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terça-feira, 13 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13136: Memória dos lugares (265): Bubaque, cada vez mais bonita... (Patrício Ribeiro)



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- ijagós > Bubaque > Porto > A ligação a Bissau é feita por embarcações nhomincas e a travessia leva 5 horas...


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > Cais


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > Rua Principal, on de fica o restaurante da portuguesa Dora.Iluminação pública, com painéis solares, obra da Impar Lda, financiamento da União Europeia.


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > O novo mercado, construído com financiamento da União Europeia


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > Hospital regional > Iluninação pública, exterior, com painéis solares, obra da Impar Lda, financiamentro da União Europeia

Fotos (e legendas) © Patrício Ribeiro (2014). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem, de hoje, do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro que está em Portugal (hoje em Águeda, onde está a reconstruir uma casa; amanhã e depois em Lisboa):


[Foto à direita; Patrício Riubeiro,  português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]




Hora: 09:24



Assunto - Mais notícias de Bubaque.

A cidade de Bubaque está bem…

Os netos dos alemães, antigos proprietários da fábrica de óleo de palma, voltaram e querem o terreno onde estava a fábrica, querem lá fazer uma nova. As sucatas da antiga já desapareceram há muito, já pouco resta, só um ou outro armazém.

Já têm um novo mercado, inaugurado há poucas semanas. Financiamento da UE, (junto foto).

Instalei há aproximadamente um mês, 15 postes solares. Passaram a ter luz nas ruas da cidade, toda a noite. Financiamento da UE (junto foto: Hospital e rua da Dora).

Foi inaugurada há poucos dias uma pizaria, por uns tugas.

O hotel da Dora, “portuguesa dos sete custados” , está cada vez mais bonito!

Os turistas continuam a chegar aos diversos hotéis franceses, vão para lá semanalmente, já desde há muitos anos, aproximadamente uns 50 por semana, aos diversos hotéis que existem nos Bijagós, para a pesca à cana; percorrem, em barcos rápidos, os pesqueiros das ilhas.

O festival de música, realizado há poucos dias, foi muito bom, os mais conceituados artistas guineenses lá estiveram e não só.

A fábrica de gelo está fechada, é destinada à conservação de pescado, para ser transportado nas canoas para Bissau, mas agora o gelo tem que vir de Bissau.

O padre Luigi Scantamburlo provavelmente lá vai andando entre Lisboa e Bubaque. Há alguns meses que não estou com ele, anda em Lisboa, a fazer o seu doutoramento, “o ensino em crioulo”.

Transportes públicos, só de canoa Nhominca; a viagem leva 5 horas até Bissau, foi quanto demorei para cada lado, há poucas semanas. (Junto foto do porto).

Abraço,

Patrício Ribeiro
________________

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , 
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

1. Trocas de mensagens com o Luís Vaz, a propósito do poste P13117 (*):

(i) Luís Vaz. 9/5/2014

Caros Camarigos Eduardo e Luís:

Luis Vaz, aos 13 anos,
em Bubaque.
Páscoa de 1974
Já respondi ao Antº Rosinha, a história da Fábrica Alemã na ilha de Bubaque. Mas tenho um texto muito interessante sobre a Ilha, de Luigi Scantamburlo que viveu 3 anos na Ilha de Bubaque, pois foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

O texto segue em anexo [Etnologia dos bijagós da Ilha de Bubaque]. Se calhar dá para muitos artigos no nosso Blog, pensem nisso, e depois digam-me alguma coisa.

Abraço


 (ii) Luís Graça, 10/5/2014

Luís: Obrigado por esta preciosidade, que desconhecia. Não podemos reproduzir o documento tal como está, por causa dos direitos de autor. De preferência, o blogue publica inéditos... Mas se quiseres fazer uma nota de leitura, ou um síntese, tudo bem. O meu filho, músico e médico, esteve um fim de semana em Bubaque, em dezembro de 2009. Mas eu nunca tive oportunidade de conhecer os Bijagós. Como não houve lá guerra, é uma região mal conhecida dos ex-combatentes... Queres fazer um ou dois postes ? Afinal passaste lá ferias...Um abraço. Luís


 (iii) Luís Vaz, 10/5/2014

Olá,  António:

Ainda bem que apreciaste! Pelos vistos ali os verdadeiros colonizadores foram os Alemães. Podes fazer tu nota de leitura, pois eu como professor estou numa altura de muito trabalho. Pensa nisso. Abraço,  Luís Vaz. (**)


2. Reprodução de um excerto do livro de Luigi Scantamburlo, trad. de Maria Fernanda, "Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque", Lisboa : Institutro  de Investigação Científica Tropical ; Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1991, 109 pp. Disponível, em texto integral, aqui:



BIOGRAFIA

Luigi SCANTAMBURLO nasceu em 1944. Fez os seus estudos de História das Religiões na University of Detroit (M. A., 1976) e de Antropologia na Wayne State University, Detroit. U. S. A. (M. A., 1978). Depois de ter trabalhado como jornalista na revista italiana Mondo e Missione (Milão) durante três anos, foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

Este texto é a Thesis de Master of Arts em Antropologia na Universidade Wayne State, de Detroit (Michigan, U. S. A.), no ano de 1978. A tradução do inglês foi feita pela Doutora Maria Fernanda Dâmaso.


ÍNDICE

Prefácio
Agradecimentos
Introdução
História e origem
A situação geográfica e económica
As relações do parentesco tradicional e o sistema político
A cosmologia dos Bijagós
Conclusão
Bibliografia
Mapas e Figuras
Mapa 1 – A República da Guiné-Bissau
Mapa 2 – As Ilhas de Bubaque e de Rubane
Figura 1 – A tabanca de Ancadona
Figura 2 – Tipos de casas dos Bijagós
Figura 3 – Terminologia dos graus de parentesco em Bubaque
Fotografias

A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E A ECONOMIA (pp. 16/17)

A ilha de Bubaque, com uma área de 48 km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta, está situada no canto sudeste do arquipélago (vê mapa 2). É a ilha mais afectada pela presença dos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo Governo Português depois de 1920, como o centro principal das suas actividades no arquipélago. Os alemães construíram aqui uma fábrica para a extracção do óleo de palma (Elaeis guineensis); um porto para navios de pequena e média tonelagem na parte setentrional e uma quinta experimental em Etimbato.

Durante a ocupação colonial, que terminou em Agosto de 1974, Bubaque era o centro dos serviços administrativos de todo o arquipélago, com um administrador português residente e outros funcionários. Em 1952, a igreja católica, através de presença permanente de um missionário, e a missão protestante, começaram a sua acção na ilha. A construção de um pequeno hotel para turistas aumentou a presença dos europeus. A enorme praia de Bruce, situada na parte meridional, constitui uma atracção especial para os turistas e está ligada ao centro administrativo de Bubaque por uma estrada asfaltada desde 1976.

As comunicações com Bissau são possíveis através de pequenos aviões e barco. Todos os sábados à tarde chega um navio com capacidade para 200 passageiros e regressa a Bissau no dia seguinte. Mais hotéis e um grande aeroporto estão agora a ser construídos para desenvolver a capacidade turística da ilha.

O clima é do tipo subtropical, com chuvas abundantes, cuja precipitação média anual é de 1500 a 2000 mm, durante a estação das chuvas, de meados de Maio até meados de Novembro. A temperatura média é cerca de 33°C durante a estação seca e de 25°C durante a estação das chuvas, e a sua variação diária é muito ampla. À noite, sobretudo entre Dezembro e Fevereiro, a temperatura desce para 10°C ou mesmo 8°C e as pessoas têm de abrigar-se nas suas cabanas para se aquecerem.

A maior parte da ilha é coberta de palmeiras de óleo, cuja cultura foi desenvolvida pelos colonizadores alemães no princípio do século. A outra vegetação, do tipo floresta, inclui uma variedade de plantas da Região subtropical. As árvores de grande porte mais importantes, muitas vezes centros sagrados para as cerimónias religiosas, são os chamados poilões (Eriodendrum anfractuosum) e os embondeiros (Andansonia digitata). Nos arredores das tabancas, as árvores de fruto mais comuns são as mangueiras, os cajueiros, as laranjeiras, os limoeiros e as papaeiras. A caça, que se encontra nas outras ilhas (gazela, cabra-do-mato, hipopótamo, crocodilo), desapareceu da ilha de Bubaque. No entanto os macacos e os tecelões (Proceus cucullatus), tão perigosos para a agricultura, são ainda bastante numerosos.

Em Novembro de 1976, e ilha contava com 2172 habitantes (1054 dos quais eram homens e 1118 mulheres), cerca de 757, metade dos quais não bijagós, habitavam no centro de Bubaque e 1415 viviam nas doze tabancas da ilha (...)

Nalgumas tabancas, como Agumpa, Bruce e Etimbato, há uma ou duas famílias de outros grupos étnicos (Mandingas, Beafadas, Papéis) casados geralmente com mulheres bijagós. Bijante possui a ilha de Rubane (com uma área de 18 km2, cinco dos quais cobertos pela maré alta) e Ancadona possui as pequenas ilhas de Ametite e Anágaru, na parte oriental de Rubane. No sudoeste desta ilha existe um acampamento permanente para pescadores, ocupado habitualmente pelos Nhominca, um grupo étnico do Senegal.

A estatura media dos Bijagós é de 1,70 m para os homens e 1,60 m para as mulheres. Como a maioria dos povos do grupo atlântico-ocidental, a cor da sua pele é castanha, com algumas tonalidades de castanho muito escuro. Têm poucos pêlos no corpo e os rapazes usam o cabelo comprido, geralmente enrolado e entrançado da mesma forma que as mu1heres. Devido à presença dos serviços administrativos e das escolas construídas nos últimos trinta anos, Bubaque possui a mais alta percentagem de escolarizados do arquipélago.

Anninu, um bijagó de Canhabaque, foi, segundo a tradição, o fundador de Bruce, a primeira tabanca da ilha. A segunda foi Bijante, num dia em que o irmão mais novo do chefe de Bruce, encontrando-se no alto mar para caçar e pescar, descobriu a ilha de Rubane, abundante em caça, frutos e peixe. No intuito de ficar mais perto de1a, construiu uma nove aldeia. Ainda hoje existe um relacionamento especial entre estas duas tabancas.

Os Bijagós concordam em que duas ou três gerações atrás as ilhas eram mais povoadas. Buchumbar, perto de Ancadona, desapareceu há uma geração, e em muitas tabancas existem ainda vestígios evidentes de cabanas arruinadas, que nunca mais foram reconstruídas.

A importância de uma tabanca reside na sua autonomia para realizar as cerimónias de iniciação. Algumas delas não têm local para as realizar e mantêm por isso um relacionamento estreito com uma tabanca das proximidades. Assim, encontramos os seguintes grupos de tabancas, sendo as grafadas em itálico aquelas que possuem local para as cerimónias de iniciação: Bruce, Bijana-Ambanha, Bíjante-Enem-Ancadona, Agumpa-Ancabas, Ancamona-Charo-Anhimango. Etimbato ainda não é considerada uma tabanca, mas sim um lugar para trabalhos periódicos, preparado pelos colonizadores alemães para o cultivo das palmeiras de óleo. Alguns bijagós estão a tentar que lhe seja concedido esse estatuto. (...)
_________

Notas do editor:

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13117: Memória dos lugares (265): Bubaque... e o comandante Pombo, dos TAGP, na Páscoa de 1974 (Luís Gonçalves Vaz)



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > lha de Buibaque > "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na Pista de Bubaque na Páscoa de 1974... Fotografia de Henrique G. Vaz.

Foto (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1. Mensagem do passado dia 7, do nosso amigo Luís Vaz... O texto que a seguir se publica inclui excertos de um conversa que tive com ele, no chat, a propósito do comandante Pombo, dos TAGP:


Data: 7 de Maio de 2014 às 22:24

Assunto: Fotografia com o capitão Pombo


Boa noite: Também gostaria de saber notícias do Sr. Comandante José Luis Pombo (*), pois tive o privilégio de o conhecer e de viajar com ele. Fiz duas viagens entre Bissau e Bubaque, no Arquipélago dos Bijagós, na altura da Páscoa de 1974. (**)

Lembro-me que entre Bubaque e Bissau, tivemos de viajar "rente ao mar" por razões de "segurança de voo" , e deixou-me pilotar (era uma avioneta dos TAGP com dois comandos), apenas não aterrei no Aeroporto, seria bonito! ....

Lembro-me também que a torre de controlo mandou-nos aterrar primeiro, para um Boeing da TAP levantar, que por acaso levava a equipa do Porto que tinha ido jogar a Bissau na altura da Páscoa do ano de 1974.

Tenho uma fotografia com ele, tirada pelo meu pai, junto ao avião, na linda pista de conchas de Bubaque. A forma como ele se fazia à pista, era única e identificava-o logo. Mando de aqui um grande abraço e cumprimentos para este ilustre comandante aviador, conhecido na altura, como "Capitão Pombo". (...)

Ai vai a Fotografia... A legenda é: "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na Pista de Bubaque na Páscoa de 1974"... Fotografia de Henrique G. Vaz.

Eu sou o " moreno magrinho do lado esquerdo", ao lado da minha mãe, de óculos escuros. Depois o mano mais velho, a seguir o mais novo e por fim o piloto... O de caracois é o António, tinha 15 anos, e o mais novo o Paulo, tinha 11 anos...

Adorei, estive lá uma semana!, pois a viagem tinha sido adiada, devido á Bomba no QG que feriu o meu Pai... Lembro-me que iríamos a 23 de Fevereiro para Bubaque, passar uns dias, e no fim do dia de 22 de Fevereiro PUM...Passado 20 minutos, o meu pai liga a dizer que tinham posto uma bomba junto ao gabinete dele! Passado uma hora chega a casa, "a rir-se", sem lentes nos óculos, com salpicos de sangue junto aos ouvidos e sangue no camufelado...e disse "ainda não é desta que conseguiram"... 

A  minha mãe abraçou-se a ele a chorar... Nunca me esquecerei destes momentos dramáticos... Claro a "Viagem a Bubaque ficou adiada evidentemente, ficou para a altura da Páscoa naquele ano de 1974.

Nos TAGP, o CEM/CTIG só viajava com este aviador, pois era "seguro",  "muito competente" e "topo de gama"...

Nem imaginas a nossa viagem à Ponta do Biombo, no regresso à noite, passamos no meio do mato, por uma "massa de gente", que eu pensei que ia morrer! ... Mas esta estória irá dar um Artigo, mais lá para a frente, ok?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12717: Os nossos médicos (73): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (6): Em Bubaque, como subdelegado de saúde


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 9



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 11




Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 12



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 18



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 17



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 14



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 13


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 15



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 16



Fotos: © Rui Vieira Coelho  (2014). Todos os direitos reservado. [Edição: LG]


1. O Rui Vieira Coelho, ex-al mil médico, do BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), passou uma temporada no arquipélagos do Bijagós, na qualidade de subdelegado de saúde da região de Galomaro Cossé, a pedido do então Chefe da Saúde Pública, ten cor médico Aragão de Barros.

O Rui não nos disse em que data exata é que lá esteve. Mas deduzo que tenha sido já em 1974, na fase terminal da sua comissão de serviço. De qualquer modo, sabemos que fez serviço em diversas ilhas: Orango, Orangosinho, Caravela, Bubaque, Galinhas, etc. Mas a base era Bubaque, onde havia a casa do médico, ao lado da casa do administrador.

Estas fotos que ele acaba de nos mandar, em 12 do corrente, sem legendas, são de Bubaque.

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12469: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (12): Férias da Páscoa em Bubaque - Bijagós

1. Continuação das "Memórias da Guiné" do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro de sua autoria com o mesmo título, Edições Polvo, 2005:


MEMÓRIAS DA GUINÉ

Fernando de Pinho Valente (Magro) 
ex-Cap Mil de Artilharia

12 - Férias da Páscoa em Bubaque - Bijagós

Na Páscoa de 1971 consegui uns dias de férias.
Resolvemos eu, a Lena e o nosso filho Fernando Manuel, passá-las no arquipélago de Bijagós.
Esse arquipélago "ocupa uma área de 1478 Km2, distribuídos por cerca de cinquenta ilhas e ilhéus, que emergem do extenso planalto submarino que se localiza a menos de vinte metros do nível das águas"(1).

As ilhas mais importantes do arquipélago de Bijagós são: Orango, a maior, com 313 Km2; Bubaque, sede de circunscrição, com 48 Km2; Caravela (117 Km2); Formosa (115 Km2); Orangosinho (94 Km2); Roxa (90 Km2); Uno (82 Km2); Coraxe (72 Km2); Maio (52 Km2); Ponta (35 Km2); Meneque (35 Km2); Cagono (27 Km2); Uracane (27 Km2); Rubane (18 Km2); Unhacomo (13 Km2); João Vieira; Cavalos; Meio; Poilão; Soga...

A origem do povo do arquipélago de Bijagós é duvidosa.
Lemos Coelho diz ter recolhido a tradição de ter este povo sido expulso do continente pelos Beafadas.
Durante séculos os Bijagós exerceram pirataria na costa, trazendo nativos da parte continental com os quais se cruzavam.
"Os Bijagós distinguem-se dos demais povos por viverem em regime de matriarcado, no qual a mulher, como dirigente da economia familiar, desfruta de prerrogativas especiais.
É ela que toma a iniciativa do casamento.
O convite é expresso por um cabaço de arroz cozido enviado ao pretendido.
No caso de separação é ela também que toma a iniciativa. Põe a esteira e os apetrechos do companheiro à porta da palhota, significando com isso não o desejar mais no lar"(1).

Álvares de Almeida já em 1594 diz que os homens Bijagós nada mais fazem na vida do que três coisas: guerra, embarcações e tirar vinho da palma.
As mulheres, essas fazem as casas, as searas, pescam e mariscam e todo o mais serviço que fazem os homens em outras partes.

Na Páscoa de 1971 desloquei-me em barco militar para a Ilha de Bubaque, sede administrativa do arquipélago.
A viagem foi muito agradável, de tal forma agradável que, por muitos anos que viva, não mais a poderei esquecer.
O mar estava calmo, o céu luminoso, o ar quente.
Quando comecei a aproximar-me do arquipélago fiquei surpreendido com as ilhas que se me desfilavam ao longe.
Os golfinhos davam grandes saltos na proximidade da embarcação.

Entrando propriamente na área do arquipélago, o mar era um canal e a vista sobre as ilhas deslumbrante.
Até ali nunca tinha feito um cruzeiro no Mar Jónio, visitando as ilhas gregas. Na altura supunha que seria uma situação parecida com a que estava a viver.
Mais tarde, quando tive oportunidade de fazer esse cruzeiro pelo Arquipélago Grego, cheguei à conclusão de que a viagem por Bijagós me foi mais agradável, dando-me maior prazer.

Em Bubaque instalámo-nos na Estalagem do Teodoro.
O Teodoro era um negro, já aculturado, que explorava a única instalação hoteleira de todo o Arquipélago.
Essa instalação era composta por umas tantas palhotas que, exteriormente, eram semelhantes às dos Guinéus, mas que interiormente eram dotadas de um quarto, uma saleta e um quarto de banho, divisões devidamente equipadas.

As refeições tinham lugar numa construção de madeira com dois pisos.
No piso superior havia um amplo terraço sobranceiro ao mar onde eram servidas as refeições.
Jantar nesse terraço com o mar praticamente por baixo, o mar que era um canal, uma vez que defronte, não muito longe, se viam perfeitamente outras ilhas; com os golfinhos a exibirem-se continuamente, jantar naquele terraço era uma situação de encantamento e muito prazer.

Aí encontramos o Major Lemos Pires (que mais tarde viria a ser o último Governador de Timor e hoje é General), que também se encontrava em Bubaque em gozo de umas curtas férias com a sua esposa.
Logo que nos viu convidou-nos para a sua mesa, pelo que desfrutámos da sua agradável companhia por alguns dias.
Mais tarde encontrei também o meu colega Linderbrün (engenheiro técnico como eu mas de uma especialidade diferente - enquanto a minha especialidade era engenharia civil a dele era engenharia mecânica).
Estava colocado como Capitão Miliciano em Bissau no Serviço de Material.
Era bom pescador e marisqueiro.
Muitas vezes nos convidou (a mim e à minha família) para a sua palhota, onde preparava peixe grelhado e assava ostras.
Também estava em Bubaque, nessa mesma altura, o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho (o estratega do 25 de Abril de 1974) mas não se instalou na Estalagem do Teodoro. Era convidado, segundo julgo, do Administrador.

Os oito dias de férias em Bubaque decorreram com muita satisfação e calma.
Fazíamos praia. A algumas centenas de metros da areia havia, mar dentro, uma protecção contra tubarões, que existiam naquelas paragens. A sua presença era notada sempre que víamos cardumes de pequenos peixes fugindo da sua perseguição até terra firme.
Conversávamos com o casal Lemos Pires.
Comíamos peixe de grande qualidade na Estalagem do Teodoro. E muitas vezes apanhávamos um fartote de ostras na palhota do Linderbrün.

Quando as férias acabaram voltámos a Bissau num barco militar.
Nele vinha o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho, a sua mulher e os três filhos, o Intendente e a esposa, o Linderbrün e a mulher e outros de que não me recordo.

A viagem foi iniciada dentro da maior normalidade.
O barco vinha superlotado.
Pouco tempo depois de zarparmos de Bubaque, o vento começou a fazer-se sentir com alguma intensidade.
O mar começou a encapelar. As ondas atingiram alguns metros de altura.
O nosso barco parecia uma casca de noz no meio daquele mar imenso.
As pessoas começaram a assustar-se.
O Intendente, homem já de certa idade, foi-se abaixo.
Numa ocasião em que o nosso barco caiu no cavalo de uma onda para aí de oito metros de altura, a esposa do Capitão Otelo agarrou-se às minhas mãos e, aflita, gritou:
- Senhor Capitão, vamos morrer todos aqui!

Serenei-a como pude, enquanto o marido protegia os filhos.
Surpreendentemente, a Lena e o Fernando Manuel enfrentaram a situação com alguma coragem.
Anoiteceu. Estávamos relativamente perto de Bissau.
As luzes da cidade eram perfeitamente visíveis.
Acabámos por entrar no rio Geba que, tal como o mar, estava também com ondas alterosas. Parecia que o tormento nunca mais acabava.
Finalmente aportámos sãos e salvos.
Foi um alívio.

Desta situação o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho, mais tarde, em 1990, sendo entrevistado pelo jornal Público, e sendo-lhe perguntado qual a pior recordação de férias da sua vida, respondeu assim:
"- Na Páscoa de 71, na Guiné-Bissau, regressávamos eu, minha mulher e os nossos três filhos da ilha de Bubaque, no arquipélago dos Bijagós, depois de duas óptimas semanas de férias, quando o barco em que seguíamos, superlotado, esteve prestes a naufragar com um rio/mar encapelado e tormentoso como o Geba o pode ser."

Como não mais me esquecerei da viagem de Bissau até Bubaque por ter sido muito agradável e pelos momentos de encantamento que me proporcionou, não poderei também esquecer, por muitos anos que viva, a viagem de regresso a Bissau, pelas razões que descrevi.

(1) - Enciclopédia Luso-Brasileira
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12435: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (11): Passagem de ano na Associação Comercial

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12356: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (7): Segundo dia em Bubaque, na descoberta do povo Bijagó

1. Sétimo episódio da série do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), dedicada às suas viagens de saudade à Guiné-Bissau, a primeira efectuada em 1998.




CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU 

A PRIMEIRA VIAGEM - 1998

7 - O SEGUNDO DIA EM BUBAQUE, NA DESCOBERTA DO POVO BIJAGÓ

Após uma noite bem dormida e um pequeno-almoço frugal (os franceses são uns unhas de fome) a pressa era dar uma saltada até à praia, não longe dali. Toalhas ao ombro e chinelos nos pés, fizemo-nos ao caminho aproveitando para apreciarmos a especial beleza de algumas espécies de flores que fomos encontrando.

Continuando, deparamo-nos com uma construção de aspecto bizarro e de gosto duvidoso, ali virada ao canal que nos separa da Ilha de Rubane. Imagine-se uma casa a quem os alicerces cederam e toda a estrutura ficou tombada, como se as janelas ficassem viradas para o “céu”. Estranhamos o aspecto da vivenda, mas logo percebemos que havia sido construída assim mesmo. Quer a casa, quer os jardins estavam no mais completo abandono. Ao que nos disseram depois, teria sido a casa de férias do primeiro Presidente da Guiné, Luís Cabral. O poder e as suas excentricidades, neste pobre país.

Terá sido casa de férias de Luís Cabral

Continuamos o nosso percurso e chegamos a um conjunto de construções com todo o aspecto de ser uma unidade hoteleira. Tratava-se do Hotel Bijagós, com um grande bungalow central que seria a sala das refeições com cozinha anexa e ainda vários pavilhões de construção térrea, implantados nas proximidades. Esta unidade já existiria na era colonial com a finalidade de ser uma “colónia de férias” para Sargentos e Oficiais das nossas Forças Armadas. À época, devia ser um paraíso, hoje um lugar muito tranquilo e quase deserto.

Um pouco mais à frente, acedemos à praia através de um “trilho” em declive e logo deparamos com um grupo de jovens frequentadores locais. O nosso olhar deliciou-se com a imagem de uma praia magnífica. Estendidas as toalhas na areia finíssima e depois de uns mergulhos nas águas cálidas e com ondulação praticamente inexistente, logo percebemos que éramos os únicos brancos por aquelas bandas.

Alguns coqueiros e outras árvores eram o nosso guarda-sol. A pouca profundidade das águas permitiu-nos um passeio ao longo da praia para apreciarmos a paisagem que nos envolvia. Alguns jovens Bijagós acercaram-se de nós, talvez na expectativa de uma qualquer oferta. Uma grande canoa a motor, de pesca, aportou à praia e era esperada por um adulto que entretanto chegara.
Da canoa, foram arremessados vários peixes para o areal que prontamente foram recolhidos. Das palavras trocadas entre um dos tripulantes da canoa com o adulto que recolhera os peixes, pareceu-nos ter ouvido a expressão “brancos na praia”.
Uma saudação, um comentário ou uma exclamação de espanto pela raridade da presença de europeus por aquelas bandas?

Enquanto a canoa de pesca se ia afastando da praia, os nossos olhares distinguiam no horizonte os contornos de outras ilhas.

Regressamos ao hotel para o almoço e percebemos que um jovem casal nos fazia agora companhia. À conversa com esse casal, durante o almoço, a jovem informou-nos ser filha do proprietário do Anura Clube, um outro empreendimento turístico na região de Bula, e que ali estariam em lua de mel. Após o almoço era tempo do planeado passeio, a pé, pela povoação e tabancas próximas, na procura dos sinais da cultura e das tradições daquele povo.

A caminho da povoação e acompanhados de alguns jovens, fomos visitar um local em que estavam “expostas” uma quantidade apreciável de máscaras, estatuetas e outras obras de arte, executadas em diferentes materiais, e que eram certamente muito antigas. Estávamos perante uma das mais conhecidas expressões de arte deste povo animista e, como em anteriores crónicas já citei, com referências em muitos trabalhos de estudiosos sobre as diversas expressões de arte Africanas.
Quase como quem receia tocar em algo sagrado, perguntamos ao respeitável ancião, guardião daquele espólio, quanto poderia custar uma pequena máscara que nos captou a atenção. Delicioso no trato e com um português perceptível, disparou um valor incomportável para nossas exauridas carteiras em fim de “férias”.

Na impossibilidade do negócio, continuamos até à principal “avenida” da povoação, sulcada de canais em resultado de muitas chuvadas e ausência de reparações, que nos conduziria até ao cais de Bubaque. Este era o principal ponto de ligação do arquipélago dos Bijagós com a parte continental da Guiné. As construções próximas do cais eram precárias, pequenos estabelecimentos comerciais e muito pouco movimento naquela hora.
Inflectimos para outra zona da ilha e fomos ao encontro de uma missão católica dedicada ao apoio a crianças, e não só, dirigida por um religioso italiano. Pelo caminho, conhecemos uma jovem, filha de Portugueses emigrados na Bélgica e que, estando na missão em serviço de voluntariado e a preparar uma tese, nos acompanhou até lá.

A missão estava integrada num conjunto urbano com traço colonial e militar e várias das construções estavam a ser utilizadas, nomeadamente pelos serviços telefónicos. Prosseguimos mais para o interior da ilha ao encontro de uma tabanca. Caminhando, fomos abordados por dois jovens, membros de uma cooperativa de artesanato local e que nos propuseram a compra de algumas das esculturas que exibiam. Deixamo-nos seduzir quer pela beleza, quer pelo preço, regateado, e trouxemos para casa algumas peças, de que destaco a escultura de um Irã que representa o espírito dos animistas nas cerimónias e rituais de ligação à natureza.

Levamos depois as peças à presença de uma autoridade tradicional, que através de um carimbo, certificou cada uma delas como sendo autêntico artesanato dos Bijagós. Satisfeitos com as peças e com o preço pago por elas, continuamos o nosso caminho até uma tabanca próxima. Era ainda a época seca e as hortas estavam por cultivar.

O tempo era já escasso e só permitiu observar visualmente alguns pormenores da vida dos Bijagós. Gente hospitaleira, amiga de conversar e que se desloca para a região de Bissau na procura do trabalho que garanta o sustento da família. Imigrantes na sua própria terra, como em tantos outros lugares do Mundo.

Já na saída da tabanca deparamo-nos com um peixe de grande tamanho secando ao sol, espetado numa esteira que servia de vedação a um terreno de cultivo. Até aqui nada de anormal, não fora o cheiro nauseabundo e a quantidade de moscas que o peixe nos “oferecia”.

Cansados, decidimos regressar ao hotel e, aqui chegados, saímos disparados para um refrescante banho. Reunidos depois na esplanada para uma “loira” fresquinha, a tempo de assistirmos à chegada de mais hóspedes. Eram dois cavalheiros de meia-idade. Um deles, exprimindo-se em francês e substancialmente mais alto que o outro, exibia uns trejeitos efeminados. Não tardamos a concluir que se tratava de um casal de homossexuais.
Este pedaço de terra, perdido na costa ocidental africana, era o local ideal para se fugir a olhares indiscretos.

A hora do jantar confirmou, mais uma vez, que o peixe era a base de quase todas as refeições que degustamos, sendo a barracuda o principal sacrificado.

O sol escondia-se já no horizonte por detrás de uma qualquer daquelas ilhas, anunciando a hora do recolher.
Foi um dia cansativo mas enriquecedor, no contacto com o povo Bijagó.

( Continua)

Na esplanada do hotel em Bubaque

Praia em Bubaque

À descoberta de Bubaque

A minha primeira viagem à Guiné-Bissau - 1998 (5) - Estadia em Bubaque, na descoberta do povo Bijagó
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12322: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (6): Bubaque, a outra Guiné com sabor a férias

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12322: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (6): Bubaque, a outra Guiné com sabor a férias

1. Sexto episódio da série do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), dedicada às suas viagens de saudade à Guiné-Bissau, a primeira efectuada em 1998.




CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU 

A PRIMEIRA VIAGEM - 1998

6 - BUBAQUE (BIJAGÓS), A OUTRA GUINÉ... COM SABOR A FÉRIAS

Depois do pequeno-almoço no Capé (Bafatá), partimos para Bissau a tempo do almoço no Restaurante Asa Branca, propriedade de um alentejano, bem no centro da cidade. Partilhamos o repasto na companhia do nosso amigo Candé, que nos iria acompanhar depois até ao aeroporto para um voo com destino a Bubaque.
Esta parte final da nossa presença na Guiné, com um cheirinho a férias, foi o preço que tive que pagar para as senhoras me acompanharam nesta viagem. Mas, convenhamos que, depois de uns dias tórridos na zona centro/leste do país, impunha-se um pequeno período de relaxe, de usufruto da natureza e do convívio com alguns dos aspectos da cultura deste povo animista, muito conhecido pelas suas esculturas, quase sempre referidas na literatura especializada no estudo das origens desta antiga arte Africana.

Alguns episódios, completamente inesperados e que rodearam esta viagem até Bubaque, iriam transformar-se nos momentos mais agitados de toda a nossa estadia na Guiné. Desde momentos bizarros e rocambolescos, até ao receio pela nossa segurança, de tudo um pouco aconteceu.

Depois das elementares formalidades de embarque, dirigimo-nos para a placa do aeroporto e, de imediato, procuramos visualizar o nosso meio de transporte. Lá ao fundo, um pouco à esquerda, encontravam-se dois helicópteros e um pequeno avião. Saquei da minha Sony e apressei-me a registar imagens das aeronaves. De repente, um agente da autoridade puxa-me por um braço e informa-me que tenho que lhe entregar a cassete vídeo, porque estava a filmar em local proibido. (Para nos situarmos, registe-se que nesta data vigorava em Bissau o regime de partido único).

Tentei, com calma, explicar-lhe que desconhecia a proibição, que não via qualquer risco para a segurança do país, etc. etc. etc.
Não tendo conseguido demover o agente da autoridade, recusei veementemente a entrega da cassete, porque tal significaria perder imagens únicas e irrepetíveis desta viagem à Guiné. Perante a minha recusa e a estupefacção dos meus acompanhantes, o agente levou-me para a esquadra do Aeroporto.

Era a Guiné e a África destes tempos. Fiquei rodeado de alguns agentes da autoridade num espaço exíguo e, fizeram-me sentar numa cadeira. Exigiram-me o passaporte e ameaçavam retirar-me a máquina de filmar. Voltei aos mesmos argumentos, tentando de forma firme, mas respeitadora, explicar-lhes o que significava perder as imagens de uma viagem há tantos anos sonhada. Continuaram irredutíveis. Já não sabia o que mais fazer. Num relâmpago, ocorreu-me a ideia do suborno. Depressa desisti, porque poderia ser pior a emenda que o soneto.

Enquanto isso, lá fora, os meus familiares procuraram, e encontraram, o nosso amigo Candé a quem contaram o sucedido. Apercebo-me da entrada de mais uma pessoa. Era Candé. Coloca-me a mão no ombro e diz-me para estar calmo. Sinto-me agora mais confiante. Até aí, sentia-me perdido e prestes a desistir. Candé, dirige-se aos mais graduados e troca com eles algumas palavras em crioulo. Inesperadamente, diz-me para me levantar e para sair para junto dos meus.

Quando saí daquele abafado espaço, respirei bem fundo, devido ao ar sufocante e ao alívio da situação. Os meus familiares, meio incrédulos, viveram momentos de ansiedade. Candé voltou para junto de nós e, devolvendo-me o passaporte, disse-nos que estava tudo resolvido. Enquanto isso, o avião para Bubaque esperou por nós mais de uma hora.

Informados os pilotos de que estávamos prontos, recebemos indicações para nos deslocarmos para o aparelho. Os inevitáveis abraços ao Candé e lá nos dirigimos ao aparelho. Tratava-se de um mono-motor muito antigo, de dupla asa, pertencente à “ASTRÁVIA” e com capacidade para dez passageiros. Acomodamo-nos.

Tínhamos por companhia dois pilotos na cabine e uma simpática hospedeira, todos eles guineenses. Estávamos a meio da tarde e um calor asfixiante dentro do aparelho. O avião começou a movimentar-se na pista, preparando-se para a descolagem. A cabine de pilotagem não teria porta, o que permitia que os passageiros assistissem aos procedimentos do voo. Do tecto da cabine pendia um qualquer instrumento de medição que os pilotos consultavam. Tudo a postos e o avião descolou normalmente. Poucos minutos depois já estávamos sobre a água e, para além dos bancos de areia, começaram a ver-se os contornos de algumas ilhas. No aparelho, os tirantes que uniam as asas vibravam, mas o voo, de cerca de meia hora, decorria sem grandes oscilações. Os pilotos iam consultando o aparelho suspenso na cabine e tudo parecia bem. Um deles calçava um sapato rasgado na costura do calcanhar e as peúgas eram diferentes.

Viam-se agora com nitidez várias ilhas e sentimos que o aparelho iniciara a descida, apontando na direcção de uma delas. De relance vêem-se várias construções e uma linda praia bordejada de arvoredo, que sobrevoamos em direcção à pista de terra batida. Estávamos longe de imaginar o que nos esperava na aterragem. O avião faz-se à “pista”, desce normalmente e toca suavemente no solo e, de repente, sobe bruscamente aí uns dez metros. A pista começa a ficar curta e ao fundo, termina com árvores de elevado porte. Perante esta inesperada situação, os pilotos “atiram” o avião para o solo com tal força, que todos nós, sacudidos nas cadeiras, soltamos um assustado grito com a violência pancada.

Apesar do grande susto, lá conseguiram imobilizar o avião próximo do fim da pista. O trem de aterragem fixo, era dos rijos. Desde o episódio com a polícia no aeroporto de Bissau, até esta aterragem na ilha de Bubaque, estas “férias” nos Bijagós prometiam.

Num jipe sem cobertura e com os cabelos soltos ao vento, fomos conduzidos até ao “Maiana Village”. Esta unidade hoteleira, propriedade de um casal francês, ficava sobranceira a uma pequena falésia, bem junto ao canal que nos separa da Ilha de Rubane. Estava equipada com vários bungalows individuais, um salão restaurante, uma agradável esplanada e, de uma pequena piscina. No jardim, bastante arborizado, pontuavam muitos lagartos que se deliciavam com as sempre presentes formigas.

Resolvidas as formalidades da chegada, fomos deliciar-nos com um banho na piscina. Na esplanada e enquanto aguardávamos o jantar, comentamos as peripécias deste dia inusitado. Éramos os únicos hóspedes do hotel.

Ao jantar foi-nos servido um prato de massa com “estilhaços” de carne que, como habitual nos franceses, enchia mais os olhos que o estômago. A temperatura por aqui, neste delta com 88 ilhas e ilhéus, é bem mais amena que na parte continental da Guiné. Caiu a noite e, antes de nos recolhermos, decidimos que o dia seguinte seria de descoberta da ilha, das suas gentes e das suas praias.

(Continua)

Pequeno-almoço, despedida do Capé


Avião que nos levará a Bubaque, nos Bijagós

Canal e Ilha de Rubane

Na piscina em Bubaque

A minha primeira viagem à Guiné - 1998 (4) - Despedida do Capé, Bissau e voo para Bubaque (Bijagós)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12290: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (5): O dia seguinte no Xitole com as pessoas

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9474: Blogoterapia (199): Obrigado, amigos da Tabanca Grande, por tanta partilha e afeto (João Graça)



Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Bubaque > 12 de Dezembro de 2009 > 12h40 >  Borboleta...

Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso tabanqueiro João Graça, com data de 28 de janeiro último:

Caros amigos da Tabanca [Grande],

Li, com atenção, cada um vossos comentários com votos de parabéns [, por ocasião do meu 28º aniversário] (*). 


Obrigado por tanta partilha e por tanto afeto!

É com agrado que vejo uma geração sem medo de falar sobre uma experiência cujo impacto nem sequer consigo imaginar, mas, dada a minha formação, cada vez mais procuro empatizar. Uma geração que não se limita a descrever o passado, mas projeta e luta por um futuro, o  daquele povo (guineense), do nosso povo (português) e de toda a humanidade.

Obrigado por estarem atentos ao que as novas gerações vão fazendo e reafirmo,  desde já,  que o ideal que mais procuro é a concórdia entre a humanidade. A paz é o ideal pelo qual lutarei toda a minha vida!

Votos de saúde e longa vida! (**)

João Graça






Lourinhã > Praia da Areia Branca > 11 de fevereiro de 2012 > Fim de tarde de inverno sobre o Atlântico... Em contraluz, o João e a Joana Graça...


Foto: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 21 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9380: Parabéns a você (370): João Graça, médico, músico e amigo da Guiné-Bissau.


(**) Último poste da série > 11 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9471: Blogoterapia (198): À Tabanca Grande, em primeiro lugar e a todos os que se lembraram de mim e também aos outros que todos os dias se abraçam no blogue (José Brás)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8043: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (7): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte III, o regresso a Bissau)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Mensagens publicitárias... Esta intriga-me, o anúncio do carpinteiro Khadim Rassoul (?)corta um bocado do início e do fim da mensagem que está escrita na parede: [...] Dona Lídia mindjer ku sibi trata [...] fidju matchu  Deus na dal bom sorte [...] na é mundo.



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009  > Também é domingo para os muçulmanos...


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Uma manhã calma de domingo... e que Deus ou Alá e os  bons irãs protejam a Guiné-Bissau...





















Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > O barco, o Expresso dos Bijagós, um antigo cacilheiro do Tejo, parte todas as semanas às sextas-feiras e regressa no domingo... É uma festa! É o acontecimento da semana, em Bubaque... Toda a vida social da ilha ali concentrada, naquelas horas de domingo... A azáfama aumenta com a hora da partida do barco, depois do almoço... Quem parte leva saudade, quem fica, faz a festa...  Para saber mais sobre Bubaque e outras ilhas do arquipélago Bolama-Bijagós, ver aqui, em Rotas & Destinos... [Uma das coisas que eu não sabia  é que Bubaque esteve ocupada pelos alemães durante a I Guerra Mundial... Não se pode saber tudo]. (LG)





Guiné-Bissau > Bissau > 13 de Dezembro de 2009 > 18h45 > Chegada, a a Bissau, do Expresso dos Bijagós, vindo de Bubaque... Partiu às 14h45... São portanto quatro horas de viagem...

Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Gracça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele  fez, nas duas semanas que lá passou (*)... 

Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém (*). 

O fim de semana,  de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós (**).  Dia, 13, à tarde, estava na hora de regressar a Bissau, que na segunda feira era dia de trabalho: visita médica (obrigatória) aos colaboradores da AD -Acção para o Desenvolvimento, a ONG do Pepito... que  o trabalho de um jovem médico pode ser pouco, na Guiné-Bissau, mas quem não o aproveita... é louco. Mas dia 13, domingo, o diário do nosso Dr. João Graça só tem duas linhas... Em contrapartida, temos muitas fotas... (LG)



13/12/2009, domingo > Bubaque-Bissau

9.1. O porto encheu-se para despedida. É um verdadeiro acontecimento.

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Notas do editor:


(**) Sitografia sobre o Arquipélago Bolama-Bijagós... Algumas sugestões:

(i) Blogue de Nené Montenegro (Lisboa), em português e crioulo > Mulher Bijagó

(ii) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7164: Meu pai, meu velho, meu camarada (22): Bijagós, memórias de menino e moço (Manuel Amante)

(iii) IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas,  Guiné-Bissau, Bissau