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sexta-feira, 26 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17397: Meu pai, meu velho, meu camarada (55): Artilharia de defesa de costa e antiaérea no Mindelo, na II Guerra Mundial: fotos do álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943


Foto nº 1 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >"As peças anti-aéreas do Monte Sossego; fotografia oferecida pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] Boaventura [Horta] em 21/3/43."

Foto nº 2 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Oficiais do Exército e da Marinha nas peças do Monte Sossego. Ao fundo a linda Baía com o [NPR] Pedro Nunes à vista. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura em 21/3/43. Mindelo. [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].


Foto nº 3 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo  >"Oficiais do Exército e da Marinha nas posições da Anti-Aérea no Monte Sossego, S. Vicente. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura, em Mindelo, 21/3/43". [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].



Foto nº 4 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo  > "Posição das peças anti-áereas no Monte Sossego, São Vicente, Cabo Verde. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura em 21/3/43." [O José Boaventura  Horta, natural da Lourinhã, já falecido, era pai dos meus amigos de infância Carlos, Olga e Elisa. Éramos vizinhos da mesma rua ] 


Foto nº 4  > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "4 metralhadoras pesadas fazendo fogo anti-aéreo para balões de papel. No dia da festa de aniversário [da chegada do batalhão]. 23 de Julho de 1942. No Lazareto, S. Vicente, Cabo Verde" [O 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5 tinha chegado ao Mindelo há precisamente um ano, e estava aquartelado no Lazareto ]


Foto nº 5 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Aspeto da cidade do Mindelo tirada do Oeste. Vê-se os importantes depósitos de óleos da Shell. Outubro de 1941" [A II Guerra Mundial, com a drástica redução do trâfego marítimo da Europa para a África e a América Latina, teve dramáticas consequências no movimento do Porto Grande e na socioeconomia da ilha,]



Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2014) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





1. Fotos do álbum de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre julho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania; este e outros batalhões foram entretanto integrados mais tarde no RI 23].  (*)


[Foto  à direita, Luís Henriques > 19 de agosto de 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques ".]



Escreveu o nosso camarada, natural do Mindelo (1943), Adriano Miranda Lima (cor inf ref, com duas comissões de serviço em Angola e Moçambique, no tempo da guerra colonial), e que tem escrito sobre as tropas expedicionárias portuguesas em Cabo Verde durante  a II Guerrra Mundial

(...) "As unidades desembarcaram e rumaram logo para os locais de destino previstos. No que respeita ao dispositivo da ilha de São Vicente, o Batalhão de Infantaria 5 (proveniente das Caldas da Rainha) ficou sediado na zona do Lazareto, o Batalhão de Infantaria 7 (proveniente de Leiria) na zona de Chã de Alecrim, e o Batalhão de Infantaria 15 (proveniente de Tomar) foi logo para [a ilha de] Santo Antão, sediando-se no Porto Novo, com excepção da 3.ª Companhia de Atiradores e de um pelotão da Companhia de Acompanhamento, que ficaram em São Vicente, mesmo dentro da área urbana do Mindelo.

"A artilharia de defesa de costa ficou instalada no Morro Branco e em João Ribeiro, enquanto a artilharia antiaérea não poderia ter encontrado posição tecnicamente mais adequada que o cimo do Monte de Sossego, que lhe conferia visão simultânea sobre o Porto Grande e sobre os pontos críticos da cidade do Mindelo."

(...) "Sei que, tanto quanto as possibilidades locais o permitiram, recorreu-se ao aboletamento (...) de oficiais e sargentos em casas particulares e pensões, pelo menos em parte e numa fase inicial, ao mesmo tempo que se utilizaram instalações de campanha (tendas e barracas), enquanto não eram construídos aquartelamentos!. (...) (**)
______________________

Notas do editor;



(**) Blog Praia de Bote > 15 de outubro de 2012 > [0264] Adriano Miranda Lima: a continuação (ver posts 256, 257 e 259): Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde no período da segunda Guerra  Mundial: 4 - A Actividade Militar e o Meio Físico Envolvente 

Vd. postes anteriores:

29 de setembro de 2012 > [0256] Adriano Miranda Lima:  Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde no período da Segunda Guerra Mundial: 1- Introdução

(...) as Tropas Expedicionárias que no período da II Guerra Mundial encheram o Mindelo foram grandes protagonistas da história da ilha naquele preciso contexto, e de uma forma tão mutuamente partilhada que na memória das populações e na dos próprios militares ficaram para sempre impregnadas as mais gratas recordações. Neste e em alguns posts subsequentes falarei do envolvimento dos militares com as gentes locais e de acções de tocante solidariedade humana numa altura em que a fome ceifava vidas nas nossas ilhas porque as carências eram gritantes. (...)


30 de setembro de 2012 > [0257] Adriano Miranda Lima:  Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde, no período da Segunda Guerra Mundial: 2 Totalidade de forças mobilizadas

(...) em Julho de 1941 encontravam-se prontos a embarcar em Inglaterra com destino a Cabo Verde, 3 peças de artilharia 4,7", 3 jogos para plataformas e 450 munições. (este material diz respeito à artilharia de costa). As autoridades inglesas ofereceram ainda pessoal para instruir e montar estas peças.

Em 1941, foi criada na cidade do Mindelo, em S. Vicente, uma Bateria de Artilharia de Costa. Em fins de Agosto de 1941, era transferida a título provisório, da cidade da Praia, em Santiago, para a cidade do Mindelo, em S. Vicente, a sede da Repartição Militar.

A evolução da guerra mostrou a urgência de criar um dispositivo defensivo na ilha de S. Vicente, pelo que foi ordenada a mobilização das seguintes forças:

Para a Ilha de S. Vicente:

- Comando Militar de Cabo Verde, sendo comandante o brigadeiro Augusto Martins Nogueira Soares, desde Agosto de 1941 até Dezembro de 1944;
- Comando do Regimento de Infantaria 23, integrando os batalhões seguintes;
- 1.º Batalhão expedicionário do Regimento de Infantaria 5 (Caldas da Rainha);
- 1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 7 (Leiria);
- 1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 15 (Tomar);
- Bataria de Artilharia de Costa 1;
- Bataria de Artilharia de Costa 2;
- Bataria de Artilharia Contra Aeronaves 9,4 cm;
- Bataria de Artilharia Contra Aeronaves 4 cm;
- Bataria de Referenciação;
- 2.ª Companhia de Sapadores Mineiros do Regimento de Engenharia 2;

Apoiavam estas unidades as formações dos serviços militares seguintes:
- Parque de Engenharia;
- Tribunal Militar;
- Hospital Militar Principal de Cabo Verde;
- Depósito de Subsistência e Material;
- Laboratório de Análise de Águas;
- Depósito Sanitário;
- Secção de Padaria.

O conceito de defesa da ilha de S. Vicente consistia essencialmente numa sólida ocupação e, em caso de emergência, manter a posse a todo o custo das regiões de João Ribeiro e de Morro Branco e a cidade do Mindelo. Para tal, 2 batalhões ocupavam posições de defesa e 1 batalhão, reduzido, encontrava-se em posição de reserva. (...)


(...) As razões de ordem sentimental prendem-se, como referi em post anterior, com o facto de o Batalhão de Infantaria 15 (BI 15) ter sido mobilizado para a minha ilha natal (S. Vicente) precisamente pelo Regimento de Infantaria 15 (RI 15), onde servi largos anos da minha vida. E o sentimento reforça-se com o facto de eu residir em Tomar, sede daquele regimento, e cidade onde viveram e conheci muitos militares expedicionários e entre eles um oficial (capitão) que marcou indelevelmente a memória do povo do Mindelo, como terei oportunidade de vir a relatar. (...) 

Ver ainda:


1 de novembro de 2012 > [0274] Adriano Miranda Lima: Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde, no período da Segunda Guerra Mundial:6 - A actividade militar e as suas múltiplas contingências (2.ª parte)



E ainda:

20 de março de 2014 >  [0782]  Adriano Miranda Lima: Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde, no período da Segunda Guerra Mundial:  Convivência entre militares e população civil

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16047: Historiografia da presença portuguesa em África (71): Com as duas grandes crises demográficas, provocadas pela seca e a fome, de 1941-43, e de 1947-1949, Cabo Verde perdeu cerca de 1/4 da sua população (que baixa de 181 mil em 1940, para c. 139 mil em 1949)



 
MEDINA, Lia - Evolução demográfica da Ilha de São Vicente: do descobrimento a 1950 [Em linha]. Lisboa: ISCTE, 2009. Dissertação de mestrado. [Consult. 2 de maio de 2016] Disponível em www:.




Excerto, com a devida vénia, das pp. 20-21. Informação adicional poste P16045 (*). 

Lia Medina pertence à nossa Tabanca Grande desde 27/972009. É cabo-verdiana, filha de mãe portuguesa, socióloga, e professora do ensino superior no Mindelo. Ainda não lhe tínhamos dado os parabéns pela conclusão do mestrado em Demografia e Sociologia da População, pelo ISCTE-IUL, Instituto Universitário de Lisboa. Aproveitamos também para saudar o nosso grã-tabanqueiro Adriano Lima, cor inf ref,  que se tem interessado pela historiografia das tropas expedicionárias portuguesas em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial.



Foto nº 1


Foto nº 2

Cabo Verde >Ilha de São Vicente > 2006 > Ponta João Ribeiro >  Restos da baterias de artilharia de costa que, a par da instalada no Morro Branco, defendia o Mindelo, de acordo com o Plano de Defesa do Porto Grande de S. Vicente, ao tempo da II Guerra Mundial (**). A Ponta João Ribeiro fica hoje a 3 km da cidade do Mindelo, na parte da ilha, dividindo o canal de São Vicente e a Baía do Porto Grande  (Foto nº 1). Em frente, a menos de 1km, situa-se o ilhéu dos Pássaros (Foto nº 2).

Fotos: © Lia Medina (2009) / Blogue Luís Graça & Caranaras da Guine. Todos os direitos reservados

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16045: Historiografia da presença portuguesa em África (70): Vozes do império que não chegavam ao céu: António de Almeida, antropólogo e deputado à Assembelia Nacional: intervenção, antes da ordem do dia, por mor de Cabo Verde, em 24 de fevereiro de 1944

quinta-feira, 6 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12800: Blogoterapia (250): Assim, com muita honra, sou um "tabanqueiro", e só tenho pena de a falta de tempo me impedir de participar com mais assiduidade (Adriano Lima, Cor Inf Ref)

1. Mensagem do nosso tertuliano e camarada Adriano Miranda Lima (Cor Inf Ref, que cumpriu as suas comissões de serviço em Angola e Moçambique), chegada hoje, 6 de Março de 2014, ao nosso Blogue, a propósito do trabalho de Pedro Rosa Mendes: "Guiné-Bissau: Respostas de paz à impunidade e exclusão", que fizemos circular pela tertúlia:

Meus caros:

Sou membro de um blogue (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/) de ex-militares de unidades militares portuguesas que serviram na Guiné durante a guerra colonial. Os membros do blogue, na sua maioria esmagadora cidadãos que cumpriram o serviço militar obrigatório, são designados por "tabanqueiros", termo que advém da tabanca guineense. Embora eu não tenha prestado serviço na Guiné, o editor do blogue e seus colaborantes tiveram a gentileza de me aceitarem como tabanqueiro, pela circunstância de me ter cruzado acidentalmente com eles por ocasião de uma pesquisa que efectuei no espaço cibernético. Assim, com muita honra, sou um "tabanqueiro", e só tenho pena de a falta de tempo me impedir de participar com mais assiduidade.

É um blogue muito participado e com actividade bastante meritória. Esses antigos ex-militares, não obstante as circunstâncias em que conheceram e viveram na Guiné durante 2 anos das suas vidas, ficaram tão emocionalmente ligados àquela terra que quase se pode dizer que têm nela uma segunda pátria, ou uma pátria adoptiva. O facto de terem andado de armas na mão contra um "inimigo" declarado pelo poder político de então não lhes obscureceu a consciência nem os impediu de separar o trigo do joio. Tanto que, passados mais de 40 anos, continuam a amar aquela terra e as suas gentes. São frequentes as viagens para matar as saudades da Guiné e recordar tempos que bem prefeririam ter sido de paz e concórdia entre todos. E é por isso que não faltam também gestos e iniciativas de solidariedade, individuais ou colectivas, para com as gentes da Guiné, testemunho sincero de laços emocionais que o tempo não apaga. Creio que isto é uma marca distintiva do coração português.

De entre as actividades correntes do blogue, releva-se a divulgação de factos, notícias e publicações sobre a vida daquele país, cujas vicissitudes por que tem passado são acompanhadas com o coração compungido, tal o anseio de ver aquela terra enveredar por um rumo diferente, como bem merecem as suas amáveis e pacíficas gentes.

Este intróito serve para vos enviar um trabalho sobre a Guiné-Bissau da autoria de Pedro Rosa Mendes, divulgado pelo blogue. Leiam quando tiverem oportunidade e reencaminhem se bem o entenderem.

Um abraço
Adriano


2. Comentário do editor CV:

Os nossos leitores vão perdoar-nos esta descarada imodéstia, mas não podíamos deixar de publicar esta mensagem do nosso camarada e amigo Adriano Lima, Cor Inf Ref.
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12756: Blogoterapia (249): Reflexões sobre a vida e a morte (Juvenal Amado, Galomaro, 1971/74)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12504: Conto de Natal (18): "Uma Luz de Natal no alto do Monte", por Adriano Miranda Lima - Cor Inf Ref

1. Mensagem do nosso tertuliano e camarada Adriano Miranda Lima (Cor Inf Ref, que cumpriu as suas comissões de serviço em Angola e Moçambique), com data de 24 de Dezembro de 2013:

Amigo, agradeço e retribuo os votos natalícios e desejo a si e sua família, assim como a todos os tabanqueiros, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

Escrevi nesta quadra um conto de natal inspirando-me no imaginário cabo-verdiano (nasci em Cabo Verde) e situando a mensagem natalícia nas pessoas humildes que, embora a sua condição, sentem-na com a mesma intensidade que o comum das pessoas. E em alguns casos a autenticidade se reforça na simplicidade dos sentimentos.
Cabo Verde tem também raízes guineenses na génese da sua população, embora da miscigenação étnico-cultural e da religião predominantemente católica tenha resultado uma fisionomia identitária muito própria. E é por isso que entendo que o conto interessará aos amigos tabanqueiros.

Grande Abraço
Adriano Lima


Cabo Verde Safari - São Vicente – Foto de São Vicente, Cabo Verde
Foto de São Vicente - Cabo Verde. Com a devida vénia a TripAdvisor


UMA LUZ DE NATAL NO ALTO DO MONTE (1)

Conto de Natal, em homenagem à mulher anónima cabo-verdiana que ao longo dos tempos lutou arduamente para criar os seus filhos, e às vezes até netos, com honradez e dignidade

Nha Sabina, mulher de rija têmpera, tinha da vida uma experiência agridoce, na sua maneira peculiar de sofrer as agruras do quotidiano sem hipotecar todas as reservas do seu ânimo. Os seus cinquenta e cinco anos de idade ensinaram-lhe desde cedo que o poder da imaginação logra por vezes autênticos milagres no encontro de novos estímulos para a vida. Por vezes, bastava-lhe a simples contemplação das luzes que bruxuleiam à noite nos mastros das embarcações estrangeiras fundeadas na baía para logo sentir o palpitar do mundo que se abre para lá da imensidão líquida do oceano. E é quando lhe vêm à lembrança os filhos da terra que saíram para longe a bordo de vapores estrangeiros. Por onde andariam, que destino deram às suas vidas? Este e outros devaneios do género transformam-na, com frequência, em avatar da vida fervilhante das grandes cidades que uma ou outra vez viu estampadas em coloridos postais. Mas ela logo se devolve, satisfeita consigo própria e com o pouco que tem, à pobreza honrada do lugar em que exerce a soberania do seu viver. A sua pequena casa, modesta, fica naquela zona do Monte junto à Muralha (2), permitindo-lhe um convívio permanente com a visão do mar. Não se poderá dizer que a sua habitação seja um tugúrio porque ela sabe mantê-la caiada e asseada, digna na elementaridade do seu recheio, e até mesmo o seu quintalinho atrás, palco da sua labuta diária, é um primor na arrumação do fogão de carvão de pedra, do pilão e do tambor de água de Madeiral.

Este dia é véspera de Natal e seria mais um igual aos outros, não fosse o sonho que ela vinha acalentando e que graças ao seu Deus queria ver realizado logo à noite. Como sempre, levantara-se aos primeiros alvores da madrugada para pilar o milho destinado aos bindes de cuscuz que garantem o seu sustento, mais o do seu netinho Daniel de seis anos. Afora isso, concorrem também para o seu magro orçamento familiar os pastéis de milho e peixe com malagueta que fornece à mercearia de nho Ventura. Este, que aprecia o seu cuscuz, costuma exclamar mal ela franqueia a porta da mercearia segurando o recipiente com a ainda fumegante iguaria: "Sabina, o aroma do teu cuscuz lembra-me sempre um campo de milho em flor". Esse piropo deixa-a feliz e satisfeita com o que faz.

Foi precisamente numa prateleira daquela mercearia que o sonho de Sabina começou a ganhar forma. Há muito que desejava ver-se livre daquela lamparina que mal lhe alumiava a casa à noite. Pensava ela: “isto é coisa com fraco jeito, fumega exalando um cheiro que já não suporto, e ainda por cima não me dá aquela luz que entra pela alma dentro".

E por isso aquele candeeiro de vidro brilhante como cristal, exposto no estabelecimento de nho Ventura, desafiou-a durante os últimos dois meses. Mulher de imaginação viva, seduzia-se com as figurinhas gravadas a estilete de aço no vidro do candeeiro, que no seu entender só podiam ser obra de mão carinhosa.

E foi assim que começara desde há algum tempo a amealhar um escudo hoje, outro amanhã, e por vezes valores mais avultados quando o dia lhe corria de melhor feição. Arranjara uma antiga lata de conserva com uma ranhura e dela fez o cofre que haveria de realizar o milagre do seu sonho natalício da noite. Mas não seria só isso. A Sabina queria dar um “bedje” (3) de Natal ao seu Danielim, o neto cuja mãe a morte levou a seguir ao parto. Mãe solteira que foi da sua saudosa filha, passou a sê-lo também do seu netinho, com um desvelo extremo, prometendo criar e fazer dele um homem de bem, com a ajuda de Deus e do seu trabalho honesto.

O Danielim, de seis anos de idade, vinha, pois, olhando embevecido, desde há tempos, para os carrinhos de arame que saíam das mãos habilidosas de nho Sarafe Funileiro. Com formato de automóvel ou de camioneta, aqueles carrinhos eram um deslumbre para a meninada e até os mais velhos se quedavam a admirar a perfeição da sua construção. Reduzidos a arame vulgar, de espessura variável com a natureza de cada um dos seus componentes, pareciam quase transparentes na sua vaga substância material, e a funcionalidade das suas rodas de uma circunferência precisa, com o respectivo mecanismo articulado de direcção, emprestava ao brinquedo a aparência de um estranho e enorme insecto animado. Pois, o Danielim ia ter logo à noite um “bedje” de Natal que ia regalá-lo...

Quando o Sol se pôs, a Sabina já estava em casa a esfregar as mãos de contente por ter realizado um dia de venda lucrosa. Compôs a sua mesa com especial esmero e nela dispôs os ingredientes da ceia natalícia, não coisa de gente rica, mas algo sempre melhor e mais composto do que no comum dos dias. Depois, quando já escurecia, foi buscar o candeeiro dias antes comprado a nho Ventura, seu “bedje” de Natal. Atestou-o de petróleo, aguardou que a torcida se embebesse do combustível, nivelou-a o suficiente, riscou um fósforo e chegou-lhe a chama. O compartimento foi subitamente inundado de uma luminosidade nunca antes vista na sua casa de único compartimento. Ela elevou a torcida ainda um pouco mais, na ânsia de atingir o máximo da incandescência, e de repente todo o interior da habitação pareceu ganhar tons caleidoscópicos, realçando-se os pormenores antes ocultados pela luz baça da antiga lamparina. Convidou a sua amiga e vizinha Josefa, viúva e a viver só, para a ceia. E a Josefa teve logo este espontâneo desabafo, mal entrou: “Sabina, isto hoje está outra coisa, mulher. É como se a luz deste candeeiro lavasse e renovasse tudo, incluindo os nossos corações”. A Sabina não coube em si de contente com o reparo da sua amiga.

Cearam e conversaram longamente sobre o seu passado de raparigas novas, relembrando a dureza da vida de “mulher fêmea” em Cabo Verde, com as suas artimanhas e traições, mas também com as ilusões que se douram e renovam com a luz do sol nascente de cada dia. A cumplicidade entre a duas mulheres prosseguiu noite dentro até que o Danielim começou a dar sinais de sono. Foi quando a Sabina lhe fez a surpresa com o seu “bedje” de Natal, que o petiz não esperava dado o sigilo bem guardado. O menino deu um pulo de satisfação e fez-se logo chofer exímio da sua viatura, pois já se tinha habilitado com carta de condução mediante a simples observação do que vira fazer a um outro menino dono de idêntico produto saído das mãos de nho Sarafo. Começou a rodar o volante em curvas e mais curvas no chão da habitação, buzinando vez por outra: aguuuga, aguuuga. Radiante com a felicidade do seu neto, a Sabina a esmo foi observando as curvas que o brinquedo ia delineando nas suas mãos, umas mais largas e outras mais apertadas. E então comentou para a Josefa: “Vê tu, amiga, que a vida das pessoas é feita de curvas e mais curvas, como as que faz este carrinho de arame; tanto vale ser pobre ou rico, que a vida é, assim mesmo, feita de curvas, mas convenhamos que as do pobre são as que riscam mais fundo e deixam marcas inapagáveis”. A Josefa concordou, conhecedora das divagações do espírito da sua amiga, que muitas vezes não conseguia decifrar.

Horas depois, o Danielim já dormia o sono da inocência e a sua amiga se tinha despedido. Lá fora silenciaram-se finalmente os ruídos da noite festiva, sempre mais pródiga de eflúvios do que o normal, mas para os lados da Praça Estrela ainda se ouvia estalejar um ou outro foguete natalício. Sabina ficou acordada mais algum tempo, sozinha com os seus pensamentos, inalando sofregamente a luz do seu novo candeeiro, sentindo um renovo de alma, como que banhada por outra luz, a luz divina.

Tomar, Dezembro de 2013
Adriano Miranda Lima

(1) - A palavra Monte reveste aqui um duplo significado, simultâneamente real e metafórico. É que, para quem não saiba, Monte era, ao tempo recuado em que se quer situar este conto, um bairro periférico e pobre do Mindelo, e a designação se deve ao facto de ser uma zona de cota alta relativamente ao núcleo original da cidade.
(2) - Muralha foi o nome por que ficou conhecida a parte do lugar do Monte separada das antigas instalações da Companhia Miller’s por uma encosta alta e abrupta cuja consolidação foi solucionada com a construção de uma enorme parede.
(3) - “Bedje” é o termo em crioulo de S. Vicente com o significado de prenda.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de Dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12500: Conto de Natal (17): O Natal em Brunhoso, Mogadouro

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10793: Meu pai, meu velho, meu camarada (35b): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte II(Adriano Miranda Lima)



Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Setembro de 1944 > Baptista de Sousa recebendo o diploma do iate Morabeza. Foto cedida por Valdemar Pereira




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Setembro de 1944 > Baptista de Sousa no hospital civil de S. Vicente. Foto cedida por Valdemar Pereira.


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Setembro de 1944 > Entrega solene do iate Morabeza a Baptista de Sousa. Foto cedida por Valdemar Pereira




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Setembro de 1944 > Baptista de Sousa fundeando o Morabeza frente à Praia de Bote. Foto cedida por Valdemar Pereira.



1. Segunda (e última) parte do texto do nosso grã-tabanqueiro Adriano Lima, natural de Mindelo, São Vicente, cor inf na reforma, residente em Tomar  [, foto à direita] (*):

Dr. José Baptista de Sousa, um “anjo di céu” que pousou em S. Vicente 

Texto: Adriano Miranda Lima [, foto à esquerda]
Fotos: Valdemar Ferreira


(Continuação)

Mas o apreço pelo médico não resultou só do seu exercício profissional e da sua bondade. Suscitou admiração pública a sua coragem cívica e moral quando recusou escrever em atestados de óbito que a causa de muitas mortes não era outra senão a fome que desgraçadamente assolava as nossas ilhas, contrariando o que as autoridades oficiais do Regime impunham aos profissionais da Saúde sobre o assunto. Ao proceder desse modo, Baptista de Sousa agia apenas em conformidade com a sua consciência de homem e com os valores morais que estribam a ética e a deontologia da sua profissão, certamente indiferente às consequências em que poderia incorrer na sua carreira militar, e mesmo ao juízo que os seus pares mais conservadores ou timoratos poderiam fazer sobre o seu gesto desassombrado.

Mas não foi meramente circunstancial a atitude do médico. Ele era efectivamente um homem de espírito livre e dotado de vincada consciência política, como aliás viria a demonstrar em etapas futuras da sua vida. Como era de prever, a sua atitude de rebeldia contra a inverdade e a iniquidade viria a trazer-lhe alguns custos pessoais e atinentes à evolução justa da sua carreira militar. Excederia o âmbito desta narrativa fundamentar exaustivamente tudo o que pesquisei no âmbito do seu processo militar. É verdade que o juízo de quem analisa o conteúdo da sua folha de serviços funda-se mais na omissão do que na explicitude, busca-se mais nas entrelinhas do que na factologia do registo formal. É que no antigo regime havia formas dissimuladas de exercer a retaliação sobre alguém em termos profissionais, havendo o cuidado de minimizar a sua percepção exterior quando esse alguém era figura socialmente prestigiada.

No entanto, convém dizer não me parece que haja razões para pensar que a hierarquia militar local, na pessoa do Brigadeiro Comandante das Forças Expedicionárias, Augusto Martins Nogueira Soares, olhasse de soslaio para o êxito social do seu subordinado ou lhe retirasse apoio moral por qualquer razão. Os factos demonstram o contrário. O Brigadeiro atribuiu ao seu médico um muito expressivo louvor, que se pode considerar em perfeita sintonia com as homenagens que a sociedade civil lhe prestou:

“Louvo o capitão médico José Baptista de Sousa pela excepcional qualidade dos serviços prestados durante o período em que desempenhou o cargo de Chefe dos Serviços Cirúrgicos das Forças Expedicionárias de Cabo Verde. Como cirurgião muito hábil, permitiu a recuperação de muitos militares em situações desesperadas, e alguns lhe ficaram devendo seguramente a vida. Sempre pronto e solícito para todos, quer militares quer civis, a sua competência e a afabilidade do seu trato fizeram-no apreciar e estimar e o tornaram um elemento de valor no estreitamento das relações entre as Forças Expedicionárias e a população de Cabo Verde, que por várias maneiras lhe expressou a sua gratidão pelos valiosos e desinteressados serviços, em manifestações partidas de todas as classes sociais e das entidades oficiais da Colónia, dando assim um valioso exemplo no cumprimento dos seus deveres cívicos e militares.”

Além disso, veja-se, como é patente na fotografia [, à direita], que o Brigadeiro Comandante lidera a comitiva de despedida do seu subordinado, ladeando-o e acompanhando-o até ao cais da despedida, o que não é procedimento habitual numa Instituição que se pauta por rigidez protocolar. No rosto do Brigadeiro ia certamente estampada uma expressão de orgulho e satisfação por um oficial que prestigiara o Exército e a Nação com a sua conduta humana e profissional.

Mas o mesmo creio não poder dizer-se do Governador da Colónia, que, no âmbito das suas funções, não reconheceu pública e formalmente os serviços do médico, o que só poderia ter sido vertido em louvor oficial. E ele tinha sobejas razões para o fazer relativamente a um médico que pôs a sua ciência e o seu bisturi ao serviço dos hospitais civis, salvando muitas vidas. É caso para se dizer que a carta de alforria do Governador se prendia a uma lógica diferente da que pauta a Instituição Militar, sobretudo quando esta é servida por homens que sabem o que é a honra, a coragem, a lealdade e a camaradagem. Parece ter sido o caso do Brigadeiro Nogueira Soares, Comandante das Forças Expedicionárias.

Mas o que é realmente extraordinário é a expressividade das homenagens e manifestações de carinho que a sociedade civil mindelense prodigalizou a Baptista de Sousa. Se o louvor militar tem o valor formal que tem, maior é louvor que ele deve ter auscultado, sem precisar de estetoscópio, no coração do povo do Mindelo. Inúmeras homenagens públicas tinham sido dias antes da sua partida prestadas ao doutor Baptista de Sousa pela sociedade mindelense, quer por entidades oficiais quer privadas, como bem refere no seu louvor o Brigadeiro Nogueira Soares. Uma delas, de entre várias, mas esta de grande simbolismo, é a morna “Engenheiro Humano”, com música e letra de Jorge Monteiro, morna que continua a ser ouvida com emoção nos dias de hoje. [Vd. aqui, no You Tube, essa linda morna, na interpretação de Gardénia: Engenheiro Humano, Baptista Sousa]

 Outra homenagem foi a oferta de um pequeno iate ao Dr. Baptista de Sousa, construído nos estaleiros de S. Vicente, iate a que se deu o nome de “Morabeza”, custeado por subscrição pública na cidade, por iniciativa do conhecido industrial Manuel de Matos, dono da Fábrica Favorita. Todo o povo da cidade, rico, remediado ou pobre, contribuiu com pouco que fosse, mas a parte leonina do custo coube àquele industrial. Valdemar Pereira, para ilustrar a veemência do sentimento popular, refere que o seu tio Jom Bintim lhe contou que uma mulher do povo que cosia sacos ao pé da Alfândega teve estas significativas palavras: “cirê ta custá-me 3 testom; ma pa iate de senhor dator um ta dá 10.000 reis” (3).

Contou-me um tio meu que, no acto solene da entrega do iate, o doutor Adriano Duarte Silva, deputado por Cabo Verde, encerrou com estas exactas palavras a prelecção que proferiu: “…Quando estiverdes a velejar no Tejo, no Estoril ou em Cascais, Morabeza (nome do iate) vos fará lembrar este povo altaneiro que sabe amar e compreender aqueles que o amam e compreendem."

Mas os caminhos de um regime político ditatorial não coincidem com as veredas do coração humano. Infelizmente, Baptista de Sousa viria a sofrer as consequências de ter pisado o risco vermelho ao escrever nas certidões de óbito que a causa de algumas mortes em Cabo Verde era a fome. Viria a verificar-se, com efeito, uma sucessão de episódios futuros elucidativos do revanchismo institucional exercido sobre o médico, visando prejudicar ou no mínimo restringir as condições em que poderia dar uma expressão alargada à sua actividade profissional.

Por exemplo, em vez de ser colocado no Hospital Militar Principal, como pediu depois da missão em Cabo Verde, o que era mais que justo e oportuno, foi colocado no Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional Republicana, situação mais compatível com o desempenho de um médico de clínica geral do que o de um reputado cirurgião, aí permanecendo quase um ano. É bem possível que Baptista de Sousa, fora do horário militar, tenha exercido cirurgia nos hospitais civis, para manter elevados os seus níveis de proficiência técnica.

Deixa de prestar serviço na Guarda Nacional Republicana em 1945, e a partir daí e até Março de 1947 é colocado no Hospital Militar Regional nº 3, em Tomar, e logo a seguir no Hospital Militar Regional nº 2, em Coimbra. Não se pode deixar de olhar com desconfiança para a sua colocação em hospitais militares regionais, órgãos do serviço de saúde militar onde não se realizam intervenções cirúrgicas importantes, estas só cabendo ao Hospital Militar Principal, para além do facto de essa situação o ter deixado fora da sua área de residência, Lisboa, onde naturalmente melhor se conjugavam os seus interesses de ordem profissional e académica.

É evidente que qualquer oficial médico, no posto de capitão, estava e está sujeito a colocações em qualquer estabelecimento do Serviço de Saúde Militar, e Baptista de Sousa não podia ser excepção. Contudo, estamos a falar de um cirurgião de alta craveira técnica e académica cujo mérito era unanimemente reconhecido. E note-se que o quadro permanente de oficiais médicos do Exército comportava nessa época 65 capitães e 32 tenentes, havendo assim razão para estranhar que um cirurgião como ele tenha sido objecto daquelas colocações, ainda mais depois de regressar de uma colónia onde honrou como ninguém a profissão médica e a instituição militar.

Como se não bastasse, mal refeito do que iniludivelmente fora uma tentativa de o prejudicar, Baptista de Sousa é “requisitado” para a longínqua Índia, para onde embarcou em 1947, destinado à Escola Médico-Cirúrgica de Goa.

Se, durante a minha pesquisa, alguma reserva intelectual poderia ter contido a extravasão da minha conclusão sobre a vitimização política do médico, ela desfez-se completamente quando, no fim do meu trabalho, a família do médico me confessou que ele era efectivamente um opositor declarado ao antigo Regime e, nessa condição, alvo de vigilância da PIDE, que não se desarmava de o procurar apanhar em flagrante em situação comprometedora. Disseram-me os familiares que nunca o conseguiram, pelo que a única possibilidade que se lhes oferecia era prejudicar veladamente a actividade e a ascensão normal da sua carreira. Daí que a nomeação para a Índia o tenha deixado transtornado não só por injustificável à luz das regras normais de nomeação de pessoal militar como por ter sido inoportuna e altamente prejudicial aos planos profissionais que tinha em mente.

Contudo, não se pode deixar de assinalar que na Índia Baptista de Sousa foi alvo de uma idolatria idêntica à que conheceu em S. Vicente. Baptista de Sousa viu os seus serviços na Índia altamente reconhecidos pelas instâncias governamentais e pela sociedade civil. Por portaria de 27 de Abril de 1950, é louvado pelo Governador-Geral do Estado da Índia, nos seguintes termos:

“ (...) Pelos relevantes serviços prestados neste Estado, pela muita competência, elevada dedicação e extremo interesse demonstrados no cumprimento dos seus deveres profissionais, honrando e prestigiando a ciência nacional e bem merecendo a gratidão de todos pela sua abnegação, sempre animada de sentimentos de bem servir, pelo que considero distintos os serviços prestados neste Estado pelo capitão médico Baptista de Sousa”.

As autoridades públicas e o povo da Índia, que o homenagearam de várias maneiras, moveram todos os esforços para evitar ou adiar a sua saída, mas Baptista de Sousa era natural de Lisboa, onde tinha a sua família, e por certo alimentava a expectativa de retomar a normalidade da sua carreira. Mas mais uma vez lhe deve ter calado fundo o reconhecimento e o apreço da sociedade civil pelo seu valor profissional e pela sua humanidade, dessa vez numa outra paragem do Império.

Só a partir de 1951 Baptista de Sousa é finalmente colocado no Hospital Militar Principal, onde se manteria até 1961. Durante esse período, frequentou o Curso de Promoção a Oficial Superior e mais tarde o de Comando e Direcção (destinado a promoção a oficial general), sendo promovido sucessivamente a major, tenente-coronel e coronel, preenchendo as vagas normais da carreira.

Enquanto tenente-coronel é nomeado subdirector desse Hospital. Promovido a coronel, seria previsível que um oficial do seu valor fosse nomeado director, mas tal não aconteceu, pelo que deixa o Hospital à data da sua promoção, em 1961, para ser colocado, para efeitos administrativos, no Conselho Fiscal dos Estabelecimentos Fabris do Exército, onde ocupa o cargo de vogal, embora continue a operar no Hospital Militar Principal. Refira-se que no Hospital Militar Principal ocupou, enquanto ali colocado, o cargo de Chefe da Clínica Cirúrgica, do mesmo passo que na vertente civil da sua vida profissional foi Chefe da Clínica Cirúrgica do Instituto de Oncologia Português [, IPO].

Baptista de Sousa passa à reserva em 1963, por motivos de saúde. Mas se estes eram formalmente impeditivos para efeitos militares não o eram para o exercício normal da sua função de cirurgião, pelo que continua a exercê-la tanto no Hospital Militar Principal como no Instituto Português de Oncologia.

A situação mais estabilizada conseguida pelo oficial médico a partir de 1951, uma vez colocado no Hospital Militar Principal, pode ter duas explicações plausíveis. Uma, é o pressuposto de que pagara o preço da sua afronta ao Regime, depois de passar por uma fase atribulada em que conheceu a instabilidade profissional e familiar. Outra, é a circunstância de que a partir do posto de major, ou mesmo de capitão antigo, se tornava problemática, se não mesmo impraticável, à luz dos quadros orgânicos, a sua colocação em outro órgão do Serviço de Saúde que não fosse o Hospital Militar Principal.

É durante o referido período que é louvado pelo Director do Serviço de Saúde (duas vezes) e pelo Director do Hospital Militar Principal. Além de ter sido condecorado com as medalhas de Mérito Militar de 3ª e 2ª classes (rotina normal no Exército), recebeu também a condecoração da Ordem Militar de Avis, esta no posto de tenente-coronel.

A partir de 1964, estando na reserva, Baptista de Sousa foi proposto e aceitou ser nomeado Consultor de Cirurgia da Direcção do Serviço de Saúde Militar, “em virtude de se tratar de um distinto oficial e cirurgião de grande categoria, e nesta qualidade apoiar o serviço de cirurgia do Hospital Militar Principal com os seus pareceres e eventualmente com a execução de intervenções cirúrgicas.”

O “Registo de Alterações” da vida militar do coronel Baptista de Sousa encerra em 1961, data em que deixa o serviço activo, e só reabre em 1967. Mas reabre, infelizmente, para logo encerrar em definitivo, pois é apenas para registar o seu óbito, ocorrido no seu domicílio, num domingo, dia 3 de Novembro do ano de 1967. Foi uma morte já aguardada porque passara ultimamente a padecer de uma doença que evoluía irreversivelmente, sem deixar qualquer réstia de esperança, como vim a saber, através das suas filhas, já depois de concluído este texto. Assim, súbita e friamente, diz-nos o documento oficial que o nosso “Engenheiro Humano” deixou a vida em 1967, aos 63 anos. A última página da sua vida foi virada, mas a vida de um justo é um livro sempre aberto e para lá do tempo. Santo Agostinho disse: “se semeias o amor em ti, só amor serão os frutos”. Por isso, Baptista de Sousa é um livro nunca encerrado, um livro onde devemos colher os frutos da semente que ele semeou.

No entanto, Baptista de Sousa não atingiu um mais alto patamar na vida militar porque era adverso ao Regime político então vigente. Seria perfeitamente normal que um oficial médico da sua categoria tivesse tido o cargo de director do Hospital Militar Principal e, em seguida, alcançado o posto mais alto na orgânica do Serviço de Saúde, o de brigadeiro. E faltou conceder-lhe no fim da carreira a condecoração com a medalha dos Serviços Distintos, como receberam outros oficiais contemporâneos, porventura mais fiéis ao Regime mas certamente menos qualificados que Baptista de Sousa.

A minha tese correu o risco de ser infundada por presumir propósitos deliberados onde apenas poderia haver simples coincidências administrativas, visto que apenas me limitei a analisar documentos oficiais, lendo nas entrelinhas. Mas o problema é que as coincidências me pareciam tão nítidas e tão incómodas que não resistiam à luz soalheira da transparência. E o meu instinto também me dizia que eu estava centrado no trilho da verdade. Porém, a dúvida só se manteve até ouvir directamente das filhas e genros de Baptista de Sousa a confirmação das suas convicções ideológicas e da sua animosidade ao antigo Regime.

O nosso “Engenheiro Humano”, o ser espiritual, uno e indivisível, é que está acima das conjecturas e especulações de quem, como eu, resolveu desenterrar da poeira dos arquivos o registo das coisas efémeras. Agora tudo repousa na memória e esta, felizmente, tem registos indeléveis. A “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira” regista para a posteridade a notável figura do homem da ciência médica.




Cabo Verde > Hospital Baptista de Sousa em Mindelo, S. Vicente. Foto colhida na Net.


O “Hospital Baptista de Sousa”, inaugurado em S. Vicente pelo governo de Cabo Verde independente, é uma justa homenagem do povo cabo-verdiano, ligando-o para todo o sempre ao lugar onde salvou muitas vidas humanas. A morna “Engenheiro Humano”, singela expressão poética da gratidão cabo-verdiana, estou crente de que jamais sairá do nosso repertório musical e com ela a sua memória permanecerá sempre viva na população do Mindelo. E, por último, refira-se a rua com o seu nome, a rua José Baptista de Sousa, situada entre a rua Professor Santos Lucas e a avenida do Uruguaio, em Lisboa. Uma justiça que foi feita, segundo penso, pela toponímia portuguesa depois do 25 de Abril de 1974. A toponímia da liberdade.

Tomar, 30 de Novembro de 2012

Adriano Miranda Lima

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 Nota de AML:

(3) "O cirê [espécie de tabaco para introduzir na boca]  custa-me 3 tostões, mas para o iate do senhor Doutor dou 10 mil réis."

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10790: Meu pai, meu velho, meu camarada (35a): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte I (Adriano Miranda Lima)



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Foto nº 6 > Comemoração do dia do exército, 14 de Agosto de 1942. Foto: Melo. [Vê-se ao fundo o Ilhéu dos Pássaros e, à direita, a Ponta João Ribeirro; foto do álbum do pai do nosso camarada Hélder Sousa, 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, expedicionário: nasceu em 1921 e morreu em 2001; esteve em São Vicente, em 1943/44, foi portanto contemporâneo do cap cirurgião-médico José Baptista que esteve no Mindelo,  de fevereiro de 1942 a setembro de 1944].

Foto: © Hélder Sousa (2009). Todos os direitos reservados. 


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Adriano Lima, com data de 2 do corrente:

Meus caros familiares, amigos, conhecidos, e correspondentes.

Em anexo, envio-vos um texto sobre o Dr. Baptista de Sousa e explico o porquê deste meu gesto. Todo o meu tempo de menino e moço em S. Vicente, sempre ouvi falar do Dr. Baptista de Sousa mas sem chegar a saber ao certo de quem se tratava. Nem mesmo o vir a saber o seu nome atribuído mais tarde, no pós-independência, ao novo Hospital Civil de S. Vicente espicaçou a minha curiosidade, mas neste caso talvez justificável por eu não viver em Cabo Verde.

Só há meia dúzia de anos, por intermédio da blogosfera e por iniciativa pessoal do meu amigo Valdemar Pereira, fiquei finalmente a conhecer a identidade do médico e o amor imenso que o povo do Mindelo tinha por ele. E como fiquei a saber que afinal ele era ao tempo um oficial médico (capitão) integrado nas Forças Expedicionárias a Cabo Verde durante a II Guerra Guerra Mundial (1941-1945), a curiosidade levou-me a efectuar uma pesquisa no Arquivo Histórico-Militar para obter o máximo possível de dados sobre o seu percurso profissional. E assim aconteceu, tendo elaborado um texto de cerca de 30 páginas, do qual colhi material para, a convite, fazer uma palestra sobre esta figura da medicina e do exército na "Associação de Antigos Alunos do Liceu Gil Eanes", em Lisboa, há para aí uns 6 anos.

Actualmente, tenho vindo a publicar num blogue designado Praia de Bote um conjunto de textos sequenciais e temáticos sobre o historial das Forças Expedicionárias a Cabo Verde. Chegou a altura, mais que propositada e oportuna, de, nesse âmbito, publicar naquele blogue um texto contendo uma síntese biográfica sobre o Dr. Baptista de Sousa (também ele um militar expedicionário), que em particular foca a sua acção em Cabo Verde (S. Vicente). É este mesmo texto que vos estou a enviar (em versão pdf e em versão word, para quem tiver dificuldade em abrir o primeiro). [Já publicado no dia 3 do corrente, no blogue Praia de Bote].

Devo dizer-vos que o que eu escrevi talvez venha a surpreender o leitor, tal como me surpreendi, porque não o esperava, face à constatação de que o Dr. Baptista de Sousa, além de distinto oficial médico, de cirurgião de alta craveira e grande humanista, era dotado de vincada consciência política, e implicitamente de verticalidade ético-moral, o que lhe causou transtornos na sua carreira militar. De notar que em Cabo Verde (S. Vicente) mostrou desassombradamente essa faceta, estribada no seu elevado sentido de deontologia profissional, ao recusar escrever nas certidões de óbito que a causa de muitas mortes não era outra senão a fome que grassava nas ilhas. Foi a partir daí que o antigo Regime político encontrou razões para começar a urdir um estratagema para lhe criar entraves na carreira militar, com inevitáveis consequências na sua actividade como médico cirurgião.

Contudo, o que mais impressiona no texto é a expressividade do carinho que o povo do Mindelo lhe dedicava, que atinge o auge na incontida emoção vivida na cidade no dia da sua partida para Lisboa. Procuro dar uma ideia disso no meu texto, por vários testemunhos recolhidos.

Leiam porque vale a pena. E, já agora, vão ao blogue Praia de Bote ,  quando sair o post referente a este texto, e deixem lá o testemunho da vossa própria emoção e o sentido da vossa gratidão a um Homem que tanto bem fez à nossa gente.

Faleceu em 1967, aos 63 anos de idade, em Lisboa [, com o posto de coronel]. Os crentes do Racionalismo Cristão em S. Vicente dizem que ele pertence ao Astral Superior e aí preside, mas isso já é assunto de um domínio que me ultrapassa. Mas seguramente que ele foi, sim, uma Grande Alma, de uma dimensão incomensurável, quase sobrenatural.

Um abraço
Adriano Miranda Lima

Nota do editor - No nosso blogue,  Luís Graça & Camaradas, este texto será publicado em duas partes. Ele é também uma homenagem à geração dos nossos pais que, em Cabo Verde e noutros do império, estiveram em missão de soberania durante a II Guerra Mundial. (LG).-
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Dr. José Baptista de Sousa, um “anjo di céu” que pousou em S. Vicente

Texto: Adriano Miranda Lima [, foto à esquerda]

Fotos: Valdemar Ferreira [, foto à direita,  a seguir]

Nos meus tempos de menino e moço, o nome do Dr. Baptista de Sousa era volta e meia aflorado em conversas dos mais velhos, tido como um “anjo di céu” que um dia pousara em S. Vicente. Mas nunca cheguei a saber ao certo de quem se tratava, nem sequer cuidando-me de indagar algo de concreto sobre a sua identidade. Dezenas de anos decorridos, e já no pós-independência, viria a saber que o novo hospital de S. Vicente recebeu o nome médico, mas nem isso espicaçou a minha curiosidade sobre os pormenores da sua identidade, ficando no entanto sensibilizado por ver assim consagrada a memória de alguém verdadeiramente querido na nossa terra.


Dr. Baptista de Sousa, com a bata branca de serviço. Foto colhida na net. Só há meia dúzia de anos, com a fruição da blogosfera, eu viria a saber quem era afinal esse personagem do mundo da medicina. Tudo se proporcionou através do blogue “Mindel na Coraçon”, editado por Jorge Martins e em que eu e outros conterrâneos participávamos desenterrando memórias e cruzando informações e opiniões. Chegou o dia em que veio a propósito o nome do médico. E então o conterrâneo Valdemar Pereira ], foto à direita], portador de uma fabulosa memória, não deixou os seus créditos por mãos alheias quando resolveu rebobinar a fita do tempo para recuperar factos relacionados com a passagem do Dr. Baptista de Sousa por S. Vicente, designadamente com a sua despedida em 1944. Tinha o Valdemar nesse tempo apenas 11 anos de idade, mas o que entretanto também ouviu dos mais velhos e guardou a sete chaves na memória consubstanciou uma importante informação, ainda por cima ilustrada com expressivas fotografias. E no-la trouxe, incólume e preciosa, para gáudio das gerações mais velhas, que revisitaram o acontecimento, e para grata surpresa das que lhe são posteriores.

Surpreendido, porque não o esperava, fiquei então a saber que Baptista de Sousa era médico militar, ao tempo capitão. Esta é que foi a minha maior surpresa, porque sempre o supus civil. Mas não, afinal Baptista de Sousa foi também um Militar Expedicionário, como outros já mencionados em episódios anteriores da minha narrativa sobre esta temática.

Justo é dizer que todos ficámos siderados com o relato feito por Valdemar sobre a homenagem que a população de S. Vicente prestou a essa figura da medicina à data do seu regresso à Metrópole, terminada a sua comissão de serviço integrado nas forças expedicionárias. A palavra do Valdemar foi de grande eloquência mas as imagens das fotografias do acontecimento por ele publicadas foram igualmente uma peça importante para se perceber o quanto era o médico idolatrado pelo povo de Mindelo. A ponto de se poder dizer que a emoção da despedida de Baptista de Sousa transborda-se das fotografias e tem o condão de tocar quem as observa.

Esclareço que, na sequência das revelações daquele blogue, decidi realizar uma pesquisa sobre a vida militar do Dr. Baptista de Sousa, recolhendo e trabalhando algum material que me permitiu, por sugestão do Valdemar e outros amigos, efectuar uma palestra sobre a sua biografia na Associação de Antigos Alunos de Liceu de Cabo Verde. Seria ocioso derramar aqui o conteúdo do que foram cerca de 30 páginas, mas aproveitarei algumas das suas passagens mais significativas para deixar aqui algo sobre o Homem que os cabo-verdianos nunca esqueceram, tanto que o seu nome está para sempre imortalizado na designação do novo hospital civil de S. Vicente.

José Baptista de Sousa ], foto à esquerda, retirada da Net  pelo autor do texto]:

(i) nasceu em 2 de Março de 1904 na freguesia de Camões, em Lisboa, filho de José Augusto de Sousa e de Victoria Alves Baptista de Sousa.

(ii) De 1922 a 1927, fez o curso de Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa;

(iii) De 1928 a 1929, frequentou com aproveitamento, no Hospital Militar Principal, o Curso Técnico de Oficiais Milicianos Médicos e a seguir concorreu ao Quadro Permanente de Oficiais Médicos, tendo sido promovido a alferes em 1929;

(iv) Foi em seguida colocado em unidades do Exército e, depois, na Guarda Nacional Republicana, onde serviu de 1936 a 1942, tendo entretanto sido promovido a tenente em 1930;

(v) De realçar que numa das unidades militares, ainda oficial subalterno, foi louvado “pelo zelo, competência e dedicação manifestados nos diferentes serviços para que foi nomeado”; entretanto, concorreu ao internato de Cirurgia dos Hospitais Civis de Lisboa e fez o concurso para cirurgião dos mesmos hospitais;

(vi) Foi igualmente assistente na Faculdade de Medicina de Lisboa, ao mesmo tempo que frequentava o internato de cirurgia nos Hospitais Civis de Lisboa, tudo isso em acumulação com as suas funções militares, o que demonstra uma firme disposição de alargar e diversificar as experiências e desafios da sua actividade médico-científica;

(vii) É quando prestava serviço na Guarda Nacional Republicana que, em 17 de Janeiro de 1942, é nomeado para integrar as Forças Expedicionárias a Cabo Verde;

(viii) Deste modo, embarca em Lisboa a 16 de Fevereiro de 1942, no vapor Guiné, com destino a S. Vicente de Cabo Verde, onde desembarca a 22 do mesmo mês;

(ix) É já em S. Vicente que é promovido ao posto de capitão médico.


Baptista de Sousa vai viver em S. Vicente talvez uma das fases mais marcantes da sua vida pessoal e profissional, durante a qual deve ter encontrado o verdadeiro significado da carreira que abraçou e a sublimação dos altos valores humanos que eram parte integrante do seu ser. Ele é o médico-cirurgião dos militares mas é-o também dos civis, movido pelo seu impulso natural de pôr a sua ciência médica indiscriminadamente ao serviço de quem dela precisava.

Seria por demais exaustivo enumerar as vidas que o Dr. Baptista de Sousa salvou e as malformações físicas (casos de pé boto) de civis que reabilitou com a sua técnica cirúrgica. Fez uso de intervenções terapêuticas até aí pouco utilizadas em Cabo Verde por falta de meios adequados ou mesmo por insuficiência de pessoal médico qualificado. Mas tudo fazia sem olhar a quem, fosse rico ou pobre, militar ou civil, demonstrando uma total disponibilidade e uma dedicação e humanidade sem limites. Era director do Hospital Militar Principal de Cabo Verde e tinha como adjunto o capitão médico Lisboa, outro que deixou boas recordações em S. Vicente.

A acção do Dr. Baptista de Sousa durante quase 3 anos de permanência em Cabo Verde granjeou-lhe o mais alto prestígio e consideração quer entre o contingente militar quer, sobretudo, entre a população civil. Para se ter uma ideia do que alguém significa para o seu próximo, nada como a expressividade de um coração agradecido. E para se perceber isso, veremos como se soltaram as rédeas, não de um coração agradecido, mas de milhares de corações no dia em que o Dr. Baptista de Sousa deixou a ilha de S. Vicente, regressando à Metrópole, finda a sua missão militar. Isso aconteceu em 10 de Setembro de 1944.

Rezam as crónicas que naquele dia a cidade de Mindelo parou em peso para acompanhar o médico ao cais de embarque. O povo concentrou-se em massa formando alas entre a sua residência, na Praça Nova, e o cais de embarque, afluindo de todas as partes da cidade e seus arredores. As janelas se escancararam e os passeios estavam pejados de gente, algumas pessoas alcandoradas em pontos dominantes para lograrem uma observação mais vantajosa.

Valdemar Pereira refere o seguinte testemunho coevo que ouviu ao senhor Antoninho Santiago, funcionário dos CTT: ao sair da sua casa na Praça Nova para entrar no automóvel militar que o levaria ao cais, o médico foi imediatamente levantado e levado em ombros por figuras gradas da sociedade mindelense, ao que ele, modestamente, se procurou opor, mas sem êxito. Assim, em ombros parece ter sido conduzido até às imediações do cais, com o povo a soltar ensurdecedores e emotivos vivas ao doutor Baptista de Sousa e vivas ao “Engenheiro Humano” (1). As mulheres do povo derramavam lágrimas enquanto gritavam vibrantes palavras de saudação e apreço àquele que elas já tinham como um querido filho adoptivo da terra.


Cabo Verde > São Vicente > Midelo > 10 de setembro de 1944 >Baptista de Sousa acompanhado, na hora da despedida, pelas forças vivas do Mindelo e o povo da cidade. À sua direita, o Comandante das Forças Expedicionárias, Brigadeiro Nogueira Soares, e à sua esquerda, o Presidente da Câmara de S. Vicente. Foto cedida por Valdemar Pereira.



Cabo Verde > São Vicente > Midelo > 10 de setembro de 1944 > Baptista de Sousa levado em ombros no cais da despedida. [Ao fundo, o Hospital de São Vicente, fundado em 1890]. Foto cedida por Valdemar Pereira.


Nunca se vira coisa igual em Mindelo, nunca a cidade inteira se tinha comovido tanto na hora “di bai” (2). Depois da despedida, calcule-se a nostalgia que deve ter ficado a pairar na cidade. Ora, para um homem ser assim alvo de tanta unanimidade no reconhecimento e no aplauso à grandeza do seu mérito e da sua acção, unindo autoridades e povo anónimo, ricos e pobres, gente de todos os estratos e condições, é porque verdadeiramente invulgar foi o modo como exerceu o seu múnus profissional em prol da comunidade local, é porque excepcional foi ele na esfera da sua humanidade e civismo. E foi assim que uma onda de emoção se formou no alto mar da “morabeza” do povo de Mindelo, atingiu altura indescritível, galgou as ruas da cidade e foi inundar de saudade o cais da despedida.

A minha mãe contou-me que as sirenes de todos os navios fundeados no Porto Grande tocaram continuamente durante o embarque de Baptista de Sousa, só se calando quando o navio se perdeu da vista da imensa mole humana que o acenava incessantemente no cais e na orla do porto. O mar seria uma vez mais motor do destino luso e cabo-verdiano, esse mar que é lugar mitológico de encontro e separação; levou para longe aquele que se tornara um querido filho do povo do Mindelo. Ao tumulto da apoteose daquele dia 14 de Setembro de 1944 iria seguir-se, calcule-se, um vazio no coração da ilha, um sentimento de desamparo difícil de mitigar. O povo do Mindelo jamais esqueceria a atenção, a disponibilidade, a simpatia, a bondade e a proficiência com que Baptista de Sousa operou e recuperou tanta gente em estado clínico desesperado, salvando muitas vidas que, antes da sua chegada a Cabo Verde, estavam praticamente condenadas.


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > 10 de setembro de 1944 > Eflúvios da emoção popular no cais da despedida de Baptista de Sousa. Foto cedida por Valdemar Pereira.



Cabo Verde > São Vicente > Mimdelo > 1944 > Baptista de Sousa na sua última despedida ao povo do Mindelo. Foto cedida por Valdemar Pereira

(Continua)

Tomar, 30 de Novembro de 2012

Adriano Miranda Lima

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Notas de AML:

(1) Nome que foi dado a uma morna em homenagem a Baptista de Sousa, da autoria de Jorge Monteiro.

(2) Hora de despedida.

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Nota do editor:

ÚItimo poste da série > 23 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10712: Meu pai, meu velho, meu camarada (34): Tropas expedicionárias portuguesas, em São Vicente, Cabo Verde, 1941/45, mostram solidariedade com o povo sofrido da ilha (Adriano Miranda Lima, cor inf ref, Tomar; cortesia de Praia de Bote)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10755: (In)citações (46): O cadete Lima, do último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra, em 1964, a juventude do império... (Rui A. Ferreira)

1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Rui Alexandrino Ferreira,  autor de Rumo a Fulacunda, e que foi alf mil inf na CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67) e cap mil inf na CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72)...

De acordo com a nota biográfica da sua editora, a Palimage, nasceu em Angola, em 1943, e em 1964 "integra o último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra a juventude do Império. 1965 - Rende, na Guiné-Bissau, um desaparecido em combate. 1970 - Frequenta o curso para capitão em Mafra, seguindo em nova comissão para a Guiné-Bissau. 1973 - Regressa a Angola em outra comissão. 1975 - Retorna a Portugal. 1976 - Estabiliza em Viseu, onde continua a residir. Rumo a Fulacunda é a sua primeira obra literária".


Data: 3 de Dezembro de 2012 01:40

Assunto: O cadete Lima

Aqui vai um abraço muito especial ao meu ilustre camarada de recruta e especialidade, meu companheiro e meu amigo, Adriano Miranda Lima [, foto à direita, em baixo], um dos nossos últimos Tertulianos, de quem tenho a grata recordação dum passado que, tendo decorrido num período muito especial da nossa vidas, num rumo comum que tendo tido por palco a Escola Prática de Infantaria, em Mafra, onde ambos, incluídos no Pelotão dos Ultramarina versão literária e a terminologia filosófica do homem aranha, perdão do  Capitão Aranha, nos vimos, isso sim, em palpos de aranha para aguentar toda aquela imensidão de grandes cabeças que tinham jurado a pés juntos cumprir a execrável missão de fazer daquela seita de mal jeitosos cadetes a fina flor  da oficialidade miliciana.os e naquela que passou à história como a companhia segunda do Curso de Oficiais Milicianos, segundo 

Pois, meu caro cadete Lima (, a ti e ao coronel com o mesmo nome e já que um coronel não é mais que um cadete que não morreu), os meus mais sinceros votos para que sejas muito bem vindo e que te dês entre nós muito bem, fazendo parte desta grande família que é a rapaziada do blogue do Luís Graça.

Com a muita amizade e a consideração do

Cadete Rui A. Ferreira
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10715: (In)citações (45): Carlos Guedes e Teco com livro sobre a CCAÇ 726, em preparação (Virgínio Briote)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10751: Tabanca Grande (370): Adriano Lima, cor inf ref, residente em Tomar, natural do Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, grã-tabanqueiro nº 590

1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 590 (*), Adriano Lima, com data de 23 do mês passado:

Amigo: (...) 
Em mail anterior, respondi-lhe que é com imenso gosto que serei um tabanqueiro, ainda que nunca tenha estado na Guiné. Pois já vi que a Tabanca não tem apenas a ver com o chão guineense e com a memória de que são portadores os que lá andaram. É também um amplo espaço de encontro e partilha do que temos de mais belo e puro na nossa humanidade. Por isso, conte comigo. Desejo saber se tenho de fazer alguma coisa de concreto.


Tencionava enviar-lhe este texto sobre o espírito de solidariedade dos militares, uma vez que o seu saudoso pai é uma das suas figuras centrais (**).

Um abraço
Adriano



2. Recordo aqui o texto do Adriano Lima que publicámos no poste P9421, de 30 de janeiro p.p.:


(...) Sou Adriano Miranda Lima, coronel reformado, residente em Tomar, e nascido em Cabo Verde, S. Vicente. Não estive na Guiné, apenas em Angola e Moçambique.

Tive acesso ao seu blogue e só tenho razões para o felicitar efusivamente por esta belíssima e interessante iniciativa. Revisitar estas saudosas memórias é recolocar a história no seu devido lugar e com ela reencontrar-se num abraço fraterno em que o coração se dá inteiro.

Como servi longos anos no RI 15 [, Tomar], aliás, a minha unidade de colocação, após o termo das comissões no ex-Ultramar, acompanhei sempre o convívio dos antigos expedicionários mobilizados pelo Regimento. Algumas vezes coube aos expedicionários do RI 15 a organização do convívio, com participação dos camaradas de outros regimentos e unidades mobilizadoras. Cada "regimento" organizava o convívio de todos os que serviram em S. Vicente. 

Com o meu apoio pessoal, sendo eu então major, por duas vezes o convívio realizou-se no meu Regimento, em Tomar, e numa das vezes ele foi integrado nas comemorações do Dia da Unidade. Noutra ocasião, foi num restaurante em Tomar, e também estive presente, por simpático convite do elemento organizador, Sr. Francisco Lopes (Chico Concertina), infelizmente falecido há cerca de 4 anos. Dava-me muito bem com ele, e era sogro de um amigo meu, advogado.

Se estiver interessado em saber alguma coisa sobre o Batalhão que saiu de Tomar, terei o maior gosto em prestar informações ao blogue. Por acaso, publiquei um artigo num jornal online, sobre a memória desse batalhão.

Há um blogue chamado "Praia de Bote" (nome de um local de S. Vicente), em que tenciono publicar uns posts sobre as forças expedicionárias a Cabo Verde. Como tenho poucas fotos, queria pedir a sua autorização para me servir das que constam do seu blogue respeitantes ao BI 5, que eram do seu pai. Apenas como ilustração. Naturalmente que me refiro a fotos de carácter genérico, não pessoais.

Apraz-me também registar o afecto e a admiração com que cultiva a memória do seu pai neste Blogue. (...)



[Foto acima, à direita: Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Monte Sossego > c. 1941-1945 > "Peça de 9,4 cm de uma das duas antigas baterias de artilharia anti-aérea de Monte de Sossego (Foto oferecida pelo filho de um antigo oficial que serviu, à época, em Cabo Verde)" [Legenda: Adriano Miranda Lima] [Foto reproduzida aqui com a devida vénia...]
 

3. Relembro igualmente a resposta que dei na altura:

(...) "Adriano, muito obrigado pelo seu comentário, pelo seu elogio ao nosso blogue, mas também pelo seu pedido. Começando por este, disponha das fotos do meu pai, para os efeitos que julgar convenientes, citando sempre, naturalmente, o nosso blogue. Temos, aliás, mais fotos de mais outros dois expedicionários, na série Meu pai, meu velho, meu camarada, nomeadamente do Ângelo Ferreira de Sousa e do Armando Lopes [... e ainda do Feliciano Delfim dos Santos, embora este tenha não tenha estado em São Vicente, mas sim em Santiago, Santo Antão e Sal].

"Todos temos o dever de memória, deixando às gerações seguintes notícias sobre a nossa passagem por este planeta que é único, o berço da humanidade, é a nossa casa, ou é a aldeia onde todos somos vizinhos... Cabo Verde e Portugal têm uma longa história em comum, além de uma língua. Eu tenho um especial afeto por São Vicente e, em particular, pelo Mindelo que um dia destes espero poder finalmente conhecer ao vivo. (Não conheço Cabo Verde, de todo: estive apenas uma escassa hora ou duas no Sal, em paragem técnica do avião da TAP que me trouxe de férias, de Bissau a Lisboa, em 1970).

"Transmiti, este fim de semana, ao meu pai, Luís Henriques, a caminho dos 92 anos [, que não chegaria a completar por ter morrido a 8/4/2012,]  o seu interesse e o seu pedido. Até aos 80 anos, costumava ir ao convívios anuais da malta de Cabo Verde. Disse-me que nunca foi ao RI 15 (Tomar), a nenhum dos convívios dos antigos expedicionários, já que ele pertencia ao RI 5 (Caldas da Rainha). Em todo o caso, lembra-se bem das jogatanas de futebol, no Lazareto, entre uns e outros. Como também se lembra da epidemia de fome que assolou as ilhas, no tempo em que lá esteve (1941/43). O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e de doença, em meados de 1943. Comove-se ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro.

"Desejo-lhe, por fim, meu caro Adriano, a si e aos seus amigos, todo o sucesso na defesa do património daquela terra mágica, o Mindelo, berço de grandes poetas, músicos e cantores." (...)



4. Sobre o nosso novo grã-tabanqueiro, escreveu em 24/2/2012 o Manuel Amante da Rosa, também, seu patrício, nosso camarada de armas no TO da Guiné, e embaixador do seu país:

(...) Caro Luís: Não conheço o Adriano de vista mas sim do muito que tem escrito sobre Cabo Verde. Temas que também são prioritários das minhas investigaçõe: Defesa, segurança, energias renováveis, administração.

Mas somos aparentados através do meu irmão que é cunhado dele. Conheço quase todos os irmãos.
Conheci muito bem na Guiné o Tio dele Jorge de Miranda Lima e a Lurdes. O primeiro foi um entusiasta nacionalista, da primeira hora, tendo passado muitos anos preso no Tarrafal. Foi solto somente uns anos depois do Spínola ter estado na Guiné, juntamente com uns outros cinquenta presos políticos guineenses. Se o Capitão Basto Machado estiver vivo talvez possa relatar algo ou indicar algum outro camarada da sua Unidade que o possa fazer. Um forte Abraço, Manuel" (...)





Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > O Paquete Mouzinho. [A foto, tipo postal, parece-me ter sido tirada no Funchal, Madeira; mas foi neste navio que o 1º cabo inf Luís Henriques e outros expedicionários do RI 5, das Caldas da Rainha, rumaram para Cabo Verde, em meados de 1941].

Foto: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.



5. Em 7 de outubro p.p., eu já lhe tinha, ao Adriano Lima, enviado um convite para ingressar na Tabanca Grande, dado o seu manifesto interesse pela história dos nossos expedicionários em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial:

(....) "Caro camarada: Tomei a liberdade de reproduzir dois dos seus comentários (e mais alguns dos seus apontamentos publicados no blogue Praia do Bote)...


"Reitero o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Juntos podemos fazer força no sentido da salvaguarda do património da Ilha de São Vicente, natural e cultural, incluindo os restos da presença dos militares portugueses entre 1941/45...

"Continuo a contactar militares desse tempo ou suas famílias e a lutar pela preservação dos seus álbuns fotográficos...

"Por sua vez, Cabo Verde é já o 10º país do mundo onde o nosso blogue é mais visto... Estamos com 3500 visitas por dia, em média.

"Disponha das nossas fotos. Veja as fotos da Lia Medina. Um Alfa Bravo. Luís Graça" (...)


6. A resposta do Adriano não se fez esperar, aqui vai com data de 8/10/2012:

(...) "Caro camarada e amigo: Tem toda a liberdade para utilizar os meus textos como entender e será para mim uma honra se for em proveito do blogue Luís Graça & Camaradas. Devo dizer-lhe que tenho frequentado o vosso blogue para recolher dados e imagens que possam ser úteis para os meus textos, os 3 que já escrevi e os que tenciono continuar a escrever para publicar no blogue "Praia de Bote", cujo editor e administrador é o professor Dr. Joaquim Saial, um cabo-verdiano adoptivo. Por isso é que há uns meses pedi a sua autorização para reproduzir uma ou outra foto que pudesse servir os objectivos dos meus textos. 

"Com todo o gosto integrarei a Tabanca Grande e acredite que tanto eu como o Joaquim Saial [, criador e editor do blogue Praia de Bote,] e outros colaboradores do blogue Praia de Bote, como o Valdemar Pereira, vice-cônsul de Portugal em Tours, aposentado e o José Lopes, professor na universidade de Aveiro, os dois últimos cabo-verdianos de origem, temos vindo a terçar armas para a preservação do património da ilha de S. Vicente. Infelizmente, por ignorância ou distorcida visão do que é cultura, algum património tem vindo a ser destruído ou abandonado. E creia que a memória dos expedicionários portugueses em 1941-45 é algo que toca profundamente a minha sensibilidade, pelas razões pessoais que expus num dos textos que já publiquei. Por isso é que foi para mim uma agradável surpresa o vosso blogue. Pena é eu não ter começado há mais tempo, há 20 anos atrás pelo menos, quando tínhamos ainda muitos testemunhos vivos, como o seu pai, o Francisco Lopes, o Shultz Guimarães e outros de Tomar que a lei da vida já não permite estarem connosco. 

"Para ser mais verdadeiro, comecei, sim, mas não continuei, pois o primeiro passo consistiu apenas em actualizar o historial do RI 15 e o seu anuário, o que exigiu apenas uma sucinta narrativa. Imagine, isso foi em 1985, quando os nossos expedicionários estavam ainda em pujança de vida. Mas às vezes não nos damos conta de que o tempo voa e perdemos oportunidades irrepetíveis".(...)

7. Comentário final do editor:

O Adriano está mais que apresentado, e é já de longa data nosso leitor e colaborador. A sua presença entre nós justifica-se, não por ter feito a  guerra colonial em Angola e Moçambique, mas pelo cordão umbilical que  mantemos com Cabo Verde.

A presença histórica dos portugueses na Guiné não pode ser desligada da história passada e recente de Cabo Verde. O Adriano está a ajudar-nos também a conhecer,  preservar e divulgar a passagem dos nossos pais e nossos camaradas pelas terras de Cabo Verde, entre 1941 e 1945. Bastaria esse elo em comum. Mas temos muitos mais.

Ele conhece e aceita as nossas regras de convívio bloguístico. Daqui parta o futuro, consideramo-nos como amigos e camaradas, pelo que o tratamento por tu se impõe com toda a naturalidade... Adriano, sê bem vindo. Já tomámos boa nota do teu novo endereço de email, e já recebemos o teu texto sobre o médico militar Baptista de Sousa, resultante de uma excelente  investigação de arquivo. Será publicado oportunamente.

Em troca deste mimo, insiro aqui o link para mais um vídeo do meu velho (que infelizmente nos deixou este ano em curso) e em que ele fala do quotidiano das tropas expedicionárias  na ilha de São Vicente no seu tempo (1941/43). Foi gravado em 17/10/2009, mas só agora inserido no

You Tube, na nossa conta Nhabijoes. [Clicar aqui para aceder ao vídeo]


Luis Henriques (1920-2012)_Cabo Verde_1941_43_Histórias_2

Vídeo (9' 59''). Lourinhã, Luís Henriques (1920-2012). Ex- 1º cabo inf, mobilizado pelo RI 5 (Caldas da Rainha), expedicionário, que viria a integrar o RI 23 (Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, 1941/43). Locais por onde andou durante 26 meses: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau... Histórias do quotidiano da tropa... Video de Luis Graça (, gravado em 17 de outubro de 2009, numa esplanada da Praia da Areia Branca). Inserido no You Tube em 18/11/2012.