segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25215: As nossas geografias emocionais (22): O antigo Hospital Militar Principal (HMP), Lisboa, Estrela


Fachada do Hospital Militar Principal,  Lisboa, â Estrela, s/d .  



Hospital Militar Principal de Lisboa 
(Igreja e antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela)


Fonte: Adapt de Município de Lisboa


1. Quantos de nós passaram por aqui, pelo HMP, que não se resumia a este antigo edif´ciio conventual ?  Do complexo hospitalar da Estrela, fazai ainda parte o Anexo de Campolide... Algns andaram pelo HMP , em tratamento, recuperação e convalescença, um, dois ou até mais anos...  

Importa então relembrar a história do antigo Hospital Militar Principal (HMP) (que encerrou definitivamente em 2013) (*)... 

O edifício  (qeu vemos na foto) começou por ser,   originalmente,  um convento beneditino, fundado em 1572 e dedicado a Nª Sra. da Estrela. 

Em 1615, muito próximo deste, é fundado o Mosteiro de S. Bento da Saúde (no sítio onde é hoje o Palácio de São Bento) (**) . O primitivo convento da Estrela será, entretbato, transformado em colégio e casa de estudo da Ordem.

Em 1624 construiu-se no Convento das Janela Verdes, o Hospital Real Militar da Corte, mais tarde transferido para o colégio de Nossa Senhora da Estrela, passando a designar-se por Hospital Militar de Lisboa.

Com a Restauração e a guerra peninsular, a partir de 1640, desenvolve.se o Serviço de Saúde Militar e criam-se Hospitais de Guarnição.

O edifício da Estrela, tal como outras construções da cidade, fortemente abalado pelo terramoto de 1 de novemvro de 1755. Anos depois, em 1797, passa para as mãos do Estado, acolhendo um hospital militar que será utilizado por tropas auxiliares britânicas (ma também pelas tropas de Junot).

Em 1836, por parecer da 
Comissão de Saúde Militar, o  Hospital Militar Permanente instala-se definitivamente no edifício da Estrela.

Com a evolução dos tempos o Hospital foi alargando as suas instalações e em 1898 anexou-se a ala que dá para a Rua de S. Bernardo, para no ano seguinte alguns dos seus serviços serem instalados na "cerca" do Convento do Sagrado Coração de Jesus (Basílica da Estrela).

Em 1926, passa a designar-se Hospital Militar Principal. No ano seguinte, na "cerca",nas traseiras da Basílica da Estrela, será instalada a Escola do Serviço de Saúde Militar (ESSM)-

Posteriormente, com a abertura da Avenida Infante Santo, em 1950, ficou a referida "cerca" dividida ao meio: os pavilhões de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e o Laboratório de Análises Clínicas vão ficar no lado nascente (lado esquerdo da Infante Santo, quando se desce); o Bloco Operatório e o Pavilhão da Família Militar, construído na década de 1940, situam-se no lado poente (lado direito da Infante Santo, no sentido descendente) (***)

Sem entrar em detalhes, sobre a sua estrutura física e orgânica, que se foi alargando ao longo do tempo, o HMP (constituído por diversas áreas e diversos edificios, e com graves problemas de circulação "intra-hospitalar") vai ter um papel importante durante a guerra de África (1961/75). 
Faz parte das "geografias emocionais" de alguns de nós (****).

Em 1961, o Aquartelamento de Campolide deixou de ser ocupado pelo Regimento de Artilharia n.º 1, sendo aí instalado o Centro Ambulatório de Doentes e Convalescentes, anexo do HMP (conhecido como o Anexo de Campolide), face ao grande número de evacuados do Ultramar.

Em 18 de Outubro de 1973 foi inaugurado a Casa de Saúde da Família Militar, localizada na "cerca" do hospital, com 12 pisos.

Em 1991 procedeu-se à concentração hospitalar dos três corpos de edifícios dispostos em volta do Largo da Estrela, de forma a permitir a alienação do referido Anexo de Campolide que se tornou desnecessário.

Durante a década de 90 o Hospital responde aos desafios da medicina moderna efectuando obras e melhoramentos em diversas áreas. O Hospital Militar de Belém como hospital complementar, integra os seus serviços clínicos no funcionamento hospitalar global.

Em 2009, avançava-se com um projeto para a criação de um Hospital Único das Forças Armadas. Porém, o Hospital Militar da Estrela acabaria por fechar em 2013. O seu destino ficou incerto. 

Anos depois, em 2022, o antigo convento e depois hspital militar, adjacente ao Jardim da Estreka, reabriu portas como espaço cultural, com o nome “House of Neverless” , prometendo eventos, workshops e formações. Tem dois pisos dedicados ao teatro e um terceiro para a academia. 
 
Fontes: 
Adaptado de página do Exército > Hospital Militar Principal > Historial

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25210: Os nossos seres, saberes e lazeres (616): Visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa (Hélder Valério de Sousa)

(**)  Mosteiro de São da Saúde de Lisboa > Historial 

(...) O Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa era masculino, e pertencia à Ordem e Congregação de São Bento.

Também designado por Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa, Mosteiro de São Bento de Lisboa, Mosteiro de São Bento o Velho.

Em 1581, os monges beneditinos que estavam instalados no Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela de Lisboa, decidiram construir um novo edifício, na quinta da Saúde, também em Lisboa.

Em 1598, foram iniciadas as obras, pelo Geral da Ordem Beneditina, frei Baltazar de Braga, segundo o projecto do arquitecto Baltazar Álvares.

Em 1615, a 8 de Novembro, a comunidade transferiu-se para a quinta da Saúde. A invocação do Mosteiro teve a sua origem nesta nova residência, o qual viria a ser designado por São Bento de Lisboa ou por São Bento da Saúde de Lisboa.

A partir de 1755, os monges foram obrigados a ceder uma parte das suas instalações para vários fins. De 1755 a 1856, e de 1769 a 1772, foi sede da Patriarcal de Lisboa. Em 1757, e nos anos seguintes, serviu de instalação à Academia Militar. Em 1796 e 1798, serviu de prisão de pessoas notáveis. Entre 1797 e 1801, serviu de instalação ao Batalhão de Gomes Freire de Andrade. Entre 1756 e 1990, acolheu o Arquivo da Torre do Tombo.

Em 1822, os monges tiveram de abandonar o mosteiro, indo para o Mosteiro de São Martinho de Tibães de onde regressaram em 1823.

Em 1833, abandonaram o edifício definitivamente quando este foi cedido para local de reunião das Cortes Constituintes.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.

Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.

Localização / freguesia: Lapa (Lisboa, Lisboa) (...)


(***) Vd. artigo "Alterações na estrtutura do Hospital Militar Principal", do major Rui Manuel Pereira Fialho, publicado na Revista Militar N.º 2566 - Novembro de 2015, pp 909 - 918. (Disponível aqui em pdf: https://www.revistamilitar.pt/artigopdf/1064)

Guiné 61/74 - P25214: Efemérides (430): O "making of" do livro de Spínola, "Portugal e o Futuro", publicado há 50 anos (revelações do biógrafo, Luís Nuno Rodrigues)


Luís Nuno Rodrigues - "Spínola:Biografia".
Lisboa. A Esfera do Livro, 2010,  748 pp.. il.

 1. O biógrafo de Spínola, o académico Luís Nuno Rodrigues, tem algumas revelações interessantes sobre as peripécias da publicação do livro "Portugal e o Futuro" (pp. 211-221),  mas também sublinha e analisa o seu impacto na época (pp. 221-243).

Para os nossos leitores, que não leram (por falta de tempo, interesse, oportunidade, etc.) a volumosa biografia de Spínola, de 748  pp.,  aqui ficam algumas "notas de leitura" (tópicos, apontamentos, pequenos excertos)... 

Refira-se que a obra foi objeto de recensão bibliográfica por parte do nosso camarada Mário Beja Santos, que no entanto dedica apenas uma ou duas linhas ao livro "Portugal e o Futuro" (*).


Retomei há dias a leitura deste notável trabalho, esquecido na prateleira. O exemplar que possuo, tem a seguinte amável dedicatória:

"Ao Luís Graça, com estima e consideração do Luís Nuno Rodrigues. Lx, 2 de abril de 2010."


2. Sobre o biógrafo convirá dizer, resumidamente, o seguinte:

Luís Nuno Rodrigues:

(i) Professor Catedrático do Departamento de História do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa;

(ii) Diretor do Centro de Estudos Internacionais (CEI-Iscte) e do Mestrado e Doutoramento em Estudos Internacionais, na mesma instituição;

(iii) Doutorado em História Americana pela Universidade do Wisconsin e em História Moderna e Contemporânea (especialidade História das Relações Internacionais na Época Contemporânea) pelo ISCTE-IUL.

Além disso, (iv) é autor de 9 livros e coordenador de outros 8, tendo publicado 55 capítulos de livros ou entradas em obras coletivas e mais de 30 artigos em revistas especializadas;

(v) A sua obra "Kennedy-Salazar: A Crise de Uma Aliança. As Relações Luso-Americanas entre 1961 e 1963", publicada em 2002, foi galardoada com os Prémios Fundação Mário Soares e Aristides Sousa Mendes;

(vi) Entre outras publicações, conta-se este livro, "Spínola", publicado pela Esfera dos Livros em 2010.



António de Spínola - "Portugal e o Futuro".

Lisboa: Arcádia, 1974, 243 pp.



3. O "making of" do livro "Portugal e o Futuro" (pp. 211/222):

O biógrafo aponta para meados de 1971 a ideia de Spínola começar a escrever um livro que fosse um contraponto às "teses integracionistas" (relativamente ao império colonial português), defendidas por Franco Nogueira (1918-1993), diplomata e antigo ministro Ministo dos Negócios Estrangeiros, no último governo de Salzar ("As Crises e os Homens", Lisboa: Ática, 1971, 545 pp.).

Uma parte significtiva das ideias que Spínola irá defender em "Portugal e o Futuro", incluindo a sua "tese federalista",  já estaria contida num documento enviado a Marcelo Caetano, em 1970 ("Algumas Ideias sobre a Estruturação Política da Nação") (pág. 212).

(...) "Nos últimos meses de 1971 e ao longo de 1971, Spínola escreveu vários capítulos, recebeu textos escritos por colaboradores seus e oficiais que mais de perto com ele trabalhavam, aperfeiçoou  textos em revisões constantes e com múltiplas colaborações" (pág. 212).

O seu novo chefe de gabinete, José Blanoco (que sucedeu a Nunes Barata), recebeu das mãos do general um primeiro texto, datilografado a dois espaços, com centena e meia de páginas. Instado a ler e a comentar, ter-se-á limitado a exclamar: "Isto é uma bomba".

O texto continuaou a ser trabalhado ao longo de 1972, usando Spínola um gravador para onde ditava  as suas emendas, notas, comentários e acrescentos.

Em julho de 1972 escreveria a vários dos seus amigos, em Lisboa, manifestando a sua intenção de publicar um livro, ainda em título: caso dos general Venâncio Deslandes (1909-1985) e  do ministro da Marinha, Manuel Pereira Crespo (1911-1980). Este terá pedido ao amigo,  "encarecidamente",  que nada publicasse sem primeiro falar com ele... O que ele concordou,  acrescntando que  também iria submeter o livro "à prévia leitura do presidente do Conselho" (pág. 213).

Foi nas férias de verão, no Luso, em 1973,  que ficou cncluída a versáo final. O "fiel sargento Gonçalves", de Cavalaria, bateu o texto à máquina.  Francisco Spínola, o irmão do autor, encarregou-se da revisão do texto, e coube a José Blanco, que veio de propósito da Guiné, propor um ou mais títulos. Da lista de doze títulos, Spínola escolheria o último, "Portugal e o  Futuro" (pág. 214).

Depois começaram os contactos com o editor. O contrato com a editora Arcádia  foi assinado em outubro de 1973. Paradela de Abreu ofereceu um aval, do Banco Totta & Açores, para garantir  os direitos de 20% dos  direitos sobre cinquenta mil exemplares da 1ª edição.

O general encarregou-se de  garantir o fornecimento de papel necessário para a publicação do livro, no que contou com a colaboração do António Champallimaud (para o qual Spínola havia trabalhado em tempos, na Siderurgia).

O livro começou a ser composto em várias tipografias (!)... Spínola insistia com o editor que  a data de publicação "poderia ser de um momento para o outro" (sic)... Por outro lado, a ideia era garantir que, caso viesse a ser proibido, fosse possível salvar a maior parte dos exemplares, e depois vendè-los clandestinamente (pág. 215).

Houve cinco revisões finais do livro feitas pelo punho do autor. Nas pp. 215/221, o biógafo faz uma sinopse do livro, que retomaremos mais tarde. (**)

Fiquemos, entretanto, com este excerto do texto que dá início ao cap. 4 ("O Futuro de Portugal"):

(...) "A saída de António Spínola da Guiné representava o fim de uma era, não apenas da política portuguesa naquele território mas, também, do modo português de conduzir as guerras em África. Durante um breve momento, no início dos anos 1970, as Forças Amadas portuguesas tinham conseguido dar 'credibilidade a Portugal em todos os teatros de guerra', conseguindo criar uma janela de oportunidade, um 'compasso de espera', que permitia a condução de negociações sobre o problema colonial português. Na Guiné, esta situação era particularmente visível." (...) (pág. 199),


Citando John Cann, Spínola na Guiné conseguira refrear, em 1970,  o ímpeto do PAIGC e originar um verdadeiro "impasse", com  a sua liderança forte e carismática e o seu programa "Por Uma Guiné Melhor". Mas a correlação de forças começa a desequilibrar-se em 1973. Em Angola , os generais Costa Gomes e Bettencourt Rodrigues tinham obtido praticamente uma "vitória militar". E em Moçambique foi só depois de 1970 que a situação se começou a deteriorar...

Quando regressa definitivamente à Metrópole, Spínola trazia imenso prestígio político e militar, a nível nacional e internacional. Era um general que tinha ganho batalhas. Tinha mostrado, além disso, que havia "soluções políticas" para o impasse da guerrs, tendo encetado negociações com o PAIGC e o Senegal, que Lisboa iria desautorizar. Quando regressa, o governo de Marcello Caterno está prisioneiro da extrema direita do regime, completamente desfasado da realidade e sem qualquer visão estratégica. Tem dificuldade em arranjar um general que fosse capaz de suceder a Spínola. Com relutância, Bettencourt Rodrigues aceita... es tá preparado para "sacrificar" a minúscula Guiné para salvar as joias da coroa do Império (Angola e Moçambique)... Por isso, "Portugal e o Futuro" é uma bomba de relógio que veio apressar a agonia de um regime.

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

12 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15738: Notas de leitura (807): “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010 (1) (Mário Beja Santos)

15 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15752: Notas de leitura (808): “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010 (2) (Mário Beja Santos)

(**) Útimo poste da série > 23 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25203: Efemérides (429): Foi há 50 anos, em 22/2/1974, que saiu o livro de Spínola, Portugal e o Futuro um livro que se tornou um "best-seller", que toda a gente comprou e que poucos leram e entenderam, mas que abalou um regime...

Guiné 61/74 - P25213: Parabéns a você (2249): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo MMA da Força Aérea Portuguesa (1979/82)

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Nota do editor

Último post da série de 23 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25202: Parabéns a você (2248): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Especiais da CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25212: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (6): "A Laidinha"


A LAIDINHA

adão cruz


A Laidinha veio ao mundo nos arredores de Paris, filha de emigrantes portugueses. Nasceu sem vislumbre de futuro, como toda a gente. Mas, na sua cabecita, o futuro foi-se acoitando, calmo e decidido. Seria cabeleireira.

Por volta dos vinte anos, já os cabelos se enrolavam e desenrolavam habilmente nos seus dedos. Arranjou um namorico com guita, que tinha um Porsche. Não dava uma para a caixa, mas roncava de Porsche de manhã à noite. Só queria marmelada, mas a Laidinha virou a tigela e deu um pontapé na marmelada. Nunca mais se encostou a um homem. A mãe até dizia que ela parecia que nem tinha vontades de mulher.

Um dia… apaixonou-se por um velho. Um velho a quem cortava o cabelo e arranjava as unhas. Um senhor. Não era feio, era muito simpático, professor de astronomia, não tinha família e contava coisas muito bonitas! Falava-lhe de tudo aquilo que ela não sabia e nunca sonhara: poesia, arte, música, coisas do Universo.

Um dia, levada por um impulso das entranhas, espetou-lhe um beijo na testa. Outro dia, depôs-lhe docemente um beijo nos lábios. Viveram juntos durante dez anos. Dez anos de felicidade.

O velho morreu. A casa, o telescópio, a biblioteca e uma pequena fortuna ficaram para a Laidinha.

Um dia, a Laidinha resolveu vir a Portugal visitar a terra natal dos pais. Ela adorava o mar e ficou por cá. Comprou uma casa, mandou vir os livros e o telescópio. Escreveu um livro de poemas e pintou uma dezena de quadros.

Depois de uma penosa gravidez teve uma filha, ninguém sabe de quem. Um dia escarrou sangue. O cardiologista diagnosticou uma estenose mitral severa. Foi operada e depois reoperada.

Dois anos depois morreu com cancro da mama e sem ponta de cabelo onde enrolar a saudade dos seus dedos. Tinha quarenta e dois anos e chamava-se Adelaide.

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Nota do editor

Último post da série de 18 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25184: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (5): "A Maria nunca mais apareceu"

Guiné 61/74 - P25211: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (106): Apresentação da Base de Dados Externa de apoio ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (Abílio Magro / Carlos Vinhal)



APRESENTAÇÃO DA BASE DE DADOS EXTERNA DE APOIO AO BLOGUE
LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ (LG&CG)
E
PROGRAMA INFORMÁTICO DE PESQUISAS DIVERSAS

APRESENTAÇÃO


O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné atingiu uma dimensão tal que levou o nosso Amigo & Camarada Abílio Magro, com alguns conhecimentos de programação informática (php), autodidata e completamente amador, a ceder um espaço da sua hospedagem num servidor onde criou uma Base de Dados Externa de Apoio ao Blogue.

Este post tem por missão apresentar e incentivar os leitores do Blogue LG&CG a navegar na Base de Dados Externa, desenvolvida pelo nosso camarada e amigo.

São estas as páginas que vão encontrar no programa, com acesso pela barra de menu, presente em todas elas (topo e rodapé):

1 - HOME (Introdução)
2 - PÁGINA PRINCIPAL (listagens de marcadores por tipo);
3 - PÁGINA DOS ÓBITOS DE MILITARES NO T.O. DA GUINÉ
4 - PÁGINA DE PESQUISAS DE ÓBITOS NAS VÁRIAS TABELAS DE DADOS
5 - PESQUISAS DE ÓBITOS POR UNIDADE MILITAR
6 - PESQUISAS DE ÓBITOS POR DATA DA OCORRÊNCIA
7 – INSTRUÇÕES

Na HOME PAGE - Página de introdução ao programa informático de pesquisas na Base de Dados Externa do Blogue “LG&CG”, existe, na coluna do centro, uma breve descrição das várias pesquisas proporcionadas aos visitantes e que constam, resumidamente, de listas de marcadores ordenados por tipos e alfabeticamente e listas de óbitos no T.O. da Guiné, organizadas de modo a permitir pesquisas por nome, por concelho de nascimento, por unidade militar e por data da ocorrência.

O acesso ao programa pode ser efectuado através de 'clique' nas fotos da aba esquerda deste blogue que fazem referência a este assunto, ou através do endereço: https://www.amagro.net/LG&CG.

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Esperamos que desfrutem da informação constante nesta Base de Dados, que permite uma pesquisa mais rápida dos conteúdos. O Blogger não é prático, o que leva muitas vezes até os próprios editores a recorrerem a buscas no Google.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último post da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25152: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (105): Na Morte do Coronel Nuno Rubim (Alfredo Pinheiro Marques / Centro de Estudos do Mar)

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25210: Os nossos seres, saberes e lazeres (616): Visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa (Hélder Valério de Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF  (Piche e Bissau, 1970/72), com data de 23 de Fevereiro de 2024:

Caros amigos
No passado dia 16 deste mês de Fevereiro, integrei uma visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa.
Essa Linha ligará a estação existente do "Rato" à estação ferroviária do Cais do Sodré, sendo que para tal estão em fase adiantada de construção duas novas estações, a da "Estrela" e a de "Santos".
O túnel de ligação entre o Rato e a Estrela já está feito. O túnel da Estrela a Santos também está quase concluído.
A estação de "Santos" terá entrada pela Av. D. Carlos I, situando-se em espaço do Quartel dos Sapadores Bombeiros. A estação da "Estrela" terá entrada pelo Largo da Estrela e ocupa boa parte do espaço do antigo Hospital Militar Principal.
E é precisamente por isso que vos envio estas notas e as fotos, sendo que, embora não seja um assunto "da Guiné", tem muitos pontos de contacto com as vidas de algums, muitos, que por lá passaram.
Quem usufruiu dos préstimos ou prestou serviço nessas instalações poderá rever agora e avivar as suas recordações.
Nas fotos que anexo mostro o túnel que vem do "Rato" até ao poço da estação da "Estrela", bem como o troço que vai dela para a estação de "Santos".
Vê-se também o poço com o edifício ao lado esventrado e com o zimbório da Basílica da Estrela ao fundo.
A outra foto mostra o poço e o edifício ao fundo, o qual não é afetado pela estação mas que virá a ter outro(s) uso(s).
Espero que gostem e sintam que as situações têm as suas evoluções próprias.

Abraços
Hélder Sousa

Edifício Principal do antigo Hospital Militar Principal
Poço da Estação da Estrela
Túnel Estrela-Santos
Túnel Rato-Estrela
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25208: Os nossos seres, saberes e lazeres (615): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25209: Por onde andam os nossos fotógrafos? (21): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte VII: Patrulhando a estrada Buba-Nhala, em construção

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9

Guiné > Região de Quínara > 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  Abril de 1974 > Estrada de Buba - Nhala em construção


Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


António Murta. Vive em Buarcos, 
Figueira da Foz


1. Continuamos a selecionar (e a reeditar) algumas das melhores fotos  do álbum do António Murta, ex-alf mil inf, Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).


Legendas (António Murta):

Foto 1 > O 3.º e o 4.º Grupos de combate da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 transportados em viaturas pela estrada Buba-Nhala, iniciam depois um patrulhamento apeado comandados pelo alf mil Tibério Barros e por mim, respectivamente.

Foto 2 > As viaturas regressam a Nhala. Os grupos prosseguem até se embrenharem na mata, lá mais à frente, para interceptarem o carreiro da guerrilha que cruza aquela zona. Repare-se que a estrada continua por alcatroar, tal como noutros troços, por falta de alcatrão.

Foto 3 > O meu grupo de combate aguarda que se ganhem distâncias para poder avançar. À frente vai o 3.º grupo. Em primeiro plano, de costas, o soldado Frade de Coimbra. Creio que era o único casado do grupo.

Foto 4 > Ainda na estrada, imagem agora colhida da frente da coluna, vendo-se os homens do 3.º grupo de combate.

Foto 5 > Pessoal do 3.ºgrupo, trilhando o carreiro da guerrilha.

Foto 6 > Regresso a Nhala pela velha e saudosa picada. Na imagem, homem da bazuca do 3.º grupo e, em segundo plano e à direita, o Furriel Pastor do meu grupo.

Foto 7 > Ainda do mesmo ponto de vista, em primeiro plano o radiotelegrafista Bento seguido do 1.º cabo maqueiro Baptista Custódio, ambos do meu grupo.

Foto 8 > O meu grupo de combate, quase sem baixas, a gozar o merecido descanso. Nesta imagem faltam os dois furriéis.

Foto 9 > O 3.º grupo de combate também a descansar. O alferes Barros é o do lenço azul e à sua esquerda a olhar para o fotógrafo, o furriel Félix.

Excertos do poste P15504 (**)

(...) Desde o início da construção da estrada Aldeia Formosa-Buba, em outubro de 1973, até quase ao final de maio de 1974, é recorrente na HU do BCAÇ 4513, o seguinte registo: 

“Forças do Batalhão e de reforço continuam a dar segurança aos trabalhos de Engenharia, assim como a executar patrulhamentos para as regiões de fronteira e contra-penetrações nos tradicionais corredores de passagem IN”

A maioria desses patrulhamentos, para as regiões frequentemente vigiadas, não me deixaram grandes memórias. Eram as rotinas. Mas os que fiz por caminhos nunca antes calcorreados, para regiões que me eram indicadas no mapa da sala de operações, pelo contrário, deixavam-me quase sempre memórias indeléveis. Por isso, ainda hoje, sou capaz de os descrever sem necessidade de recorrer a notas escritas. Mesmo que não acontecesse nada de grave, e eu tive quase sempre a sorte de não me acontecer nada, (faço por esquecer o que penámos enquanto Companhia de intervenção nos chãos massacrados de Cumbijã, Nhacobá e arredores), às vezes bastava uma pequena descoberta, deparar-me com um sítio estranho ou uma paisagem desconcertante, e não esquecia mais. (...)

(...) Muito mais fácil e sem tensões, foi um patrulhamento que fizemos em bigrupo, iniciado pela estrada nova em direcção a Buba em viaturas, depois calcorreando um trilho da guerrilha e regressando pela picada Buba-Nhala. Com o meu grupo, o 4.º, saiu o 3.º grupo do alferes Barros. Como tudo correu bem e, no final deste patrulhamento rotineiro, (ou contra-penetração?), podíamos dizer que fora um belo passeio. Refiro isto como pretexto para deixar aqui mais algumas fotografias, até porque não tenho muitos registos fotográficos de saídas em bigrupo. (...)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25190: Por onde andam os nossos fotógrafos? (20): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte VI: O Rio Grande de Buba

(**) Vd. poste de 24 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15404: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (30): Abril de 1974

Guiné 61/74 - P25208: Os nossos seres, saberes e lazeres (615): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Este resplandecente Museu de Évora, altamente requalificado e da melhor museologia, teve como pai fundador Frei Manuel do Cenáculo, era arcebispo de Évora no início do século XIX, o museu ocupa o antigo Paço Episcopal, o que assombra é a boa exposição de toda esta riqueza, hoje falamos do acervo depositado no rés do chão, onde está arqueologia, escultura e heráldica e artes decorativas, de seguida iremos até à pinacoteca, foi visita inolvidável, depois segue-se o Centro Cultural Eugénio de Almeida, outro deslumbramento, em tão curto espaço de centro histórico encontram-se tesouros que fazem desta cidade o lugar de vir, partir e voltar, sempre com o coração em festa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143):
Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3)


Mário Beja Santos

Quando me preparei para visitar Évora ocorreu-me pegar no romance de Vergílio Ferreira, Aparição, no fundo uma memória do tempo em que o grande escritor aqui residiu, relembro uma passagem do livro: “(…) A cidade resplandecia a um sol familiar, branca, enredada de ruínas, de arcos partidos, nichos de orações de outras eras, com como olhares embiocados. Évora mortuária, encruzilhada de raças, ossuário dos séculos e dos sonhos dos homens, como te lembro, como me dóis! (…)”
Estou prantado em frente do Museu Nacional e vou citar Túlio Espanca, figura maior da cultura eborense:
“A constituição do museu da cidade deve-se ao Governo da I República, que o criou em 1915, após vicissitudes da fundação do Museu Arqueológico Cenáculo, devido aos esforços do Dr. Augusto Filipe Simões, que na década de 1870 recolheu neste estabelecimento cultural as peças romanas, visigóticas e árabes que haviam permanecido no andar térreo do Palácio D. Manuel e do Templo de Diana, além das retiradas da Domus Municipalis da Praça do Giraldo e do quintal da casa de Mestre André de Resende. As coleções, do património do Estado, foram-se reunindo no Palácio Amaral e definitivamente no expropriado Paço Metropolitano, edifício típico e austero do tipo filipino onde estão expostas em distribuição científico-museológica: arqueologia pré e proto-histórica, arquitetura, escultura, epigrafia e heráldica, ourivesaria, pintura e artes decorativas.”
É neste antigo Paço Episcopal que temos uma coleção de mais de 20 mil objetos de todos os géneros artísticos, mas há que destacar uma importante coleção de lapidária romana, medieval e renascentista. O destaque vai para a coleção de pintura do séc. XVI, com relevo para o retábulo da Sé de Évora.

Fachada do Museu Nacional de Évora – Frei Manuel do Cenáculo
É um museu modelar, as obras recentes, depois de escavações arqueológicas, permitem ver as ruínas, as coleções provenientes de vários conventos estão magnificamente expostas, veja-se esta soberba entrada ao estilo manuelino e a profusão de objetos de heráldica de primeiríssima qualidade.
Brasão de Armas dos Vasconcelos, mármore, séc. XVI
Brasão de Armas Reais, mármore, 1513
Brasão de Armas da Cidade, mármore, 1513
São notáveis neste museu a estatuária romana, a tumulografia medieval portuguesa, tudo exposto para que o visitante sinta a relação com o espaço e o valor artístico que contempla. Há de tudo um pouco, para além das ruínas romanas, aras votivas, prataria de valor extraordinário, restos de baixelas, azulejos, majólica, esmalte de Limoges, isto no rés do chão, veremos mais adiante a notabilíssima pinacoteca, onde se destacam os 13 painéis com a vida da Virgem, todos de influência flamenga.
Uma expressiva escultura do Pai e do Filho, peça de grande equilíbrio e de expressão sentimental
Santa Catarina, calcário, séc. XVI, sente-se a ingenuidade da obra, basta ver a desmesura das mãos da santa
Anunciação – túmulo de Rui Pires Alfageme, mármore, séc. XV
Um surpreendente claro-escuro dado por uma janela aberta sobre o claustro ensolarado
Eça de Queirós, escultura de António Alberto Nunes, 1899
O Chafariz de Massamá, por Silva Porto
Nossa Senhora do Rosário com São Domingos de Gusmão e Santa Catarina de Sena, 3.º quartel do século XVII
Grão Vasco, 1.º quartel do séc. XVI

Agora vamos visitar a pinacoteca, ver a influência da Escola de Bruges, e pinturas de grandes mestres portugueses, como Gregório Lopes, Garcia Fernandes, Mestre do Sardoal, Josefa de Óbidos, Vieira Lusitano.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 17 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25181: Os nossos seres, saberes e lazeres (614): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (142): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25207: Capas da Ilustração Portugueza - Parte X: A barbárie da guerra... que se tem repetido demasidas vezes na nossa casa comum, que é a Europa e o Mundo...


Legenda: "O carinho com que um soldado inglês socorre um ferido alemão (The Sphere)"

Capa da "Ilustração Portugueza", 2ª série, nº 473, Lisboa, 15 de março de 1915. Preço avulso: 10 centavos. Cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa.


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Guiné 61/74 - P25206: Convívios (979): 54.º almoço-convívio da Tabanca da Linha, levado a efeito no dia 22 de Fevereiro, em Algés... Palmas, isso sim, para o magnífico régulo, o Manuel Resende, que com o seu ar discreto mas sempre com grande eficiência "monta e desmonta este bivaque" - II (e última ) Parte



Foto nº 14 > António Andrade (Oeiras), Daniel Gonçalves (Carcavelos) e Vitor Jesus Carvalho (Linda-a-velha)


Foto nº 15 - Luis Paulino e Adolfo Cruz (Algés), Armando Pires (Carnaxide)


Foto nº 16 > José Carioca (Cascais), Rui Silva e Armando Marques Ramos (Costa Caparica). (O coronel Armando Marques Ramos trouxe alguns exemplares do seu livro acabado de sair, , "Da Ditadura à Democracia - A Minha Estrada...Preso, exilado, estropiado de guerra por amor do meu País", edição de autor, fevereiro de 2024, 320 pp., preço de capa,35 €)


Foto nº 17 > António Figuinha (Seixal) e Carlos A. Pinto (Amadora)





Foto nº 18 > António Maria Silva (Cacém) e Carlos Silvério (Lourinhã)


Magnífica Tabanca da Linha > 54º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 22 de fevereiro de 2024 >


1. Mais umas tantas fotos da exaustiva reportagem fotográfica que o régulo Manuel Resende, que é um verdadeiro homem dos sete instrumentos, faz sempre questão de fazer... 

Tal como na Parte I (*),  contámos com o nosso régulo para nos  ajudar a legendar esta última seleção, aleatória,  de imagens.  Sabemos o nome de alguns camaradas, mas não os de todos, já há largos meses que não frequentávamos a Tabanca da Linha... Um próximo almoço-convívio  poderá realizar-se no próximo dia 14 de março, se houver quórum.

Já agora ficamos a saber que o número de membros da Magnífica Tabanca da Linha já chegou aos 300. 

Fotos: © Manuel Resende (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25205: In Memoriam (498): Maria Júlia Lourenço Alves da Silva († Guifões - 23/02/2024), esposa do nosso camarada Abel Santos. Estará em Câmara Ardente a partir das 11 horas de domingo no Tanatório de Matosinhos e o seu funeral realiza-se na segunda-feira, dia 26, às 11 horas

IN MEMORIAM

Maria Júlia Lourenço Alves da Silva, esposa do nosso camarada Abel Santos


Caros camaradas e amigos
Faleceu há poucas horas a nossa amiga Maria Júlia, esposa do amigo e camarada Abel Santos.

De acordo com os nossos registos, a Maria Júlia esteve presente, acompanhando o Abel, no XI Encontro Nacional da Tabanca Grande em 2016. Enquanto o casal morou em Leça da Palmeira eram frequentes os contactos comigo ou com a Dina, fosse na rua ou em estabelecimentos comerciais, já que éramos vizinhos. Entretanto o casal mudou para Guifões e só quando era a Júlia a atender o telefone se entabulavam as conversas normais acerca da saúde. A notícia da sua morte apanhou-nos de surpresa.
Talvez por isso, ao receber a notícia pela voz do próprio marido, fiquei revoltado com as chamadas "voltas que a vida dá" e que nas horas difíceis não temos capacidade para aceitar.

Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Abel Santos, a esposa Júlia, ao centro, e a Dina Vinhal
Sanxenxo > 6 de Junho de 2015 > Passeio de barco nas Rias Baixas > Maria Júlia à direita e Dina Vinhal à esquerda 


- O Corpo da Maria Júlia estará em Câmara Ardente a partir das 11 horas do próximo domingo, dia 25, no Tanatório de Matosinhos.
- O funeral terá lugar, também no Tanatório de Matosinhos, na próxima segunda-feira, dia 26, às 11 horas.
- A Missa do 7.º Dia será celebrada no dia 29, quinta-feira, pelas 18h30, na Igreja Matriz de Matosinhos.


Ao nosso amigo Abel Santos, seus filhos, netos e demais família, a tertúlia deste Bog apresenta as mais sentidas condolências.

Permito-me deixar também por este meio o meu abraço solidário ao Abel e a minha disponibilidade para o que ele achar necessário.


Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último post da série de 14 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25171: In Memoriam (497): Maj Inf ref, Humberto Trigo de Bordalo Xavier (1935-2024): missa de corpo presente, amanhã, pelas 11h00, na igreja de Santa Cruz, em Lamego, seguindo depois o funeral para o crematório de Mangualde

Guiné 61/74 - P25204: Notas de leitura (1669): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (13) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Fevereiro de 2024:

Queridos amigos,
Não vale a pena determo-nos muito tempo sobre os primeiros meses da governação de Spínola, são bem conhecidas as suas diretivas, as admoestações e castigos a oficiais de superiores removidos para a metrópole, a sua estrondosa exposição no Conselho Superior de Defesa Nacional onde aludiu à probabilidade de um colapso militar, tendo recebido, como contrapartida, alguns milhões para o seu programa Por Uma Guiné Melhor e alguns recursos militares. Os autores dão conta de que a retirada de quartéis na zona Sul e Leste suscitou um novo quadro de atuação para a Zona Aérea, as chamadas ZLIFA conheceram uma substituição praticamente semântica, se bem que continuasse a existir, em poder do PAIGC, sistemas de defesa antiaérea operacionais, particularmente na zona Sul. Aqui se faz um sucinto relato deste período inicial da governação de Spínola.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (13)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Capítulo 4: “A pedra angular”


Muitos autores já se debruçaram sobre o diagnóstico feito por Spínola, passados os três primeiros meses desde que chegara à Guiné em maio, deixou relatórios bem incisivos e dirá mesmo na reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional que poderia estar iminente um colapso militar. Não esconde que o PAIGC tomara a iniciativa militar, estava mais motivado, cada vez mais bem armado e que controlava um conjunto impressionante da superfície do território. Terá mesmo provocado um sobressalto nos altos-comandos quando alertou para que tal colapso iria criar “uma onda imparável de apoio aos movimentos de libertação”, suscetível de levar Angola e Moçambique à independência. Ao formular a sua estratégia para evitar tal colapso, o Governador e Comandante-chefe advertiu que a guerra revolucionária que se enfrentava na Guiné tinha que ser totalmente invertida com a conquista das pessoas, não podia haver uma abordagem puramente militar, mas sim “uma solução genuína, clara e decisiva através da revolução social, com programas que concretizassem as justas aspirações do povo”. A peça central deste seu programa foi designada “Por Uma Guiné Melhor”.

O governo de Marcello Caetano abriu os cordões à bolsa, vieram meios para a construção de aldeamentos, mais escolas, postos médicos, estradas e portos. Aumentou o número de matrículas escolares, surgiram empreendimentos infraestruturais, intensificou-se o apoio à agricultura e surgiram os Congressos do Povo, era um compromisso de Spínola para dar à população uma aparência de representação política. Através deste conjunto de programas, Spínola esperava privar o inimigo de razões para mais adesões a apoio a luta armada.

Entrou em marcha a operação dos reordenamentos, Spínola pretendia que estes novos aldeamentos separassem fisicamente a população que aceitava a soberania portuguesa da que apoiava o PAIGC, e assim também se privaria estes insurgentes de fontes de informação, alimentação e de locais de presença temporária. Igualmente foi implementada uma campanha psicológica para que as populações participassem neste conjunto de reformas. Mas não havia ilusões, tais programas não obstavam a que se dinamizasse uma mentalidade ofensiva e para tal o novo comandante-chefe determinou mudanças nas Forças Armadas. A princípio, Spínola norteava-se com uma economia de recursos, dada a improbabilidade de muito mais reforços, provocou mudanças na quadricula, procurando gerar a concentração no dispositivo militar, foram retirados efetivos militares de locais junto das fronteiras com a República da Guiné e na área do corredor de Guileje, bem como no Boé; obviamente que este abandono de posições abriu espaço, tanto no Sul como no Leste a uma maior presença dos grupos insurgentes. Amílcar Cabral fez questão de anunciar que a retirada destas posições portuguesas era o prenúncio para vitórias de decisivas. Mais tarde, Nino Vieira veio vangloriar-se de que podiam avançar muito mais quilómetros sem avistar o inimigo.

Para tirar partido de que estavam em curso grandes mudanças político-militares, Joaquim da Silva Cunha, Ministro do Ultramar, visitou a Guiné durante nove dias em março de 1970, foi uma sucessão de eventos cuidadosamente planeados para se mostrar o andamento do programa Guiné Melhor e também para mostrar ao Governo que havia uma ampla liberdade de movimentos em toda a Província. Com efeito, o ministro visitou diferentes partes do território, apareceu a ser saudado com entusiasmo em todos os lugares. E mesmo quando Silva Cunha foi a Madina do Boé, quartel de onde as forças portuguesas se tinham retirado em fevereiro, o helicanhão sobrevoava a visita meramente propagandística do ministro, como observou o Coronel Kruz Abecassis, o ministro partiu e o PAIGC regressou. A retirada de guarnições periféricas criou desafios e oportunidades para a Zona Aérea, ficou delineado de forma mais clara áreas seguras de áreas contestadas. Com a redistribuição das forças de superfície, Spínola apelou à Força Aérea para compensar os setores mais vulneráveis com apoio de fogo oportuno e expandiram-se áreas reservadas, tanto como zonas exclusivas de intervenção aérea ou de intervenção de artilharia móvel ou de forças aerotransportadas.

Schulz, com a concordância da Zona Aérea estabelecera a chamada Zona de Livre Intervenção da Força Aérea (ZLIFA) e Spínola implementou novos procedimentos, introduzindo o conceito de Zona de Intervenção do Comando-Chefe (ZICC), foram criadas sete ZICC, mais ou menos correspondendo às chamadas regiões “libertadas” do PAIGC ou territórios desocupados recentemente pelas forças terrestres portuguesas e onde agora a Força Aérea poderia atuar por ordem direta do comandante-chefe, sem necessidade de coordenar as suas operações com os comandos locais. As ZICC permitiam à Zona Aérea a agir rapidamente quando surgiam informações que necessitassem respostas imediatas.

Para gerir de forma mais eficiente os meios aéreos que estavam atribuídos à Zona Aérea, Spínola dividiu conceitualmente, os ativos, uns dedicados a apoio direto às unidades (logística, ligação, reconhecimento e apoio de fogo), e outros como componente aérea da manobra do comando-chefe. Spínola atribuía uma grande importância a esta componente dada a precariedade dos percursos terrestres e a sua limitada capacidade de reagir em tempo útil – era a “pedra angular“ da sua estratégica. Spínola enfatizava que o objetivo não era o da aniquilação do inimigo, ele precisava de tempo para alcançar objetivos primários do seu programa socioeconómico e, portanto, a Força Aérea desempenhava um papel crucial de apoio logístico e informações de ataque ou assalto e até de retaliação nas áreas transfronteiriças. Spínola foi confrontado pela retoma da guerra pela supremacia aérea. Em 28 de setembro de 1968, um par de Fiat lançara foguetes para silenciar “armas pesadas não especificadas” que tinha disparado contra eles durante uma missão de reconhecimento armado perto de Guileje. Três meses mais tarde, em 6 de janeiro de 1969, quatro Fiat atingiram uma ZPU-4 de 14,5 mm que estava a apoiar um ataque do PAIGC ao quartel de Gadamael, no extremo norte da Península do Quitafine. Veio-se a saber mais tarde que a arma antiaérea fora destruída e danificadas armas pesadas, todo o pessoal que operava a arma antiaérea morrera, as tropas portuguesas que foram inspecionar o terreno recuperaram a mira ótica da ZPU-4.

Embora se tenham registado incidentes esporádicos noutros lugares da Província, o ambiente antiaéreos mais intenso permanecia no Sul, particularmente no Quitafine. Em finais de 1968, um par de Fiat que patrulhavam esta região avistaram uma ZPU-4 na abandonada aldeia de Cassebeche estava cercada por cinco ou seis armas antiaérea de 12,7 mm. Dadas as dificuldades até então sentidas em destruir armas antiaéreas apenas mediante ataques aéreos, Spínola ordenou um ataque de forças paraquedistas para garantir a eliminação da ameaça após uma série de ataques aéreos. O Comandante-chefe determinou que a operação fosse adiada na esperança que o PAIGC ainda concentrasse mais meios adicionais de defesa aérea na região, o elemento surpresa ficou à espera de uma nova data, sabia-se estar em presença de um inimigo alertado e bem-preparado.

Uma escola primária a funcionar em zona de soberania portuguesa. O programa Por Uma Guiné Melhor privilegiava a educação (Arquivo da Defesa Nacional)
Ministro do Ultramar na sua visita à Guiné em março de 1970, imagem efetuada na região do Gabu (Coleção António de Spínola)
Imagem tirada durante a retirada do aquartelamento de Madina do Boé, em fevereiro de 1969, veem-se em primeiro plano Spínola e a seu lado o Coronel Hélio Felgas, Comandante do Agrupamento de Bafatá (Coleção Álvaro B. Geraldo)
Zonas de intervenção do Comandante-chefe, agosto de 1970 (Matthew M. Hurley)
Poster de propaganda evocativo da viagem de Silva Cunha à Guiné, em março de 1970 (Coleção José Matos)

(continua)
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Notas do editor:

Post anterior de 16 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25176: Notas de leitura (1667): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25189: Notas de leitura (1668): "Amílcar Cabral e o Fim do Império", por António Duarte Silva; Temas e Debates, 2024 (Mário Beja Santos)