lisboa procura Alfama, Madragoa ou Mouraria. No caso de Bruxelas é o bairro de Marolles, está bem perto do Palácio da Justiça, o primeiro itinerário que o viandante já badalou. Marolles é constituído por ruelas e ruas que estão cada vez mais sujeitas ao fenómeno da gentrificação, passou a ser chique renovar prédios e viver num ambiente interclassista. Marolles está pejado de comércio, avulta o das antiguidades e o bricabraque está na Praça do Jeu de Balle. Não se deve ir ao sábado ou ao domingo à Feira da Ladra, os preços duplicam. Aqui encontra-se tudo o que saiu dos sótãos e que resiste à insensibilidade dos herdeiros, que vendem a pataco os objetos mais íntimos dos seus ancestrais.


Do livro que o viandante sobraça diz-se acerca de Marolles: Coração da agitação proletária até ao início do século XX, depois dos desempregados, quando as fábricas abandonaram o território, tornou-se num lugar de passeio domingueiro, espaço cobiçado de renovação. Marolles viveu ao ritmo da miscigenação e das trocas. Os imigrantes (judeus da Europa de Leste, primeiro; em seguida, espanhóis, depois marroquinos) deram origem a fluxo de gente que seria enquadrada por instituições sociais e a uma vida associativa rica e densa. A Feira da Ladra é essencialmente hoje um local de comércio marroquino.





Era uma manhã de céu limpo, os feirantes munem-se de toldos, as bátegas da chuva às vezes contrariam as previsões meteorológicas. Para o viandante foi um dia de festa: uma edição luxuosa dos poemas de amor de Paul Éluard, poemas fac-similados, com desenhos de Picasso e Chagall, duas obras preciosas com iluminuras da Biblioteca Nacional de Paris e de livros persas, lenços, artefactos religiosos, loiça Wedgwood, e algo mais, a preços imbatíveis. Mas o viandante tem problema que vem ali para encantar os olhos. Há, contudo, aquele espetáculo de sofrimento dos álbuns de família, das caixas de costura, das bibliotecas que tinham uma orientação temática, os cd’s meticulosamente classificados, é um pouco como estar a mexer na vida íntima de cada um. É toda a azáfama da Praça do Jeu de Balle que fascina o viandante. Foi sempre assim e espera-se que seja sempre assim, até à última viagem.




Depois de se locupletar com uma adubada waterzooi, um género de sopa cremosa com nacos de galinha, viandante e companha avançam para Saint-Gilles, atravessam a Porta de Hal, o objetivo é o Museu Horta, um dos mais internacionais museus de Bruxelas, pois gente de todo o mundo vem aqui em peregrinação adorar a arquitetura Arte Nova de um dos seus mais consumados génios. Saint-Gilles e Ixelles possuem residência de sonho, mas são multiétnicos. Escreve-se na obra que acompanha o viandante: Com a imigração portuguesa, espanhola, grega, marroquina e africana, a população densificou-se e, na sua esteira, o número de lojas e cafés aumentou. Nestas comunas, dotadas de múltiplos bairros heterogéneos variando de uma rua para outra, formando micro-aldeias, estabeleceram-se desde o início artistas e intelectuais, a que se vieram juntar depois os eurocratas.



Escreve-se no roteiro do viandante: Erguidas entre 1898 e 1901, casa e ateliê respeitam o traçado do bairro e inscrevem-se no tecido urbano, reservando, nas traseiras, um ilhéu de jardins. Volumes, decoração e mobiliário compõem um mundo harmonioso no qual proporções, cores e aberturas das divisões banhadas de luz se integram perfeitamente, num jogo delicado e audacioso de materiais industriais (ferro e cerâmicas) e luxuosos (madeiras preciosas). O guia do museu apresenta-nos a relação dos trabalhos de horta na cidade, caso do Palácio das Belas Artes e da Maison du Peuple, esta destruída. São interiores primorosos, o viandante perde-se a ver puxadores, corrimãos, portas com vitrais, escadarias, tem a garganta seca com tanto esplendor de arte nova, sobe aos diferentes andares, está tudo irrepreensivelmente zelado. E sai dali em estado de consolo, nada de mais aprazível do que ver um espaço desta categoria irrepreensivelmente mantido.


Como é que é possível resistir à magnificência e ousadia desta porta Arte Nova? Entretanto anoitece, viandante e companha descansam os pés e deitam contas à vida: já se cirandou à volta do Palácio de Justiça, percorreu Marolles, Saint-Gilles e Ixelles, quer-se voltar a Marolles, passear no Sablon e Mont des Arts, conhecer as novidades nos bairros Léopold e Europeu, aquela zona da cidade em convulsão com a expansão das instituições europeias. Decide-se que a manhã seguinte é um salto até à natureza. Afinal de contas, a Bruxelas mais desconhecida dos viandantes fugazes é a dos parques. Vamos visitá-los, no esplendor do Outono.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18306: Os nossos seres, saberes e lazeres (252): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18326: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVIII: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 14 e 15 de abril de 1969 (III)


Foto nº 21A

Foto nº 21


Foto nº 22


Foto nº 23


Foto nº 24


Foto nº 25


Foto nº 26


Foto nº 27


Foto nº 28A


Foto nº 28B


Foto nº 28



Foto nº 29

Foto nº 30

Foto nº 30A


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau (III)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)

 Última parte da reportagem fotográfica da visita do prof Marcelo Caetano, a Bissau, em 14 de abril de 1969, no âmbito de um périplo pelo Ultramar português, em guerra (Angola, Moçambique e Guiné). No dia seguinte, 15, partiu para Luanda.


Tendo viajado em avião da TAP,  desembarcou em Bissalanca, onde era aguardado por uma enorme multidão, e pelas autoridades militares e civis fa províncica. O com-.chefe e o governador geral da província era então o general António Spínola, já com um ano de Guiné (desde 20 de maio de 1968).

Depois das boas.vindas e recepção protocolar ao ilustre visitante, a comitiva percorreu de automóvel o percurso entre o aeroporto e a cidade de Bissau, uns 10 quilómetros aproximadamente, sendo visível ao longo de todo o percurso nas bermas da estrada um grande número de guineenses, apoiando com bandeiras e outros adornos e roncos o "homem grande" de Lisboa.

Pelo que pude observar, a população recebeu bem Marcelo Caetano. Não estive em todo o lado porque não era possível, dadas as dificuldades de passar barreiras que eram enormes, mas ainda assim pude fotografar Marcelo Caetano no carro nas Avenidas de Bissau.

Em, 14-02-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva de Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».


2. Nota do editor LG:

Na RTP Arquivos pode-se ver uma interessante reportagem, de cerca de 30 minutos, sobre a visita oficial de Marcelo Caetano a Bissau, em 14 e 15 de abril de 1969. Clicar aqui.

O então recente presidente do conselho de ministros Marcelo Caetabo (1906-1980)  (, em funções desde 26 de setembro de 1968, substituindo Salazar) foi acompanhado pela filha e pelo  ministro do ultramar, Silva Cunha, nesta sua visita à capital da Guiné.

Veio em carro descapotável de Bissalanca até ao palácio do Governador, mas em grande velocidade. No palácio, é saudado por Spínola, e por uma representação de homens grandes (, régulos). Caetano tinha estado na Guiné em 1936... Cá fora, o ambiente é de festa popular, com vários grupos de músicos e dansarinos. Depois de também  discursar, e da sessão de cumprimentos,  a comitiva  dirige-se ao cemitério de Bissau, onde Marcelo Caetano presta homenagem aos militares portugueses mortos na guerra. De regresso, e caminho do estádio de futebol Sarmento Rodrigues, Marecelo Caetano mistura-se, com à vontade,  com a multidão... Desce várias vezes da viatura. E aqui é acompanhado por Spínola.


Resumo analítico da reportagem. emitida em 24 de abril de 1969 (Fonte:  RTP Arquivos, com a devida vénia)

(i) Marcelo Caetano chega ao Aeroporto de Lisboa, acompanhado por sua filha Ana Maria e despede-se de entidades e membros do Governo;

(ii)  população aplaude; parada militar; Marcelo Caetano entra no Boeing 727-100, "Ilha da Madeira" da TAP; avião a descolar. 

(iii) 05m28: Aeroporto de Bissalanca: populares aguardam a chegada do Presidente do Conselho de Ministros, exibindo cartazes com a sua fotografia, faixas e bandeira portuguesa; desfile militar; parada militar com avião a aterrar ao fundo; Marcelo Caetano desembarca e cumprimenta General António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné; fanfarra militar toca o hino nacional; Marcelo Caetano, Joaquim Silva Cunha (Ministro do Ultramar) e César Moreira Baptista (Secretário de Estado da Informação e Turismo) escutam o hino em sentido; militares em parada militar; Marcelo Caetano, General António de Spínola e General Venâncio Augusto Deslandes, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, passam revista às tropas; desfile militar com fanfarra; Presidente do Conselho de Ministros cumprimenta a população e entra no automóvel. 

(iv) 08m31: Bissau: pessoas à beira da estrada saúdam Marcelo Caetano à passagem da comitiva, com faixas, cânticos e danças; num gabinete do Palácio do Governo, Marcelo Caetano cumprimenta oficiais dos três ramos das Forças Armadas.

(v) 10m42: Presidente do Conselho entra no Salão Nobre onde se realiza uma sessão extraordinária do Conselho Legislativo da Província; à direita de Marcelo Caetano, Joaquim Silva Cunha e à esquerda o General António de Spínola; discurso de Joaquim Baticã Ferreira, vogal do Conselho Legislativo (sem som); César Moreira Baptista e Venâncio Augusto Deslandes assistem à reunião; discurso do Governador-Geral da Guiné agradecendo a visita oficial de Marcelo Caetano ao Ultramar; assistência aplaude. 

(vi) 13m00: Marcelo Caetano discursa sobre a última visita à Guiné, as medidas tomadas enquanto Ministro do Ultramar para o desenvolvimento da província, a paz como condição essencial para o progresso do território e o reforço das forças de segurança da Guiné; entidades presentes aplaudem e cumprimentam o Presidente do Conselho de Ministros.

(vii)  21m01: Praça do Império com multidão a aplaudir e a dar vivas; Marcelo Caetano acena da varanda; no interior do palácio, o Presidente do Conselho de Ministro entrega lembranças a individualidades nativas; no exterior a população dança, canta e toca instrumentos musicais; Marcelo Caetano acena à população a partir do automóvel. 

(viii) 23m20: Marcelo Caetano chega ao Cemitério de Bissau acompanhado por Joaquim Silva Cunha, César Moreira Baptista e Venâncio Augusto Deslandes; passam entre alas da Mocidade Portuguesa; junto de campas prestam homenagem aos soldados que morreram pela Pátria em território guineense; soldado entrega coroa de flores a Marcelo Caetano, que as deposita junto do monumento; fachada da Catedral de Bissau; população cerca o Presidente do Conselho à saída da Catedral; no automóvel Marcelo Caetano acena à população que grita "Viva Portugal". 

(ix) 27m31: Marcelo Caetano e comitiva entram no Comando-Chefe das Forças Armadas; sentinela; carro do Governo percorre as ruas de Bissau com pessoas a assistir; chegada ao Aeroporto de Bissalanca; Marcelo Caetano, acompanhado por Joaquim Silva Cunha e General António de Spínola, despede-se da população que aplaude; guarda de honra em parada militar; banda toca Hino Nacional; Marcelo Caetano despede-se do General António de Spínola e embarca no avião [, rumo a Luanda,] acenando à população.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >

15 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18320: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVI: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 24 de abril de 1969 (I)

16 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18323: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVII: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 24 de abril de 1969 (II)