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sexta-feira, 21 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17267: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (15): Tabancas de Cufar e Matofarroba


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Bajuda balanta


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Pilão do arroz


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > O al ff mil imf Luís Mourato Oliveira e o alf mil médico em visita ao reordenamento feito pelas NT


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto do reordenamento feito pelas NT. Matofarroba ficava/fica, a 2km/3km, a sul de Cufar.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > > Tabanca > 1973 > Aspeto parcial



Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Cufar >  Tabanca > 1973 > Aspeto parcial com o fontenário à direita

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar,  1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começamos hoje a publicar.

Sobre esta subunidade, açoriana, mobilizada pelo BI 17,  há uma página na Net, criada pelo ex-furmil mec auto Mário [Fernando Lima de] Oliveira, podendo a sua história ser consultada aqui.

Sabemos, por exemplo, que em janeiro de 1973, o "alferes mil 01876771, Luís Fernando Mourato de Oliveira, substitui o alferes mil 18029168, Mário José Correia Salsinha, nomeado para as unidades africanas: CCAC 13".

Esta companhia, comandada pelo cap mil inf João Gaspar Dias da Silva teve 9 (nove!) alferes milicianos e 19 sargentos (, a maioria, furriéis milicianos). O pessoal partiu para o CTIG, em 21/6/1972, num Boeing 707 dos TAM. 

Em 22/7/1972 seguiu, em LDG, para Cufar onde, em sobreposição, realizou a rendição da CCAÇ 2797. Um mês depois assumiu a responsabilidade do subsetor. A 23/12/1972, Cufar sobreu uma flagelação com 9 mísseis ou foguetões 122 mm (os famosos Katiusha).

Em 11 de Julho de 1974 passou o último dos 690 dias passados em Cufar. No dia seguinte chega, transportada em LDM, a CCAÇ 4152/73 , ao porto de Impundega, para substituir a CCAÇ 4740.

Em 3/8/1974, chegou o finalmente a "peluda"... A CCAÇ 4740 regressa a casa: o Boeing dos TAM, com destino ao aeroporto de Figo Maduro, faz escala no aeroporto das Lajes, em Angra do Heroísmo, desembarcando aqui os militares açorianos.

2. Reuniões de convívio do pessoal da CCAÇ 4740:

1 de Dezembro de 2007 -1º Encontro Continental

21 de Junho de 2008 - 2º Encontro Continental,

10 a 14 de Junho de 2009 - 1º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

19 de Junho de 2010 - 3º Encontro Continental,

3 a 9 de Julho de 2010 - 2º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

18 de Junho de 2011 - 4º Encontro Continental,

16 de Junho de 2012 - 5º Encontro Continental,

15 de Junho de 2013 - 6º Encontro Continental,

21 de Junho de 2014 - 7º Encontro Continental,

20 de Junho de 2015 - 8º Encontro Continental,

18 de Junho de 2016 - 9º Encontro Continental,

17 de Junho de 2016 - 10º Encontro Continental.

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16703: Fotos à procura de... uma legenda (75): Distância de Cufar a Lisboa ? 4583 km ? Não, eram 21 m...eses! (Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740, Cufar, e Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1972/74)


Foto nº 1 A


Foto nº 1 A


Foto nº 1

Guiiné > Região de Tombali > Cufar > Pel Rec Fox 8870/72  (1973/74)>   A autometralhadora Fox


Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Foto do excelente álbum de Luís Mourato Oliveira, que foi alf mil inf, de rendição individual,  na  CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73), e depois comandante do Pel Caç Nat 52 ( Mato Cão e Missirá, 1973/74, no setor L1, Bambadinca), subunidade que ele irá desmobilizar e onde terminaria a sua comissão já depois do 25 de Abril.   Esteve em Bolama a dar formação a pessoal do recrutamento, em 1973, antes de seguir para Bambadinca.

O fotógrafo (neste caso, o nosso camarada Oliveira)  apanhou,  com rara felicidade,  além da autometradalhora Fox MG-16-40 (?),  uma curiosa placa, dupla, junto a uma árvore, com indicação de ser "território" do Pel Rec Fox 8870 e de a distância dali [, Cufar] a Lisboa ser,  medida não em quilómetros (, o que seria qualquetr coisa como 4853 km, de carro) mas em meses: Lisboa, 21 M...

Esse era o  tempo normal, recorde-se,  de uma comissão no TO da Guiné. Graças ao 25 de abril de 1974, a "distância" foi encurtada em alguns meses: o Pel Rec Fox 8870 cumpriu um ano e quatro meses de comissão (de abril de 1973 a agosto de 1974).

Mais um exemplo do nosso bom humor de caserna (*)... Eram estes pequenos (mas geniais...) de bom humor que não tornvam mais suportável o "degredo" em terras como Cufar, na Guiné, a  5 km de distência de casa...

2. De acordo com o respetivo blogue, o Pel Rec Fox 8870, f oi formado no Regimento de Cavalaria  n º 8, em Castelo Branco. 

Embarcou no T/T Uíge, rumo ao CTIG,  no dia 3 de abril de 1973 e desembarcou em Bissau a 9 do mesmo mês.  Esteve m Cufar. Regressou a  casa,  conjuntamente  com o EREC 8840/72, em voo especial, a 31 de agosto de 1974, com chegada ao aeroporto de Figo Maduro, ao fim da tarde. 

Foi seu comandante  alf mil cav Fernando António Ribeiro de Faria. O pessoal, bastante unido, reune-se todos os anos em convívio. Era originalmente composto por 41 homens: 1 alferes, 5 furriéis, 11  prirmeiros cabos Cabos e 24 soldados. 

Desta valorosa subunidade temos um grã-tabanqueiro, o António P. Almeida, que vive em Castelo de Paiva. (**)

3. No seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp), o nosso camarada António Graça de Abreu (, alf mil, CAOP 1, Cufar, 1973/74) não esconde as dificuldades por que a passava a malta, em Cufar, já no início de 1974:


Cufar, 7 de Fevereiro de 1974
.
Em alguns aquartelamentos aqui do sul também existem carências de todo o tipo, mas de natureza diferente das deste pobre povo guineense. No Relatório Mensal Janeiro 1974 do nosso CAOP 1, no ponto 4. b. Logística, os meus chefes referem, em diferentes destacamentos da nossa zona operacional, falta de medicamentos, falta de mesas e bancos para os refeitórios, falta de víveres frescos e de arroz para distribuir pela população, falta de armamento, falta de peças de substituição para muitas das viaturas auto-metralhadoras Fox e White que têm dezenas de anos e estão na sua maioria avariadas, falta de geradores eléctricos, de moto-serras, de electro-bombas, de motores para os barcos sintex.

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Notas do editor:


Guiné 63/74 - P16702: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) - Experiências gastronómicas (Parte I): maionese de peixe do Cacine e açorda de bacalhau com coentros...


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > c. 1972/73 > O alf mil Luis Mourato Oliveira, "o fotógrafo de serviço".



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > c. 1972/73 > O Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740, Cufar, 1972/73, e Pel Caç Nat 52, Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74, subunidade "que desmobilizei e onde terminei a minha comissão já depois do 25 de Abril"; novo membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730. Nascido em Lisboa, tem raízes na Marteleira e Miragaia, Lourinhã, pelo lado materno.



Lourinhã > Marteleira >  Confraria da Batata Raiz de Cana > c. 2016 > O Luis Oliveira, bancário refomado, á volta dos tachos e panelas, na casa de um amigo e confrade. Temos vários amigos em comum (LG).


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem enviada pelo Luís Mourato Oliveira, com data de 7 do corrente:

Olá,  Luis e Carlos;

Como vou tendo tempo e escrever exercita os neurónios, lembrei-me de escrevinhar algo diferente dos actos de guerra, mas que foram acontecimentos que os acompanharam.
Talvez o texto esteja demasiado extenso e, por isso, chato. Deixo à vossa consideração a publicação por partes porque na prática são quatro estórias.

Um grande abraço para vós e as melhores saudações tabanqueiras.



2. De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) >  Experiências gastronómicas (Parte I) 


A gastronomia da região onde nascemos e crescemos por mais simples e “pobre” que seja,  tem uma identidade de paladares e rituais que nunca abandonarão a nossa vida,  e a ausência dos aromas e sabores da nossa infância é sempre motivo de nostalgia e até de saudade, por isso considero que a gastronomia constitui um pilar identitário e cultural a que às vezes é dada pouca importância. 

Quando por razões imperiosas,  como a guerra ou a emigração,  nos afastamos do nosso chão.  é que valorizamos, como quase tudo, as comidinhas que deixámos para trás e que o local onde passámos a viver não nos oferece.

Na Guiné devido a todas as dificuldades de logística, de conservação dos alimentos e até de aquisição de alguns bens que os naturais se recusavam a comercializar, a base da alimentação era o arroz, o feijão e as conservas que,  sendo excelentes alimentos, a sua presença sistemática nos refeitórios e messes, acabava por saturar e fazer crescer a água na boca só com a lembrança de batata frita ou cozida, de uma boa sardinha assada ou de um simples bife com ovo a cavalo. 

Cufar > Pescador de rio  ou de bolanha...
Sempre que através de uma encomenda enviada pela família ou qualquer outro acontecimento invulgar nos permitia inventar um “petisco”,   era uma festa e esse acontecimento passava a fotografia que ainda hoje figura no nosso precioso e muito íntimo álbum que é a memória.

Para além de algumas outras recordações, seleccionei quatro estórias de comida que partilho com os amigos e camaradas do Blog, para que as conheçam e recordem as vossas próprias aventuras gastronómicas na Guiné.


I. Uma oferta 
dos camaradas de Cacine permitiu maionese 
em Cufar


Uma das ausências nos nossos pratos na Guiné, era o peixe fresco. Sobretudo quem vivia no litoral de Portugal tinha o pescado sempre presente na sua dieta e,  embora muitos preferissem a carne que era cara e por isso de uso menos frequente, a falta do “peixinho” era notada.

Na companhia que estava estacionada em Cacine,  esta falta não se sentia porque abundava peixe com qualidade no rio Cacine e um belo dia foi-nos enviado um de dimensões generosas pelos camaradas daquela unidade que certamente sabiam das nossas faltas [, em Cufar]. Se o projecto de almoço era uma delícia só para a vista, a imaginação foi ainda mais rápida e pensei imediatamente em maionese,  um prato frequente em minha casa, sobretudo no verão, e de que tinha imensas saudades. 

Propus-me imediatamente para,  como auxiliar de cozinha,  produzir a desejada iguaria e não se perdeu tempo, não faltavam ovos, azeite, sal e vinagre pelo que o principal estava garantido e portanto mãos à obra!

Como tinha em miúdo auxiliado a minha mãe a confeccionar a maionese (segurava a tigela),  segui os passos de que me lembrava e o molho foi aparecendo na enorme malga de aço com aspecto e gosto de que me lembrava e a grande quantidade produzida permitia,  além de um bom exercício de musculação para antebraço e pulso,  temperar o peixe já cozido e reservado para a degustação.

O problema foi a ausência de ervilhas, feijão-verde, alface, picles, beterraba, cenoura, azeitonas, enfim, faltava quase tudo o que normalmente acompanhava aquela refeição fresca e saborosa de que me lembrava mas felizmente não faltava o apetite, o peixe e as batatas o que já era quase literalmente uma lança em África.

O peixe e as batatas foram servidos e temperados com aquela deliciosa maionese de que ainda hoje me lembro e que talvez tivesse sido a primeira maionese servida na 
Guiné.

O refeitório em Cufar

II. Açorda de bacalhau 
com coentros e tudo

Na região Oeste onde tenho as minhas origens, os coentros eram pouco utilizados, das poucas aromáticas que tenho memória figuram a salsa, a erva azeitoneira, o louro, a segurelha, a hortelã e a cidreira. A minha primeira experiência gustativa com os coentros surgiu por acaso em Cufar,  na Guiné.

Um sargento do quadro permanente que, creio, prestava serviço no COP 4 ou no Pelotão de Intendência, alentejano de gema,  não dispensava os coentros para recordar os sabores natais e convidou-me para uma açorda alentejana, prato que eu desconhecia, na minha região apenas tinha comido a dita de alho que acompanhava habitualmente peixe frito embora muitas vezes constituía acompanhamento e conduto. 

Claro que estas ofertas nunca se desperdiçavam e aderi de imediato ao petisco que foi confeccionado na minha presença pelo sargento que dispunha de uma pequena plantação da dita erva aromática.

Pisou os alhos com os coentros e o sal, juntou o azeite e água quente de cozer o bacalhau e regou com esta extraordinária mistura uma malga onde aguardava o bacalhau já desfiado e o pão que, não sendo alentejano, cumpriu de forma admirável a sua função.

Foi um petisco maravilhoso do qual guardo boa memória, neste caso trazida da Guiné, apesar de não ser um prato da região.

Uma prova que a convivência dos militares num cenário de guerra também fomentava a troca de experiências e informações sobre costumes e tradições das diversas regiões do país o que também contribuiu para o nosso enriquecimento como pessoas e como Portugueses.

(Continua)

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16644: Estórias mal contadas que fazem História: a mina anticarro soviética que eu (e não o capitão...) despoletei, na secretaria, em Cufar, em 11/7/1973 (Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740, Cufar, 1972/73, e Pel Caç Nat 52, Bambadinca e Mato Cão, 1973/74; novo membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730)



Guiné  > Região de Tombali > Cufar >  CCAÇ 4740 (1972/74) > 1973 > Mina anticarro soviética, em caixa de madeira



Guiné  > Região de Tombali > Cufar >  CCAÇ 4740 (1972/74) > 1973 > Mina anticarro soviética, em caixa de madeira:  espoleta MUV 2


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) > O alf mil inf Luís Mourato Oliveira, à direita, com o João Santos: "Neste dia que a ementa era leitão,  o João Santos, grande companheiro que figura na imagem, pode saborear o pitéu com apetite, ao contrário do que aconteceu quando o jantar foi macaco cão e o estômago dele não resistiu".



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74)  > "Véspera de Natal de 1973,  o PAIGC estava na mata e tomamos a iniciativa de os enfrentar para que a consoada fosse 'em paz'. Aqui está parte do Pel Caç Nat 52 que emboscou com sucesso o PAIGC nesse dia, sofrendo um ferido ligeiro".


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74)  > "Do planalto de Mato de Cão a vista magnífíca do rio Geba e da bolanha de Nhabijões"


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


​1. Mensagem de Luís Mourato Oliveira, com data de 24 do corrente;

 [foto à esquerda, Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740, Cufar, 1972/73, e Pel Caç Nat 52, Bambadinca e Mato Cão, 1973/74; novo membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730]


Caro Luis

Apesar de visitar o Blog com alguma regularidade, a minha colaboração tem sido muito limitada, diria até nula.

Aproveito para te informar que,  com muita pena minha,  já não vivo na Marteleir,. Lourinhã,  desde setembro de 2015 e talvez por isso nunca nos encontrámos este ano,  apesar de todas as sextas-feiras lá estar presente para o jantar habitual da nossa tertúlia "raiz de cana".

Como verás,  o motivo do "escrito" foi o encontro com um ex-camarada de Cufar [, da CCAÇ 4740]. Talvez mais encontros me levem a dar mais alguma colaboração.

Verifiquei que,  apesar de num texto sobre o sequestro em Bambadinca​ pela CAÇ 22 [ou 21 ?] (**), de que fui testemunha e prestei informação estar identificado como tabanqueiro nº 625, não consto na lista [alfabética] dos tabanqueiros, o que gostaria, pois permitia ter talvez contacto com outros camaradas visitantes do Blog e que me conhecessem.

Por hoje não te incomodo mais, apenas te envio o texto em anexo para tua análise e aprovação e também as melhores saudações com votos de saúde e alegria.

Luís Mourato ​Oliveira

​PS - Seguem em anexo imagens de mina anticarro soviética bem como espoleta MUV 2 que não enviei no primeiro correio​


2. Comentário do editor LG:

Luís:

Tens toda a  razão, foi uma notória falha minha, tinha-te prometido apresentar a tua pessoa,  ao pessoal da Tabanca Grande,  como o novo membro, com o lugar nº 625, de modo a poderes  passar a desfrutar melhor, face a face, da companhia dos amigos e camaradas da Guiné que se sentam á sombra do nosso mágico e protetor poilão... 

Isto passou-se em 23/7/2013, imagina (!), há mais de três anos atrás!... Eu tinha acabado de regressar de Luanda e vinha cansado (*). A verdade é que  o  que te prometi, não cumpri nesse fim de semana,,, Faço-o hoje, tardiamente, mas com todo o gosto,  por ter na nossa companhia não só um lourinhanense (ou descendente de lourinhanses) mas também um camarada que comandou (e foi o último comandante de) os bravos do Pel Caç Nat 52, e que andou por terras que eu também calcorreei, com o mítico Mato Cuor, no regulado do Cuor...

Já não te posso dar o lugar nº 625, entretanto ocupado, mas passas a ter um outro lugar, cativo, sob o nº 730. Depois do Henrique Matos, do  Joaquim Mexia Alves,  e do Mário Beja Santos (por ordem alfabética, não necessariamente histórica), passas a ser o quarto comandante do Pel Caç Nat 52 a integrar a nossa Tabanca Grande.

Um alfabravo, espero poder encontrar-te um dia destes, por terras da Lourinhã, entre a Praia da Areia Branca e a Marteleira. LG


3. Estórias mal contadas que fazem História
Capa do livro

por Luís Mourato Oliveira


Na passada semana tive a surpresa do camarada “cufariano” da CCAÇ 4740, Mário Oliveira,  ex-furriel mec auto daquela companhia e um dos administradores do site daquela unidade que ele próprio criou conjuntamente, com o ex-alferes Zêzere e com o ex-furriel Faria, me contactar através do Facebook.

Dizia-me ele que,  semanalmente e com rigor, todos os sábados se desloca à Ameixoeira, onde actualmente resido, para visitar a sogra e almoçarem em convívio familiar com esta,  bem como com os seus cunhados,  e que seria agradável encontrarmo-nos para um café e uma boa cavaqueira. 

Respondi imediatamente que teria todo o gosto neste encontro após quarenta e três anos em que apenas tivemos oportunidade de trocar recordações e notícias através do site por ele criado. Combinámos o encontro e à hora combinada lá estávamos nós sentados no café do Sr. Manuel,  nas galerias de Santa Clara. 

Para minha surpresa reconhecemo-nos imediatamente,  não graças à boa memória dos nossos rostos dos vinte anos nem porque não mudámos nada desde essa data, mas sim pelas fotografias e postes que vamos trocando no Facebook. As tecnologias têm algumas vantagens!

Foi uma manhã de convívio muito agradável, sobretudo porque rebuscámos as boas lembranças daquele tempo. Celebrámos o facto de termos tido uma vida sã e com alegrias durante a nossa vida na tropa bem como no tempo que se seguiu e não abordámos nem agruras nem tragédias antigas para que o encontro celebrasse apenas as coisas boas da vida.

Uma das boas lembranças que trocámos foi um dos milagres de Cufar, de certeza que aconteceram muitos mais, que ocorreu em julho de 1973 e que é relatado no livro “Diário da Guiné“,  da autoria do nosso camarada António Graça Abreu [,  pág,  que connosco conviveu esse período que a todos marcou e de quem tenho estima e consideração,  apesar de aqui vir corrigir a estória que,  segundo ele,  ocorreu no dia 11 daquele mês. 

Estou certo de que o que Graça Abreu escreveu e a que só não correspondem os actores do acontecido naquele dia, não se deve a uma voluntária alteração dos factos, mas sim à narrativa que lhe foi dada dos acontecimentos e que aceitou como boa e posteriormente a transcreveu,  ficando assim para a construção da História.

Nesse dia um popular de Matofarroba dirigiu-se ao aquartelamento e denunciou que uma mina anticarro tinha sido colocada à entrada do aldeamento, na altura uma aldeia restruturada através da acção de reordenamentos lavada a cabo na Guiné.

Um grupo dirigiu-se ao local, localizou e levantou a mina. Tratava-se de uma mina anticarro russa, uma arma de uma simplicidade letal que se resumia a um caixote de madeira com cerca de sete quilos de trotil e uma espoleta que cedia com a pressão da uma viatura provocando assim os estragos que todos nós conhecemos. O caixote foi assim simplesmente levantado, transportado para a unidade e “arrumado” na secretaria da companhia sobre a secretária do já falecido primeiro-sargento Xavier…e lá ficou.

O alferes do terceiro pelotão, Luís Oliveira, eu próprio [. e não o capitão, segundo a versão do António Graça de Abreu,  vd. ponto 4, a seguir],  entrou por acaso na secretaria, talvez para ver a mina “apreendida”,  porque não era local que frequentasse com regularidade, e movido por uma curiosidade perigosa sobre a arma do inimigo e para verificar se esta tinha sido desarmada antes de estar assim exposta, rodou a tampa de baquelite que ocultava e dava acesso à espoleta MUV que deveria fazer a mina explodir.

Para grande surpresa minha e ainda maior susto, verifiquei que,  após a tampa de baquelite estar completamente desenroscada, alguma coisa a prendia e a impedia de se soltar do caixote mortal. Com o máximo cuidado detectei que a na base da rosca da tampa tinha sido feito um pequeno orifício e que neste estava preso um cordel que impedia a tampa de se soltar. Também rapidamente concluí que o mesmo cordel estava lasso e que, se havia perigo, o pior já tinha passado. 

Informei imediatamente os presentes na secretaria para que saíssem porque a mina estava armadilhada, cortei o cordel que accionava a armadilha, retirei a espoleta MUV que armava originalmente o engenho e com ajuda de alguém foi retirada a tampa de madeira do “caixote” ainda mina.

Havia uma segunda espoleta MUV soldada no trotil e armada no dispositivo de tracção onde estava atada a outra ponta do cordel. Na tampa da mina estavam pregados grosseiramente alguns pregos que deveriam servir de guia ao cordel para que,  ao desenroscar a tampa de baquelite, a tração do mesmo fosse orientada para que a espoleta fosse accionada e o engenho explodisse. Felizmente isso não aconteceu e,  se assim fosse, como calculam, não poderia hoje estar a contar esta estória.

Posto isto, e para que as estórias contribuam para a História com o máximo de rigor, mais que a corrigir a narrativa do Graça Abreu em que só os autores não correspondem aos acontecimentos ocorridos, ficam-me na memória a série de condutas incorrectas na acção de levantamento da mina que são reveladores da impreparação dos nossos militares e da falta de liderança para algumas acções que, pela sua delicadeza e perigosidade.  exigiam profissionalismo e regras de procedimento rigorosas e aplicadas exclusivamente por especialistas.

Concluindo, após a identificação e  localização da uma mina, esta deveria ter sido detonada no local por especialista de minas e armadilhas,  evitando assim o risco desta estar armadilhada e infringir baixas desnecessárias quer às NT quer à população civil e evitaria também os erros subsequentes que se sucederam.

A mina deveria ter sido desarmada por um especialista que melhor do que eu teria gerido o desarme da armadilha lá colocada.

O mais caricato desta estória foi a mina ter sido depositada na secretaria sobre a secretária do primeiro Xavier que certamente não carecia daquele equipamento para as suas tarefas administrativas.

Por último, o meu próprio erro de manusear uma arma que não me dizia respeito, visto ser atirador de infantaria e não especialista de minas e armadilhas,  e ainda ter ignorado negligentemente que o desarme de uma mina não deveria ser efectuado numa secretaria e onde estavam mais militares que seriam vitimas da minha incúria,  caso a armadilha tivesse funcionado.

Por último as informações militares deveriam ter aprisionado, interrogado e posteriormente controlado quem prestou a informação sobre a localização da mina,  dado o objectivo primeiro da denúncia era para que a mina fosse accionada através da armadilha pois o efeito psicológico dessa acção teria muito maior impacto devido a não ser usual pelo IN.

Felizmente estão cá todos para contar e constatar que às vezes é possível aprender com o erro, noutras nem por isso!

Lisboa, 2016.10.24
Luís Mourato Oliveira



Sítio da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74), criado por Mário, e donde consta entre outros elementos informativos a história da unidade. Um dos camaradas desta companhia que faz parte da nossa Tabanca Grande é o Armando Faria, ex-fur mil at inf, minas e armadilhas. o António Manuel Salvador, ex-1.º cabo aux enf. Pernso que há mais, cito de cor.



4. Excerto do Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, do nosso camarada António Graça de Abreu  (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp), com a devida vénia:


Cufar, 11 de Julho de 1973 [pp. 131/132]



Tudo calmo na zona, apenas uma mina anti-carro colocada aqui nas nossas barbas e um pontão que foi pelos ares.



Primeiro. Entre Cufar e o nosso porto grande, no rio Cumbijã, os guerrilheiros não costumavam cair na tentação de pôr minas nos cerca de dois quilómetros de estrada alcatroada. No caminho para o porto existe um desvio, mais um quilómetro em piso de terra que conduz a uma pequena povoação chamada Mato Farroba habitada por umas centenas de africanos e alguns elementos da milícia local, que estão do nosso lado. Pois na terra da estrada, a cinquenta metros da povoação, encontrava-se ontem uma mina anti-carro capaz de fazer voar um camião. Terá sido colocada durante a noite quando a população e os tipos da milícia estavam a dormir, ou talvez mesmo com a conivência da gente de Mato Farroba. Eles não têm viaturas, só ali passam as tropas portuguesas de Cufar que vão lá todos os dias levar materiais e ajudar na construção de novas tabancas. Mas foi a população de Mato Farroba quem descobriu a mina e avisou as NT. 

O capitão da companhia [, a CCAÇ 4740,] foi lá buscá-la, desactivou-a e depois trouxe-a para o seu gabinete. Aqui, ao desenroscar lentamente a tampa para tirar a espoleta, sentiu uma pequena pressão esquisita. Se tivesse continuado a desenroscar, hoje já não tínhamos capitão. A mina estava equipada com um sistema, um fio que conforme se desenroscava a tampa apertava esse mesmo fio que levava a um outro detonador. O capitão desconfiou, levantou cuidadosamente a tampa de madeira e cortou o fio. Salvou a vida. Estive a ver a mina, de fabrico russo, uma caixa de madeira com sete quilos de trotil, um feio instrumento de morte. (...)  
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Notas do editor:



(...) Meu caro acamarada e conterrâneo Luís Oliveira:



Acabo de regressar de Luanda, depois de um dia cansativo: levantei-me às 5h30, cheguei ao ao aeroporto às 7h00 e... embarquei no Airbus 340, do TP 288, às 13h00 (...)

Faço questão de, mais uma vez, te pedir que aceites o meu convite para te juntares à grande fanília da Tabanca Grande, passando a seres o membro nº 625 do blogue. 


 Permito-me discordar da tua opinião segundo a qual as tuas memórias pessoais da Guiné seriam irrelevantes para a historiografia da guerra colonial... Não são, pelo menos não são para mim e para todos aqueles que passaram por Bambadinca e tiveram o privilégio de conhecer os bravos do Pel Caç Nat 52... Ora, tu foste muito simplesmente o último comandante desta subunidade, composta por camaradas guineenses... E do Pel Caç Nat 52 estão cá, na nossa Tabanca Grande, não só o seu primeiro comandante, o Henrique Matos, como também outros que se lhe seguiram, o Beja Santos e o Joaquim Mexia Alves...

Estou demasiado cansado para a esta hora fazer o teu poste de apresentadação. Mas estou seguro que nos vai honrar com a tua presença. De resto, já cumpriste as nossas regras básicas, que é o envio de 2 fotos + 1 texto ou história,

Um abraço. Espero poder encontar-te em agosto na Praia da Areia Branca, na Marteleira ou na Lourinhã. LG

PS1 - Vejo que também estás no Facebook. (...)




(...) Meu caro Fernando, muito obrigado pela coragem de vires, a público, revelar esse segredo, que possivelmente guardavas há muito na tua memória... De qualquer modo, o que nos contas - ao fim destes anos todos - e que deve ter isso um pesadelo para ti e para os demais camaradas que foram feitos reféns, já não era segredo para mim... Já aqui transcrevi, ao de leve, uma conversa que tive, em Monte Real, por ocasião do nosso VII Encontro Nacional, com o último comandante do Pel Caç Nat 52, o alf mil Luis Mourato Oliveira, filho de mãe lourinhanse (...).



Ele também estava em Bambadinca, sentado tranquilamente no bar de oficiais, quando ocorreram os graves incidentes a que te referes... Foi igualmente sequestrado como tu, e mantido como refém até à chegada do brigadeiro Carlos Fabião, que, vindo de Bissau, resolveu o problema com patacão... 


Isto ter-se-á passado não com o Batalhão de Comandos Africanos, como tu sugeres, mas com o pessoal da CCAÇ 21, que era comandada pelo tenente comando graduado Jamanca, e onde havia antigos militares da formação inicial da CCAÇ 12 do meu tempo (1969/71) (...)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14630: Notas de leitura (715): Ao ler o livro “Nós, Enfermeiras Paraquedistas” assaltou-me de novo, e mais uma vez, aqueles dias então por lá (sobre)vividos (Armando Faria)

1. Mensagem do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74) com data de 12 de Maio de 2015:

Boa noite camaradas e amigos.
Não resisti, depois da leitura do livro em titulo, a fazer uma pequena resenha de DIAS que jamais se “apagam”.
Foram momentos de uma crueza tal pela realidade ali exposta que tenho certeza não vai deixar ninguém indiferente à sua leitura. Espero que façam a devida nota nas nossas páginas e que os nossos camaradas tenham a coragem de ler, sim a coragem, porque se aconselho a sua leitura, também desaconselho a mesma, tal foram os momentos porque passei ao longo das paginas que fui obrigado a recuperar para puder dar por terminada a sua leitura.
Deixo aqui um abraço de gratidão ás nossas camaradas pelo excelente trabalho agora apresentado.

PS: - Face ao que descrevo agradecia os contactos (e-mails) dos tertulianos/blogueiros para ver se localizo alguma camarada que passou por Cufar nos “meus” dias por lá vividos.

Um abraço,
Armando Faria
Fur Mil
CCAÇ 4740


Depois de assistir à apresentação do livro “Nós, Enfermeiras Paraquedistas” na messe de oficiais no Porto não resisti sem que o lesse, fui folheando alguns capítulos ao longo de alguns dias e na minha missão de acompanhar os “meus” peregrinos até Fátima, e já lá vão trinta e um anos Gaia-Fátima, aproveitei os momentos de espera para sua leitura integral.

Alguns momentos, com descrições assaz curiosas que nos levam a momentos parecidos também por nós vividos, provocaram-me momentos de riso. Mas outros porém, e esses na sua maioria, são de momentos tão reais que as nossas meninas nos descrevem que me levaram às lágrimas.

Já atingi aquele momento da vida em que não tenho de me preocupar em esconder os sentimentos, já lá vai o tempo em que “homem não chora” e o que é descrito nas múltiplas evacuações levou-me a Cufar ao período de Julho de 1972 a Julho de 1974.

Foram muitas as visitas a Cufar das nossas camaradas, sempre bem-vindas pela agradável presença que nos proporcionavam em poder desfrutar daquela visão de alguém próximo daquelas mulheres que tínhamos “deixado” à espera, mães, irmãs, namoradas e amigas, mas também, e que me desculpem e perdoem, ao mesmo tempo tão pouco desejadas pelo que a sua presença significava para nós e a memória assaltou-me de novo e mais uma vez para me fazer reviver aqueles DIAS então por lá (sobre)vividos.

Tínhamos acabado de chagar a Cufar, 22 Julho de 1972, começamos a sobreposição, o reconhecimento da zona e a 29 Julho encontramos o nosso primeiro grande baptismo.

Assim escrevi no meu livro da História da CCAÇ 4740:

“Não demorou muitos dias e, já saboreávamos o trago amargo com sabor a fel, que nos era oferecido, 29 Julho de 1972.
Saem três grupos de combate para o mato numa acção de reconhecimento e adaptação ao terreno, o 2.º e 3.º pelotão da CCaç 4740, comandados pelos Alf Mil José Lourenço Salvado de Almeida e Alf Mil José Albino da Silva Ribeiro, com o Pel Caç Nat 51, comandado pelo Alf Mil José Daniel Portela Rosa.
O Alf Mil José Daniel Portela Rosa ao afastar-se um pouco para dar indicações aos novos, activou uma mina antipessoal que quase lhe roubava a vida, não fosse a pronta intervenção da equipa de enfermagem e a rápida evacuação para Bissau, hoje não seria “apenas” a perna que lhe faltava, mas faria parte dos muitos que a vida semearam por aqueles dias nas três frentes de batalha… Este foi o trágico baptismo de fogo a que fomos sujeitos, nele ficamos privados da companhia dos nossos dois Alferes que em virtude de terem sofrido ferimentos, fruto da projecção dos estilhaços e areias, foram também evacuados.
O Alf Mil José Daniel Portela Rosa e o Alf Mil José Lourenço Salvado de Almeida, deram por terminada ali, a sua comissão de serviço, não mais voltaram ao CTIG. Já o Alf Mil José Albino da Silva Ribeiro regressou ao CTIG a 25 Fevereiro de 1973, para terminar a sua comissão de serviço. Foi colocado no destacamento de Encheia, integrado na 1.ª Companhia do BCAÇ 4610, sediado em Bissorã, tendo regressado a 13 de Julho 74”.

Como disse foram muitas as visitas e muitos os camaradas que dali vi partir, foram muitas as vezes que a pista de Cufar serviu de ponto de passagem aos muitos camaradas que foram habitar a região Sul, Tombali e Cantanhez, e foi demasiado violento ter de lembrar entre todos eles o dia 2 Março de 1974.
Se chorei não me envergonho, pois as lágrimas lavam a alma, são elas o “sumo” que brota dos olhos quando se espreme o coração.

E hoje permitam-me aqui repetir as palavras escritas pela nossa camarada paraquedista, Maria de Lourdes (Gomes):
“Ele estava muito comovido, e todos os presentes ficaram no mesmo estado. Mesmo em público, as lágrimas apareceram sem qualquer cerimónia no rosto de todo o grupo… Com ele, comigo, e com um muito jovem piloto anónimo, como anónimos, mesmo esquecidos, senão vituperados, são hoje todos os que ali sacrificaram, no mínimo, parte do melhor das suas vidas. Ou mesmo a própria vida…”

Obrigado camaradas Enfermeiras Paraquedistas pelas vossas memórias que nos trazem ao presente tudo quanto um dia passamos e deixam uma obra que deve e merece a atenção de todos que um dia serviram a Pátria em tão adversas circunstancias.
Obrigado pelo trabalho que deixam para memória futura, para que não nos esqueçam.

Armando Faria,
Fur Mil
CCAÇ 4740
Cufar, Guiné, 1972/74
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14628: Notas de leitura (714): Guiné-Bissau. um País Adiado, por Manuel Vitorino, Orfeu (1) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14612: Convívios (682): IX Encontro do pessoal da CCAÇ 4740, dia 20 de Junho de 2015, em Fátima (Armando Faria)

1. O nosso Camarada Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para o convívio anual da sua Unidade:


Camaradas e amigos,

Porque estamos a preparar o nosso IX encontro do pessoal da CCAÇ 4740 e de todos que nesses dias passaram por Cufar, agradecíamos que do mesmo fosse feita menção no Blogue. 
Gratos por mais este serviço prestado em favor, estimulo para que todos os combatentes possam reencontrar os seus camaradas e com eles conviver por alguns minutos. 



Abraço Cufariano do tamanho do Cumbijã.
Em nome da CCAÇ 4740
Armando Faria, Furriel Miliciano
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


segunda-feira, 2 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14314: Efemérides (181): Recordando o dia 2 de Março de 1974, dia de horror, impotência e luto em Cufar (Armando Faria)

1. A propósito do dia de hoje que lembra o rebentamento de duas minas em Cufar de que resultaram baixas civis e militares, recebemos do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74) a seguinte mensagem:

Bom dias camaradas 
Porque há coisas que a memória não esquece, hoje é um daqueles dias. 
Se acharem por bem coloquem para que se HONRE a memória daqueles nossos companheiros.

Um abraço 
Armando Faria, 
Fur. Mil. 
CCAÇ 4740


Os dias sucedem-se num “correr” sem fim e deles nem tudo a memória regista, mas…
Ficam-nos momentos inolvidáveis que a gente se deleita em recordar…
Outros que nós desejaríamos apagar para sempre…
Mas foram esses dias e são essas memórias que nos construíram…
Hoje recordamos o dia 02 Março de 1974 e fazemos memória daqueles que dali partiram do nosso convívio.


“DITOSOS OS DIGNOS DE MEMÓRIA”

Guiné - Região de Tombali - Cufar - Horror, impotência e luto. 
Foto: © António Graça de Abreu (2009). Todos os direitos reservados.

“A 02 Março, pelas 16h30, é accionada uma mina anticarro no percurso de acesso ao porto de Cufar-Rio Manterunga pelo jeep do Pelotão de Intendência 9288.

O jeep “voou”, os corpos dos seus cinco ocupantes ficaram espalhados em redor num cenário dantesco tal foi a violência da carga explosiva que o atingiu.
A cratera aberta no solo ficou com um diâmetro de cerca de 2 metros por quase outros tantos de profundidade, pude confirmar como especialista de MA, fiz o reconhecimento ao local nos minutos que se seguiram.

Ali de imediato foi ceifada a vida de 4 homens, o soldado caixeiro RODRIGO OLIVEIRA SANTOS, natural de Romariz, Santa Maria Da Feira, onde está sepultado, mais 3 estivadores africanos que foram sepultados no cemitério de Cufar.

A registar mais 01 ferido grave, o Fur. Mil. CARLOS ALBERTO PITA DA SILVA, que face à gravidade dos ferimentos sofridos veio a falecer no HM 241 a 17 Março.
Era natural do Monte, Funchal,  e está sepultado no cemitério das Angústias.

Guiné - Região de Tombali - Cufar - Porto do rio Manterunga - 2 de março de 1974 - Batelão ao serviço do BINT (Batalhão da Intendência, de Bissau), em chamas, depois de ter accionado uma mina. 
Foto: © António Graça de Abreu (2009). Todos os direitos reservados.

Pelas 22h00, com o baixar da maré dá-se novo rebentamento, agora é uma mina que estava colocada no leito do Rio Manterunga, foi accionada pelos barcos que estavam a ser descarregados no porto, tendo originado a morte de mais 3 civis estivadores e ferido 13 que são recolhidos, há ainda a registar 18 civis considerados mortos, carbonizados ou desaparecidos".

Muitos de nós estávamos lá!

Armando Faria,
Fur. Mil.
C CAÇ 4740
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14002: Efemérides (180): A grande invasão a Conakry foi há 44 anos - Artigo da autoria de Luís Alberto Bettencourt publicado no "Açoriano Oriental" (Luís Paulino)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14030: A minha máquina fotográfica (12): Ainda tenho, operacional, a minha Fujica Compact S, comprada em finais de 1972, em Bissau (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)

















Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/74) > Fotos, sem legenda, do álbum do Armando Faria

Fotos: © Armando Faria (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Mensagem de Armando Faria   [ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74]



Data: 9 de dezembro de 2014 às 20:02
Assunto: A minha máquina fotográfica


Boa tarde,  camaradas e amigos.

Ao vosso desafio junto hoje um pouco das minhas memorias neste tempo que nos é dado viver, FELIZ NATAL.

Esta minha máquina [, Fujica Compact S, lançada por volta de 1970, ] foi comprada em Bissau, em dezembro de 1972, e completada depois com os restantes acessórios.

A ela foi dado muito uso, pessoal, centenas de fotos e slides que ainda hoje fazem parte das minhas memórias, são eles "local" de visita.

Foi com ela que registei momentos de muita alegria e outros menos bons, os acontecimentos de 2 Março de 1974, em Cufar, dois rolos de slides que nunca me foram devolvidos.

Ainda hoje está apta a desempenhar o seu papel e tenho em reserva um rolo para tal fim, talvez venha a ser usada num encontro de "velhos" combatentes.

Hoje envio, como as fotos "dela",  algumas fotos e slides que deixo ao vosso critério a sua publicação.



Galhardete da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74) cuja duvisa era !"Antes morrer livres que em paz sujeitos"


Com os votos de um FELIZ NATAL daqui vai um abraço do tamanho do Cumbijã.

Armando da Silva Faria
Furriel Miliciano da CCAÇ 4740
Cufar – Guiné 1972/74

domingo, 2 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12787: Efemérides (150): Cufar, 2 de março de 1974: Horror, impotência, luto... (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)

Guiné > Região de Tombali > Cufar >  Horror, impotência e luto.  
Foto obtida de sides do António Graça de Abreu, autor de Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (2007)...

Guiné > Região de Tombali > Cufar > Porto do rio Manterunga > 2 de março de 1974 > Batelão ao serviço do BINT (Batalhão da Intendência, de Bissau), em chamas, depois de ter accionado uma mina.

Fotos: © António Graça de Abreu (2009). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Armando Faria [ex-Fur Mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar1972/74]

Assunto: 2 de março de 1974

Camarigo amigo.
Que a saúde seja vossa companheira nestes DIAS que temos.

Por estes dias, ao "mexer" nas memórias, para escrever um resumo da história da minha companhia, a CCAÇ 4740, dos acontecimentos que então vivi na companhia de todos os que como eu passaram por Cufar- de Julho de 1972 a Julho de 1974, revivi o dia mais negro por lá passado.

Foi a 2 Março que em Cufar se viveu um dia trágico e só o acaso o não fez mais negro. Não queria deixar de partilhar, em memória dos que então ai deixaram a vida, o que então vivi. (*)

Um abraço solidário a quantos partilham esta espaço e a todos quantos o visitam,
Armando Silva Faria,
Ex-Fur Mil MA,
CCAÇ 4740, Cufar 72/74


2. Cufar, Guiné, 2 Março de 1974, 16H30 

Quarenta anos se passaram no calendário que governa o tempo…

Para quem, por desdita, fado ou má sorte estava lá nesse dia, foi Ontem que tudo isto se passou…

Hoje refaço a memória do tempo, em singela homenagem àqueles a quem coube o destino ou má sorte de ali entregar a alma ao Criador.

Aqueles que, como eu, assistiram a todo este cenário, que viveram e conviveram com esses homens, mantêm-nos presentes nas suas lembranças. Teremos para sempre esse dia a habitar-nos a alma e o coração. Será esquecido, apenas quando a "tumba" nos der repouso.

A 2 Março de 1974, pelas 16H30, o jipe do Pelotão de  Intendência 9288,  ao dirigir-se ao porto interior de Cufar, no rio Manterunga, acciona uma mina anticarro. O jipe voou, tal foi a violência da carga explosiva utilizada que o atingiu, a cratera aberta no solo, pelo seu diâmetro de cerca de 2 metros de largo por outros tantos de profundidade, assim podia testemunhar. (**)

Como especialista de MA [, Minas e Armadilhas,]  fiz o reconhecimento ao local nos minutos que se seguiram.

Os corpos dos cinco ocupantes ficaram espalhados em redor num senário dantesco.

Ali de imediato tinha sido ceifada a vida a 4 homens, o Soldado Caixeiro Rodrigo Oliveira Santos, mais 3 estivadores africanos e 1 ferido grave, o Fur Mil Carlos Alberto Pita da Silva que, em consequência da gravidade dos ferimentos sofridos, veio a falecer no Hospital Militar de Bissau, a 17 Março.

Mas se esta tragédia é demasiado pesada e deixa já profundas marcas em todo o pessoal, o pior ainda estava à nossa espera, pelas 22H00 com o baixar da maré ocorreu um novo rebentamento de uma mina, agora accionada pelos barcos que estavam a ser descarregados no porto, tendo originado a morte de mais 3 civis estivadores e ferido 13, estes foram localizados nos momentos que se seguiram, havendo ainda a registar 18 civis considerados mortos, carbonizados ou desaparecidos.

A imagem que retenho daquilo que vi destes homens recolhidos no posto médico, escuso-me comentar, tal foi o cenário vivido nesse dia.

Honra e Glória aos amigos que vimos partir e, neles, a todos quantos um dia com seu sangue regaram esses espaços…

Pedroso, 2 Março 2014

Armando Silva Faria,
Ex-Fur Mil MA
CCAÇ 4740, Cufar 72/74

Guiné > Região de Tombali > Mapa de Bedanda (1961) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Cufar e do porto do rio Manterunga, afluente do Rio Cumbijã

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Notas do editor:


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11864: Questões politicamente (in)correctas (45): Os dois príncipes: o filho de Kate Middleton e o filho da Fatwa de Catió... (Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52)

1. Mensagem de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, úlltimo comandante do Pel Caç Nat 52 (1972/74):

 Data: 23 de Julho de 2013 às 16:30

Assunto: Os dois principes

Caros camaradas, estive ao serviço entre 1972 e 1974 na Guiné. Primeiro na CCAÇ. 4740 e depois no Pel Caç Nat 52 que desmobilizei e onde terminei a comissão já após o 25 de Abril.

Sou habitual visitante do blogue. Conheci pessoalmente o camarada Luis Graça no almoço de 2012 em Monte Real embora sejamos originários da região Oeste, ele da Lourinhã, eu da Marteleira.

Nunca escrevo sobre a Guiné porque não acho suficientemente relevantes os factos que ocorreram e dos quais fui testemunha e actor, não por falsa modéstia ou qualquer outra razão, mas porque não os considero interessantes para a comunidade que frequenta o blogue, mas guardo com enorme carinho e saudade aquela terra e aquele povo com quem tive o privilégio de servir e que quanto mais tempo passa e mais a tecnologia nos inunda e consome, mais apreço tenho pela sua cultura e tradições, sobretudo no que concerne ao respeito pelos homens grandes, pelas crianças e pelos seus mortos e história.

Hoje entro em contacto convosco porque perante o espectáculo mediático do nascimento real em Inglaterra me vieram imediatamente à memória as crianças da Guiné que cresciam sem os mais elementares cuidados de saúde, sem escola, sem nada a não ser o carinho das mães que estavam sempre presentes e mesmo quando se atiravam ao pilão para moer o arroz, ou na bolanha para lavar a roupa, os seus bebés estavam colados ao corpo na mochila dos seus panos. Por isso escrevi um pequeno texto de saudade e lamento por aquela terra e suas gentes que vos envio e que ponho à vossa disposição para que possa ser ou não publicado.


Um abraço, Luís Oliveira

2. Os dois príncipes
por Luís Oliveira

Em Londres, milhares de pessoas aguardaram à porta do Hospital de St Mary e posteriormente junto ao palácio de Buckingham pelo anúncio do nascimento do primeiro filho de Kate Middleton e William. A expectativa foi criada e alimentada por jornais e televisões de todo o mundo que ocuparam horas de transmissão e páginas de jornais, para além das empresas de apostas que irão ganhar milhões com o evento.

O neófito de 3,8 Kg e a mãe foram assistidos por um ginecologista, um obstetra e ainda um consultor neonatalogista e felizmente tudo correu muito bem apesar dos cuidados que o início da gravidez exigiu.

Felizmente esta criança irá ter sem qualquer restrição todos os cuidados de saúde, terá acesso às melhores escolas que oferecerão uma educação reservada aos eleitos e tem no futuro o sucesso garantido, mesmo que, com tudo o que lhe é oferecido se venha a revelar um homem limitado ou mesmo um imbecil.

Em Catió, Fatwa que pilava a vianda foi abrigada a suspender os seu trabalho pelas dores de parto, o bebé estava mesmo a chegar. As vizinhas Cadija e Binta correram a ajudar e Aliu nos seus 2,1 Kg, soltou o seu primeiro choro perante o desconforto do mundo em que terá de viver. 

Obama não mandou as felicitações para Fatwa e talvez Aliu não venha e ter fome, talvez venha a frequentar uma escola e aprender a ler e se tiver saúde nunca irá necessitar de médicos ou hospitais. Terá futuro na bolanha a cultivar arroz, ou com uma HK 47 ao serviço dos senhores da guerra e agentes do tráfico ou com muita sorte em Portugal num clube de futebol profissional. Será este o seu futuro mesmo que dotado um mente brilhante e inteligência superior.

O seu destino está traçado, mas mesmo com a ausência dos jornais, do público e das apostas nunca deixará de ser um príncipe porque mais que tudo é uma criança e mais um ser humano que os seus semelhantes ignoram.

Luís Oliveira

(Foto: Carlos Vinhal)

3. Comentário de L.G.:

Meu caro acamarada e conterrâneo Luís Oliveira:

Acabo de regressar de Luanda, depois de um dia cansativo: levantei-me às 5h30, cheguei ao ao aeroporto às 7h00 e... embarquei no Airbus 340, do TP 288, às 13h00... Coisa rara, hoje (ou melhor, ontem, 23,) o  cacimbo afectou o tráfego aéreo, atrasando os voos que levariam a casa umas largas centenas de desvairadas gentes que por aqui andam na labuta da vida ou que muito simplesmente vieram á FILDA 2013, a cada vez mais anaimada Feira Internacional de Luanda:: portugueses ("tugas"), chineses, cubanos, brasileiros...

Durante uma semana, de 17 até 23 do corrente,  não vi nem editei o nosso blogue. O Carlos Vinhal segurou a barra. 

Tudo para te dizer que fiquei sensibilizado e feliz pelo teu mail que acabo de ler e que me apresso a publicar, pela sua atualidade e oportunidade... Se me permites um comentário, veio-me à memória o provérbio ou ditado popular alentejano: "A rica teve um menino, a pobre pariu um moço"... Isto diz tudo sobre a distância, não apenas física como simbólica e cultural, que existe entre Londres e Catió, entre a Kate e a Fatwa... O menino nasce com 3,8 kg, o moço com 2,1 kg...Os dois são príncipes, mas o Aliu será, com todas as probabilidades, um "príncipe do nada", se conseguir ultrapassar a terrível barreira dos 5 anos...

Faço questão de, mais uma vez, te pedir que aceites o meu convite para te juntares à  grande fanília da Tabanca Grande, passando a seres o membro  nº 625 do blogue.  Permito-me discordar da tua opinião segundo  a qual as tuas memórias pessoais da Guiné seriam irrelevantes para a historiografia da guerra colonial...  Não são, pelo menos não são para mim e para todos aqueles que passaram por Bambadinca e tiveram o privilégio de conhecer os bravos do Pel Caç Nat 52... Ora, tu foste muito simplesmente o último comandante desta subunidade, composta por camaradas guineenses... E do Pel Caç Nat 52 estão cá, na nossa Tabanca Grande, não só o seu primeiro comandante, o Henrique Matos,  como também outros que se lhe seguiram, o Beja Santos e o Joaquim Mexia Alves...

Estou demasiado cansado para a esta hora fazer o teu poste de apresentadação. Mas estou seguro que  nos vai honrar com a tua presença. De resto, já cumpriste as nossas regras básicas, que é o envio de 2 fotos + 1 texto ou história,

Um abraço. Espero poder encontar-te em agosto na Praia da Areia Branca, na Marteleira ou na Lourinhã. LG

PS1 -  Vejo que também estás no Facebook.

PS 2 - Na Ilha de Luanda, e sempre que lá estou, não posso deixar de pensar nos meninos angolanos (e de toda a África, em particular da África lusófona) que aprenderam a fintar a morte...Vejam-se aqui dois poemas meus, já antigos, de outras viagens:

Os meninos da ilha de Luanda

Luanda (re)visitada

(...) Na praia dos pescadores
Há meninos, brancos e pretos,
Pé descalço e calças rotas,
A chutar a bola às balizas da sorte.
Poderão não vir a ser uns senhores,
E sorrir como o Mantorras,
O rosto espalhado em outdoors pela cidade.
Mas contarão, decerto, aos seus netos
Como souberam fintar a morte
Desde a mais tenra idade. (...)

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Nota do editor:

Último poset da série > 7 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11538: Questões politicamente (in)correctas (44): Há um provérbio fula que diz: "Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos" (Cherno Baldé)