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quinta-feira, 22 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18448: (D)outro lado do combate (23): "Plano de operações na Frente Sul" (Out-dez 1969) > Ataque a Bolama em 3 de novembro de 1969 - II (e última) Parte (Jorge Araújo)



PAIGC - Combatentes cambando um rio, de canoa

Citação: (1963-1973), "[dez?] Combatentes do PAIGC atravessando um rio de canoa", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44127 (2018-3-10), com a devida vénia.


Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018




GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE >"PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL" [OUT-DEZ 1969] - ATAQUE A BOLAMA EM 3 DE NOVEMBRO DE 1969 (AO TEMPO DA CCAÇ 13 E CCAÇ 14)

(II e última parte)


1. INTRODUÇÃO

Com este segundo e último fragmento relacionado com o ataque a Bolama, em 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, damos por concluída a análise à terceira missão do "plano de acções militares", de um conjunto de nove flagelações a diferentes aquartelamentos das NT, situados nas regiões de Quinara e de Tombali, todas agendadas para o último trimestre desse ano.

No caso particular da flagelação à cidade de Bolama, as forças mobilizadas pelo PAIGC eram constituídas por cerca de cento e vinte elementos, correspondentes a um grupo de artilharia com duas peças "GRAD", cada uma delas preparada para projectar dois foguetes de 122 mm, e três bigrupos de infantaria, para segurança aos artilheiros, todos agindo sob as ordens do comandante Umaru Djaló (1940-2014) que, como foi referido na parte I deste trabalho [P18439], viria a morrer a 29 de Maio de 2014, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com 74 anos.

Este efectivo mais reduzido, quando comparado com os anteriores, é justificado pelos seus objectivos específicos e, também, pelo facto de estarem programados outros ataques para os dias imediatos, como eram os casos de Cacine e Cabedú, por esta ordem, conforme pode ser confirmado no quadro abaixo.






Para a concretização desta missão, os efectivos referidos tiveram que percorrer a pé cerca de setenta quilómetros, correspondente à distância entre a base de saída [Botché Chance] e o local escolhido para a posição de fogo [Ponta Bambaiã]. Este percurso demorou cinco dias, com a partida a acontecer às 17 horas do dia 29 de Outubro, 4.ª feira, e a chegada à Ponta Bambaiã às 16 horas do dia 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, o que equivale a uma caminhada média/dia de quinze quilómetros.

O percurso foi o seguinte: saída de Botché Chance pelas 17 horas do dia 29 de Outubro de 1969, 4.ª feira. Cambança do rio em Botché Col até às imediações de Gândua (dia 30). Nova cambança do rio Tombali em Iangue com chegada à Bolanha Longe (dia 1). Travessia de novo plano de água até atingir Paiunco de manhã (dia 3), com chegada a Ponta Bambaiã pelas 16 horas, onde iniciaram os preparativos do ataque.

Cumpridos os objectivos da missão, que durou dez minutos, os elementos desta força regressaram às suas origens, utilizando o mesmo itinerário mas, agora, em sentido inverso.

Referimos, uma vez mais, que para a elaboração desta narrativa, como para todas as outras que fazem parte deste dossiê específico, já publicadas ou a publicar, foi utilizado o relatório "das operações militares na Frente Sul" [http://hdl.handle.net/11002/fms _dc_40082 (2018-1-20)], documento dactilografado em formato A/4, sem capa e sem referência ao seu autor, localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares.





2. DESTINATÁRIOS DO ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969 - A CCAÇ 13 (CCAÇ 2591), A CCAÇ 14 (CCAÇ 2592) E O CIM

Recordam-se, com vista aérea de Bolama e respectiva legenda, os espaços mais frequentados pelos militares durante a sua premanência naquela cidade. Imagem postada pelo camarada grã-tabanqueiro ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/1965) – in: http://riodosbonssinais.blogspot.pt/search/label/bolama ou "Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar", com a devida vénia.

No CIM (Centro de Instrução Militar) de Bolama, em finais de Outubro de 1969, estavam em fase de conclusão de instrução/formação mais duas Companhias de Caçadores designadas por CCAÇ 13 e CCAÇ 14, saídas da união entre praças africanas do Recrutamento Local e oficiais, sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole. Os quadros metropolitanos destas novas Unidades Independentes, mobilizados pelo Regimento de Infantaria 16, de Portalegre, pretenciam à CCAÇ 2591, que deu origem à CCAÇ 13, e a CCAÇ 2592 à CCAÇ 14, respectivamente.

No caso deste ataque a Bolama, ele foi presenciado pelos colectivos das duas Unidades acima, uma vez que se encontravam no cais da cidade preparando-se para o embarque em LDG, rumo a Bissorã e a Cuntima, locais onde passariam a desempenhar as suas missões operacionais.



Guiné > Região do Óio > Bissorã (1969/70) – A porta de armas do quartel por onde entrou a CCAÇ 13, substituindo a CCAÇ 2444 (1968/70 - companhia açoreana) na sua missão. Foto do camarada Armando Pires (ex-fur mil enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com a devida vénia. (P12023).

De entre aqueles que viveram a emoção/tensão de ouvirem e sentirem o rebentamento dos foguetes 122 mm, recupero os testemunhos dos camaradas ex-furriéis Carlos Fortunato (CCAÇ 13/CCAÇ 2591) e Eduardo Estrela (CCAÇ 14/CCAÇ 2592), ambos membros da nossa «Tabanca».

Carlos Fortunato refere que "no dia 3/11/1969 quando a CCAÇ 13 [CCAÇ 2591 - "Os Leões Negros"] estava no cais de Bolama, preparando-se para embarcar numa LDG [rumo a BISSORÃ], ouviu-se um longínquo 'pof' vindo da parte continental (zona de Tite). Um dos africanos disse 'saída' sorrindo, mas logo a seguir passaram sobre as nossas cabeças 3 [no relatório constam quatro] foguetões de 122 mm. Um acertou numa das pequenas vivendas que corriam ao lado da rua principal [imagem abaixo], que ligava o porto ao largo principal da cidade, apenas a uns escassos 30m do local onde estávamos. Outro caiu no largo principal um pouco mais acima, e o terceiro mais longe, já fora da zona habitacional. Corremos de imediato para o local dos impactos para prestar assistência às eventuais vítimas, mas felizmente apenas houve ferimentos muito ligeiros entre a população". […] "Os morteiros 107 mm existentes no quartel de Bolama responderam ao fogo". […] [sítio: CCAÇ 13 – Os leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71)]. [P9337].



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Bolama > Rua principal de Bolama, onde caiu o primeiro foguete 122 mm. Imagem postada pelo camarada grã-tabanqueiro ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/65) – in "Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar", com a devida vénia.

Por outro lado, Eduardo Estrela, da CCAÇ 14 [CCAÇ 2592], acrescenta que "partimos em 3 de Novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, CUNTIMA, junto à linha de fronteira do Senegal. Ainda em Bolama (…) sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma". [P11365].



Guiné > Região do Óio > Cuntima (1970) – 4.º Pelotão da CCAÇ 14, do ex-fur António Bartolomeu, o 1.º da direita. [P9456], com a devida vénia.

Para concluir esta narrativa histórica resta-nos referir, no ponto seguinte, alguns aspectos técnicos relacionados com o uso da peça "GRAD", arma utilizada neste ataque a Bolama, assim como dos resultados obtidos que constam no relatório.

Encerraremos o trabalho apresentando os quadros das baixas [mortes] de cada uma das Unidades, desde a sua criação [1969] até ao final do conflito [1974].


3. O ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969… COM FOGUETES 122 MM "GRAD" LANÇADOS DA PONTA BAMBAIÃ

Objectivos da acção:


O objectivo definido para esta acção previa o bombardeamento de Bolama, através da utilização de quatro foguetes 122 mm lançados de duas peças "GRAD" colocadas na orla costeira da zona sudoeste da região de Quinara, mais precisamente na Ponta Bambaiã [ver imagem de satélite abaixo].

Porém, a escolha deste local está ligado a muitos outros antecedentes históricos. O primeiro de todos, a 23 de Janeiro de 1963, teve por cenário o ataque ao quartel de Tite, aquele que ficaria gravado como o do início do conflito armado, e que faz parte da mesma região, Quinara.

De acordo com a obra do historiador africano Leopoldo [Victor
Teixeira] Amado, nascido em Catió em 1960, e que em 2010 concluiu o seu doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa [, e j+a na altura membro da nossa Tabanac Grande], nela é referido que "a partir do dia 12 de Março de 1963 o PAIGC aumentou substancialmente a sua actividade. Assim, destruíram vários pontões nas áreas de Tite e de Buba; flagelaram Dar-es-Salam, na península de Empada; cortaram as estradas de acesso a esta povoação e os locais de embarque para Bolama; incendiaram o barco a motor da carreira Bolama-Ponta Bambaiã; impediram o carregamento de mancarra e arroz num barco atracado em Dana, a nordeste de Fulacunda, no rio Corubal; atacaram a tabanca fula de Priame, junto a Catió; flagelaram Cufar e Fulacunda… […] Finalmente, em 25 [Março'63], capturaram no porto de Cafine (rio Cumbijã) os barcos a motor «Mirandela», da Casa Gouveia, e «Arouca», da Casa Brandão, tendo-os levado para a República da Guiné-Conacri com a conivência de parte da tripulação". In: "Guineidade & Africanidade: Estudos, Crónicas, Ensaios e Outros Textos", Lisboa, Edições Vieira da Silva, 2013, pp 117-118.

A 30 de Março de 1963, cinco dias depois desta ocorência, Amílcar Cabral (1924-1973) dirige uma carta a "Nino" Vieira [MARGA, pseudónimo de guerra] elogiando o seu desempenho na captura dos barcos, nos seguintes termos:

"Em particular quero felicitar-te pela operação que terminou pelo envio para aqui dos motores «Mirandela» e «Arouca». Esta operação, pela sua importância no quadro da nossa luta, do género de luta que o nosso Partido adoptou, pelo sucesso total de que foi coroado, vem provar-nos que somos capazes de realizar tudo o que o nosso Partido projectou fazer para a conquista da liberdade, e para a construção da felicidade do nosso povo". […] 



Citação: (1963), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_36648 (2018-3-10)



Trabalho técnico da artilharia na posição de fogo [peças "GRAD"]

1. Localização exacta da posição de fogo no mapa.

2. Medição, pelo mapa, da distância entre a posição de fogo e o centro da cidade – 9.800 metros.

3. Localização no terreno e no mapa de um ponto de referência bem determinado (observatório do porto de Bolama).

4. Medição, pelo mapa, do desvio angular entre a direcção do ponto de referência escolhido e a direcção de fogo – o-35, à esquerda.

5. Determinação aproximada das correcções a introduzir em virtude da pressão atmosférica e temperatura – (-100 metros).

6. Determinação da alça pela tabela de tiro.

7. Determinação da deriva a partir do ponto de referência. Como há que introduzir sempre uma correcção de (0-35, à direita) resultou que a deriva foi de 30-00 apontando para o ponto de referência.

8. Instalação das peças, introdução dos dados obtidos e fogo.




Reacção das tropas colonialistas que abriram fogo de várias armas – metralhadoras, morteiros, canhões (de barco), sem no entanto terem localizado o local donde tinham partido os foguetes.

Retirada sem problemas pelo mesmo itinerário do acesso ao lugar.

Resultados

Segundo informações [pouco ou nada] fidedignas, na manhã do dia 4 de Novembro, 3.ª feira, ainda havia incêndio em Bolama. Todos os obuses caíram dentro da cidade e provocaram grandes destruições.






Na impossibilidade da elaboração de uma infogravura referente ao itinerário percorrido pelas forças mobilizadas para este ataque, já referido na introdução, optei por utilizar a imagem de satélite abaixo, indicando a vermelho a Ponta Bambaiã, local escolhido para o disparo dos foguetes 122 mm sobre Bolama.



4. BAIXAS

- CCAÇ 13 (ex-CCAÇ 2591)

Desde a sua criação [Nov'1969], a CCAÇ 13 contabilizou 9 (nove) baixas, sendo 2 (duas) do Contigente Metropolitano e 7 (sete) do Recrutamento Local.






- CCAÇ 14 (ex-CCAÇ 2592)

Desde a sua criação [Nov'1969], a CCAÇ 14 contabilizou 8 (oito) baixas, sendo 2 (duas) do Contigente Metropolitano e 6 (seis) do Recrutamento Local.




Continua…

Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

21MAR2018.
________________

Nota do editor:

Ultimo poste da série > 20 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18439: (D)outro lado do combate (22): "Plano de operações na Frente Sul" (Out-dez 1969) > Ataque a Bolama em 3 de novembro de 1969 - Parte I (Jorge Araújo)

terça-feira, 20 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18439: (D)outro lado do combate (22): "Plano de operações na Frente Sul" (Out-dez 1969) > Ataque a Bolama em 3 de novembro de 1969 - Parte I (Jorge Araújo)


Citação: (1963-1973), "Umaru Djaló e outros combatentes numa base do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43455 (2018-3-12)



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > "PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL" [OUT-DEZ 1969] - ATAQUE A BOLAMA EM 3 DE NOVEMBRO DE 1969  (AO TEMPO DA CCAÇ 13 E CCAÇ 14)  (Parte I)




1. INTRODUÇÃO

Nove dias depois do ataque a Bedanda (25OUT'69 – o 2.º) e três semanas após terem realizado igual acção a Buba (12OUT'69 – o 1.º), as forças do PAIGC voltaram a concretizar nova flagelação prevista no seu "plano", a terceira, desta vez à cidade de Bolama, a 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, com recurso exclusivo a duas peças "GRAD", cada uma delas preparada para projectar dois foguetes 122 mm.

Recorda-se que este "plano de acções militares", num total de nove ataques, havia sido delineado para ser cumprido durante o último trimestre desse ano nas regiões de Quinara e de Tombali, situadas na zona Sul da Guiné, com recurso a uma logística considerável de equipamentos de artilharia pesada (morteiros 82 e 120; foguetes 122 "GRAD" e peças anti-aéreas "DCK") e a mobilização de um numeroso contingente de guerrilheiros, pertencentes ao "Corpo Especial do Exército", comandado por "Nino" Vieira (1939-2009).

No caso particular da cidade de Bolama, o efectivo destacado para esta missão era constituído por cerca de cento e vinte elementos comandados por Umaru Djaló, uma força menor do que as anteriores, uma vez que no "calendário" estavam programados outros ataques para os dias imediatos, como eram os casos de Cacine e Cabedú, por esta ordem, conforme se indica no quadro abaixo.




Para a elaboração da presente narrativa, como para todas as outras que fazem parte deste dossiê específico, já publicadas ou a publicar, continuaremos a utilizar o relatório "das operações militares na Frente Sul" [http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20)], documento dactilografado em formato A/4, sem capa e sem referência ao seu autor [mas acreditamos ser possível identificá-lo no decurso desta pesquisa], localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares.



Para além deste facto histórico a que o comandante Umaru Djaló ficou ligado [primeiro ataque a Bolama com foguetes/foguetões 122 mm], outros actos ou acontecimentos haveriam, mais tarde, de constar no seu projecto de vida, como sejam:

No pós "25 de Abril de 1974", no contexto do processo negocial com os representantes do governo português, visando a independência da Guiné-Bissau, Umaro Djaló  fez parte da delegação do PAIGC que se deslocou a Londres para participar nas sessões de trabalho de 25 e 26 de Maio de 1974. A delegação do PAIGC era constituída por Pedro Pires (chefe da missão), Umaru Djaló, José Araújo, Lúcio Soares, Júlio Semedo e Gil Fernandes.

Três meses depois, a 26 de Agosto de 1974, o acordo era finalmente assinado em Argel, ficando definido o dia 10 de Setembro como o do reconhecimento da República da Guiné-Bissau. Neste acto participaram, então, como representantes do PAIGC: Pedro Pires (1934-), Umaru Djaló (1940-2014), José Araújo (1933-1992), Otto Schacht (-1980/ass.), Lúcio Soares (1942-) e Luís Oliveira Sanca.

Depois da Independência, tomou parte do I Governo da República da Guiné-Bissau, constituído por João Bernardo "Nino" Vieira (1939-2009, assassinado.), Umaru Djaló (1914-2014), Constantino Teixeira, Carlos Correia (1933-), Paulo Correia (?-1986, assassinado), Vítor Saúde Maria (1939-1999, assassinado), Filinto Vaz Martins (1937-), João da Costa e Fidelis Cabral d'Almada [da esquerda para a direita,  na imagem abaixo]. 

Era então Presidente da República Luís Cabral (1931-2009). Aquando do "golpe militar" de Novembro de 1980, que levou "Nino" Vieira ao poder, Umaru Djaló era chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.


Citação: (1974), "Tomada de posse do I Governo da República da Guiné-Bissau", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43933 (2018-3)


A 29 de Maio de 2014, Umaru Djaló travou o último combate da sua vida, vindo a falecer no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, aos 74 anos, depois de aí lhe terem sido prestados, durante alguns meses, os cuidados e a intervenção clínica especializada em função do seu "problema" de saúde.


2. DESTINATÁRIOS DO ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969:


A CCAÇ 13 (CCAÇ 2591), A CCAÇ 14 (CCAÇ 2592) E O CIM  DE BOLAMA


Certamente que a data escolhida para o ataque a Bolama [Ilha] não foi por acaso, pois é credível que a mesma tenha sido aprovada sobre informações recolhidas pela sua "secreta", aliás procedimento habitual em qualquer contexto de guerra, e mais natural seria, em função do método utilizado na guerra de guerrilha que tem no conceito "surpresa" o seu princípio estratégico.

Sendo Bolama a cidade do CIM (Centro de Intrução Militar) por excelência, onde muitas das unidades metropolitanas realizavam o seu IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), visando a adaptação ao clima e às condições da guerra, como foi o caso da minha CART 3494 (Xime) e restante contingente do BART 3873 (1971-1974) – [Bambadinca (CCS), Mansambo (CART 3493) e Xitole (CART 3492)] –, um ataque bem sucedido seria visto como um "grande ronco" e, por consequência, poderia influenciar o comportamento prospectivo das NT.




Recordam-se, com vista aérea de Bolama e respectiva legenda, os espaços mais frequentados pelos militares durante a sua premanência na cidade. Imagem postada pelo camarada grã-tabanqueiro ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/1965) – in: http://riodosbonssinais.blogspot.pt/search/label/bolama ou "Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar", com a devida vénia.

Entretanto no CIM,  em finais de Outubro de 1969, estavam em fase de conclusão de formação/instrução mais duas Companhias de Caçadores,  designadas por CCAÇ 13 e CCAÇ 14, saídas da união entre praças africanas do Recrutamento Local e oficiais, sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole. Os quadros metropolitanos destas novas Unidades Independentes, mobilizados pelo Regimento de Infantaria 16, de Portalegre, pretenciam à CCAÇ 2591, que deu origem à CCAÇ 13, e a CCAÇ 2592 à CCAÇ 14, respectivamente.

Sobre as emoções, sensações e experiências gravadas por todos aqueles que, ao fim daquela tarde de2.ª feira, a primeira do mês de Novembro de 1969, assistiram à explosão dos foguetões de 122 mm, recupero os testemunhos dos camaradas ex-furriéis Carlos Fortunato (CCAÇ 13/CCAÇ 2591) e Eduardo Estrela (CCAÇ 14/CCAÇ 2592), ambos membros da nossa Tabanca Grande

Carlos Fortunato refere que "no dia 3/11/1969 quando a [companhia da etnia balanta] CCAÇ 13 [CCAÇ 2591 - "Os Leões Negros"] estava no cais de Bolama, preparando-se para embarcar numa LDG [rumo a BISSORÃ], ouviu-se um longínquo 'pof' vindo da parte continental (zona de Tite). Um dos africanos disse 'saída' sorrindo, mas logo a seguir passaram sobre as nossas cabeças 3 [no relatório constam quatro] foguetões de 122 mm. Um acertou numa das pequenas vivendas que corriam ao lado da rua principal, que ligava o porto ao largo principal da cidade, apenas a uns escassos 30m do local onde estávamos. Outro caiu no largo principal um pouco mais acima, e o terceiro mais longe, já fora da zona habitacional. Corremos de imediato para o local dos impactos para prestar assistência às eventuais vítimas, mas felizmente apenas houve ferimentos muito ligeiros entre a população". […] "Os morteiros 107 mm existentes no quartel de Bolama responderam ao fogo". […] [sítio: CCAÇ 13 – Os leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71)]. [P9337].

Por outro lado, Eduardo Estrela, da CCAÇ 14 [companhia das 
etnias mandinga e manjaca] - [CCAÇ 2592], acrescenta que "partimos em 3 de Novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, CUNTIMA, junto à linha de fronteira do Senegal. Ainda em Bolama (…) sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma". [P11365].

Na linha desta investigação daremos conta, no ponto seguinte, do que consta no relatório elaborado a propósito deste ataque.


3. O ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969… COM FOGUETES 122 MM "GRAD" LANÇADOS DA PONTA BAMBAIÃ

Objectivos da acção:

O objectivo definido para esta acção concretizou-se no dia 3 de Novembro de 1969, ao fim da tarde, com o bombardeamento da cidade de Bolama, através da utilização de quatro [testemunhas referem três] foguetes 122 mm lançados de duas peças "GRAD" colocadas na orla costeira da zona sudoeste da região de Quínara, mais precisamente na Ponta Bambaiã. Para esta missão foram mobilizadas forças de infantaria e artilharia, as primeiras só com funções de segurança e apoio ao desempenho das segundas.

Como elemento de comparação entre as logísticas dos ataques já divulgados, apresentamos o respectivo quadro.




Desenvolvimento da acção: (as forças do PAIGC)





As nossas forças estavam constituídas por 3 bi-grupos de infantaria e duas peças de GRAD sob a responsabilidade do camarada [cmdt] UMARO DJALÓ.

Saída de Botché Chance pelas 17 horas do dia 29 de Outubro [de 1969], 4.ª feira. 


A operação deveria realizar-se no dia 3 de Novembro, 2.ª feira, à caída da noite. 

Na noite de 29 para 30 de Outubro a coluna cruzou o rio em Botché Col, e na manhã do dia 30 atingiu as imediações de Gândua. 

Na noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro, a coluna cruzou o rio Tombali em Iangue, e na manhã do dia 1 de Novembro chegou a Bolanha Longe. 

A coluna deveria cruzar o rio na noite de 1 de Novembro, mas por falta de canoas só o pode fazer na noite de 2 de Novembro, domingo, tendo atingido Paiunco na manhã de 3 de Novembro, 2.ª feira. 

Chegada da coluna à Ponta de Bambaiã às 16 horas do dia 3 de Novembro (ponto escolhido de antemão para posição de fogo).



Na impossibilidade da elaboração de uma infogravura referente ao itinerário percorrido pelas forças do PAIGC mobilizadas para este ataque, por dificuldade em identificar os locais referidos no relatório, o que lamento, optei por utilizar a imagem de satélite abaixo.


Final da Parte I.

Na Parte II desta narrativa, serão abordados os seguintes pontos:

1 – O trabalho técnico da artilharia na posição de fogo – uso do GRAD.
2 – Reacção das NT.
3 – Resultados.
4 – Quadro de baixas da CCAÇ 13 (de 14Nov1969 a 23Abr1973).
5 – Quadro de baixas da CCAÇ 14 (de 11Nov1970 a 4Abr1974).

Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.
12MAR2018.
___________

Nota do editor:

Último poste ds série > 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17420: (De) Caras (66): Tabanca de Faro reuniu 75 participantes no seu 2º encontro anual, em 20 de maio último (Eduardo Estrela, ex-fur mil, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)


Foto nº 1 > Faro > Tabanca de Faro > 2º Encontro anual  > 20 de maio de 2017 > Foto parcial do grupo  de participantes cujo total era da ordem dos 75.


Foto nº 2  > Faro > Tabanca de Faro > 2º Encontro anual  > 20 de maio de 2017 >  Junto ao monumento aos combatentes de Faro: da esquerda para a direita, o Zé Luís, o Vila Nova, o Aníbal, o Luis Formiga e eu, [ Não  está identificado o camarada que, em primeiro plano,  segura a coroa das flores]  


Foto nº 3 >  Faro > Tabanca de Faro > 2º Encontro anual  > 20 de maio de 2017 > Almoço de convívio: da esquerda  para a direita,  o Fernando Silva, o Jorge Martins, o Humberto Rosa, o Zé Augusto Vidal, eu   e a minha mulher Antonieta Estrela.


Fotos (e legendas):  © Eduardo Estrela (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 30 de maio p.p., enviado pelo Eduardo Estrela [ ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

Luis!

Aí vão três fotografias do nosso encontro de Faro (*).

A 1ª, tirada nas escadas do acesso ao jardim do restaurante,  não contempla toda a malta que se reuniu, pois as escadas eram pequenas para os cerca de 75 participantes. 

A 2ª foi tirada junto ao monumento que evoca os companheiros naturais do concelho de Faro, arrancados à vida na flor da idade. Na mesma estão da esquerda para a direita, o Zé Luís, o Vila Nova, o Anibal, o Luis Formiga e eu. Não me recordo do nome do camarada que segura a coroa das flores, enquanto escutávamos a alocução do amigo Dr. João Botelheiro. 

A 3ª. fotografia,  feita na mesa do restaurante, tem da esquerda para a direita  o Fernando Silva, o Jorge Martins, o Humberto Rosa, o Zé Augusto Vidal, eu e a minha mulher Antonieta Estrela.

No passado sábado 27, estive no almoço do BCaç 2879 ao qual a CCaç 14 estava agregada. O encontro aconteceu no Folgosinho, Gouveia, e teve cerca de 200 participantes.

Um abraço meu e da malta da Tabanca de Faro, nome já escolhido como refere o Zé Viegas.

Eduardo Estrela

PS - Diz o Povo e com razão " O que abunda não anula"... Depois de ter enviado as fotografias, visitei o blogue e verifiquei que uma delas já lá está inserida a das escadas (a foto nº 1). Aproveito para identificar a senhora. que está na direita do Zé Luís. Trata-se da sua esposa, dona Isabel Pratas. (**)

2. Comentário do editor LG

Eduardo, obrigado. Aqui tens as tuas fotos e o teu texto... Não tinha reparado na esposa do Zé Luís (*)... O Zé Viegas não me mandou a legenda... Voltaremos a publicar a "foto de família"... 75 participantes, dizes tu ? Ótimo, têm que se reunir mais vezes durante o ano.

PS -  Tens fotos da malta da CCAÇ 14 que foi ao último convívio do BCAÇ 2879 ? Temos falado pouco de vocês, CCAÇ 14...

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Notas do editor:

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16623: Inquérito 'on line' (77): Num total de 117 respostas, 62% diz que, nos sítios onde esteve, no mato, nunca houve familiares de militares, metropolitanos ou guinenses... Comentários dos camaradas Jorge Cabral, Vasco Pires, Jorge Canhão, Rogério Cardoso, Carlos Mendes Pauleta, Eduardo Estrela, José Colaço, J. Diniz Sousa Faro e Manuel Amaro


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Maria Dulcinea (Ni), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que esteve com o marido e o filho em Bissorã, de outubro de 1973 a junho  de 1974 (*). [O Henrique Cerqueira foi fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e  CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74]


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Miguel, o filho do Henrique Cerqueira, e da Maria Dulcinea (Ni),  com a filha de um capitão da CCS, no quintal da casa dos Cerqueira.


Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1973/74 > Miguel, a Maria Dulcinea (Ni), de costas, com a esposa de um outro militar de Bissorã, também de costas, em visita a Mansoa.

Fotos (e legendas); ©  Maria Dulcinea (Ni) / Henrique Cerqueira  (2011), Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NO MATO, NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE, NA GUINÉ, HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...

Resultados finais (=117)



1. Sim, esposas (não guineenses) > 26 (22%)

2. Sim, esposas e filhos (não guineenses) > 13 (11%)

3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias) > 14 (11%)

4. Não, não havia > 73 (62%)

5. Não aplicável: não estive no mato > 3 (2%)

6. Não sei / não me lembro > 0 (0%) 

Total: 117


O prazo de resposta terminou em 20/10/2016, 5ª feira, às 6h52.  O inquérito admitia até três respostas: por exemplo 1, 2 e 3.


B. Comentários dos nossos  camaradas, leitores do blogue (**):

(i) Jorge Cabral

Missirá era um Quartel ou uma Tabanca? E estar no mato, o que era? Tudo fora de Bissau? Bafatá era mato? Por outro lado, e como se sabe, as mulheres fulas acompanhavam sempre os maridos militares. (...) Assim no meu Pelotão [, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71] , existiam 24 soldados, 19 mulheres e 32 crianças...


(ii) Vasco Pires

Nós,  da Artilharia, "herdávamos" um Pelotão [, o 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72] com cerca de trinta soldados e outras tantas mulheres, e uns quantos filhos, e, sinceramente, às vezes ficava difícil de a administrar. (...) Felizmente, lá em Gadamael,  como já referi anteriormente, os Furriéis eram dedicados, eficazes e leais (Furriéis Kruz e Oliveira). Eu mesmo (com os Furriéis) morava na tabanca, bem como os soldados e cabos de recrutamento local.


 (iii) Jorge Canhão

Em relação ao poste do meu camarada Carlos Fraga, há um pequeno equívoco da parte dele, pois em Mansoa, além de esposa do cmdt do batalhão, esteve lá também a esposa e filho do cap Patrocínio, então da CCaç 15, a esposa e filha de um camarada nosso mas da CCS, assim como a esposa de um furriel (Roma) da CCS. Penso que também a esposa do major de operações da CCS estava lá. Inclusive numa festa africana em Mansoa, um individuo atirou uma granada para o meio da festa tendo provocado bastantes feridos, estava lá o camarada Jesus (o tal da CCS) com a esposa e a filhota, que felizmente não foram feridos.

Jorge Canhão,  ex fur mil. 3ª Caç/BCaç 4612/72


(iv) Rogério Cardoso

Em 1964 e 1965 a Cart 64, "Águias Negras", estava sediada em Bissorã. O seu 1.º sargento,  de nome Rogério Meireles, estava acompanhado da mulher e de uma filha de pouca idade, residia numa pequena casa fora do aquartelamento. Acabou ao fim de 1 ano deixar de pertencer à companhia  por ter problemas de estômago, e deste modo foi embora com a família. Digo de passagem que foi o melhor que ele fez, pois, quando de alguns ataques noturnos, aquelas pobres sofriam bastante. Também o furriel vaguemestre mandou ir a mulher, que chegou a Bissau no dia seguinte a ele ter sido ferido, mas sem gravidade. Ele ao fim de uns meses também mandou a mulher de regresso, pelas mesmas razões do anterior caso.


(v) Carlos Mendes Pauleta

O camarada Fraga refere que não existiam familiares de militares em Mansoa. Como o Jorge Canhão referiu no seu comentário, tal não corresponde à realidade. Além dos militares identificados pelo Canhão,  também o major António Rebelo Simões, 2.º Comandante do BCAÇ 4612/72, vivia com a sua esposa. Se assim não fosse como poderia um 1.º cabo sapador ter sido castigado por estar a "espreitar" a esposa do 2.º comandante do batalhão a tomar banho?


(vi)  Eduardo Estrela [ ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

(...) Lembro-me bem que em 1970 estavam em Farim, a esposa dum fur mil e a esposa e filha dum 1.º sargento. Não me recordo a que unidades militares pertenciam, mas ambos estavam integrados na guarnição do Batalhão 2879, do qual a minha CCaç 14 fazia parte como unidade de reforço.


(vii) José Botelho Colaço

Penso que nos primeiros anos da guerra no verdadeiro mato não havia um mínimo de condições [para alojar familiares de militares, quer esposas, quer filhos]. Além disso a cultura que nos foi ministrada também não ajudava nada para que tal acontecesse, os filhos e esposas não guineenses coabitarem connosco no mato.

Na minha CCaç 557 (1963/65) a única mulher que nos fez companhia foi a esposa do médico mas só nos finais de 1964 quando no regresso do mato (Ilha do Como) a Bissau e nos fixámos em Bafatá. Aí a drª Maria Luísa foi uma companheira amiga e presente no dia a dia além do doutor, ela era,  e ainda é para nós, militares da 557, a nossa amiga doutora.


(viii) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro

O meu caso assim como todos os combatentes pertencentes à BAC 1 / GAC 7 que estavam no mato, os pelotões de Artilharia tinham sempre familiares dos seus praças oriundos de incorporação territorial que transportavam consigo os seus familiares (mulheres e filhos). Era frequente utilizar duas ou mais viaturas só para transporte dos familiares que eram alojadas nas tabancas. Em Binar (1970) tinha um soldado com 6 mulheres.

J. Diniz S. Faro, ex-fur mil art, 1968 - 1970


(ix) Manuel Amaro

No meu BCAÇ 2892, em 1970,  Aldeia Formosa (Quebo), estiveram, durante pouco tempo, duas senhoras, esposas de um Alferes e de um Sargento. A estada foi curta porque o PAIGC, depois de um tempo de quase ausência, decidiu aumentar a sua acção na zona. O único branco civil em Aldeia Formosa era o agente da PIDE/DGS, de apelido Manjerico.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  26 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)

(...) Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa 'Casa' fiquei espantada pois estava decorada com assentos dum carocha, as camas eram da tropa, tínhamos um frigorífico a petróleo, a casa de banho eram dois bidões de chapa. Tínhamos chuveiro pois o Henrique conseguiu ir buscar água bem longe (daí a explicação do seu estado de magreza pois que arranjou casa, fez uma abrigo, decorou a casa e sempre fazendo a sua actividade militar, porque na CCAÇ 13 não se mandriava).

Quanto à nossa alimentação, foi organizada do seguinte modo: as refeições dos adultos vinham duma espécie de restaurante (O Labinas') que tinha um acordo com a tropa, mas as refeições do nosso Miguel era eu que as confeccionava com artigos comprados na messe e outros sempre que possível na população.

Entretanto eu e o Henrique tiramos a Carta de Condução no mesmo dia em Bissau. Não pensem que nos facilitaram a vida, não, pelo contrário, foram bem exigentes no exame em Bissau.

Para além de ter tido um Natal muito especial em 1973, com pinheirinho (uma folha de palmeira enfeitada), rabanadas e aletria, tudo isto foi enviado pela família da metrópole. Mas o que mais gostei foi ter partilhado esse Natal com outros soldados que invadiram a nossa casa que até se esqueceram que havia algures por ali uma Guerra.

Entretanto veio o 25 de Abril, e tive a oportunidade de ir cumprimentar o pessoal do PAIGC ainda no seu estado de combatentes inimigos. Uns dias antes os "patifes" tinham-nos bombardeado com foguetões, porque pareciam não estarem satisfeitos com o susto que me pregaram em Dezembro, ao infligirem-nos um bruto ataque que foi o meu baptismo de fogo.  (...)

Em Junho [de 1974] regresso a Portugal com o Miguel, e em Julho regressa o Henrique, e uma vez mais fui ter com ele a Lisboa ao RALIS onde foi (fomos) definitivamente desmobilizado[s].

(...) Antes de acabar, lembro que em Bissorã viviam mais senhoras, esposas de militares, ou seja dum soldado, dum furriel e de um capitão que tinha uma menina linda de quem vou tomar a liberdade de publicar a foto, junta com o meu Miguelito. (...)



(**) Vd. os últimos postes da série:


17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)

13 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16597: Inquérito 'on line' (73): Até ao dia 20 deste mês, responder à questão "No mato, no(s) sítio(s) onde eu estive, havia familiares nossos... esposas com ou sem filhos"

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15943: Memória dos lugares (339): Cuntima, no meu tempo (ex-1º cabo Vitor Silva, CART 3331, "Os Tigres de Cuntima", 1970/72) - Parte II


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 1 > O poilão, o ex-libris da vila de Cuntima...



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 1 A > O poilão, o ex-libris da vila de Cuntima...  No grupo, o Vitor é o primeiro da direita




Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 2 >  "O poilão e a escola primária"



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 3 > "Militar à porta de entrada de quem vinha do Senegal."



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 4 >  O 'burrinho' (Unimog 411), atravessando a avenida Central (também conhecida por av do Senegal).


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 5 > "Vendedores ambulantes (djilas) e a curiosidade da população e dos militares. O Vítor com um menino ao colo."



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 6 > " O Vítor, de bigode, um Camarada, a bajuda e o pilão. Para a fotografia".

 

Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 7 > "O Vítor e o Hélder na Secretaria da Companhia."


Fotos e legendas: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados



1. Recorde-se alguns dados sobre a CART 3331, segundo síntese feita pelo ex-1º cabo Vitor Silva, nosso grã-tabanqueiro:


(i) A CART 3331 foi mobilizada para a Guiné pelo RAP 2, Vila Nova de Gaia;

(ii) era composta por 158 militares, sendo comandada pelo cap mil art Manuel Sena Boléo; a formação era chefiada pelo 1º srgt art Manuel Joaquim Moreira Dias.

(iii) a formação dividia-se nas seguintes secções: comando; alimentação; manutenção auto; sanitária; reabastecimento;  e manutenção de armamento.

(iv)  a primeira  parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) foi feita no RAP 2;

(v) a Companhia embarcou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos para a Guiné no dia 14 de 
dezembro de 1970, a bordo do navio Uíge:

(vi) a 20 de fevereiro a CART 3331 deslocou-se em coluna auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde rendeu a CCAÇ 14, durante a qual tomou conhecimento directo com a Zona de Acção (ZA);

(vii)  o terreno, aliás como de uma maneira geral em toda a Guiné, é plano; cnvém no entanto referir que Cuntima é ligeiramente mais elevada que o restante terreno da ZA; daí, talvez o antigo nome de Colina do Norte (?); 

(viii) o sector era servido pela estrada Farim-Cuntima, por onde eram feitos os reabastecimentos;

(ix) o IN não se encontrava instalado nem tinha bases dentro da nossa ZA; irradiava sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató; de uma maneira geral evitava os contactos; as suas acções contra as NT manifestaram-se especialmente por ataques ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente às colunas de reabastecimentos;

(x) a população, na sua maioria era de etnia Fula, de religião muçulmana; apenas uma pequena parte era Mandinga;
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terça-feira, 5 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15940: Memória dos lugares (338): Cuntima, no meu tempo (ex-1º cabo Vitor Silva, CART 3331, "Os Tigres de Cuntima", 1970/72) - Parte I


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Um dos três obuses [14 cm] que existiam em Cuntima". [Um dos artilheiros que por lá passou foi o Humberto Nunes, ex-alf mil art, 23.º Pel Art, Gadamael e Cuntima, 1972/74; ver aqui o seu álbum de Cuntima]



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses e os gilas)". [Outro camarada nosso que esteve em Cuntima foi o ex-fur mil António Bartolomeu, da CCAÇ  2592 / CCAÇ 14, Cobtuboel, Aldeia Fomosa e Cuntima, 1969/71; diz ele, "em Cuntima éramos um misto de guarda-fiscal e de polícia de fronteiras... Por ali passava um dos corredores do Oio"; a CCAÇ 14 foi rendida pela CART 3331].


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim >  Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Posto avançado nº 9. Estive lá de serviço no dia 31 de maio de 1971, no que foi considerado o maior flagelamento IN a Cuntima. As tropas do IN vieram mesmo ao arame farpado".



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Cuntima: reservatórios de água, as duas professoras ao fundo e a casa do agente da PIDE/DGS" [Vd. fotos de 2016, do Patrício Ribeiro (*)]


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Instalações civis ocupadas pela tropa".




Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Todas as manhãs,  bem cedo, Cuntima tinha visitantes do Senegal. Uns para fazerem comércio, outros para partir mantenhas com familiares e amigos e muitos outros para serem assistidos no Posto de Socorros pelo Médico e Enfermeiros da Companhia. Estas duas bajudas senegalesas prestaram-se para a fotografia,  à distância conveniente, da máquina e dos militares".



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "À hora do petisco"... [Outro camarada desta companhia, e que esteve também em Cuntima,  é o Gumerzindo Silva, ex-soldado condutor auto, hoje a viver na Alemanha]

Fotos e legendas: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados.


Vitor Silva, ex-1º cabo, membro da nossa
Tabanca Grande (desde 2007)
Breve historial da CART 3331 (Os Tigres de Cuntima, Cuntima, 1970/72):

(i) Mobilizada pelo RAP 2 (Vila Nova de Gaia);

(ii) chega à Guiné a 19 de dezembro de 1970;

(iii) no dia 21 de dezembro embarca na LDG Alfange com destino ao Centro de Instrução Militar de Bolama, para treino de adaptação ao mato e 2.ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO);

(iv) a 25 de janeiro de 1971, de novo na Alfange, ruma para Farim onde chega no dia 28 de janeiro;

(v) em Farim participa em algumas ações no mato e na estrada Farim-Jumbembem;

(vi) a 20 de fevereiro, desloca-se em coluna auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde vai render a CCAÇ 14;

(vii) a ZA do subsector de Cuntima é extensa: delimitada a norte, numa extensão de aproximadamente 30 km, pela República do Senegal, a este pelo rio Corlá (Sare Dambé Badoral, Sitató, Sinchã Fogã e Sare Tombom), a oeste pela bolanha de Sinchã Massa e a sul pela bolanha de Sinchã Massa e bolanha do rio Norobanta e pelo marco 107;

(viii) na sua maioria a população é de etnia Fula, de religião muçulmana; havia uma pequena minoria Mandinga;

(ix) as acções do IN  irradiam sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató;

(x) as acções contra as NT manifestam-se especialmente por ataques ou flagelações ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente, às colunas de reabastecimentos;

(x) há duas unidades de quadrícula no sector, a CART 3331 e a CCAÇ 2547, ambas instaladas em Cuntima:

(xi) para além da ocupação e defesa do Sector, a sua missão principal é evitar a infiltração do IN para dentro do TO da Guiné;

(xii) a CART 3331 regressa, num avião dos TAM,  à Metrópole no dia 25 de novembro de 1972, com orgulho do dever cumprido;

(xiii) vai ter três comandantes: cap mil Art Manuel Sena Boleo, cap inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues, e cap mil art Armando Pimenta Cristóvão.
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Nota do editor: