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sábado, 14 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23982: Blogues da nossa blogosfera (171): Cerca de metade dos nossos "favoritos" de há uns anos atrás já não existem ou mudaram de URL



Guiné >Região do Oio > Morés > Op Jaguar Vermelho > 9/6/1970 >  Criança encontrada pelos "páras" no mato, os quais tomaram conta dela, dando-lhe pão, e uma "kalash" (para a foto). Pela foto devia ter uma idade semelhante ao que a CCAÇ 13 também encontrou noutra ocasião.


Guiné >Região do Oio > Morés > Operação Jaguar Vermelho > 9/6/1970 > Uma escola

Fotos de César Dias ex-furriel do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), as quais lhe foram dadas por um furriel dos paraquedistas sediados em Mansabá. Disponíveis em:


Fotos (e legendas): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Tínhamos uma lista de cento e poucos blogues e outras páginas na Net  (c. 110) que faziam parte da nossa blogosfera... e constavam / constam da coluna estática do nosso blogue, no lado esquerdo. Há anos que não era atualizada.   

Fomos hoje fazer uma verificação, dos nomes,  de A a C (n=54) , e metade dessas páginas já não existem, foram descontinuadas, mudaram de URL.  É o preço que se paga por uma existência virtual, que é sempre precária, dependente da boa vontade ou dos caprichos dos servidores... 

Os blogues e outras páginas que deixaram de estar "on line" vêm assinalados, em baixo, com um asterico (*). Nalguns casos têm novos endereços. Alguns destes "sítios" poderão ser recuperados através do Arquivo.pt , caso por exemplo da página da CCAÇ 13, Os Leões Negros, que estava alojada no Sapo... (O Serviço de Alojamento Gratuito de Páginas Pessoais do SAPO foi descontinuado em dezembro de 2012.)

Endereço antigo: 
 
http://leoesnegros.com.sapo.pt/index.html

URL recuperada (em 1 de julho de 2011): 

https://arquivo.pt/wayback/20110701044300/http://leoesnegros.com.sapo.pt/index.html


Blogues, páginas do Facebook e outros sítios da nossa Blogosfera (camaradas e amigos da Guiné) 

Variações da Perda (poesia, Companhia das Ilhas, 2020).
Há rios que não desaguam a jusante (romance, Companhia das Ilhas, 2018).
Na luz inclinada (poesia, Companhia das Ilhas, 2014).
Uma paisagem na Web (poesia, & etc, 2013).
Elegias de Cronos (poesia, Artefacto Edições, 2012).
O papel de prata, o reflexo e outros contos pelo meio (Companhia das Ilhas, 2012).
Pedro e Inês. Dolce Stil Nuovo (poesia, Edições Sempre-em-Pé, 2011).
K3 (poema, & etc, 2011).
Uma flor de chuva (poesia, Escola Portuguesa de Moçambique, Maputo, 2011).
Londres (poema, & etc, 2010).
Dispersão – Poesia reunida (Edições Sempre-em-Pé, 2008).

(Era um dos nossos interlocutores privilegiados na Guiné-Bissau ao tempo do Pepito, cofundador e diretor executivo desta ONG; nascido em Bissau, em 1949, morreu em Lisboa, por doença, em 2012: Carlos Schwarz da Silva era engenheiro agrónomo, formado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, Lisboa; tem 245 referências no nosso blogue).

(Jornalista e viajante, o Jorge Rosmaninho esteve muito  ativo entre 2006 e 2009; perdemos-lhe o rasto)


(Novo endereço: http://www.ajudaamiga.com/)


(Novo endereço: https://fmsoaresbarroso.pt/)


(Tem um novo endereço: https://apoiar-stressdeguerra.com/pt/)

(Tem um novo endereço:  https://ahm-exercito.defesa.gov.pt/)

(Tem um novo endereço: https://ahu.dglab.gov.pt/)


(Novo endereço: 

https://a25abril.pt/



(Ativo desde meados de  2009)


(Ativo desde o início de 2008)

(Ativo desde 2009 a 2016)


(Ativo de 2003 a 2013)

(Tem agora uma página no Facebook: https://www.facebook.com/BoinasVerdesEParaQuedistas/ )

(Um dos blogues mais antigos, e dos mais belos, literariamente falando: ativo de 2003 a 2020; o Manuel Bastos esteve em Moçambique)

(Um dos nossos blogues mais antigos, centrado numa só subunidade)
(Uma unidade madeirense; blogue ativo desde 2009; um dos coeditores é o nosso Carlos Vinhal)

(Ativo desde 2008, continua a ser animado pelo nosso camarada Sousa de Castro)

(Deixou de estar disponível, com pena nossa; um dos "sites" mais antigos, datando de 2003 )

(Lá vai resistindo desde 2009, sob o comando do coimbrão Fernando Barata)

(Ativo desde 2008)

(Ativo desde 2008, sob o comando do Luís Dias)

(Novo endereço: https://www.cd25a.uc.pt/pt )


(Ativo de 2010 a 2012)

(Desde 2008, com o nosso MR, sempre!)

(Tem agora página no Facebook:

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Nota do editor:

Último poste da série> 18 de deembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23890: Blogues da nossa blogosfera (170): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (75): Palavras e poesia

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23964: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VII: Tabanca e destacamento de Braia, na estrada Mansoa-Bissorã

Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > A autoestrada"  (Mansoa-Bissorã)...


Foto nº >1A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > A autoestrada" (Mansoa-Bissorã)... Ao fundo, do lado direito o fortim de Braia...


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Sem legenda...


Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Malta do destacamento a fazer o "tacho"...


Foto nº 3A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Malta do destacamento a fazer o "tacho"...

Foto nº 4 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento com o fortim, ao fundo, do lado esquerdo...


Foto nº 4A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento com o fortim, ao fundo, do lado esquerdo...


Foto nº 4B > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento  com militares jogando à bola (?)...


Foto nº 5 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia >   A segunda ponte, com miudos a saltar para a água...


Foto nº 6 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia >  Alunos e alunas do posto escolar militar


Foto nº 6A > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos e alunas do posto escolar militar.


Foto nº 7 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos e alunas do posto escolar militar.


Foto nº 7A > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos do posto escolar militar.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Organização e seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Julgamos que já fez, em 2022, os 86 anos. Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Os capelães eram, em geral, graduados em alferes, não eram portanto oficiais milicianos. Um ou outro podia do quadro.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa.

Estas são as primeiras de um lote de 24 sobre o destacamento (e tabanca) de Braia, que ficava a noroeste de Mansoa, na estrada para Bissorá. Sobre Braia temos 15 referências no blogue.  

 Desejamos um ano cheio de saúde e de graças ao nosso amigo,  antigo capelão,  José Torres Neves. E obrigado por mais estas "prendinhas". Um abraço também ao Ernestino Caniço que nos vai ajudando a alimentar o blogue com as belíssimas fotos do José Torres Neves (*).


Guiné > Região do Oio > Mansoa  (1954) > Carta de 1/50 mil  > Posição de Jugudul, Mansoa, rio Mansoa, Braia e Infandre. Braia e Infandre ficava na estrada Mansoa-Bissorã.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 1 de dezembro de  2022 > Guné 61/74 - P23834: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VI: Bissá: as últimas fotos do destacamento e tabanca balanta

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23785: Prova de vida (6): Nem todos os balantas eram... "turras" (Manuel Joaquim, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67)






Manuel Joaquim, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 1419, 
Bissau, Bissorã e Mansabá (1965/67). Tem uma coleção de cerca de 175 cartas, 
das que escreveu a (e recebeu de) sua companheira, hoje mãe dos seus filhos 
e avó dos seus netos. 



Manuel Joaquim (c. 2019).
Foto:  Cortesia de Manuel Resende
1. O nosso camarada  e amigo Manuel Joaquim, ex-fur mil armas pesadas inf da CCAÇ 1419 (Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), hoje professor do ensino básico reformado,  além de sócio da ONGD Ajuda Amiga, tem 105 referências no nosso blogue,  Está connosco, como membro,  de pleno direito,  da Tabanca Grande, desde 3 de agosto de 2009. 

 É autor da notável série "Cartas de amor e guerra", de que se publicaram duas dezenas de postes, entre janeiro de 2013 e maio de 2015. O último poste da série foi o P14577 (*). 

Também é autor da série "Memórias de Manuel Joaquim" (de que se  publicaram dez postes, o último foi o P11263) (**).

Razões de saúde (sofre de problemas do foro oftalmológico) levaram-no a condicionar e a limitar a sua colaboração no blogue.  Conheci-o pessoalmente há 11 anos atrás, em 4 de junho de 2011, no VI Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real,  Temo-nos enocntrado por aí, desde então. Tive o  grato prazer de o rever, mais recentemente,  no último  encontro da Tabanca da Linha, no passado dia 22 de setembro. Abracei-o com emoção.

Não posso esquecer que ele aceitou partilhar, no nosso blogue, parte da sua correspondência do tempo da sua "comissão de serviço militar" na Guiné (1965/67). Escrevi eu, em 8 de janeiro de 2013, no poste P10910, o seguinte: 

(...) O teu gesto - partilhar a tua correspondência íntima - é de uma grande nobreza, e eu espero que seja recebido com apreço e gratidão por todos os leitores do blogue (só este ano, vamos ultrapassar o milhão e 200 mil visitas!). É um serviço que prestas à Pátria, a tua terra, aos teus filhos e netos, aos teus camaradas, ao tempo e ao lugar em que nos coube nascer. Poucos de nós terão um acervo tão rico como o teu, em matéria de correspondência íntima, ao fim deste século!... Além disso, eras professor, já trabalhavas, tinhas namorada, tinhas outra maturidade que muitos não tinham quando foram para a tropa (, nomeadamente os milicianos).(...)

2. O Manuel Joaquim não precisa de fazer "prova de vida" (***)...  Felizmente está vivo e continua con ganas de viver, apesar das suas limitações de saúde, o que é cada vez mais frequente, infelizmente, no caso de todos nós, antigos combatentes... (Quem é que não se queixa ?!... "Até aos quarenta, bem eu passo, depois dos quarento, ai a minha perna, ai o meu braço")...

Mas eu (e muitos leitores) tenho saudades da sua escrita. Lembrei-me de ir respescar a primeira história que ela aqui publicou, o "Balanta Furtador" (***)... Uma belíssima história, que nos faz pensar e traz-nos outras lembranças parecidas... 

E até vem a propósito, porque de tempos a tempos fomos confrontados com um arreigado estereótipo social do nosso tempo, a falsa dicotomia Fula  (aliado dos "tugas" - bravo - leal) "versus" Balanta ("turra" . homem do mato - "cabra macho" - "carne para canhão" das tropas do Amílcar Cabral)... 

Ora nem todos os balantas estiveram do mesmo lado da "barricada"... Nem todos os balantas foram "turras"...

Além disso, o Manuel Joaquim é  o "padrinho" do nosso "minino Adilan" (nome balanta), o José Manuel Sarrico Cunté, igualmente membro da nossa Tabanca Grande.  A história  destes dois grandes seres humanos (que a guerra juntou) merece ser lida ou relida pelos amigos e camaradas da Guiné.



Leiria > Monte Real > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca Grande > O "nosso minino Adilan", o Zé Manel,  o José Manuel Sarrico Cunté, na altura com 50 anos, com o seu padrinho, o Manuel Joaquim... 

Foram duas das muitas estrelas que fizeram do nosso grande encontro mais um grande ronco, o da camaradagem, da amizade e da solidariedade... Adorei conhecê-lo,  ao Zé Manel: desenvolto, portuga dos sete costados, casado com uma angolana, crítica em relação ao rumo que tomou o seu país de origem (infelizmente, os seus pais biológicos já morreram; a sua verdadeira família hoje está aqui em Portugal)...O Manuel Joaquim, que também conheci pela primeira vez, em carne e osso, era um homem feliz, orgulhoso do seu "minino"...


Foto (e legenda): © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


BALANTA FURTADOR

por Manuel Joaquim


Bissorã, 1966. Os balantas dedicavam-se quase só à agricultura e actividades afins, labutando na área que rodeava o quartel. Um dos poucos balantas da tabanca que fugiam à regra era Fafé. Trabalho agrícola não era com ele. Na bolanha ninguém o apanhava. Não precisava de trabalhar a terra para ter arroz. Este nascia, descascado e tudo, no quartel.

Frequente era vê-lo a acamaradar com tropa, bebendo e gesticulando para melhor se fazer entender. Era o caminho ideal para soldado chegar a algumas balantas mais dispostas a amenizar a sua difícil situação. Qual marginal da tabanca, prometia-as por dá cá aquela palha ou, às vezes, exigindo coisas substanciais... alguns cobertores da caserna ganharam asas!

Fafé alardeava coragem. Era vaidoso.Vaidade bem alimentada por outros para aproveitarem o espírito de aventura que revelava. A roubar vacas era excepcional. E com que orgulho contava os seus feitos! A tropa escutava-o e servia-se. Impedia-lhe o furto na área próxima da vila mas dava-lhe pé leve para se embrenhar no mato, à procura das vacas dos «turras».

Cada vaca que trazia não era só redução alimentar no PAIGC e mais carne na tabanca. Vinha também informação para o quartel. E bem valiosa. E assim se tornou numa peça importante. Importância que não sentia. Apresentar vaca na tabanca, dar barriga cheia à sua gente, reconhecerem a sua coragem e esperteza, verem nele um balanta exemplar, eis o que lhe interessava.

Nem todos os do quartel lhe davam palmadinhas nas costas e gostavam dos seus actos. Não dava por isso, era campeão da esperteza, da coragem, do furto perfeito. E era louvado pelos "homens grandes" da tropa. Mas as suas façanhas faziam perder o apetite a muitos.

Eram informações que levavam aos donos das vacas, à caminhada dolorosa pela mata, ao medo que pesava quilos no estômago, aos vómitos secos, ao combate, à dor, à morte. E, alguns, viam nele um símbolo da utilização abusiva que a guerra faz do indivíduo.

Naquela madrugada Fafé não chegou, mesmo sem vaca. As balas da PPSH fizeram das suas, não matavam só tropa mas também pessoal "amigo" de tropa. Ele sabia-o, mas balanta é artista no roubo de vacas. Quantas histórias, sobre este tema, devem ter ouvido aos velhos balantas! Fafé não teve sorte e, daquela vez, voltou arrastado por camarada de furto com a morte e não a vaca por companheira.

E na manhã quente de Dezembro foi «choro» na tabanca. No terreiro, família de balanta grita e rebola no chão. Família de balanta mata vaca para todo o pessoal: choros, lamentos, gritos, gemidos, rufar de tambores, danças, suor, poeira. É o «choro» em honra de Fafé. São horas a passar, em estonteante mistura de dor e prazer, de arroz e lágrimas, de carne e dança, de álcool e pó. Cumpre-se a tradição.

Mais tarde: Cortejo em marcha acelerada, gritos e cânticos, tantãs rufando, pancadas surdas e ritmadas no chão poeirento, à frente corpo de balanta em esquife de esteira baloiçando sobre altivas cabeças de amigos, Fafé foi a sepultar. Enrodilhado nesta onda lá vai o soldado branco, confuso e inseguro, seguindo não sabe quê.

Pó e mais pó solta-se do chão e sobe, sobe por sobre a tabanca. Entorpece o Sol. Soldado branco pára. A multidão acotovela-o. Redemoinha no pó. Tenta limpar os lábios e os olhos. Incapaz de continuar, vê afastar-se a esteira de palma que envolve corpo de Fafé. Soldado branco é turista em funeral de balanta.

Baixa a cabeça, dá meia volta, tenta regressar por onde vê menos pó... repara que mulher balanta, idosa, ainda chora e dá cambalhotas. Mulher balanta não defende lábios nem olhos do pó e da terra que irá cobrir corpo de seu balanta furtador.

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(****) Vd. poste de 27 de novembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5358: Memórias de Manuel Joaquim (1): O Balanta furtador

domingo, 13 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23780: Blogoterapia (306): Comando de Agrupamento N.º 16 (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR 16)



1. Mensagem do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66), com data de 10 de Novembro de 2022, falando-nos da sua Unidade:


Comando de Agrupamento N.º 16

É verdade que já lá vão mais de 58 anos que tudo isto se passou, no entanto, ocupamos o precioso espaço deste ainda resistente blog, dirigido pelo Luis e pelos seus dedicados colaboradores, que continua a descrever algumas passagens da guerra colonial na então província da Guiné, e claro, seguindo sempre o princípio de que esperamos ter aprendido algo com o dia de ontem, porque amanhã é a coisa mais importante da nossa vida e oxalá chegue a meia-noite de hoje limpa e sem problemas, porque é perfeito quando ela chega e se coloca nas nossas mãos. Sim, mais agora nesta avançada idade.

Continuando, vamos descrever o que foi o nosso Comando de Agrupamento, que era uma “unidade coordenadora de acções de logistica e de combates, sobretudo na organização e nos pormenores das operações militares na zona do Oio e do Cacheu” a que pertencíamos, sendo o primeiro Agrupamento a chegar àquela então província, quase quando do início da guerra de guerrilha que pelo menos naquela época, dois grupos armados desenvolviam no norte e que levaram à independência do seu território.
Assim, este Comando de Agrupamento, embora sendo um comando desarmado, dava ordens que podiam matar pessoas ou destruir aldeias consideradas inimigas. Foi constituído no Regimento de Infantaria n.º 1, na então vila da Amadora, sob o comando do Tenente-Coronel de Infantaria José Augusto Henriques Monteiro Torres Pinto Soares. (antigamente era assim, as pessoas que se diziam nobres tinham 7 e 8 nomes, e nós, os tais que diziam que era “carne para canhão”, tínhamos 2, o máximo 3, onde muitos de nós por lá ficaram, chamando-se António, Manuel, Joaquim ou José, cujo segundo nome era simplesmente, Jesus).

Continuando, como Chefe de Estado-Maior teve o Major de Infantaria António Coelho da Silva, sendo mais tarde substituído pelo Major de Artilharia Raul Pereira Baptista, e este Agrupamento adoptou a Divisa de “Juntos Venceremos”. Os oficiais foram para aquela província todos de avião e nós soldados, cabos, sargentos e milicianos, embarcámos no dia 23 de Maio de 1964, no cais de Alcântara em Lisboa no navio de carga “Ana Mafalda”, porque era o único que naquela época podia encostar ao cais do Rio Geba em Bissau, onde chegámos no dia 30 desse mesmo mês e ano.

Não havendo espaço para nós no Quartel General, ficámos instalados em tendas, numa parte deserta ao norte do cais, onde a sobrevivência se tornava um pouco difícil, sem latrinas e água potável, e com a presença contínua dos malditos mosquitos, junto de pântanos e lama, e onde já lá estava acampado um Batalhão composto por militares de combate, (esses sim, sofreram), que tinha chegado uns dias antes de emergência, desviados para a Guiné, porque o seu destino era Angola.

E que nos davam suporte no alojamento, com direito a uma marmita cheia de café negro feito de água fervida e turva do pântano e um biscoito pela manhã e duas embalagens de ração de combate por dia, iniciando-nos no normal “tráfico de influência entre companheiros combatentes”, onde os biscoitos eram moeda de troca por cigarros. Mais tarde, por mensagens recebidas, tivémos conhecimento de que houve neste acampamento um suicídio de um militar que infelizmente, talvez desanimado e deprimido, não suportou estas condições de alojamento.

Adiante… Duas semanas depois, quando ainda nos encontrávamos em Bissau, já instalados no Quartel General, o Agrupamento assume a responsabilidade da Zona Norte/oeste, que abrangia os sectores dos Batalhões instalados em Bula, Farim e Mansoa, que anteriormente dependiam do Comando Territorial, assim como todos os Comandos de Batalhão.

Assim, organizados dentro da maior desorganização que por lá havia, instalámo-nos em Mansoa no final do mês de Julho de 1964, na tal Zona Norte/Oeste, na região do Oio, no entanto, ainda instalados em Bissau, já o Agrupamento tinha criado o sector de Mansabá, onde no início as tropas portuguesas tinham ordens para assumiram uma postura defensiva, limitando-se a defender territórios onde ainda não havia muita barafunda, no entanto, essas operações defensivas algumas vezes foram devastadoras para as nossas forças, que eram regularmente atacadas fora das áreas povoadas por uns guerrilheiros agressivos, e aí sim, havia mortos e feridos.

Mais tarde com o desenrolar de frequentes combates, entre Outubro e Novembro, já no ano de 1965, o Agrupamento criou o sector de Teixeira Pinto, na região do Cacheu, porque por lá também já havia aqui e ali alguma insurreição e havia notícias de que pela noite havia colunas de mulheres guerrilheiras, que transportavam armas e munições vindas da fronteira, protegidas pelos grupos de guerrilheiros e que os reabasteciam, e claro, era necessário incrementar a zona operacionalmente, onde começaram as primeiras operações navais anfíbias, que foram instituídas para superar alguns dos problemas de mobilidade inerentes às áreas pantanosas.

Entretanto e com o correr do tempo, e as normais tropas portuguesas sendo constantemente fustigadas em ataques contínuos, foi criado um Grupo de Comandos em Bissau, treinado quase especificamente para esta guerra de guerrilha, composto por muitos africanos mas, pelo menos no seu início, eram comandados por militares europeus, e assim, juntamente com os próprios Comandos de Fuzileiros e tropas Paraquedistas como forças de ataque, eram frequentemente chamados para socorrer ou para combater ao lado das normais forças de combate portuguesas, onde alguns por lá ficaram mortos e enterrados no lodo dos pântanos para sempre.

Mas continuando, a actividade operacional foi mais direccionada, especialmente para as regiões do Morés, Mansabá, Bissorã e Olossato, que começaram a ser constantemente fustigadas por ataques dos guerrilheiros que recebiam apoio dos países vizinhos, utilizando corredores específicos de que só eles tinham conhecimento, onde se refugiavam e recebiam treino específico de guerrilha, assim como material de combate já mais moderno. Nesta zona, principalmente no Morés, periódicamente já actuava em cenário de combate um avião que voava de Bissau, lançando bombas, incendiando aldeias suspeitas, assim como as forças especiais de combate entretanto criadas e já acima mencionadas.

Todas estas povoações acima mencionadas eram visitadas por nós ou pelos nossos companheiros “cifras” no fnal de cada mês onde levávamos aos comandos das forças ali estacionadas, o tal material classificado de cifrar, cujo código era modificado todos os meses, viajando ou em colunas militares ou na avionete do correio e aí sim, “éramos um militar na guerra, mas desarmado”.

Depois… passámos dois longos anos naquele cenário de uma guerra terrestre de guerrilha, onde como acima já explicámos, éramos o “Cifra”, um soldado desarmado, onde a disciplina de um campo de batalha não era lá muito eficaz para a nossa sobrevivência, onde um pequeno descuido ou desleixo, onde os ataques ao aquartelamento que ajudámos a construir, as emboscadas, minas ou fornilhos, nas viajens de fim de mês, podiam a qualquer momento fazer com que a nossa alma nos abandonasse, na procura de uma qualquer galáxia distante.

E onde uma tijela de arroz ou um naco de pão era mais importante do que uma ração de combate, onde os campos abandonados da plantação de arroz, se transformaram em pântanos perigosos, onde as notícias recebidas nas mensagens que pela mão nos passavam, descrevendo o volume e o ruído do fogo inimigo, nos trazia a todos nós estarrecidos, onde só talvez, o excesso de álcool nos dava algum miserável conforto.

Fomos sobrevivendo e, finalmente ao fim de dois longos anos, embarcámos de regresso à metrópole, no dia 13 de Maio de 1966, no navio “Uige”, que estava ancorado ao largo no rio Geba em Bissau, sendo transportados em lanchas do cais ao navio, onde tal como muitos companheiros, continuando com o excesso de álcool, agora já dentro do navio, roubou-nos a recordação da partida e do cenário de onde o rio Geba desaguava, no tal “oceano que para nós estava longe do mar” e, ainda hoje não sabemos se o Geba, tal como o Mansoa, eram rios ou canais de água salgada.

Tony Borie
Novembro de 2022

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23742: Blogoterapia (305): A Boina (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR 16)

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23709: Convívios (946): Comemoração dos 55 anos do regresso da Guiné dos Falcões da CART 1525 (Bissorã, 1966/67) no próximo dia 12 de Novembro de 2022 na Mealhada (Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA)


1. Mensagem de nosso camarada Rogério Freire (ex-Alf Mil Art MA da CART 1525, Bissorã, 1966/67; fundador e editor da página da CART 1525, "Os Falcões"), com data de 13 de Outubro de 2022:

Luís,
Conforme solicitaste segue a informação do nosso convívio para comemorar os 55 anos do nosso regresso da Guiné a ter lugar na Mealhada no próximo dia 12 de Novembro.
Por tradição, comemorávamos os lustros no Quartel da nossa unidade mobilizadora, o RAC em Oeiras, sempre com grande pompa e circunstância, com a excelente colaboração do Exército e o grande empenho do nosso camarada Adrião Mateus o grande impulsionador destes convívios anuais.
Havia Honras Militares, missa de sufrágio, colocação de uma placa comemorativa do quinquénio e a refeição servida no rancho com a presença do comando da unidade.
Foi sempre uma grande e feliz festa e um momento inesquecível para todos os Falcões e suas famílias que nele participaram, desde o primeiro na Bateria da Parede, passando pelo quartel do RAC em Oeiras e finalmente no Quartel do RAA1 de Queluz, onde atualmente se guarda o Guião da CART 1525 e onde comemoramos os 50 anos do nosso regresso.

Devido aos vários fatores de todos nós conhecidos aliados à idade, saúde e mobilidade dos Falcões, este ano foi decidido ficarmos pela Mealhada, local onde nos últimos muitos anos nos temos reunido sempre com a mesma alegria, amizade e companheirismo e a enorme vontade de continuarmos a dizer PRESENTE.

Junto duas imagens, uma do 50.º aniversário comemorado no RAAA1 e outra com a página de entrada no nosso site www.cart1525.com com as informações sobre o convívio dos 55 anos.

Com um abraço do
Rogério

Os Falcões da CART 1525 em 2017, ano em que comemoraram os 50 anos do regresso da Guiné
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23705: Convívios (945): Almoço comemorativo dos 50 anos do regresso da Guiné dos combatentes da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhámel, 1970/72), levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Abrantes (Morais da Silva, Cor Art Ref)

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23360: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (5): A principal fonte de energia (c. 85%) ainda é a proveniente da biomassa (lenha, carvão vegetal...)


Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Molhos de lenha, à beira da estrada, no K3. A lenha e o carvão são levados para Bissau para que não falte na época das chuvas na casa das famílias... 90% das famílias de Bissau ainda os utilizam como combustível nas suas cozinhas. Apesar do grande potencial do país em matéria de energias renováveis... 

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P23350 (*):

Em relação a foto acima reproduzida, e baseando-se em dados oficiais do Ministério da Energia e Recursos Naturais de 2018, estimava-se que o perfil energético da Guiné-Bissau fosse o seguinte: 
  • 70-72%: Lenha; 
  • 14-15%: Carvão vegetal com utilização de fogões tradicionais e melhorados; 
  • 10-12%: Electricidade e produtos petroliferos 
  • 1-4 %: Renováveis (energia solar). 

De notar que estes dados não são muito diferentes dos dados apresentados no estudo,  citado por Luis Graça,  da ONGD ALER,  de 2017 [Vd. excerto abaixo publicado, no ponto 2].

Apesar de haver varios projetos em carteira para a instalação de centrais fotovoltaicas no país, todavia ainda só funcionam em Contuboel, Bambadinca e Bissorã com alguns problemas técnicos e de gestão e, sobretudo, muitas queixas dos beneficiários,  seja pela quantidade/quantidade, seja pelas tarifas praticadas, num contexto de muita pobreza e onde quase sempre se esperava acontecer uma distribuição gratuita, à moda da Suécia dos anos 70/80. (**)

Cherno Baldé

2. Excerto de artigo> 4 de dezembro de 2017 > ALER - Associação Lusófona de Energias Renováveis > Notícia > Geogios Xenakis > Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca “Bambadinca Sta Claro”
 
(...) Geograficamente localizada na costa ocidental da África, a República da Guiné Bissau é um pequeno país de 36.125 km2, com uma população total de 1,45 milhões de habitantes, 60% dos quais concentrados em áreas rurais (Recenseamento Geral da População e Habitação-RHPH de 2009). 

A vila de Bambadinca, com 6,4 mil habitantes está localizada na região de Bafatá, 120 quilómetros a leste da capital Bissau.

A taxa de acesso à eletricidade da população na Guiné-Bissau é muito baixa: segundo o Plano de Ação no Sector das Energias Renováveis[1], em 2010 a taxa era apenas 11,5%, enquanto que na região da África subsaariana esta taxa cresceu de 23% em 2000 para 32% em 2012 [2].

 Bambadinca era abastecida por geradores diesel até 2007 que, entretanto, se tornaram obsoletos deixando 95% da população da vila sem energia elétrica.

Neste contexto complicado, a TESE-Associação para o Desenvolvimento implementou entre 2011 e 2015 o projeto “Bambadinca Sta Claro” em parceria (...). (***)

No âmbito do Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca – “Bambadinca Sta Claro” uma mini-rede decentralizada foi construída na vila de Bambadinca, tendo sido desenvolvido e implementado o modelo de gestão para garantir a sustentabilidade do sistema.

A solução técnica trata-se de um serviço de energia decentralizado (off-grid) constituído por uma componente dedicada à produção de energia elétrica e uma rede de transporte e distribuição dedicada à entrega da energia à comunidade. 

A produção é conseguida de forma híbrida, graças a painéis fotovoltaicos e a geradores diesel (Central Fotovoltaica Híbrida – CFH). O consumo noturno é satisfeito através de baterias e se for necessário pelos geradores, como backup. A CFH tem três grupos idênticos, de uma potência total de 312kWp. O sistema garante o fornecimento de energia 24h a Bambadinca, conseguindo uma baixa utilização dos geradores.

Para garantir a sustentabilidade económica e social do projeto, a gestão é sustentada por uma parceria público-comunitária e neste contexto foi criado o Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB). A comunidade local tem sido envolvida no projeto desde o início, tanto na elaboração do modelo de gestão como na definição das tarifas e dos modelos de faturação. Em paralelo, foram implementadas campanhas de eficiência energética e de segurança elétrica, a fim de sensibilizar a população em termos de comportamentos a adotar a respeito de gestão do consumo e de segurança.

O SCEB tem atualmente mais de 650 clientes, entre residenciais, comerciais e instituições, garantido eletricidade 24h/dia, principalmente graças a uma fonte de energia renovável. 

O acesso à energia permite aos habitantes de Bambadinca aceder de novo a várias oportunidades económicas e sociais em termos de empregabilidade e educação. O sucesso do “Bambadinca Sta Claro” demostra a viabilidade dos projetos de eletrificação decentralizada com energias renováveis na Guiné-Bissau, em consonância com as políticas do sector nas áreas de desenvolvimento de energias renováveis e de acesso à energia.

Georgios Xenakis | Responsável Setorial Energia e Coordenador de Projetos

[1] Plano de Ação Nacional no Sector das Energias Renováveis (PANER, 2010)

[2] Africa Energy Outlook, 2014.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 14 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23350: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (29): Por terras de Farim - II (e última) Parte: gentes e lugares


sexta-feira, 6 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23237: Efemérides (367): Faz hoje precisamente 55 anos que um estrangeiro, o ten-cor H. Meyer, adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa, participava, com as NT (CART 1525, Bissorã, 1966/67) na Op Beluário... Não sabemos em que circunstâncias nem a que título (Virgínio Briote)


Guiné > Carta de Mansoa > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bissorã, a norte de Biambe e de Mansoa, bem como de  Queré (onde em 1967 o PAIGC tinha uma base)...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)



Guiné> Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Bissorã, Biambe e Encheia, entre Mansoa, Binar e Bula, em plena região do Oio... A vermelho, está sinalizada Queré, uma base do PAIGC, ativa em 15/3/1970. As estradas Biambe-Bissorã e Encheia-Bissorã estavam na altura cortadas.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Descobrimos há dias, eu e o Virgínio Briote, esta "preciosidade" que reproduzimos a seguir.  Trata-se do relatório sucinto da Op Beluário, que vem na página 65 do historial da CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1966/67). Foi um dos nossos camaradas do Arquivo Histórico-Militar, cujo nome não fixei, que deu a "dica" ao Virgínio Briote.

Confirmámos a informação, que consta da história da página de "Os Falcões", uma das mais antigas,  existentes  na Internet, das páginas dos ex-combatentes da Guiné.  Achámos por bem fazer este poste na série Efemérides (**). Na realidade, a Op Beluário realizou-se há precisamente 55 anos, em 6/5/1967.

O que torna digna de registo a Op Beluário, para além do "desenrolar da ação" (comum a muitas outras operações realizadas no TO da Guiné), é que nela participou  um estrangeiro, o tenente coronel H. Meyer, Adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa...  Era para todos os efeitos um estrangeiro, embora representando um país amigo de Portugal, e aliado da NATO.

Não sabemos a que a título, nem em que circunstâncias, integrou esta operação. Nem sabemos se foi armado ou levou guarda-costas. Tanto quanto sabemos, não era "normal" a participação de militares estrangeiros em operações do exército português no TO da Guiné. Todavia, o adido do Adjunto Militar Americano em Lisboa, podia estar de visita à Guiné, ao tempo do gen Arnaldo Schulz. Podia ter visitado Bissorã e ter sido convidado pelo comandante da companhia, o Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão (**), para "fazer o gosto ao dedo"... Por certo que não foi uma "missão secreta", para  tal facto, honroso para "Os Falcões",  vir mencionado na história da unidade. Humor à parte, talvez o camarada Rogério Freire possa satisfazer a nossa natural curiosidade.



2. C
ART 1525, "Os Falcões", Bissorã (1966/67) >Atividade Operacional > 41. Operação Beluário 

QUERÉ,  carta de  Mansoa, 06Mai67

MISSÃO

Golpe de mão ao esconderijo onde se presumia a existência de armamento pesado, seguindo-se uma batida a toda a zona.

FORÇA EXECUTANTE

- Comandante da Companhia;
- Companhia (Comandos e 1º Gr Comb), um Pelotão de Milícia e um Pelotão de Polícia Administrativa;
- Tomou parte na operação o Exº Ten Coronel H. Meyer, Adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa (negritos nossos);
- Actuou ainda na zona a CART 1612;
- Apoio Aéreo.

DESENROLAR DA ACÇÃO

Saíram as NT pelas 00h00, seguindo pela estrada do Biambe, e atingindo a zona do objectivo pelas 05h00. O deslocamento fez-se sem incidentes. 

Chegados ao local indicado pelo guia, este não deu quaisquer indicações dignas de crédito, confundindo-se e provando cabalmente que desconhecia por completo qualquer refúgio do IN, onde ele albergasse o seu armamento. 

Feita uma pequena batida na zona indicada inicialmente pelo guia, em Mansoa 2 C/5, nada de especial foi referenciado, a não ser vestígios de comida e permanência inimiga, debaixo de uns mangueiros. No intuito de provocar o IN,  obrigando-o a referenciar-se, iniciou-se então uma batida para S, a W da bolanha do Queré. 

Pouco depois de a mesma se haver iniciado, o IN efectivamente reagiu à penetração das NT, com intenso tiro de LRock (10 granadas), Mort 60 (6 granadas) e Mort 82 (2 granadas), ML e PM, durante cerca de 30 minutos. 

O fogo foi aberto do nosso lado esquerdo, sensivelmente em Mansoa 2 D1/51, e muito perto das tropas que seguiam desse lado da batida (Pol Adm), ocasionando imediatamente 12 feridos (9 Pol., l Mil. e 2 soldados). 

Entretanto, na reacção, as NT tentaram envolver o IN na sua posição, cercando-o por S, mas este mal se apercebeu da nossa manobra retirou sem mais fogo. 

Pelas 06h45 surgiu o PCV, sendo-lhe pedido o indispensável apoio e meios para as evacuações, que contudo só terminaram cerca das 08h30. 

Por indicação do PCV, continuou-se depois a batida mais para S, até se atingir a bolanha de Camã. Aqui foram incendiadas algumas tabancas abandonadas e, próximo do local (Mansoa 2 B8/41), foi destruída uma escola, com capacidade para cerca de 50 alunos. 

Continuando-se a batida, no dispositivo adequado, e sem que o IN jamais se tenha vindo a revelar, destruíram-se mais algumas tabancas, junto à orla O da bolanha do Queré. 

Pelas 10h00 e debaixo de um sol escaldante, iniciaram as NT a retirada, a qual por esse facto se tornou particularmente penosa, vindo a atingir a estrada do Biambe, e ali serem recolhidas em viaturas, chegando a Bissorã pelas 12h00.

Fonte: Página da CART 1525, "Os Falcões", Bissorã, 1966/67, criada, administrada e editada pelo nosso amigo e camarada, ex-alf mil mil MA, Rogério Freire, ex-alf mil art MA, membro da nossa Tabanca Grande desde 13 de outubro de 2005. 

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de maio de 2022 > uiné 61/74 - P23219: Efemérides (366): "O primeiro 1.º de Maio", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887