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sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23908: Boas Festas 2022/23 (8): Relembrando a nossa partida para o CTIG, em 22/12/1971, recordando os mortos e desejando melhores dias para os vivos (António Duarte, ex-fur mil at inf, CART 3493/BART 3873, e CCAÇ 12, Mansambo, Bambadinca e Xitole, 1972/74)


Antonio Duarte, ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971/72, e Bambadinca e Xime, 1972/74). Embarcaram no "Niassa", passaram a Consoada no mar, chegaram a 28. Passaram mais dois natais e ano novo no mato (1972 e 1973).  

Data - 23/12/2022, 10:57
Assunto - Efemérides, partida para a Guiné do BART 3873, em 22/12/1971


Bom dia a todos os camaradas e editores do blogue.

A propósito da quadra que atravessamos e do facto de ontem 22 de dezembro, se terem completado  51 anos da partida (1971) do Bart 3873 (CArt 3492, 3493 e 3494) bem como da Companhia Independente CArt 3521, para a Guiné, a bordo do navio "Niassa", não quero deixar de desejar umas Boas Festas e um Bom 2023 a todos os camaradas que combateram na "nossa" Guiné, com votos ainda mais especiais aos membros das unidades que naquele dia embarcaram, chegando ao destino a 28 de dezembro de 1971.

Recordemos todos aqueles que não regressaram e também todos os que sofreram ferimentos graves e ou traumas psicológicos, com sofrimento para si e para os seus, durante as suas vidas.

Agora que os anos já são muitos, provavelemente com algumas viagens feitas, esta terá sido porventura aquela que mais nos marcou. Foram mais de 2 anos a aturar mosquitos e gerir a ansiedade resultante de operações realizadas e de ataques aos aquartelamentos (Xime, Xitole, Mansambo e Cobumba). Unicamente Bambadinca não foi contemplada com ataques ao aquartelamento (ao tempo do BART 3873).

Quanto à fotografia que anexo, foi feita no Xime, em setembro de 1973, integrado na CCaç 12, companhia do recrutamento local, com a maior parte dos graduados portugueses ditos "metropolitanos". 

Recordo também os camaradas desta Unidade Africana que tanto me marcou, e que tão mal foram tratados por Portugal e pelo poder instituído na Guiné, aquando da independência. Para os que estejam ainda vivos, um forte abraço. Para os que já partiram curvemo-nos perante as suas memórias.

E é tudo por agora. Que a Paz volte breve (não vai ser fácil) e que a saúde acompanhe todos os combatentes e famílias.

António Duarte
Fur Mil. Cart 3493 e CCaç 12
Dez 71 a jan de 74

domingo, 6 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23765: Dando a mão a palmatória (34): nas nossas cartas militares, na escala de 1/50.000, cada centímetro corresponde a 500 metros... (e não a 1 km)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Setor L1 (Bambadinca) > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Nhabijões, Mero e Santa Helena, três tabancas consideradas, desde o início da guerra, como estando "sob duplo controlo", ou seja, com população (maioritariamente balanta) que tinha parentes no "mato" (zona controlada pelo PAIGC)... Em Finete, Missirá e Fá Mandinga havia destacamentos nossos. Entre Bambadinca e Fá Mandinga ficava Ponta Brandão. Havia aqui uma destilaria, de cana de acúcar... Bambadinca era sede de posto administrativo e tinha correios, telégrafo e telefone, além de um posto sanitário ("missão do Sono")... Era, além disso, um importante porto fluvial. Era banhado pelo caprichoso Rio Geba (ou Xaianga). Até 1968 as LDG da Marinha chegavam até lá... Depois, já em 1969, ficavam-se pelo Xime... De Bambadinca a Bafatá (cerac de 30 km) a estrada era já alcatroada...no meu tempo (1969/71). (LG)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).







Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)

1.  Já aqui deixámos expresso por escrito, mais do que uma vez, a nossa admiração por (e prestámos a nossa homenagem a) os nossos cartógrafos militares a que devemos as extraordinárias cartas da Guiné Portuguesa dos anos 50. 

Não brincavam em serviço, esses nosso cartógrafos, e é bom que se diga que prestaram um alto serviço científico e cultural ao povo da Guiné-Bissau, cartografando ao milímetro todas aquelas terras, ilhas, ilhotas, rios, mar, braços de mar, lalas, bolanhas, tabancas, savanas arbustivas, florestas-galeria, palmeirais...,  do Cacheu ao Cacine, de Bolama a Buruntuma, de Varela ao Como... Ainda hoje estas cartas são uma preciosidade.  E, para nós, amigos e camaradas da Guiné, foram e continuam a ser um extraordinário auxiliar de memória... Já há muito que nos teríamos perdido nos labirintos de memória sem estas cartas geográficas, disponíveis "on line", com grande resolução, no nosso blogue...  

Agora  o que os nossos cartógrafos, se ainda fossem vivos, nunca nos perdoariam é aquela calinada de dizer que  na escala de 1 / 50.000 um centímetro na carta corresponde a um quilómetro (*)... 

Felizmente, o meu amigo e camarada António Duarte, da CCAÇ 12, da "3ª geração" (Bambadinca e Xime, 1973/74) estava atento e topou o erro, ou não fosse ele bancário e economista: se um quilómetro corresponde a 1000 metros e cada metro tem 100 cm, 100 mil centimetros (ou seja, um quilómetro) a dividir por 50 mil são 2... centímetros! 

Não é preciso um gajo ser licenciado, mestre ou doutor para saber (e poder) fazer estas contas de cabeça!

2. Fica aqui a emenda do erro que é de palmatória!... Dou, humildemente, a mão à menina dos cinco olhinhos... como no meu/nosso tempo da instrução primária (**). 

Dito isto, não é demais realçar que as cartas da antiga Província Portuguesa da Guiné são de uma enorme  riqueza documental, em termos geográficos, E cada centímetro de papel é um passeio de 500 metros por aquelas terras onde destilámos "sangue, suor e lágrimas"... de quem guardamos algumas boas recordações da sua sua boa gente.

Nunca é demais lembrar que, sessenta / setenta anos depois,  estas cartas permitem-nos, por exemplo,  saber hoje coisas espantosas como: 

  • quais as tabancas que existiam antes da guerra (e ver depois as que foram abandonadas ou destruídas); 
  • qual o número médio aproximado de moranças ou casas (cada ponto correspondendo em geral a uma morança); 
  • as tabancas temporárias e as abandonadas;
  • as povoações "de tipo europeu" e as "indígenas" (e dentro destas, as "cerradas" e as com "arruamentos" definidos);
  • conforme o tamanho maior ou menor da letra dos topónimos, distinguir as povoações "indígenas" com mais de 50 casas, as entre 50 e 10, e as menos de 10;
  • o regulado a que pertenciam;
  • as que eram sede de circunscrição (equivalente ao nosso concelho, caso de Bafatá) e as que eram sede de posto administrativo;
  • as que, de categoria inferior a sede de circunscrição, tinham serviços de correio, telégrafo e telefone (caso de Bambadinca) e, nas fornteiras, serviços alfandegários;
  • mas também localizar as bolanhas (arrozais de regadio), as lalas (capinzais)  (de água doce e água salgada, com ou sem tufos de palmeiras), os mangais,   as florestas-galeria, as savanas arbustivas, as terras incultas... 
  • os diferentes tipos de palmeiras e palmares: palmeira-de-tara (Phoenix reclinata); palmeira de dendém (ou azeite), conforme a sua densidade: massiços consideráveis ou não desbravados; palmares desbravados com culturas diversas; 
  • mas igualmente as "pontas" (ou hortas) (que em geral eram exploradas por cabo-verdianos e europeus, e que tinham o nome do dono ou fundador: Ponta do Inglês, Ponta João Dias)... 
  • e ainda calcular distâncias entre duas povoações, por estrada ou em linha recta; estimar a largura de um rio ou o comprimento de uma bolanha...
Tudo isto, afinal,  feito ainda "no bom tempo" (anos 50 do séc. XX), ou seja, antes do vendaval da guerra em que desaparecem regulados inteiros ou em parte (alguns eu conheci: Xime, Bissari, Badora, Cossé, Corubal, Enxalé, Cuor, Mansomine, Oio,  Joladu, Ganado, Padada...) e foram abandonadas ou destruídas muitas e muitas dezenas (senão não algumas centenas) de povoações (por exemplo, ao longo da bacia do rio Corubal)... para não falar de regiões inteiras, como a de Quínara e a de Tombali, no sul (que eu só vim a conhecer depois da guerra)...

Tiro o quico, bato a pala, aos nossos valorosos e competentes cartógrafos militares. E peço, mais uma vez, desculpa pelo meu... dislate. (LG)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 

4 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23761: Voltamos a recuperar as antigas cartas da província portuguesa da Guiné, um dos recursos mais preciosos do nosso blogue - Parte IV: De Quinhamel a Xitole

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23750: Tabanca Grande (538): João Silva (1950-2022), ex-Fur Mil At Inf, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973) e CIM Bolama (1973/74), grã-tabanqueiro n.º 866, a título póstumo


João Pedro Candeias da Silva (1950-2022)


João Silva, fur mil at inf, de rendição individual, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973) e CIM Bolama (1973/74)


O João Silva e o Abibo Jau, o "gigante" da CCAÇ 12, mais tarde fuzilado em Madina Colhido, em 1975,  como já foi referido no Blogue. (Fuzilado com o ten 'comando' graduado Jamanca, ambos então da CCÇ 21).


O 2º sargento Vital (ajudava na secretaria), o João Silva, de t-shirt preta, e o Abibo Jau


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1973 > Os 4 furriéis da foto são da CCAÇ 12 e estamos sentados em Bambadinca, junto à nossa messe... Da esquerda para a direita: o Morgado, o Garrido, eu (António Duarte) e o Candeias da Silva.


Guiné > Ilha de Bolama > CIM de Bolama (c. 1973/74) > O João Candeias da Silva é o segundo a contar da direita em Bolama no CIM. O furriel de bigode foi citado há pouco tempo num poste e/ou fotos do CIM atual. Tinha nome de "Roupa Velha" (?)... ou "Curta (?)...



Guiné> Ilha de Bolama > CIM de Bolama (c. 1973/74) > Numa praia em Bolama. O João é o segundo a contar da direita.


Guiné> Ilha de Bolama > CIM de Bolama > Natal de 1973 > Foto de grupo, cada militar segura uma garrafa de espumante que, se presume, foi-lhe oferecida.

Fotos (e legendas): © João Candeias da Silva / António Duarte  (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Faleceu no passado dia 14, o nosso camarada João Silva, um dos últimos soldados do império (*). Aos 72 anos. Vivia em Santiago do Cacém. Furriel Miliciano Atirador de  Infantaria, passou por Cabuca (CCAV 3404, 1972), Bambadinca e Xime (CCAÇ 12, 1973) e Bolama (CIM, 1973/74). 

Entra agora, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande, apadrinhado pelo seu grande amigo e camarada António Duarte. E por mim próprio, editor do blogue. Nós, os três,  fomos furriéis milicianos da CCAÇ 12, eu da "1.ª geração", a dos fundadores (Contuboel e Bambadinca, junho 1969 / março 1971), eles da "3.ª (e última) geração" (Bambadinca e Xime, 1973/74).

Não o cheguei a conhecer pessoalmente, muito menos na Guiné: eu regressei a casa em março de 1971, ele foi para a CCAV 3404, em Cabuca, em janeiro de 1972. Era de rendição individual. Mas ele tem um dúzia de referências no blogue, e sempre que intervinha, em geral sob a forma de comentários, fazia-o para falar da sua condição de graduado da CCAÇ 12, subunidade de guarnição normal, constituída por graduados e especialistas metropolitanos e praças do recrutamento local, de que muito se orgulhava. 

Esteve 7 meses na CCAÇ 12, antes de ser colocado no CIM de Bolama com a missão de dar instrução a militares do recrutamento local. Já passou o Natal de 1973 em Bolama. E em maio de 1974, regressou à metrópole, pagando, do seu próprio bolso, a viagem na TAP.

Passou, desde anteontem, a ser o grã-tabanqueiro n.º 866. Prometemos honrar a sua memória (**). E republicar, em próximos postes, alguns dos seus valiosos e sempre oportunos comentários (**). Tem 13 referências no nosso blogue.

2. Comentário do António Duarte, de 29/10/2022, 18:12

Boa tarde Luís.

Sugeri a  entrada do João Silva na Tabanca Grande atendendo a que ele acompanhava o blogue e participava, embora através de comentários a postes. Inclusivamente, e com alguma frequência, mostrava ao filho e à filha textos do blogue, conforme os dois me contaram no dia do funeral.

Não formalizou o pedido por mero "deixa andar".

No entanto, decide como melhor te parecer, mas penso que se justifica, precisamente face ao acompanhamento do blogue e às participações nos comentários.

Se necessário posso fazer a pesquisa de mais comentários. (...)
 
Se necessitares de algo que eu possa ajudar apita sff
Abraço
Duarte


3. Dois comentários do João Silva 

(i) CISMI, Tavira. Terceiro turno de 1971.

Depois da recruta no Hotel das Caldas, rumámos a sul até Tavira para fazermos a especialidade de atirador de infantaria.

A viagem longa e demorada foi feita sem paragens em vilas onde pudéssemos dar ao dente, a excepção era para fazer xixi no meio do mato.

Em Tavira, no CISMI, destaco 3 personagens:

(a) Tenente Moleiro, que no primeiro dia apareceu no campo da feira, conhecido por Atalaia. O pelotão formou e depois do blá, blá da retórica, tirou o quico e disse: "é este o corte de cabelo da companhia";

(b) Caifás, o barbeiro onde nos iríamos apresentar e dizer "corte à tenente Moleiro":

(c) O capitão capelão que dava palestras aos sábados ao fim da manhã no refeitório.

O pessoal estava exausto, sentado e com o queixo apoiado ao cano da G3, não tardava em adormecer. A palestra que alertava para o "respeito" pelas meninas e ameaçava que,  quando tal não acontecia,  terminava em casamento na parada. E dava como exemplo o que, na recruta / especialidade anterior, tinha acontecido.

Depois era ouvi-lo: "tu aí ao fundo,  levanta-te e castiga-te a ti próprio".... "Sim tu que estavas a dormir"...

A malta como não sabia a quem ele se dirigia, levantavam-se dois ou três. Então dizia: "não és tu, ele sabe quem é". À segunda ou terceira acertava.

A malta que sabia tocar e cantar e fosse "actuar" na missa de domingo,  tinha tratamento VIP. Também havia outros VIP por serem futebolistas, destaco o Vaqueiro, um dos chamados bebés do Varzim. Havia mais.

A salina era onde os mais tesos eram humilhados por resistirem onde não havia hipótese de vencer. Terminava quando todos estávamos encharcados de água podre e mal cheirosa. O cheiro ficava presente por dias.

Na Guiné, onde fui dos primeiros a chegar por ir em rendição individual, encontrei vários camaradas. Destaco o Penedos, que tocava trompete e em Tavira já tinha um Renault.

João Silva, terceiro turno de 1971, com passagem por Beja, Depósito de Adidos e Guiné. (***)


(ii) Quem não entrou na equação do 25 de Abril foram os africanos que juraram bandeira e a defenderam ao nosso lado.

Camarada Luís Mourato: Ao ler o teu testemunho das lágrimas que viste nos olhos do militar que servia a bandeira portuguesa na Guiné,  trouxe-me à memória um episódio que recentemente foi aflorado aqui a insubordinação da 12 em Bambadinca em Março de 1973.

Hoje acredito que eram os primeiros sinais do fim da capitulação do exército português naquela longa e desgastante guerra.

A Bambadinca, na companhia de Spínola, chegaram para "resolver o assunto" 3 oficiais africanos garbosamente fardados de camuflado e galões reluzentes, que vieram para credibilizar o empenho do Governador e Comandante
-Chefe.

Depois da CCAÇ 12,  o meu destino foi Bolama e lá, entre os oficiais subalternos, era evidente o tema do livro "Portugal e o Futuro",  Spínola vem a Lisboa e não regressa. Almeida Bruno e Otelo já tinham regressado. No final de 73 regressam Salgueiro Maia e Luís Moura, meu capitão na CCAV 3404 em Cabuca,  e pouco conhecido, mas foi ele que veio de Estremoz a comandar a coluna que se juntou no Carmo na rendição de Marcelo.

Tudo bem pensado e organizado e o correcto. Fazer, o que tinha que ser feito, o Golpe de Estado. Quem não entrou na equação foram os africanos que juram bandeira e a defenderam ao nosso lado.

Foram, sem o mínimo pudor, depois de desarmados, deixados ao Deus Dará para serem vítimas de violenta chacina.

Quando será que todos nós nos retratamos por termos assistido de braços caídos e em silêncio?

João Silva
Ex-furriel mil at inf
Cabuca, Bambadinca, Xime, Bolama, Abril de 72 a Maio de 74. (****)
___________


(**) Último poste da série > 13 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23704: Tabanca Grande (537): José Moreira de Castro Neves, ex-Fur Mil Arm Pes Inf da CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (Bambadinca, Fá Mandinga e Xitole, 1966/68)... Natural de Valongo, senta-se no lugar n.º 865, sob o nosso poilão

(***) Vd. poste de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21719: (Ex)citações (382): Tavira, CISMI, por quem nenhum de nós morreu de amores... (João Candeias da Silva / Carlos Silva / Luís Graça)

(****) Vd. poste de 23 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21679: (In)citações (174): Apesar de agnóstico, ainda conservo, na cabeceira, um crucifico-talismã que alguém deixou na tabanca onde eu pernoitava: Ká pudi larga mezinho qui pudi salvar kurpu (Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)

sábado, 29 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23748: In Memoriam (459): João Pedro Candeias da Silva (1950 - 2022), ex-Fur Mil At Inf, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973) e CIM Bolama (1973/74)




João Pedro Candeias da Silva (1950-2022)


1. Mensagem do  António Duarte, um histórico do nosso blogue (tem cerca de 60 referências):

Data - 29 out 2022 15:16

Assunto - Partida do nosso camarada furriel miliciano Candeias da Silva (*)

Boa tarde,  Luís Graça

Mais um dos nossos que nos deixa para sempre.

Foi cremado no dia 18 o nosso camarada João Pedro Candeias da Silva, falecido na sexta feira 14, deste mês de outubro.

Morreu repentinamente, durante um jogo de ténis, desporto que praticava com alguma frequência e sem previamente ter tido sintomas de qualquer doença.

Nasceu em 13 de junho de 1950 e a sua vida profissional decorreu na EDP, grande parte do tempo na Central de Sines.

Residia em Santiago do Cacém, deixando viúva, uma filha, um filho e dois netos, um deles com 7 meses de idade.

Estavam destroçados com a dor, gerada por esta partida não prevista. Partilhámos aquando do funeral a nossa dor e a perda do amigo.

Estive com ele na CCaç 12 em 1973, quando ainda a companhia estava em Bambadinca e mais tarde no Xime.

Tinha a especialidade de atirador de infantaria e chegou à Guiné em rendição individual, ficando colocado, me janeiro de 1972 na CCav 3404, em Cabuca, do Batalhão de Nova Lamego.

Em novembro de 1972 frequentou o estágio para oficiais e sargentos, destinados às unidades africanas, em Bolama.

Após 7 meses na CCaç 12, foi transferido para o CIM em Bolama, onde permaneceu a ministrar instrução a militares do recrutamento local, até final da comissão e onde foi apanhado pelo 25 de abril.

Acompanhava de forma sistemática o nosso blogue, participando sob a forma de comentários a postes colocados, de onde destaco a que agora copio, do Poste P21646 de 15.12.2020 (**)
___________

Jorge [Araújo]

Eu sou o João Candeias que no Xime ficou no mesmo quarto com o Duarte e o Osório, enfermeiro. 
Não sei se é suficiente para me para te avivar a memória.

Estou a escrever-te porque li o teu testumunho sobre o nosso camarada Víctor Alves, infelizmente já desaparecido, sobre os tais dias difíceis que vivemos na  CCAÇ 12 em Bambadinca.

E tu sabes que quem mais sofreu foi o Victor por lá ter a esposa, e todos compreendemos.
Aquando da primeira e frustrada tentativa de nos mandarem para o Xime,  ele formou ao meu lado direito e quando o tenente coronel disse "quem se recusa ir para o Xime, dê um passo em frente", dos europeus só ele o deu. Eu puxei-o pelo braço e ele corrigiu rapidamente o gesto instintivo que, felizmente, não foi detectado pelo tenente coronel. Depois a confusão, a ordem de prisão ao soldado da 12.

Como terminou,  tu deves estar bem recordado. Tu ficaste pelo Xime, eu mais três furriéis fomos despachados para outros companhias, no meu caso CIM, centro de instrução militar em Bolama.

Curiosamente o teu final muito parecido com o meu. Também comprei bilhete e vim na TAP mas já em Maio, tu em Abril, por pouco não nos encontramos em Bissau.

Abraço e bom Natal.
João Candeias da Silva

Fiz um email ao Luis Graça onde descrevo o que aconteceu naquela semana. Se ele o publicar espero que faças um comentário para ver se tiveste a mesma opinião.

24 de dezembro de 2020 às 20:50

Nota Minha - O Vítor que o Candeias da Silva refere foi o vagomestre da segunda geração da CCAÇ  12. O nosso vagomestre em 1973 tinha a esposa e um bebé em Bambadinca. Trata-se de uma troca de nomes, por parte do Candeias da Silva, já que foi noticiada a morte do Víctor Alves, vagomestre da CCAÇ 12 da segunda geração de graduados, que foi em vida bancário no BES.
___________

Falávamos frequentemente, nomeadamente por mensagem, as últimas no dia da partida.

Também almoçámos aqui em São Pedro do Estoril, há uns meses, no qual também tivemos a presença do Manuel Lino, furriel do pelotão de artilharia de obuses 10,5 cm, instalados à época no Xime.

Havia ainda a particularidade de o Candeias da Silva e o Manuel Lino terem sido condiscípulos, nos anos 60 nas Oficinas de São José, em Lisboa pertencentes aos Salesianos (reconheceram-se no Xime no início de 1973). 

Digamos que foi um almoço de "romagem" aos tempos da Guiné e aos apoios dados pela artilharia, aquando de emboscadas e ataques ao aquartelamento, bem como a revisitar lugares, pessoas e cheiros daquela terra que nos marcou para sempre.

Daquilo que conheço do Candeias da Silva, parece-me que se justifica a sua integração na nossa tabanca, lamentavelmente a título póstumo, pois era um leitor assíduo dos nossos escritos e fez várias intervenções, sob a forma do comentário, como o que atrás copiei do poste. (o que está copiado será o mais recente, mas há mais)

Aproveito para juntar algumas fotografias, com legendas explicativas, que também poderão servir para suportar a entrada para o blogue.

Um abraço a todos os camaradas
António Duarte
ex-fur mil, Cart 3493 (Mansambo) e Ccaç 12 (Bambadinca e Xime)- Dez de 71 / Jan de 74 (foto atual à direita)

2. Comentário do editor Luís Graça:

(i) Bolas, António, são só notícias tristes. No mesmo dia faço dois In Memoriam, o do Manuel Marinho (*)  e agora o do João Candeias da Silva. 

Nunca o consegui trazer, a este último,  para a Tabanca Grande. Era arisco. Mas de vez em quando vinha comentar... Ele deu algumas achegas importantes para a história da CCAÇ 12 no teu /vosso termpo... Umas vezes assinava João Candeias, outras João Candeias da Silva. Chegámos a ter, por lapso, os dois descritores, João Silva e João Candeias. Fica definitivamente como João Silva. Tem 12 referências no blogue. Era franco e frontal. (**)

Perguntei-te, hoje, se fazia sentido integrá-lo, a título póstumo, na nossa tertúlia...Tu conheceste-lo melhor do que eu. Eu nem sequer o conheci pessoalmente. O que é que achavas? E eu lembrei-te o nosso lema: "Ninguém fica na vala comum do esquecimento"... 

Acabo de fazer este  In Memoriam com o teu material e algo mais que eu tenho dele... 

(ii) Depois de ler a tua mensagem completa, e a segunda que mandaste, hoje, logo a seguir, não tive mais dúvidas: o João Silva irá ser apresentado, em poste a seguir, amanhã ou depois,  como o grã-tabanqueiro nº 866. Entra e vai logo para o nosso "panteão", o dos que "da lei da morte já se foram libertando".  Tenho pena que ele não tenha entrada em vida, aceitando o meu reiterado convite para se juntar a ti e a todos nós. 

Com ele, passam a ser 127 os nossos queridos mortos, desde a existênia do blogue.  Sei que que o João tinha grande apreço pelo nosso blogue, mas cultivava um  perfil discreto. Transmite à sua viúva, filhos e demais família os votos de pesar da equipa do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Recordo aqui, para os nossos leitores, que o João Silva, fur mil at inf, de rendição individual, passou pela CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973) e CIM Bolama (Bolama, 1973/74).
__________




(...) A minha filha, e não sei porquê, ofereceu-me o livro em questão há cerca de uns 3 meses. Mas, ao iniciar a leitura, reconheço que o fiz sem grande entusiamo, parei logo, quase ao início, quando a autora na pág. 12 escreveu: "A maioria dos combatentes esteve apenas 2 anos na guerra mas penso que terá havido poucos mais momentos transformadores nas suas vidas".

Aquele "apenas" retirou-me a vontade de o ler. Quem considera que 2 anos na guerra é pouco tempo na vida de um jovem na casa dos 20 anos, não tem a mais pequena perceção da realidade.
São 2 anos em que quase conseguimos recordar cada dia, cada hora e, nalguns casos, passado quase meio século, e garanto que foram extremamente longos.

Tenho dois filhos na casa dos 30 e tal anos e nenhum me perguntou se tive medo. Nem mesmo depois da oferta do livro. Há muitos livros sobre a guerra colonial e nenhum até agora me cativou. O mesmo acontece com a produção cinematográfica/documental.

Talvez porque coloque a fasquia muito alta. Talvez porque a nossa guerra não teve o impacto nem a dimensão de outras. Talvez porque não temos experiência acumulada como os americanos. Talvez porque não temos massa critica. Não sei. Alguns povos têm conseguido, especialmente os americanos, utilizar a tela dos cinemas para exorcizar e muitas vezes de forma crítica a sua participação na guerra.

Destaco a guerra do Vietname, a que mais se aproxima, por excesso, da que conheci na Guiné. Nem todas foram boas obras, como exemplo, Os Boinas Vermelhas. Mas noutros casos foram excelentes como no caso do Caçador, para mim o melhor.

Não sei se este sentimento é partilhado por outros companheiros de armas, porque cada um de nós teve a sua experiência e também a sua missão. Uns foram atiradores, um nome que hoje dito em inglês - sniper - causa logo alguma efervescência, outros, amanuenses, cozinheiros, telegrafistas, mecânicos, etc. Mas quem foi atirador e esteve numa companhia africana teve uma experiência diferente. Não foram muitos deste milhão a que a autora do livro diz terem passado pelo teatro de operações, que o viveram.

É apenas um comentário pessoal e nada mais do que isso. Se chegar a ler o livro, talvez mude a opinião com que fiquei das primeiras páginas. (...)


Vd. também:



quarta-feira, 25 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23291: Efemérides (368): 25 de maio de 1972, há 50 anos: o duelo fatal na Ponta Varela, Xime, em que o apontador da HK 21, da CCAÇ 12, Braima Sané, matou em combate o Mário Mendes, comandante de bigrupo do PAIGC, pelo que foi louvado pelo CAOP2, ele, a sua equipa e o seu comandante de secção, o fur mil José Domingues, natural de Águeda (António Duarte / Luis Graça)


Excerto da História da Unidade: BART 3873 (Bambadinca, 1971/74)- Louvores: Cap III, pág. 4, jullho de 1972


1.  Mensagem, por email, de Antonio Duarte,

[António Duarte, foto à direita:

 (i) ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; 

(ii) foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; 

(iii) depois da peluda, formou-se em conomista, e trabalhou na Banca, de que está  reformado:

(iv) formador na área bancária, com larga experiência  em Angola; 

(v) tem 57 referências no nosso blogue;

(vi) é um dos históricos da Tabanca Grande, para a qual entrou em 18/2/2006, por mão do Sousa de Castro, da CART 3494] 


Data - quarta, 19/01/2022, 20:04
Assunto - O 'matador' de Mário Mendes

Boa noite, camaradas.

Propositadamente não falei em nomes, porque o blogue é público, lido na Guiné e poderia haver constrangimentos, embora eu acredite que provavelmente os envolvidos já faleceram.

O apontador da HK 21 era o Braima Sané, louvado pelo CAOP2.

Foram também louvados pelo CAOP2, para além do referido Braima, o Ansumane Baldé e o Indrissa Baldé, todos da equipa da HK21.

O furriel era o José Domingues, também ele louvado.

Estou com estes detalhes, porque consultei o livro do BART 3873, onde na página 4, cap III, figuram os louvores de julho de 72. (O Luís possui a publicação digitalizada que há longo tempo disponibilizei e que com a paciência que ele tem, publicou no nosso blogue).

O fur Domingues foi um dos que rendeu os graduados fundadores da CCAÇ 12. Tive há muitos anos a informação, sem confirmação, de que teria falecido bastante novo.

E é tudo. Deixo ao critério do Luís se o detalhe dos nomes ligados a este acontecimento deverão ser publicados no blogue.

Um abraço a todos
António Duarte

2. Comentário do editor LG:

António, meu "neto" da CCAÇ 12, querido amigo e camarada: o prometido é devido.  Faz hoje 50 anos que ocorreu esse duelo fatal, para o Mário Mendes (1943-1972), na Ponta Varela, subsector do Xime.  Ao fim de 50 anos, não há mais segredos a guardar, nomeadamente nos "arquivos públicos". Daí ter republicado, agora na íntegra, o teu email de há 4 meses atrás (*).

Volto a agradecer-te, António, o teu interesse pela história da "nossa" CCAÇ 12 (1969/74), e sobretudo s tuas preocupações com o direito à privacidade (e ao sigilo) dos nossos camaradas guineenses, incluindo o seu sentido de "honra militar" e de lealdade.

Obrigado, António, pelas informações adicionais que me deste ao telefone... Confirmo as informações, que me deste na altura sob reserva, e nomeadamente a identficação completa dos nossos camaradas que foram louvados pelo CAOP2 (Bafatá), na sequência desta operação sobre  a qual só tenhos informação oral (**). (A morte do Mário Mendes só é referida indiretamente na história do BART 3873, cap. II, 2.º fascículo, maio de 1972, pág. 16 ("de harmonia com a correspondência retirada a Mário Mendes (aniquilado pela CCAÇ 12), o IN planeava nova ação na estrada Xime-Bambadinca...").

Infelizmente, só há uma história da CCAÇ 12, e fui eu que a fiz: vai desde a formação e mobilização da CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12, no 1.º trimestre de 1960, até fevereiro de 1971... Como sabes sabes, a CCAÇ 12 foi extinta em agosto de 1974, e nós costumamos distinguir  3 "gerações" de graduados metropolitanos, de rendição indiviual na composição orgânica desta unidade: por exemplo,  eu, da 1.ª geração (1969/71), o Victor Alves, da 2.ª  (1971/72) e tua da 3.ª (1973/74)...

Volto a repetir o que atrás ficou dito;

(...) "Guerra era guerra", diziam-nos os antigos combatentes do PAIGC quando nos encontrámos em Imberém, Gandembel, Guileje e Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de março de 2008).

É verdade, "guerra é guerra", morremos e matámos, matámo-nos uns aos outros, naquela guerra. O Mário Mendes "matou" o nosso sold cond auto Manuel da Costa Soares (em 13/1/1971, em Nhabijões), que deixou um filho por conhecer, o Rogério Soares... O Mário Mendes foi morto, um ano e quatro meses depois pelo Braima Sané, e também era casado e tinha filhos...

Os filhos têm o direito de saber como é que os pais morreram na guerra. Não para se vingarem, o que hoje já não faz sentido, mas completarem o "luto", fazerem o seu "choro"...


A paz e a reconciliação entre os povos também passa pelo doloroso processo de falarmos dos nossos mortos, e dos mortos dos nossos inimigos de ontem (, de há 50/60 anos). (...)


Insisto;

Já não há, ao fim de meio século (***), razões para não divulgarmos o nome do "matador" do Mário Mendes. O Braima Sané, infelizmente já não deve estar vivo, se é que não foi  fuzilado pelo PAIGC a seguir à independência, como outros soldados e sobretudo graduados da CCAÇ 12 que transitaram para a CCAÇ 21 (, comandada pelo tenente 'comando' graduado Abdulai Jamanca)... 

Se o Braima fosse vivo, teria hoje 80 anos... (Eu já não o conheci, era da "2.ª geração")... O mesmo se passa com restantes elementos da equipa da HK 21 que, segundo ouvi dizer, pertenciam ao 4.º Gr Comb., o Ansumane Baldé e o Indrissa Baldé.  Nessa altura, os alferes eram O Jaime (hoje e gestor, casado com a dra-Odete Cardoso),  o Sobral (hoje médico oftalmologista em Coimbra), bem como o Ferreira e o Florindo, todos de rendiçao individual. 

Quanto ao fur mil José Domingues, natural de Macinhata do Vouga, Águeda, também já terá morrido, infelizmente, segundo informação do seu conterrâneo, Paulo Santiado, que o conheceu em Bambadinca e nunca mais voltou a encontrá-lo (Vd. comentário ao poste P22924).

Façamos um minuto de silêncio à memória de todos estes homens que já nos deixaram, uns de morte natural, outros de morte violenta, e que um dia se cruzaram nas nossas vidas... Também no dia 19 de janeiro de 2022, quando fazia anos o meu filho João, me custou a adormecer com todos estes "filmes" a "rebobinarem" na minha cabeça: também eu poderia ter ficado em Nhabijões, em 13/1/1973, numa das duas minas A/C, mortíferas, que o Mário Mendes nos deixou, à porta do reordenamento... Se assim fosse, o meu filho também não teria nascido... LG
____________

Notas do editor:

(*) Vd.poste de 20 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22924: (Ex)citações (400): Não, não foi o Cherno Baldé... Divulgação do nome do "matador" do Mário Mendes no dia 25 de maio de 2022, quando passarem os 50 anos do duelo fatal, na Ponta Varela... (António Duarte / Luís Graça)

)**) Vd. poste de 19 de janeiro de 2022 Guiné 61/74 - P22920: (Ex)citações (399): Ética na guerra? O caso do "matador" do comandante de bigrupo Mário Mendes (1943-1972): "Não se mata um homem de costas", disse ao António Duarte, o apontador da HK 21, do 4º Gr Comb da CCAÇ 12... (Seria o Cherno Baldé?)

(***) Último poste da série > 6 de maio de  2022 > Guiné 61/74 - P23237: Efemérides (367): Faz hoje precisamente 55 anos que um estrangeiro, o ten-cor H. Meyer, adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa, participava, com as NT (CART 1525, Bissorã, 1966/67) na Op Beluário... Não sabemos em que circunstâncias nem a que título (Virgínio Briote)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22988: O segredo de... (36): Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74): louvado pelo comando do BART 3873, por, no decorrer da Acção Guarida 18, em 3/2/1973, em Ponta Varela, "ter a peito descoberto enfrentado o IN, abatendo um guerrilheiro"


Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, ea viver, até há alguns dias atrás em Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos. Volta a Portugal por um período mínimo de seis meses.


Louvor


CTIG > Bambadinca > BART 3873 > 24 de outubro de 1973 > Ordem de serviço nº 251 > 


"Louvo o Fur Mil 13839871 Jorge Alves de Araújo, da CART 3494, por durante o desenrolar da Acção Guarida 18, realizada em 3 de fevereiro de 1973, no contacto havido com o IN, ter a peito descoberto enfrentado o IN, abatendo um guerrilheiro.

Pela sua decisão revelou dotes de coragem, pelo que é digno de público louvor."



1. Comentário do editor LG: 

O nosso querido amigo, camarada e coeditor  Jorge Araújo nunca fez gala, que eu saiba, deste louvor... que no tempo do gen Arnaldo Schulz daria, por certo, lugar à atribuição  de uma cruz de guerra... (Vd. poste P13844) (*)

Refere ele, mais abaixo, que "só após o falecimento da minha mãe, em 27Dez2015, é que tomei conhecimento da Ordem de Serviço n.º 251, do meu Batalhão, de 24 de outubro de 1973. Este documento foi encontrado no vasto espólio que me deixou (estou a falar de papel), e  ao qual designei, na altura, como o 'Baú de Minha Mãe' "... 

Ele não faz questão, mas eu faço, de partilhar este "segredo" na série que criámos há uns largos anos, em 30 de novembro de 2008,  "O segredo de...".  (**) 

(Tem ainda poucos postes, umas escassas três dezenas e meia, mas começou muito bem com um espantosa revelação do Mário Dias,  vd. poste P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações.)



CTIG > Bambadinca > BART 3873 > 24 de outubro de 1973 > Ordem de serviço nº 251 > 


Louvor atribuído o Cap Mil Inf José António de Campos Simão, da CCAÇ 12: "... por sendo comandante daquela CCaç, demonstrou capacidafr de comando, iniciativa e espírito de sacrifício, depois que a sua Companhia foi transferida para o Xime, passando de uma situação de intervenção para outra em que ficou responsável or uma zona de acção, que é a mais difícil do sector do Batalhão.

"Depis de um período bastante longo de adaptação à nova situação, a Companhia está agora a percorrer áreas de refúgio do IN, de muito difícil acesso. Pela competência demosntrada no comando da sua Companhia, é o Capitão Simão merecedor de ser galardoado com público louvor".




CTIG > Bambadinca > BART 3873 > 24 de outubro de 1973 > Ordem de serviço nº 251



2. Comentário de Jorge Araujo ao poste P22963 (***) 


Pois é, camarada António Duarte: há factos da nossa vida (de todos nós) que o tempo não consegue apagar... e então os da guerra... jamais!

Antes de mais, quero dizer-te, assim como ao colectivo da Tabanca, que deixei de dirigir a Tabanca dos Emirados desde a passada 6.ª feira, para recuperar o cargo na Tabanca do Pragal (Almada). Foram seis meses lá, e agora seis meses cá.

Quanto ao tema de hoje, que recuperas com grande oportunidade, sempre te digo que para mim não é uma efeméride, nem duas, mas sim três. Ou seja, foram as "cenas" da Acção Guarida 18, depois a viagem para Bafatá e, depois, o início do 2.º período de férias na metrópole. Foram muitas emoções em pouco tempo.

Ainda ontem, dia 2Fev2022, em contacto telefónico com o meu/nosso camarada Carneiro (ex-Alf Mil de Operações Especiais da minha CART 3494) recordámos o episódio ocorrido em 3Fev1973, na região da Ponta Varela. Ele já não participou nas últimas actividades efectuadas pela 3494, no Xime, devido ao facto de ter sido nomeado para as "africanas", tal como aconteceu com o camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil de Operações Especiais da CART 3492).

Sobre o facto de ter estado no "frente-a-frente" (ao virar da esquina), o resultado do "encontro" deu lugar a um louvor atribuído pelo nosso Cmdt do BART 3873, TCor Tiago Martins (1919-1992), publicado em 24 de Outubro do mesmo ano, isto é, quase nove meses depois da ocorrência.

Como curiosidade, só após o falecimento da minha mãe, em 27Dez2015, é que tomei conhecimento da Ordem de Serviço n.º 251, do meu Batalhão, com a data indicada anteriormente. Este documento foi encontrado no vasto espólio que me deixou (estou a falar de papel) ao qual designei, na altura, como o «Baú de Minha Mãe».

Para completar este quadro de memórias, com quarenta e nove anos, vou enviar ao camarada Luís Graça, por correio interno, o documento supra, onde consta, também, um louvor atribuído ao Cap Mil Inf José António de Campos Simão, da CCAÇ 12, que agora recordaste.

Para ti e para o colectivo da Tabanca, envio um forte abraço de amizade.

Saúde.
Jorge Araújo
3 de fevereiro de 2022 às 22:45 


3. Mensagem do Jorge Araújo:

Data - quinta, 3/02/2022, 23:27 
Assunto - Efeméride com 49 anos -  03Fev7193/ 03Fev2022

Caro Luís,

Então como está a tua recuperação? Espero que estejas a registar boas melhoras..

Como referi no comentário ao poste do António Duarte, hoje editado, já regressei à "metrópole",  depois de uma comissão de seis meses lá para as bandas do Médio Oriente... Agora vão ser seis meses cá, até meados de Julho, para "nova corrida; nova viagem", como se diz nos equipamentos de diversão existentes nas feiras.

Vim alguns dias antes de caducar a minha estadia, pois precisava de tomar a 3.ª dose da vacina do Covid, uma vez que lá o não podia fazer. Além disso, havia também a necessidade de resolver alguns assuntos que a distância não o permite.

Tinha a intenção de te dar esta notícia em simultâneo com o envio de mais um texto de "memórias cruzadas"... mas o comentário, por não permitir juntar os documentos que prometi dar conta, fez com que a notícia do meu regresso tivesse de ser sem o texto terminado.

Assim, e para o que entenderes por bem fazer, anexo parte da Ordem de Serviço do BART 3873, relacionada com as ocorrências de que dou conta.

Até breve... fica bem.
Um abraço.
Jorge Araújo.
__________




quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22963: Efemérides (362): Faz hoje 49 anos que a CCAÇ 12 e a CART 3494 sofreram uma emboscada em Ponta Varela, Xime, sofrendo um ferido ligeiro e o IN 2 mortos e 1 ferido... E para mim foi o batismo de fogo (António Duarte)



Excerto da história do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74) (*)


[António Duarte, foto à esquerda: [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue]

1. Mensagem do António Duarte

Data - 3 fev 2022, 18:59 
Assunto - Emboscadas de 3/2/1973 e 25/2/1973

Boa tarde Camaradas e Amigos.

Faz hoje 49 anos que a CCAÇ  12 e a CART  3494 tiveram uma emboscada perto de Ponta Varela. (**)

Segundo o livro do Batalhão de Artilharia 3873, o IN  teve 2 mortos e 1 ferido. As nossas tropas 1 ferido ligeiro.
 
Para a terceira geração da CCAÇ 12 foi o primeiro contacto com o IN e jâ com o ca
pitão Simão, o cap mil inf  José António de Campos Simão.

Participámos neste "evento" três membros da nossa Tabanca:  eu, o António Sucena Rodrigues, infelizmente já falecido,  e o Jorge Araújo,  da "subtabanca" de Abu Dhabi (Emiratos Árabes Unidos).
.
O João Candeias da Silva e o Emílio Costa (os dois da CCAÇ 12) com os quais mantenho contacto, pessoalmente com o Candeias e por mensagem com o Emílio, também foram recordados deste acontecimento.

De salientar que o Jorge Araújo da CART 3494, já tinha tido outros contactos, um deles com 1 morto do nosso lado (fur Bento em 22 de abril de 1972).

Daquilo que me recordo no regresso ao Xime, o Araújo relatou que teve mesmo num frente a frente com um homem do PAIGC (à época a  CCAÇ12, ainda estava em Bambadinca).

Fica a curiosidade que um dos nossos, na troca de carregador vazio por um segundo, cheio, perdeu o primeiro e acaba por chegar ao quartel com menos um carregador de G3. Consequência, teve de o pagar. Rídiculo. Penso que foram 5 escudos, mas o nosso primeiro não perdoou.
 
Assim era, um guerra poupadinha e com contas certas.

Na foto junto vai evidenciada uma nova emboscada a 25 do mesmo mês, que fica para depois, mas onde não estive, por ter vindo de férias.

E pronto, por hoje é tudo.

Estranho, passado tantos anos ainda recordamos estes temas. A experiência foi mesmo traumatizante.

Abraço,
António Duarte
Cart 3493 (Mansambo)  e Ccaç 12 (Bambadinca e Xime( (1971/74)
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Notas do editor:



quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22924: (Ex)citações (400): Não, não foi o Cherno Baldé... Divulgação do nome do "matador" do Mário Mendes no dia 25 de maio de 2022, quando passarem os 50 anos do duelo fatal, na Ponta Varela... (António Duarte / Luís Graça)


1. Mensagem,  por email,  de Antonio Duarte,  transformada em comentário ao poste P22920 (*)

[António Duarte, foto à esquerda: [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue] 

 
Data - quarta, 19/01/2022, 20:04
Assunto - Cherno Baldé, o "matador" do Mário Mendes ?

Boa noite,  camaradas.

Propositadamente não falei em nomes, porque o blogue é público, lido na Guiné e poderia haver constrangimentos, embora eu acredite que provavelmente os envolvidos já faleceram.

O apontador da HK21 era o Braima S..., louvado pelo CAOP 2.

Foram também louvados pelo CAOP 2, para além do referido Braima, o Ansumane B... e o Indrissa B..., todos da equipa da HK21.

O furriel era o José Domingues, também ele louvado.

Estou com estes detalhes, porque consultei o livro do BART 3873, onde na página 4 cap III, figuram os louvores de julho de 72. (O Luís possui a publicação digitalizada que há longo tempo disponibilizei e que com a paciência que ele tem, publicou no nosso blogue).

O fur Domingues foi um dos que rendeu os graduados fundadores da CCaç 12. Tive há muitos anos a informação, sem confirmação, de que teria falecido bastante novo.

E é tudo.

Deixo ao critério do Luís se o detalhe dos nomes ligados a este acontecimento deverão ser publicados no blogue.

Um abraço a todos
António Duarte


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, António, pelos teus esclarecimentos adicionais e pelas tuas preocupações com o direito à privacidade (e ao sigilo) dos nossos camaradas guineenses...

Eu devia ter descartado logo a hipótese do Cherno Baldé, soldado atirador nº mec. 82115269, da minha 1ª secção do meu 4º Gr Comb... (O pelotão que integrei mais vezes durante a minha comissão, tendo embora passado por todos...).

O Cherno foi vítima da mesma mina A/C que eu, tendo sido ferido em 13/01/71, junto ao Destacamento de Nhabijões. Deve ter sido mais tarde substituído pelo Braima S..., de resto mais velho (em termos de antiguidade na tropa), e que foi para a CCAÇ 12 em rendição individual...

Costumamos distinguir 3 "gerações" na composição orgânica da CCAÇ 12: eu e o Cherno Baldé somos da 1ª geração (1969/71), o Victor Alves é da segunda, tal como o Braima S... Tu, António, és da terceira... Infelizmente, só uma história da unidade, e fui eu que a fiz (,vai até fevereiro de 1971; a CCAÇ 12 foi extinta em agosto de 1974).

Obrigado, António, pelas informações adicionais que me deste ao telefone... Talvez publique o teu comentário, com todos os detalhes por ocasião dos 50 anos destes tristes factos...

"Guerra era guerra", diziam-nos os antigos combatentes do PAIGC quando nos encontrámos em Imberém, Gandembel Guileje e Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de março de 2008).

È verdade, "guerra é guerra", morremos e matámos, matámo-nos uns aos outros, naquela guerra. O Mário Mendes "matou" o nosso sold cond auto Manuel da Costa Soares, que deixou um filho por conhecer,o Rogério Soares... O Mário Mendes foi morto, um ano e quatro meses depois pelo Braima S..., e também era casado e tinha filhos...

Os filhos têm o direito de saber como é que os pais morreram na guerra. Não para se vingarem, o que hoje já não faz sentido, mas completarem o "luto", fazerem o seu "choro"...

A paz e a reconciliação entre os povos também passa pelo doloroso processo de falarmos dos nossos mortos,e dos mortos dos nossos inimigos de ontem (, de há 50/60 anos).

Não há razões para não divulgarmos o nome do "matador" do Mário Mendes, quando se completarem os 50 anos sobre o acontecimento, ou seja, em 25 de maio de 2022. O poste já está em modo de edição... O Braima S... infelizmente já não deve estar vivo, se é que não foi  fuzilado pelo PAIGC a seguir à independência, como outros soldados e sobretudo graduados da CCAÇ 12 que transitaram para a CCAÇ 21
 (, comandada pelo tenente 'comando' graduado Abdulai Jamanca)... Se o Braima fosse vivo, teria hoje 80 anos, diz-me o António Duarte.

Faço um minuto de silêncio à memória de todos estes homens que já nos deixaram, uns de morte natural, outros de morte violenta, e que um dia se cruzaram nas nossas vidas... Ontem custou-me à adormecer com todos estes "filmes" na minha cabeça... LG

_________

Nota do editor:

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22920: (Ex)citações (399): Ética na guerra? O caso do "matador" do comandante de bigrupo Mário Mendes (1943-1972): "Não se mata um homem de costas", disse ao António Duarte, o apontador da HK 21, do 4º Gr Comb da CCAÇ 12... (Seria o Cherno Baldé?)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > CIM de Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno Baldé, Sori (Jau ou Baldé) e Umaru Baldé (que, feita a recruta, irão depois para a CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12, a partir de 18 de junho de 1970). Estes mancebos aparentavam ter 16 ou menos anos de idade (!). Eram do recrutamento local e, originalmente, não falavam português. Terá sido este Cherno Baldé o "matador" do Mário Mendes? Em 1969/71, havia dois soldados com este nome, ambos fulas, um deles o sold nº 82115269 Ap Metr Lig HK 21, da 1.ª secção do 4.º Gr Comb (que eu, Luís Graça, integrei muitas vezes ao longo da comissão).

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. C
omentário de António Duarte [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue] (*)


Boa noite Camaradas.

O homem do PAIGC, Mário Mendes, lidera a operação de colocação de minas. Mata e provoca feridos à CCAÇ 12  e, passado mais de um ano,  morre às mãos da mesma companhia de caçadores.

Casualidades da guerra, bem tristes por sinal. Há uma curiosidade sobre a morte do Mário Mendes. À época eu pertencia à companhia de Mansambo, a CART 3493 / BART 3873 e assisti a uma conversa entre o furriel que comandava a secção de HK 21 e o soldado fula que o abateu, em Bambadinca. 

A CCAÇ 12 estava no mato e detetou a presença de tropa do PAIGC. Ficou também claro que a CCAÇ 12 estava detetada, Os dois grupos evoluíram com muito cuidado e, a determinada altura, penso já perto da Ponta Varela,  a CCAÇ 12  abandonou o trilho e emboscou dentro do mato, ficando a HK 21  apontada na direção de onde se pensava que poderiam vir as tropas do PAIGC. 

Passados alguns minutos vem ao trilho um homem deles, que se ajoelhou e percebe-se que tenta "ler" as pegadas. Os restantes estavam emboscados no lado inverso ao da CCAÇ 12. O furriel faz sinal ao nosso militar para abrir fogo. Para espanto dele, em vez de disparar e apanhar o guerrilheiro em causa,  debruçado e de costas, o homem do quarto pelotão emite um ruído do género "pst pst", o guerrilheiro volta-se e nesse momento é abatido. 

Justificou-se então o nosso apontador, que ele nunca mataria um homem pelas costas.

Entretanto fui para a CCAÇ 12  em janeiro de 73 e tive a oportunidade de confirmar com o próprio e reafirmou-me que não matava ninguém pelas costas. 

Em síntese um código ético pouco compatível com a guerra.

Um abraço
António Duarte
Ex fur atirador, CART 3493 e CCAÇ 12 (Mansambo e Xime, dez 71 /jan de 74)


18 de janeiro de 2022 às 19:32

2. Comentário do editor LG:

O nosso coeditor Jorge Araújo já aqui deu mais informação detalhada sobre este encontro fatal do Mário Mendes. (***)

O comandante de bigrupo Mário Mendes (1943-1972)  morreu em 25 de maio de 1972, 5.ª feira, no decurso da Acção Gaspar 5, realizada por seis Grupos de Combate,  três da CART 3494 e outros três da CCAÇ 12. 

O encontro fatal deu-se em Ponta Varela, tendo sido capturada a sua Kalashnikov, três carregadores da mesma arma e ainda documentação que dava conta do calendário de acções planeadas para a zona, atuava no Sector 2, da Frente Xitole-Bafatá (, nomenclatura do PAIGC), em particular no triângulo Xitole-Bambadinca-Xime.  (****)

Quem teria sido o "matador" do Mário Mendes?

No meu tempo, no 4º Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca, julho de 1969 / março de 1971), a HK21 fazia parte da 1.ª secção. E o apontador era o Cherno Baldé, fula (F):

4.º Gr Comb | Comandante: alf mil  cav 10548668 José António G. Rodrigues [, já falecido, vivia em Lisboa]

1.ª secção | fur mil 15265768 Joaquim Augusto Matos Fernandes [, engenheiro técnico, vive no Barreiro; destacado para o redoordenamento de Nhabijões, logo em finais de 1969; substituído, em muitas ocasiões, pelo fur mil arm pes inf, Luís Manuel da Graça Henriques]

1º Cabo 18861568 Luciano Pereira da Silva [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82115469 Samba Só (F)
Soldado 82109869 Samba Jau (Mun Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82115269 Cherno Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82117569 Mamai Baldé (F)
Sold 82117869 Ansumane Baldé (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82118269 Mussa Jaló (Ap Dilagrama) (FF)
Sold 82118969 Galé Sanhá (FF)

2.ª secção (a do Mort 60 e do dilagrama) era comandada pelo  fur mil at inf 11941567 António Fernando R. Marques [, vive em Cascais, empresário reformado] e  3.ª secção (a do LGFog 8,9) pelo 1.º Cabo 00520869 Virgílio S. A. Encarnação [, vive em Barcarena]:

É de todo provável que o Cherno Baldé, sold nº 82115269 tenha sido louvado (ou até ganho uma cruz de guerra) por este feito. Mas havia outro Cherno Baldé, também fula, soldado 82109669, Mun Metr Lig HK 21, que pertencia à 3.ª secção do 3.º Gr Comb (comandado pelo alf mil at inf Abel Maria Rodrigues [, bancário reformado, Miranda do Douro]. 

A 3.ª secção era comandada pelo fur mil at inf n.º 06559968 José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, agente de seguros reformado]. 
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Notas do editor:


(***) Vd. poste de:

17 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17368: Efemérides (251): ... em abril de 2017: o 13º aniversário do nosso blogue, o XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, os 43 anos do regresso da minha CART 3494, o 25 de Abril e o fim da guerra, o meu batismo de fogo há 45 anos em emboscada comandada pelo Mário Mendes (que viria a ser abatido um mês depois)...enfim, os nossos encontros e desencontros (Jorge Araújo)

21 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16865: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (3): Mário Mendes (1943-1972): o último cmdt do PAIGC a morrer no Xime... Elementos para a sociodemografia do seu bigrupo em 1972: tinha 27.9 anos de idade e 8.9 anos de experiência de conflito...