domingo, 4 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18376: Historiografia da presença portuguesa em África (111): Gabu, terra sangrenta, palco de lutas entre mandingas e fulas, vista pelos olhos do grande repórter, Norberto Lopes (Diário de Lisboa, 27 de fevereiro de 1947)








"Diário de Lisboa", diretor: Joaquim Manso. Ano 26, nº 8710,  quinta feira 27 de fevereiro de 1947. O jornal avulso custava 80 centavos... Cortesia do Portal Casa Com,um / Fundação Mário Soares / Fundos: DRR - Documentos Ruella Ramos

Citação:
(1947), "Diário de Lisboa", nº 8710, Ano 26, Quinta, 27 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22406 (2018-3-4)
Continuação das "crónicas" do grande repórter Norberto Lopes, que parte de Bafatá até Sara Gabu (, ainda não se chamava Nova Lamego)...

Tópicos:  (i) os burros que transportam mancarra para Batafá, logo de manhã: (ii) os saracolés que se dedicam à indústria da tinturaria; (iii) a tabanca de Dandum ( ou Dando) e o seu velho régulo Idriss Alfa Baldé; (iv) a decadência da outrora orgulhosa e aguerrida  tribo fula, povo de pastores e nómadas, devida à alimentação deficiente e ao sobreconsumo de noz de cola;  (v) a tabanca futa-fula de Chana e o seu régulo Madiu Embaló: referêndia ao grande Monjour (ou Monjuro, ou Monjur...), que morreu em 1944, aos 88 anos [Monjour Meta (Em)Baló, régulo do Gabu entre 19089 e 1927, segundo o antropólogo e nosso grã-tabanqueiro Eduardo Costa Dias]; (vi) a 'guerra de Turubam' [, que quer dizer em fula "a sementeira acabou"]; (vii) o compensador contrabando de ouro, o seu impacto na economia local, e os 300 ou 400 quilos de que continuam a entrar em Portugal, por ano;  (vii) o comércio e a "febre da construção na região; e, por fim, (viii) o fascínio desta parte de África: "é nos extensos plainos dioríticos do Gabu, de vegestação arbústica, de grandes clareiras desoladas, que vem terminar, na costa ocidental, o mundo muçulmano",















1. Norberto Lopes (Vimioso, 1900-Linda A Velha, Oeiras, 1989) foi um notável jornalista e escritor, tendo estado entre outros ao serviço do "Diário de Lisboa", onde foi chefe de redação, desde 1921, cronista e grande repórter, além de diretor (entre 1956 e 1967). Saiu do "Diário de Lisboa" para cofundar em 1967 o vespertino "A Capital" (que dirigiu até 1970, ano em que se jubilou).

Mestre do jornalismo na época da censura, transmontano de alma e coração, grande português, sempre se bateu pela liberdade de expressão, que considerou a maior conquista do 25 de Abril. Entre a suas obras publicadas, destaque-se:"Visado pela Censura: A Imprensa, Figuras, Evocações da Ditadura à Democracia "(1975). Aprendeu a lidar com a censura e os censores e a escrever nas entrelinhas, com engenho, manha e arte, como muitos jornalistas que viveram no tempo do Estado Novo,

Claro, conciso, preciso. objetivo e imparcial... são alguns dos atributos da sua escrita e do seu estilo como repórter da imprensa escrita, um dos maiores do nosso séc. XX português. Foi. além disso, um grande amigo da Guiné e dos guineenses. Tal como nós, também ele bebeu a água do Geba... Visitou aquele território pelo menos duas vezes. Esteve lá em 1927 e em 1947. Das suas crónicas de 1947,  onde não esconde a sua admiração por Sarmento Rodrigues,  transmontano cono ele, publicou o livro "Terra Ardente -Narrativas da Guiné" (Lisboa, Editora Marítimo-Colonial, 1947, 148 pp. + fotos). (*)

O livro de Norberto Lopes, "Terra Ardente - Narrativas da Guiné", já não é de fácil acesso, para a generalidade dos nossos leitores (e muito menos para os nossos amigos da Guiné-Bissau) mas em contrapartida as suas reportagens, publicadas no "Diário de Lisboa", podem ainda ser lidas no portal Casa Comum, da Fundação Mário Soares, graças ao legado de António Ruella Ramos, seu último diretor, É uma documentação fundamental da nossa história do séc. XX, e que ops nossos leitores têm o direito a conhecer.

Hoje reproduzimos, com a devida vénia, a nona crónica que ele mandou para o seu jornal, justamente sobre o Gabu (*),  Foi publicada em 27/2/1947, há 70 anos, a idade, em média,  por que rondam muitos dos nossos camaradas  que nos leem. (**)



Capa do livro de Jorge Vellez Caroço - Monjur: O Gabu e a sua História.  Bissau: Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1948,  269 pp.
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Notas do editor:

(*) 18 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17877: Historiografia da presença portuguesa em África (98): Bissau, em 1947, ao tempo de Sarmento Rodrigues, revisitada por Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"

(**) Último poste da série > 28 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18365: Historiografia da presença portuguesa em África (110): Um estudo desconhecido sobre a etnia Manjaca em O Mundo Português, por Edmundo Correia Lopes (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 3 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18375: Os nossos seres, saberes e lazeres (255): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (5) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 17 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Foi uma das poucas viagens fora de Bruxelas, esta ida a Namur. Em Novembro de 1984, o viandante participou numa conferência em Veneza e aí se encetou uma grata amizade com Nelly Alter, fluente em 8 idiomas. Ao longo de décadas, sempre que se vinha a Bruxelas, havia um telefonema prévio para saber se Nelly por ali andava. Nos dias de sorte, houve encontros memoráveis com passeios, idas ao teatro, ao cinema, à ópera, o viandante beneficiou de um acolhimento extraordinário com mesa farta, tinha e tem sempre que trazer novidades da literatura portuguesa, Nelly é insaciável, retribuição mais feliz não pode haver que lhe trazer o último Lobo Antunes.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (5)

Beja Santos

O dia vai ser passado em Namur, capital da Valónia, conhecida pela sua famosa cidadela, uma cidade magnificamente posicionada na confluência dos rios Sambre e o Meuse, tem o viandante a dita de aqui regressar frequentemente, fez há mais de 30 anos amizade com Nelly Alter, que vive a escassos quilómetros da cidade, em Saint Marc. O viandante vai feliz na companhia de André Cornerrote, que muito aprecia o bom vinho e as excelentes vitualhas com que Nelly amesenda os amigos. Recordam-se outros passeios, outros encontros, Nelly não esconde também a sua satisfação em receber o amigo e o amigo do amigo.





É este o ambiente cativante em que se faz a receção. Programadora previdente, Nelly tem seis pontos para passeios pós-prandiais, André encolhe-se, precisa de fazer uma pequena sesta, pede redução do programa para metade. Negócio fechado. Bebeu-se do melhor Beaujolais, depois de uma excelente sopa de cebola e uma tábua de queijos, café e chocolate belga. Depois de um soninho reparador, começa a excursão por Namur. Primeiro prato forte, uma ida ao Museu de Arte Antiga de Namur, aparentemente modesto, mas acolhe desde 2010 uma das chamadas sete maravilhas da Bélgica, o tesouro do antigo priorado de Oignies, um conjunto excecional de 400 peças de ourivesaria do século XIII, único no mundo pela sumptuosidade dos materiais. O museu com opulências na ourivesaria, marfins, pintura, escultura em madeira e pedra. A visita tem um móbil claro, uma exposição sobre fumos, vem-se com o tempo contado, impossível nesta visita passar pelo gabinete de numismática, de enorme valor, ou pelo gabinete de estampas e pela biblioteca, enfim, faz-se um percurso e mostra-se alguma coisa que cativou o viandante.




Já estamos na exposição dos fumos celestes ou funestos, do século XII ao século XVIII, dir-se-á que é uma exposição muito contida mas está inteligentemente organizada, incorpora vasos de sepulturas, tabaqueiras, cachimbos, arte efémera, gravuras alusivas ao uso do fumo na relação do homem com as potências sobrenaturais, nas relações entre a terra e o céu. O fumo para perfumar, o fumo do tabaco e os usos nas armas e no fogo-de-artifício. Uma exposição de grande ecrã, sobre os aspetos religiosos e profanos, fumos para oração, para afugentar a cólera divina, fumo das resinas odoríferas, fumos dos fogos de artifícios. Enfim, uma exposição que é um espetáculo.




Segue-se uma “visita de médico” ao museu Félicien Rops para ver em relance a exposição Shakespeare Romântico, título atrativo mas insólito mas que se prende com o facto do genial dramaturgo ter inspirado autores românticos como Delacroix ou Moreau e que puseram na tela Hamlet e Ofélia, Romeu e Julieta, Otelo e Desdémona, Macbeth e a sua mulher, é uma exposição sobre estas figuras trágicas que se organiza a exposição. Na continuidade do romantismo, também os artistas simbolistas representarem os heróis shakespearianos como arquétipos das paixões humanas, caso de Constantin Meunier ou Alfred Stevens, aqui representados. E depois dessa tragédia pictórica em muitos atos, a expedição vai até à Antica Namur 2017, um pavilhão monumental que alberga riquezas de várias épocas e onde até se podem comprar desenhos ou gravuras de grandes mestres a preços não chocantes. Foi uma passeata e peras, com os olhos deslumbrados por quilómetros de tanta maravilha, os expedicionários regressam a Namur, regalam-se com jantar opíparo, adeus até ao meu regresso, pela calada da noite regressa-se a Watermael-Boisfort e desde já se informa que o programa seguinte é bastante animado, como se contará.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18349: Os nossos seres, saberes e lazeres (254): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18374: Em busca de... (287): Minha prima Gilda Pinho Brandão e outros membros da família, a que pertenço, e de que estou a fazer a árvore genealógica (José Pedro Caetano)


Gilda Pinho Brandão, nascida em Catió, de mãe fula e pai português, quando veio para Portugal, aos 7 anos, em 1969, para uma família de acolhimento, trazida por um camarada nosso, o Fur Mil João  Pina, a quem ela chama mano. Em 2007 pediu ajuda ao nosso blogue, para encontrar a família do pai, que é de Arouca. Afonso Pinho Brandão, comerciante, foi assassinado em 1962, em Catió.

Foto: © Gilda Brandão (2007). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso leitor José Pedro Caetano

Data: 2 de março de 2018 às 20:38
Assunto: Gilda Brandão

Olá, Luís,

Espero que esteja bem.

Deparei-me com o seu blogue e vi um pedido  da Gilda Brandão [, procurando descendentes da família Pinho Brandão] (*)

Acontece que sou sobrinho de uma prima da Gilda e gostava de entrar em contacto com ela. Tentei enviar-lhe um email (para gilda@asanto.pt) mas recebi uma mensagem de erro. Por acaso o Luís não terá um outro contacto da Gilda que me possa facultar?

Encontro-me a construir a árvore genealógica da minha família. Neste sentido, não terá também alguma fotografia dos meus familiares Afonso Pinho Brandão e Manuel Pinho  Brandão, que estiveram na Guiné?

Obrigado,
José Pedro Caetano
[telemóvel, telefone e emails...]


2. Resposta do editor LG:

José Pedro:

Não tenho notícias, desde finais de 2015,  da nossa amiga e grã-tabanqueira Gilda Brandão. Mas vamos tenta localizá-la, através do seu último endereço (um gmail),  de que lhe dou conhecimento, a título privado...

Há também um familiar, aliás, filho do mesmo pai, irmão dela, em Bissau, o engº Carlos Pinho Brandão, que terá interesse em contactar... Foi colega, em agronomia, do nosso também grande e saudoso amigo Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014). Foi através deles os dois  que ela soube das circunstâncias da morte do pai, Afonso. Preciosas foram também as ajudas do nosso amigo, guineense, Leopoldo Amado, cujo pai era chefe dos correios de Catió, e cuja família convivia com os Pinho Brandão.

É uma família extensa, os Pinho Brandão... Ajudámos a Gildão Brandão [Brás, por casamento] a encontrar as suas raízes portuguesas, em Arouca... e em Bissau.

Ver aqui referências a ela  [Gilda Brás] e à família Pinho Brandão:

Obrigado, por nos autorizar a publicar esta mensagem... Assim, é possível chegar mais facilmente a ela e a outros membros da família, bem como camaradas nossos que estiveram em Catió (***).  Dou-lhe também o email do engº Carlos Pinho  Brandão, de Bissau. Boa sorte para a sua pesquisa.

O editor,
Luís Graça
PS - Infelizmente não temos, connosco, nenhuma  foto do pai dela, Afonso, morto logo no princípio da guerra. Ela conseguiu, em Arouca, pelo menos a certidão de nascimento do pai. E estava feliz por poder mostrar as suas raízes arouquesas à filha (**). Vou repescar mais informação no nosso blogue.

A Gilda faz parte do nosso blogue desde 25 de julho de 2007. Foi graças a nós, e com o incentivo do nosso saudoso Vítor Condeço, e as preciosas informações do Leopoldo Amado, do Pepito e do Carlos Pinho Brandão, em Bissau, que ela conseguiu encontrar os seus irmãos e outros familiares do pai.
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Notas do editor:

(* ) Vd. poste de 30 de maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)


sexta-feira, 2 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18373: Notas de leitura (1045): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (24) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Estamos em plena guerra, a economia e o sistema financeiro da colónia entraram em retração. Data de 23 de Setembro de 1940 um documento espantoso enviado para Lisboa sobre um serial killer que deixa bem claro que a ideia feita sobre a pacificação tinha profundas fissuras, os Papéis ainda sonhavam em liquidar o poder dos brancos na ilha de Bissau, andavam também acirrados com os Mandingas e o documento termina numa completa hilaridade, quando um grupo veio reclamar o corpo do régulo, vinham de camisas castanhas, o administrador mandou uns tiros para o ar e quis prender gente, julgava tratar-se de uma arruaça do tipo nazi, os tais camisas castanhas que espancavam opositores e destruíam os estabelecimentos dos judeus... enfim, um episódio de ópera bufa.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (24)

Beja Santos

Aproximamo-nos da II Guerra Mundial, certos assuntos que irão ser versados na correspondência entre o BNU da Guiné para Lisboa prendem-se com o entendimento das modificações que foram ocorrendo desde a governação de Leite de Magalhães (1927-1931). Viu-se como a chamada “revolta da Madeira”, de Abril de 1931 teve ressonância na Guiné, os republicanos em 17 de Abril tomaram conta do quartel e de outras instalações públicas de Bolama. Fazemos uso do que escreve João Freire na sua obra “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, edição da Comissão Cultural de Marinha, 2017. Leite Magalhães e alguns militares não aderiram, foram presos e metidos no navio Maria Amélia com destino ao Funchal e Lisboa. Em Bissau, os insurretos tomaram conta da fortaleza e da estação da TSF. Fizeram proclamações, expediram telegramas, tentaram mesmo, sem êxito, aliciar Cabo Verde para que aderisse ao movimento insurrecional. Isolados pela derrota ocorrida na Madeira a 2 de Maio, os revoltosos aceitaram negociar. É nesta atmosfera que o Major de Artilharia João Soares Zilhão chegou às funções de governador de colónia e toma medidas administravas interessantes, a Guiné passa a ter uma nova orgânica, os concelhos de Bolama e Bissau e as circunscrições civis de Canchungo, Bissorã, Farim, Bafatá, Gabu, Buba e Bijagós. Recorde-se que no ano seguinte entra em vigor a “Carta Orgânica do Império Colonial Português”. Em 1934, Soares Zilhão é substituído por Carvalho Viegas. Aparece o serviço militar dos indígenas a quem serão fornecidos um calção de caqui, um jaleco de caqui, uma camisola e um barrete. No limiar da guerra, o governo de Lisboa determinou que a Guiné tivesse três Companhias de Caçadores, uma Companhia de Engenhos (pequenos veículos motorizados a lagartas, para todo-o-terreno, abertos e geralmente armados de metralhadora) e uma Bateria de Artilharia. O investigador João Freire refere que se manteve rotina na atividade administrativa-financeira, lançaram-se novos impostos sobre o património, os orçamentos da colónia mantiveram-se equilibrados. É a época em que aparece o transporte aéreo, chegaram os hidroaviões da Pan-American Airways, Carvalho Viegas era um extremo defensor destas linhas aéreas internacionais, considerava-as decisivas para o progresso da colónia.

A correspondência de Bissau, neste tempo, afina por outro diapasão, cuidando sempre de quem chega e de quem parte, lançando alertas quanto aos aspetos económicos e recriminando o funcionamento dos serviços. Veja-se um documento confidencial datado de 1 de Agosto de 1939 que tem por assunto “Autoridades – Tribunal Judicial” onde reza o seguinte:
“O Tribunal Judicial vai de mal a pior. Sem juiz de carreira há quase dois anos, têm passado por ele vários juízes interinos que, como é natural, apenas fazem o menos que é possível fazer-se. Há dias um escrivão desrespeitou e insultou o juiz interino e este, para não se incomodar mais, pediu a demissão informando o governo da colónia da vergonha que suportara, mesmo dentro do tribunal.
Foi chamado o segundo o substituo que, vendo o que de vergonhoso se está passando e não querendo ligar o seu nome honesto ao suspeito e rápido andamento que se está dando a um processo célebre e escandaloso, só para o criminoso ficar sem castigo para os seus gravíssimos crimes, se negou a entrar em funções.
Foi então nomeado juiz interino o senhor capitão do porto o que, e com razão, Bissau achou simplesmente espantoso, por muitos motivos.
Mas, para cúmulo de tudo e para o delegado efetivo não intervir no tal processo, nomeou-se delegado substituto um cabo-verdiano aqui conhecido pelo “Pé de Cabra”, nome este que o classifica. Trata-se de um indivíduo ainda há pouco não nos deixava à porta a pedir um lugar de praticante e que não nos podia merecer atenção devido a não nos merecer confiança, o nome o dizia.

É isto que o tribunal da Guiné chegou e, dando este aviso, queremos dizer a V. Exas. que se nós ou qualquer cliente tivermos necessidade de recorrer à justiça é melhor esperarmos que ela exista e expulse a desvergonha que vai naquela casa.
O tribunal, tal como está, é por e simplesmente uma extensão do gabinete do senhor governador.
À hora de fecharmos esta, soubemos que as forças vivas de Bissau, cheias de repugnância pelo que se passa no tribunal, quiseram telegrafar a Sua Excelência o Ministro e pedir providências, mas resolveram nada fazer com receio de vinganças absolutamente de esperar neste regime de meio terror em que aqui se vive e para que já não há nenhum apelo, ao que parece”.

Os relatórios anuais dão informações preciosas sobre os mercados, convém não perder de vista que a filial de Bolama mantém-se igualmente ativa e dá as suas informações de acordo com o território que cobre, mas já não ilude a apagada tristeza para que foi encaminhada. As informações económicas são de quem está muito atento, vejamos alguns exemplos:
“Couros – Tem estado ativo o respetivo negócio e os preços são bons. Os couros das regiões de Bafatá e de Farim (Fulas e Mandingas) continuam a ser os de melhor preço. Os das regiões de Mansoa (Balantas) e de Canchungo (Manjacos) têm menor preço. Os de Canchungo são os piores. Couros ressequidos e mal tirados, regra-geral são os que vêm do território francês.

Borracha – Tem tido procura aos preços de 4$50 e 4$60 a dos Mandingas e 5$ a de primeira, ou seja a dos Beafadas (Quínara). O mercado de Lisboa deve começar a precisar de borracha das nossas colónias por ter talvez dificuldade de a importar das colónias estrangeiras, do Oriente. Interessou-se o mercado de Lisboa pela nossa borracha e para lá foi alguma boa. Mas a Casa Guedes colocou uma partida de má borracha mandinga e deve ter, por algum tempo, desacreditado a borracha da Guiné. É a eterna ganância de fazer fugir os escrúpulos.

Cera – Mercado parado. Pouca vai aparecendo, extemporânea, e é paga a uns 9$00 por quilo.

Coconote – Se bem que não se esteja em tempo de negócios ativos, têm-se feito alguns. Regra-geral, os detentores revendem à Gouveia que carrega a granel nos barcos da Sociedade Geral. Outras entidades não podem carregar por não haver sacaria e por haver dificuldades de compradores em Lisboa, que os do estrangeiro não aparecem. A Companhia Agrícola e Fabril da Guiné, que trabalha na ilha de Bubaque, Bijagós, de aspeto português mas alemã na essência, está tratando de vender o seu coconote e azeite para a América, fazendo-os seguir – via Lisboa – pelo “Guiné”. Assim pretende dar saída ao grupo contra dólares que tem que por à ordem do governo alemão.

Purgueira – A “ferocidade” que o governo da colónia que vem aplicando aos detentores de terreno vulgo os concessionários, querendo por força que eles façam agricultura nesses terrenos, coisa que o governo da colónia não é capaz de fazer pelos seus erviços agrícolas e nas granjas onde se tem enterrado milhares de contos, obriga aqueles a defenderem-se, plantando purgueira a torto e a direito, pois é a única coisa que nasce e se desenvolve sem mais despensas nem cuidados além de se espetar a estaca no chão e colher dali a dois ou três anos”.

O gerente Virgolino Teixeira pretende manter Lisboa informado ao máximo mesmo quando os assuntos envolvem crime e animismo. Vejamos o documento enviado em 23 de Setembro de 1940 em que o assunto é marcadamente sensacionalista:
“Acontecimentos anormais”. E segue a informação:
“Por se tratar de factos passados, em parte, com gentio da nossa propriedade de Bandim, damos conhecimento do que se segue.

Há uns 10 dias, por uma circunstância de acaso, soube-se que tinha sido assassinado perto de Bissau um indígena que andava a vender panos pelo mato. Das averiguações, resultou-se conhecer-se que um outro indígena, ex-soldado do Corpo de Polícia desta cidade era o assassino mas, ao mesmo tempo, veio a saber-se que além desta morte, já tinha praticado, pelo menos, umas oito mais.
Preso, declarou então que procedia aos assassinatos por razões de ordem ritual, a instigação do balobeiro, ou seja o feiticeiro, do régulo da nossa propriedade de Bandim.
Declarou que ele tinha que matar um cento de pessoas, pouco mais ou menos, de todas as raças, incluindo quatro europeus. Com o sangue das vítimas, faziam então os régulos e os seus súbitos, por intermédio do balobeiro, oferendas ao Irã, seu Deus, para que este acabasse com o poder dos brancos na ilha de Bissau e tornasse a dar o poderio antigo dos Papéis da referida ilha.
Implicados em tudo, segundo o senhor administrador de Bissau nos informa, o régulo de Bandim e outro do Biombo e um chefe de Safim. Os dois primeiros foram presos e levados para o posto de Safim. O de Safim cortou a garganta para não falar. Está à morte. O de Bandim, no dia imediato à prisão, morreu. As autoridades dizem que teve uma congestão. O filho e outros indígenas contam que foi manducado (morto à paulada) pelos Mandingas do nosso ex-servente Borah, tenente de segunda linha e auxiliar do senhor administrador na perseguição e prisão dos culpados ou suspeitos. Vamos pela segunda versão”.

De acordo com este documento, havia um conflito latente entre Papéis e Mandingas. Mas outras surpresas estavam para vir, apareceram à porta do banco muitos indígenas de Bandim a solicitar, visto ser o banco o proprietário das terras onde moram, que se pedisse ao senhor administrador a entrega do corpo do régulo para se fazer o ‘choro’. O gerente de Bissau ficou intrigado por alguns desses Papéis estarem vestidos de camisas castanhas. Segue-se um episódio de uma quase ópera bufa. Apareceu o administrador que trazia um pedido do governador, ao ver aquela gente de camisas castanhas pensou que se tratavam de uma fação política, excitou-se e quis prender todos, os Papéis fugiram. Ficou um preso que esclareceu, estupefacto, que não havia nenhuma intenção de provocar motim pelo facto de usarem camisas castanhas. Não deixa de surpreender as apreensões do senhor administrador, sugerindo qualquer associação entre as camisas castanhas dos Papéis e porventura a tropa de choque dos camisas castanhas nazis…




Três magníficas imagens de um evento Felupe, propriedade da investigadora Lúcia Bayan, que prepara o seu doutoramento na história desta etnia. Vemos jovens lutadores rezando junto do seu Irã, uma cena de luta e depois um desfile, é uma apoteose de cor desta etnia djola, ciosa pela sua cultura e pelos valores da sua identidade.

(Continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 23 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18344: Notas de leitura (1043): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (23) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 26 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18356: Notas de leitura (1044): “Paralelo 75 ou O segredo de um coração traído”, por Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira; Oficina do Livro, 2006 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18372: Recortes de imprensa (92) : artigo de opinião de Sílvia Torres: A Guerra em 'copo meio cheio', "Diário de Coimbra", 23 de fevereiro de 2018



1. Mais um artigo de opinião da nossa grã-tabanqueira Sílvia Torres (*), publicado no Diário de Coimbra a 23 de fevereiro de 2018. Foi-nos remetida cópia,  diretamente, por mensagem da autora, de 26/2/2018.  

O "Diário de Coimbra", "órgão regionalista das Beiras", foi fundado em 24 de Maio de 1930 por Adriano Viegas da Cunha Lucas (1883-1950). Afirma-se como um jornal republicano,  independente, de orientação liberal, defensor da democracia pluralista,

A guerra em "copo meio cheio"

por Sílvia Torres
O Fernandes nunca viu o mar, ao vivo e a cores, mas imagina-o enquanto pesca, silenciosamente, à beira-rio. O Rodrigues toma banho às vezes. Poucas. O Simões nunca entrou numa escola e o Veiga só sabe escrever o seu primeiro nome. Foi o irmão mais novo que o ensinou, ao serão, quando ele era já um pastor experiente, apesar da juventude que vivia. O Marques nunca saiu da aldeia onde nasceu mas sonha conhecer Lisboa. Um dia, talvez. O Falcão não sabe usar talheres e não vê neles qualquer utilidade. O Oliveira trabalha de sol a sol, sete dias por semana, desde menino. O Pinto, nas suas orações diárias, pede a Deus um carro, enquanto poupa trocos para a carta de condução. O mealheiro é um tacho velho, furado e ferrugento, escondido num monte de agulhas. Está mais vazio do que cheio.
No século passado, histórias idênticas encaixavam perfeitamente noutros sobrenomes: Ribeiro, Sousa, Martins, Lopes, Sena… Alguns, durante o Serviço Militar Obrigatório e no decorrer da Guerra Colonial/Guerra do Ultramar, tiveram a "sorte" de ser destacados para Angola ou Moçambique. A milhares de quilómetros de casa, num Portugal pouco português, ficaram estupefactos com o mundo novo que lhes era dado a conhecer: tão grande, tão diferente, tão quente, tão despido, tão livre, tão africano…

Para os Fernandes, os Rodrigues, os Simões e muitos outros, a tropa e a consequente ida para o império lusitano longínquo, não foi apenas sinónimo de perda mas também de ganho, a vários níveis. A Guerra Colonial/Guerra do Ultramar, afinal, também teve um lado positivo para alguns dos soldados que nela foram forçados a participar, no auge da juventude.

"Lá longe, onde o sol castiga mais", o Fernandes viu e sentiu o mar e até aprendeu a nadar. O Rodrigues inseriu o banho na rotina diária. O Simões e o Veiga foram à escola e conseguiram ainda escrever, orgulhosamente e com a ajuda de camaradas, aerogramas para a família. O Marques descobriu que o mundo é enorme e o Falcão, a custo, aprendeu a comer com talheres. Regressados à metrópole, o Oliveira, mudou de profissão e o Pinto, já com a carta de condução que a tropa lhe deu, passou a amealhar para o carro. Apesar dos horrores da guerra, ambos viveram no ultramar momentos felizes e de descoberta. Para alguns (muitos) jovens combatentes, que foram e voltaram sem grandes mazelas, a vida mudou para melhor porque o olhar alcançou outros mundos.

A guerra foi uma lição e um impulso para um futuro mais promissor e cheio de oportunidades. Jovens combatentes regressaram a Portugal (metrópole) com mais conhecimentos, mais competências e novas ideias. Assim, a Guerra Colonial/Guerra do Ultramar pode também ser vista na perspetiva do "copo meio cheio". Afinal, até na guerra há um lado positivo. E nesta, como noutras, o conflito foi também um "catalisador de desenvolvimento", que teve depois impacto na sociedade portuguesa. (**).

Sílvia Torres

[Fixação de texto, negritos e sublinhado a amarelo: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P18371: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XX: o render da guarda do palácio do Governador, aos domingos, "grande ronco"


Foto nº 1 > Bissau > Palácio do Governador – neste caso ocupado pelo general Spínola  [1968-1973] >  Junho de 1969 > Render da Guarda >  Faz parte um destacamento da Marinha (fuzileiros), a força mais vistosa, e uma força do Exército, Infantaria, Cavalaria ou Artilharia, ou dos Comandos, ou Paraquedistas e  bem como a Banda Militar de  Bissau.


Foto nº 2 >  Bissau > Palácio do Governador >  Junho de 1969 > Render da Guarda > A força da Marinha (fuzileiros) na escadaria do Palácio do Governador; 


Foto nº 3 > Bissau > Palácio do Governador  >  Junho de 1969 > Render da Guarda >  A Banda e os fuzileiros, dando a volta ao Palácio em formação 


Foto nº 4 >  Bissau > Palácio do Governador >  Junho de 1969 > Render da Guarda > A força da armada portuguesa logo atrás,  fazendo as honras militares ao Governador 


Foto nº 5 >  Bissau > Palácio do Governador >  Junho de 1969 > Render da Guarda >  As forças  em parada descendo a Avenida da Republica, acompanhada por populares locais que apreciavam estes desfiles e a atuação da vistosa banda militar de Bissau (, constituída exclusivamente por militares do recrutamento local);


Foto nº 6 >  Bissau > Palácio do Governador >  Junho de 1969 > Render da Guarda > Novas fotos com a parada militar pela avenida abaixo, com participação da banda, fuzileiros e população local;


Foto nº 7 >  Bissau > Palácio do Governador  >  Junho de 1969 > Render da Guarda > As forças  em parada descendo a Avenida da Republica, acompanhada por populares locais que apreciavam estes desfiles e a atuação da banda militar africana.


Foto nº 8 >  Bissau > Palácio do Governador >  Junho de 1969 > Render da Guarda > A população local perfilada pela berma da rua principal, para ver e apreciar as nossas tropas, aplaudindo-as à sua passagem. Não esquecer que estava lá também a banda militar africana.

Fotos: © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)

Assunto - Tema T025 – Render da Guarda no Palácio do Governador em Bissau

(i) Anotações e Introdução ao tema:

Todos os domingos havia uma cerimónia militar com grande envergadura e acompanhada de perto pelas populações locais e militares que se encontravam em Bissau, com "grande ronco",  com vista a mostrar que estava lá um representante do Governo da Republica, e a reforçar a imagem de Portugal.

Tive a oportunidade de assistir algumas vezes ao render da guarda do palácio, por me encontrar em Bissau nesses dias de Domingo de manhã, mas só tenho fotos reais captadas pouco mais de um mês antes de embarcar, de regresso, em Junho de 1969. Nota-se o piso molhado, com poças de água, devido ao tempo de chuvas que era o máximo nessa época.

(ii) Legendas das fotos:

F1 – Mostra o Palácio do Governador da província – neste caso ocupado pelo general Spínola. Faz parte da guarda um destacamento da Marinha, a força mais vistosa, e uma força do Exército, Infantaria, Cavalaria ou Artilharia, ou dos Comandos, Paraquedistas e Fuzileiros, bem  como a Banda Militar, constituída por elementos do recrutamento local.

F2 – A força da Marinha na escadaria do Palácio do Governador;

F3 – A Banda Militar dando a volta ao Palácio. (**)

F4 – A força da armada portuguesa (fuzileiros),  logo atrás,  fazendo as honras militares ao Governador

F5 – As forças  em parada descendo a Avenida da Republica, acompanhada por populares locais que apreciavam estes desfiles e a atuação da Banda Militar.

F6 – Novas fotos com a parada militar pela avenida abaixo, com participação da banda, marinha e população local;

F7 – A parada após ter descido a avenida, volta a subir até ao cima da Rotunda, onde se vê a bandeira e o Palácio do Governador, cor-de-rosa.

F8 – A população local perfilada pela berma da rua principal, para ver e apreciar as nossas tropas, aplaudindo-as à sua passagem. Não esquecer que estavam lá também tropa africana (a banda militar)

Em, 12-02-2018 - Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 27 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18360: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIX: Visita ao território, do Presidente da República Almirante Américo Tomás, com início em 2/2/1968 - II (e última) parte


Postal ilustrado da época >  A Banda Militar de Bissau

(**) Vd. poste de  29 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5030: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (7): Servir Bissau: uma contenda inglória onde o pesadelo e o ronco se misturavam

(...) A guarda ao Palácio englobava as seguintes forças essenciais:

a) - Uma Secção de tropa regular, comandada por um Sargento da Guarda, que tinha a seu cargo os postos de sentinela ao fundo do jardim e ainda um posto de sentinela ao lado direito do jardim. A segurança era feita durante o dia do lado de fora do jardim. Com o render dos postos de sentinela às seis horas da tarde a segurança passava a ser feita do lado de dentro dos muros.

b) - Uma Secção da Polícia Militar, incluindo um sargento e um oficial, que tinha a seu cargo o pórtico principal do Palácio e o portão lateral de serviço geral.

c) - Durante a noite, entre as dezoito e as seis horas, a segurança era reforçada com um elemento da Polícia de Segurança Pública, que ficava encarregado do espaço entre a casa da guarda e do pessoal civil servente do Palácio e o edifício principal.

d) - Também durante a noite, a segurança era ainda reforçada com um cão treinado em segurança e respectivo tratador, na altura um pára-quedista, que tinha a seu cargo o patrulhamento do interior do jardim,

(...) No Domingo de manhã acontecia ronco grande em Bissau.

O atavio militar das Praças da Guarda era o fardamento n.º 2, com cordões brancos nas botas, tendo como armamento a G3. O Sargento da Guarda também vestia o fardamento n.º 2, com luvas brancas e cordões das botas da mesma cor. O seu armamento era a FBP. Durante a cerimónia o carregador na arma estava vazio. Em verdade se diga, os carregadores que estavam nas cartucheiras estavam devidamente carregados.

(...) Para além das Praças da Guarda, as Forças em Parada eram, normalmente, as seguintes: dois Grupos de Combate reduzidos, nesta nossa participação, da CCaç 3327, com fardamento n.º 2 e G3, um Pelotão da Polícia Militar em camuflado e G3, e um Grupo do Destacamento de Fuzileiros Navais em fardamento branco e G3. Os Leopardos (se a memória não me falha essa era a sua sigla e sujeito a correcção) de Bissau, com os seus inconfundíveis turbantes vermelhos, eram a Banda Militar que nos acompanhavam nestas cerimónias.

Após o içar da bandeira e o render da Guarda, as forças desfilavam pela Avenida da República indo destroçar junto ao Quartel da Amura.


(...) Nunca poderei esquecer a atenção e o respeito que os guineenses demonstravam nestas cerimónias. Novos e velhos, homens e mulheres seguiam com muita atenção todos os pormenores do içar da bandeira e do Render da Guarda. Vi muitos deles saudar com continência a Bandeira que subia no mastro, e senti o calor de milhares de palmas quando as nossas tropas acabavam as manobras em frente ao Palácio e desfilavam pela Avenida da República. Nestas ocasiões, devo confessar, não sentia que os guineenses procuravam a sua independência. Quanto muito desejavam a paz, a mesma paz que nós procurávamos. Nós éramos a sua esperança. (,,,)

quinta-feira, 1 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18370: Álbum fotográfico de António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (4): Ainda a visita à Guiné-Bissau em Março e Abril de 2017

ÁLBUM FOTOGRÁFICO DE ANTÓNIO ACÍLIO AZEVEDO, EX-CAP MIL, CMDT DA 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 E DA CCAÇ 17, BULA E BINAR, 1973/74

AINDA A VISITA À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017


Foto 56 - Colega Isidro, no interior da Fortaleza do Cacheu e junto à estátua de Teixeira Pinto

Foto 58 - Foto do amigo tabanqueiro, Carlos Schwarz da Silva "Pepito", falecido em 2014 e colocada numa das paredes do Museu da Escrvatura e do Trafico Negreiro, no Cacheu

Foto 89 - Foto tirada num bar, em S. Domingos (norte da Guiné) - junto ao Senegal e onde aparecem os colegas Rebola, Rodrigo, Moutinho, Monteiro, Isidro, Leite Rodrigues e Cancela, convivendo com um grupo de portugueses que tinham viajado no mesmo avião em que fomos para a Guiné

Fto 93 - Foto da localidade de Susana, situada entre o Ingoré e S. Domingos, onde aparece a espada Felupe estilizada, construída em betão armado e onde ainda se vê o mastro de ferro onde era hasteada a bandeira portuguesa. Apresenta-se agora pintada com inscrições do PAIGC

Foto 134 - Um jovem guineense aplainando uma prancha de madeira numa pequena oficina, em Bissorã

Foto 154 - A pequena Igreja de Safim, localidade entre Bissau e Bula

Foto 157 - Posto de combustível em Jugudul, onde parámos para abastecer os jeeps e tomar um café

Foto 158 - Edifício de destacamento de trânsito, à saída de Bafatá, a caminho de Gabu

Foto 160 - Arrozais na bolanha, junto ao Rio Geba e à entrada de Bafatá
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Nota do editor

Poste anterior de 16 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18219: Álbum fotográfico de António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (3): Ainda a visita à Guiné-Bissau em Março e Abril de 2017