terça-feira, 5 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24623: Fauna e flora (23): o hipopótamo-comum, pis-cabalo em crioulo (Hippopotamus amphibius) apanhado nas bolanhas de Farim (Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf, CCaç 2548 / BCaç 2879, Jumbembem, 1969/71)


Guiné : Região do Oio > Farim > 1970 > "Quem não se acredita que não havia hipopótamos no rio Cacheu? Aqui está o malandro que dava cabo dos arrozais". Foto do precioso álbum do Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf,  CCaç 2548 / BCaç 2879 (Jumbembem, 1969/71).(*)

Foto (e legenda): © Carlos Silva  (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

Pis-Cabalo (em crioulo) ou hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius) > Um dos mamíferos protegidos na Guiné-Bissau. Não confundir com o hipopótamo-pigmeu, dado como extinto na Guiné-Bissau há 50 anos (**). 

Fonte: Guia de Identificação dos Animais da Guiné-Bissau. República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Deparatmento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, 34 pp. s/d. (Já não está disponível em formato pdf, no sítio do IBAP,  fomos recuperá-lo através do Aqruivo.pt).

https://ibapgbissau.org/Documentos/Estudos/Animais%20da%20Guine-Bissau.pdf


Temos uma série dedicada à "Fauna e flora", em especial da  Guiné-Bissau. Esperamos mais contributos dos nossos amigos e camaradas da Guiné que fazem também deste blogue uma importante fonte de informação e conhecimento  (***).
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Guiné 61/74 - P24622: Parabéns a você (2203): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24616: Parabéns a você (2202): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490 (Mansoa, Bafatá e Jumbembém, 1963/65) e José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite, 1971/73)

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24621: A minha máquina fotográfica (21): A primeira que levei para o CTIG era uma Canon Demi 1.7, uma câmara de meio-quadro ("demi", em francês) que proporcionava 72 fotografias num rolo completo de filme de 35 mm (António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1.ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74)


A minha primeira máquina fotográfica: a Canon demi 1.7, lançada no Japão em 1963... 

Vd. Canon Camera Museum: A Olympus-Pen, em setembro de 1959, foi a primeira câmera, no Japão a oferecer o formato meio quadro ("half-frame"), que dobrava o número de exposições em um rolo de filme 35mm. A Canon também iniciou o desenvolvimento de uma câmera "half-frame" compacta e de aparência luxuosa. 

A Canon Demi que daqui resultou, oferecia recursos de alto desempenho numa máquina  de bolso, analógica: incluíam um visor direto, uma lente 28mm f/2.8 (5 elementos em 3 grupos) e um medidor de exposição de selénio com agulha combinada que usava um programa de valor de luz atrás da lente para medição precisa. Quando a Canon Demi foi lançada, já existiam doze modelos concorrentes no mercado. A Demi, porém, tornou-se muito  popular. “Demi” vem da palavra francesa que significa “metade”.

Foto: Câmera de Filme 35mm Canon Demi S 30mm f/1.7 Half Frame. Fonte: Ebay (com a devida vénia...)





 

António Alves da Cruz, foto atual:
lisboeta, vive em Almada


1. Mensagem do António Alves da Cruz, novo tabanqueiro, nº 880 (foi fur mil , 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, mar 73 / set 74)

Data - segunda, 28/08/2023

Assunto - Fotos

Bom dia

Luís, a diferença de resolução em várias fotos e slides é que a primeira máquina que levei (*) era uma Canon Demi 1.7, que tinha a particularidade de dobrar os rolos ou seja rolo 36/72. Na foto como era revelada ficava normal, no slide como a própria pelicula é revelada e colocada no caixilho ficava metade do tamanho.

Os "slides" que vou enviar por altura da entrega de Buba já foram com outra máquina. Não é necessário criar nenhum álbum. 

Guiné 61/74 - P24620: Memórias de Gabú (José Saúde) (99): Recordando o saudoso enfermeiro Dinis (José Saúde)



Enfermeio Dinis, militar e amigo



O Alfredo Dinis, já falecido




Fotos (e legendas): © José Saúde (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem rebuscada nas suas memórias.



As minhas memórias de Gabu:
Recordando o saudoso enfermeiro Dinis

Camaradas,

Contemplando alguns dos momentos em que a “pica” da guerrilha guineense atormentava o mais paciente combatente, eis-nos perante uma manhã onde o calor imperava, o que aliás era normal, e um imprevisível estrépito som que impôs momentos de autêntica aflição aos camaradas que, entretanto, descansavam ou que passavam algum do seu tempo disponível no quartel, este o quartel novo construído na orla de Nova Lamego, ou seja, rente à estrada que nos levava a Bafatá, sendo o outro aquartelamento no interior da urbe.

O som, deveras enorme e que tudo fez tremer, foi, tão-só, o rebentamento de uma panela na messe de sargentos que, entretanto, já cozinhava o almoço para a rapaziada. É óbvio que alguns dos nossos camaradas cozinheiros foram apanhados de surpresa, sendo o mais fustigado o Filipe, com queimaduras no corpo.

Na verdade, o conflito armado que nos fora comum, trouxe, também, inevitáveis “chagas” em corpos de jovens que num qualquer instante se viam confrontados com alterações do seu próprio físico.

Era, no fundo, o agitar de uma guerrilha que se expandia por todo o território de uma Guiné que a todos incomodou, não obstante o lugar para qual tivéssemos sido arremessados.

Dinis na sua missão como enfermeiro a tratar das mazelas que ficaram bem patentes no corpo do camarada Filipe

De estatura física a atirar para o baixo, arrisco um metro e sessenta ou um pouco mais, franzino, mas sempre ágil na sua entrega à vida, o enfermeiro Dinis, camarada da minha companhia, era um rapaz cuja dedicação à causa que a tropa lhe concedera muito o terá notabilizado.

Lembro-me, perfeitamente, dele passar defronte às minhas instalações ao lado de um outro camarada, creio que de transmissões, e que muitas vezes apelidei como a sorte grande e a terminação.

A razão deste meu pequeno devaneio prendia-se com o facto do Dinis, pequeno em altura, mas com um coração enorme, ombrear lado a lado com um camarada alto e esguio que se mandava para mais de um metro e oitenta.

Curioso é que o Dinis, um militar simpático e afável, nunca impunha restrições para uma espontânea cavaqueira na missão que escrupulosamente cumpriu como antigo combatente na Guiné. De um outro modo, recordo as minhas idas à enfermaria e ser atendido, com pompa e circunstância, pelo meu amigo Alfredo Dinis que se predispunha a uma ajuda momentânea caso a necessidade assim o determinasse.

Por uma questão de ética olvidemos o Alfredo e falemos simplesmente do enfermeiro Dinis, como era hábito a malta tratá-lo no interior do aquartelamento. Na minha memória subsiste a imagem de um jovem, cara de menino, cuja pronuncia era tendencialmente marcada pela dicção de uma Invicta que todos conhecemos como a maravilhosa cidade do Porto.

Numa intromissão às temáticas de Gabu em memórias, revejo a irreverente ação militar do enfermeiro Dinis. Foram muitas as idas para o mato em que este nosso amigo acompanhava o grupo e vincava presunçosamente a sua próspera especialidade numa população onde o valor das carências impunha óbvias restrições humanitárias.

Recordo, por exemplo, as visitas às tabancas de Gabu em que o Dinis, munido com sua mochila entolhada em mesinhos, distribuía remédios santos para gentes nativas que viam nele um deus caído do céu. A patologia constatada implicava uma receita urgente. E o Dinis já conhecia os males e as suas curas. Tanto mais que naqueles lugares ermos nem o sol quase penetrava pela orla do denso mato que rodeava a tabanca e as queixas eram as rotineiras.

As minhas recordações guardam, igualmente, outras circunstâncias em que afabilidade do Dinis denotava uma mensurável devoção à causa que mui dignamente serviu.

Lembro, uma ocasião em que um gerador, adstrito à messe de sargentos, rebentou. O estrondo no quartel foi enorme e a manhã foi de autêntico sobressalto para toda a rapaziada. Uns ainda dormiam e outros matavam o tempo com premeditados afazeres. Uma carta para a namorada escrita sob um cenário de guerra, ou uma missiva, quiçá faustosa, para uns pais sempre carentes de notícias da peleja de além-mar e sobretudo do estado físico do seu querido descendente.

Estava eu sentado num confortável cadeirão, feito à maneira de um homem grande, situado à frente dos aquartelamentos dos sargentos, ao lado da messe, meditando num horizonte onde a guerra não perspetiva melhorias e eis-me a ouvir o tamanho estrondo.

Confesso que o estampido me pareceu que vinha das traseiras da messe de sargentos. Não hesitei e lá fui para saber o que acontecera. Viveram-se então momentos de pânico, sendo o infeliz contemplado da desgraça o camarada Filipe, um rapaz que trabalhava na copa da nossa messe.

O corpo do militar Filipe registava fartas queimaduras e a dor sentida pelo camarada era grande. Havia partes do seu corpo em que a pele queimada dera lugar a uma mancha vermelha que deixava antever preocupação. O rosto e os braços, em particular, indiciavam dor.

Perante o sucedido o Filipe ficou entregue aos cuidados do pessoal de enfermagem da nossa companhia. O furriel enfermeiro Navas e o Dinis prestaram-lhe os primeiros socorros, seguindo-se os cuidados diários do nosso saudoso homem do Norte. Sei que o enfermeiro Dinis foi incansável nos seus préstimos, sei também que este meu velho camarada portuense já partiu para a tal famigerada viagem sem regresso, que descanse em paz, restando, porém, alvíssaras ao nosso amigo Filipe que nunca mais soube da sua presença territorial.

Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série de 24 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 – P24585: Memórias de Gabú (José Saúde) (98): Histórias e explanações sobre a existência de Gabu (José Saúde)

Guiné 61/74 - P24619: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte VIII: Resumo da atividade operacional (de novembro de 1970 a agosto de 1972)



Infografias: Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné (2023)


1. Continuação da publicação de alguns alguns excertos da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (**). 

É uma das subunidades, que estiveram no CTIG, que não têm até à data nenhum representante (formal) na Tabanca Grande.

Uma cópia da história da unidade foi oferecida ao Centro de Documentação 25 de Abril, em vida, pelo então major general Monteiro Valente, ex-elemento do MFA, com papel de relevo nos acontecimentos do 25 de Abril, na Guarda (RI 12) e Vilar Formoso (PIDE/DGS), bem como no pós- 25 de Abril. 

O antigo cap inf Monteir0 Valente foi também comandante da GNR, e era licenciado em História pela Universidade de Coimbra. Entre outros cargos e funções, foi instrutor, comandante de companhia e diretor de cursos de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (1968-1970, 1972-1974). (Foto à direita, cortesia do blogue Rangers & Coisas do MR", do nosso coeditor, amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro).

Uma cópia (parcial) desta história da CCAÇ 2792, chegou-nos às mãos há uns largos tempos. Temos vimos a publicar alguns excertos (*).



História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte VIII:

Resumo da atividade operacional   
(de novembro de 1970 a agosto de 1972)


Os quadros, 1 e 2, acima publicados dão uma ideia, bem clara, da atividade do IN e da CCAÇ 2792, no sector sul 3 (S3), no período de 21 meses (de novembro  de 1970 até agosto de 1972), com os efetivos da companhia divididos por Catió e Cabedú (e só reagrupados em 25/8/72, no rehgresso a casa).

O IN privilegiou as flagelações (35 no total), nomeadamente contra Catió usando habitualmenmte os foguetóes 122 mm. A companhia contabilizou sobretudo patrulhas (194) e emboscadas (152) e outras ações (72). A atividade  operacional terá sido 11,5 vezes superior à do IN. 

O número de baixas infligidas ao IN é desconhecido.  E o material capturado foi o seguinte: 

  • 1 carregador circular para pistola-metralhadora, com 48 cartuchos;
  • 1  granada de mão defensiva F-1;
  • 1 granada de RPG-2;
  • 4 granadas de RPG-7;
  • 1 Pistola CESKA 2BROJOVKA, 7.65 mm;
  • 1 Pistola metralhadora SHPAGIN (PPSSH) ("costureiribnha");
  • 2 Minas A/P;
  • 2 Minas A/C;
  • 2 Sabres-baionetas.

A história da unidade não faz referência à participação em operações conjuntas com outras subunidades no seu setor, S3. Certamente por lapso, a CECA (2015) refere a sua participação, a nível de dois pelotões,  na Op Grande Empresa,  em 12 e 13Dez1972 (quando todos os militares da CCAÇ 2792 já tinham regressado a suas casas. Em julho de 1972, foi rendida pela CART 6251/72, e os seus militares reagruparam-se finalmente no Cumeré em 25/8/1972.

(...) Na região do Cantanhez, S3, uma força constituída pelas CCP 121 e 122, CCaç 5, CCaç 4540, CCaç 4541 e 2 Pel/CCaç 2792 (Cabedú), levou a efeito um heli-assalto e desembarque da CCP 121 e 122 sobre objectivos na região,na qual foram estabelecidos sete contactos pelo fogo com o inimigo

Do resultado geral da operação destaca-se a captura ao inimigo do seguinte material: 1 lgfog "RPG-2", 1 esautom "Simonov", 33 granadas de diversas armas de grande calibre (morteiro 60 mm, de 2 lgfog e canhsrc) eainda material e munições diversas.

As forças inimigas sofreram 5 mortos, 2 feridos e a captura de 12 elementos. As nossas forças sofreram 4 feridos. (...) (***) 


2. Segundo as notas manuscritas do maj gen Manuel Valente, na composição do pessoal (pp. 5 a 9/I da História dfa Unidade), a companhia terá tido 3 mortos em combate (MC), além de vários feridos em combate e por doença:

  • Sold Manuel Pereira Gomea, 10/12/70;
  • Fur mil  at José António R. de Andrade,  14/4/71;
  • 1º cabo reab mat Carlos Abílio G. F. Antunes (ferido em combate em 14/4/71, flaecido no HM 241, em 1/6/71)


(**) Fonte: Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pág. 172 (Com a devida vénia...)

Guiné 61/74 - P24618: Notas de leitura (1612): Guiné, Operação Irã (maio de 1965) e Operação Hermínia (março de 1966), no fascículo 2 de "As Grandes Operações da Guerra Colonial", textos de Manuel Catarino; edição Presselivre, Imprensa Livre S.A. (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Outubro de 2021:

Queridos amigos,
É meritório, há que o reconhecer, a divulgação em fascículos, com acesso ao grande público, e numa linguagem acessível, de acontecimentos relevantes como foram grandes operações da guerra colonial. Quando me atirei à tarefa de estudar com um pouco de minúcia os acontecimentos que antecederam a chamada luta armada e depois a luta armada propriamente dita, entre 1963 e 1965, isto num projeto editorial que teve como base a história do BCAV  490 feita por um poeta popular, e assim chegámos os dois à feitura do livro "Nunca Digas Adeus às Armas", Húmus Edições, 2020, detetei que a generalidade da historiografia sobre a guerra da Guiné passa como gato pelas brasas pelos aspetos fulcrais tanto da atividade operacional desenvolvida no período como no contexto dessa luta armada, os dois comandantes-chefes, e nomeadamente Arnaldo Schulz, lançaram as bases da ação psicológica, da formação de milícias e companhias de Caçadores, projetos de desenvolvimento e algo mais que merecia o respeito e consideração por quem estuda a guerra.

Mas o mantra é muito superior à realidade e quem escreve que a guerra se agravou entre 1963 e 1968 e mais adiante dirá que a partir de 1970 a guerra nunca mais deixou de se agravar não dá pelas injustiças que profere, uma delas até é cometida com tiros no pé, como esta "Operação Irã", de maio de 1965, e esta "Operação Hermínia", de março de 1966, que desdizem cabalmente de que não se respondia taco a taco, enfrentando o inimigo. Bem curiosamente, há agora quem escreva que mesmo no período da governação Spínola a tropa dos aquartelamentos limitava-se a andar ali à volta, quem verdadeiramente tinha atividade operacional eram as tropas especiais, outro mantra, falando por mim, não me ofende quem quer, na chamada zona libertada do Cuor eu percorria quatro quintos a qualquer hora do dia e se a mais não me afoitava era por não dispor de recursos, com aquelas operações de tabancas em autodefesa fui sendo sangrado de várias secções de pelotões de milícia, em vão protestei. Mas isso é uma história que a historiografia nem se preocupa em estudar, a precariedade dos meios.

Um abraço do
Mário



Guiné, Operação Irã (maio de 1965) e Operação Hermínia (março de 1966)

Mário Beja Santos

A série "As Grandes Operações da Guerra Colonial", surgida na década de 2010, vendia-se nas papelarias e quiosques sob a forma de fascículos, os textos pertencem a Manuel Catarino, edição Presselivre, Imprensa Livre S.A. Este fascículo 2 é uma reedição, é uma miscelânea onde para além destas duas operações a que nos iremos referir juntar-se-ão outras informações, acrescendo a descrição da Operação Tridente, acontecimentos que envolveram paraquedistas em Guilege ou que viveram dificuldades no decurso de uma operação em Cassebeche. O valor do texto é muito discutível. Dizer que a Operação Irã é uma investida das tropas portuguesas no Morés onde nunca elas se tinham aventurado é desconhecer inteiramente de operações no Morés em 1963 e 1964. Sim, o Morés era uma região de mata densa, aí se sediavam pequenas bases móveis, improvisadas infraestruturas, importantes depósitos de material. E o texto lança logo o mantra de que tudo foi agravamento do conflito desde janeiro de 1963 até 1968, é o velho e estafado refrão de que os Altos Comandos anteriores a Spínola andaram aos bonés e revelaram-se incapazes de travar a progressão da guerrilha.

Quem lê a resenha das campanhas de África, no que tange à Guiné, e é este período, ficará seguramente atónito com o texto das diretivas de comando e as ordens de batalha dos dois comandantes-chefes anteriores a Spínola, e sobretudo ao conjunto de operações efetuadas, ao seu desenlace, e à sinceridade posta nos quadros de situação, é uma linguagem que não deixa margem a equívocos de que era inteiramente possível fazer melhor com os meios disponíveis. O autor dá uma no cravo e outra na ferradura, sempre que pode deslustra quer Louro de Sousa quer Schulz e chega a dizer enormidades como:
“Schulz era um militar clássico e, como seria de esperar, respondeu classicamente à manobra do PAIGC”. O que desdiz completamente o que Schulz escreveu para os chefes de Estado-Maior General das Forças Armadas, o mesmo é dizer que chegou ao conhecimento do governo. Louro de Sousa apanhou a fase da implantação do PAIGC, tinha efetivos humildes, o sistema de informações era mais do que precário, a operação de investida no Sul tinha sido estrategicamente calculada, revelou-se fulminante, passou-se para o outro lado do Corubal, foi-se consolidando na região do Morés. Havia que prontamente responder apoiando as populações que se revelavam afetas à soberania portuguesa e à atividade operacional que foi contínua, apareceram as milícias, as tabancas em autodefesa, as tropas especiais.

A Operação Irã ocorreu em maio de 1965, foi um golpe de mão à base do PAIGC de Iracunda. Lê-se no relatório: “A CART nº 730 saiu de Bissorã em 2 de maio e no dia seguinte montou uma rede de emboscadas em proteção à CART nº 566 que executou o ataque à base central do Morés. Pelas 5h50 de 3 de maio vinte elementos vindos do Morés caíram na zona de morte, interrogado um prisioneiro deu informações sobre a base de Iracunda para onde a CART n.º 730 logo seguiu. Esta unidade seguiu prontamente para Iracunda e capturaram material, havia aqui uma escola, a CART n.º 730 sofreu duas fortes ações de fogo sem consequências”. Depois o autor escreve outro êxito, o do BCAÇ 2879, em agosto de 1969, segue-se um texto sobre os Diabólicos, o grupo de Comandos que executou a primeira ação helitransportada na Guiné, a Operação Hermínia, que ocorreu em março de 1966. O objetivo era tomar de assalto uma base de guerrilha em Jabadá. Nesta altura havia melhores meios, já tinham chegado os helicópteros Alouette III, já existiam quatro grupos de Comandos, os Diabólicos (comandados pelo alferes Virgínio Briote), os Vampiros (comandados pelo alferes António Pereira Vilaça), os Centuriões (comandados pelo alferes Luís Almeida Rainha) e os Apaches (comandados pelo alferes António Neves da Silva).
Narra o autor que a operação se iniciou à uma da tarde de 6 de março de 1966, seis helicópteros descolaram de Bissalanca em direção ao objetivo, não mais de 20 minutos de voo, a formação de seis helicópteros dividiu-se, três largaram os atacantes nas moranças a norte, enquanto os outros três foram lançados nas moranças mais a Sul. A operação durou cerca de três horas e meia, perdeu a vida o soldado António Alves Maria da Silva. O PAIGC teve baixas, fizeram-se oito prisioneiros, foram destruídos meios de abastecimento. Seguidamente Manuel Catarino descreve o aparecimento dos Comandos na Guiné, dá-nos uma tábua cronológica do país e a guerra do ano 1962, e entra-se na reedição da Operação Tridente, minuciosamente descrita, é mencionada a Operação Grifo, que decorreu em 28 de abril de 1966 e em que foi morto o capitão Tinoco de Faria que ia à frente de um pelotão de paraquedistas que saiu do aquartelamento de Mejo com a missão de montar emboscadas no corredor de Guilege. Haverá depois a descrição da Operação Ciclone II, que aconteceu no dia 25 de fevereiro de 1968, o Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12 executou uma ação no Cantanhez.

Em vagas sucessivas de helicópteros, os paraquedistas foram lançados nas bolanhas de Cafal e Cafine, e tomaram de assalto as bases do PAIGC depois de combates encarniçados. Os paraquedistas sofreram cinco feridos, três com gravidade, aniquilaram um bi-grupo e aprisionaram 19 homens. O texto sobre a Operação Ciclone II é igualmente detalhado, segue-se depois um texto sobre Spínola na Guiné, os seus primeiros textos enviados para Lisboa dizendo que as tropas portuguesas estavam à beira da derrota, o autor menciona as alterações estratégicas e termina o texto com uma frase mirabolante, contrariando tudo o que disse anteriormente: “A partir de 1970, a situação militar nunca mais deixou de piorar”.

Voltamos agora a uma área específica, o Quitafine, onde o PAIGC implantara metralhadoras antiaéreas de quatro canos – as ZPU-4. Foi num voo de reconhecimento sobre este ponto do Cantanhez que se descobriu este potencial antiaéreo e logo foi dada a missão ao Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12 para destruir o ninho de metralhadoras antiaéreas – a Operação Vulcano. Tudo começou na tarde de 7 de março de 1969, duas companhias de paraquedistas prepararam-se para atacar as posições do PAIGC em Cassebeche. Os grupos do PAIGC deram resistência e forçaram à retirada dos paras, estes tiveram que abandonar o local, depois de combater denodadamente. Mais tarde, a Força Aérea Portuguesa pulverizou estes ninhos de metralhadoras antiaéreas.

No termo deste n.º 2 de "As Grandes Operações da Guerra Colonial", faz-se uma síntese dos acontecimentos da guerra na Guiné, o desempenho de Spínola, é referida a máquina de propaganda que o cercava, fala-se na tentativa de reviravolta logo em 1968, o esforço de Spínola para negociar com Senghor e a recusa de Caetano e o papel desempenhado pelo livro que abalou o regime, "Portugal e o Futuro".

Militares num dos rios da Guiné no decurso de uma operação. Imagem extraída do blogue Capeia Arraiana, com a devida vénia
Lanchas de fiscalização "Daneb" e "Canópus" em proteção ao desembarque na ilha de Como. Imagem do livro AFONSO, Aniceto; GOMES, Carlos de Matos Gomes. Guerra Colonial. Edição: Editorial Notícias, abril de 2000
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Nota do editor

Último post da série de 1 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24608: Notas de leitura (1611): "Cabo Verde, Abolição da Escravatura, Subsídios Para o Estudo", por João Lopes Filho; Spleen Edições, 2006 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24617: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (9): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) - Parte V: o porto fluvial de Bambadinca, uma das portas de entrada no Leste, a par do porto fluvial do Xime


Foto nº 22 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bambadinca: porto fluvial... Entardecer. O Jaime Machado, de perfil.

Fotos nº 23 e 23A > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bambadinca: porto fluvial... Até aqui chegavam os "barcos turras", ou sejam, as embarcações  de cabotagem das casas comerciais (Casa Gouveia, Ultramarina, e outras) que traziam e levavam pessoas, produtos agrícolas, etc., mas també,m material de e para a tropa...(a partir de 1972, muitos deles ao serviço da Companhia Terminal)


Fotos nº 24 e 24A > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bambadinca: porto fluvial... Cais acostável, na margem esquerda do rio Geba Estreito



Fotos º 25 e 25A > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >. Cais acostável: foto anterior a novembro de 1969, quando a velha autogrua Fuchs foi substituída por uma autogrua Galion, mais potente.

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Continuação da publicação de uma seleção das melhores fotos  do álbum do nosso camarada Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) (*), que vive na Senhora da Hora, Matosinhos [foto atual à direita], e foi contemporâneo de alguns membros da Tabanca Grande,,, I nosso editor LG, por exemplo,  ainda esteve com ele, desde julho de 1969 a fevereiro de 1970... 
 

Estas fotos são já da época do comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadeinca, 1968/70).

E mais: são fotos anteriores a novembro de 1969... Já aqui recordámos que, a partir de 24 de novembro de 1969, a administração do porto de Bambadinca passou a dispor dum autogrua mais potente, a Galion, que veio substituir a autogrua Fuchs (que se sê nas fotos nº 21 e 25).

Na história do BCAÇ 2852, lê-se que no dia 25/11/1969, o 2º comandante do BENG 447 visitou a sede do batalhão, visita essa que só pode estar relacionada com a entrega da autogrua Galion, permitindo melhorar as operações de carga e descarga no estratégico porto fluvial de Bambadinca.

autogrua Galion veio de LDG de Bissau até ao Xime (agora com um novo cais de acesso, a partir de outubro de 1969, se não erro) e depois foi escoltada pela CCAÇ 12 até a Bambadinca, numa viagem cheia de peripécias que nos obrigou a dormir no mato, devido a um enorme atascanço a meio do troço (ainda não havia estrada alcatroada!)...

Nessa dia, 24 de novembro de 1969, o nosso querido camarada e amigo Tony Levzinho celebrava as suas 22 primaveras com a companhia infernal da mosquitada,

Xime e Bambadinca "alimentavam o ventre do leste"... Por aqui passaram milhares e milhares de homens, e grandes quantidades mantimentos, munições, viaturas, peças de artilharia e outro material de guerra. 


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > novembro de 1973 > A grua móvel hidráulica Galion 125... Podia levantar cerca de 12,5 toneladas. Era construida pela famosa empresa norte-americana Galion Iron Works and Manufacturing Company, fundada em 1907, no Ohio, EUA.

Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Notas do editor:

Último poste da série > 2 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24609: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (8): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) - Parte IV: a morte à saída da Missão do Sono em Bambadinca, na madrugada do dia 1 de janeiro de 1970

Guiné 61/74 - P24616: Parabéns a você (2202): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490 (Mansoa, Bafatá e Jumbembém, 1963/65) e José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24613: Parabéns a você (2201): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro, ex-Fur Mil PE (EPC, 1983/84)

domingo, 3 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24615: "O menino que abria rãs", texto de Eva Cruz, irmã do nosso camarada Adão Cruz


1. Texto de autoria de Eva Cruz, irmã do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68):

O MENINO QUE ABRIA RÃS

Vou lá abaixo ver o giro da água. Aproveito para olhar as últimas rosas à beira do canastro. Se tirar as velhas, ainda nascem novas. São rosas de muitas cores, plantadas há anos por mãos que perfumam a memória. Ao passar pelo tanque pequeno, dou com os olhos numa rã, da cor de musgo verde salpicado de pintas pretas, tão bem desenhadas que parecia obra de artista. Descansava à superfície da água sobre uma folha seca, como se andasse de jangada. Logo me veio à memória aquele menino que abria rãs, engendrava canalizações com os pés das folhas de abóbora que são ocos, fazia bolas de trapos, gaitas de palha centeia, jogava ao pião, corria tudo de arco e guincheta, construía uma camioneta de pau com travões e barquinhos de papel ou veleiros de cortiça. Caçava melros e pardais com caniçadas, que alojava temporariamente em gaiolas, pois não gostava de lhes roubar a liberdade. Não tinha medo dos bichos, incluindo cobras e lagartos, que dizia serem seus irmãos naturais. Já mais graúdo, o rio era a sua atracção ao fim da tarde, o que que lhe valeu algumas vergastadas nas pernas pelas mãos de nossa mãe. Tinha um pombal com pombos-correio e gabava-se de ter uma pombinha que ganhara um segundo prémio numa largada em Madrid.

Mas foi o facto de o ver há dias, entusiasmado, à volta da rã sarapintada que ali apareceu ninguém sabe como, procurando fotografá-la, que me trouxe à memória o menino cirurgião que abria rãs. Quando éramos crianças, havia muitas no tanque grande ou no rego lodoso da beira do campo do meio. Já rapaz, agarrava uma rã, anestesiava-a, colocando uma bolinha de algodão embebida em éter sobre a cabecita, estendia-a numa tábua de barriga para cima, fixava-lhe as patas com alfinetes e, com toda a habilidade cirúrgica, abria a pele do bichinho de alto a baixo, com a ponta bem afiada de um canivete e uma tesoura pequenina. Chamava-nos então, para que víssemos as suas entranhas e o coraçãozito a bater, do tamanho de uma semente de romã. De seguida, munido de uma pinça e de uma agulha de costura, suturava-lhe cuidadosamente a pele da barriga e esperava que ela acordasse. Mantinha-a alguns momentos no recobro e voltava a pô-la na água com todo o jeitinho. Estupefactos, sentíamos todos uma grande alegria ao vê-la nadar, como se nada tivesse acontecido.

Foi talvez aqui… que começou a aprender a olhar tão bem o coração dos homens.

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Nota do editor

Último post de Adão Cruz de 20 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24570: (In)citações (258): Reflexão extemporânea entre dois copos (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P24614: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (3): Bolama, lugar de passagem


Foto nº 1 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Abril de 73 > Piscina, da esquerda para a direita; Soutelinho, Costa, Cruz, Paraty e  Gica.

Foto nº 2 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Abril de 73 > Da esquerda para a direita: Oliveira, Victor, Gatões (†),  Victor Domingues, Peixoto (†), Cruz, Reis (†),  Costa (†), Carvalho. (Legenda: † já não estão entre nós)


Foto nº 3 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Abril de 73 > Piscina, o fur mil Cruz


António Alves da Cruz, ex-fur mil, 
1ª C/BCAÇ 45113/72 (Buba, 1973/74)

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz. Estamos a seguir a ordem cronológica da comissão de serviço na Guiné. Partida do BCaç 4513/72:  Embarque em 16Mar73; desembarque em 22Mar73 .

Após realização da IAO, de 26Mar73 a 22Abr73, no CIM, em Bolama, seguiu, em 27 Abr73, o BCAÇ 4513/72, para o sector de Aldeia Formosa, com as suas subunidades, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCaç 3852.

A 1ª Comp, após o treino operacional no subsector de Buba com a CCaç 3398, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar a actividade daquela subunidade no esforço realizado de contrapenetração no referido subsector e depois integrada no seu batalhão, na função de intervenção que lhe foi atribuída, tendo-se instalado, a partir de 17Mai73, em Mampatá. ___________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...

Guiné 61/74 - P24613: Parabéns a você (2201): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro, ex-Fur Mil PE (EPC, 1983/84)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24606: Parabéns a você (2200): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 1419/BCAÇ 1857 (Bissorâ e Mansabá, 1965/67)

sábado, 2 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24612: Convívios (970): XX Encontro do pessoal do HM 241 de Bissau, dia 7 de Outubro de 2022, em Espinho (Manuel Freitas)

C O N V Í V I O S

1. O nosso camarada Manuel Freitas (ex-1.º Cabo Escriturário do HM 241, Bissau, 1968/70), dá notícia do 20.º Encontro do Pessoal daquela Unidade de Saúde, no dia 7 de Outubro, em Espinho.

Boa tarde
Pedia o favor de anunciar o 20.º Encontro do pessoal do HM 241 - Guiné.
Será no dia 7 de Outubro em Espinho.

Contacto 964 498 832 - Freitas

Obrigado
Cumprimentos,
manuel freitas | manuel.freitas@equicontas.com

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Nota do editor

Último post da série de 17 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24559: Convívios (969): CCAÇ 3398 (Buba, 1971/73): Cinquentenário do regresso (1 set 1973): Freiriz, Vila Verde, a "terra dos lencinhos dos namorados", 2 de setembro de 2023 (José da Silva Lourenço / Joaquim Pinto Carvalho)

Guiné 61/74 - P24611: Os nossos seres, saberes e lazeres (588): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (118): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
Não se viaja impunemente até à Antuérpia, a expectativa era enorme, ir conhecer o resultado de 11 anos de obras no interior do Museu Real de Belas-Artes, não vinha aqui desde 1991, saio daqui profundamente agradado, uma inteligente requalificação, espaços amplos, a despeito da manutenção de lugares marcados pelo classicismo do início do século XIX, lindamente restaurados. Despeço-me percorrendo uma área onde coabitam tesouros artísticos do século XV ao nosso tempo. Faço votos para regressar daqui a alguns anos, acontece até que, por falta de transportes públicos, vou agora em marcha forçada percorrer uns quilómetros até à gare rodoviária. Guardei uma imagens que vos vou mostrar. Amanhã o dia será passado em Namur, uma amiga prometeu-me um programa diversificado entre a arte e a natureza, e regresso a Bruxelas feliz e contente, ainda por cima tenho agendada mais uma visita à Feira da Ladra, nesta altura nem posso imaginar que vou comprar, no meio de enorme quinquilharia, um prato na porcelana de Meissen.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (118):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (9)

Mário Beja Santos

Despeço-me a custo do Museu Real de Belas-Artes de Antuérpia, a idade não perdoa, há horas a fio que ando para aqui a flanar, ainda com ingenuidade de que a memória consegue absorver todas estas amostras do génio humano. Em jeito de despedida, fujo às secções temáticas, ao tardo-gótico, aos primitivos flamengos, à arte espanhola, deixo os séculos XVII e XVIII em paz e atiro-me com a última energia ao que ainda me é possível lavar a alma entre o impressionismo e a contemporaneidade. Bem gostaria de ir pontuando obra de arte por obra de arte, só servia para entediar o leitor, a ver se reservo a grande salva de artilharia para um incontestável santo do meu culto, René Magritte. Vamos ao desfile, acabo por descobrir que entrei numa sala de exposição com tesouros dos vários séculos, assim seja, já não volto atrás.

Autorretrato, por Rik Wouters.
É para mim um mistério como este desafortunado pintor (morreu com 34 anos e deixou um legado impressionante de centenas de obras) é praticamente desconhecido fora do seu país. É excelente em tudo o que lhe saiu das mãos, a escultura, a pintura, o desenho, um fauvista incondicional a cuja arte plástica tão personalizada me sinto rendido desde que ponho os pés na Bélgica. E quando permaneço em Watermael-Boitsfort há sempre uma visita obrigatória, contemplar uma escultura sua no centro da povoação.

Já aqui mostrei algumas imagens das transformações no interior do Museu de Antuérpia, o arquiteto criou espaços amplamente desafogados, conectados, uma atrativa forma de expor, permitindo que se faça uma circunavegação sem molestar quem queira estar a contemplar, confortavelmente sentado.
Tive a sorte de visitar em Bruges, no ano de 1994, a grande retrospetiva de Hans Memling, alusiva aos cinco séculos da sua morte. Até o quadro dele que pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga lá foi parar. O génio deste flamengo mede-se pela intensidade dramática (veja-se a cena clássica da morte de Cristo, o desfalecimento da Virgem), os panejamentos, uma muito peculiar ocupação dos espaços, neste caso do tríptico uma disseminação das figuras em que a espiritualidade é também dada pelos anjos que assistem ao momento dramático da morte de Cristo e assegura uma visibilidade não só à arquitetura da época como aos usos da indumentária. Tudo somado, um pintor à parte, daqueles a quem é possível rapidamente identificar a obra pictórica e dizer instantaneamente: é Memling!
Deus Pai com Cantores e Músicos feitos Anjos, Hans Memling. Peças do altar-mor de uma igreja de um mosteiro em Espanha.
Pormenor do retábulo mencionado acima.
Escultura de Panamarenko, Chisto 1
Hans Memling, retrato de Bernardo Bembo, Homem de Estado e Embaixador de Veneza
Retrato de Pieter Gillis, por Quinten Massys
Madame Récamier, por René Magritte
Uma das muitíssimas versões de René Magritte sobre O Império das Luzes

Não escondo o meu assombro, curvo-me perante a ousadia museográfica, colocar uma escultura de Magritte num espaço de classicismo. A pintura de Magritte baseia-se em jogos conceptuais que nos desconcertam, é uma pintura com uma intensa carga metafórica. Tenho para mim que é o mais original dos génios do surrealismo nas artes plásticas. Já consagrado, e respondendo a encomendas de peso, como a pintura do Teatro Real das Galerias de Bruxelas, alvo de uma retrospetiva em Nova Iorque que culminou numa grande procura dos seus quadros, hoje espalhados por coleções públicas e particulares, nunca deixou o ateliê e as experiências, daí podermos distinguir as diferentes dimensões do seu génio, falando de objetos deslocados, metamorfoseados, em conflitualidade, até mesmo a sua obsessão por variações sobre o mesmo tema, caso do conjunto de pinturas que fez intituladas O Império das Luzes, o que nestas obras se vê é simplesmente uma casa ou um grupo de edifícios entre a folhagem, iluminados pela luz elétrica que irradia das janelas, assim como pela de um ou mais candeeiros. O insólito é que o céu que cobre a cena é de um azul absolutamente diurno, sulcado por nuvens brancas e algodoadas. A coerência da cena é tal que a incompatibilidade do céu com a noite em que se destaca a luz elétrica só se nota após um exame atento do espectador.
Pieter Bruegel, A Dança do Casamento
Obra do artista Christophe Coppens
O jovem imperador Carlos V, por Jan van Beers
Léon Frédéric, Duas Raparigas Camponesas da Valónia
Paisagem com rapariga a saltar à corda, Salvador Dali
Julguei que me ia despedir desta casa que acolhe um acervo de obras plásticas do maior valor andando a cirandar talvez entre o fauvismo e o abstracionismo em moldes atuais; enganei-me na sala, e ainda bem, acabei por rever grandes mestres do século XV, reencontrei Magritte e Dali, saio daqui de papo cheio, agora é só atravessar Antuérpia, ruminar nas coisas belas que vi e sonhar com o dia de amanhã, porventura em Namur, há lá uma amiga que me promete um passei de arromba.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 26 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24590: Os nossos seres, saberes e lazeres (587): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (117): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (8) (Mário Beja Santos)