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quinta-feira, 28 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25312: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIII: Cerca de 95% do total dos médicos e 75% dos professores em serviço no território eram militares...

Guiné > Zona Leste >  Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) >  Bambadinca, 1970/72 > Reordenamento de Nhabijões > c. 1970 > O saudoso  alf mil médico, Joaquim Vidal Saraiva  (1936-2015) (Guileje, Bambadinca e Bissau, 1969/71) prestando cuidados de saúde

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No seu depoimento sobre a Guiné, no livro  escrito a quatro mãos, “África: a vitória traída” (Braga, Intervenção, 1977, pp. 103-142), o gen Bettencourt Rodrigues, o último Com-Chefe do CTIG, tem alguns dados “interessantes” sobre a “situação político-económico-social” do território, reportada aos princípios de 1974:

(i) nos primeiros três meses de 1974 (o último ano da guerra), destaca-se como grande acontecimento “político-social” o V Congresso do Povo (de 21 de fevereiro a 10 de abril);  mobilizou “alguns milhares de representantes das populações” (sic), tendo dado lugar a  “24 sessões de 4 reuniões cada, em 19 localidades da Guiné, além de Bissau”, espalhadas por todo o território, e sem qualquer interferência do PAIGC (pp. 107/108);

(ii) de 15 a 20 de janeiro desse ano, a Guiné recebeu a visita do Ministro do Ultramar que se deslocou a “Teixeira Pinto, Cacheu, Pelundo e Farim, no Norte, a Nova Lamego e Bafatá (viajando de automóvel entre estas duas localidades), no Leste, e a Catió e Caboxanque, no Sul” (pág. 108);

(iii) o orçamento da província nesse ano era de 380 mil contos (cerca de 20% mais do que o do ano anterior) (a preços de hoje, seriam 72,5 milhões de euros) (acrescente-se que o aumento de 1973 para 1974, não tem significado, era neutralizado pela inflação);

(iv) dava-se início ao Plano de Empreendimentos (no âmbito do IV Plano de Fomento), dotado de 155 mil contos (com incidência sobretudo nas áreas da Educação, Saúde, Vias de Comunicação, Agricultura e Melhoramentos Urbanos e Rurais (155 mil contos era um valor equivalente, a preços de hoje,  a c. 29,5 milhões de euros) (pág. 109);

(v) a população escolar era estimada em 61 mil alunos (com 2200 professores), dos quais 91,8%  no ensino primário; no ciclo preparatório e no ensino secundário, havia apenas 6,2% e 2%, respetivamente;

(vi) dos professores no ensino primário (1050, no total), 220 eram militares (c. 21%);

(vii) o território dispunha de 1 Hospital Central, 3 Hospitais Regionais, 6 Hospitais Rurais, 50 Postos Sanitários (24 com médico e enfermeiro) e 12 Maternidades (pág. 109);

(viii) os recursos humanos da saúde eram os seguintes:

  • 82 médicos (sendo 4 civis, e os restantes militares);
  • 2 farmacêuticos e 1 farmacêutico-analista;
  • 360 enfermeiros e auxiliares de enfermagem;
  • 2 assistentes sociais e 1 auxiliar social; e
  • 76 parteiras e auxiliares de parteira.

(ix) em 1972, o número total de consultas (dadas a doentes civis) foi de 676 mil, mas apenas 1 em cada 4 foi prestada pelos Serviços Provinciais de Saúde, sendo as restantes (74,3%) da responsabilidade das Forças Armadas (pág. 110);

(x) no setor privado empresarial, era de assinalar a entrada em laboração de uma “fábrica de cerveja e refrigerantes” e de um “parque de armazenagem e envasilhamento de gases de petróleo liquefeito"; em fase adiantada de construção, havia uma "nova unidade hoteleira em Bissau";

(xi) a participação das Forças Armadas nas tarefas de desenvolvimento económico-social pode ser ilustrada pelos seguintes dados relativos a recursos humanos:

  • 270 militares (37 oficiais, 50 sargentos e 182 praças) estavam destacados em funções exclusivamente civis;
  • em acumulação (também com funções civis), havia 137 militares (110 oficiais, 21 sargentos e 6 praças);
  • dos 82 médicos em serviço na Guiné, 76 pertenciam às Forças Armadas (e 2 dois eram seus familiares):
  • cerca de 75% dos professores eram militares ou seus familiares.

(xii) 160 mil contos (c. 38,5 milhões de euros, a preços atuais) foi a verba dispendida em 1973 pelas Forças Armadas, no âmbito do desenvolvimento socioeconómico, sob a forma de “comparticipação direta” (na saúde, educação e desenvolvimento rural) (c. 40 mil contos), e de “comparticipação indireta” (transportes e vencimentos pagos a civis, e) (c. 120 mil contos) (pág. 112).

(xiii) no Plano de Empreendimentos para 1974, cabia às Forças Armadas a construção de 1500 casas  em 44 reordenamentos, 11 postos sanitários e 30 edifícios escolares, a par da continuação da construção da estrada Aldeia Formosa-Buba (que já estava em fase adiantada);

(xiv) até ao final de 1973, as Forças Armadas tinham construído 15.700 casas, 167 escolas, 50 postos sanitários, 56 fontenários e 3 mesquitas, e aberto 144 furos para abastecimento de água. (pág. 115)

Acrescente-se que toda esta dinâmica  vinha já da conceção e execução da política spinolista "Por uma Guiné Melhor"... 

O novo Governador limitou-se a apanhar o comboio em andamento, sem tempo, nos 7 meses do seu "consulado", para reformular as políticas e os projetos em curso, da autotia do seu antecessor.

Pora outro lado, é conveniente lembrar que havia escasser de recursos humanos na saúde (bem como na educação): por exemplo, em 3 décadas, de 1960 a 19i0, o número de médicos em Portugal quase que triplica, passando de 7,1 mil (em 1960) para 19,3 (em 1980), mas com  crescimento menor entre 60 e 70, de apenas 1,2 mil, situação  explicável pelas crises académicas,  menor acesso à universidade,  existência de apenas 3 faculdades de medicina, inexistência de carreiras médicas, serviço militar obrigatório, guerra colonial,  menor cobertura da população por  esquemas de saúde públicos e  privados, etc.

E também havia falta de enfermeiros, que passaram de 9,5 mil (em 1960) para 22,1 mil (em 1980).

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domingo, 24 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25302: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XII: Parece que houve um golpe de estado militar em Lisboa...

Mensagem: Relâmpago | Grupo Data Hora: 25Abr74 22h45 | De: Com-Chefe | Para: Geral (CTIG )

Fonte (e legenda):  © João Dias da Silva (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar (Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


1.  Do poste P2939 (*), transcrevemos um excerto das notas pessoais do João Dias da Silva (**), ex-alf mil op esp, CCAÇ 4150 (Guidage, 1973/74):

(...) 25 de Abril de 1974

 Parece que hoje houve um Golpe de Estado Militar em Lisboa.

Passámos todo o dia à volta do rádio, ouvindo as edições especiais da BBC em língua portuguesa, a tentar saber algo sobre o sucedido.

Por enquanto está tudo muito, muito confuso, pois todas as notícias são precedidas de "parece que" ou finalizadas por "não confirmado". 

Vive-se por aqui um certo estado de tensão por não se saber nada em concreto. Há que aguardar.

Pelas 22H45 chegou uma mensagem relâmpago confidencial do Com-Chefe Bettencourt Rodrigues) a informar que corriam notícias que o Governo de Marcelo Caetano tinha sido derrubado, mas que eram só boatos, com o seguinte texto: 

Mensagem: Relâmpago | Grupo Data Hora: 25Abr74 22h45 | De: Com-Chefe | Para: Geral (CTIG)

AGÊNCIAS NOTICIOSAS INFORMAM QUE GOVERNO PROFESSOR 

MARCELO CAETANO FOI DERRUBADO POR MOVIMENTO DAS 

FORÇAS ARMADAS.  NÃO RECEBIDA QUALQUER COMUNICAÇÃO 

OFICIAL.  ADMITINDO QUE IN POSSA TENTAR EXPLORAR 

SITUAÇÃO INCREMENTO SUA ACTIVIDADE SUBVERSIVA. TODOS OS 

COMANDOS  DEVEM ADOPTAR MÁXIMA VIGILÂNCIA E GARANTIR 

PRONTA  CAPACIDADE REACÇÃO. COMANDANTES UNIDADES SÓ 

DEVEM  RESPEITAR ORDENS QUE RECEBAM APÓS RIGOROSA 

AUTENTICAÇÃO  SUA ORDEM. AUTENTICADO.


Transcrição manual da mensagem original, em impresso normalizado, recebido em Guidaje. 

(...) 26 de Abril de 1974 – Farim embrulhou às 6h00.

Continuámos a aguardar com certa ansiedade notícias daquilo que se está a passar na Metrópole quer no RCP (emissor do Movimento das Forças Armadas – é agora a emissora oficial), quer na BBC.

O gen Spínola deu uma entrevista sintética. Saiu o 1.º comunicado  oficial com o programa. É sensacional, se for cumprido integralmente. A situação ainda não está bem definida. Aguardemos. 

segunda-feira, 18 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25284: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XI: Nhala, 23 de abril, a última visita a um quartel no mato (António Murta, ex-alf mil, 2ª C/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74)


Foto 4 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > Já no centro do aquartelamento o general dialoga com o cmdt de Nhala; de costas, o coronel Hugo da Silva, Chefe do Estado-Maior.


Foto 8 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 > Diálogo à porta do cmdt de companhia, com a presença de um "homem grande" que deve ser um “notável” da tabanca, mas de quem não me recordo.



Foto 11 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 >  As visitas preparam-se para partir; oo volante do jipe, o cmdt do Batalhão, ten cor Carlos Ramalheira e, ainda a subir, à esquerda, o cmdt de Operações, capitão Cerveira; de cigarro na boca, à direita, o coronel Hugo da Silva; no jipe de trás o resto da comitiva, apenas se reconhecendo ao volante o major Dias Marques; a comitiva dirigiu-se a Aldeia Formosa, onde o general almoçou regressando logo a seguir a Bissau.

Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Terá sido mesmo a última visita que o Com-Chefe, gen Bettencourt  Rodrigues, fez a guarnições no mato: referimo-no à sua ida ao Sector S2, e nomeadamente a Aldeia Formosa  e Nhala. Chegou de manhã, visitou a frente de trabalhos da estrada Aldeia Formosa-Buba, e regressou a Bissau depois do almoço.

O nosso camarada António Murta, ex-alf mil, 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) tem uma reportagem completa sobre a visita a Nhala (*). Selecionámos 11  das suas 18 fotos, para esta série de "A 23ª hora" (**)




(i) Apontamento: O general Bettencourt Rodrigues.

O General Bettencourt Rodrigues foi um militar brilhante e teve uma carreira longa e preenchida de altos cargos, ensombrada apenas por um final inesperado e sem glória, quem sabe, por preferir manter-se coeso com os seus ideais a aderir ao Movimento das Forças Armadas que acabara de depor o governo de Lisboa. 

Por via deste desfecho, nunca saberemos que impacto teria a sua acção na administração da Guiné e no evoluir da guerra que, naquela época e nalguns sectores, atingia estádios decisivos e preocupantes, mormente no meu Sector S-2, (com informações ainda muito secretas mas alarmantes sobre os planos do PAIGC), como mais tarde darei conta.(...)


 (ii) História da Unidade do BCAÇ 4513:

(...) "23Abr74 – Pelas 08h00 chegou a Aldeia Formosa  Sua Excelência o General e Comandante-Chefe, acompanhado pelo seu Chefe do Estado Maior, cor Hugo da Silva, comandante do BENG,  ten cor Maia e Costa,  e ajudante de campo, a fim de visitarem a frente de trabalhos da estrada Aldeia Formosa - Buba. 

Depois de serem prestadas as honras do estilo, Sua Excelência percorreu demoradamente o aquartelamento, apreciando as obras em curso. 

Depois de um briefing no Gabinete de Operações, e acompanhado pelo comandante e 2º comandante do Batalhão e restante comitiva deslocou-se à frente de estrada e ao aquartelamento de Nhala.

Na frente de trabalhos reuniu-se com o pessoal de Engenharia, a qual felicitou pelo trabalho desenvolvido. Após esta visita regressou a Aldeia Formosa, onde almoçou, seguindo depois do mesmo para Bissaum.  (...)."

(iii) Das minhas memórias desse dia:

(...) 23 de Abril de 1974, terça-feira:  A visita do General.

A visita do General Bettencourt Rodrigues a Aldeia Formosa e a Nhala foi, provavelmente, a última que fez na Guiné na qualidade de Comandante-Chefe. 

Pareceu-me uma pessoa muito acessível, afável e atenta aos problemas que lhe eram colocados. Mas foi a impressão de um contacto muito breve.

Nas imagens que mostrarei a seguir, “reportagem” que não é de todo exaustiva, pode notar-se uma certa ausência de tropa em Nhala, pela mesma razão da ocorrida aquando da visita da Cilinha, mas que não referi no relato que dela fiz. Essa ausência deve-se ao que a História da Unidade do BCAÇ 4513 expressa sem rodeios:

“(...) 23Abr74 – (...). Em virtude da visita de Sua Excelência o Comandante-Chefe, foi montado na estrada Aldeia Formosa-Buba  um dispositivo especial de segurança, com forças da 1.ª CCAÇ, 2.ª CCAÇ, 3.ª CCAÇ/4513, CART 6250”.(...)

Como última nota referente a este dia, diz ainda o seguinte a História da Unidade:

“Pelas 22h30 Gr IN destruiu um pontão da estrada alcatroada Buba-Nhala, em região XITOLE 2 G 7-39”.

Mas o senhor General já não ouviria o grande estouro, recatado em Bissau para onde regressou após ter almoçado em Aldeia Formosa.  (...)



Foto 1 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª NC/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 >  Chegada do gen Bettencourt Rodrigues às imediações do aquartelamento, descendo a base recente da estrada nova; na frente do jeep, preparando-se para descer, o comandante do BCAÇ 4513, ten cor Carlos Alberto Ramalheira.



Foto 2 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > Depois das honras militares o general cumprimenta o cmdt  de Nhala, Cap Braga da Cruz, da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Atrás de si, o Oficial de Dia, Alf Mil Campos Pereira.


Foto 3 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 > A comitiva dirige-se para o aquartelamento. À esquerda da imagem o coronel Hugo da Silva, Chefe do Estado-Maior, cumprimenta o Oficial de Dia. Em primeiro plano, de Kalashnikov, o tenente Ajudante de Campo. E guarda-costas, pareceu-me.



Foto 5   
 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > O tenente guarda-costas (que ostenta o crachá dos cmds na boinma, e está equipado com uma Kalash),  aproveita para ler uma carta chegada da Metrópole, quero crer. Porquê? Porque o envelope é debruado pelo tracejado característico do correio aéreo.
~


Foto 6    > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >23 de Abril de 1974 > Por uma mania que ainda uso quando calha, fechei num círculo visitantes e anfitriões. De bigode, fitando-me, o mjor Dias Marques, que percebeu a maldade (inocente, diga-se), parece pensar: "Lá está este gajo outra vez com as suas maluqueiras"...


Foto 7    > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 > Após inspecção ao depósito de géneros (com cão a sair), da responsabilidade do fur mil vagomestre Sebastião Oliveira.




Fotos 9/10   > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > Outro homem grande chega-se à conversa, enquanto começam a aparecer as mulheres da tabanca com ar decidido, começa o ajuntamento popular movido pela curiosidade e pelo tributo de honra ao homem grande da tropa, manga de ronco; j
á não vai haver hipótese de reunir no gabinete; tudo irá a “despacho” ali à porta.

 (Seleção, revisão / fixação de texto, edição parcial  e renumerção das fotos: LG)

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Notas do editor: 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25249: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte X: as directivas do último trimestre de 1973


Guiné > Bissau > Bissalanca > Base Aérea 12 > s/d. 


1. Em 25 de Agosto de 1973 foi nomeado para os cargos de Cmdt-Chefe das Forças Armadas da Guiné  e de Governador da Guiné, o general José Manuel Bettencourt (ou Bethencourt) Conceição Rodrigues (1918-2011), oriundo da arma de infantaria,  em substituição do general António Sebastião Ribeiro de Spínola (1910-1992), oriundo da arma de cavalariam que terminou a sua  comissão de serviço  nesse data. (Já estava, de resto, de licença de férias no Continente desde o dia 6 de agosto.).


O gen Bettencourt Rodrigues chegou ao CTIG numa altura em que já era pública e notória a degradação da situação político-militar, e o cansaço de ambos os lados (as NT e o PAIGC), ao fim de 10 anos de guerra de guerrilha e contra-guerrilha (a evoluir cada vez mais para uma guerra com meios convencionais). 

Chegou, podemos dizê-lo,  na 23ª hora, já praticamente no último trimeste do ano de 1973, considerado pelos historiados como o "annus horribilis" de Marcelo Caetano(*)

Aceitou, por dever de obediência militar mas também "por amizade" (e,  em última análise,  "alinhamento político) o presente envenenado que o Marcelo lhe ofereceu... Um dos nomes indigitados, o general da FAP, Diogo Neto, terá recusado, por não querer acumular a função de com-chefe com a de governador-geral (por sugestão,aliás,  do próprio gen Costa Gmes, então CEMGFA). 

Bettencourt Rodrigues, madeirense de ascendência, tinha sido ministro do Exército (1968-1970), e chegava de Angola, "coberto de honra e glória", onde fora comandante da Zona Militar Leste (1971-1973).

Com uma brilhante folha de serviço, e talvez o melhor general disponível no ativo para substituir o carismático gen Spínola (dois h0mens de escolas e  estilos de comando muito diferentes), Bettencourt Rodrigues aceitou os riscos da estratégia do governo de Marcelo Caetano que era, em última análise, resistir até à exaustão de meios e deixar cair a Guiné se tal fosse preciso, mas nunca negociar com o inimigo (o PAIGC)... 

Será exonerado do cargo na sequência do golpe de de estado do Movimento das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974. 

Em tempo recorde, nos  últimos três meses do ano de 1973,  o novo Com-Chefe publicou três Directivas (o seu antecessor só no ano de 1971 tinha publicado 26; e em 1972, 24; e mais 26 at
até 21 d setembro) em 21 de outubro, 30 de novembro e 17 de dezembro de 1973. (O seu antecessor só no ano de 1971 tinha publicado 26; e em 1972, 24; e mais 26 até 21 de setembro: já agora acrescente-se que, segundo a CECA, o foi possível encontrar as Directivas do Comandante-Chefe das FAG relativas a 1974, mas mas no Arquivo Histórico-Militar há compilações  das decisões do Cmdt-Chefe. ) 

A primeira, a 21 de outubro de 1973, será a "Directiva para a diminuição das vulnerabilidades". Não tem número.

Reproduz-se aqui o excerto publicado da CECA (2015, pp. 286-288). Numa primeira leitura, fica-se com a ideia que esta diretiva é ditada pelos ensinamentos colhidos dos acontecimentos mais recentes, ocorridos no 1º semestre  de 1973, e em especial a chamada "batalha dos 3 G" (Guidaje, Guileje e Gadamael); por outro lado, identificam-se algumas das "vulnerabilidades" mais conhecidas das NT no TO da Guiné, como o deficiente treino e preparação, a indisciplina de fogo, o laxismo, a rotina, o cansaço, etc.  Não se faz referência ao facto de uma das vuknerabilidades maiores das nossos guarniões era serem fronteiriças (Canquelifá, Buruntuma, Copá, Gadamael, etc.), expostas ao bel prazer da artilharia do IN e dos países vizinhos que o apoiavam (como irá acontecer logo no início da época seca, de 1973/74).


Capa e contracapa da  2ª edição do livro do António Martins de Matos [ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande, desde 2008, com mais de uma centena de referências no nosso blogue; autor do livro de memórias "Voando sobre um Ninho de Strelas" (2ª edição, Lisboa: O Sítio do Livro, 2020,  456 pp. ;  a 1ªedição é de 2018, Lisboa,BooksFactory 375 pp.) ]


(i) Directiva do Com-Chefe,  de 21 de outubro de 1973 > Determina às Forças Armadas da Guiné que adoptem medidas tendentes à diminuição dos efeitos causados pela acção do lN sobre as nossas forças.

Transcreve-se a "Execução":

"a. Com vista ao cumprimento desta missão impõe-se:

(1) preparar as Unidades, a todos os níveis de Comando, para, face às possibilidades lN esboçadas, conseguir uma "diminuição de vulnerabilidades";

(2) estudar e adoptar, a todos os níveis de Comando, as medidas mais adequadas e velar exaustivamente pelo seu rigoroso cumprimento;

(3) responsabilizar todos os escalões de comando pelo estabelecimento de medidas convenientes, pela orientação das Unidades e pela fiscalização da execução, com vigor e com rigor;

(4) não aceitar desculpas como o calor, o cansaço do pessoal, o tempo de comissão, o desembaraço criado pela veterania e a incomodidade do esforço físico porque está em causa "a troca de sangue por suor".

b. Os Comandos do TO, a todos os níveis, adoptam todas as medidas convenientes, de entre as quais se indicam aquelas cuja adopção se considera imprescindível:

(1) Manter abertos os itinerários da respectiva ZA que permitam a ligação a Unidades vizinhas e, através dos quais, se possam executar reabastecimentos normais e de emergência e deslocamentos de forças para apoio mútuo e reforço de localidades ameaçadas.

Com esta finalidade, toma-se necessário:

  • a desmatação de itinerários de molde a dificultar a montagem de emboscadas lN;
  • a realização de patrulhamentos frequentes para impedir a implantação de minas e para detectar e neutralizar as existentes;
  • a montagem de emboscadas e de minas e armadilhas nos trilhos de acesso às vias de comunicação e nos locais mais propícios a emboscadas lN.

(2) Treinar as tropas na reacção a emboscadas lN.

(3) Assegurar a defesa e segurança das pistas e heliportos de molde a mantê-las em permanente estado de utilização.

(4) Executar acções dinâmicas que criem insegurança e intranquilidade ao lN.

(5) Eliminar todas as rotinas que possam dar vantagens ao lN.

(6) Verificar a instrução de tiro do pessoal (1 cartucho por homem serve para detectar maus atiradores) e treinar os menos aptos.

(7) Mentalizar permanentemente o pessoal quanto à necessidade de disciplina de fogo. O consumo exagerado de munições denuncia nervosismo, baixo moral e deficiente nível de instrução e pode colocar as tropas perante a necessidade dum reabastecimento urgente, nem sempre possível.

(8) Estudar e ensaiar medidas de reacção dinâmica que devem ser procuradas com o maior interesse e executadas com a máxima agressividade.

(9) Aperfeiçoar todos os procedimentos para pedidos de apoio, de molde a que estes possam ser feitos de maneira eficiente e em tempo útil. Salientam-se os referentes a apoio de fogos da Força Aérea e de Artilharia e aos transportes de evacuação (TEV).

(10) Rever os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, de forma a aperfeiçoar os dispositivos de defesa imediata, bem como os sistemas de apoio mútuo, quer pelo fogo quer pela
manobra.

(11) Melhorar a organização do terreno quer em abrigos, quer em trincheiras ou locais de combate, para fazer face à hipótese de tentativas de abordagem e assalto.

(12) Assegurar a defesa afastada dos aquartelamentos e localidades por meio de: 
  • patrulhamentos e emboscadas frequentes nas possíveis bases de fogo lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
  • implantação de minas e armadilhas nas bases de fogos lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
  • elaboração de planos de fogos perfeitamente adaptados às realidades.

(13) Treinar os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, pela execução de frequentes "exercícios de alarme", de dia e de noite, promovendo imediatamente as necessárias correcções.

(14) Proteger as populações.

(15) Intensificar o serviço de informações e o rigor de medidas de contra- informação.

(16) Assegurar uma efectiva e eficiente acção de comando, em todas as situações de modo que a tropa se encontre sempre convenientemente enquadrada.

(17) Dispor de uma reserva pronta a sair com prévio alerta, com vista a actuar contra  grupo lN detectado ou a socorrer uma Unidade vizinha. [... ]"

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 286-288. (Com a devida vénia...)

(ii) A segunda directiva do novo Com-Chefe, gen Bettencourt Rodrigues é a Directiva para o apoio aéreo, de 30Nov73, sem número. 

No essencial, é decalcada da Directiva nº 20/73 de 29Mai73, do anterior Com-Chefe, gen António Spínola: Directiva nº  20/73 de 29Mai73 - Condições em que é executado o apoio aéreo as FA do TO face à evolução da situação.

(...) A utilização pelo lN, no TO da Guiné, de mísseis terra-ar, impôs profundas alterações no emprego da Força Aérea, com reflexos na doutrina operacional, não só da Força Aérea, como ainda das forças de superfície (F.S.). Aquelas alterações traduzem-se por: 

(1) Cancelamento de acções operacionais da Força Aérea; 

(2) Modificação de procedimentos de voo, de carácter geral e específicos, para cada tipo de aeronaves; 

(3) Modificação de procedimentos na execução de acções de apoio pelo fogo em proveito das F.S. (...)

Reproduz-se a seguir o excerto publicado da CECA (2015, pp. 288-292).  

Reveja-se depois o estudo do investigador independente José Matos (e membro da nossa Tabanca Grande), suportado por dados empíricos, sobre o  impacto do Strela na actividade aérea na Guiné (*)

Neste estudo José Matos refere "que, em finais de novembro, o novo Comandante-Chefe da Guiné, General Bettencourt Rodrigues, emite uma nova directiva para o apoio aéreo, que permite algumas excepções às directrizes definidas na Directiva 20/73 de 29 de maio. Nesta nova directiva, os ATAP em G.91 com foguetes e metralhadoras passam a ser possíveis por decisão do Comando da Zona Aérea ou do chefe de formação de voo empenhada, o mesmo acontecendo com as missões ATIR-ATID dos Fiat, o que dá maiores possibilidades de acção aos “Tigres”. De resto, a nova directiva mantém em vigor as orientações definidas em maio." (...)



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > O célebre e velhinho caça-bombardeiro T6 G, tanbém conhecido por "ronco", na pista de aviação de Bafatá, Em primeiro plano, o fur mil at nf da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) Arlindo T.Roda (, o grande fotógrafo da CCAÇ 12, juntamente com o Humberto Reis). Os T 6G desempenharam o seu  importante papel ao longo da guerra.... Mas eram "poupadinhos" em combustível (menos de 200 litros por hora em média), quando comparados com os "glutões" dos Fiat G-91 (c. 1800 litros em média, por hora). 

O míssil terra-ar Strela, se não lhe ditou a morte, afectou a sua exploração operacional pela FAP. Como diz José Matos,  "o  efeito do míssil é evidente, principalmente, nos aviões de hélice e menos significativo no Alouette III e no Fiat G.91. O caça italiano é mesmo o único meio aéreo que aumenta a sua actividade operacional ao longo do ano em análise" (, ou seja, 1973).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Directiva para o apoio aéreo, de 30Nov73, sem número.


"1. SITUAÇÃO

a. A utilização pelo lN, no TO da Guiné, de mísseis terra-ar  [Strela, de fabrico russo], impôs alterações no emprego da Força Aérea, com reflexos na doutrina operacional, não só da Força Aérea, como ainda das Forças de Segurança (lapso, deve ser Forças de Superfície) (FS).

b. Aquelas alterações traduzem-se por:

(1) Cancelamento de algumas acções operacionais da Força  Aérea.

(2) Modificação de procedimentos de voo, de carácter geral e específico, para cada tipo de aeronaves.

(3) Modificação de procedimentos na execução de acções de apoio pelo fogo em proveito das FS.


"2. ACÇÕES OPERACIONAIS DA FORÇA AÉREA CANCELADAS

São canceladas as seguintes acções operacionais da Força Aérea:

a. DCON  [Direcção de Controlo D Delta - ponto trigonométrico... ] ("DO-27" - armado, a baixa altitude). [... ]

b. DACO [Direcção de Apoio de Comunicações de Operações]    ("T-6" - armado). [...]

c. ATAP [ Ataque de Apoio]   ("T-6" - armado). [ ]

d. ATAP  [ Ataque de Apoio]  ("FIAT G-91" armado com foguetes e metralhadoras). [ ]

e. ATIR  
[Ataque Independente em Reconhecimento; ] - ATID  [Ataque Individual Ririgido] ("FIAT G-91" com foguetes e metralhadoras). [ ]

f. RVIS [Reconhecimento Visual ]  ("DO-27" a baixa altitude). Substituída por RFOT [Reconhecimento Fotográfico ].

"3. PROCEDIMENTOS DE VOO DE CARÁCTER GERAL

São estabelecidos os seguintes procedimentos de voo, aplicáveis a todas as aeronaves e em todos os tipos de missões:

a. Altitudes de voo - acima de 6.000 pés e abaixo de 200 pés.  
[1 pé=30,48 centímetros. ]

b. Entre aquelas altitudes, todas as aeronaves manobram constantemente (mudanças bruscas de rumo e altitude).

c. Todas as subidas e descidas sobre as pistas do interior do TO são executadas em espiral, com inversões frequentes de sentido.

d. As rotas são variadas de modo a que as aeronaves, sempre que possível não sobrevoem os mesmos pontos, pelo menos dentro de períodos curtos de tempo.

e. Todas as aeronaves actuam, no mínimo, em parelhas.

f. As subidas e descidas nas pistas do interior do TO são executadas dentro da área de manobra cuja segurança é garantida pela FS:

(1) Nas pistas de escala de aviões de transporte médio (Nova Lamego, Bafatá, Aldeia Formosa e Cufar) - de acordo com o procedimento anteriormente estabelecido.

(2) Nas pistas de escala de aviões de transporte ligeiro - 2.000 metros a partir da pista, quer lateralmente, quer nos topos (4.000 x 6.000 metros).

g. A proximidade da fronteira, as áreas de reacção antiaérea com misseis terra-ar e as áreas de maior actividade do lB onde, segundo notícias recebidas, se presume a existência de mísseis
terra-ar, levaram a considerar operativas para "DO-27" apenas as pistas constantes do Anexo A  [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

h. Atendendo aos condicionamentos expressos em 3.g. são considerados heliportos de utilização normal apenas os indicados no Anexo A 
[omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

"4. PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS E RESTRIÇÕES NA UTILIZAÇÃO DAS AERONAVES

a. TGER médio ("NORDATLAS" e "C-47").

(1) São normalmente utilizadas as pistas de Nova Lamego, Bafatá, Aldeia Formosa e Cufar. A pista de Farim é utilizada apenas em casos especiais.

(2) A execução das missões tem carácter inopinado; os dias e horas são acordados de véspera até às 17h00 entre o COAT e a Repartição PessLog do Comando-Chefe. Esta Repartição
informará a Chefia dos Transportes e a Unidade destinatária com a antecedência conveniente para efeitos de aviso aos passageiros, preparação da carga e transportar e montagem
da segurança da área de manobra. [... ]

b. TGER  
 [Transportes Gerais ]    ligeiro. Condicionado por condições meteoreológicas.

(1) "DO-27"

(a) As disponibilidades de carga a transportar são:

  • Descolagem de Bissau 300 Kg
  • Descolagem de outras pistas 200 Kg

(b) O número de descolagens por missão é reduzido para 4 (incluindo a descolagem de Bissau), excepto para o sector de Tite/Bolama em que se admitem 6. [... ]

(i) O pedido de uma acção TEVS 
 [ Transporte de Evacuação Sanitária]  é elaborado de acordo com o Anexo B [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

(2) Helicóptero - "ALIII"
Adoptam-se os procedimentos estabelecidos para "DO-27" no que se refere a TGER e TEVS.

c. PCV 
 [Posto de Comando Volante ] ("DO-27")

Realizado acima de 6.000 pés, destina-se a fazer trânsito de comunicações, e conduzir grupos empenhados em operações e a referenciar posições para apoio de fogo, desde que as FS tenham possibilidades de sinalizar as posições próprias utilizando fumígenos.

d. Ataque ao solo (Anexo C)  [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

(1) "FIAT G-91". [... ]

e. TMAN  
 [Transporte de Manobra]  (Helicóptero "AL-III")

(1) As colocações e recuperações de pessoal devem efectuar-se, sempre que praticável, em locais distintos e afastados.

(2) O número de vagas deve ser o menor possível.

(3) As recuperações devem ser reduzidas ao mínimo indispensável.

(4) As evacuações de feridos da zona de operações e as recuperações devem ser efectuadas de pontos afastados de locais de contacto com o lN.

(5) As aproximações aos pontos de colocação e recuperação são sempre efectuadas à altitude mínima possível.

f. RFOT 
[Reconhecimento Fotográfico ] 

(1) A baixa altitude, para objectivos pontuais.

(2) A 10.000 pés, na escala de 1/30.000, com possibilidades de ampliação até à escala de 1/7.500.

g. AESC  
Ataque em Escolta ]   (Helicóptero "AL-III")

(1) A escolta a formações de helicópteros é executada por dois helicópteros armados.

(2) A escolta a um helicóptero é efectuada por um helicóptero armado.

h. DACO [Direcção de Apoio de Comunicações de Operações] 

O avião mantém-se a uma altitude de segurança e destina-se a fazer trânsito de comunicações entre as FS e o COAT   
[Comando Operacional Aero Terrestre  ]   e a indicar aos pilotos dos "FIAT G-91" a base de fogos lN, no caso de se verificar um ataque e ser pedido apoio de fogo.

i. DLIG   [Missão Diversa de Ligação]

Acompanhamento de aviões "DO-27" empenhados em acções de transporte (TGER, TMAN ou TEVS) e a helicópteros que efectuem percursos a muito baixa altitude.


"5. PROCEDIMENTOS A SEGUIR PELAS FS NA EXECUÇÃO DE ACÇÕES DE APOIO PELO FOGO

a. As restrições impostas à Força Aérea nas actuais circunstâncias condicionam, de forma muito particular, as acções de apoio pelo fogo, não só pelas consequências desastrosas que podem advir de um erro de localização das NF, como ainda pela necessidade de se
introduzirem distâncias de segurança.

b.  
(1) Até ao aparecimento do míssil, as posições ocupadas pelas NF e pelo lN eram identificadas visualmente pelos pilotos. Este procedimento já não é realizável, em virtude de a 6.000 pés de altitude ou acima não ser possível identificar pela vista as posições ocupadas pelas NT e pelo lN. As posições ocupadas pelas NT terão de ser identificadas por forma (de preferência coloridos, exceptuando a cor verde). A posição do lN a atacar terá de ser definida por azimute magnético e distância a partir das posições das NT ou por granadas de fumos de morteiro (de preferência coloridos exceptuando a cor verde). 

Há que ter em atenção as distâncias de segurança adequadas (Anexo C)  [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ]O ATAP pode, em casos específicos, ser executado por dois helicópteros armados que, além do ataque ao solo, também se apoiam mutuamente. A sua presença na zona é por períodos curtos. Quando conveniente, podem ser lançadas do helicóptero granadas de fumo para sinalização de objectivos a atacar por aviões "FIAT" (em alerta).

(2) Quando as NT fazem um pedido de apoio de fogo urgente devem informar:

- Se houve flagelação a redutos defensivos (aquartelamento, bivaques, etc), meios móveis (navios, viaturas, etc) ou contacto lN no mato.

- Qual o armamento utilizado pelo lN.

- Se, à altura do pedido, ainda está em curso o fogo lN ou há quanto tempo teve lugar.

- As condições meteorológicas na zona (nebulosidade e visibilidade), quando possível.

"6. PREMISSAS A CONSIDERAR PELO CZACVG 
 [Comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné]  NA DECISÃO - PROCESSO ACEITAÇÃO / RECUSA DUM PEDIDO DE APOIO DE FOGO

a. Possibilidades da artilharia e das armas terrestres da dotação normal das NT.

b. Possibilidades de apoio aéreo e oportunidade de intervenção.

c. Meios existentes em voo e no solo e capacidade dos diversos sistemas de armas.

d. Condições meteorológicas (aeródromo de partida, trânsito e zona de acção) e evolução prevista.

e. Rendimento a esperar em face dos elementos conhecidos.

f. Situação no local em face do armamento a utilizar e a reacção antiaérea previsível ou provável na zona e nos trânsitos. [... ]"


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 288-292 (Com a devida vénia...)


(iii) A terceira (e última, no ano de 1973) directiva do novo Com-Chefe, gen Bettencourt Rodrigues, é a "Guarda Matutina", de 17Dez73, sem número. 

É também um sinal dos tempos.  Bissau está ao alcance dos foguetões (ou "foguetes") 122 mm e vulnerável a eventuais acções de sabotagem e terrorismo urbano (como virá acontecer, já em 1974, com o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau, em 26 de fevereiro,  que provocou 1 morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG, em 22 de fevereiro, onde parte do edifício principal foi destruída, numa acão reivindicada pelas (ou atribuída às) Brigadas Revolucionárias. O perímetro da base aérea nº 12, e o aeroporto  de Bissalanca também  também podia estar sujeito à infiltração de um furtivo apontador de Strela...

Por outro lado, a  CECA (2015, pág. 12) recorda que já em 1971 se registaram dois factos graves e/ou preocupantes:

(i)  em fevereiro, "2 aviões MiG-17 com as cores da República da Guiné, tripulados por argelinos, sobrevoaram Bissau, tendo continuado a verificar-se, posteriormente, acções várias de violação do espaço aéreo por helis e aviões não identificados" (ic);

(ii) e em 9 de junho, "o PAIGC levou a efeito o primeiro ataque a Bissau e a diversos aquartelamentos das proximidades, provocando num deles um número significativo de baixas".
 
Ainda segundo a mesma fonte, mas já em 1972, explodiram três engenhos explosivos, durante a noite, em locais diferentes da cidade de Bissau, capital do território,  "o que indiciava propósitos de terrorismo urbano". Nestes engenhos foram utilizados espoletas de efeito retardado MUV-2 (CECA, 2015, pág. 121).

Não em Bissau, mas na segunda maior cidade, Bafatá, o PAIGC em 8 de janeiro de 1972 levara a cabo  "um aparatoso ataque", com foguetões 122 mm (CECA, 2015, pág. 121).  

Destaca-se também, nesse ano, em 9 de março, "a flagelação ao topo norte da Base Aérea de Bissau, no dia 9 de Março, fazendo uso de lança-granadas foguete RPG-7".
 
Num dos últimos discursos que proferiu antes de ser assassinado, em Conacri, em 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral "referiu a necessidade de intensificar a guerrilha
em todas as frentes e nos centros urbanos, com base numa organização clandestina, sabotando meios, destruindo instalações e causando o maior número de baixas na retaguarda, e que, no novo ano, seriam utilizados novas armas e meios mais poderosos." (CECA; 2015, pág. 239). 

E como é sabido em março desse ano entram em acção os mísseis terra-ar Strela...
 
Directiva "Guarda Matutina", de 17Dez73, sem número. 

Excertos:

"1. SITUAÇÃO

a. Inimigo

A área de Bissau, com toda a sua infraestrutura civil e militar, constitui o objectivo principal do lN.

Nas áreas urbanas e suburbanas destacam-se, como pontos sensíveis a acções de sabotagem lN:
  •  as instalações da SACOR; 
  • a Central Elevatória da Mãe de Água;
  • o Centro Emissor de Brá; e
  • a Central Eléctrica (Av. Brasil).

b. Forças Amigas

A PSP tem tido o encargo da defesa dos pontos sensíveis referidos. Porém, a partir de Novembro de 1973, os guardas europeus da 7ª CMP - Companhia Móvel de Polícia são, na sua quase totalidade, soldados no cumprimento do serviço militar obrigatório, com pouca idade, experiência e prática de serviço.

Este facto, aliado à fraca capacidade de enquadramento, tornam impossível à PSP continuar a garantir satisfatoriamente a segurança e defesa de todos os pontos sensíveis.

c. Reforços e cedências

(1) Reforços

O COMBIS passa a ser reforçado com a Companhia de Milícias Urbana.

2. MISSÃO

As Forças Armadas colaboram na defesa dos pontos sensíveis das áreas urbana e suburbana de Bissau, ficando a seu cargo a defesa das instalações da Central Eléctrica (Av. Brasil), da Central Elevatória da Mãe de Água e do Centro de Brá.

3. EXECUÇÃO

a. Conceito da Manobra

Tendo em consideração a localização dos referidos pontos sensíveis em relação às áreas de responsabilidade do COMBIS, é minha intenção defender a central Eléctrica (Av. Brasil), a Central Elevatória da Mãe de Água e o Centro Emissor de Brá, com meios do COMBIS reforçados com a Companhia de Milícias Urbana.

b. COMBIS (Comando de Agrupamento de Bissau)
  • Garante a segurança imediata da Central Eléctrica (Av. Brasil);
  • Garante a segurança imediata da central Elevatória da Mãe de Água;
  • Garante a segurança imediata do Centro Emissor de Brá. [... ]"

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 293-294 (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos,  para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
___________
 
Notas do editor:

(*) Último poste da série > 7 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25245: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte IX: O adeus a Aldeia Formosa, onde também tinha um sobrinho, madeirense [Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, e músico, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, março de 1973/ setembro de 1974)]

(...) A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). 

 A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo. (...)

(...) As perdas provocadas pela acção do míssil reflectem-se de imediato na capacidade operacional do Grupo Operacional 1201 (GO1201), que tem na sua orgânica a Esquadra 121, onde estão os Fiat, T-6 e DO-27, a Esquadra 122 com o Alouette III e a Esquadra 123 com o Noratlas e C-47. 

O GO1201 dispunha em março de 1973, em Bissalanca, na BA12, de 53 aeronaves entre aviões e helicópteros (...) . Desta forma, os abates de março e de abril traduziram-se numa perda de 9,4% das aeronaves do GO1201. Mais importante ainda, 8 dos cinco aviões perdidos pela acção do míssil, dois deles eram aviões Fiat, o único jacto de combate que a FAP dispunha na Guiné. A Esquadra 121 tinha, nessa altura, onze G.91 passando, então, a ter nove. (...)

(...) Ultrapassada a fase de surpresa inicial, realizada a análise das perdas sofridas e deduzindo, ainda que empiricamente, o funcionamento da nova arma, dada a escassez de informação, o Comando da Zona Aérea introduz uma série de condicionamentos nas missões realizadas pelas diversas aeronaves. As primeiras medidas cautelares são adoptadas em meados do mês de abril e são as seguintes:

  • T-6G – Cancelamento das missões de apoio próximo às forças terrestres e de ataque ao solo de natureza independente;
  • Fiat G.91 – Execução apenas de missões de bombardeamento a picar (BOP) e de metralhamento a picar (MAP), com entrada a 10 000 pés (3300 m) e saída a 3000 pés (990 m);
  • DO-27 – Cancelamento das missões de Reconhecimento Visual (RVIS) e de Posto de Controlo Volante (PCV); redução das missões de TGER e de TEVS (Transportes Gerais e Evacuação);
  • Noratlas – Execução de missões de transporte limitado a 3000 kg de carga, a fim de assegurar a maior razão de subida das aeronaves dentro da zona de segurança garantida pelas forças terrestres; canceladas as missões de lançamento de cargas aéreas;
  • C-47 Dakota – Execução de missões de transporte aéreo limitado a 1500 kg de carga;
  • Alouette III – Execução de missões de TGER e TEVS por duas aeronaves, a baixa altitude, uma limpa e a outra armada para protecção do conjunto e de apoio de fogo das tropas e do meio aéreo de TEVS, na zona de operações das forças terrestres; execução de missões de TGER apenas para pistas interditas ao DO-27. (...)

(...) As missões RFOT são as mais afectadas, mas, a partir de outubro, o maior empenho de várias aeronaves (G.91, DO-27 e C-47) em RVIS e RFOT faz aumentar o número de missões. No entanto, é evidente a relação causa-efeito entre o míssil e o decréscimo deste tipo de missões. O DO-27 é claramente limitado pelo Strela nas missões RVIS e o C-47 é também desviado para outras missões, embora possa fazer fotografia vertical a 10 mil pés. As missões RFOT a baixa altitude ficam assim, praticamente, só para o Fiat e para objectivos pontuais. (...)

(...) Desta forma, a Força Aérea vai-se apercebendo de que as missões TEVS, em situações desta natureza, mesmo com a presença de um helicóptero armado, são muito perigosas. A solução passou por aumentar a protecção armada aos helicópteros TEVS que começaram a ter dois Alouette III armados, de escolta (AESC). A análise das missões TEVS e AESC do Alouette III, ao longo de 1973, no gráfico 5, revela que o número de acções de evacuação diminuiu, mas que as acções de escolta aumentaram de forma clara (...).

Por último, podemos analisar a exploração operacional das várias aeronaves da ZACVG, através do gráfico 6. O efeito do míssil é evidente, principalmente, nos aviões de hélice e menos significativo no Alouette III e no Fiat G.91. O caça italiano é mesmo o único meio aéreo que aumenta a sua actividade operacional ao longo do ano em análise. 

No fundo, a Força Aérea usou mais intensivamente o único meio aéreo que podia representar alguma capacidade de resposta face à ofensiva da guerrilha. No saldo final, todavia, a exploração operacional do GO 1201 ressente-se com o míssil ao longo do ano, ficando sempre abaixo dos níveis de março de 1973. (...) 

6 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)

(...) É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno.

Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido (...).  Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres.

O único abate acontece em 31 de janeiro de 1974, quando o G.91 5437, pilotado pelo Tenente Castro Gil, é atingido por um míssil perto da fronteira com o Senegal, numa missão de apoio a Canquelifá. O piloto consegue ejectar-se e escapar à guerrilha, regressando no dia seguinte ao quartel de Piche, à boleia numa bicicleta de um habitante local. (...) 


[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

quinta-feira, 7 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25245: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte IX: O adeus a Aldeia Formosa, onde também tinha um sobrinho, madeirense [Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, e músico, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, março de 1973/ setembro de 1974)]


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > s/d [ 23 de abril de  1974, segundo o António Murta] > BCAC 4513 > A última visita do Com-Chefe e Governador Geral Bettencourt Rodrigues (de costas, de camuflado, à direita, recebendo honras militares)


Guiné > Região de Quínara > Região de Tomabali >  Porta de armas do aquartelamento ao tempo do  Comando, CCS e 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (março de 1973/ setembro de 74)... As outras suas unidades orgânicas estiveram em Buba (a 1ª CCAÇ) e em Nhala (2ª CCAÇ)...

Fotos (e legendagem): © Fernando Costa (2009).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Março de 1973/Setembro de 1974) (*), membro da nossa Tabanca Grabde desde 25/10/2009 (*):

Caros amigos,

Volto ao vosso contacto para enviar uma foto onde aparece o Cmdt das Forças Armadas da Guiné, General Bettencourt Rodrigues, naquela que foi a última visita a Aldeia Formosa. 

Os militares que estão a fazer a guarda de honra, são do BCaç 4513. Esta foto, se assim o entenderem, pode ser incluída com as que se encontram no poste P5160 (*).

Um forte abraço, ex-furriel mil Fernando Costa


2. Comentário do editor LG:

Lembro-me de ter falado com o Fernando Costa na noite de 1/11/2009 (**). Foi ele que me ligou. Portanto, já fez 14 anos... E há cinco ou seis anos que ele morreu!...

Já que aqui escrevi que tivemos  então uma longa conversa ao telefone. Ele era (foi a impressão com que fiquei)  um homem das Arábias, e acabava de ingressar na Tabanca Grande

Para além de chefe das transmissões em Aldeia Formosa (na ausência do alferes da CCS que ficara no em Bissau, a tomar conta das antenas das telecomunicações...), foi um homem dos sete ofícios... E sobretudo foi músico, chegou a acompanhar a Cilinha, que tinha a mania que sabia cantar o fado, nas visitas aos quartéis do sul... 

Ainda apanhou o gen Spínola, duas vezes, de visita a Aldeia Formosa.  Numa delas o Com-Chefe terá vimdo expressamente para dar uma porrada num 1.º cabo de uma das companhias do Batalhão... Com o pessoal formado e alinhado na parada, rapou de um papel e chamou o cabo. Quando este compareceu perante o velho general, arrancou-lhe as divisas e deu-lhe dois pares de estalos...

O seu sucessor, o gen Bettencourt Rodrigues, terá ido lá, uma única vez (não nos finais  de 1973 ou princípios de 1974, mas sim em 23 de abril, segundo o António Murta)... Tinha lá um sobrinho, madeirense. (***)
 ____________

Notas do editor:


(**) 2 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5193: Memória dos lugares (50): Aldeia Formosa, BCAÇ 4513: A última visita do Gen Bettencourt Rodrigues (Fernando Costa)

terça-feira, 5 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25241: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VIII: Um adeus a Nova Sintra (texto e fotos de Ramiro Figueira, alf mil op esp, 2ª C/BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Chegada do helicóptero com o general Bettencourt Rodrigues


 Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 >  Transporte no Unimog, com o General ao lado do condutor; e eu,  de costas, a falar com o condutor.


Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > - Visita ao quartel. De costas, o mais alto, o capitão Machado. 3º comandante que tivemos ao longo da comissão; à sua esquerda,  um coronel ajudante de campo do General, creio que o coronel Monteny.


Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Fotografia 4 – Visita ao meu grupo de combate, novamente de costas o capitão Machado.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Localização de Nova Sintra no sector de Tite, região de Quínara. No mapa é referido Gatongó, que era a denominação da tabanca que lá existia antes e que foi destruída pelos bombardeamentos da FA, tendo sido construído na mesma localização o aquartelamento.





Foto nº 6, 6A e 6B  > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Vista aérea de Nova Sintra


Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira  (2024) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


 



O nosso camarada Ramiro Alves de Carvalho Figueira, médico na situação de reforma:  foi alf mil  Op Especiais, 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74); faz parte da Tabanca Grande desde 23 de junho de 2022, sendo o membro nº 863.


1. Mensagem do Ramiro Figueira, com data de hoje, 5 do corrente, 13:05


Assunto - General Bettencourt Rodrigues em Nova Sintra

Boa tarde

Na minha visita, práticamente diária, ao blog encontrei fotografias de Fulacunda, do meu bom amigo Jorge Pinto, alferes da 3ª Companhia do BART 6520/72 que estava justamente em Fulacunda (*) e lá esteve o mesmo tempo que nós, do mesmo batalhão, mas nós em Nova Sintra.

Por volta dessa mesma altura (Jan/Fevereiro de 74), o general foi a Nova Sintra que, como referi em anteriores posts, se situava numa ponta Sul da região de Quínara, sector de Tite, perto de S. João e distante de Fulacunda.


Não era um aquartelamento como Fulacunda onde havia população de uma razoável tabanca. Nova Sintra resumia-se a um quadrado de cerca de 100m x 100m com uma microscópica tabanca que era suposto fazer segurança a Bissássema e, de certo modo, a Bissau.


Por volta da mesma altura em que o general esteve em Fulacunda deslocou-se a Nova Sintra (suponho que na mesma visita) . Do que me recordo dessa visita, chegou de helicóptero, “arengou” à tropa, deu uma volta ao quartel e foi-se embora.


Apesar de ter sido uma visita-relâmpago deixo o registo para as memórias do blog que, não sendo um colaborador assíduo, visito regularmente.

Um abraço, Ramiro Fuigueira


2. Comentário do editor LG:

O gen Bettencourt Rodrigues, no início do seu mandato, tinha pelo menos 225 guarnições para conhecer e visitar... Não deve tê-lo conseguido, uma vez que terminou, abruptamente, a sua comissão em 26 de abril de 1974. Mas sabemos que visitou, pelo menos, Fulacunda (*) e agora Nova Sintra, que pertencia ao mesmo setor (Tite) e ao mesmo batalhão (BART 6520/72).

Defendia, tal c0mo o CEMGFA, gen Costa Gomes (depois de visita ao CTIG ainda no final do mandato do gen Spínola), a retração do dispositivo militar (para um número próximo dos 80 e ta). O que era essa alteração ? Em 1998, em entrevista à investigadora Maria Manuela Cruzeiro, do Centro de Documentação 25 de Abril,o então marechal explicou: 

"Significava a retirada  de todas as forças colocadas nas fronteiras para um espaço onde não fôssemos vítimas dos morteiros de 120  (uma arma terrível que eles utilizavam com muita facilidade) e pudéssemos perseguir os guerrilheiros do PAIGC. 

"Na altura, com o dispositivo utilizado, as forças  no interior estavam muito enfraquecidas, porque demasiado concentras nas fronteiras. E, a meu  ver,  com enorme desvantagem, já que não há nada pior  do que combater para a retaguarda. 

"Por variadíssimas razões,  sobretudo morais,  as tropas são capazes de atos heróicos quando perseguem o inimigo na direção que elas consideram lógica, ou, seja, do inetrior para a fronteira. 

"A operação 'Mar Verde' foi um desastre e a 'invasão' do Senegal pelos comandos foi outro. Melhor: ainda que,  taticamente, a operação levada a efeito no Senegal tenha registado algum sucesso, a questão fundamental centrou-se nas Nações Unidas, onde fomos ameaçados de sanções graves se voltássemos a violar as fronteiras dos países limítrofes. 

"De facto, a extensão da fronteira terrestre (enorme para o tamanho da Guiné) desmoralizava as tropas e dava uma vatagem fantástica ao inimigo; é que ele atacava-nos quando queria; tinha a inicativa das operações, e nós não podíamos ripostar a não ser com armas de fogo, ou seja, sem liberdade de movimentos".

(Fonte: "Costa Gomes, o último marechal: entrevista de Maria Manuela Cruzeiro"- Lisboa, Editorial Notícias, 1998, pág. 159).

(Revisão / fixação de texto, itálicos: LG)