quinta-feira, 16 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19792: Os nossos seres, saberes e lazeres (325): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte VI: 25 de maio de 1980, Hangzhou, "um paraíso debaixo do céu", segundo um provérbio tradicional

Mais um excerto do "diário chinês, secreto", ainda inédito, do nosso camarada António [José] Graça de Abreu. Recorde-se que ele viveu na China, em Pequim e en Xangai, entre 1977 e 1983; foi professor de Português em Pequim (Beijing) e tradutor nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. 

Ex-alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), é membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 230 referências. Vive em Cascais. É um cidadão do mundo, poeta, escritor e reputado sinólogo. Nasceu no Porto em 1947.] (*)



 Hangzhou, 25 de Maio de 1980

Estou há uma dúzia de horas em Hangzhou e já escrevo, a necessidade de fixar as primeiras sensações e incipientes entendimentos desta cidade, "um paraíso debaixo do céu", como diz o provérbio chinês.

Cheguei de comboio e depositaram-me numa fabulosa residência para quadros superiores do Partido. Viajo com o beneplácito e a protecção dos meus patrões, as Edições de Pequim ligadas ao Comité Central, e assim se explica o direito a tanta mordomia. 

Destinaram-me uma suite que é uma afronta para as centenas de milhões de gente humilde deste país que vive, famílias inteiras, em dez ou quinze metros quadrados. Só a minha cama terá aí dois por três metros, um vasto colchão de qualidade, mais um sofá, salinha, mesinha e varanda, um aposento meio espartano, mas amplo, cómodo e funcional. Na China Comunista, como em todo o mundo, a vida das pessoas não é igual.

Há dois mil e quatrocentos anos mestre Confúcio (551a.C. - 479 a.C.) terá dito mais ou menos o seguinte "Quem trabalha com a cabeça, manda, quem trabalha com as mãos obedece." Os quadros do Partido Comunista trabalham muito com a cabeça e quem obedece constrói-lhes estas magníficas residências onde tenho o privilégio de estar hoje alojado. Eu não mando nada mas, no meu trabalho nas Edições de Pequim, é verdade que o meu labor também é feito sobretudo com a cabeça. Daí, estas mãos mimosas e estas mordomias.

Vou, entretanto, comprovando que, quadros do Partido ou a gente simples do povo, todos são semelhantes no amor.

Esta noite, acabei de calcorrear uns pedaços da margem deste esplendoroso lago Xihu西湖, ou do Oeste. No céu havia uma lua meia escondida entre nuvens, aqui em frente as luzes dos poucos candeeiros reflectiam-se nas águas. Varandins, pavilhões, balaustradas pareciam dançar na penumbra da noite. O lago cintilava vestido de nobre roupagem escura. Avancei pelos caminhos em volta do cristal das águas. Duas bicicletas pousadas no chão, logo depois mais duas. Adiante, conforme ia caminhando, dezenas e dezenas de pares de bicicletas espalhadas pelos relvados, encostadas às árvores. Arbustos, vegetação por todo o lado e não se via ninguém, adivinhavam-se, no entanto, os namorados, um rapaz e uma rapariga abraçados, deitados na erva, escondidos na obscuridade, ocultos por sebes e por canteiros altos de flores. Contentamento e paz. Não têm espaço nas suas casas para se exercitarem na "arte do quarto de dormir", como lhe chamam os chineses, e procuram por isso estes jardins em volta do lago, uma espécie de imensa mansão natural que os acolhe para o carinho da noite.

Sei como é dura a vida deste povo. Percorre-me uma alegria branda quando vejo estes jovens vivendo todo o amor que têm para dar, as horas da dupla ternura quando os sonhos ainda não pararam de rodopiar nas cabeças imaturas, puras e os corpos se acariciam na exaltação dos prazeres concedidos pelos deuses.

Um dia poderá haver alguma baixeza e vilania, e do amor de agora restarão apenas destroços e um rio enlameado. Mas não para todos. Pode acabar o "mimoso riso" e "os fogosos beijos na floresta" (ai, Camões!), mas continuará a confiança mútua, a força-crença que unirá estes jovens até onde for possível, por entre as borrascas da vida.

Senti vontade de estar também ali, enlaçando a minha chinesinha, que nunca conheci, ou simplesmente a mulher capaz de me amar, mulher que não tenho, sei que existe e eu merecia.

António Graça de Abreu (**)

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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 10 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19770: Os nossos seres, saberes e lazeres (323): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte V: Ppequim, 1 de setembro de 1980: visita de uma delegação militar portuguesa


(**) Último poste da série > 11 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19773: Os nossos seres, saberes e lazeres (324): No condado de Oxford, a pretexto de um casamento em Fairford (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19791: Parabéns a você (1618): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19787: Parabéns a você (1617): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19790: Convívios (894): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67) , Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54: próximo dia 18, sábado, na Ericeira. Organizador: Manuel Calhandra Leitão, o "Ruço", Achada, Mafra, ex-1º cabo apontador do morteiro 81 (telem 938 028 152)


Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Dois camaradas da Guiné: no lado esquerdo, o régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, Eduardo Jorge Ferreira; no lado direito, um camarada de Achada, Mafra que esteve com o João Crisóstomo, ex-al mil da CCAÇ 1439, no Enxalé, em 1965/67, o Manuel Calhandra Leitão; mais conhecido como o "Ruço" (, pertencia ao Pelotão de Morteiros, era 1º cabo apontador do morteiro 81, que julgamos ter sido o Pel Mort 1028, set-65 Fá Mandinga / nov-66 Bambadinca mai-67); um grande contador de histórias, a quem já convidei para integrar a Tabanca Grande; não se lembrava do nº do Pel Mort, que estava sediado em Bambadinca; falou-me de homens "lendários" como o Luís Zagallo e Abna Na Onça e de operações dramáticas a norte do Emxalé).

O Manuel Callhandra Leirãol, o "Ruço",  o organizador do encontro deste ano, na Eticeira, Mafra, da malta que esteve no Enxalé, entre 1965/67, incluindo o seu Pel Mort e a CCAÇ 1439...

Foto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Manuel Calhandra Leitão, o "Ruço" 
1. É já no sábado, dia 18, que se realiza o encontro da rapaziada da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67), de maioria madeirense, e subunidades adidas (Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e 54, que passaram sobretudo pelo Enxalé e Missirá).

O encontro, a realizar numa marisqueira da Ericeira, está a ser organizado pelo Manuel Calhandra Leitão ("Ruço"), que vive na Achada, Mafra (Telem. 938 028 152). O preço do almço é de 25 "aéreos".

O "Ruço" foi 1º cabo, apontador de morteiro 81 do Pel Mort 1028 (, ele não se lembrava...). É mais um herói desconhecido da guerra da Guiné. Já lá fui a casa dele, há uns meses atrás. É um grande camarada que está a precisar do nosso carinho e apoio, numa fase de doença que ele felizmente está a superar com grande dignidade, determinação, lucidez e coragem. Tem uma exploração agrícola de 3 heactares, onde faz sobretudo limões, os famosos limões da zona de Sobreiro-Achada, Mafra.


O luso-americano João Crisóstomo e a eslovena Vilma [Nova Iorque, EUA, à direita] vêm de propósito de Nova Iorque para estarem no encontro (*).

A Lena do Enxalé (, Helena Carvalho,) e o seu marido, Álvaro Carvalho, das Caldas da Rainha, também estarão presentes. A "Lena do Enxalé" organizou,com o Henrique Matos,o encontro de 2015


O nosso editor, Luís Graça, também irá estar Presente este ano, no encontro da Ericeira, Mafra.

Ainda se aceitam, à ultima hora, inscrições. O Manuel  "Ruço" não prevê mais do que três dezenas de presenças. Infelizmente, diz-me ele, os "bravos" da CCAÇ 1439 estão a ficar pelo caminho (**). A maioria, madeirense, não pode deslocar-se ao continente. (***)

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Notas do editor:



(***) Último poste da série > 13 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19782: Convívios (893): Almoço/Convívio do pessoal da CCAÇ 2796 (Gaviões de Gadamael) levado a efeito no passado dia 11 de Maio em Pedroso, Vila Nova de Gaia (Adolfo Cruz)

Guiné 61/74 - P19789: Antropologia (31): "Regressos quase perfeitos, memórias da guerra em Angola", por Maria José Lobo Antunes, Tinta-da-china, 2015 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2018:

Queridos amigos,
É uma investigação antropológica de alto gabarito, a investigadora, filha de António Lobo Antunes, sentiu-se motivada pelas cartas de guerra que o pai escrevera à mulher e por sinais da sua obra literária que percorriam a guerra angolana.
Trata-se de um inédito ensaio sobre a memória da guerra que articula documentos oficiais, episódios pessoais e recordações partilhadas nos almoços de confraternização, é uma busca de sentido, haverá momentos dolorosos, vêm à tona episódios cruéis, choques culturais avassaladores, aquele fim do mundo podia-se medir por milhares de quilómetros, por populações deslocadas à força, era então o Leste de Angola antes de se ter quebrado o ânimo ao MPLA.
Uma investigação exemplar que devia ter paralelos na Guiné e em Moçambique. A autora dá uma razão de tomo: "No caso da memória de guerra, a dimensão pública da recordação ocupa um lugar central. É em nome das nações que as guerras são habitualmente combatidas. É a lealdade nacional que convoca todos aqueles que a ela são chamados. É aqui que se joga a possibilidade da recordação ou do esquecimento, da celebração ou do silenciamento públicos".

Um abraço do
Mário


Regressos quase perfeitos, uma obra excecional de antropologia (1)

Beja Santos

"Regressos quase perfeitos, memórias da guerra em Angola", por Maria José Lobo Antunes, Tinta-da-china, 2015, é um documento avassalador, original, ao permitir conhecer o itinerário de antigos militares de uma companhia de Exército, desde as memórias mais remotas das suas vidas, a comissão, o regresso, os encontros anuais. É a tese de doutoramento de Maria José Lobo Antunes, durante cinco anos entrevistou dezenas de antigos militares da CART 3313, assistiu aos seus almoços anuais, pesquisou os arquivos oficiais e cruzou estas memórias com o retrato que António Lobo Antunes, médico do batalhão, deixou nas cartas de guerra que escreveu à mulher na sua obra literária.

O fulcro da questão é o trabalho da memória, a antropóloga ciranda, num sábado de junho de 2011, num restaurante de Almeirim, convive com a CART 3313 do BART 3835, pela décima primeira vez estes homens juntam-se e reveem-se durante uma tarde à volta da mesa. A estudiosa anota nomes, descreve o cerimonial do encontro onde estão mulheres e filhos, numa mesa já se fala em Mussuma, um destacamento do Leste de Angola junto à fronteira com a Zâmbia. Dois furriéis lembram episódios, muitos outros não se lembram de coisa nenhuma. Temos depois o almoço, corta-se o bolo no final, e depois começa a festa, segue-se o lanche, há um grande cartaz onde está escrito: “Somos quem fomos”. Já não há guerra colonial, Angola já não é nossa, os anos transformaram aqueles rapazolas em homens que caminham para a velhice. Como observa a investigadora, a memória do que foram sobrevive ainda, na partilha de recordações que pertencem a todos.

Maria José é filha desse alferes médico que escreveu “Os Cus de Judas”, um romance que lhe deu rapidamente notoriedade. Era uma criança quando foi com a mãe para a sede da Companhia, em Marimba, faz pois parte da geração da pós-memória e justifica-se:  
“Foi a memória emprestada da guerra (esse passado que de alguma forma também é o meu, mas do qual não me lembro) que criou vontade de ir para além daquilo que conhecia (as histórias, as fotografias, pedaços soltos de um tempo perdido no tempo). O primeiro passo do diálogo possível com a memória alheia foi dado em 2005, no momento em que a minha irmã e eu começámos a trabalhar na edição das cartas enviadas de Angola à nossa mãe. Cinco anos depois da sua morte, tinha chegado o tempo de cumprir a vontade, tantas vezes repetida, de as publicar. Em novembro de 2005, o livro foi lançado. Os antigos militares da Companhia foram convidados e houve uma camioneta que transportou os que viviam no Norte do país. Mais de três décadas após o embarque para a Angola, uma multidão de camaradas reencontrou-se no sítio de onde tinha partido para a guerra. Depois desse dia, comecei a ir aos almoços da companhia”.
Assim se abriram as portas para a sua investigação que culminou na tese de doutoramento que defendeu em 2015. E de novo justifica os seus propósitos:  
“O meu objectivo era construir uma etnografia da memória da guerra colonial que articulasse as diversas escalas em que a memória vive: as memórias pessoais, as narrativas que circulam na esfera pública e a representação oficial do conflito. Em vez de estudar esta guerra na sua imensa complexidade, a etnografia que construí propunha outro olhar, um olhar que reduzia a observação e a análise a uma pequena parte do todo: a CART 3313”.
E escreve mais adiante:  
“Subjacente a esta investigação está a constatação de que o desaparecimento do passado condena o seu conhecimento à construção de suposições impossíveis de provar. O que me interessa não é o que aconteceu, mas sim de que forma se recorda e se esquece aquilo que aconteceu. Aquilo que se recorda e se esquece não é estanque e imutável. A memória resulta de um processo complexo de negociação das condições da sua possibilidade. O tempo é, aqui, um factor fundamental. Tivesse esta investigação sido feita no ano seguinte à desmobilização da CART 3313 ou dez anos depois do 25 de Abril, os resultados seriam certamente outros. A etnografia da memória de guerra que aqui se apresenta parte, precisamente, deste contexto de evocação narrativa generalizada do passado colonial português e da guerra que o defendeu”.

E discreteia sobre o trabalho da memória nas Ciências Sociais, sobre a reconstrução do passado, a memória de guerra. E assim se inicia a viagem do BART 3835, mobilizado em julho de 1970, e daquela Companhia cuja sede de Batalhão vai ser Gago Coutinho.

O pano de fundo da educação daqueles jovens era a retórica imperial, retórica essa já bem fermentada no constitucionalismo monárquico, aquele império africano sucedia aos tempos em que o Brasil era sinónimo de múltiplas riquezas. A investigadora conversa com os militares, como eles se aperceberam da guerra, o que aprendiam na escola, que noções colhiam da pátria, dos heróis, dos valores. Os depoimentos são claros: havia o respeito, a disciplina, a ideia da grandeza do país.
Mas há que dar o seu a seu dono:  
“Nos anos 1960, a educação era um luxo a que nem todos podiam aceder. Seis dos 31 entrevistados não chegaram a cumprir o ensino obrigatório e saíram no final da 3.ª classe. As razões foram as mesmas: residentes em freguesias rurais do Norte do país, provenientes de famílias com poucos recursos económicos, foram forçados a contribuir com o seu trabalho para a frágil economia familiar. Veja-se o caso de José Gomes, nascido numa aldeia no concelho de Sátão, em Viseu. A mãe, filha de pai incógnito, engravidou do patrão da casa onde servia. José Gomes cresceu longe da mãe, também ele filho de pai incógnito, entregue aos cuidados da avó e dos tios-avós. Quando tinha quatro anos, a mãe engravidou de novo patrão. O caixão branco do irmão que morreu pouco depois de nascer é uma das suas recordações mais antigas. Ainda criança, começou a guardar o gado da família. A entrada na escola foi mais um peso na sua vida, a acrescentar ao trabalho que já fazia na agricultura”.

Um contexto de pobreza em grande angular, nas memórias de todos os que concluíram a escola primária e começaram a trabalhar ainda crianças, o trabalho na agricultura ou aprendizagem no ofício fazia parte da ordem natural da vida. A autora faz um esboço histórico da vida do Estado Novo e das decisões de Salazar, nomeadamente a partir de 1961, como aqueles rapazes começam a presenciar partidas e regressos, mobilizações, ofertas em dinheiro e alimentos para quem partia, atiçou-se o fervor nacionalista a partir dos primeiros embarques de tropas para Angola. Mas a guerra era um mundo distante a que só acediam homens feitos. Aqueles rapazolas não podiam prever que o conflito se prolongasse por longos anos. Abriram-se novas frentes, a guerra instalou-se na rotina nacional das partidas e chegadas de contingentes militares. São tempos também de emigração, irá crescendo a falta de comparência às juntas de recrutamento. E um dia aqueles jovens partem para a tropa, abriram-se oportunidades, caso daquele pastor que se tornou condutor militar. Estamos em 1970, um momento crítico para as Forças Armadas, é tempo de um envio médio de 105 mil homens para Angola, Guiné e Moçambique, reduz-se o número de candidatos à Academia Militar, recrutas e especialidades tornam-se numa fábrica gigantesca. Onde, no passado, para ser aspirante a oficial miliciano era imperativo a frequência de um curso universitário passa somente a ser exigido o 7.º ano completo ou até dar provas de competência no curso para sargentos milicianos.
Vai começar a vida da CART 3313.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19763: Antropologia (30): Valentim Fernandes e o seu monumento literário “Descrição da Costa Ocidental de África, 1506-1510” (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19788: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Os três acidentes na hidrografia guineense (Parte III)

Foto 2 - Rio Corubal (Ché-Ché; 06Fev1969) durante a «Op Mabecos Bravios». Entrada e saída de viaturas na jangada que fazia a travessia do rio entre as margens sul e norte. [in P5866: Ainda o desastre de Cheche, em 6Fev1969 (5): uma versão historiográfica (?) (Luís Graça). Imagens do Arquivo Histórico-Ultramarino. Fonte: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Simões - Os Anos da Guerra Colonial - Vol 10: 1969 - Acreditar na vitória. Matosinhos: QuidNovi. 2009, p 23 (com a devida vénia).


Foto 1 - Rio Corubal (Ché-Ché) – Jangada utilizada na travessia do rio. Foto de José Azevedo Oliveira; in P5920 “Ainda o desastre do Ché-Ché, em 6 de Fevereiro de 1969: Missão da Liga dos Combatentes resgata corpos”, e P15713 (com a devida vénia).

Foto 3 - Rio Corubal (Ché-Ché; 06Fev1969) urante a «Op Mabecos Bravios». Entrada e saída de viaturas na jangada que fazia a travessia do rio entre as margens sul e norte. [in P5866: Ainda o desastre de Cheche, em 6Fev1969 (5): uma versão historiográfica (?) (Luís Graça). Imagens do Arquivo Histórico-Ultramarino. Fonte: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Simões - Os Anos da Guerra Colonial - Vol 10: 1969 - Acreditar na vitória. Matosinhos: QuidNovi. 2009, p 23 (com a devida vénia).



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); 
coeditor do blogue desde março de 2018



ENSAIO SOBRE AS MORTES POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE A GUERRA NO CTIG (1963-1974): OS TRÊS ACIDENTES NA HIDROGRAFIA DA GUINÉ (PARTE III)



1. INTRODUÇÃO

Nos dois primeiros fragmentos – P19679 e P19710 – demos a conhecer alguns dos resultados globais já apurados neste projecto de investigação titulado de "ensaio" sobre o número de militares do Exército que morreram afogados nos diferentes planos de água existentes na Guiné, durante o conflito armado (1963-1974). 

Ainda que continuemos a expandir os campos de consulta fora do âmbito das fontes "Oficiais", a presente análise demográfica, quantitativa e qualitativa, reporta-se aos "casos da investigação" já coletados, onde se procedeu à sua organização estratificada em dois grupos (amostras): "corpos recuperados" e "corpos não recuperados", com identificação das suas respectivas Unidades.
No primeiro fragmento, a análise estatística foi apresentada com quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, em função das variáveis categóricas ou quantitativas relacionadas com os objectivos de cada contexto. No segundo, o método seguido foi a representação gráfica de distribuição de frequências, simples e acumuladas, expressa através de gráficos de barras ou de gráficos circulares, metodologia que continuaremos a utilizar no presente.

Como complemento à introdução estatística, a que corresponde um segundo ponto em cada um dos fragmentos, serão descritas as causas, factos e resultados que fazem parte da "história" dos três principais acidentes na hidrografia da Guiné, como foram os casos ocorridos no Rio Cacheu, em 05Jan65, durante a «Operação Panóplia» [já abordado no P19710]; no Rio Corubal, em 06Fev69, na «Operação Mabecos Bravios», em Ché-Ché [a desenvolver na presente narrativa]; e no Rio Geba, no Xime, no âmbito de uma missão das NT, em 10Ago72 [a incluir no próximo poste].


2.  ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE A GUERRA NO CTIG (1963-74) (n=144)

Recordamos que a análise demográfica que comporta esta investigação incidiu sobre os casos das mortes por afogamento de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), identificados nos "Dados Oficiais" publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).


Quadro 1 – Distribuição de frequências segundo a relação entre as variáveis "ano das mortes por afogamento", "corpos não recuperados" e "corpos recuperados".

O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) em todos os anos ocorreram mortes por afogamento. No final foram contabilizados cento e quarenta e quatro náufragos. Durante os doze anos em que decorreu o conflito, por quatro vezes (1/3) o número de mortes ultrapassou a dezena de casos, com destaque para o ano de 1969, onde os números ultrapassaram a meia centena, em consequência do «desastre da Jangada do Ché-Ché». Para esses valores globais muito contribuíram os "acidentes" nos principais rios da Guiné – Cacheu, Corubal e Geba – como foram os três casos referidos na introdução, equivalente a 40,3% (n=58). Quanto aos "corpos não recuperados", estes representam 43,8% (n=63), contra 56,2% (n=81) dos "recuperados". Sobre esta cifra não se consideraram os "corpos recuperados" no Ché-Ché, por desconhecimento do número exacto, ainda que no P6073 se refira que foram onze (23,4%).


Gráfico 1 – Distribuição de frequências segundo a relação entre as variáveis "mortes por afogamento e "corpos não recuperados"

Da análise global ao quadro e gráfico acima, verificou-se que nos anos 1963 (n=3), 1971 (n=8), 1973 (n=6) e 1974 (n=5), todos os náufragos foram "recuperados". Durante o segundo triénio (1966-1968), dos vinte e sete afogamentos, só três, um em cada ano, não foram "recuperados" (1,1%). Em sentido contrário está o caso do ano de 1969, pelas razões já analisadas anteriormente, com 96,1% (n=49).


Gráfico 2 – Distribuição de frequências segundo a relação entre as variáveis "Corpos recuperados! e "corpos não recuperados".


Gráfico 3 – Distribuição de frequências segundo a relação entre as variáveis "Posto" e "corpos recuperados".


3. OS TRÊS ACIDENTES NOS RIOS DA GUINÉ: CONTEXTO DE CADA UMA DAS OCORRÊNCIA


Gráfico 4 – Identificação dos anos em que ocorreram os acidentes nos rios da Guiné

Para a estruturação deste ponto, relativo a cada uma das três ocorrências identificadas no gráfico acima, foi relevante a consulta efectuada ao vasto espólio de informação disponível no blogue da «Tabanca». No caso particular do episódio da "Jangada do Ché-Ché", ocorrido no âmbito da «Operação Mabecos Bravios", existem algumas dezenas de referências, onde se cruzam os dois conceitos, por exemplo, as dos PDXXVI [P526]; P509; P5778; P5858; P5866; P5954; P6063 e P6073 (as mais antigas) e P12136; P18871; P19473 e P19474 (as mais recentes). Para além desse significativo contributo, e mantendo a metodologia anterior, os conteúdos utilizados neste capítulo têm por base os documentos "Oficiais", publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II, Guiné; Livros II; 1.ª Edição, Lisboa (2015).


3.1 - O CASO NO RIO CORUBAL EM 06FEV1969 = O SEGUNDO 

Vd. Fotos nº 1, 2 e 3 (acima)


Infogravura (Rio Corubal). No estuário do Geba (a Oeste) vem desembocar, entre a Ponta Varela e Gampará, um dos mais importantes cursos de água da Guiné, talvez mesmo o maior. É o Corubal (traço a vermelho). Este rio nasce a cerca de 160 kms da fronteira, no maciço de Mali, pertencente ao grupo de montanhas do Futa-Djalon, na sua parte norte, recebendo vários tributários importantes, até que entra no território da Guiné pelo norte de Cadé, servindo aí de fronteira entre Candica e os rápidos de Chibata. […] Inflecte então para oeste, passa através de alguns rápidos e vaus, desviando-se finalmente para noroeste até desembocar no Geba. Na parte inferior do seu curso, até ao vau de Ugui [onde há a possibilidade de passagem a pé através do rio, dada a sua escassa profundidade], é navegável. Aí fica a Tabanca de Xitole, na margem direita. Este rio tem para montante várias secções navegáveis por canoas, o que facilita as comunicações com o Forreá [Aldeia Formosa /Mampatá/ Chamarra] e as demais regiões ricas que atravessa. Contudo, os seus rápidos e secções de perfil diferenciado tornavam impossível a navegação por embarcações um pouco maiores.

Fonte: João Freire (2018) – A Colonização Portuguesa da Guiné (1880-1960): Contributos sobre o papel da Marinha - com dois apêndices sobre Cabo Verde e São Tomé e sobre a caça aos negreiros de Angola. Lisboa. Edição: Comissão Cultural da Marinha. Maio de 2018, p. 242.


3.1.1 - O CONTEXTO DA «JANGADA DO RIO CORUBAL» EM 06FEV1969

Na sequência do trágico acidente no Rio Corubal, em 06 de Fevereiro de 1969, uma das datas mais dramáticas vividas pelas Forças Armadas Portuguesas durante a Guerra do Ultramar, ou da Guerra Colonial, foi elaborado pelo Cmdt da CCAÇ 1790, Cap Inf José Alberto Ponces de Carvalho Aparício [hoje, TCor Apos.], um relatório [classificado de "NOTA"] do qual retirámos a seguinte passagem sobre a "história da Jangada" [vd. Foto nº 1, acima].

"Na Guiné [Bissau] nos anos 60 [do século passado] a travessia do Rio Corubal para a região do Boé era feita [como naquela data] junto à povoação do Ché-Ché onde durante a guerra se encontrava ali em permanência uma força militar de um pelotão de infantaria, reforçado com uma secção de morteiros 81 mm.

"Esta travessia era então obrigatória para a rendição das forças militares portuguesas estacionadas em Madina do Boé e Beli, e ainda para o reabastecimento daquelas forças que na época das chuvas (cerca de seis meses) ficavam completamente isoladas. Por isso, durante a época seca realizavam-se normalmente duas colunas por mês, cada uma escoltada por uma companhia reforçada com um pelotão de autometralhadoras "Fox" ou "Daimler" e com protecção aérea permanente. Cada Coluna era constituída por um elevado número de viaturas, cerca de 20 a 30, carregadas com munições e reabastecimentos.

"A travessia do Rio Corubal era então feita por uma jangada constituída por uma plataforma sobre duas canoas; um longo cabo ligando dois pontos fixos instalados em cada margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para mover a jangada erar dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o cabo. Como segurança do movimento, uma embarcação "Sintex" com motor fora de bordo acompanhava lateralmente cada movimento de vaivém, pronta para qualquer emergência." (Op. Cit; 6.º Vol, p 353).



3.1.2 - ANTECEDENTES HISTÓRICOS QUE LEVARAM AO ABANDONO DAS FORÇAS INSTALADAS EM MADINA DO BOÉ E NO CHÉ-CHÉ

Com a chegada a Bissau, no início de Junho de 1968, do então Brigadeiro António Sebastião Ribeiro de Spínola [1910.04.11-1996.08.13], em substituição do General Arnaldo Schulz [1910.04.06-1993], são elaboradas pelo novo Governador e Comandante Militar da Guiné [promovido a General em 04Jul69], as primeiras directivas.

A primeira Directiva – a n.º 1/68, de 08Jun – tinha em vista a remodelação do dispositivo na região do Boé. Determinava a transferência do aquartelamento de Madina do Boé para local mais adequado, na região do Ché-Ché. Ordenava a recolha imediata a Madina do Boé do Destacamento de Béli, devendo ser destruídas as instalações e material que não fosse recuperável. Determinava, ainda, o reconhecimento da região do Ché-Ché, em ordem a escolher o local do novo aquartelamento, devendo satisfazer as seguintes condições: situar-se em "área-chave" da região do Ché-Ché, de modo a permitir o lançamento de acções dinâmicas na região do Boé e na margem norte do Rio Corubal. Se possível, que desse garantias de segurança à passagem deste rio no Ché-Ché (Ibidem. p.175).

Uma outra Directiva – a n.º 59/68, de 26Dez – mandava executar a manobra esquematizada na Directiva anterior – a n.º 58/68, de 16Dez – onde se determinava a execução de diferentes acções/missões no Sector Leste, entre elas: (i) - Exercer acções de reconhecimento, em ordem a detectar eixos de infiltração do IN na faixa fronteiriça com a República do Senegal e República da Guiné-Conacri até ao "marco 49" e a norte do Rio Corubal a partir deste "marco", com especial incidência nos regulados de Pachisse, Maná e Chanha. (ii) - Reforçar o efectivo das NT na ponte do Saltinho, com vista a garantir a defesa efectiva da ponte e a exercer acção dinâmica no regulado do Corubal. (iii) - Consolidar o esforço de autodefesa nas tabancas marginais da estrada Bambadinca-Xitole-Saltinho. (iv) - Retirar as forças instaladas em Madina do Boé e em Ché-Ché, minando e armadilhando as instalações para que possam ser utilizadas pelas NT em fase ulterior da manobra de contra-subversão. (…) (Ibidem. p 206).

Para a execução da manobra prevista nas Directivas acima mencionadas, foi organizada uma operação, designada por «Mabecos Bravios», a levar a cabo entre 02 e 07Fev1969. Para esse efeito foram mobilizadas as seguintes Unidades militares: CCaç 1790, CArt 2338, CCaç 2403, CCaç 2405, CCaç 2436, CArt 2440, 1 GC/CCaç 5, PMil 161, PAMetr "Daimler" 1258, PSap BCaç 2835, com APAR, as quais efectuaram uma escolta no itinerário Nova Lamego - Madina do Boé - Nova Lamego. (…) Na travessia do Rio Corubal, um acidente com a jangada que transportava forças de segurança da retaguarda provocou a morte de quarenta e sete militares das NT (2 sargentos, 43 praças e 2 Milícias). (Ibidem. p 353).

Sobre o desenrolar desta operação, no relatório acima citado, elaborado pelo Cap Inf José Carvalho Aparício [hoje, TCor Apos.], Cmdt da CCAÇ 1790, é referido o seguinte: 

"Em Fevereiro de 1969, após a decisão do Comando-Chefe da Guiné de abandonar todo o Boé – Beli já tinha sido abandonado meses antes retirando para Madina do Boé todas as forças ali estacionadas – foi desencadeada a operação "Mabecos Bravios" sob o Cmd do Agr 2957 [sedeado em Bafatá]. Uma enorme coluna com cerca de 50 viaturas pesadas escoltadas por duas CCaç's, e dois pelotões de autometralhadoras, e com apoio aéreo permanente, chegou a Madina do Boé na tarde de 05Fev69.

[Vd. Foto nº 2, acima]

[Antes] a esquadra de helicópteros simulou durante a tarde lançamento de forças nas colinas de Madina para tentar evitar as habituais flagelações por morteiros e canhões sem recuo. Durante toda a noite desse dia as viaturas foram carregadas com toneladas de munições, armamento pesado, e todo o equipamento e material aproveitável ali existente. Na manhã de 05Fev iniciou-se o movimento para o Ché-Ché, onde a coluna chegou no final da tarde desse dia. Por decisão do comandante da operação [TCor Hélio Augusto Esteves Felgas (1820.8.25-2008.6.23)], o número de dias previsto para a sua realização foi reduzido de vários dias, para libertar os meios aéreos empenhados; e a travessia do Rio Corubal iniciou-se logo de seguida, com inúmeras travessias efectuadas durante a noite com muitas dificuldades e problemas no embarque na jangada das viaturas carregadas ao limite." (Ibidem. pp 354-355).

[Vd. Foto nº 3]

O relatório refere ainda:
"Para a realização da operação de evacuação do Boé foi contruída uma jangada nova, maior que a anterior, com um estrado sobre três canoas. Em vez da corda inicial, o movimento da embarcação era garantido pelo "Sintex" com motor fora de bordo amarrado à jangada, do lado de jusante do rio, e operado por um sargento da Marinha requisitado para o efeito. A velha jangada esteve sempre acostada na margem direita. Nas travessias do rio durante a noite, com as viaturas foram também indo passando secções dos militares empenhados. No início da tarde de 06Fev69, na última e fatídica viagem, embarcaram a parte que restava dos militares das CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790, cerca de 80 a 90 militares. A meio do rio, uma aceleração brusca do motor do "Sintex" fez erguer a frente de bombordo da jangada, tendo sido dada logo ordem para reduzir a velocidade, a jangada fez o movimento pendular inverso, desta vez mergulhando ligeiramente no rio a frente de estibordo, as canoas ficaram cheias de água mas o tabuleiro ficou flutuando, com os militares a bordo com água pelos tornozelos. Chegados à margem direita, ao proceder-se à contagem constatou-se a falta de quarenta e sete militares das duas Companhias". (Ibidem. p 355). [sendo: 26 da CCAÇ 2405, 19 da CCAÇ 1790 e mais dois milícias, conforme se indica nos dois quadros abaixo]:





No final, o relatório refere que "o acidente em causa deu origem a um Auto de Corpo de Delito, e a longas e complexas averiguações, incluindo todos os aspectos da operação, que em 1970 terminaram em julgamento em Lisboa, no 3.º Tribunal Militar Territorial, que durou várias sessões e que terminou com a absolvição do único réu, o alferes miliciano comandante do Destacamento estacionado no Ché-Ché." (Ibidem. p 355).


3.1.3 - AS DECISÕES QUE FORAM TOMADAS PARA RECUPERAR OS CORPOS DOS MILITARES NAUFRAGADOS EM 06FEV1969 NO CHÉ-CHÉ

Em reunião de Comandos realizada em Bissau, o Comandante-Chefe Militar entregou ao CDMG [Comando de Defesa Marítima da Guiné] e ao CZAGCV [Comando da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde], com data de 19Fev, a Directiva n.º 16/69, determinando a realização de uma «Operação no Rio Corubal», constituída por quatro pontos, a saber:

1 – Confirmando a ordem verbal dada em reunião de Comandos, determino a realização de uma operação no Rio Corubal, com o fim de recuperar os corpos dos militares mortos no trágico acidente de 06Fev69, que se encontram à superfície das águas.

2 – A operação deve realizar-se na base do helitransporte de uma vaga de "Fuzileiros Especiais", fortemente apoiada por meios aéreos.

3 – Os corpos devem ser agrupados e enterrados no local, devendo as campas ser assinaladas com cruzes de ferro.

4 – Desejo ser helitransportado ao local, conjuntamente com um capelão para assistir à cerimónia fúnebre, e colocar nas campas e lançar ao rio coroas de flores com a legenda "A Pátria agradecida". […] (Ibidem. p 317).



Sobre esta "Operação", no P6073, como indicado no ponto 2, o camarada Rui Ferrão, acrescenta que "foi do seu Destacamento de Fuzileiros Especiais – o 10.º - que saíram duas secções, passados alguns dias [?], para o local do acidente, com a missão de recolher os corpos a boiar no referido rio. Dos 47 afogados, foram resgatados 11 cadáveres, que foram sepultados com todas as honras militares na margem do rio. Os restantes [?] ficaram dispersos pelo rio à mercê dos crocodilos e doutras espécies afins." […]

Entretanto, como complemento desta informação, o camarada Vítor Oliveira, ex-1.º Cabo Melec, BA 12 (1967/1969), na sua narrativa no P5853, a que chamou "O desastre do Cheche visto do ar", afirma no ponto 7º: "passados uns dias [?] com uma DO 27 o TCor Pilav Costa Gomes, um Ten Pilav, do qual não recordo o nome, e eu, sobrevoámos o rio e vimos cenas horríveis, os corpos a boiar e os crocodilos à volta deles. O TCor Pilav Costa Gomes entrou em contacto com os Fuzileiros para recolher os corpos. Creio que fizeram um pequeno cemitério próximo do Cheche onde colocaram os corpos."

Eis, em suma, algumas das memórias que fazem parte da "historiografia" deste trágico acidente, impregnado de dor e sofrimento, não só para os sobreviventes, como para todos os camaradas que nele estiveram envolvidos directamente, ou indirectamente, os familiares e amigos de todos aqueles jovens que pereceram nas águas do Rio Corubal.

[Continua]


Fontes consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2015).

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
10Mai2019.
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de abril de 2019 >  Guiné 671/74 - P19710: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Parte II - Os três acidentes na hidrografia guineense

Guiné 61/74 - P19787: Parabéns a você (1617): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19769: Parabéns a você (1616): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)

terça-feira, 14 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19786: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (20): só no dia 25, sábado, identificámos 10 (dez) encontros, em diferentes pontos do país, de pessoal que esteve no CTIG, e que concorrem, saudavelmente, com o nosso, em Monte Real... Eis algumas das unidades: BART 1913, CCAÇ 1792, BCAV 490, 1ª C/BCAÇ 4616/73, BCAÇ 2928. Pel Art 27, Pel Mort 2297, ERec 2641, CCS/BCAV 2922, 1ª C/BCAÇ 4610/72, CCAÇ 3547, CCAÇ 3548, CCAÇ 1585, e pessoal de Bambadinca, 1968/72: CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12 ,CCS/BART 2917, Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 53, Pel Caç Nat 63, etc.... Prazo de inscrições para Monte Real: até amanhã, 15, às 24h00.


A foto de família dos participante do X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Monte Real, 18 de abril de 2015. Este ano, em 25 de maio de 2019, há camaradas e amigos que vão estar no encontro das suas unidades ou subunidades, e que gostariam também de estar connosco em Monte Real. Mas ninguém tem o dom da ubiquidade. Foto de Miguel Pessoa (2015).



1. Eis a seguir uma lista com alguns dos encontros do pessoal do CTI Guiné que se vão realizar, sábado, 25 de Maio de 2019, pelo país fora, e de cuja notícia tivemos conhecimento... 

Decididamente,  não há calendário que chegue para todos nós (e os de Angola e Moçambique ainda são muitos mais, às dezenas): por exemplo, o nosso editor, Luís Graça, para estar em Monte Real nesse dia, vai falhar, com muita pena sua, o encontro, no Porto, do pessoal de Bambadinca, 1968/72: a sua companhia, a CCAÇ 2590 /CCAÇ 12  comemora os 50 anos, da partida para o TO  da Guiné, no "Niassa", em 24 de maio de 1969]

— Almoço comemorativo do 50º aniversário do regresso da Guiné dos Combatentes do BART 1913 (CCS, CART 1687, CART 1688 e CART 1689)>  



Quartel RAP2, rua Rodrigues de Freitas, Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia. Contacto: Avelino de Sousa, telem 914514489 
ou telef 229680720.

— Almoço-convívio comemorativo dos 50 anos do regresso dos combatentes  da CCAÇ 1792, Guiné 1967/1969 > 


Restaurante “Barriga Cheia”, em Barrô, Águeda. Contacto: ex-fur mil Pereira, 
telem 962313013.

— Almoço-convívio anual dos combatentes do BCAV 490, “Sempre em Frente”, Guiné 1963/1965 > 




Hotel Dona Inês, Rua Abel Dias Urbano, 12, Coimbra.

— Almoço-convívio dos Combatentes da 1ª Companhia, BCAÇ 4616/73, Guiné 1973/1974 >


  Antigo RI 16, em Évora. Programa: Às 10h30 descerramento de uma placa alusiva à companhia na porta de entrada 
do regimento, com cerimónia 
de homenagem aos mortos 
em combate. Contacto: 
Isabelinho,telem 917848483 
ou 919315617.

— Convívio anual dos Combatentes do BCAÇ 2928 (CCS, CCAÇ 2789, CCAÇ 2790, CCAÇ 2791 e CCAÇ 3328), e PEl Art 26, Pel Mort 2297, ERec 2641, Guiné (sector de Bula) 1970/1972 >  



Quinta do Mateus (Rua da República nº 255),
em Cacia, Aveiro. Concentração 
às 10 horas. Contactos: 
Manuel  Vinagre, telem 966912714; 
Bento Mendes, telem 929143080.

— Almoço-convívio dos Combatentes da CCSBCAV 2922, “À Carga!”, Guiné Jul 1970/Jun 1972 > 



Concentração no Cristo Rei, em Almada. 
Almoço em Sesimbra.

— Almoço-convívio dos Combatentes da 1ª Companhia do BCAÇ  4610/72, “Ratos de Encheia”, Guiné 1972/1974 > 



Restaurante panorâmico “Lago Verde” (junto à barragem do Cabril), em Pedrógão Grande. Contactos: Fernando Lima, telem 918434389; 
Manuel António Lopes, telef 229014974 
ou telem 912884641; 
Manuel Fernandes Monteiro, 
telef 223792348 
ou telem 968125677.

— Encontro-convívio comemorativo do 45º aniversário do regresso do pessoal das CCAÇ 3547, “Os Répteis de Contuboel”, e  CCAÇ 3548, “Os Panteras do Geba”, do BCAÇ 3884, Guiné (Bafatá) 1972/1974 >  



Local: Chaves.

— Almoço-convívio dos Combatentes da CCAÇ 1585, Guiné (Farim, Quinhamel) 1966/1968 > 



Buarcos, Figueira da Foz 
Contacto: Carlos Soares, 
telem 918245449.

- Almoço convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/72: CCS/BCAÇ 2852 (1968/70), CCAÇ 12 (1969/71), CCS/BART 2917 (1970/72), Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 53, Pel Caç Nat 63, e outras subunidades adidas > 



Porto, Scala Palace, Praça Velasques, c/ missa na Igreja das Antas, 10h; e concentração na esplanada 
do café Velasques, 11 h. 
Contacto: Manuel Monteiro Valente,  
R Joaquim Lopes Pintor, nº 118, 1º Dto.,
 4405-868 Vila Nova de Gaia, 
telem 968849886.


2. Quanto ao nosso XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, dia 25 de maio, sábado, vamos continuar a receber inscrições até quarta-feira, dia 15, às 24h00... 


Recorde-se que a inscrição são 35 "aéreos", com direito a:

Entradas + Almoço + Lanche ajantarado : Para as criancinhas, até aos 12 anos, são só 18 "aéreos"...

Para quiser ficar alojado no Palace Hotel Monte Real (4 estrelas ) com pequeno-almoço incluído: Single: 50,00€ | Duplo: 60,00€

Inscrições a cargo de:

Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos): email:carlos.vinhal@gmail.com | telemóvel: 916 032 220


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Guiné 61/74 - P19785: Em busca de... (297): 46 anos depois, o reencontro de Alberto D'Aparecida Couto com o amigo José Augusto da Silva Dias que o salvou de morrer afogado, no dia 30 de Abril de 1973, no rio Geba, em Bambadinca (Sousa de Castro)




1. Em mensagem do dia 6 de Maio, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) dá-nos notícia do reencontro, ao vivo, no Barreiro, ao fim de 46 anos, entre o ex-1.º Cabo Atirador Alberto de Aparecida Couto e o Soldado Maqueiro José Augusto da Silva Dias da CCS do BART 3873.
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Nota do editor

Vd. último poste da série de 14 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19584: Em busca de... (296): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 já contactou com o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

Guiné 61/74 - P19784 Tabanca Grande (479): Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74... Radialista, jornalista e escritor, vive na Praia, Cabo Verde. Senta-se à sombra do nosso mágico poilão, sob o nº 790

Carlos Filipe Gonçalves. Foto da página do Facebook.
1. Resposta de Carlos Filipe Gonçalves ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande (*)

Data: terça, 14/05/2019 à(s) 12:54

Olá, Luis:

É com emoção que acabo de receber e ler a tua resposta à minha mensagem. Afinal o mundo é pequeno, e conhecemo-nos todos ou então temos ligações que cruzam as nossas vidas.

Sou amigo do Manuel Amante desde os tempos do Liceu em Mindelo, encontrámo-nos na Guiné onde ele trabalhou comigo na Chefia da Intendência. O Manuel Amante concedeu-me uma entrevista para este livro que estou a escrever.

Conheço e bem o Leão Lopes, somos amigos. E, como bem dizes, sou sobrinho da Orlanda Amarilis, esposa de Manuel Ferreira, hospedava-me em casa deles em Linda Velha quando estive em Portugal a fazer a recruta em Tavira (CISMI) e Vendas Novas (EPA) porque entretanto fui reclassificado, depois fiz a especialidade em Leiria. Fui amanuense.
Capa do livro" Kab Verd Band"
(Praia, Instituto do Arquivo 
Histórico Nacional, 2006)
Olha, sou de Mindelo, S. Vicente, mas, vivo na Praia desde Agosto de 1975 até hoje. Sou jornalista, aliás antes da tropa, trabalhei na Rádio Barlavento em S. Vicente, depois ao chegar ao fim a guerra na Guiné, resolvi ficar para dar uma ajuda, pois havia falta de quadros, fui então para a rádio, estive lá um ano… Depois da Independência de Cabo Verde decidi voltar, cheguei à cidade da Praia em Agosto de 1975, onde continuei na rádio e iniciei assim uma carreira.

Fui estudar em França no INA, Instituto Nacional de Audiovisual (1980 a 1982). Cheguei a Director da Rádio Nacional de Cabo Verde (1986 a 1991), fundei mais tarde uma rádio privada, a Rádio Comercial, onde estive como director (1998-2013), finalizei a carreira e entrei na reforma.

Olha, a biografia na Wikipedia está certa e refere-se apenas à minha faceta de investigador da música, porque na verdade sou músico, as vicissitudes da vida me empurraram para o jornalismo e acabei por fazer programas sobre a música ao longo de anos, acabando por reunir num livro o trabalho realizado nesse campo.

Acabo de concluir um "Dicionário da Música de Cabo Verde" (650 páginas,  A4), que já está com o editor, talvez saia no final deste ano ou início do próximo… Justamente quando finalizei aquele livro (desde 2018) resolvi escrever as minhas memorias da rádio! Então, já conclui um livro sobre a Rádio Barlavento em S. Vicente, entrevistei muita gente e conto a história da invasão dessa emissora pelo PAIGC e levo o leitor a interrogações sobre as consequências da nacionalização e monopólio até hoje.

No seguimento, iniciei agora as minhas memórias da rádio na Guiné, desde a audição do PIFAS e da ERG, depois a minha entrada na Rádio Libertação, depois Rádio Difusão da Guiné e finalmente a minha vinda e carreira em Cabo Verde. Tenho muitas entrevistas ainda para fazer, que servem para confirmar as minhas memórias e as minhas descrições. Deus me ajude a chegar ao fim deste projecto.

Foi pois na procura de dados e outros testemunhos para o livro que encontrei o teu blogue e outros de muita utilidade e quis a sorte que tivéssemos este encontro. Já estou longo nesta missiva, mas como jornalista que sou, devo dizer, cito sempre as fontes, e isso é primordial porque dá credibilidade e é a chave de um bom jornalismo, aliás, bem como a apresentação de várias fontes e versões dos factos.

Aproveito desde já esta missiva para te enviar a minha história militar: Carlos Filipe Fernandes da Silva Gonçalves, Furriel Miliciano, nº 800048/71, iniciei em 3 de Janeiro de 1972 no CISMI em Tavira o curso de Sargentos Milicianos de Infantaria.

Pouco depois, na sequência de uma consulta no Hospital Militar em Évora, fui enviado para o Hospital Militar Principal em Lisboa, submetido à Junta e reclassificado para os Serviços Auxiliares, devido ao alto grau de miopia que tenho. Fui então enviado para Vendas Novas, onde decorria uma recruta para malta dos Serviços Auxiliares. Reclassificado Amanuense (antes era fotocine) fui para Leiria em 1 Julho de 1972 onde fiz a especialidade que findou em Setembro. Fui então colocado no Quartel General em Lisboa, em S. Sebastião da Pedreira, mobilizado para Guiné logo a seguir, embarquei no navio Uíge em final de Fevereiro de 1973 numa leva de militares em Comissão Individual de Serviço.

Cheguei a Bissau em 3 de Março, fui colocado no Quartel General em Santa Luzia, prestando serviço na Chefia da Intendência, o meu chefe Tenente Coronel Gonçalves Ferreira, na secção de Autos Viveres/Artigos de Cantina. O meu chefe foi o alferes Melo Franco.

Passei à disponibilidade a meu pedido em Bissau, em 29 ou 30 de Agosto de 1974. 2.ª Classe de comportamento, nunca fui admoestado nem tive qualquer castigo

Olha, vou 'scanear' umas fotos que tenho no quartel em Santa Luzia e enviarei com a brevidade possível.

Aquele abraço e Deus nos dê muita Saúde

Carlos Filipe Gonçalves
Jornalista Aposentado


2. Comentário do Luís Graça. editor:

Camarada, e novo grã-tabanqueiro: é uma felicidade cruzarmo-nos, nesta rede social que tem mais de 11 milhões de páginas, e junta amigos e camaradas da Guiné...

Já arranjei uma foto tua para te poder apresentar ao resto do pessoal.  Quando chegarem, publico as tuas fotos do tempo de Santa Luzia, Bissau, 1973/74.  E espero que nos contes algumas histórias desses tempos efervecentes do antes e do depois da independência da Guiné-Bissau (1974), mas também da tua terra, Cabo Verde (1975). 

Precisamos de fazer mais pontes, e uma delas é com Cabo Verde, terra a que nos ligam fortíssimos laços históricos, étnicos, linguísticos, culturais, musicais, afetivos... Sou fã da música de Cabo Verde, cujos sons passei aos meus filhos, quando eram pequenos. Um deles também é músico, além de médico, toca violino nos Melech Mechaya, banda de música klezmer que já atuou na tua terra, por ocasião do 20.º Festival Sete Sóis Sete Luas (2012). Estiveram, inclusive, na cidade da Praia, em 8/11/2012.

Passas a sentar-te à sombra do nosso mágico e fraterno poilão (não há tabanca sem poilão...), sob o n.º 790 (**). O teu nome passa a figurar na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande, na coluna estática do lado esquerdo do blogue. Lá encontrarás também o nome do Manuel Amante da Rosa. Desejo-te muita saúde e longa vida para poderes realizar os teus projetos literários. Vamo-nos encontrando por aqui, partilhando memórias (e afetos). E talvez para o ano na Praia.
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Guiné 61/74 - P19783: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (65): Pedido de autorização para citações a inserir no livro sobre a guerra colonial, de Carlos Filipe Gonçalves, jornalista, cabo-verdiano, que foi fur mil, na chefia da Intendência em Bissau, de março de 1973 a agosto de 1974

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Carlos Filipe Gonçalves, cabo-verdiano, escritor e jornalista:

Data: domingo, 12/05/2019 à(s) 15:00

Assunto: Pedido de Autorização para citações a inserir no livro de Carlos Gonçalves

Olá, Luís Graça:

Sou Carlos Filipe Gonçalves, cabo-verdiano, 68 anos fiz a tropa na Guiné, 3 de Março de 1973 a 31 de Agosto de 1974, como furriel, estava colocado na Chefia da Intendência em Bissau.

Estou a escrever um livro sobre as minhas memórias daqueles anos do fim da guerra na Guiné, porque constatei que em Cabo Verde, não se conhece nada do que por lá se passou. Há os relatos dos poucos cabo-verdianos que estiverem no PAIGC, mas que não passam de pequenas historias… não livros, não há nada sobre isso…

Bem, estou a escrever as minhas memórias e as dos outros através de entrevistas… Pelo caminho fiz pesquisas na Internet e encontrei este blogue, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com, com informações de muitos acontecimentos que eu presenciei.

Ora, acho interessante utilizar citações de não mais de 3 ou 4 linhas para ilustrar com a citação da fonte. Venho pois pedir a tua autorização para utilizar esses pequenos extratos que serão devidamente acompanhados do link e titulo do blogue.

Se em Portugal, já se falou muito e já se debateu o que se passou na Guerra Colonial, é um verdadeiro paradoxo, tal nunca tem acontecido em Cabo Verde.

Agradeço desde já a tua colaboração, desejo-te saúde e felicitações por manter este blogiue, rico em informações sobre a Guerra na Guiné.

Melhores cumprimentos

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

2.  Resposta do nosso editor Luís Graça:

Camarada Gonçalves: sou um pouco mais velho, fiz a minha comissão de serviço militar, na Guiné, no leste, numa companhia da "nova força africana" do gen Spínola, de maio de 1969 a março de 1971. 

Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu. Tenho, de resto, aí alguns amigos, a começar pelo Manuel Amante da Rosa, que é do teu tempo. Tem cerca de 30 referências no nosso blogue e é membro, de longa data da nossa Tabanca Grande (tertúlia ou comunidade virtual dos amigos e camaradas da Guiné: são 789, neste momento, incluindo 72 que já morreram).  Foi também fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74; é  embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itáliadesde 16/1/2013, e agora também em Malta.

 Sou do tempo do Leão Lopes, que também passou por Bambadinca e pintou lá alguns quadros (retratos). Era do BENG 447, foi também furriel miliciano.. Deves conhecê-lo, foi ministro num governo de Cabo Verde. 

E, claro, tenho aí, em Cabo Verde, amigos que foram meus alunos, na Escola Nacional de Saúde Púlica da Universidade NOVA de Lisboa... Também o meu pai esteve no Mindelo,em 1941/43, na mesma altura do Manuel Ferreira (1917-1992)... Pelo que li na Net, és sobrinho da esposa do Manuel Ferreira...O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande|

De qualquer modo, sobre Cabo Verde, temos já cerca de 300 referências no nosso blogue.

Em relação ao que me pedes, estás a autorizar a utilizar o blogue como fonte (pública) de informação e conhecimento (*), Dos textos que utilizares citas a fonte, como mandam as boas regras da comunicação (jornalística e académica)... E depois, se possível, mandas-nos um exemplar do teu livro, quando for publicado, para fazermos a devida recensão e divulgação.

Por fim, fica aqui o convite para te juntares ao blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné... Preciso apenas de duas fotos tuas, uma do tempo da Intendência em Bissau e outra mais atual... Além de duas ou três linhas de apresentação da tua pessoa... Não sei se o que consta na Wikipéida a teu respeito, está correto... Para já, não refere o teu passado como militar do exército português.

Um alfabravo (ABraço), Luís Graça
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Nota do editor: