Mostrar mensagens com a etiqueta BENG 447. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BENG 447. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23380: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte X: A "guerra do cimento"


1. Mensagem do nosso camarada e amigo, João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971)

Data - terça, 10/05/2922, 18:41
Assunto -  A minha história no BENH 447
 
Boa tarde,

Caro Luís, espero que tudo bem contigo.
Com um final e principio de anos tristes, primeiro por falecimento de minha Mãe, depois de um seu irmão, meu tio aí da Lourinhã, e depois da avó da minha nora. E do covid que atacou o meu netinho. Felizmente ele recuperou.

No entanto todos os dias tenho lido o blog. Recordado bastante e, ficando mais informado e mais culto.

Hoje a "reboque" de um dos últimos posts do Ex-Capitão Magro  (*)  resolvi mandar um texto. Se achares algum interesse,  publica antes do almoço do BENG 447 de 24 de Junho (**) , senão tudo bem.

Um abraço
João Rodrigues Lobo




A minha história no BENG 447

por João Rodrigues Lobo


Na sequência do post do ex-capitão “Magro” (*), relembro que, como comandante do PTE do BENG 447 nos anos de 1969 e 1970, fui o responsável pelos transportes de e para o BENG.

De salientar que, durante estes dois anos, contei com todo o apoio do Comando do Batalhão, nomeadamente. Ten-Coronel Bernardino Pires Pombo, Major Diogo da Silva e Major/Ten-Coronel João António Lopes da Conceição (Foi por escolha de Spinola como Major e lá graduado em Ten-Coronel) e Major Santos Maia.

Fui em rendição individual em Dezembro de 1968 e saí em Janeiro de 1971, não tendo conhecido quer o meu antecessor quer o meu sucessor. Gostava de os conhecer e trocar impressões, embora não saiba sequer os seus nomes.

Encontrei no P.TE  uma “equipa” de dois Sargentos do quadro e quatro Furriéis milicianos. Bem como cerca de noventa condutores-auto, com cerca de metade guineenses e outra metade “continentais”. Todos aregaçavam as mangas e cumpriam as suas missões. Nunca deixarei de dar o mérito que merecem aos Condutores-Auto, nestes teatros de operações em que por vezes injustamente tendem a ser esquecidos.

Como já referi o P.TE recebia, conferia e transportava todo o material que se destinava ao BENG desembarcado dos navios mercantes, no cais novo, vindos do Continente, e conferia, transportava e expedia, no Pigiguiti, pelas LDM e LDG da Marinha, e por coluna auto, para a Guiné. De salientar a excelente cooperação com a Marinha.

Dito isto, cheguei, ao BENG,  aparecendo num jeep do QG que lá me levou, pois pedi boleia, casual,a um condutor que tinha ido a Bissalanca, e que me deixou á porta do QG com a mala, onde o oficial de dia após várias diligências lá descobriu o meu destino, pois quando aterrei em Bissalanca ninguém me esperava nem eu sabia qual a unidade do meu destino (nem o BENG de mim sabia). Aliás estive cerca de uma semana em Cabo Verde a aguardar avião militar, pois tinha ido para lá também de avião
militar de Angola.

Fui então recebido e colocado no PTE. Tendo então começado a aperceber-me e a tomar conta da situação, o que gradualmente, com o strees operacional de um periquito que era, fui organizando o modo de trabalhar, racionalizando o uso de recuros humanos e viaturas disponiveis para a exigência dos vários transportes a realizar, com a pressão acrescida da prioridade aos Reordenamentos dada pelo Comandante Chefe e necessidades das obras nas estradas e aquartelamentos.

Nos primeiros dias, e com os transportes em curso sem parar, solicitei a lista completa dos Homens adstritos ao Pelotão, mapeando a localização de todos os condutores-auto. (com um episódio caricato que já contei no blog). Solicitei a listagem completa de todas as viaturas existentes (de todos os tipos, desde Jeep, plataformas de Transporte de Máquinas Henschel, de carga Mercedes, autotanques, de transporte de pessoal, Unimogs,Volksvagen, Land Rover e outras, e até o monstro gigante de aço Continental que só o grande condutor Simão conduzia! 

Com a colaboração das Oficinas auto e Tenentes Geraldes e Garcia. (Com ele numa foto no blog). Conferi a distribuição das viaturas pelos condutores, que actualizei, quais as viaturas inoperacionais ou paradas por avaria, quais os condutores eventualmente sem viatura, ou no desempenho de outras funções. Isto foi feito em prazo “util”.

Depois a operacionalidade: Avaliação da distribuição das viaturas, sua redistribuição perante as necessidades, Tendo em atenção que poderiam ser insuficientes para o tranporte do cimento dos
navios, para o qual solicitávamos ao Quartel General o aluguer de viaturas civis para esse transporte sempre que se justificava. (frequentemente devido ás várias solicitações de transporte para as obras).

A redistribuição fez-se com sucesso, e a falta de viaturas passou a não se fazer muito notada. Para as obras e deslocações locais foram sempre encontradas soluções e para as descargas e transporte de cimento reduziu-se ao minimo estritamente necessário o uso de viaturas civis fornecidas pelo QG (que mesmo assim eram muitas). 

Felizmente o mais “complicado” foi a redistribuição dos Jeep, pois todos os ilustres capitães precisavam de transporte para acompanhamento de obras e deslocações várias. Mas com apenas alguns pequenos “atritos” lá se convenceram perder o Jeep exlusivo e a requisitar o Jeep quando fosse preciso. Só alguns não gostaram que um Alferes tivesse o “seu” Jeep sempre disponivel, dia e noite, mas, como era mesmo necessário que eu acompanhasse sempre os movimentos e operações nos cais e era eu que o conduzia, lá me foram aturando. Bem-hajam.

Aqui chegados, e começando pelos materiais a receber nos armazéns do porto, sabia que os volumes e caixotes de Engenharia vinham todos sinalizados com um circulo vermelho e preto, também me apercebi da falta de alguns que deveriam ter chegado e não os encontrávamos. E, de outros que esperavam por “papelada” para sair do porto e que demoravam dias parados nesses armazéns. Era impensável a falta e o atrazo.

Consegui que uma vez descarregados e estando no Armazém, com ou sem “papelada” fossem listados e imediatamente transportados para o BENG, eu próprio com os Furriéis milicianos nos encarregámos dessa tarefa. O que resultou e poucos mais se “perderam” nesse período. 

Depois o cimento ! Assitindo á primeiras descargas, (entre 60.000 e 100.000 sacos cada), fiquei estupefacto com o cimento de que perdia, pois ao ler os autos de recepção sancionados pelo QG e, os que eu tinha de conferir, davam uma quebra de cimento entre 5% e 10% conforme a descarga. (A quebra seria dos sacos que se romperiam durante a manipulação no navio, do navio para o cais, do cais para as viaturas e das viaturas para o depósito do BENG. )

10% ou mesmo 5% de quebra era uma montanha de cimento. Das duas três, ou ficava no porão do navio e voltava para o continente ou caía no cais, onde seria dificil circular,e iria parar á água e o navio encalhava.!!!

De notar que juntamente com o cimento “militar” também vinha cimento importado pelos grandes comerciantes civis, nos mesmos navios.

Com a minha cabeça a trabalhar, e andando permanentemente no meu Jeep durante as descargas, percorrendo Bissau e os trajetos para o Batalhão descobri “coisas” interessantes. Algumas vou contar: Razão das quebras reais; O manuseamento dos sacos de papel do cimento. No porão colocavam-se os sacos nas lingadas que eram descarregadas no cais, os sacos eram transportados para zona própria e aqui manuseadas para um empilhamento, sendo depois manuseados para carregar as viaturas.
Perdia-se mesmo muito cimento, mas 10% ???.

Primeira acção: Escala de serviço com a permanência nos cais, em todas as descargas e algumas cargas ,de um Furriel Miliciano e um condutor-auto com Jeep. Estes Furriéis Mil, por quase imposição minha, foram dispensados pelo Comandante de prestar serviços de sargento de dia e de prevenção do Batalhão enquanto as descargas ou cargas durassem. Como os movimentos eram práticamente continuos, alguns Furriéis Mil poucos serviços fizeram, o que deu algum “atrito” com os Sargentos do Quadro, mas sem hipóteses para estes, pois os resultados da acção começaram a ser evidentes.

As viaturas encostavam ao navio e as lingadas iam directamente para estas. Que grande diferença. E então o tempo poupado logo na carga das viaturas foi notório. Mesmo assim a quebra continuava grande e, a vinda do cimento ainda demorava, bom, como o calor era muito, nas minhas voltas encontrei viaturas civis, que trabalhavam á hora, encostadas a descansar á sombra em percursos alternativos. Também me chegou ás orelhas que algumas paravam para “conversar” nalgumas obras civis em curso. 

Como também havia descarga de cimento para firmas civis, por vezes simultaneamente, foi dificil perceber se essas viaturas eram dessas firmas ou nossas. (tendo acabado com uma dessas conversas, ainda um “sacana” da Pide que era empregado num restaurante local, me tentou demover com um falso facto por ele criado para me chantagear, mas teve azar e ficou bem caladinho depois). 

Acção: Mandei comprar cartolina amarela e recortámos castelos de Engenharia, com cerca de 40 cms de altura que colávamos no lado direito do parabrisas. Tiro certeiro, não mais as encontrei a descansar.

Acção: as viaturas eram registadas com a hora de saída do cais e registada a hora da sua entrada no Batalhão na porta de armas (o que nunca tinha sido feito antes).

Acção: Verifiquei também que era dificil ir acompanhando o volume da descarga, quanto tinha
sido desembarcado e quanto faltava, pois a quantidade de sacos variava por viatura,.

Acção: Cada viatura, independentemente da capacidade apenas transportava 100 sacos. (Aqui ainda me “chatearam” porque perdia capacidade de carga de algumas maiores).

Quando por necessidade e possibilidade utilizámos as plataformas estas só traziam 400 sacos. Assim o controle bastava ser por viatura e já não era preciso contar os sacos á chegada ao depósito.

Controlo total. Muitas horas de aluguer poupadas. Menos viaturas civis contratadas. As viaturas eram contratadas pelo QG mas havia uma muito interessante, que fazia sempre um bom serviço e era sempre contratada. ( De quem seria?, mas tudo legal, e não não era minha, um abraço para Tondela). Maior rapidez na descarga e recepção no depósito do Batalhão.

E, imprevisto: Os autos de recepção deixaram de mencionar quebras!

Mais ainda, O BENG 447 começou a ter mais cimento do que lhe era destinado ! Porquê?
Eis o segredo, com a devida vénia e, se algum dos intervenientes estiver a ver, as minhas desculpas.
Realmente ainda ficava bastante cimento no porão do navio dos sacos que se rompiam(e já não no cais devido á descarga direta).

Pedi, no que fui atendido, na carpintaria do Batalhão, que me fizessem umas caixas de madeira com 1 m3  de capacidade com 4 mosquetões na parte de cima aberta. E, no fim da descarga dos sacos, os “estivadores” enchiam, à pazada, as caixas que eram enviadas para o nosso depósito. Ora como as firmas civis que também importavam cimento não se podiam dar a esse luxo... Sem nossa intenção, o cimento dos sacos deles que se tinham rompido misturava-se com o nosso...

No fim de uma dessas maravilhosas descargas ainda tive a visita no Batalhão de um senhor importante do comércio local que me acusou de trazer cimento dele. Educadamente o acompanhei ao depósito onde lhe disse que todos os sacos com a sua marca que eventualmente encontrasse os poderia levar, assumindo eu a culpa de os ter indevidamnete trazido. É óbvio que não encontrou nenhum, o cimento a granel não tinha marca... E, já não muito educadamente, o acompanhei á saída do Batalhão.

Não posso esquecer como todos colocámos o grande espaço do PTE o seu parque de viaturas e suas instalações bem limpas e arranjadas, até com alguma sinalização!

Este poste já vai longo e, em breve, tentarei enviar outro a relatar mais episódios que agora relembrados possam ter algum interesse nostálgico após mais de 50 anos.

E, camaradas daqueles tempos no BENG 447, apareçam no próximo almoço, para trocarmos impressões sobre o que esrevi acima e mais que nos ainda lembramos. (***)
__________

Notas do editior:

(*) Vd. poste de 10 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco

(**) Vd. postes  de:

6 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23147: Convívios (922): XXXVII Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447 - Brá/Bissau/Guiné, a ter lugar no dia 25 de Junho de 2022 na Tornada/Caldas da Rainha (Lima Ferreira, ex-Fur Mil)

(***) Último poste da série > 8 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22790: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte IX: Qual a razão da minha ida da RMA para o CTIG ? Duas histórias... A autorização, anual, passada pela PIDE para poder entrar a bordo dos navios no porto de Bissau, e o "motorista" protegido do capitão da Polícia Militar......

terça-feira, 21 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23373: Fichas de unidade (25): Batalhão de Engenharia nº 447 (Brá, 1964/74): "Que a tamanhas empresas se oferecem"


Batalhão de Engenharia n." 447 (Brá, 1964/74). Guião.  Tem 111 referências no nosso blogue,

Cortesia: coleção de Carlos Coutinho (2009)


Ficha de unidade > Batalhão de Engenharia nº 447

Identificação: BEng 447

Cmdt: 

  • TCor Eng João Carlos Câncio da Silva Escudeiro
  • TCor Eng Raul Brito Subtil
  • Maj Eng José Fernando Lopes Gomes Marques
  • TCor Eng Fernando Gouveia de Morais Branquinho
  • TCor Eng Bernardino Pires Pombo
  • TCor Eng João António Lopes da Conceição
  • TCor Eng Manuel Francisco Rodrigues Fangueiro
  • TCor Eng Alberto da Maia Ferreira e Costa

2.° Cmdt: 

  • Maj Eng José Fernando Lopes Gomes Marques
  • Maj Eng Eduardo Luís Afonso Condado
  • Maj Eng Alípio António Piçarra Diogo da Silva
  • Maj Eng Luís António dos Santos Maia
  • Maj Eng Manuel Francisco Rodrigues Fangueiro
  • Cap Eng José Pedro de Sá Morais Marques
  • Maj Eng Manuel Augusto da Silva Dantas

Divisa: "Que a tamanhas empresas se oferece"

Início: OlJul64 | Extinção: 140ut74

Síntese da Actividade Operacional


Foi constituído a partir de 1Jul64, integrando todos os elementos de Engenharia então existentes na Guiné, e vindo sucessivamente a integrar:
  • uma companhia de comando
  • uma companhia de serviços
  • uma companhia de construções
  •  uma companhia de Engenharia
  • e um pelotão de transportes especiais e expedição. 

Era considerada uma unidade da guarnição normal da Guiné.

O comandante do BEng foi simultaneamente (i) comandante da Engenharia da Guiné e  (ii) chefe da delegação do Serviço de Fortificações e Obras Militares.

Executou a construção e reparações em aquartelamentos de carácter permanente e semi-permanente, incluindo edifícios e construções especiais e de que se destacam:
  • edifícios de comando
  • casernas
  • armazéns de depósitos
  • paióis
  • oficinas
  • enfermarias
  • e abrigos, 

bem como procedeu à electrificação de aquartelamentos e construção de centrais eléctricas e depósitos de armazenamento de água e ainda da rede dupla de arame farpado de Bissau.

Em colaboração com as Obras Públicas da Guiné, procedeu à construção de estradas com revestimento a alcatrão num total de 520 Km, dos quais 241,35 Km competiram exclusivamente ao BEng, e ainda de 71 Km de estrada sem revestimento de alcatrão e também as pontes de Saltinho e Bafatá.

Forneceu ainda a equipagem e manutenção das jangadas de João Landim, S. Vicente e Farim e ministrou a instrução e formação de pessoal indígena nas especialidades de pedreiro, carpinteiro, canalisador, electricista e operador de máquinas de terraplanagem.

Em 140ut74, após entrega das instalações e dos equipamentos, o batalhão foi desactivado e extinto.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 124 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 667/ 668

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22985: Fichas de unidades (24): 26ª CCmds (Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/71)

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23372: Lembrete (41): 37º Encontro Nacional do Pessoal do BENG 447, Brá, Bissau, sábado, 25 de junho, Restaurante O Paraíso do Coto, Caldas da Rainha: há autocarros a partir do Porto e de Lisboa


Capa do livro "A Engenharia Militar na Guiné - O Batalhão de Engenharia". Coord. Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. Lisboa : Direcção de Infraestruturas do Exército, 2014, 166 p. : il. ; 23 cm. PT 378364/14 ISBN 978-972-99877-8-6. Índice da obra: ver aqui.

[Cortesia de Nuno Nazareth Fernandes].

Lembrete (*) do convívio aqui anunciado em 6 de abril de 2022 (**), por sugestão do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971), meu vizinho de Torres Vedras (LG)

Programa


Preços e contactos



________________

Notas do editor:


quinta-feira, 19 de maio de 2022

Guiné 61/74 – P23277: (Ex)citações (408): Os Serviços de Reordenamento da Guiné pelo BENG 447 e tropas de quadrícula, apoiados pelas populações locais (José Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 16 de Maio de 2022 onde nos fala, a pedido do editor Luís Graça, da cooperação da 3327 com a população no reordenamento de  de Bissássema:

Mano Carlos, amigos e companheiros,
O Luís Graça sugeriu que um simples comentário meu fosse publicado como “poste” e pediu-me a adição de mais algumas fotos.
Tal como afirmei no comentário inicial, a minha integração nas tropas africanas da Guiné aconteceu alguns dias antes da CCaç 3327/BII17, a minha companhia ter ido para Bissássema, subsector de Tite. Fiz os possíveis para me colocar no “terreno”, mas admito a possibilidade de alguma falha factual. As fotos que tenho foram-me cedidas por diferentes fontes, a quem presto a devida vénia.


Dito isto, para além do serviço militar da sua responsabilidade nas matas da Guiné, importa realçar o trabalho insano desenvolvido por aquela CCaç 3327/BII17 em prol das populações daquela zona e que perduraram no tempo.
Sem lá ter estado, os meus companheiros daquela companhia certamente compreenderão no meu desabafo, o orgulho que ainda hoje sinto pelo seu trabalho, pela sua abnegação, pelo seu sacrifício, pelo respeito pelas populações locais, pelo seu companheirismo, pela amizade que desde então perdura entre todos.


Este foi o comentário que fiz ao Poste Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco e que mereceu a atenção do Luís Graça:

"Caros amigos e companheiros,

Eu saí para as tropas africanas nas vésperas da minha companhia, a CCaç3327/BII17, ir para o sector de Tite. Os dados que a seguir registo foram tirados da História da Unidade e de alguma consulta com os meus companheiros que lá estiveram.

A CCaç 3327/BII17 assumiu a responsabilidade de Bissássema, subsector de Dita, no dia 19 de Novembro de 1971, altura em que deu início a uma das suas responsabilidades, o reordenamento de Bissássema. Com a ajuda das populações daquele local, até ao fim do mês de Maio de 1972, construiu 100 (cem) casas cobertas a zinco. Relembro aqui que era Chefe de Tabanca o guineense Augusto, várias vezes referenciado em outros artigos.

Após a construção daquelas casas, ainda antes do tempo das chuvas, a companhia construiu mais um edifício para ser usado como messe da oficiais e sargentos. Os edifícios destinados ao aquartelamento também sofreram remodelações com a cimentação de paredes e chãos, sendo que a cantina das praças foi aumentada para sala de convívio.

Durante o período foi acabada a estrada e alcatroamento da que ligava Bissássema a Tite. Também foi construído um furo artesiano, tendo a CCaç 3327/BII17 procedido à construção dos fontenários. Também se fez a electrificação do perímetro. Também se procedeu à abertura e manutenção de uma agropecuária que visava a melhoria da agricultura e das espécies animais.

E mais, talvez a melhor obra da CCaç 3327, pelo impacto que poderá ter tido na vida das pessoas, sobretudo as crianças de então, foi a construção de duas escolas e o professorado (por militares) do ensino primário. Para o interesse que possa ter para a nossa história, a companhia tinha duas equipas na construção das casas. Não posso precisar o número de militares em cada equipa, mas o pessoal envolvido andaria por um pouco mais de duas secções e junte-se a isso um pelotão destacado em Tite. A falta desses efectivos nas actividades militares era compensada com a adição de dois grupos de milícias, os Pelotões de Milícias n°s 294 (38 milícias) e 295 (39 milícias) perfeitamente integrados nos grupos de combate da companhia.”

Foto 1 – Construção de uma casa no Reordenamento de Bissássema. Na foto o 1.° Cabo At Inf José Silveira Leonardes, o Sold At Inf João Lourenço de Avelar Ventura e o Sold At Inf Idalmiro Neves de Melo procedem à cobertura da nova casa.
Foto 2 – Aspecto da Tabanca de Bissássema. Os dois primeiros edifícios faziam parte do aquartelamento.
Foto 3 – Coluna auto onde são bem visíveis elementos da CCaç 3327 e dos Pelotões de Milícia (desconheço o nome dos dois milícias na foto). De frente para nós, na fila de trás, da esquerda para a direita: o 1.° Cabo Jorge Manuel da Ponte Moniz (já falecido) e o Furriel Mil Henrique Francisco Garrido. Com as costas viradas para nós e pela mesma ordem, o 1.° Cabo Telegrafista Álvaro Ferreira Pereira, o Sold Manuel Alberto da Silva Rocha (já falecido) e o 1.° Cabo Carlos Manuel da Silva.
Foto 4 – Da esquerda para a direita: o Sold At Inf NM 11532470, Raimundo Henrique da Silva, (já falecido) e o 1.° Cabo At Inf NM José Marcelino Gonçalves de Sousa, no regresso de uma operação à Península da Junqueira onde foi apreendido algum material IN.
Foto 5 – 1.° Cabo José Sousa (CCaç 3327/BII17) junto do Monumento da CCav 2765 aos seus mártires de guerra.
Foto 6 – O mesmo monumento, mas do outro lado, com a inscrição da CCaç 3327 com o cuidado em juntar a inscrição dos Pelotões de Milícias.
Foto 7 – Cópia de um documento da História da Unidade referindo a visita do Ministro da Defesa Horácio Sã Viana Rebelo.
Foto 8 – O Alferes Agostinho Morgado Barata Neves (2), se bem julgo saber, na altura a comandar o aquartelamento de Bissássema, cumprimentando o Ministro da Defesa, Horácio Sá Viana Rebelo. O Alferes Francisco João Magalhães (1), coadjuvado que foi pelo Fur Mil Manjuel Lopes Daniel e, no impedimento deste, pelo Fur Mil João Alberto Pinto Cruz, era o oficial responsável pelas construções do Reordenamento de Bissássema, aguarda a sua vez para cumprimentar o Ministro da Defesa Nacional. Entre outros oficiais, o General Spínola (3) acompanhou esta visita Ministerial.
Foto 9 – Documento retirado da História da Unidade que atestam alguns dos trabalhos realizados pela CCaç 3327/BII17 no reordenamento de Bissássema e arredores (escolas de Feninque e Fóia. Estes trabalhos prolongaram-se e foram concluídos no mês de Novembro e primeira semana de Desembro.
Foto 10 – Elementos da CCaç 3327/BII17 na capinação e limpeza do auqrtelamento de Bissássema.
Foto 11 – O 1.° Cabo At Inf Carlos Manuel Fragoso de Medeiros conduzindo as suas tropas, devidamente “fardadas” para o tempo, os alunos (as) da escola primária mantida pela CCaç 3327/BII17.

O ensino escolar foi, certamente, uma boa herança deixada pela CCaç 3327 na então Província Ultramarina da Guiné.

Abraço transatlântico.
José Câmara
____________

Nota do editor

Vd. poste de 10 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco

Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 – P23247: (Ex)citações (407): Pedaços da vida militar. A tropa e o caminho rumo à Guiné. (José Saúde)

terça-feira, 10 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco


Capa do livro "A Engenharia Militar na Guiné - O Batalhão de Engenharia". Coord. Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. Lisboa : Direcção de Infraestruturas do Exército, 2014, 166 p. : il. ; 23 cm. PT 378364/14 ISBN 978-972-99877-8-6. Cortesia de Nuno Nazareth Fernandes.


Guiné > Região do Cacheu > Bissássema > c. 1971/73 > Construção de uma casa no reordenamento de Bissássema. Na foto: 1.º Cabo José Leonardo e os Soldados João Ventura e Idalmiro Melo da CCAÇ 3327 (Teixeira Pinto e Bissássema, 1971/73).. Foto de José Leonardo, cedida por José da Câmara.

Foto (e legenda): © José Leonardo / José da Câmara (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Na celebração do 18º aniversário do nosso blogue (*), vamos também repescar postes que, por um razão ou outra, não tiveram a devida divulgação, ou têm informação relevante para os nossos leitores mais recentes. 

É o caso, por exemplo, deste poste, sobre os reordenamentos populacionais (**). Merece ser reeditado, pela quantidade e qualidade da informação técnica, para mais sendo  da autoria do então cap mil art, Fernando Valente (Magro), que chefiava os competentes serviços, no BENG 447 (Brá, 1970/72). 

Foi mobilizado para o CTIG aos 33 anos, sendo já na vida civil engenheiro
técnico. Hoje está reformado, e é, além disso, escritor. Faz também hoje 86 anos de idade, sendo o mais velho dos elementos do Núcleo de Combatentes da Família Magro: foram ao todo seis os manos Magro que fizeram o serviço militar ao tempo da guerra do ultramar / guerra colonial, tendo estado  três na Guiné, um em Angola, outro em Moçambique e outro ficou por cá, como suplente.  Três dos manos Magro integram a Tabanca Grande, o Fernando,o Abílio e o Álvaro.

O Fernando Vicente (Magro) é membro da Tabanca Grande desde 5/7/2013, tem 36 referências no nosso blogue, é autor do livro (e da série) "Memórias da Guiné" (Lisboa: Edições Polvo, 2005, 86 pp.). Viveu na Guiné, em 1970/72, com a esposa e o filho.

Os reordenamentos populacionais

por Fernando Magro (**)


Fui colocado nos Serviços de Reordenamentos Populacionais. Inicialmente, e durante cerca de dois meses, trabalhei no Planeamento, no Comando-Chefe, na Amura. E depois chefiei os Serviços no Batalhão de Engenharia 447, em Brá.

Tratava-se de um serviço dirigido por militares destinado essencialmente às populações civis. Tinha em vista proceder ao agrupamento de diversas pequenas "tabancas" com o fim de constituir médios aldeamentos onde fosse rentável dotá-los com algumas infra-estruturas, tais como: escolas, postos sanitários, fontanários, tanques de lavar, cercados para gado, mesquitas ou capelas.

Além disso tinha-se também em vista, com a execução do Reordenamento, a defesa e controlo da população.

Na Amura estava à frente dos Serviços o major Matos Guerra, indivíduo muito instável e nervoso. Foi substituído, passados alguns meses, pelo major Carlos Azeredo que mais tarde foi chefe da Casa Militar do Presidente Mário Soares, comandante da Região Militar Norte, Governador da Madeira...

No Comando-Chefe eram decididos os trabalhos a realizar e de lá chegavam ao Batalhão de Engenharia ordens da natureza desta que a seguir transcrevo:

"From: Comchefe POP
To: Batengenharia

Mande comprar materiais para construir um Pool de: 1.550 casas zn; 50 T2; 40 escolas; 10.000 m de arame farpado. Deve indicar urgentemente a este necessidade aquisição ferramentas."


No Batalhão de Engenharia 447 foi organizado um mapa de medições para os vários tipos de construção e de acordo com essas medições assim eram quantificados os volumes de materiais a adquirir bem como colecções de ferramentas necessárias para a execução dos trabalhos.

Para, por exemplo, 60 casas T2, havia necessidade de adquirir:

  • 11.700 ripas; 
  • 780 kg de pregos n.º 15; 
  • 600 kg de pregos n.º 7; 
  • 480 kg de pregos zincados; 
  • 420 anilhas de chumbo 6/8";
  • e 8.520 chapas de zinco.

As paredes das construções eram em adobe, que os beneficiários eram incumbidos de executar, o que faziam bem, amassando terra argilosa com palha e secando os adobes ao sol.


A armação das coberturas das construções era em rachas de cibe (árvore da família das palmeiras). Um tronco dessa árvore aberto em duas partes e cada uma dessas metades aberta de novo ao meio dava origem a quatro rachas de cibe.

Os cibes eram adquiridos pelo Batalhão de Engenharia. Tinham de respeitar normas específicas: 
  • terem determinados metros de comprimento;
  • serem secos;
  • possuírem uma certa secção; 
  • e não fazerem qualquer curvatura, de modo que, quando aplicados, não apresentassem flecha.

As unidades militares em cuja área se executavam reordenamentos tinham interesse em adjudicar o fornecimento das rachas de cibe aos indí­genas da região. Dessa maneira, estando ocupados, deixavam de fazer a guerrilha, além de materialmente poderem beneficiar de modo a satisfazerem algumas das suas aspirações.

As obras eram geridas e supervisionadas pelo pessoal da Unidade Militar da área. Geralmente era nomeado um alferes, um furriel e dois cabos (um carpiteiro e o outro pedreiro nas suas vidas civis) para fazerem um estágio de alguns dias no Batalhão de Engenharia da Guiné onde praticavam na construção de algumas casas.

Havia pelo menos:
  •  uma casa no início de construção, na fase das fundações; 
  • outra com as paredes exteriores em execução; 
  • outra ainda com as paredes interiores e a armação do telhado a serem realizadas;
  •  e finalmente uma outra em fase de acabamento. 


Essa equipa, depois de ficar devidamente elucidada sobre o modo de construção das casas, regressava às suas unidades e ficava responsável pela execução dos trabalhos na sua área.

Como já referi, os materiais eram fornecidos pelo Batalhão de Engenharia à exepção dos adobes que eram executados pelos nativos. Quanto às rachas de cibe, ou eram obtidas na própria área das construções ou fornecidas pelo Batalhão de Engenharia.




Construção de uma casa no reordenamento de Bissássema. Na foto: 1.º Cabo José Leonardo e os Soldados João Ventura e Idalmiro Melo da CCAÇ 3327

Foto: © José Leonardo, cedida por José da Câmara


No Comando-Chefe era elaborado um plano de urbanização (se assim se podia chamar) com a planta dos arruamentos e a disposição das casas e a localização das várias infra-estruturas.

O local dos reordenamentos também era escolhido pelo pessoal do Comando-Chefe e naturalmente tinha em linha de conta a possibilidade de as terras próximas serem agricultáveis e a defesa das populações poder ser viabilizada.

No decurso das obras sempre que havia qualquer problema de ordem técnica,  o Batalhão de Engenharia dava o respectivo apoio.

Fiz, por isso, algumas viagens para o interior da Guiné em helicóptero ou de avião (Dornier) a que chamávamos DO. Fiquei, então, com uma visão geral da Guiné. Desloquei-me para o sul. Estive em Cufar, Catió e Cacine. No norte estive em Binta e Farim. Para leste fui a Bafatá, Bambadinca, Nhabijões, Nova Lamego e Buruntuma.

Nas férias da Páscoa de 1971 passei alguns dias na Ilha de Bubaque, no Arquipélago de Bijagós.

Mais perto de Bissau desloquei-me de automóvel diversas vezes a Nhacra, Safim, João Landim e ao Cumeré.

Na minha actividade, integrado no Batalhão de Engenharia, estive sempre atento para que nunca faltasse material nem ferramentas nos locais dos reordenamentos, pois o General Spí­nola fazia muitas viagens para o interior de helicóptero e sempre que via do ar um reordenamento em execução ordenava que o piloto aterrasse para poder visitar as obras.

O meu receio era que alguém, alguma vez, se queixasse da demora do envio de materiais por parte do Batalhão de Engenharia para justificar um possível atraso na execução dos trabalhos. Isso, porém, que eu saiba, nunca aconteceu.

Por outro lado era absolutamente necessário que na proximidade da época das chuvas as casas estivessem com a cobertura executada, cobertura essa que se prolongava para além das paredes exteriores mais de um metro, formando um terraço coberto à volta das casas, pois se assim não fosse as paredes de abobe, sem qualquer protecção, eram destruí­das pelas chuvas.

Desta minha actividade houve um facto que me poderia ter trazido graves consequências se não tivesse procedido com firmeza imediatamente após ter dele conhecimento.

Um coronel foi um dia oferecer-se ao meu Comandante (Tenente-Coronel Lopes da Conceição, já falecido com o posto de General) para promover o corte de rachas de cibe na área do seu Batalhão e posterior fornecimento à Engenharia das mesmas.

O meu Comandante chamou-me ao seu gabinete. Apresentou-me o Coronel e disse-me o que ele pretendia.A ideia do Coronel era pôr os nativos da região da sua Unidade militar a trabalhar na floresta, dando-lhes oportunidade de auferirem algum rendimento.

Uma vez que se tratava de um material imprescindí­vel para as obras que tinha em curso, e embora na área do Batalhão que o Coronel Comandava não houvesse qualquer reordenamento, aceitei imediatamente a proposta e indiquei as condições em que se teria de fazer o fornecimento: o custo e as normas específicas que as rachas de cibe tinham de respeitar.

Dei-lhe mesmo um pequeno caderno de encargos-tipo que teria de ser seguido.

Passados uns tempos o Primeiro Sargento que comigo colaborava apresentou-se no meu gabinete e, depois da continência militar, bradou:

- O meu Capitão já viu os cibes que estão a ser depositados à volta do campo de futebol?
- Não.
- Se o meu Capitão tivesse alguns minutos disponí­veis propunha-lhe que os visse.

Levantei-me e fui com o Primeiro Sargento até ao local onde estavam depositados os cibes. Tinham vindo da área do Batalhão do tal Coronel. As rachas de cibe eram verdes, arqueadas e com secção inferior à das normas.

Fiquei furioso. Encaminhei-me imediatamente para a Central Rádio e lá redigi uma mensagem que mandei emitir, que dizia mais ou menos isto:

"As rachas de cibe recebidas no Batalhão de Engenharia não respeitam as normas específicas de que lhe foi dado conhecimento. Não serão aceites nem pagas por este Batalhão pelo que deverá mandar retirá-las do local onde foram depositadas."

Esta guerra das rachas de cibe para mim tinha acabado, julgava eu. Mas não. Volvidos alguns dias sobre este acontecimento, o meu Comandante mandou-me chamar ao seu gabinete. Muito sisudo, disse-me que o Coronel (não pretendo mencionar o seu nome) se tinha queixado de mim ao General Spí­nola por causa de uma mensagem rádio que eu lhe tinha enviado.

Contei-lhe a história e convidei o Comandante a deslocar-se ao campo de futebol onde ainda estavam depositadas as rachas de cibe. Pegou no pinguelim, pôs a sua boina e para lá nos dirigimos.

Depois de ter constatado no local em que condições foram fornecidas as rachas de cibe, disse-me:
- Tem toda a razão. Não se preocupe mais com isso. Eu tratarei do assunto com o nosso General.

Na mensagem que enviou poderia ter sido menos duro, mas não tenho dúvidas que fez o que devia.

Soube mais tarde que o General Spí­nola apreciou a minha atitude e, evidentemente, não concordou com a maneira de agir do Coronel nessa sua iniciativa.

Em Julho de 1971 deslocou-se à Guiné uma delegação da ONU. Como dessa visita constava a sua passagem pelo Batalhão de Engenharia 447, os Serviços de Reordenamentos Populacionais tiveram de redigir um pequeno memorando, a fim de elucidar os elementos dessa delegação sobre as suas actividades, memorando que transcrevo adiante:

Serviço de Reordenamentos Populacionais
 
ActividadesApoio técnico e de materiais às obras de reordenamentos.

Cada reordenamento é constituído por:

  • um número determinado de casas de adobe destinadas à população; 
  • uma ou duas casas de adobe também, mas com melhor acabamento destinadas aos chefes; 
  • uma ou duas escolas em blocos de cimento; 
  • um posto sanitário em blocos de cimento; 
  • um ou dois cercados para gado; 
  • fontanários; 
  • bebedouros e lavadouros.

Prevê-se futuramente uma construção destinada ao culto religioso.

O Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia elaborou as Instruções de Reordenamentos, onde constam normas e pormenores das construções, desenhos, sequência de trabalhos, medições, orçamento e quadro resumo dos materiais necessários.

Tem o Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia habilitado inúmeros oficiais, sargentos e cabos com o estágio de reordenamentos. Esses elementos, formando equipas constituídas por um oficial (alferes), um encarregado de obras (furriel),  um pedreiro (cabo) e um carpinteiro (cabo) executaram no interior da província com a colaboração das populações, cerca de 8.000 casas cobertas a colmo e 3.880 cobertas a zinco nos últimos anos.

O Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia 447 tem apoiado essas construções com material e, quando solicitado, tem prestado assistência ténica localmente.

A esse volume de trabalho correspondem as seguintes quantidades de materiais:

  • Rachas de cibe - 542.000
  • Chapas de zinco - 550.960
  • Ripas - 756.600 metros
  • Pregos - 120.280 kg
  • Anilhas de chumbo - 27.160 kg
  • Cimento - 19.400 sacos
[ Revisão / fixação de texto, para  efeitos de publicação deste poste no nosso blogue: LG ]

____________

Notas do editor


sábado, 30 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23214: Humor de caserna (53): O anedotário da Spinolândia (III): a "melena" do cap inf Vasco Lourenço que irritou o célebre "Coronel Onze" (Fernando Magro, ex-cap mil art, BENG 447, Bissau, 1970/72)

 


Capa do livro do Fernando Magro - Memórias da Guiné. Lisboa: Edições Polvo, 2005, 86 pp.  Na foto, o filho, Fernando Manuel, e o seu cão, na casa em que a família vivia em Bissau. 



Fernando Pinto Valente (Magro), ontem e hoje


1. Mais uma história da Spinolândia (*): desta vez não envolve diretamente a figura do gen Spínola,  mas sim um dos seus próximos colaboradores, o "Coronel Onze",  e um futuro capitão de Abril, o capitão inf Vasco Lourenço, cmdt da
CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71).

Foi já aqui oportunamente contada  pelo Fernando Valente (Magro) (**) que, aos 33 anos, casado e pai de um filho menor, foi mobilizado para o CTIG,  como cap mil art,  BENG 447,Bissau, 1970/72, e que publicou em 2005 um livrinho com as suas memórias da Guiné, de 86 pp.  (reproduzidas no nosso blogue, na série "Memórias da Guiné,  por Fernando Valente (Magro)".

Há dias recebi, pelo correio, uma cópia do livro, via Hélder Sousa (que faz parte parte dos corpos sociais da ANET - Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos, tal como o Fernando Magro; aliás, a edição do livro teve o apoio da ANET, e havia por lá sobras do livrinho: obrigado, Hélder, pela encomendinha que chegou a boas mãos pelo correio).



Capa do livro de Vasco Lourenço do Interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Lisboa, Âncora, 2009, 608 pp.  

"Vasco Correia Lourenço nasceu em 19 de junho de 1942, em Lousa, Castelo Branco. Integrando desde o início o Movimento dos Capitães, coordenou a organização da sua primeira reunião em 9 de setembro de 1973, vindo a pertencer à sua Comissão Coordenadora e à sua Direção. Único oficial que pertenceu sempre aos órgãos de cúpula do Movimento dos Capitães (CC e Dir.) e do MFA (CCPMFA, CE, C20 e CR). Das várias condecorações que possui, destacam-se a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Presidente da Direção da Associação 25 de Abril, desde a sua fundação em outubro de 1982. Coronel na Reforma". Fonte: Wook


A melena, pouco "regulamentar", 
do cap inf Vasco Lourenço 


(...) Instalado no Clube de Oficiais, em Santa Luzia, próximo do Quartel-General, iniciei a 21 de Abril de 1970 a minha actividade nos Serviços de Reordenamentos Populacionais no Comando Chefe (Amura).

Durante a minha estadia nesse clube tive contacto com vários oficiais do quadro permanente e do quadro de complemento (milicianos) que também lá se encontravam instalados ou que, estando sediados fora de Bissau, por lá passaram para tratar assuntos relativos às companhias que comandavam.

Em finais de Abril o General Spínola reuniu numa grande sala do Palácio praticamente todos o capitães em serviço na Guiné. Eu, praticamente acabado de chegar, também estive presente nessa reunião.

O General traçou novos rumos no que dizia respeito à luta contra a subversão. Deu a entender que se estavam estabelecendo negociações com os chefes terroristas no sentido da resolução política do diferendo. Ordenou que as Companhias Operacionais não mais tomassem atitudes ofensivas, mas simplesmente defensivas. Mandou que se procedesse sem ódio nem brutalidade contra os prisioneiros de guerra e as populações afectas ao inimigo, de modo a que se possibilitasse a sua apresentação às autoridades e se pudesse caminhar para a pacificação.

 (...) Na referida reunião dos capitães com o General Spínola, fui surpreendido pela forma descontraída, directa e muito incisiva, como o Capitão Vasco Lourenço procurou saber do General mais pormenores sobre o modo como actuar futuramente face às novas directivas. Directivas que passados alguns dias foram canceladas, dado que foram mortos três majores e um alferes que, desarmados, procuravam o contacto com chefes terroristas de que havia indicação de se quererem entregar.

Um dos majores (Pereira da Silva) conhecia-o muito bem, pois havia privado com ele no GACA 3 tendo ele, na altura, o posto de Tenente.

A minha vida ia correndo sem grandes sobressaltos entre o Comando-Chefe e o Clube de Oficiais. Aqui no Clube, havia uma piscina e à noite por vezes havia cinema e outros espectáculos ao ar livre. Lembro-me de ter visto espectáculos de música, de ilusionismo e uma vez de hipnotismo. Neste último um soldado, depois de hipnotizado, foi convencido que estava uma noite gélida (ao contrário do que acontecia, pois tratava-se de uma cálida noite africana) e recordo-me como ele tremeu de frio e se agasalhou o mais que pôde com as roupas que tinha por perto.

Estando à beira da piscina, no dia 19 de Maio de 1970, ouvi pela primeira vez a artilharia dos independentistas em acção. Eram cerca de 23 horas quando foi desencadeado um ataque com artilharia ao Quartel de Tite. Os rebentamenros era perfeitamente audíveis em Bissau. O poder de fogo era grande, tendo havido lançamento, por parte das forças inimigas, de cinco mísseis.

No Clube de Oficiais fazia a minha vida depois de findo o meu serviço no Comando-Chefe. Era a minha casa. Lá tinha tudo: alimentação, dormida e até barbearia. Foi justamente na barbearia onde certo dia fui cortar o cabelo que se deu este episódio com o Capitão Vasco Lourenço que vou passar a contar.

Encontrando-me uma vez sentado numa das cadeiras da barbearia do Clube de Oficiais de Bissau, acomodou-se a meu lado o Capitão Lourenço. Imediatamente solicitou que lhe cortassem o cabelo. Este pedido surpreendeu o soldado da barbearia que, tartamudeando, se aprontou para o atender.
Mas... meu capitão, ainda nem há uma hora lhe cortei o cabelo!
– Pois é. Mas vais cortar-mo de novo.

O rapaz não replicou, mas muito em surdina, ainda conseguiu pronunciar duas palavras que só eu pude entender, embora com dificuldade.
– Está "apanhado".

Também fiquei intrigado com o que se passava, pelo que procurei esclarecer o assunto mais tarde. Quando ambos abandonamos o Clube de Oficiais, o Capitão Lourenço satisfez a minha
 curiosidade.

Segundo me explicou, havia-se cruzado, após o primeiro corte de cabelo, com um dos chefes militares de Bissau. O Coronel Onze, como era conhecido e não me perguntem porquê, era muito rigoroso com o atavio e o porte dos seus subordinados, principalmente com os oficiais. Quando se cruzou com o Capitão Lourenço te-lo-á interpelado com severidade, chamando-o à atenção para o facto de o seu corte de cabelo não ser o regulamentar.
– O Senhor Capitão é miliciano?
– Não, não, meu Coronel. Eu pertenço ao quadro permanente.
– Mas isso é indisculpável. Faça o favor de ir cortar o cabelo imediatamente. Essa melena na testa é uma vergonha. Depois apresente-se no meu gabinete.

Seguidamente a este relato, que tentei aproximar tanto quanto me foi possível da realidade, o Capitão Lourenço teceu várias considerações e deu curso à sua revolta interior.

Explicada a razão pela qual o Capitão Lourenço teve necessidade de cortar o cabelo, pela segunda vez no mesmo dia, o referido oficial encaminhou-se para o gabinete do Coronel Onze. 
(...)

Fonte: Excertos de Fernando Magreo - Memórias da Guiné. Lisboa: Edições Polvo, 2005,  pp. 37

[Fixação / revisão de texto / título do poste: LG]

2. Comentário do nosso editor LG:

O nosso camarada José Câmara, em comentário ao poste P12028 (**) identificou o "Coronel Onze" como sendo o "Coronel Santos Costa". E acrescentava: "não era só austero, era desumano". Não conseguimos, no entanto,  encontrar nenhum coronel, no CTIG, com este apelido nos livros da CECA...

Será que se trataria do cor cav Fernando Rodrigues de Sousa Costa, um dos comandantes do COMBIS (Bissau), não ?!

O Carlos Pinheiro acrescentou (**): "Gostei desta memória e acima de tudo de ouvir falar do tal "coronel 11" que era mais que famoso na cidade de Bissau. A maior parte dos militares nem o chegou a conhecer, mas histórias acerca dele toda a gente conhecia."

Veja-se este episódio do "anedotário da Spinolândia" também como uma homenagem ao sentido do humor do nosso veterano Fernando Magro (um dos seis membros da família Magro que fizeram a "guerra do Ultramar") e sobretudo ao capitão de Abril , Vasco Lourenço, uma figura que, como diz o Carlos Silva (**), já pertence à história deste país, tal como o gen Spínola,  e que, como tal, merece o nosso respeito. (Felizmente ainda está vivo e vai fazer em breve 80 anos.)

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23177: Humor de caserna (50): "O meu pessoal só pode transitar em canoas balantas. E alguns não sabem nadar. Conclusão: Siga a Marinha!": um documento do "Gasparinho" que ainda hoje nos suscita um sorriso amargo (António J. Pereira da Costa, cor art ref)



Guiné > Região do Oio > Nhamate > CART 3330 > 1971 > Uma peça de antologia do humor negro... castrense: "O meu pessoal só pode transitar em canoas balantas. E alguns não sabem nadar. Conclusão: Siga a Marinha!"  ...


1. Este documento foi-nos oportunamente remetido pelo António J. Pereira da Costa, cor art e membro da nossa Tabanca Grande, com a seguinte informação (*):

(...) Aqui vai uma nota escrita pelo célebre major Gaspar que inventou aquela expressão que ainda hoje usamos: Siga a Marinha!

In Os Anos de Guerra: 1961 - 1975: Os portugueses em África: Crónica Ficção e História. Organização de João de Melo - II Volume. S/l: Círculo de Leitores 1988. 190 (documento reproduzido com a devida vénia...).

Leiam-na com atenção e vejam se ela não é um tratado de logística da Guerra Colonial. É de um humor amargo, mas era a verdade. (...)


2. Fixação e revisão de texto, da responsabilidade do editor LG, de modo a tornar mais legível o conteúdo da mensagem:


Ministério do Exército | Comando Territorial Independente da Guiné

Mensagem nº 125/71 [classificada como Confidencial, Urgente), enviada pelo Comandante da CART 3330, SPM 6928, Cap Art José Joaquim Vilares Gaspar, dirigida ao Comandante da Engenharia, com conhecimento a CAOP1, RepOper/Com-Chefe, RepPop/Com-Chefe, RecAcap/Com-Chefe, e BCAÇ 2928. Entrada na Secretaria do Batalhão de Engenharia, nº 306, em 22/3/71.

Nhamate, 18 de Março de 1971.

Assunto - Quartel em Nhamate (ou mais propriamente abarracamento)

1. Exponho a V. Excia um dos assuntos mais vitais para a continuidade militar e humana de NHAMATE [, a leste de Binar: vd. carta de Bula].

2. Passo a descriminar [sic, em vez de discriminar]:

a) DEPÓSITO DE GÉNEROS

Quando chover fico sem pão pelo menos 15 dias. Julgo que não é muito agradável. Informo V. Excia que não como pão. Gordo estou eu.

E os outros géneros ? E os autos subsequentes ? Só problemas.

b) CASERNAS: 

Barracas de lona, todas oficialmente dadas incapazes. Na Birmânia, viveu-se assim 1 ou 2 meses. Os quadros vivem-no há 10 anos. E os milicianos (os meus, de certeza) “dão o litro” até ao fim. Os soldados dão tudo. Há que tudo lhes dar, na medida do possível.

c) CANTINA: 

E o tabaco ? Desde Napoleão e Fredy [diminuitivo de Frederico] da Prússia que o tabaco era uma das bases da eficiência do Exército. Como combater ou trabalhar sem o velho cigarrinho ? E outros géneros ? V.Excia, mais experiente, meditará sobre o assunto.

d) CASERNA DE CIMENTO: 

Único exemplar. Vou demoli-lo. Não tenho materiais. Solicito auxílio Engenharia.

e) MESS [sic, em vez de Messe]: 

Desde o início das chuvas desnecessita de garrafas de água. Basta as mesmas estarem abertas. Ponchos e gabardinas já temos.

f) CHAPAS DE ZINCO: 

Ao mínimo vento já voam no Quartel.

g) GABINETE D COMANDANTE E 1º SARGENTO: 

Com as chuvas eu e o 1º Sargento só temos a solução de entrar de escafandro, visto estar a 2 metros abaixo da superfície do solo.

h) O meu pessoal só pode transitar em canoas balantas. E alguns não sabem nadar. CONCLUSÃO: SIGA A MARINHA!


3. Este quartel tem se ser revisto por um Oficial de Eng[enharia], senão começo a construir um novo com os materiais dos REORD[ENAMENTOS], contra a norma, o que é aborrecido, contende com a disciplina e eu não gosto.

4. Agradecendo a boa atenção de V. Excia., gostaria de aqui ter como convidado um Senhor Oficial de Eng[enharia] a fim de concordar ou condenar as minhas asserções supras.

Cumprimentos,

O Comandante,
José Joaquim Vilares Gaspar, Cap Art



3. Comentário do editor LG:

Reproduzo, no essencial, o que escrevi na altura, há cerca de 14 nos atrás.

Repare-se no circuito da informação: uma simples mensagem, que devia ser de rotina, a pedir o apoio da Engenharia para se proceder a obras de reparação num aquartelamento  do interior (na realidade, um conjunto de barracos, como tantos outros), seguia para 6 (seis): o comandante do BENG 447,  com conhecimento a outras unidades,  incluindo três repartções do Com-Chefe!!!... 

Digam-me lá como se podia ganhar a guerra com tantos relés parasitas, porteiros, gate-keepers, típicos do disfuncionamento burocrático! ... 

De um exército em armas (que chegou aos 40 mil homens, no CTIG) quantos não haveria, do cabo ao sargento, do tenente ao coronel, com funções amanuenses, ligados à gestão da informação  e conhecimento?!

Milhares de homens, mangas de alpaca militares, escreviam notas como esta (seguramente menos geniais, divertidas, contundentes, demolidoras, corrosivas... como esta!), batiam-nas à máquina, expediam-nas, classificavam-nas, arquivavam-nas, retinham-nas, guardavam-nas na gaveta, analisavam-nas tardiamente, reencaminhavam-nas tarde e a más horas para o nível superior da hierarquia militar... 

Enfim, a maior parte das vezes estes homens não comunicavam devidamente, não recebiam resposta ou feedback positivo, continuavam perdidos e sós, nas Nhamates  e bu...rakos do mato da Guiné...

Pela primeira vez, em 2008, ouvi falar em Nhamate, na CART 3330 e no seu desconcertante e bravo comandante, o cap art Gaspar, tratado afetuosamente como "Gasparinhi"... 

Pergunta.se:

(i) será que a sorte dos homens que estavam em Nhamate melhorou ? 

(ii) será que nenhum morreu afogado na época das chuvas ? 

(iii) será que nunca lhes faltou o tabaquinho e a água de Lisboa

(iv) será que a Marinha seguiu mesmo ? 

(v) e o Gasparinho (que ternura de nome, posto pelos seus pares e usado pelos seus subordinados) não terá acabado na psiquiatria ? 

Sabemos hoje que acabou mesmo na psiquiatria e levou, ainda por cima,  dois anos de prisão disciplinar... Vejo que morreu cedo, coitado, em 1977... Um homem que tratava o Frederico da Prússia por Fredy merecia um estátua em Nhamate!

Tenho alguma relutância em classificar em poste na série Humor de Caserna... Embora ligeiro, soft, é o título que me acorreu primeiro... Mas podia ser outro qualquer, mais contundente, mais duro, mais agressivo, mais próximo do tempo e do lugar, algures na Guiné, longe do Vietname, como eu ironicamente costumava escrever, no tempo em que lá estive, em 1969/71.

4. Comentário adicional do António J. Pereira da Costa (*):

(...) Sobre este assunto quero acrescentar que não se tratava de uma situação de rotina, mas sim de um pedido para solução de um problema de instalações que se arrastava.

 Como podem ver,  o pedido era enviado às principais Repartições  do ComChefe que não estariam no circuito habitual para uma situação destas. Tratava-se, portanto, de fazer o "protesto" subir de tom para provocar a reacção de quem de direito. Sei que este desiderato foi atingido. 

Por mim considero este documento um verdadeiro tratado de logística, para além de uma prova de inteligêcia. (...)

26 de junho de 2008 às 23:07
_____________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 26 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2986: Humor de caserna (5): Siga a Marinha para Nhamate, mais abarracamento que aquartelamento (António José Pereira da Costa)