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sábado, 19 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4976: Memória dos lugares (43): Madina do Boé e Beli (António Pinto, ex-Alf Mil, BCAÇ 506, 1963/65)

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > BCAÇ 506 > Abril de 1964 > Da esquerda para a direita: O Alf Mil António Pinto, o Mário Soares, comerciante de Pirada, o Alf Médico (e hoje conhecido como o grande intérprete do fado de Coimbra) Luiz Goes e o Alf Mil Spencer. Luis Goes fez 76 anos em 10 de Janeiro de 2009. Gostaríamos de o homenagear na série Os Nossos Médicos (*)... Alguém mais o conheceu como Alf Mil Médico ? Depoimentos precisam-se!...

Foto: © António Pinto (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem dos nossos António Pinto, um dos camaradas da velha guarda (BCAÇ 506 , 1963/65) (**) (Vive actualmente em Vila do Conde, telef. 252 653 094) (Na foto, à esquerda, em Pombal, por ocasião do nosso II Encontro Nacional, 2007).


Caro Camarada Armandino Alves (***), já há bastante tempo que não escrevo nada para o nosso Blogue, apesar de quase todos os dias o vá visitar, primeiro para acompanhar as notícias e novidades que sempre vão aparecendo e segundo se vejo alguém do meu tempo (1963/65) a aparecer, facto que não se concretizou ainda.

A minha idade (já lá vão 70) e outros factores (duas operações à coluna) têm-me impedido de ser mais activo e não relatar tantos episódios por mim vividos nos tempos por que lá passei. Fiquei admirado e agradavelmente surpreendido por ver uma mensagem endereçada a mim directamente e em que falavas de Madina e Beli.

E porquê? Porque foi o nosso Pelotão (não passava disso mesmo, embora reforçado por soldados oriundos da Guiné) a construir (!) os Destacamentos nessas Povoações. Primeiro em Madina, local onde fomos atacados uma só vez, mas colunas nossas sofreram bastante nas várias deslocações que fazíamos.

Assisti e, ao fim de tantos anos, ainda relembro bem, as mortes de camaradas nossos vítimas de emboscadas e minas. Era nessa altura nosso médico o Luiz Goes (****) e nem ele, nem eu, nem ninguém poderia fazer o que quer que fosse a não ser confortar, nos últimos momentos, os nossos Camaradas, que, estupidamente deixaram lá as suas vidas.

Deixei Madina e fui para Beli num local perto da casa do Chefe de Posto (não sei se no teu tempo ainda lá estava) que tinha realmente quatro casas e onde morava, salvo erro, um enfermeiro. Tivemos que abrir as valas, duas cercas de arame farpado e dar condições de habitabilidade mínima para todos nós.

Foi aqui em Beli que fui ferido com estilhaços de uma granada de morteiro que caiu mesmo na vala onde eu me encontrava na altura. Ainda andam comigo muitos desses estilhaços (felizmente dos que não matavam) misturado com areias e pedras.

Felizmente dos nossos que ficaram feridos, uns mais do que outros, todos nos safámos.

Respondendo finalmente à tua pergunta, não é do meu tempo os versos escritos numa das casas, nem tão pouco o Luiz Goes esteve comigo em Beli (só em Madina) (*****).

Caríssimo Armandino, não te esqueças que mandam as norma do Blogue tratarmo-nos por tu!.

Não me alongo mais, obrigado por me contactares e um grande quebra-ossos do António Pinto

_______

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série: 8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4923: Os nossos médicos (6): Homenagem ao Alf Mil Med Barata (Binta) e ao HM 241 (Bissau) (JERO, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 675, 1964/66)


(**) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

O BCAÇ 506 (14 de Julho de 1963 / 29 de Abril de 1965) esteve sediado em Bafatá. O Comandante foi o Ten Cor Inf Luís do Nascimento Matos. Unidade mobilizadora: RI 2.

Alguns dados sobre o nosso camarada António Pinto:

(i) Embarquei para a Guiné em Novembro de 1963, em rendição individual ("Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal");

(ii) Passou por Nova Lamego, tendo ao fim de algum tempo sido destacado para Pirada ("onde reconstrui o aquartelamento");

(iii) Estive algum tempo em Geba ("zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas");

(iv) Veio de férias em Outubro de 1964;

(v) No regresso, foi destacado para Madina do Boé, "tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento";

(vi) Depois foi para Beli , o primeiro pelotão também a lá chegar e a montar o destacamento;

(vii) Em Maio de 65, Beli é atacado tendo o António Pinto sido um dos sete feridos companheiros), no caso dele devido a rebentamento de uma granada de morteiro;

(viii) Esteve um mês internado no HM 241, em Bissau;

(ix) Seguiu depois para Bolama, para dar instrução e terminar a comissão.


(***) Vd. postes de:

16 de Junho de 2009> Guiné 63/74 - P4536: Memória dos lugares (31): Béli, CCAÇ 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4468: Memória dos lugares (28): Beli e Madina do Boé, CCAÇ 1589, 1966/68 (Armandino Alves)

(****) Vd. ppste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1492: O Álbum das Glórias (7): Eu, o Mário Soares, o grande cantautor de Coimbra, Luiz Goes, e o Spencer (António Pinto)


(*****) Vd. postes sobre Madina do Boé e Beli, da autoria do António Pinto:
17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3061: Louvores e condecorações (5): António Pinto (Pirada, Madina do Boé e Beli, 1963/65)

1. Mensagem do António Pinto (1) , com data de 13 de Maio de 2007, repescada depois da limpeza (anual) à nossa arca frigorífica (leia-se : caixa do correio do Gmail) ... Não temos lata de pedir desculpa ao António e aos nossos leitores... De qualquer modo, e tal como na natureza, na nossa Tabanca Grande, nada se perde, tudo se transforma (em memórias vivas, documentação, comunicação...):

Caros Luís Graça e Carlos Vinhal : Uma vez que o meu computador esteve de "baixa" cerca de duas semanas, estive sem notícias durante este espaço de tempo.

Já li e reli, quer todas as mensagens que me foram endossadas, quer as narraçõesde vários Amigos, alguns que tive o privilégio e o prazer de conhecer em Pombal [, no II Encontro Nacional da Nossa Tertúlia, em 28 de Abril de 2007], que estão no nosso blogue.

Anexo, tomo a liberdade de enviar dois documentos, um dos meus tempos em Pirada e outro relativo aos dois louvores, dos quais me orgulho, é certo, mas que sempre tive um certo pudor em enviar por pensar que seria um acto de "vaidade".

No entanto, como reparei que certos Camaradas também enviaram os seus louvores (2), resolvi fazê-lo também.

Tenho a noção que os melhores louvores que pudemos trazer da Guiné foram as Amizades que conseguimos fazer com aqueles que duranta a nossa comissão convivemos, quer nos momentos difíceis, quer noutras ocasiões de são convívio e confraternização.

Continuo a não ver aparecer no Blogue Camaradas de 63/65, mas não perdi a esperança de ver, qualquer dia, um deles a aparecer.

Um abraço para ambos e para todos os Tertulianos e um até breve.
António Pinto



2. Mensagem mais recente, de 8 de Maio, do mesmo autor:

Caros Amigos: Após alguns meses de silêncio, por motivos óbvios (mudança de residência, computador avariado e umas pequenas "mazelas"), volto a enviar uma mensagem, unicamente para lamentar a minha forçada ausência no próximo encontro em Monte Real [, o III Encontro Nacional], e desejar que tudo decorra na mais sã camaradagem e boa disposição de todos o que tenho a certeza irá acontecer. Aproveito (se é que isso possa interessar a alguém) para enviar o meu novo endereço e novo e-mail, continuando a lamentar não encontrar na Tertúlia alguém do meu tempo e nos sítios por onde passei.

Um abraço do
António Pinto
VILA DO CONDE




Transcrição do louvor ao Comandante do Destacamento de Pirada, com data de 27 de Junho de 1964...


Louvor ao Alf Mil António Pinto, dado pelo Cmdt do BCAV 706, devido à sua acção valorosa durante seis meses em Beli, bem como ao seu comportamento de baixo de fogo, por ocasião do ataque ao destacamento de Beli.
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes do (ou referentes a) António Pinto:

18 de Dezembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

(...) " Alguns dados sobre a minha estadia na Guiné:

(i) Embarquei em Novembro de 1963, em rendição individual. Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal;

(ii) Estive algum tempo em Nova Lamego, tendo sido, em seguida destacado para Pirada onde reconstrui o aquartelamento.

(iii) Estive algum tempo em Geba, zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas.

(iv) Vim de férias em Outubro de 1964 (...);

(v) No regresso, fui destacado para Madina do Boé, tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento.

(vi) Depois fui para Beli , onde ao fim de algum tempo, e depois também de ter sido o primeiro pelotão a lá chegar e ter montado o destacamento, em Maio de 65, fomos atacados tendo aí sido ferido (mais seis companheiros) mas, felizmente ninguém morreu. Os meus ferimentos foram motivados pelo rebentamento de uma granada de morteiro, que me encheu o corpo de pequenos estilhaços, mas depois de um mês no hospital em Bissau, fiquei OK.

(vii) Depois de sair do hospital, mandaram-me para Bolama, dar instrução onde terminei a comissão" (...)


20 de Dezembro de 2006>
Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

3 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

17 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

4 de Fevereiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira

29 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

21 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1865: Blogoterapia (22): Adelaide Gramunha Marques, tem aqui em Monção um amigo e um irmão (António Pinto)

23 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1456: Gabu: Fotos com legendas (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (1): Pirada e Piche

(2) Vd. último poste desta série (que tem tido pouco uso) > 27 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2220: Louvores e Punições (4): Louvores atribuídos ao BCAÇ 2845 e às suas Companhias Operacionais (Albino Silva)

domingo, 24 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1874: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (2)... (António Pinto / Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso veterano António Pinto , respondendo ao desafio do post P1872 (1):


Bons Amigos

De acordo com o que o COMANDANTE pede, lembro-me de mais algumas expressões:

Goss, goss - Anda depressa

Jamtum Tanala Talifanala - Cumprimentos perguntando pelas mulheres, gado, família, etc. etc., repetindo esta expressão várias vezes

Maçarico - Camarada recém-chegado


Um abraço

Pinto


2. Contribuição do nosso camarada Joaquim Mexia Alves para o glossário:

Africanas - Tropas da Guiné
Apanhados do clima
Apanhados à mão
Aponta, Tomás!- Expressão do Caco para o ajudante
Bolanha
Corpo di bó ? Jantum -
Goss-goss - Depressa (como é que raio isto se escreve?)
Macaréu
Peluda
Tá no ir
Tarrafo

E vamo-nos lembrando...

Abraço do Joaquim Mexia Alves

3. Do Camarada N. R. (não se identifica)...

Dualidades do "calão" militar?

Algumas expressões tinham um significado civil diferente ou mais profundo. Por exemplo:

Bajuda - Menina virgem (e não apenas rapariga)
Bianda - Arroz (e não comida em geral)
Bué - Nunca ouvi esta palavra por lá nessa altura
Cibe - Os troncos das palmeiras, usados como madeira, eram os cipós
Djubi - Cá fora era mesmo só "olha" ou "repara"
Mantenhas - Saudades (nunca ouvi empregar como saudações)
Psico - Tambem conhecida por "Psique"
Quico - Não era um boné qualquer, era o boné da tropa, camuflado, com pala e protecção da nuca com dois bicos. Aliás, não lhe conheço outro nome, continua a ser o "quico".


Omissões importantes... Falta aqui, por exemplo:

Metrópole - Portugal continental
Mocar - Fornicar
Patacão - Dinheiro (massa, pilim...)
Piriquito - Recém chegado à Guiné (designação que se prolongava por algum tempo e era algo discriminadora e pouco elogiosa)

E já agora Embrulha e manda pelo SPM que tinha um significado dúbio mas que pode ser sintetizado em algo como "o que não tem remédio, remediado está" ou algo similar.

Cumprimentos e continuem

NR

4. Comentário dos editores do blogue:

Amigos e camaradas: Obrigados, eu e o Carlos, pela vossa rápida resposta... Já agora, um reparo:

De acordo com o autorizado e utilíssimo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, deve escrever-se periquito:

Todos os dicionários consultados, nomeadamente o Grande Dicionário, da Porto Editora, e o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, registam periquito para o «nome vulgar extensivo a várias aves trepadoras, exóticas, especialmente da família dos Psitacídeos, com grande variação de cor (embora a ave bravia seja sempre verde e amarela) e mais pequenas que os papagaios». O termo vem do castelhano "periquito".

Achamos que já era altura de os nossos dicionaristas registarem a acepção (militar, da guerra colonial da Guiné) que nós damos ao termo Periquito ou pira... Só no nosso blogue, tem sido muito utilizado.

Já agora, deixem-nos introduzir mais um termo novo: Corta-capim como sinónimo de carta ou aerograma (2)... Quanto a Bué, o nosso N.R. tem toda a razão: é um vocábulo pós-25 de Abril... Na Guiné dizíamos: Manga de (Muito). Sobre Bué e outros termos do luandês, ver artigo de Rui Ramos no Ciberdúvidas > Luandês, a nova língua da lusofonia...

Por fim, uma chamada de atenção: não escondemos que alguns termos da nossa linguagem de caserna era (é) baixo calão, palavrão... Os puristas, os meninos de coro ou os ouvidos sensíveis que nos perdoem, mas é pena algumas destas expressões correrem o risco de irem parar à cova connosco, se não ficarem registadas aqui, para a posteridade... A propósito, consulltem o Dicionário Aberto de Calão e Expressões Idiomáticas, de José Jão Almeida (2003) (3)... Um projecto em construção. Porque quem faz a língua portuguesa, são os seus falantes...

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 23 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1872: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (1)...(Luís Graça)


(2) Aerograma. Também conhecido por corta-capim (o correio era, muitas vezes distribuído em cima de uma viatura, e o aerograma lançado por cima das cabeças dos soldados, à maneira de um boomerang). Os aerogramas foram uma criação do Movimento Nacional Feminino, dirigida pela célebre Cecília Supico Pinto desde 1961, e o seu transporte era assegurado pela TAP ("uma oferta da TAP aos soldados de Portugal"). Os aerogramas também foram usados na guerra da propaganda do regime, ostentando carimbos de correio com dizeres como "Povo unido, paz e progresso", "Povo português, povo africano", "Os inimigos da Pátria renunciarão" ou "Muitas raças, uma Nação, Portugal" (vd. Graça, L. - Memória da guerra colonial: querida madrinha. O Jornal. 15 de Maio de 1981).

Vd. post de 23 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 – I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)

(3) Vd. introdução, no respectivo sítio > Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas

"Acreditamos que as expressões idiomáticas e o calão são uma parte nobre e rica da língua Portuguesa. Ao mesmo tempo que inclui verdadeiros tesouros, este domínio é frágil e muitas vezes os termos têm um tempo de vida curto.

"Este dicionário é simultaneamente um exercício de linguística, de linguagens de programação e de PERL.

"Detalhes acerca do modo como ele está construído podem ser obtidos do autor.

"Este dicionário contem presentemente cerca de 4000 entradas e precisa desesperadamente da sua colaboração. Deve ser olhado não como um dicionário completo mas como uma colecção amadora que tem contado com a colaboração de vários informantes a quem muito agradecemos

"Tecnicamente, este dicionário está a usar a linguagem pregramação DPL, do projecto Natura

"Sempre que se lembrar de uma expressão idiomática, de um termo calão (por mais carroceiro que seja!) que não encontre aqui...,

Fontes:

http://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/calao.dic
http://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/proverbio.dic

Documentação variada:

documentaçao rudimentar
dicionário em formato PS, gziped (85 páginas)
dicionário em formato PDF (85 páginas)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1865: Blogoterapia (22): Adelaide Gramunha Marques, tem aqui em Monção um amigo e um irmão (António Pinto)

1. Mensagem do nosso camarada António Pinto, enviada ontem a Adelaide Gramunha Marques:


Dª. Adelaide Crestejo:


Deixe-me tratá-la por minha Irmã Adelaide, porque se eu considerava o MARQUES (1) como meu Irmão e o meu melhor Amigo que tive na Guiné, considero não ser abuso fazer tal pedido.


Estou bastante emocionado pois, quando abri as mensagens ou vou ao blogue da Tertúlia, o que faço constantemente, vi uma mensagem desse grande Senhor, que se chama LUÍS GRAÇA (que já tive o privilégio de conhecer pessoalmente) cujo assunto se referia ao nosso Irmão, que sofregamente li e reli.


Ao ler veio-me à memória, já um bocado gasta, tanta coisa que, com certeza, não vou poder descrevê-las todas. Mas isto é sem dúvida um princípio.


Mal possa vou procurar no meu pequeno espólio de guerra e ver se encontro algumas fotos, para além das que eu já enviei para o blogue. No entanto com as várias mudanças de residência muita coisa se perdeu.


Hoje só quero mandar uma mensagem para a Adelaide saber que existe aqui em Monção ( sou de V. N. de Gaia, fiz toda a minha vida no Porto, mas depois de reformado, eu e minha Mulher, refugiámo-nos neste sossego) um Amigo, que gostaria imenso de a conhecer para falarmos e recordar esse grande Homem, que a maldita guerra, que fomos obrigados a fazer, ceifou duma maneira cruel.


Para já deixo aqui os meus contactos:


António de Figueiredo Pinto
Lugar da Cova
Valadares
Apartado 100
EC Monção
4950-909 Monção


Telefone fixo > 251 531 855
telemóvel > 911 029 056


e-mails: >
antoniopinto67@sapo.pt
ninhodavo@sapo.pt


Amanhã não prometo entrar em contacto pois tenho que fazer vários exames médicos, pois a idade (68) já não perdoa, mas breve voltarei.


Uma boa noite e um abraço do


Pinto


2. Comentário de L.G.:


Obrigado, António. São de grande nobreza as tuas palavras. Fico de algum modo feliz por o nosso blogue proporcionar momentos de solidariedade e grandeza humanas, como este. Ao mesmo tempo, é espantoso como, mais de 40 anos volvidos sobre os acontecimentos, tudo isto ainda mexe profundamente com as nossas emoções e os nossos sentimentos. À nossa amiga Adelaide, dirijo-lhe formalmente o convite para ficar na nossa Tabanca Grande o tempo que entender e precisar… Continuaremos a lutar pelo nosso direito à memória.


Mantenhas (como dizíamos lá na Guiné), para os dois.




3. Mensagem da Adelaide, enviada esta madrugada:


Meu caro amigo Luís, obrigada pelas suas palavras de conforto e pela rapidez com que me pôs em contacto com o Sr. António Pinto.


Vou tentar ainda hoje responder ao email que ele me enviou e que me deixou muito confortada pois vejo e sinto nas palavras dele que o meu irmão teve na Guiné se mais não foram, pelo menos UM grande amigo, UM irmão.


Pelo vosso trabalho um bem hajam e que Deus os acompanhe sempre assim como ás vossas familias.


O Luís diz que o Martinho já nos deixou há 42 anos e é verdade, mas para mim esse dia está tão presente na minha memória como se tivesse sido ontem.


A única diferença é que nos habituamos a viver com a ausência e a valorizar os momentos que tivemos de convivio como os mais preciosos deste mundo.


Obrigada meu caro amigo e bom trabalho para todos.


Adelaide G. M. Crestejo
_________


Nota de L.G.:


(1) Vd. post de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

domingo, 29 de abril de 2007

Guiné 63/74: P1710: II Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > O João Parreira, ex-furriel comando do Grupo de Comandos Os Fantasmas (1965/66).

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > O António Pinto, um dos camaradas que veio de mais longe (Monção)... Ele é também um veterano, dos mais antigos, da guerra da Guiné (1963/65): esteve em Madina do Boé e em Beli (1).... Conheceu ali o João Parreira, furriel comando, que também esteve no nosso encontro de Pombal... Ele estava desolado por não emcontrar ninguém que tenha conhecido Madina do Boé e Beli... No almoço apresentei-lhe o Torcato Mendonça (1968/69), mas esqueci-me do João Parreira, que estava ali mesmo ao lado ... Não sei se chegaram a falar-se... Este é o lado mais frustrante destes encontros: o tempo é tão escasso e as solicitações são tantas que é impossível ter uma conversa decente, com princípio, meio e fim, com todos e com cada um... Ora éramos mais de 85... Pela minha parte, procurei dar uma palavrinha a todos... (LG)


1. Mensagem que acabo de receber do Vitor Junqueira, ainda antes das badaladas das 24 horas de domingo, 29 de Março de 2007:

Luís,

Tudo bem contigo? Pois eu já tenho saudades do dia de ontem!

Peço-te o favor de, quando te for possível, passares para o blogue a minha resposta a alguns e-mails que me têm chegado e de que te envio dois exemplos.
Obrigado,

Vitor


João Parreira, António Pinto e demais camaradas e amigos,

Do fundo do coração, vai o meu muito obrigado pela vossa presença no Encontro. Ao deslocarem-se a Pombal, não só manifestaram a natural consideração que têm pelos outros Tertulianos, mas também eu e a minha família nos sentimos particularmente confortados e acarinhados por ter-vos por umas horas na nossa terra e na nossa companhia. Felizmente éramos muitos, a caravana enorme, e os precalços lá estavam à espreita. Não conseguimos fazer a ligação correcta, da frente para trás como no tempo da tropa. Alguns descolaram da coluna e ... nunca mais lhe apanharam o rasto.

A responsabilidade é exclusivamente minha, e já retirei as devidas ilações. Assim, proporei para o próximo encontro, entre outros os seguintes pontos:

1º A concentração deverá começar bem mais cedo para que tenhamos tempo para conversar, trocar abraços e impressões. Neste campo ficamos todos com fome; foi pouco (o tempo), soube a pouco (a confraternização), queríamos mais (paleio).

2º Proporei que se abra a possibilidade de serem apresentadas comunicações. Algo muito bem gizado, porque não queremos transformar em congresso o que se pretende que seja apenas um encontro convivial.

3º Programa extra, se o houver, deverá ser do conhecimento prévio de todos para que venham preparados para o embate. Até pode ser preciso trazer fato de treino e botas de tracking!

4º Nos passeios em automóvel, parece razoável concluir que haverá toda a vantagem em distribuir os participantes pelo menor número possível de carros: Assim evitaremos as longas caravanas, os atravessamentos demorados e os polícias zelosos.

5º E aqueles que já se encontram a gozar galhardamente a sua reforma? Dispondo de todo tempo do mundo para fazer o que lhes dá na real gana, porque é que não hão-de continuar, tarde e noite fora, para jantar e honrar Orfeu?

A propósito, atentem no que dizem que disse o grande Jorge Luís Borges*, escritor Argentino (poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo ...), falecido há cerca de vinte anos, quando já estava prestes a arrumar as botas. Registemos e aprendamos.

Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima, trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ainda mais tonto do que tenho sido. Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos asseado, correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria em mais rios. Iria a lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilhas, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida: Claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não percas o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termómetro, uma saco de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no início da primavera e continuaria assim até o fim do Outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vida pela frente. Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou a morrer.


* Este foi apenas um dos autores a quem foi atribuida a paternidade deste poema. O assunto é polémico, mas para o caso tanto faz; o que conta é a sabedoria e o aviso à navegação, contido nestes versos. A tradução é da minha lavra.



2. Caro Vitor,

Felicito-te pela excelente organização nessa terra simpática de Pombal, onde com os teus familiares nos proporcionaram um agradável convívio com muito dos nossos tertulianos. Não fiz o percurso turístico completo já que depois do Castelo concreite-me mais na conversa com o Briote do que na condução pelo que numa das rotundas perdi o rasto do carro que ia à minha frente e que devia ser o último.

João [Parreira]


3. Amigo Vítor Junqueira,


Felizmente fizemos uma óptima viagem até Monção.

Queremos, falo em nome de minha mulher e de mim próprio, agradecer-te todas as atenções que nos foram dispensadas e, ao mesmo tempo, elogiar toda a organização do almoço do Convívio e os momentos que tiveste a amabilidade de a todos proporcionar com as visitas que fizemos e que nos deu a oportunidade de conhecer as maravilhas de Pombal, de que não fazíamos a menor ideia.

Para ti e para a tua família tudo de BOM. E um até breve,

António Pinto
___________


Notas de L.G.:


(1) Vd. posts de:

17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)


18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli


(2) Vd. post de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira


Emblema do Grupo de Comandos Os Fantasmas (1965/66).

Foto: Tantas Vidas, blogue de Virgínio Briote (com a devida vénia).





Guiné > Bissau > Fins de Fevereiro de 1965 > O Furriel Miliciano Comando João Parreira, do Grupo de Comandos Os Fantasmas... "Esta foto foi tirada numa esplanada em frente ao Hotel Portugal, creio que se chamava Café Universal".

Foto: © João Parreira (2005). Direitos reservados.


Mensagem de 3 de Janeiro de 2007, enviada pelo António Pinto ao João Parreira:

Amigo João Parreira:

Pelas datas que apontaste nas duas últimas conversas, é muito natural que nós nos tivéssemos conhecido em Madina (1).

Já não consigo precisar quando fui para Beli, mas recuando no tempo e partindo do princípio que o ataque em Beli foi em Maio de 65 e eu já lá estava há algum tempo e a tragédia em Madina com os nossos Camaradas, que faziam parte da minha equipa, foi - segundo mo recordas - em Fevereiro do mesmo ano, tudo indica que nos devíamos ter encontrado.

Francamente não me lembro e não tive a mesma ideia que tiveste de ir apontando numa agenda notas do dia a dia. O que me tem valido são as fotos que mandava para a minha Mulher onde anotava, na parte de trás, a data o local e as pessoas que comigo estavam.

O que não me posso esquecer jamais é daqueles que deixaram este mundo, alguns nos meus braços, balbuciando a última palavra: MÃE.

Já lá vão 42 anos e ainda hoje sonho muitas vezes com este e outros factos, que, inevitavelmente, deixaram muitas marcas (2).

Amigo João Parreira, até breve. Sou dos mais novos, se não o mais novo na Tertúlia e não quero ser aborrecido. Mas a verdade é que apetece estar constantemente a falar com Camaradas, que parece já conhecer há muito tempo.

Passo os meus tempos livres, que agora são muitos, a visitar o site do Amigo Luís Graça.

Um grande abraço do

Pinto

_________

Notas de L.G.:

(1) vd. post de:

17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

(2) O grupo de Comandos Fantasmas perderam 9 homens na região de Madina do Boé, antes de serem extintos: 8 homens em 28 de Novembro de 1964 (junto do Rio Gobije, na estrada Madina do Boé para Contabane, a oeste); 1 homem em 8 de Dezembro de 1965:

Vd. post de 15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

Infelizmente, não temos 'on line' a carta de Gobije, contínua à de Madina do Boé.

Grupo Comandos Os Fantasmas

• António Joaquim Vieira Pereira, 1º Cabo Corneteiro Comando, natural de Santa Leocádia / Baião, inumado no cemitério de Santa Leocádia, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Artur Pereira Pires, Furriel Miliciano Comando, natural de S. Sebastião da Pedreira / Lisboa, inumado no cemitério da Ajuda em Lisboa, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Braima Seidi, 1º Cabo Comando natural de Buba / Fulacunda, inumado no Cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Eugénio Campos Ferreira, Soldado Condutor Auto Comando, natural de Vila Frescaínha (São Pedro) / Barcelos, e inumado no cemitério de Vila Frescaínha, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• João Ramos Godinho, Soldado Condutor Auto Comando, natural de Valverde / Coruche, e inumado no cemitério de Coruche, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• José da Rocha Moreira, Soldado Condutor Auto Comendo, natural de Arcozelo 7/7 Vila Nova de Gaia, inumado no cemitério de Arcozelo, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Manuel Couto Narciso, Soldado Condutor Auto Comendo, natural de Santa Catarina / Caldas da Rainha, inumado no cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Ramiro de Jesus Silva, 1º Cabo Condutor Auto Comando, natural de Valongo (Colmeias) / Leiria, inumado no cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Artur Mateus Martins, Soldado Cozinheiro Comando, natural de Olhão, inumado no cemitério do Alto de S. João - Lisboa, faleceu, no Hospital Militar Principal (Lisboa), vítima de ferimentos recebidos em combate em 28 de Novembro de 1964, no contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em
8 de Dezembro de 1965;

Guiné 63/74 - P1492: Álbum das Glórias (7): Eu, o Mário Soares, o grande cantautor de Coimbra, Luiz Goes, e o Spencer (António Pinto)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > BCAÇ 506 > Abril de 1964 > Da esquerda para a direita: O Alf Mil António Pinto, o Mário Soares, comerciante de Pirada, o Alf Médico (e hoje conhecido como o grande intérprete do fado de Coimbra) Luiz Goes (1) e o Alf Mil Spencer.

Série Álbum das Glórias (2)


Foto: © António Pinto (2007). Direitos reservados (3).

______

Notas de L.G.:

(1) Vd. sítio Coimbra XXI, Gestão e Promoção Cultural > Sobre Luiz Goes (Reprodução do texto, com a devida vénia):

"Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes

"Coimbra, 5 de Janeiro de 1933

"Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em 1958, exerceu a profissão de médico estomatologista, em Lisboa, até 2003. Prestou serviço militar na Guiné como Tenente-médico, entre 1963 e 1965 [, BCAÇ 506].

"Iniciou-se no Fado de Coimbra por influência do seu tio, Armando Goes, um dos grandes cantores e compositores dos anos vinte, contemporâneo de Edmundo Bettencourt, António Menano, Lucas Junot e Paradela de Oliveira.

"Cantou pela primeira vez em público com apenas 14 anos de idade, numa festa do Liceu D. João III, em Coimbra, interpretando a Feiticeira, de autoria de Ângelo de Araújo. Já anteriormente tinha tido o privilégio de ser acompanhado, em convívios de antigos estudantes, por Artur Paredes, Afonso de Sousa e Francisco Menano, irmão mais velho de António Menano. Fez as primeiras gravações em 1953 com José Afonso, António Brojo e António Portugal.

"Enquanto estudante, integrou o Orfeon Académico, onde foi solista, e o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), sob a direcção do Prof. Paulo Quintela. Colaborou ainda com outros organismos académicos como o Coral da Faculdade de Letras e a Tuna Académica.

"Com José Afonso, Fernando Rolim e Machado Soares participou na gravação de discos de setenta e oito rotações, os primeiros depois da geração de oiro dos anos vinte, acompanhado por António Brojo, António Portugal, Mário de Castro e Aurélio Reis. ´

"Luiz Goes tem desenvolvido uma actividade artística regular enquanto cantor, compositor e poeta, sendo unanimemente reconhecido como o maior intérprete da segunda metade do século XX da Canção de Coimbra. Gravou vários LP´s sendo de destacar: Serenata de Coimbra (Coimbra Quintet), Coimbra de ontem e de hoje, Canções do mar e da vida, Canções de amor e esperança e Canções para quase todos.

"É Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e recebeu a Medalha de Oiro da Cidade de Coimbra e a medalha de Mérito Cultural do Município de Cascais.

"Carlos Carranca disse, a 4 de Julho de 1998, aquando da cerimónia de entrega da Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra a Luiz Goes:

"Dizia Teixeira de Pascoaes que a voz de Hilário "subia nas noites de Coimbra até se ouvir na lua". Ele era o primeiro grande cantor das inesquecíveis noites de luar da Velha Alta. Hoje, no dealbar do novo milénio, cem anos depois de Hilário, a voz de Luiz Goes enche a noite, universalizando a toada coimbrã, penetrando fundo na cósmica inquietação do Futuro. A alma de Coimbra é a voz de Luiz Goes e a voz de Luiz Goes é a voz telúrica e trágica da condição humana. A sua obra é um monumento humano. É obra moça. Não exibe velhices precoces, é fruto de uma personalidade riquíssima, de uma sensibilidade invulgar e de uma visão plural da vida.
"- É através de ti, da tua voz, das tuas interpretações, dos teus poemas, que Coimbra ultrapassa os limites da cidade, vai mais longe. Vai ao encontro de quem sonha, do homem só, adquire sangue novo. Chega mais longe porque tu lhe insuflaste a tua própria vida, lhe deste a tua inteligência e a tua criatividade inacessíveis aos que de Coimbra se contentam em imitar o estilo, a exibir erudição, a contabilizar louvores.

"Com Luiz Goes o canto de Coimbra rompe com a 'lamechice', desce às raízes, ganha autenticidade e sensualidade. Luiz Goes não só canta, como escreve sobre nós, e fá-lo apaixonadamente. Os labirintos da nossa alma profunda percorrem as nossas canções. São pedaços de nós, de Portugal, de uma paisagem física e humana que visceralmente somos. Seus versos pedem canto. E o que é cantar? É talvez o meio de sermos por fora o que somos por dentro. É escancarar o que nos vai na alma reduzindo a distância que nos separa. E não há forma mais perfeita de estar com os outros.

"Em Luiz Goes habitam as múltiplas influências do trovador inquieto e intemporal, do poeta, do respeitador da tradição no que ela possui de essencial, rejeitando exibicionismos vocais, poéticos saudosismos serôdios e intransigências reaccionárias. Luiz Goes é um cantor da Saudade. Mas de uma saudade que nos faz compreender que todos nós participamos num ser universal".

(2) Vd. post de 30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1473: O álbum das glórias (6): A 'dolce vita' de Bolama (Joaquim Mexia Alves, CART 3492)

(3) Vd. post de 3 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1491: Gabu: Fotos com legenda (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (2): Nova Lamego, Pirada, Buruntuma, Senegal

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1491: Gabu: Fotos com legenda (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (2): Nova Lamego, Pirada, Buruntuma, Senegal













Fotos: António Pinto (2007). Direitos reservados.

Mensagem do António Pinto, com data de 3 de Janeiro último, enivada ao José Martins:

Caro José Martins:

Permito-me enviar mais algumas fotos (1), que legendei, esperando que sejam recebidas em boas condições. Ainda não são de Madina e Beli pois ainda não as encontrei.

Como diz o teu neto, temos que ser os escritores da nossa história, para que ele, bem como as minhas netas (tenho 4) e também todos os netos dos nossos camaradas, percebam um pouco do que foi a nossa passagem por terras da Guiné.

Um abraço do

António Pinto
(ex- Alf Mil, BCAÇ 506 e 512,
Nova Lamego, Pirada, Madina do Boé, Beli,
1963/65)

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1456: Gabu: Fotos com legendas (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (1): Pirada e Piche

17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1456: Gabu: Fotos com legendas (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (1): Pirada e Piche






Fotos e legendas: © António Pinto (2007). Direitos reservados.


Mensagem datada de 5 de Janeiro do corrente, enviada pelo António Pinto, ex-alf mil dos BCAÇ 506 e 512 (Zona Leste, 1963/1965):

Caro Luís Graça

Cada dia que passa mais eu recuo no tempo, graças ao que vou lendo de tantos Camaradas que queimaram parte da sua juventude em terras da Guiné.

É de louvar a tua iniciativa, que descobri tarde demais, mas que, julgo, ainda vou a tempo de contribuir para que os nossos vindouros se apercebam do que foram aqueles anos em que nos obrigaram a fazer tanta coisa, quer contra os nossos princípios, quer contra as nossas convicções.

Sem querer ser fastidioso e inoportuno vou tentar enviar umas fotos, que julgava já ter enviado, mas não tenho a certeza se foram recebidas. Mando-as somente porque numa das conversas que tivemos, falei no Luís Góis, no meu grande Amigo Gramunha Marques e na empanagem da granada de morteiro que me ia levando desta vida.

Vou legendá-las aqui, pois apesar de ter escrito abaixo das fotos, julgo não se perceber:

-1ª, do lado esquerdo > Pirada > Janeiro de 1964 > Parte do Destacamento de Pirada. Era um celeiro. Pode ver-se o refeitório.

-2ª, do lado direito > Pirada > Fevereiro de 1964 > Construção de um dos abrigos

-3ª , do lado esquerdo > Pirada > Março de 1964 > Obras de ampliação do Quartel e continuação dum abrigo com troncos de cibe

4ª, do lado direito > Pirada > Janeiro de 1965 > Em primeiro plano o Martinho Gramunha Marques, de que te falei, eu e o Sarg Piedade.

5ª, do lado esquerdo > Piche > Abril de 1964 > Comigo um comerciante de Pirada, chamado Mário Soares, depois o conhecido Dr Luís Góis e o Alf Spencer .

6ª, do lado direito > Foto que tirei há pouco tempo da empanagem da granada de morteiro que Maio de 1965, em Beli, quase me levava; caíu a cerca de um metro de mim.


Um grande abraço e desculpa se me estou a repetir.

Pinto

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

(...) " Alguns dados sobre a minha estadia na Guiné:

(i) Embarquei em Novembro de 1963, em rendição individual. Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal;

(ii) Estive algum tempo em Nova Lamego, tendo sido, em seguida destacado para Pirada onde reconstrui o aquartelamento.

(iii) Estive algum tempo em Geba, zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas.

(iv) Vim de férias em Outubro de 1964 (...);

(v) No regresso, fui destacado para Madina do Boé, tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento.

(vi) Depois fui para Beli , onde ao fim de algum tempo, e depois também de ter sido o primeiro pelotão a lá chegar e ter montado o destacamento, em Maio de 65, fomos atacados tendo aí sido ferido (mais seis companheiros) mas, felizmente ninguém morreu. Os meus ferimentos foram motivados pelo rebentamento de uma granada de morteiro, que me encheu o corpo de pequenos estilhaços, mas depois de um mês no hospital em Bissau, fiquei OK.

(vii) Depois de sair do hospital, mandaram-me para Bolama, dar instrução onde terminei a comissão.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

Mensagem do António Pinto (1):

Amigo José Martins (2),

Como o tempo, nesta altura, é coisa que me sobra, após a minha reforma,  e sobretudo porque, depois de ter encontrado a Tertúlia, conforme te disse na última mensagem vou tentar resumir mais uma ou duas histórias que ultimamente me tem assumido ao consciente, duma maneira quase actual.

(1) Gramunha Marques, morto em Madina do Boé.

Estava em Beli, já noite, quando através do rádio do Chefe de Posto soube o que aconteceu aos nossos camaradas, que foram vítimas duma emboscada fatal. A minha primeira reacção foi entrar em contacto com Nova Lamego e pedir autorização para ir tentar ajudá-los.

Levei uma nega do Ten Cor Figueiredo Cardoso que me deu ordens terminantes para ficar onde estava, em Beli, com redobrada vigilância. Com os nervos à flor da pele desliguei-lhe a comunicação depois de quase o ter insultado (e que mais tarde pedi desculpa, do acto impensado).

Pedi voluntários para irem comigo, mesmo desobedecendo às ordens e quem conseguiu demover-me, já com a pequena coluna pronta para arrancarmos, foi o Furriel Stichini, que me disse e não posso mais esquecer:
- Nós vamos, mas será o responsável pelas nossas mortes.

Acabei por ficar, destroçado e cheiro de raiva. O Gramunha Marques, soube-o depois, teve uma morte horrível, com uma perna esfacelada, esvaindo-se em sangue e sempre consciente até ao fim.

(2) Ataque a Beli em Maio de 1965

Em 20 de Maio de 1965 fomos atacados em Beli. A noite estava maravilhosa e o silêncio à volta do Destacamento era total, embora existisse perto uma tabanca com muitas dezenas de palhotas.

Era perto da 1 hora da manhã, estávamos cá fora a petiscar qualquer coisa e nessa altura já estávamos, com certeza, a ser alvo dos guerrilheiros que cercaram o destacamento, e que segundo me disseram depois eram mais de 400.

Deitámo-nos e por volta das 2.30h mais ou menos ouviu-se um único tiro, que perfurou a perna de um sentinela, seguindo-se depois um tiroteio, com armas muito mais sofisticadas do que as nossas, mas nessa altura já estávamos todos na vala, que fizemos a toda a volta do destacamento, respondendo como podíamos.

Incendiaram quase toda a tabanca e as morteiradas caíam por todo o lado. Uma delas rebentou com os bidões de combustível que lá tínhamos.... parecia o Incêndio de Roma.

A granada que me feriu caiu muito perto de mim e a minha sorte foi termos feito a vala, como nos ensinaram em Mafra (sinuosa) e a mesma ter rebentado numa das curvas da dita vala.

Segundo me disseram, depois, estive desmaiado cerca de 10 m e parecia um croquete pois estava só em trousses e corpo todo cheio de sangue dos estilhaços, a maior parte pequenas pedras e areias e também pequenas partículas de aço. Os estilhaços que matavam, felizmente, passaram ao lado...

Depois, como sabes, lá amanhecia muito cedo e por volta das 4 horas eles começaram a debandar, pois estavam a cerca de 20 km da fronteira da Guiné ex-francesa.

Ao amanhecer vieram de Nova Lamego e fomos, salvo erro, seis evacuados para Bissau.

Foram momentos um bocado apertados e, embora já tenham passados quarenta e dois anos, muitas vezes ainda sonho com esse dia.

Amigo Martins, desculpa ter escrito tanto.... mas há tanta coisa para contar e eu, embora tentando sintetizar, deixei correr o pensamento. Desculpa.

Vou tentar mandar mais algumas fotos, não de Madina e Beli, pois ainda não as encontrei e numa delas está o grande amigo que lá morreu o Marques, de que te falei no outro dia.

Um feliz Natal e um 2007 melhor que bom.

Um grande abraço
António Pinto

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

(2) Vd. posts de:

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

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Guiné > Zona Leste > Triângulo de Madina do Boé > Beli > Destacamentro de Beli > BCAÇ 512 > Cópia do relatório do ataque ao destacamento em 20 de Maio de 1965, em que foi ferido o nosso camarada António Pinto.
Fotos: © António Pinto (2006). Direitos reservados.

Imagens alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


Mensagem do António Pinto que esteve na Guiné entre 1963 e 1965, na Zona leste, como alferes miliciano (1):

Amigo Luis Graça

Espero que o teu Natal e a entrada neste novo Ano fosse o melhor possível.

Vou tentar enviar um documento (cópia), em tempos considerado confidencial e que fui descobrir na minha papelada. Dá-me a impressão que está em letras muito pequenas, mas se não conseguires ler....paciência! Refere-se ao relatório do ataque ao Destacamento de Beli em Maio de 65, elaborado e assinado por um Capitão, salvo erro, Veiga Santos, que era, na altura o comandante da Companhia a que pertencia.

Tenho tido dificuldade em mandar mais fotos pois ainda me baralho muito em lidar com o computador.

Agradeço-te para, se puderes e tiveres disponibilidade, me informes se recebeste em condições, ok?

Desculpa a minha ignorância.


Um grande abraço

António Pinto

2. O José Martins (2) deixou o seguinte comentário:

Caro Pinto: Votos de que as festas, como se diz no norte, tenham decorrido em paz e harmonia com aqueles que te são queridos.

Fiquei encantado com os documentos reproduzidos no blogue. Finalmente começa a haver história, especialmente daquelas unidades que, devido à sua condição de filhos menores, por serem formadas por indígenas, foram ficando no esquecimento dos Grandes.

Continua a vasculhar, pois tudo será pouca para legarmos aos vindouros. Temos que ser escritores de história, como me intitula o meu neto.

Um abraço e continua.

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:
18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

(2) Vd. três post recentes:
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

Guiné > 1964 > Brá, Comandos > Equipa Os Fantasmas. "Foto do Furriel Artur Pereira Pires (ao meio, de bigode), a quem fui substituir, e da sua equipa, os Fantasmas, composta por António Joaquim Vieira Ferreira, Manuel Coito Narciso, José da Rocha Moreira e João Ramos Godinho. Foram umas das vítimas do rebentamento da mina em 28 de Novembro de 1964 [, na estrada de Madina do Boé para Contabane, a uma escassa centena de metros do pontão sobre o rio Gobige]" (JSP).


Foto: © João S. Parreira (2005). Direitos reservados.

Mensagem do novo membro da nossa tertúlia, o ex- Alf Mil António de Figueiredo Pinto, BCAÇ 506 (1963/65) (1):

Caro José Martins:

Foi por mero acaso que, pesquisando na Internet assuntos sobre a Guiné, encontrei o site do Amigo Luís Graça (feliz acaso !), apartir do qual e em pouco tempo começo a receber notícias de Amigos, que, como eu, passaram por terras da Guiné.

És o primeiro que eu constato que palmilhou muitos dos caminhos por onde andei. Já estou quase nos 68 anos, um bocado entradote na idade mas um novato nestas andanças de computadores e Internet.

A memória já me vai traindo um bocado, mas há momentos que jamais poderei esquecer e com certeza que me acompanharão para sempre. Guardei alguns documentos daquele tempo e, vasculhando-os, verifico que pertenci à 3ª Companhia de Caçadores, em Nova Lamego, e aos Batalhões de Caçadores, sediados em Bafatá, nºs 506 e 512 e finalmente ao Batalhão de Cavalaria nº 705.

Sobre Madina do Boé (2) estive lá no 2º ano de comissão, lembro-me que fomos os primeiros a lá chegar e montar o 1º aquartelamento que ficou ao fundo da estrada, onde havia uma escola desactivada. Os primeiros tempos passámo-los sem sobressaltos de maior até que houve o 1º ataque, não posso precisar a data. Não tivemos feridos.

Há um episódio, no entanto, entre vários, que me marcou bastante. Vou tentar resumi-lo:

Uma tarde estávamos no Destacamento, quando, de repente, ao fundo da tal estrada vimos chegar, com grande alarido dois ou três jipes com uma velocidade inusitada e alguém aos gritos, que só conseguimos entender quando chegaram à nossa beira. Era um grupo de Comandos, chefiados pelo alferes Saraiva (um homem tremendamente marcado pela guerra em Angola, onde assistiu à morte de familiares seus ) . Aos berros, pediu-nos viaturas e homens para efectuar uma operação (de que eu não tinha conhecimento ) nos arredores de Madina. De tal maneira ele estava transtornado que chegou a puxar de pistola para um Furriel do Destacamento, que esta a apertar as botas, tal era a sua pressa.

O que não posso esquecer é o pedido que um dos nossos soldados fez para substituir o condutor duma viatura, salvo erro, uma Mercedes, argumentando que, sendo ele pequeno ( e era-o de facto) se uma mina rebentasse ele saltava com mais facilidade, pedindo só para deixar tirar a capota da viatura. Não me recordo do nome dele mas vejo-o constantemente...

Essa patrulha, em que não participei, pois o Saraiva não o permitiu, foi atacada, após o rebentamento de minas. Morreram vários camaradas nossos, entre eles o referido condutor, que teve uma morte horrorosa.

Alguns desses camaradas deixaram este mundo nos meus braços e nos do médico que, na altura, estava conosco e que é por demais conhecido - o Luiz Goes, que todos conhecem, com certeza, pelos seus fados de Coimbra (3).

Este foi um dos momentos mais dramáticos que vivi na Guiné (4), para além de outros, especialmente em Beli, onde fui ferido e que noutra altura relatarei.

Penso não estar a ser fastidioso.

Tu mo dirás se posso relatar outros factos que agora se estão a soltar e vir ao consciente.
Fiquei bastante emocionado ao ver no teu contributo de Memórias da Guiné ao ver o nome do meu maior Amigo, dentre tantos Amigos que lá tive - Martinho Gramunha Marques. Sobre ele também gostaria de falar um dia.

Amigo José Martins, breve voltarei, se não fôr inconveniente.
Um grande abraço.Tudo de bom para ti e toda a tua Família.

Pinto

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

(...) "Alguns dados sobre a minha estadia na Guiné:

(i) Embarquei em Novembro de 1963, em rendição individual. Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal.

(ii) Estive algum tempo em Nova Lamego, tendo sido, em seguida destacado para Pirada onde reconstrui o aquartelamento.

(iii) Estive algum tempo em Geba, zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas.

(iv) Vim de férias em Outubro de 1964, conhecer o meu primeiro filho, com 3 meses de idade.

(v) No regresso, fui destacado para Madina do Boé, tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento.

(vi) Depois fui para Beli, onde ao fim de algum tempo, e depois também de ter sido o primeiro pelotão a lá chegar e ter montado o destacamento, em Maio de 65, fomos atacados tendo aí sido ferido (mais seis companheiros) mas, felizmente ninguém morreu. Os meus ferimentos foram motivados pelo rebentamento de uma granada de morteiro, que me encheu o corpo de pequenos estilhaços, mas depois de um mês no hospital em Bissau, fiquei OK" (...).

(2) Vd. posts recentes do José Martins:

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

(3) Vd. blogue Fado de Coimbra e... > Luiz Goes

(...) "Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes nasceu em Coimbra, em 1933 e licenciou-se em Medicina, em Outubro de 1958.

"Sobrinho de Armando Goes (que foi contemporâneo de Edmundo de Bettencourt, António Menano, Lucas Junot, José Paradela de Oliveira, Almeida D’Eça e Artur Paredes), Luiz Goes cedo se iniciou nas cantorias do fado por influência de seu tio.

(...) "Terminado o curso de Medicina em 1958, Luiz Goes fixou-se em Lisboa como médico estomatologista. De 1963 a 1965 o cantor prestou serviço militar na Guiné, na guerra colonial, como alferes-médico. Mas depois, continuou a sua carreira artística, como aliás se demonstra pela quantidade de discos que gravou a partir dessa altura.

"Nesta segunda fase, Luiz Goes foi acompanhado, à guitarra, por Carlos Paredes (que com ele participou na gravação de discos, embora sob pseudónimo), por João Bagão, António Andias, Aires de Aguiar e esporadicamente, por Jorge Tuna e Octávio Sérgio; à viola, por Fernando Alvim, João Gomes, António Toscano, Fernando Neto, e Durval Moreirinhas.

"Para além de excelente intérprete, Luiz Goes é também autor da música e da letra de muitos fados e baladas de Coimbra (25 e 18 respectivamente)" (...).

(4) Julgo tratar-se do mesmo episódio já aqui evocado pelo Virgínio Briote (que comandou o Grupo de Comandos Diabólicos):

Vd. post de Virgínio Briote, de 13 de Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXV: Brá, SPM 0418 (3): memórias de um comando (Virgínio Briote).

Extracto:

"Novembro de 64, dia 28. Na estrada de Madina do Boé para Contabane, a uma escassa centena de metros do pontão sobre o rio Gobige, os Fantasmas detectaram uma mina anti-carro. Levantaram a mina e simularam o rebentamento. Ficaram emboscados nas proximidades cerca de 2 horas. Viram um grupo IN aproximar-se e afastar-se logo que deram pela presença de mulheres na estrada. Uma hora depois viram um elemento IN a fugir. Afinal, estavam em igualdade de circunstância, todos sabiam da presença uns dos outros.

"No dia seguinte voltou com o grupo ao local. Meteu-se com alguns soldados no Unimog mais pequeno à frente, e encaixou dezasseis militares no Unimog maior atrás. A 1ª viatura passou, a outra, uma dezena de metros atrás, não. Pisou uma mina. Ao mesmo tempo que em cima deles caía uma chuva de balas de armas automáticas, o Unimog incendiou-se e as munições explodiram como foguetes num arraial minhoto. Quase todos os homens foram projectados a arder. 7 mortos logo ali e três feridos graves. Tinham partido 22 de Bissau, regressaram doze. Com o grupo dizimado, poucos dias depois arrancou com os restantes para uma operação".

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1378: Tabanca Grande: António de Figueiredo Pinto, ex-Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

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Legenda das Fotos > 1ª do lado esquerdo > Algures, perto de Pirada, zona leste; 2ª do lado direito > Travessia do Rio Corubal em direcção a Madina do Boé; 3ª do meio, lado esquerdo e as duas de baixo > como ficaram algumas das viaturas em Beli, quando fui atacado e onde fui ferido; 4ª do meio do lado direito > Algures em Nova Lamego.
1. Mensagem do António de Figueirdo Pinto:
Amigo Luís Graça,

Pertenci ao Batalhão de Caçadores 506, como alferes miliciano.

Fiquei satisfeito por saber que as mensagens e as fotos foram bem recebidas. De facto, o meu e-mail está em nome da minha mulher [, Maria Amália]. Julgo que não há inconveniente.

Alguns dados sobre a minha estadia na Guiné:
(i) Embarquei em Novembro de 1963, em rendição individual. Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal.

(ii) Estive algum tempo em Nova Lamego, tendo sido, em seguida destacado para Pirada onde reconstrui o aquartelamento.

(iii) Estive algum tempo em Geba, zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas.

(iv) Vim de férias em Outubro de 1964, conhecer o meu primeiro filho, com 3 meses de idade.

(v) No regresso, fui destacado para Madina do Boé, tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento.

(vi) Depois fui para Beli, onde ao fim de algum tempo, e depois também de ter sido o primeiro pelotão a lá chegar e ter montado o destacamento, em Maio de 65, fomos atacados tendo aí sido ferido (mais seis companheiros) mas, felizmente ninguém morreu. Os meus ferimentos foram motivados pelo rebentamento de uma granada de morteiro, que me encheu o corpo de pequenos estilhaços, mas depois de um mês no hospital em Bissau, fiquei OK.

(vii) Depois de sair do hospital, mandaram-me para Bolama, dar instrução onde terminei a comissão.

Quis sintetizar, mas acho que já escrevi demais, desculpa...Concerteza que podes dar este e-mail para eventuais contactos, explicando todavia que está em nome da minha mulher.
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Legendas das Fotos: De cima para baixo, da esquerda para a direita

(i) Dezembro de 1963: Com o Cap Maltez Soares, comandante da CCAÇ 3, de Nova Lamego. Fotografia tirada em Sonaco.

(ii) O Navio Mercante Manuel Alfredo que me levou para a Guiné.

(iii) 1 de Janeiro de 1964: Festa de Ano Nivo no quartel de Nova Lamego.

(iv) Janeiro de 1964: visita do Governador-Geral a Nova Lamego, brigadeiro Louro de Sousa.

(v) Janeiro de 1964: igreja de Nova Lamego.

(vi) Janeiro de 1964: sede da companhia.

Gostaria de saber de camaradas da altura em que lá estive.

Embora tenha trabalhado sempre no Porto, vivo agora perto de Monção, deixo aqui o meu endereço:

Um abraço,
Pinto