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domingo, 22 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12069: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (8): Continuação do balanço

1. Em mensagem do dia 16 de Setembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Pós-Guiné:


O PÓS-GUINÉ 65/67

8 - A MINHA CICATRIZ RESULTANTE DO CORTE DO CORDÃO UMBILICAL

(CONTINUAÇÃO DO BALANÇO)

Chegado à Guiné, cedo me apercebi (em Setembro de 1965) d'alguns diferentes usos e costumes.
E propus-me vir a praticar aquela religião que permitia que um homem pudesse comprar qualquer mulher e até porque o preço, não me parecia exagerado. Dessa forma não trabalharia mais porque teria as escravas a fazer tudo.

Na verdade, mil e quinhentos e uma vaca estavam bem dentro das minhas posses, pois se bem m'alembro o pré do furriel que fui, andava à volta de três mil e quatrocentos pesos e vacas tuberculosas era pr'ali o que não faltava na mata. Era-me estranho, mas até invejava o macho a descansar à sombra, deitado na sua rede presa entre duas palmeiras e controlando as sete.
Umas apanhando o arroz... outras, arando com aqueles primitivos aparelhos... uma ou outra lavando... outras colhendo alguns tomates que iam nascendo sem serem semeados, mais algumas bananas ou caju (que delicioso e refrescante este sabia, caraças !!! pegava-se-lhe pela castanha... trincava-se... chupava-se tendo todavia o cuidado de não engolir o fruto)... e tudo enquanto o dono mascava a sua noz de cola, tomava o seu vinho de palma... ao mesmo tempo que ia arengando com todas elas.

Tratavam-se de tradições estranhas embora na Metrópole, também as pobres mulheres, estivessem sob o jugo do marido, poucas trabalhavam fora de casa, (tinham a missão espantosa de criar e educar os filhos) e até precisassem da sua, dele marido, autorização para se deslocarem ali ao lado a Badajoz onde iam comprar o café, as gasosas e as meias de nylon. Em boa verdade alguns, nanja eu puritano que continuo, até iam fazendo das suas, mas a esposa verdadeira só podia ser uma e mais nenhuma, o que era desprestigiante para as outras nunca assumidas, embora andassem na boca suja dos maldizentes. Contudo todos fechavam os olhos e até se aprovavam as aventuras de qualquer vangloriante garanhão de raça Lusitana. E quando digo... "puritano que continuo" mas que poderia ter deixado de o ser, pois que e dadas as minhas, popularidade e simpatia, resultantes do facto de ser o vocalista do Conjunto Sôr-Ritmo... com boa voz... boa presença e quiçá beleza... ou seja só me faltava a auréola, porque admiradoras não me faltavam "nã sinhor".

De todo o modo, eu até achei, em Mansabá, onde fui confrontado com a situação em causa, que estava certo comprá-las e mantê-las. Sim porque o facto de as ter adquirido, também lhes dava a responsabilidade de as sustentar senão o vendedor poderia exigir a devolução do bem transaccionado... Convenhamos que dar a papa biandense a sete mais os filhos que iam aparecendo, não era nada fácil.


Disse no inicio que me propus etc, etc, e por isso houve que estudar como "religiãonizar-me" mas... se aceites as duas condições qu'abaixo descrevo:
Após demoradas pesquisas, cansativas noites mórbidas, pensamentos enviesados, cheguei à que penso bem elaborada e pior brilhante conclusão final: lá ter sete esposas, tudo bem, mas eu ter de alimentá-las não queria. Daí que só aceitaria se numa primeira fase se acabasse com essa mordomia e qu'elas que adultas são, se desenrascassem.
Numa segunda fase impor-lhes-ia a contribuição de vinte por cento dos ganhos que tivessem e fosse lá da forma como o conseguissem. Afinal adaptando o sistema deles, ao nosso Ocidental, onde já existia uma classe bem posicionada na vida e conhecida por chulos.


JUNHO DE 1967

Acabadinho de regressar e já com as "sódadinhas" iguais às d'agora e porque antes não tinha tido tempo... porque me não apetecera... porque andar na borga era bem mais divertido... porque o que eu queria era ser 1.º trompete lá na Banda Filarmónica da Ponte de Sôr, não estudei o suficiente, na idade própria para tal, mas trabalhei desde os 10 anos, ora bem!!!
Dado que permitiam aos militares no activo e aos regressados, fazer exames liceais em qualquer altura, desde que houvessem passado 60 dias após o último exame, entendi que devia completar o 5.º ano Liceal, Secção de Ciências... qu'a de Letras já tinha e tal impunha-se até para poder subir, através de concursos, na função pública.

Foi canja e em Dezembro desse ano estava feito. Para além da obrigatoriedade de pagar trinta escudos para a Mocidade Portuguesa, os dirigentes dessa e porque eu até sabia escrever à máquina Remington teclado AZERT, pediram-me para ser o elemento que contactaria com outros grupos congéneres, no sentido de se organizarem alguns convívios, com jogos à mistura quer fossem de futebol, ou outro desporto com bola. Para além do mais poderia dar também umas dicas aos moços, sobre alguns aspectos com que eles mesmos um dia se iriam confrontar, se mobilizados.

Ali numa terra perto e tal como eu, havia uma rapaz a procurar saber mais (e que por isso também andava a estudar à noite) e que fora o indigitado para ser o impulsionador do desporto, tal como me acontecera.

Convém acrescentar e elucidar, que qualquer correspondência trocada entre organismos públicos, terminava sempre assim: A BEM DA NAÇÃO.. e por baixo a função de quem escrevia, ou seja "O Chefe (disto ou daquilo) ou o Director, etc etc.
Ora a determinada altura recebi um convite em papel timbrado, onde convidavam o nosso grupo para um jogo, almoçarado antes, e a realizar daí a 15 dias.
Tudo bem... falei com o verdadeiro Cmdt de Bandeira lá do sítio, anuímos mas ri... ri muito. É que o ofício terminava:
"A BEM DA NAÇÃO"
O barbeiro cá da terra.

 (continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12046: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (7): A saga do corte umbilical

domingo, 15 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12046: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (7): A saga do corte umbilical

1. Em mensagem do dia 9 de Setembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Pós-Guiné:


O PÓS-GUINÉ 65/67

7 - E LÁ VOLTA À BAILA A CICATRIZ RESULTANTE.. etc, etc, etc, etc,

1986?

A determinada altura decidi que havia de fazer um balanço sério e honesto do que fora a minha contribuição enquanto Combatente na Guiné. Competia-me a mim analisar e fi-lo seguindo a voz da consciência, que tantas vezes me condena e que n'algumas vezes (o seu lado mau) me tentou empurrar para o descalabro. Só que nunca gostei de ser empurrado e até reajo mal a quem mo faça e se calhar é por isso que ainda por aqui ando e andarei. Quanto mais ruim for, melhor... porque se diz que só morrem os bons.


E ASSIM "FONDO": 

Já escrevinhei como fui prá tropa depois de ter ido "às sortes"... para onde fui e pelo que passei, aprendi e ensinei... pelas amizades conseguidas e também pelos poucos alguns ódios (decerto resultantes da inveja que também é um pecado capital) com que tentaram destruir-me.
Só que e já o Senhor Almeida Garret dizia no Frei Luís de Sousa, pela boca de Telmo Pais: "Ruim terra te comerá cedo, corpo da maior alma que deitou Portugal". Mas enganou-se, no "te comerá cedo", se é qu'a coisa se adapta ao meu caso.

Voltemos ao balanço na guerra, não sem que antes vos pergunte:
SOU OU NÃO ERUDITO?

Começo:
PORQUE É QUE NÃO GOSTO OU GOSTAREI d'alguns países?

Simples... muito simples mesmo:
Porque soube que apoiaram o PAIGC e com isso contribuíram para que tanta rapaziada nossa não tenha voltado com vida e que outros tenham voltado com graves mazelas.

PORQUE É QUE NÃO GOSTEI do chefe inimigo?
Ora, sendo este o causador também dos infortúnios atrás assinalados... e mais... considerando que estudou em Portugal à nossa custa, tirou cursos, trabalhou e conviveu com gentes honradas... porquê enveredar pela luta armada contra militares "DO POVO DAQUI", que apenas foi obrigado a cumprir um dever?
Não me agradou, apesar de tudo, o seu fim mas "Quem com ferros mata, com ferros morre";

PORQUE É QUE DESGOSTEI daquele valente cubano que sempre admirei?
Desgostei eu e o seu líder, que a determinada altura o repudiou.
Eu... porque embora a figurinha me merecesse algum respeito e até alguma romântica admiração mas unicamente até ao dia em que soube que também ele se ofereceu para combater contra nós, o que não foi aceite pelos movimentos que nos obrigaram a defender a Pátria devido à internacionalização da guerra que daí poderia advir, o que lhes não convinha.
O seu fim também não foi do meu agrado, mas todos os sonhadores assim acabam.

PORQUE É QUE CONTINUO A NÃO GOSTAR dos desertores e se calhar nem eles gostam agora de si próprios?
Porque por cada um que fugiu com medo, correspondeu a mais um dia que ficámos nós a penar no inferno.
Perdoo, mas um poucochinho apenas, aqueles poucos que já se retrataram.

PORQUE É QUE NUNCA GOSTEI OU GOSTAREI dos que fugiram? E fizeram-no mesmo sem saber se seriam apurados... sim...  porque se na altura até os medrosos... os mERDosos e os maricas ficavam "livres", porquê ir a salto lá pr'ós bens-bons?
Voltaram e bem recebidos foram... que lhes faça bom proveito.

E PORQUE É QUE NÃO GOSTO d'alguns QU'ATÈ cantam?
Cantam? ná... protestam, ou melhor agora estão mais comedidos, que o dinheiro faz-lhes falta.
Tenho-lhes um pó, que nem vos digo nem vos conto e também tenho nas, rádio e TV, botões que os desligam e dessa forma corto-lhes o pio.

Fim, por hoje, do maldizer que foi a realidade.
Proximamente falarei das boas coisas.

E A GUINÉ SEMPRE PRESENTE
O grupo desportivo do Banco onde trabalhei bem e depressa e por isso também me pagaram e reconheceram o mérito, tinha uma Secção de Judo.
Fui ver... gostei e decidi-me participar, porque e até dado que o "Mestre" tinha sido Fuzileiro Especial e combatera na Guiné.
Pensando nas recordações que poderíamos a vir a desbobinar, lá fui e por lá andei anos a fio... e falámos... falámos, sobre as amargas experiências... sobre outras menos desagradáveis... enfim partilhámos emoções, saudades e o desejo firme de lá voltar sempre presente, bem como a ânsia de regressarmos aos vinte e poucos anos.

Conheci os acontecimentos sobre a operação a Conacry, com maior profundidade e até alguns outros que não mais vi sequer comentados e mais se me arreigou a certeza de que as, valentia e sofrimento das nossas tropas foram bastante superiores àquilo porque eu também passara.
Até que certo dia desisti.
Já não aguentava mais, tanta demonstração (para promoção) e onde me calhava ser sempre eu a cair. É que nem me salvava com aquela máxima judoca que diz: "Quanto maior for o nosso adversário, maior será a sua queda".

Tantas levei qu'agora uso apenas o quimono para avivar a memória cá em casa e numa demonstração de força psicológica - SÓ, pois que a verdadeira foi-se.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12015: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (6): A saga do corte umbilical

domingo, 8 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12015: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (6): A saga do corte umbilical

1. Em mensagem do dia 4 de Setembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Pós-Guiné:


O PÓS-GUINÉ 65/67

6 - E A SAGA DA MINHA CICATRIZ RESULTANTE, etc etc etc, CONTINUA

FIM DO ANO DE 1966

Baile na UDIB em Bissau, tocava um conjunto de música ligeira do Exército, onde tinha dois estimados amigos, um guitarra eléctrica, outro, organista electrónico. Interpretavam uma linda melodia para dançar à moda antiga (ou seja agarradinhos como convinha), chamada "Aline" e eu volteando com a namorada dum deles que só deixava que fosse eu o seu acompanhante e tal me houvera pedido, coisa que os pais dela presentes também, nem viam com desagrado, pois sabiam que eu era casado... bom rapaz... e conhecíamo-nos todos.

Sede da União Desportiva Internacional de Bissau
Com a devida vénia a Nelson Herbert

Só que:
Eu que nem era atrevidote, ou sequer disso fazia questão, e estava um pouco triste porque a minha mulher e a minha filha haviam regressado para a Metrópole nessa mesma manhã... atrevi-me... e... levei uma tal bofetada qu'ainda hoje a sinto aqui no semblante da face da cara, do lado esquerdo que m'alembro bem.

Apesar disso a noite passou-se depois em beleza, contrastando com o que se passava no mato, embora as comemorações hajam sido feitas um pouco por todo o lado.
Constatei que éramos capazes de esquecer o que de mau se passava, não nos entregávamos ao desalento, lutávamos e uníamo-nos se caso disso, distraíamo-nos quando a oportunidade surgia.
A noite acabou em completa e organizada desordem, própria daquela irreverente mas aguerrida juventude.

As ruas "na" Bissau, ao aparecer do nascer do dia, mais pareciam uma adega de garrafas partidas por tudo o que era sítio, e ali na Praça do Império ressonava-se no chão, vendo-se os três ramos das forças armadas a serem acordados com carinho pelas polícias militares.

Uns lá partiam para o mata-bicho disponível nos cafés das redondezas, outros tremelicando e ora caindo ora se levantando, provavelmente até devido às artroses, artrites, hérnias, enfim!!!

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ABRIL DE 1974

Bom.... depois veio um dia 25, (o que acontece curiosamente doze vezes por ano) em que acordei cedo, ouvi que havia uma revolução e todo contente fiquei, e ainda saudoso dos meus tempos de combatente, até ganhei novo alento e julguei que iria de novo pegar no meu morteiro 60, na minha G3 ou quiçá até, na Parabellum 9mm.
É que lá fora na rua, só ouvia "a luta continua" e para mim o significado de luta era combater contra quem nos emboscava nas matas da Guiné, ou seja responder aos tiroteios.

Cedo me desiludi, pois que afinal "luta" agora era outra coisa nada parecida, mas bem desvirtuada.
Por isso nem gritei VAMOS A ELES, avisando a malta.
Mas lá que foi divertido, foi.

Vi a tropa na rua, a princípio alinhada, disciplinada mas pouco, fardada qb que poucos dias depois desalinhou, indisciplinou-se e tanto andava com barba por fazer, cabelo comprido, G3 engatilhada e usada a tiracolo assim como eu hoje uso o chapéu que levo para tapar o sol na praia e até assisti a um juramento de bandeira na TV, que deveras me espantou dada a desagregação total das práticas constantes no RDM.

Tal rebalderia era vulgar acontecer nalguns aquartelamentos da mata, mas aí nem havia a presença de populações civis, como no caso da minha CCAÇ 1422 quando no K3. Por isso se fechava o olho, permitindo-se o uso de nem que mais não fosse, duns simples calções, bivaques em vez das tradicionais boinas, chinelos de enfiar... mas aqui na Metrópole este abandalhamento chocou-me sim senhor. E será que faria mesmo parte da "revolução em curso" como diziam, alguns dos seus tutores?

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ÓSPOIS

Lisboa transfigurou-se:
Deram-se as províncias ultramarinas... abandonaram-se os seus autóctones Portugueses que combateram ao nosso lado... regressaram os aqui nascidos e que haviam ido em procura de melhor futuro.

Os cais donde partíramos e chegáramos pareciam agora enormes armazéns onde milhares e milhares deixavam os poucos bens que conseguiram trazer. Retornados lhes chamaram, "alguns" daqueles, qu'agora mandavam, eles próprios também retornados, mas do exílio dourado e que foram recebidos como gente importante apesar de... e de.
Claro que também conhecemos as honrosas excepções.

Para além disso, afirmavam estes, os no poder à época, que tudo resultava duma descolonização exemplar.

E eu que revoltado já era, assisti, e como eu outros muitos mais, com muita tristeza e raiva ao que ia acontecendo e à malfadada sorte dos nossos amigos que ficaram lá na sua terra, e AO NOSSO LADO COMBATERAM.

Repito: "tudo resultava duma descolonização exemplar", como afirmavam os no poder à época.

Começaram contudo e felizmente a aparecer vozes discordantes e quem se insurgisse contra o descalabro para onde queriam levar o País... militares guerreiam contra militares... dão-se golpes e contra-golpes... e o pobre povo lá se ia manifestando gritando:
- "A luta continua".

E assim se passaram anos até que certo dia, o meu clube prega uma abada de 7 a 1 a um outro qu'até tinha um emblema com um "pesserinho" pousado em cima duma roda de bicicleta com pneu e tudo, e lá se apaziguaram os ânimos daqueles que com'a mim utilizavam os campos de futebol, para extravasar e largar uns inocentes palavrões.
Tive imensa pena de não ter visto o jogo, mas na semana anterior havia abandonado de vez o futebol que tanto me incomodava psiquícamente. Soube do resultado através do rádio ao vir de Peniche onde fora à pesca... trazia dois baldes grandes cheios de sargos dourados, mas comentei:
- Este gajo enganou-se...7 a 1? Pode lá ser ?

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11998: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (5): A saga do corte umbilical

domingo, 1 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P11998: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (5): A saga do corte umbilical

1. Em mensagem do dia 26 de Agosto de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Pós-Guiné:


O PÓS-GUINÉ 65/67

5 - A SAGA DO CORTE UMBILICAL


A outra peça que encontrei, é uma espécie de punhal, feito em ferro pelo meu amigo felupe, O QUARENTA E QUATRO, (como gostava que o chamasse), com a pega adornada em pele estriada e de variegadas cores. A bainha em couro também embelezada da mesma forma.
A lâmina propriamente dita, foi batida a martelo por ele próprio e afiada com esmero.

Foi num dia qualquer de 1966, que ma ofereceu e ma colocou no cinto, tendo o cuidado de me avisar:
- "Furrié" entrará sempre na tabanca, sem problemas e bem-vindo se a tiver à vista e "se a levares pró mato, poderá ser-te útil também".

Sempre fui de não acreditar em amuletos, mas que resultou... resultou. Aquele 44, de quem nunca mais soube, para além de guia, foi também membro da minha Secção de Morteiros e também meu protector quase invisível quando em combate.

Lembro-o sempre com muita saudade e procurei saber do seu destino, através de muitas tentativas mas nunca obtive respostas.

Mantenho preservada apenas uma foto que tirámos, vendo-se Farim lá depois do rio.

Na foto > De pé: (?), Samba, Soares, (?), Nascimento e (?). De cócoras: 44, Tarouca e Domingues

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FOI NUM DIA DE JUNHO DE 1966

Que devo ter chorado tudo o que haveria para chorar, mas de alegria.

Um helicóptero aproximava-se vindo dos lados do Olossato e pairava sobre o K3, deixando a impressão de que iria pousar e pousou.

Tal era inédito e pensámos que seria alguém importante para saber algo sobre os funestos acontecimentos do dia anterior em que mais chorei, mas de dor e raiva.

Ainda atordoado, deixei-me ficar sossegado à porta da minha suite e esperei não ser incomodado, mas fui bíspando o que se passava.

Nisto oiço que me chamam e vejo que indicam a minha mansão a alguém que viera lá do ar.

Era um 2.º Sargento lá da minha terra, que estava sediado em Teixeira Pinto e que viera para visitar o meu "corpo" que ele houvera ouvido dizer, estar também esfrangalhado.

Digam lá se o Mundo e a Camaradagem não eram então coisas lindas?

E foi com um apertado abraço (e gratidão minha) que celebrámos este encontro e foi com esta prova espantosa, que me fez entender ainda mais, o que são as fraternidade e amizade.

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O SOLDADO CHICO QUE ERA PALHAÇO

Este rapaz tinha sido um verdadeiro palhaço e a isso voltou, num dos circos que deambulavam pela feiras da nossa terra e onde eu tanto gostava d'ir, mais pelas pernas das trapezistas... ora bem. Fazia parte da comitiva que comigo permaneceu no Pelundo e conseguiu indrominar e fazer rir de tal forma, quer o homem grande (Ti Vicente se chamava) quer os seus ministros que nem ler sabiam, que decidiram oferecer-lhe algumas benesses em paga da alegria que lhes proporcionava.

Tudo o que tinham de melhor lhe pertenceria se ele ficasse por ali desde já e prontificaram-se a falar com as altas chefias militares.

Davam-lhe as filhas, as vacas e os porcos, a fonte e a igreja, a bolanha e alguns terrenos cultiváveis... parte doutros que iam até Bula, e para comer só do bom e do melhor, nem que para tal, houvessem de se deslocar e aviar onde fosse necessário, para além das fracas galinhas e cabras que lhes pertenciam. Além disso, prometiam-nos segurança ali na zona, que convenhamos, à época era mesmo sossegada, talvez devido ao medo que tinham de nós, gentes aguerridas que éramos, embora não descarte que por vezes, também alguma cagunfa sentíssemos.

O rapaz pediu-me conselhos e direcções a tomar... prometi apresentar o assunto superiormente... e dar-lhe-ia a resposta um destes dias.

Mas o destino não o quis (e nem ele próprio como mo confessou depois) mas enquanto pudemos fomos aproveitando a maré e usufruindo do que pudéssemos, Pouco tempo depois correm connosco dali, precisamente no dia seguinte a termos ido em visita de cortesia até Jolmete para uma belíssima jantarada que nos ofertaram, só que e porque se resolveram atacar o aquartelamento, pouco comemos.

Safei-me, porque logo que os tiros começaram, guardei nos bolsos, umas perninhas, ou seja, no bolso esquerdo uma de borrego e na direita duas de galinha assadas em brasas de lume, pitéus que continuo a incluir ma minha dieta mediterrânica.

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NOUTRO DIA QUALQUER DE QUALQUER MÊS DE 1967

(O que me lembro é que havia regressado em Abril) e quando me encontrava desempenhando a minha função na Tesouraria da Fazenda Pública em Ponte de Sôr, recebi a visita dum individuo bem trajado que pretendia fazer-me umas perguntas, tendo-se antes identificado como agente da Polícia Política d'então.

Afinal apenas queria saber se tinha sido eu a colocar um qualquer petardo que havia rebentado ali perto da Assembleia Nacional e isto porque ao analisarem a minha ficha cadastral, haviam verificado que eu chegara da Guiné e tinha todas as condições para o ter feito, para além do mais e até, porque eu era especialista de Tancos, com um grau apreciável na preparação de Minas e Armadilhas.

Comprovadamente verificou que não era eu o procurado, e pronto o caso ficou encerrado, embora me preocupasse, porque nessa época, era-se preso por ter cão... e por não o ter.

É nesse entrementes que resolvi ir para a arbitragem de futebol, devido à necessidade imperiosa do "sentir" do perigo.

Cheguei lá... apitei uns jogos da regional... e... levei umas pedradas de quando em vez... e... com um bocado de madeira da bancada do Estádio da Fontedeira em Portalegre doutra vez... e... insultos do piorio... e até que um dia, perante a luta desigual, pois que não podia corresponder... decidi e comuniquei:
- Ou em vez do apito levo uma G3 comigo, ou não quero mais.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11978: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (4): O diacho da cicatriz

domingo, 25 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11978: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (4): O diacho da cicatriz

1. Em mensagem do dia 19 de Agosto de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Pós-Guiné:


O PÓS-GUINÉ 65/67

4 - O DIACHO DA CICATRIZ

E quando contei o acontecido ao meu "velho" ele apenas disse, lá do alto da sua sabedoria:
- Então não és tu, quem está sempre a ajudar os mais pobres do que nós? - E não é ao marido duma dessas, que dás as tuas roupas, mesmo já gastas?

Esclareço que o meu PAI era Homem trabalhador, Técnico Superior na área da construção civil e sem a sua mestria não se fariam ou consertavam casas.
Várias vezes o vi a preparar a massa de cimento, a que adicionava areia qb e água, que misturava com a enxada e a força dos seus braços. A pasta daí resultante, colava os tijolos um a um. Feita, pegava nela em baldes de lata, que transportava aos ombros e vertia junto aos pedreiros.

E estes sempre a pedir mais:
- Ó Manecas traz massa...
- Se queres pressas, vem fazê-la... porra.(não era bem esse o termo que utilizava, só que a minha "superior" cultura não me permite dizer a verdadeira palavra... começada por éfe).
Também caiava casas e ensinou a conduzir, pois que tinha sido condutor na tropa.

No dia em que regressei da minha Guiné, fez questão de fazer uma festa e convidar os que por mim lhe haviam perguntado e até o Senhor Padre Frederico esteve presente, vejam bem !!!
Comeram-se uns barbos apanhados à rede e à socapa, no rio Sôr, umas galinhas assadas na brasa de lenha de azinheira e até uns coelhos mansos, à caçadora, (com sabor a bravos que lhes era e é dado pela carqueja) nascidos e criados à moda antiga lá na capoeira do nosso quintal, onde e para além disso, também tínhamos umas rolas que tão boas eram, fritas em banha.

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Aqui na Enciclopédia que é e será o nosso Blogue, tenho aprendido (e só vou a meio)... muito e devido às publicações de quem por aqui vai dissertando.
Há quem opine, há quem descreva o que passou o que não é fácil... há quem discorde e quem concorde com a guerra, QUE NÃO FOMOS NÓS A INICIAR e também os que nunca desembainharam a espada e dizem o pior dos piores dos que lhe protegeram a vida.

Eu que e apesar de não ter sido voluntário, mas obrigado, (e como eu mais um milhão dos jovens que nunca admitimos a deserção embora o pudéssemos ter feito), apenas cumpri o Dever imposto e com muito gosto.
O que ansiava era regressar para junto das família que deixara aqui e tive sempre presente a frase um Senhor chamado De Gaulle, (pessoa que sendo tão alta, eu nunca convidaria para apanhar figos comigo) qu'até chefiou os destinos da França e que quando da partida das tropas francesas para a Argélia, disse:
- Na guerra, ou matas ou morres.

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E A GUINÉ... SEMPRE PRESENTE

Ao proceder a uns arrumos de caixotes de pau feitos, cheios de teias de aranhas (e até uma centopeia com mais ou menos 15 centímetros de lá saltou e que esmaguei impediosamente com o pé esquerdo pois que o direito mal mexe) encontrei duas fantásticas peças, sendo uma delas importante e de tal maneira me salvou de problemas, que julgo ter de lhe dedicar umas escassa palavras.

Então lá vai:

Quando pediram à minha CCAÇ 1422, para salvar a Pátria e nos colocaram no K3, foram-nos distribuídas armas novas em folha, desde a G3 especial distribuída aos graduados que era aquela, qu'até tinha bipé e fazia de metralhadora, e também virgens eram, os morteiros 60 de origem espanhola e que se revelaram falsos com'ó caraças.
Para quem não saiba, particularmente para os que nunca foram ao mato (mas que tão importantes foram, porque uma guerra sem uma boa retaguarda, não ata nem desata) e nem sequer usaram armas ou meteram uma bala na câmara (não deviam era orgulhar-se disso e há quem o faça) para esses sempre vos digo que o morteiro era:

Assim uma espécie de tubo, fechado num dos lados, e que fazia atirar para cima, uma granada (uma espécie de supositório, mas muito maior) depois de a pousarmos nas bordas desse mesmo tubo e a largarmos e no lado que estava aberto, naturalmente.
Ao chegar lá abaixo e já devidamente programada com uns adicionais para que fosse cair no chão e no local que pretendíamos, ou seja a 100 e por aí fora, metros, ao chegar lá abaixo, repito e ao bater num pinchavelho mais conhecido por percutor, ela (a granada) saía disparada que nem ginjas e lá ia na sua nobre missão de nos defender, qual remédio contra melgas, mosquitos e outros parasitas incomodativos assim "tipo" o IN.

Ao sair provocava um típico ruído, tal e qual como quando descalçamos um sapato apertado... daqueles que fazem calos no dedo mindinho. Era pressuposto fazer tiro a tiro e nunca tiro de rajada.
Devia estar assente em qualquer coisa rija mas não o prato base, qu'era pesado e não levávamos e por isso usávamos o capacete, embora nas bolanhas de pouco servisse, pois que mesmo assim acabava por se enterrar naquela porcaria lamacenta.

Pois e de acordo como lá em cima referi "falsos com'ó caraças", quis eu dizer que o percutor, que nos modelos que usara em treinos na Metrópole era b'óptimo, este, partia à terceira granada disparada, quando não logo à primeira, o que obstaculizava a eficiência da defesa, dado que tínhamos de mudar o dito cujo, usando para isso a tal peça com 10 centímetros de comprimento, que servia para desatarraxar o fundo e colocar um novo e que encontrei, guardei e a quem devo se calhar o facto de estar ainda por aqui.

Vai acompanhar-me d'ora em diante, aqui na minha pasta qu'uso a tiracolo.


FALEI-VOS DA MINHA AMADA CHAVE DE FENDAS.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11951: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (3): O bi-fascita da cicatriz

domingo, 18 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11951: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (3): O bi-fascista da cicatriz

1. Em mensagem do dia 12 de Agosto de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos o terceiro episódio do seu Pós-Guiné: 


O PÓS-GUINÉ 65/67

3 - O BI-FASCITA DA CICATRIZ 

FOI UMA VEZ, num dia de Setembro de 1965.

A CCAÇ 1422, é "convidada" a ir até Mansabá, para ir "aprender" com uma das últimas Companhia dos "ÁGUIAS NEGRAS" que usavam, então e ainda, a farda amarela.
Partiriam para a Metrópole dentro de pouco tempo, mas a heroicidade permanecia latente e não se escusavam a manter-se operacionais aguerridos.

Vista aérea de Mansabá

A minha Secção de Morteiros 60 é destacada para acompanhar um dos seus pelotões, numa operação marcada para essa noite e claro que desejosos de entrar em acção, contentíssimos ficámos por finalmente irmos saber como era aquela coisa da guerra e ganhá-la pois então... e até comprámos dois sacos de adrenalina, na loja dum Libanês.

Chovia tão torrencialmente como eu nunca houvera visto, a selva, pareceu-me e era, escura. a progressão demorada, cheia de silêncios e sem fumar, (o que muito me custou) mas lá chegámos ao objectivo, que rodeámos sem termos sido detectados.
Foi-me determinado que incendiasse as moranças frente do local onde estávamos emboscados, logo após a ordem que receberia depois da fogaracha que iria acontecer e aconteceu e também que disparasse ao ver algum elemento armado o que também fiz. Entretido, dei a determinada altura, que estava só, com os meus oito homens, porque os outros que viera coadjuvar, já por ali não estavam.

Sem guia, sem saber por onde ir, mas temente a granadas que começavam a cair, enviadas pelo IN, decidi organizar a defesa possível, enquanto esperava que alguém desse pela nossa falta e nos resgatasse. Meia hora depois tal aconteceu, vieram o Senhor Alferes, Cmdt do grupo, um guia e o "Manel" de Mora, com quem convivo uma vez por ano e também a recriminação suavizada por ser a minha 1ª vez:
- É pá, f...-se, podias ter sido comido vivo, aquilo era para destruir e abandonar em passo de corrida.


FOI OUTRA VEZ EM SETEMBRO, MAS DE 1974

Depois, veio o não reconhecimento pelo facto de ter cumprido o serviço militar obrigatório e ter cumprido o meu Dever: Um grupo de pobres gentes, manifestavam-se (falo da época das ocupações, lembram-se?) numa estrada em frente a um Hospital e a quem buzinei para passar no meu bólide de 40 contos novo em folha, mas essas gentes resolveram atirar-me pedrinhas o que me desagradou sobretudo.

Claro que saí, e perguntei do porquê, pois que eu nem pertencia à administração, nem enfermeiro era. A resposta veio pela voz de duas mulheres presentes ali na turba, por sinal até ainda ligadas à família, e fascista me chamaram e mais disseram porquê:
- Foste combatente na Guiné, colaboraste com os fascistas, és fascista.

Outra proferiu o seguinte:
- Tens um carro, és fascista.

Pois bem, segundo a maldade que imperava então, só os desertores eram considerados e recebidos com pompa. Foi o tempo da gritaria do "acabemos com os ricos" ao contrário do que hoje acontece em que estão, sem gritar, a acabar com os pobres.

No fundo nada mudou, nem o tratamento que continua a ser dado aos Combatentes, que lá longe no "paraíso" onde estivemos, muito do pior presenciámos. E se então fui vilipendiado, e agora continuo esquecido, é lá com esses, que também morrem.

Por mim, não esquecerei e se por acaso nos encontrarmos no purgatório, garanto-lhes uma recepção digna.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11931: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (2): A minha cicatriz, resultante do corte do cordão umbilical

domingo, 11 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11931: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (2): A minha cicatriz, resultante do corte do cordão umbilical

1. Em mensagem do dia 31 de Julho de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos o segundo episódio do seu Pós-Guiné: 


O PÓS-GUINÉ 65/67

2 - A MINHA CICATRIZ, RESULTANTE DO CORTE DO CORDÃO UMBILICAL 

Pois é... já lavei a cicatriz... guardei o cotão, (tem muito para contar e dará muito pano para mangas) mas vou continuar a falar de mim, da Guiné e até ao dia que me cortem o pio.
Continuarei a descrever uma vivida realidade... não falarei sobre as cicatrizes d'outros.
Manter-me-hei atento e venerador ao que escrevem... continuarei a ser o mais honesto possível... não criticarei abertamente seja quem for, mesmo que mais sábios e eruditos, do qu'a mim...

Aqui no blogue, pretende-se deixar algo para memória futura, eu tive a sorte de que publicassem aquelas minhas croniquetas d"OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA", onde e de forma graciosa (pretensiosismo meu) contei o que vivi, sem sangue... sem botas com apenas pés lá dentro... sem corpos dos nossos cortados ao meio pelas balas ou minas inimigas.

Por aí não enveredarei, embora saiba fazê-lo pois que à 4ª classe tirada nas Aulas Regimentais, ajuntei depois mais alguma cultura, com quem era mesmo culto e falo do SENHOR Ferreira de Castro, escritor... dum Senhor Presidente do Brasil, exilado em Portugal e outros que direi um dia, e com quem tive o grato prazer de partilhar apertos de mão e conviver, enquanto "caixa" que fui no Banco onde desempenhei a função, com as mesmas, disciplina e hombridade, aprendidas no Exército.

Em boa verdade, a Guiné esteve sempre presente e continua, como ainda hoje 30/7/2013 ao ir no hospital para uma pequena cirurgia ao sobrolho, após ter caído na rua, sem que alguém me tocasse e apenas porque uma elevação de dois centímetros se opôs à minha passagem. O médico guineense com quem conversei e que vai abrir consultório em Bissau, apesar de tudo e sabendo que eu sou do Sporting, afinfou-me três pontos que permitirão ao meu clube, partir com esse avanço.

Anteriormente, e aquando dum grave problema de comichão na barriga, e deveras parecida com as borbulhagens da mata, e ainda, após dois meses de tratamentos com os melhores e mais dispendiosos, como se chamam?... como se chamam?... ah, já sei... dermatologistas pois então (estive alguns minutos a pensar... e quase a desistir).

Pois como ia a dizer, pedi que me dessem a mesinha da Guiné, que era apenas e só, o 1214 (qu'até dava para se beber na falta do Vat 69), mas foi escusado que ninguém conhecia tal tratamento. Em boa verdade a coisa resultava se besuntada ao mesmo tempo que se tomava, pelos gorgomilos abaixo, uma generosa dose de gin Gordon's misturado com água tónica e cinco pedras de gelo... tudo servido em copo de cristal, feito a partir de qualquer garrafa, que levava óleo quente até ao tamanho pretendido e depois colocada em água fria, partia por aí.

Lá, a segunda parte do tratamento antibiotecário, fiz mas não tendo resultado, falei com um veterinário, que o não era então, aquando fur. mil. no QG do CTIG, expus-lhe a situação, deu-me uma pomada que usava no tratamento de equimoses nos cães e cadelas obviamente, e passou, eia... sus.

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E em 1970 ou 71, fiz amizade, que se manteve por muitos e bons anos, com um Senhor Capitão, acabado de chegar do comando duma CART, operacional. Como não poderia deixar de ser, lá vieram as memórias e alguns relatos, embora a sua relutância pelo narrar coisas que lhe eram dolorosas, mesmo sendo Homem experimentado e esta tinha sido a sua 3.ª comissão.

Criámos um dia semanal para almoçarmos (nesta época os Bancos fechavam para almoço, das 12 às 14 h) e algumas vezes com outros seus camaradas, Oficiais do Quadro e com quem eu aprofundava o mais saber.

Em 1974, quando se deu a revolução, que tantos ódios (esperava-se o contrário e eu próprio, feito tonto, esperei mais amor, mas este foi-se e nunca mais voltou), que tantos ódios, repito, trouxe a este já pobre País, recebia-me ali no QG ali em S. Sebastião da Pedreira. Na porta d'armas identificava-me telefonavam... mandavam-me entrar até que, duas ou três vezes depois:
- Ah... é o "Capitão" Veríssimo... pode entrar... vem para o cafezinho com o Nosso Major.

Bom só vos digo que perante esta tão rápida promoção, até andava ao passo cansativo do bater no solo com os dois pés ao mesmo tempo e se mais tivesse mais bateria. Até a barriga ia mais pra dentro, qu'a cerveja estava dando resultados.

Depois? Pois depois, tornei-me rezingão e não tendo inimigos para combater, criei-os eu mesmo. Só eu tinha razão... só eu sabia e aqui terei necessitado de ajuda.
Foi um curto período mas após um curso de Análise Transacional proporcionado pelo meu patrão, lá dei a volta e consegui abandalhar-me mas com classe, acompanhando o País e o que aqui se passava.

(continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 4 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11904: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (1): A minha cicatriz, resultante do corte do cordão umbilical, está cheio de cotão

domingo, 4 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11904: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (1): A minha cicatriz, resultante do corte do cordão umbilical, está cheio de cotão

1. Em mensagem do dia 31 de Julho de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos o primeiro episódio do seu Pós-Guiné, que esperamos nos traga ironia e humor, mesmo tratando um assunto muito sério como se adivinha. 


O PÓS-GUINÉ 65/67

1 - A MINHA CICATRIZ, RESULTANTE DO CORTE DO CORDÃO UMBILICAL, ESTÁ CHEIA DE COTÃO

E ao pisar o cais de desembarque, plagiei e gritei: 
- Mulheres... cheguei. Regressei à minha terra e para o anterior emprego de funcionário público. 

E na viagem nocturna em comboio correio, (que demorava seis horas para chegar ao destino), devidamente acompanhado pela minha mulher, que me fora esperar, aconteceu mais uma cena de solidariedade linda que conto, porque digna de se saber.

Então lá vai:

O revisor, que me afirmara ter um filho na Guiné, quando ao picar dos bilhetes da 3ª classe (bancos em madeira) apercebeu-se que eu havia chegado da guerra e convidou-me para mudar para a carruagem da 1ª, qu'até cama tinha e comprometeu-se a acordar-nos quando estivéssemos próximo da Ponte de Sôr (como se eu fosse dormir numa cama daquelas e embalado que seria pelo solavanquear... também resultado, das rodas quadradas do TGV d'então.

Surpreso fiquei pela amabilidade, fui... ai nanas !!! Quem não iria?

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E assim se passou um ano, naquele ramerrame, com as sem jeito, mas costumadas conversas de café.
No fundo, começava a sentir a saudade dos "meus" da 1422.
E que falta me fazia, aquela adrenalina anterior... a alegria do "acordar" e de continuar vivo...
E que falta me estava a fazer aquela camaradagem que houvera tido e que sabemos quão boa e saudável.

Numa tentativa de alterar qualquer coisa que ainda nem sabia bem o quê, consegui emprego na capital do Império, onde amenizei saudades conversando com a rapaziada amiga e com quem convivera a maior parte dos meus melhores 40 meses da minha vida.

Aqui, Restauradores em Lisboa, acabei por me envolver de novo com tudo o que se ia passando, por lá longe. Primeiro, pelos contactos que começaram a acontecer com os ex-soldados Domingues, Soares e Lavado, com o ex-1º Cabo Fernando Nascimento da minha Secção de Morteiros 60, com o ex-fur. mil. Raul Durão (almoçámos todos várias vezes), com os ex-alf. mil's Macedo e Simões, mensalmente, com o Gualter, com o Formigo (estes dois também ex-furriéis) e mais ainda com alguns camaradas doutras companhias chegantes e com quem ia acabando por me actualizar.

E foi assim que soube do desaparecimento físico, na estrada do Pelundo para Jol*, dos nossos homens (sete ao todo), que desarmados, foram cruel e barbaramente assassinados a sangue frio...
E foi assim que tomei conhecimento da operação a Conakry, que tanto me enche, ainda hoje, de orgulho.

E foi assim, que soube da morte do Amílcar Cabral, cuja causa ainda hoje não esclarecida, embora a versão à época, seja bem diferente das que, de quando em vez por aí circulam.

Elucidado fui mais tarde, do porquê de nos chamarem "Brancos" e refiro-me particularmente aos felupes e futa-fulas com quem convivi no K3, pois que e quanto aos outros chamavam russos, americanos, suecos, e por aí fora. Compreendia finalmente, que aquela generosidade, apenas queria dizer que nos consideravam a raça superior.

************ 

Nem tudo era fácil e lembro-me até daquele dia a que fui assistir à estreia do filme Apocalipse Now, ali no cinema Monumental, e embora posteriormente já o tenha visto... revisto e revisto, na altura saí da sala, enervado, tremente e passados que foram os primeiros dez minutos projectados.

Apanhado pelo clima? Quem disse?

Mas a alegria também aconteceu, como naquela vez que recebi uma carta do Batalhão de Caçadores 1 e pensei cheio de fé que me estariam a convidar de novo a integrar as fileiras (era normal então voltar ao combate, até que fizéssemos 45 anos de idade), mas não... apenas me informavam que havia sido promovido a 2º Sargento.

Como atrás refiro, ia entendendo que tudo estava a mudar para pior para as NT, que agora combatiam ainda e se possível mais aguerridamente, um IN porém mais municiado, com a ajuda de países que ainda agora alguns põem nos píncaros, esquecendo que foram estes os causadores de muitas vidas desfeitas.

Posteriormente, não me foi fácil também, aceitar o acolhimento em Portugal, dalguns exilados chefes inimigos, principescamente recebidos e alguns até desdenhando publicamente das nossas tropas, quando em solo nacional estavam a beneficiar de benesses que deveriam antes, ser concedidas àquelas etnias guineenses que combateram do nosso lado.

Como Portugueses que foram, eram e continuariam provavelmente a gostar de ser, deveriam ter sido melhor tratados.

(Continua)
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OBS:
(*) Jol - o mesmo que Jolmete
Negritos e itálicos da responsabilidade do editor
Emblema da CCAÇ 1422 da coleçção do nosso camarada Carlos Coutinho
O editor
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Nota do editor

Vd. série anterior de Veríssimo Ferreira: "Os melhores 40 meses da minha vida

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11781: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (40): 41.º episódio: Memórias avulsas (22): Alô Guiné... estou a chegar

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 24 de Junho de 2013, enviou-nos mais umas peripécias d"Os melhores 40 meses da sua vida", dando-nos conta do seu contentamento por finalmente ter chegado à Guiné.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

22 - ALÔ GUINÉ... ESTOU A CHEGAR

E pronto... embarquei e cheguei todo lampeiro a Bissau, naquela manhã de Agosto de 1965.

Afinal não havia grande diferença da África que eu já conhecia através dos filmes do Tarzan e lá estavam os macacos dependurados nas árvores e os autóctones a descarregar farinha dos barcos, o que lhes dava a cor mais branca que branca. Pareciam gentes boas, nanja como aqueles que depois nos tentavam atingir nas matas do Oio, selvagens que não se mostravam... que utilizavam a crueldade das minas.

Diziam os seus mentores, que não combatiam o Povo Português, mas então se cada Companhia tinha cerca de 150 homens, todos (exceptuando os 4 ou 5 profissionais militares, mas Povo também) arrancados às suas terras e forçados a ir e a maioria nem sabia do porquê nem para quê, todos Portugueses que se tornaram heróis, então combatiam quem?
Porque utilizaram o assassinato cobarde com o uso das minas?

Se num verso inspirado, houve um poeta que disse: "num monte de pedra pode nascer uma flor", porque substituíram a flor por tais artefactos de morte, encafuados num buraco tapado com terra?

É que dói... e hoje 12 de Junho de 2013, completam-se 47 anos, que homenageio só, mas com um grande abraço, o Capitão Dinis Alberto Corte Real, Comandante que foi da minha CCAÇ 1422, vil e traiçoeiramente liquidado por uma, comandada à distância, ali perto de Farim na estrada que liga ao K3.
E já antes, a 17 de Maio de 1966, se fora o meu amigo Fur Mil Higino Arrozeiro, levado pelo mesmo método de horror, ali perto dos "carreiros".
.................................

Dizia eu atrás... cheguei a Bissau.
Ali passei uns dias e logo a seguir andei a apagar fogos, por aqui e por ali, apenas com a minha Secção de morteiros 60.
Assim conheci Manhau, onde aprendi a dor da perca, em 22 de Setembro de 1965, doutro amigo, o Jaime Feijão, Fur Mil da CCAÇ 1421, ele também vitimado por uma "bailarina" e recordo o seus gritos "arame" (o estrondo) e "médico" e mais não disse.

Conheci Mansabá e saber o que custa ser emboscado perto da Serração;
depois Bissorã e a flagelação junto ao rio;
Jolmete onde pela primeira vez reagi ao ataque ao quartel;
Pelundo e o sossego durante um mês, com morança na tabanca, a guardar um cofre do Homem Grande.

Localização da Serração na estrada Mansabá/Mansoa, e de Manhau na antiga picada que ligava Mansabá a Bafatá
Vd. carta de Farim

Interior do quartel de Bissorã em 1969
Foto: © Carlos Fortunato (2005)

Vista aérea de Jolmete
Foto: © Albino Silva (2007)

Entrada do aquartelamento do Pelundo
Foto: © António Teixeira (2011)

Só após o Natal de 1965, que passei na Amura, fui de novo integrado na Companhia que iria ser colocada em Mansabá, ao que se dizia e até fiz parte da Secção de Quartéis.
Deram-nos a volta, tal não aconteceu e acabámos sim, por trocar com a 1421, na época a construir de raiz o K3.

O depósito, onde se pode ler, ao comprimento, “Água Quente” e no topo, “Cerveja a Copo”. Era só escolher!
Foto: © Gil André, ex-Alf Mil. Bat Caç 2879 / C Caç 2548, retirada com a devida vénia da página Rumo a Fulacunda

O local era aprazível, as instalações de primeira, quartos em terra vermelha, algumas bem acomodadas suites.
A cozinha requintada e bem fornecida, comida excelente e igual para todos, talheres em prata de lei... copos de cristal e tudo servido por profissionais de libré e acima de tudo o bar 5 estrelas.

Se estou a mentir... que me saia o euromilhões.

Não tínhamos vizinhos e como tal fui "povo que lava no rio" pois que nem lavadeiras existiam mas por escasso tempo porque um pouco mais tarde e gradualmente vieram a juntar-se, na Companhia, alguns militares "guias" casados e residentes em Farim que nos disponibilizaram tais úteis serviços.

Certo dia (Julho de 1966) e por motivos alheios à minha vontade, tive que me oferecer para a 3ª CCOM e para a qual pediam voluntários com alguma já comprovada experiência no uso das artes da guerra. Acabei contudo, por ir prestar serviço na Secção de Funerais e Registo de Sepulturas/QG.

Saíra do Inferno, entrei noutro sem querer, embora em termos de perigosidade nada tivesse a ver com o que me fora ofertado até então, mas muito mais difícil de gerir psicologicamente. Sei que tenho aqui um vazio de dois meses, que não descobri ainda como foi, mas que se deve talvez, ao uso de alguns adormecedores alcoólicos, utilizados contra-gosto mas numa tentativa, que não resultou, de atenuar o calvário das visitas que de quando em vez tive de fazer à morgue do Hospital Militar e elaborar todo um processo doloroso próprio duma realidade que magoava mesmo.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11752: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (39): 40.º episódio: Memórias avulsas (21): De lá para cá e vice-versa

domingo, 12 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11557: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (35): 36.º episódio: Memórias avulsas (17): A invenção do "X"

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 7 de Maio de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

17 - A INVENÇÃO DO "XIS"

Aquando do CSM em Mafra e foram cinco meses iniciados a 24 de Janeiro de 1964, uma das instruções que nos prodigalizaram, foi precisamente o treinar visando um "xis" que desenhávamos em qualquer vetusta árvore ali do parque onde ensaiávamos guerras.

Depois e com os pés bem paralelos e melhor assentes no chão, à distância um do outro de mais ou menos 20 centímetros, e com o objectivo a 4 ou 5 metros, íamos atirando pedrinhas num movimento brusco.

Diziam-nos e eu acreditei, que esta era a forma de aprender a disparar sem apontar com a G3, quer fosse no tiro a tiro, quer de rajada, mas tudo instintivo.

Em princípio pensei que se tratasse duma forma de nos concederem alguns bons momentos de descanso e ainda por cima naquele local paradisíaco.

Verifiquei depois e com a arma já na mão, que na realidade a coisa até funcionava mesmo, ao contrário do que hoje me acontece que e embora esteja farto de colocar "xises" nos jogos da Santa Casa, não acertei ainda nada e relembrando o descrito atrás, vou começar já esta semana a praticar de novo com a finalidade de que possa vir a ficar mais rico ainda, se tal for possível.

Põe-se-me-le contudo a questão de não saber em que árvore. Lá no monte dos meus sogros em Foros do Mocho-Montargil, junto à barragem onde pesco achigãs enormes, tenho oliveiras, figueiras, laranjeiras, pessegueiros, pinheiros bravos e mansos e até um sobreiro vejam bem... mas diz-se que dormir à sombra da figueira não é saudável e debaixo das oliveiras também não me apetece pois qu'agora estão cheias de candeio e deitam um pó verde bem desagradável.

Debaixo do pinheiro manso, também não me atrevo, porque as pinhas no ano passado não foram colhidas e de quando em vez caiem.

Ora com a sorte que tenho e considerando o peso das ditas, decerto saio de lá com a cabeça meio, ou mais, desfeita. Com os pinheiros bravos não me meto, estão cheios de nemátodo, uma espécie de lagartita originada por uma mosca, depois escaravelho, grande com'o caraças e mais parecendo um aspro, lagarta ainda maior, que tal como algumas sogras, tem de morder sete vezes por dia, senão falece.

É por isso que vou de ter de pensar melhor.

Também treinávamos enquanto instruendos, o atirar da faca de mato contra quaisquer outras árvores, se possível de tronco preto.

A intenção era a de possível eliminação de sentinelas, é verdade.

Hoje mesmo e às vezes a brincar com a que estripo e escamo os achigãs MUITA GRANDES qu'atrás mencionei e quando ainda estão vivos, às vezes atiro o facalhão contra qualquer salgueiro ali à borda e acerto mesmo.

Por acaso na última vez, vi-me aflito para o retirar, que se entranhou desmesuradamente.

De qualquer forma ali passávamos por aqueles momentos em sossego depois do matinal crosse, que é assim uma espécie de ir passear em formatura, de fato de trabalho e a correr, com cantil cheio, capacete e Mauser e com a barriguinha pesada do pequeno almoço tomado em púcaro d'aço e composto de qualquer mistela a que chamavam café com leite condensado desfeito na amarelada água do convento, amarelo decerto oriundo da ferrugem amontoada nos velhinhos canos.


Em tais crosses do que mais gostava era quando os excelentíssimos instrutores diziam uma frase assim estilo: -A tua prima é boa?

Nós correndo e ao bater do pé direito teríamos de responder:
- É.

- Angola é nossa? - e a gente tadinhos:
- É.

Em Abrantes e Tomar onde tive a honra de ajudar a preparar recrutas, inventei novas perguntas que e sendo essa a intenção, divertiam e ajudavam a suportar o sacrifício. Frases bem simples, maliciosas "qb", mas que não posso dizer pois qu'a minha superior educação não me permite recordar tamanhas indecências.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11534: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (34): 35.º episódio: Memórias avulsas (16): Os dois amigos ao chegar à Guiné

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11534: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (34): 35.º episódio: Memórias avulsas (16): Os dois amigos ao chegar à Guiné

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 22 de Abril de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

16 - OS DOIS AMIGOS AO CHEGAR À GUINÉ

O PRIMEIRO
Um ser-humano fora de série. Após um enjoo contínuo desde Lisboa, ali estava Bissau.
Levantei-me do leito, onde sempre viera, excepto às horas dos comes que se bebiam e fui para a amurada e pelo que vi, pareceu-me bonito... com cheiros diferentes... o povo visível parecia simpático... a temperatura ao meu gosto e aquela chuva quente, até me refrescou as ideias.

Tudo preparado para sair, qu'a terra firme estava já ali a cem metros, eis senão quando me avisam:
- É pá andam lá em baixo à tua procura.

Fui ver e era bem verdade. Num "zebro" gritavam pelo meu nome. Tratava-se dum individuo com ar desleixado e barbudo, mal vestido à marinheiro, a quem acenei e que me ficou a aguardar junto ao portaló.

Era "APENAS" o fuzileiro especial Sebastião, das Barreiras, lá na minha terra. Sabendo da minha chegada, fez questão de me ir abraçar, convidou-me para o almoço que já mandara preparar e lá fomos depois do acantonamento da minha CCAÇ 1422, ali mesmo no Forte da Amura.

Mais tarde, voluntariou-se para operações onde soubesse que eventualmente eu também poderia estar o que por duas vezes aconteceu. Voltávamos assim a trocar amplexos verdadeiros como próprio de quem se estima. Era um rapazão formidável, valente militar já com a maior distinção possível, na guerra de Angola e ali recebeu a segunda igual condecoração.


O SEGUNDO
- Passeou comigo em Bissau, Mansoa, Cutia, Mansabá, Bissorã, Pelundo, Teixeira Pinto, Cuntima, Canjabari, Quinhamel e Farim.
- Combateu em Buro, Berecobé, Biribão, Jolmete e K3.
- A emboscadas, respondeu comigo nas matas, nas bolanhas, nas estradas... e outras preparou ao meu lado esquerdo.
- Fomos à praia de Varela e estivemos no Senegal.
- Partilhou as minhas lavadeiras, foi "voyeur, comeu comigo à mesa, colhemos cibes cajus e mangas, caçámos crocodilos, atirámos granadas de mão de pé e deitados, disparámos morteiros e bazoocas, nadámos em rios e bolanhas e atacámos o IN.
- Assentámos tijolos e sem fio de prumo ajudante, aquando da construção da cozinha e messe colectiva.
- Compartilhou emoções boas, outras nem tanto, conheceu GENTES com letra grande e gentes apenas.
- Riu... mas também chorou.
- Embora shockprotected, tem ainda o frontispício arranhado, devido a ter batido numa mina que eu próprio desarmadilhara ali nos "carreiros" a 3 Km's do aquartelamento e por isso recebeu metade dos 300 pesos que era o preço que pagavam por tal trabalhinho. (E que pena tínhamos de não as poder levantar todas, pois que algumas, as tais de que desconfiávamos serem fornilhos, haviam de ser destruídas com trotil)
- Prantámos muitas "bailarinas" ao redor do hotel onde vivíamos, até ao dia em que entendemos não o voltar a fazer, porque de noite muita macacada as destruíam.
- Conheceu-me como ninguém e bastava fixá-lo para que me mostrasse a quantos estávamos, que horas eram e qual o dia da semana.
- Acompanha-me há 48 anos e vai também às reuniões anuais da rapaziada que esteve na Guiné e de lá... e lá no meu concelho.
- É mudo de nascença, mas falo com ele sobre tudo o que vivemos e bastas vezes lhe pergunto: - "Alembras-te pá?

Vi-o na montra da Loja Pintosinho e foi amor à primeira vista. Desembolsei por ele, os últimos duzentos escuditos, do que trouxera da Metrópole.
Falei-vos do meu automatic Cauny Prima Swiss, 25 rubis, waterproof.

(continua)

OBS:- Na falta de outra ilustração, optou o editor pelo seu relógio Cauny Submarine, 17 rubis, Antichoc, Swiss, que lhe fez companhia no Funchal e na Guiné, regressando os dois ao Continente, em 1972, sãos e salvos. Ainda hoje sobrevivem.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11494: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (33): 34.º episódio: Memórias avulsas (15): O Brutubol

domingo, 28 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11494: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (33): 34.º episódio: Memórias avulsas (15): O Brutubol

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 22 de Abril de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

15 - O BRUTOBOL

Julho de 1966

Estava a realizar-se o campeonato mundial de futebol, lá p'las England's, o que deu ensejo a que o IN nos tentasse provocar.

E foi assim, que espetado num tronco dum frondoso embondeiro e já bem perto de Mansabá, mais própriamente junto a uma antiga serração de madeirame, eu tivesse colhido, numa visita que pretendia fazer aos amigos que deixara no K3 (sem a tal ser obrigado mas por parvoíce e voluntariado assaz parvo) eu tivesse colhido repito, um folheto-convite, que ao que soube nem era já o primeiro, para um joguinho onde até já tinham, árbitro e equipa. Tenho essa missiva escrita à mão, em meu poder, não sei onde mas aparecerá e lá vinha os nomes dos seus jogadores.

E então era assim:
- Guarda-redes: PPSH;
- Defesas, esqº,central e dtº: Canhões sem recuo 120mm;
- Centrais: Metralhadora pesada Degtyrev e metralhadora ligeira Bren;
- Avançados, extremos esquerdo e direito, Interiores Idem e avançado centro: Kalashnikov's.

Supus que estes últimos, seriam irmãos ou cousa parecida.

Sabem... é que eu era ainda um ingénuo, embora rico pois se até quando em Lisboa, houvera comprado a estátua do Marquês a um gajo que ma vendeu por vinte mil réis, embora estivesse a pedir trinta e já não falo das duas garrafas de Whyski que depois d'abertas eram chá de S. Roberto, cousa boa que tudo curava e era bem raro.

Já que falo nessa minha estadia no Grupo de Companhias Trem Auto, na Av. da Berna, deixem-se que vos diga que um dia fui mesmo enganado.
Senão imaginem: apanhei o eléctrico para a Praça do Comércio e sabem onde fui parar? Pois vejam bem: ao Terreiro do Paço.

Ah provinciano, provinciano que ainda és... qu'eras mesmo estúpido... eras disse eu e muito bem, pois que agora julgo ser apenas um velho tonto, "pobre... triste... abandonado". (Vasco Santana dixi)

Ainda sobre a equipa deles: verificava-se já, e tal como nos actuais benficas, portos, sportings e quejandos, que só jogavam com estrangeiros.
Propunham-se ainda, minar todo o redor do campo e marcavam a disputa para as dezanove horas.
Por isso é que desconfiámos e não comparecemos, pois que se devia tratar duma tramóia e... desconfiámos porque a essa hora seria já noite e o estádio junto ao campo de aviação não tinha iluminação.

Eles sim, estiveram lá, que bem os ouvimos, fartaram-se de rematar flagelando o aquartelamento e só abandonaram o campo quando o nosso obus, e assim estilo Mokuna (mais conhecido por fura-redes e que jogou ali na Faculdade do Futebol em Alvalade) atacou em força ripostando com sucesso contra as investidas adversárias.

Localização da "Serração" (Carta de Farim) no troço da estrada Mansoa/Mansabá, entre Mamboncó e Mansabá

Acabado o recreio, na matina seguinte, acabei por não ir ao destino a que me propusera.
Requisitado fui para que urgentemente regressasse a Bissau o que fiz no DO do correio.
Já houvera dito que estava instalado em luxuosa suite, no QG em Santa Luzia.

Apesar disso e talvez em Setº de 1966, resolvi arrendar conjuntamente com dois amigos músicos do conjunto das Forças Armadas, um apartamento bem bom e que maior liberdade desse às minhas acostumadas visitas das 2ªs, 3ªs, 4ªs, 5ªs, 6ªs e Sábados, sem terem que passar pela humilhação de deixar a identificação na porta d'armas lá de cima.

Situava-se junto ao cais do Pigiguitti e a cem metros dum local onde preparavam umas ostras de se lhes tirar o chapéu, bem como também assavam uns camarõezinhos acompanhados com molho de jindungo e limão.

Ali acolhi alguns camaradas da minha CCAÇ 1422, quando em férias ou em tratamentos hospitalares e dentro do espírito "onde cabe um Português... cabem dois ou três". Para além de que, estes eram da minha família militar.
E era uma festa ver esta rapaziada liberta da G3, com uma cama para dormir... boa comida... melhor buída... descanso... sossego... paz... e uma repartida amizade, sempre presente.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11436: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (32): 33.º episódio: Memórias avulsas (14): O desertor

domingo, 21 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11436: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (32): 33.º episódio: Memórias avulsas (14): O desertor

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 9 de Abril de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS

14 - O DESERTOR

Das duas, uma... ou eu estava a ver mal... ou aquele com as mãos no ar e a "costureirinha" bem à vista, queria entregar-se à CCAÇ 1422.

Aproximava-se vindo do lado do que fora a estrada que ligava ao Olossato, agora desactivada e foi por adrego, que o topei, ao empinar para os gorgomilos, aquele saboroso digestivo oriundo da Scotland acompanhado que estava a ser com umas mancarras acabadas de torrar na chapa, quais pipocas fossem.

Tal com'a mim, outros deram pelo que estava a acontecer e em simultâneo, dirigimo-nos para a porta d'armas, onde por acaso até m'arranhei ao desviar o "cavalo de frisa".

Requerida a urgente presença do enfermeiro chefe, logo este me besuntou e na falta d'álcool, com uma mézinha "distiled, blended e bottled" em Sacavém, que ao que se dizia era feita com água destilada e 1214 (uma espécie de tintura de iodo que tudo fazia sarar, excepto as nódoas da alma) e qu'até se bebia na falta do conhecido Vat 69.

Tínhamos a tiracolo, como sempre colada ao corpo, a prima G3, em posição não ofensiva, mas o que poderia acontecer rápidamente.

Em silêncio desconfiado arguardávamos, mas no entrementes afastei dali alguns camaradas, pois que o "tudo ao molho" poderia tornar-se perigoso e porque até nem sabíamos se não seria essa a intenção inimiga.

A cena parecia-me impossível de acontecer. Normal não era, vir um qualquer irmão Dalton incomodar-nos a horas tais, mas de qualquer forma íamos já antecipando os problemas que costumavam resultar quando se tinham de organizar colunas para levar prisioneiros a Bissau.

O inédito prendia-se com o facto de estarmos a ver em directo, um IN armado e VIVO, considerando que nem na mata se deixavam bispar, aquando nos recepcionavam e só os víramos quando a iniciativa fora nossa.
Por isso houve sempre dificuldade em fazer estatísticas de quantos eram os feridos ou os eliminados.

Mais tarde soube como actuavam para não deixarem rastos e era assim: Constituíam três grupos... um, com as armas com que disparavam mal (em 1965/1966, que depois aperfeiçoaram-se com a ajuda dos cubanos); o 2º grupo tomaria o lugar dos do 1º se atingidos; o 3º, arrastaria os feridos e os que já não diziam nem ai nem ui e também as armas destes.

Daí que a contabilidade saísse quase sempre por excesso e só através da observação dos restos do líquido espesso que circula nas veias e artérias e que por ali ficara ensopando a terra já de si vermelha, só por aí repito, é que os números batiam mais ou menos certos.

Voltando ao desertor: Ia-se apróchegando. Eis senão quando se ouve um tiro lá longe... acordou os nossos sentinelas, tendo um deles, espavorido, gritado:" lá vêm eles"...o furriel de dia, esse por nada deu e continuou a sesta debaixo do embondeiro... e nós vimos o visitante parar... tremer... fugir e recuando para o caminho donde viera, desapareceu. Contaram-nos que foi agredido pelos seus, mostrado como exemplo a não seguir e punido como traidor.

Guiné > Regiãop do Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Um prisioneiro do PAIGC.
Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.

(continua)
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Nota do editor:

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11356: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (31): 32.º episódio: Memórias avulsas (13): Como uma canção bem cantada pode ser uma dissuadora arma de guerra

domingo, 14 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11388: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (5): Respostas de Gumerzindo Silva (Alemanha), Veríssimo Ferreira, Gilda Brandão


Gilda Pinho Brandão, nascida em Catió, de mãe fula e pai português,  quando veio para Portugal, aos 7 anos, em 1969,  para uma família de acolhimento, trazida por um camarada nosso, o Fur Mil Pina, a quem ela chama mano. Em 2007 pediu ajuda ao nosso blogue, para encontrar a família do pai, que é de Arouca. Afonso Pinho Brandão, comerciante, foi assassinado em 1962, em Catió.

Fotos: © Gilda Brandão (2007). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: LG]


1. Mais três respostas ao nosso questionário (*). Duas são de dois valentes grã-tabanqueiros, o Gumerzindo Silva, que viva na diáspora, na Alemanha, e outra do nosso "pira" Veríssimo Ferreira.

 A terceira resposta  também muito nos alegra, é da nossa amiga, guineense, natural de Catió, a Gilda Brandão, filha de um português, morto no início da guerra [. Segundo a explicação dada pelo Pepito à Guilda, o pai foi morto por um grupo de balantas quando defendia a sua casa; a mãe é fula]. Ajudámo-la a encontrar a família do pai, Afonso Pinho Brandão, que ela não conheceu em vida. Aos sete anos, em 1969, foi acolhida por uma família português. Brás é o seu apelido de casamento. (Bom, é uma das muitas histórias bonitas que publicámos no blogue, "uma história triste com um final feliz").


2. 10. Gumerzindo Silva [, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331, Cuntima, 1970/72, hoje a viver na Alemanha]


Meu Caro Luis Graça. Um abraço e obrigado pelo trabalho que tu, o Carlos e o  Magalhães, não esquecendo o Briote, nos têm brindado. Que Deus vos vá dando saúde e muita força para que o nosso poilão siga crescendo. Os votos sinceros  do Caetano que na Alemanha vai dando conta do que à volta do poilão se passa.Vamos ás respostas.

(1)  Em Junho de 2008.
(2) Através do nosso encontro anual em Peso da Régua.

(3) [Membro da Tabanca Grande:] Desde 2008.
(4) Diáriamente ,a não ser a altura que tive problemas com a máquina.

(5) Tenho mandado pouco e tenho algumas coisas,mas isso irá ficar para mais tarde; penso brevemente voltar para Portugal.

(6) Sim conheço [o facebook] mas não utilizo.

(7) Sem dúvida, ao blogue.

(8) [O que mais gosto:] Tudo,  principalmente quando se fala de Cuntima, a norte de Farim.

(9) [O que menos gosto:] Certas farsas que ás vezes aparecem.

10) Não [, não tenho dificuldade em aceder ao Blogue].

(11) Representa muito, na medida em que,tive conhecimento de certos casos que se passaram no nosso meio e, que a nós passou ao lado porque ,tinha que ser assim.

(12/13) Não e com muita pena minha,continuo na Alemanha e é difícil conciliar o encontro da Tabanca Grande com o encontro da nossa [CART]  3331, este ano outra vez no mesmo dia.

(14) Sem dúvida.

(15) [Outras críticas, sugestões, comentários:] Nada tenho a dizer.

Gumerzindo Caetano da Silva
Hauptstr.112 53797 Lohmar
Alemanha

2.11. Veríssimo Ferreira [, ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67]

O aniversário do Batalhão dos Combatentes da Guiné, Blogue Luís & Graça & Camaradas... Salvé, 23 de abril!

(1/2) Já 9 anos? Ainda parece que foi ontem. Descobri o blogue, acidentalmente no Google e mais tarde aconselhado pelo Armando Pires, decidi vir a candidatar-me ao prémio Nobel e começar a escrever umas coisitas, que os Administradores e o meu Editor, na sua bondade,  decidiram publicar, na esperança vã e de que com o tempo, tais escrevinhadelas pudessem vir a contribuir para memória futura.

(3) Assim, por aqui ando há mais ou menos 6 meses e na qualidade honrosa de ser o grã-tabanqueiro 581, o que é obra. Plebeu, incentivado, tenho sido e até me proporcionaram um Real Editor.

(4) Consulto o blogue quase diariamente, pois que ainda tenho ali, muitas e muitas informações a absorver, excepto ao Domingo, porque esse é o dia em que o meu ego sobe...sobe e então leio...releio e vice-versa, os meus episódios vividos a rir e beneficiados pelas imagens e legendas anexadas pelo referido antes, Sr Editor Carlos Vinhal.

(5) Tenho falado com amigos, também veraneantes na Guiné e, a curto prazo, três se alistarão e têm,  ao que sei, muito a dar, para engrandecer as tropas (se tal for possível).

(6/7) De quando em vez, também vou à página da Tabanca [Grande] no Facebook, mas a informação que procuro, está aqui menos disponível.

(8/9) De qualquer forma, quer aqui, quer ali, insurjo-me e manifesto-o, com alguns elogios tecidos ao IN. Mau feitio,  o meu ? Pode ser...só que as feridas da alma não esquecem e,  se as tenho,  foi porque ele foi quem nos obrigou a passar pelo que todos passámos. Mas amo o povo Guineense, creiam.

(10) Não tenho tido dificuldades no acesso e as que se dão, prendem-se mais com a entrada na própria Internet.

(11/12/13) /Rejuvenesço recordando...as saudades são mais que muitas...tenho agora mais amigos dos bons e se tudo correr bem, devo ir abraçá-los no Encontro Nacional deste ano.

(14) Garra para continuar ? Qu'é lá isso.  amigalhaços? Claro que sim...prá frente é que é o caminho.
Se mesmo quando a bolanha enchia...se mesmo quando do lado de lá sabíamos que estava o perigo e não fugíamos, também agora ninguém será autorizado a desertar, ponto final, parágrafo.

Por isso, caros Admistradores, caros Editores, caros Colaboradores Permanentes e até nós escribas, que comungamos todos um mesmo propósito, continuemos a dar as mãos, e em uníssono gritemos para que o nosso Batalhão jovem do veterano Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné, se faça ouvir lá bem longe. Parabéns, conta muitos.

2.12. Gilda [Brandão] Brás [, aqui na foto à direita, com o marido e a filha]

Bom dia,  Amigo Luís, espero que esteja tudo bem consigo e com os seus. Eu cá vou indo, ainda no desemprego, mas colaborando com quem precisa da minha ajuda, neste caso numa IPSS, mas, não estou a gostar, pois vejo muita injustiça e maldade e não consigo lidar com isso; no final deste mês acaba o meu contrato e já pedi ao centro de emprego para não o renovar.
Desculpe de só responder agora, mas só hoje é que consegui tirar algum tempo para o fazer.
Um abraço
Gilda Brandão

(1) Há cerca de 5/6 anos, não tenho a certeza. [Mais exatamente, em 25 de julho de 2007]

(2) Através do Google, quando procurava informação sobre o meu pai, Afonso Pinho Brandão.

(3) Sou membro da nossa Tabanca Grande desde dessa altura, penso que em 2008

(4) Agora vou menos vezes, costumo ir mais ao facebook.

(5) Não, não tenho enviado nada nos últimos tempos.

(6) Conheço, sim, [a nossa página do facebook]

(7) Vou mais vezes ao facebook

(8) Gosto de todos os assuntos que são abordados tanto num como noutro, mas,gosto mais de os ler no blogue.

(9) [O que gosto menos do blogue e do facebook:] As entradas de alguns "curiosos" e ainda por cima anónimos, em certas conversas, só pelo prazer de dizer mal.

(10) Sim, algumas vezes tenho dificuldades de aceder ao blogue.

(11) Representa muito, pois foi através do blogue e com o incentivo do nosso saudoso Vitor Condeço, que encontrei os meus irmão e outros familiares do meu pai; aliás, foi no 1º. encontro com os meus irmãos que vi pela primeira vez uma fotografia do meu pai.

(12/13) Nunca participei em nenhum encontro [da Tabanca Grande] e neste também não posso; mas, ainda hei-de ir um dia.

(14) Claro que tem [ fôlego para continuar], espero que por muito mais anos.

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11383: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (4): Resposta do António Vaz [, ex-Cap Mil da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69] , que sobreviveu a uma recente "emboscada" na estrada da vida...

(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Obrigado pela tua resposta, que será publicada, com direito a foto. O editor, Luís Graça. (...)