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terça-feira, 12 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8089: (Ex)citações (137): Obrigado, Albino Silva, pelo teu poema, Que me fizeste, Guiné! (Carlos Alexandre, CCAÇ 3546, Ponte Caium, 1972/74)

1. Mensagem do Carlos Alexandre, um dos nossos bravos de Caium [, foto à esquerda]:


Data: 10 de Abril de 2011 14:39
Assunto: Poema Guiné

Luis, boa tarde. Acabo de ouvir a minha voz, no poema do companheiro Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro [, da CCS/BCAÇ 2845,] Teixeira Pinto, 68/70. (*)


A minha veia pouco tem de poética, no entanto se tivesse de expressar o meu sentimento sobre aqueles dias, estaria grato  a este companheiro que me ensinasse a  fazê-lo, tal como ele o fez. 


Acredito que, tal como ele diz, é seguramente o sentimento da grande maioria dos que viveram o bom e o mau naqueles dias, naqueles lugares. 


Obrigado, companheiro Albino,  pela expressão tão abrangente.

Carlos Alexandre, 
ex soldado transmissões,
CCAÇ 3546
Ponte Caium (1972/74)


____________


Nota do editor:


Último poste da série > 12 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8088: (Ex)citações (136): Dois milhões e meio de visitantes, os meus parabéns! (Felismina Costa)


(*) Vd. poste de  10 de Abril de 2011  > Guiné 63/74 - P8075: Blogpoesia (142): O que me fizeste Guiné (Albino Silva)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Guiné 61/74 - P8055: O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande (40): A aparição do Florimundo Rocha, de Lagoa, Algarve (Carlos Alexandre, ex-Sold Trns, CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Legenda rectificada (*): Quatro camaradas, quatro amigos: Da esquerda para a esquerda: (i) Serra (sold atirador, natural de Barcelos, e não o 1º Cabo Santiago, que é da Covilhã); (ii) Florimundo Rocha (sold condutor auto, algarvio de Lagoa); (iii) Carlos Alexandre (operador de transmissões, fadista, carpinteiro naval, natural de Peniche); e (iv) Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro, natural de Ferreira do Alentejo)...

Foto gentilmente cedida pelo meu amigo (e camarada) Jacinto Cristina,d e Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo.


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Carlos Alexandre, outro bravo de Caium, membro da nossa Tabanca Grande, a viver em Peniche:

Data: 2 de Abril de 2011 15:00
Assunto: A aparição do Rocha


Luís, boa tarde. Como era de esperar, ao ter conhecimento desta nova aparição (*), e como não podia deixar de ser, apenas esperei horas decentes para fazer o contacto telefónico, e por volta das doze e trinta surgiu a mesma voz perdida há trinta e sete anos atrás aquando,  por força das circunstâncias, o batalhão [, o BCAÇ 3883, ] regressou a Portugal e deixou os de rendição individual ao Deus dará,  sem o mínimo de condições de agir, dado o estado físico e psicológico subjacente aos dias vividos naqueles lugares... Mas até aí em grupo, onde nos identificávamos como um colectivo e nesse colectivo éramos como um por todos e todos por um,  como é evidente eu tal como outros que lá ficaram, fomos entregues ao desprezo angustiante, por aqueles cuja responsabilidade, no mínimo, era acompanhá-los e deixá-los bem entregues, para que não tivessem de passar o que é próprio de quem se sente completamente só e ao abandono, depois de termos passado por onde passámos.

Foi com muita expectativa e alegria que marquei os números indicados, e com eles o prazer de falar com o Rocha [, o Florimundo Rocha] (*). A conversa foi curta, apenas uma troca de informações, mas ficou presente a importância da sua presença no próximo encontro do batalhão a realizar nem sei quando nem onde, mas espero contactá-lo quando receber essa informação.

O Rocha estava instalado no abrigo em frente ao das transmissões, os companheiros destes grupos estavam mais perto uns dos outros,  como é natural, por consequência o contacto estava mais presente, a nossa relação era mais achegada, pertencíamos ao grupo dos abrigos do lado de Buruntuma.

Foi um prazer falar com o Rocha, espero ser muito maior o encontro depois destes anos todos.

Já a gora permitam-me voltar ao mesmo esclarecimento, o companheiro indicado como sendo o Santiago não corresponde à verdade, como já foi referenciado anteriormente, e segundo o Rocha esse companheiro é o Serra. O Rocha saberá identificá-lo melhor deu.

Obrigado pela presença tão especial que o passado nos presentei-a através do vosso esforço.

Carlos Alexandre.
____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2011 | Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Quatro camaradas, quatro amigos: Da esquerda para a esquerda: (i) Santiago (1º cabo, atirador, que tomava conta da cantina);  (ii) Florimundo Rocha (soldado condutor auto, algarvio de Lagoa); (iii) Carlos Alexandre (operador de transmissões, carpinteiro naval, fadista, natural de Peniche); e (iv) Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro, natural de Ferreira do Alentejo)... Foto gentilmente cedida pelo meu amigo (e camarada) Jacinto Cristina.


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

1. Mensagem de Susana Rocha, filha do nosso camarada, ex-Sold Cond auto Florimundo Rocha, um dos “bravos de Caium” (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74, Piche e) [vd. foto acima].

Olá, chamo-me Susana e venho por este meio contactá-lo, sou filha de um camarada vosso, o Rocha, o condutor no fatídico dia da emboscada que falam aqui (*)

O meu pai foi um dos (ou até o único) sobrevientes dessa emboscada, emboscada essa aqui demonstrada no monumento em homenagem aos camaradas mortos.

O meu pai, ao encontrar estas fotos [no blogue], sentiu-se imensamente emocionado, vendo fotos suas. Falou-me durante anos de histórias aqui agora contadas. Falou me de tudo isto, a Ponte Caium e de tudo o resto. Ele quer mais que tudo entrar em contacto convosco, ele esteve lá 22 meses.

Espero em breve que o contactem, o número de contacto é o seguinte: 939336251 [ telemóvel da família] / 282353458 [ telefone fixo de casa].

Com os nelhores cumprimentos Susana Rocha, filha orgulhosa de Florimundo Rocha, condutor, Guiné 72\74.


2. Foi dado conhecimento teor desta mensagem, no dia seguinte, ao Carlos Alexandre (bem como ao Arménio Estorinho e ao Jacinto Cristina, através da sua filha e genro, já que ele não tem email):


Carlos (Alexandre), meu vizinho de Peniche, meu camarada:

Aqui tens finalmente o Rocha, ou melhor, a filha do Rocha, a Susana que nos descobriu, e mostrou as tuas fotos e a do Cristina ao pai... Tens aqui o telefone dele, eu também vou tentar ligar-lhe.... Mas acho que devem ser vocês a ter esse privilégio em primeira mão... Vou avisar o Cristina (que não tem mail), faço-o através do marido da filha, que vive na Madeira (o meu amigo Dr. Rui Silva.... A propósito, o Cristina reformou-se por invalidez... Vou também ligar-lhe este fim de semana, agora já é capaz de ser tarde)....

Vou publicar o apelo da Susana, mandar-lhe um beijinho e um grande abraço para o bravo de Caium que é o nosso condutor Rocha, mais um camarada que tem muito que contar, e fica desde já convidado para se sentar, aqui no meio de nós, sob o frondoso, acolhedor e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Luís Graça.

PS - Arménio: Tinhas falado há tempos neste Flor, o Florimundo (Rocha), da tua terra, Lagoa... Como vês, o Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca é... Grande.

3. Nova mensagem para o Carlos (Alexandre):

Acabei de falar, ontem à noite, com o Rocha (mais conhecido por Flor, na sua terra)... Estava emocionadíssimo!... Reconstitui-me esse fatídico dia da emboscada, a 3 km de Piche, ia ele a conduzir um 411, a uns 70 à hora, que era o máximo que a viatura podia darem estrada alcatroada... De repente, começa a ver caras, dezenas e dezenas ("ram duzentos e tal"), a espreitar pela vegetação... E depois, o inferno... [Poupa-me os promenores da nossa conversa, ao telefone, deves imaginar quão doloroso ainda é para ele, ver a malta toda  morta em seu redor, e ter que fazer fogo com  a G3 dos mortos... Ele terá disparado com três G3 diferentes, e essa acção ter-lhe-á salvo a vida... Sem transmissões, valeu-lhes o socorro das chaimites, que vieram do lado de Piche, já depois depois de terminado...].

Ele está reformado, trabalhou em Silves numa fundição e foi também futebolista (2ª e 3ª divisão)... Já em Piche era um grande craque da bola, chegou a jogar pelos tipos da CCAÇ 11 (que tiraram a recruta, em Contuboel, com a minha CCAÇ 12, no 1º semestre de 1969, bem como a especialidade e a IAO; portanto, ainda conheci a primeira leva...).

Disse-me que há 20 e tal anos passou por Peniche e procurou-te. Dei-lhe o telefone do Cristina (o teu não tinha ali à mão). Também falei com a filha, a Susana, de 29 anos, que mora perto da casa dos pais. Foi o Arménio Estorninho que lhes mostrou as fotos no blogue. São conterrâneos. Tal como o Camilo. É uma terra onde todos se conhecem.

A filha, Susana, vai-me digitalizar fotos que ele tem, de Caium e de Piche, para publicarmos no blogue... E ele vai entrar pela porta grande do blogue como bravo de Caium que é, como tu e o Cristina... Agora falta apanhar o Sobral, o Teixeira, o Santiago...

Com mais tempo e vagar, falarei com ele outro dia... Lembra-se bem, do monumento, da sua construção, e sabe que fostes tu o responsável pela sua concepção...

A filha pareceu-me uma mulher de garnde sensibilidade. Prometeu trazer o pai para o blogue (ele, como muitos camaradas nossos, ainda não está familiarizado com a Internet). É uma história bonita, de amor filial. O Rocha tem ainda um filho que vai fazer 16 anos.

Por hoje chega de emoções... Publico amanhã uma notícia no blogue. Abraço. Luís

PS – Segundo percebi, o Rocha, ou melhor, o Flor, continua a trabalhar, mas agora em Lagoa, ou na região, em jardinagem (propriedade de uns holandeses, ou coisa assim assim do género). 
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Nota do editor

(*) Falta-nos ainda uma boa descrição,pormenorizada,  da emboscada, dada por alguém que tenha lá estado (como o Rocha)... Mas recapitulemos o que sabemos:

(i)  Ocorreu na estrada Bruntuma-Ponte Caium-Piche, a escassos 3 km de e Piche, a 14 de Junho de 1973,  quando uma pequena força do destacamento (duas ou três viaturas) se dirigiriam à sede da companhia para ir buscar mantimentos (que não recebiam há um mês);

(ii) Tinha havido uma grande operação junto à fronteira, com muitos meios (artilharia, força aérea, tropas especiais...), pelo que estrada Buruntuma-Piche era dada como "segura" nesses dias...

(iii) Uma força (desproporcinada do PAIG, fala-se em duzentos e tal guerrilheiros, 5 ou 6 bigrupos, o que nos parece exagerado…) fez fogo sobre as duas primeiras viaturas, entre elas o Unimog 411 (o “burrinho” conduzido pelo Rocha) , provocando a morte (imediata) dos seguintes militares destacados em Ponte Caium:

1º Cabo Ap. Metralhadora David Fernandes Torrão;
Sold At Carlos Alberto Graça Gonçalves (mais conhecido por Charlô, devido ao seu feitio brincalhão;
Sold At Hermínio Esteves Fernandes;
Sold At José Maria dos Santos.

(iv) Todos eles brutalmente mortos à roquetada e cortados depois em quatro com rajadas de Kalash, segundo a versão do Cristina... Os seus nomes constam do memorial, construído pelo Carlos Alexandre e seus camaradas, que ainda hoje existe (!) na velha ponte de Caium (velha de 50/60 anos)...

(v) Nem o Cristina nem o Carlos Alexandre iam nesta coluna: o primeiro ficou a tomar conta do morteiro; o segundo estava de férias... 

Último poste desta série > 26 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8002: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (38): Notícas de Xangai (António Graça de Abreu)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...








Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Gr Comb > O Jacinto Cristina, soldado, municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10,7... Na foto imediatamente acima, o Cristina posa para a fotografia junto de um canhão s/r 75 mm, m/52 (se não me engano...); esta arma era meramente decorativa, já que estava, de  há muito,  inoperacional (no TO da Guiné, usava-se ainda os calibres 57 mm e 106 mm, este sobretudo montado em jipes, e destinado a defesa a aquartelamentos e destacamentos; era uma arma pouco popular, perigosa para as guarnições por causa do cone de fogo, um dos meus camaradas de Bambadinca, o Sargento Parente, morreu, no Saltinho, com um disparo inadvertido de canhão s/r 82 mm, uma arma muito utilizada pelo IN, tal como o canhão s/r 75 mm).


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Jacinto Cristrina, um bravo de Caium,  fez 61 anos no dia 14, domingo. Este fim de semana vai comemorar com a família. Infelizmente, desta vez, não poderei sentar-me à mesa, com ele, a esposa Goretti, a filha Cristina, o genro Rui Silva, a neta (a Princesa)... Mais a Alice, a minha cara-metade.  O petisco vai ser borrego assado no forno do padeiro, como só a Goretti sabe fazer. 

Não podendo aceitar o convite, por razões de agenda, prometo que, na melhor ocasião, quando lá passar,  por Figueira de Cavaleiros, concelho de Ferreira do Alentejo, sentir-me-ei honrado e feliz por lhe poder dar, ao vivo  o abraço de parabéns (ou o quebra-costelas) que ele merece, de camarada para camarada. 

Aproveitarei ao mesmo tempo para dar-lhe notícias do Carlos Alexandre, outro caiumense, natural de Peniche que nos veio esclarecer sobre a história da concepção e construção do monumentos aos mortos do 3º Gr Comb... Acabo, entretanto, de transmitir por telefone o essencial desta história extraordinária de amizade e de camaradagem dos bravos de Caium, à Goretti, já que o noctívago do Jacinto estava a descansar; sei também que o Carlos, depois da publicação do seu primeiro poste,  telefonou ao Cristina, mas que este ainda não viu a foto que prova, por A + B, que o referido monumento foi colocado no tabuleiro da ponte da  ainda no tempo da malta do 3º Gr Comb da CCÇ 3546; o Carlos não compreende e tem dificuldade em aceitar a amnésia que deu a estes caiumenses, e nomeadamente aos alentejanos Cristina, Sobral e Barroca. 

Tenho comigo o outro álbum fotográfico que ele me emprestou, em Setembro passado, e que está pronto para lhe ser devolvido, depois de seleccionadas as fotos que me interessavam. É desse álbum que retiro as imagens, digitalizadas por mim, que documentam uma outra faceta do Jacinto, a do municiador (e, às vezes, apontador) do morteiro 10.7 (*).

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Nota de L.G.: 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7245: Memória dos lugares (111): Ponte Caium: Mais fotos ... (Carlos Alexandre, CCAÇ 3546, Piche, 1972/74)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 1: "O rio no seu auge, em plena época das chuvas..." 


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 2: "As máquinas da Tecnil destruídas por ataque do PAIGC... Esta empresa estava empenhada na construção da nova estrada Piche-Buruntuma"...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 3: "O Carlos Alexandre é o primeiro a contar da esquerda... O Santiago, presumo que seja o segundo".





Fotos: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




1.Mensagem do nosso camarada Carlos Alexandre (*):




 Luis Graça, boa noite. As fotografias prometidas  aqui estão:


A primeira mostra-nos o rio no seu auge.


A segunda as máquinas da Tecnil destruídas. Não me recordo como foram parar na ponte, mas tendo em conta a posição das viaturas, creio ter sido consequência de alguma emboscada entre Camajabá e Buruntuma. Liguei ao Serôdio camarada que na época era radiotelegrafista em Camajabá e tambem ele me diz que sim. 


A terceira para que se conheça o Santiago, já referenciado por engano numa foto enviada pelo Cristina. 


O camarada Arménio Estorninho que faz referencia ao nome do condutor Rocha tem toda a razão em dizer que se trata do Florimundo Rocha e que na sua terra é conhecido pelo Flor, já que eu próprio me lembro de em determinada altura o mesmo me ter dito isso.


Ainda nas referências à pequena capela (ou oratório) o camarada que enviou a fotografia e que está junto a ela, tira-me o resto das dúvidas relativamente ao texto (Nem só do pão vive o homem)... A pequena capela sofria na altura de muito mau trato e,  como estavamos com a mão na massa,  foi muito simples reparar com um pouco massa de cimento e fazer o mesmo texto desta vez recortando o próprio cimento.



Continuação de boa noite e obrigado pela possibilidade do contacto à volta de um assunto tão sério quanto rico na essência de homens tão nobres e silenciosos.


Carlos Alexandre (**) 






Peniche > Estaleiros Navais de Peniche, SA > Foto que me mandou o Carlos, com a seguinte legenda, em 5 do corrente: "Luis, bom dia. Ontem falei com o Mota que ao ouvir o teu nome reconheceu-te logo, diz-me que na altura trabalhava nas finanças, será? O local de encontro era a Humus. Junto envio uma foto do estaleiro, tirada julgo que em Março ou Abril deste ano, tendo em conta o barco verde que está a reparar e as obras do novo Plano Inclinado para construção de navios até 100 metros de comprimento. Vai ser inaugurado brevemente com duas unidades de aço já em construção de 56 metros, para Moçambique".

A empresa onde trabalha o nosso camarada Carlos Alexandre, e de que é presidente (e o maior accionista) um velho conhecido meu,  Carlos Mota, antigo oficial da marinha mercante e conhecida figura da oposição democrática da região oeste ao regime de Salazar-Caetano.  Desde 1973 que não o via. Revi-o agora, em grande forma, num vídeo do Jornal de Negócios. Quando vim da Guiné, encontrávamo-nos com alguma frequência na Livraria Húmus, cooperativa de que ele era sócio, fundador e dirigente (sem esquecer  outros jovens  de talento, irreverentes e combativos como o Zé Maria Costa, professor na Escola Industrial e Comercial de Peniche, de quem me lembro bem, e outros como o José Rosa, o Carlos Vital e o Adelino Leitão, de quem me lembro menos bem). A Húmus teve um papel de relevo na intervenção cívica e cultural de Peniche (se não me engano, terá sido encerrada por intervenção da PIDE/DGS, ainda antes do 25 de Abril, estava já eu a trabalhar em Mafra, ainda nas finanças, antes de voltar à Lourinhã e fixar-me, em 1975, definitivamente em Lisboa). 

Recordo-me de,  um dia (no verão de 1971 ou de 1972), o meu pequeno grupo de amigos da Lourinhã (onde se incluía o meu saudoso amigo Luís Venâncio Rei, na altura ainda estudante de medicina, mas também o advogado e conservador do registo predial Manuel Vasques, que trabalhava na Lourinhã e vivia em Peniche) ter lá levado o genial e também saudoso Mário Viegas (1948-1996), que costumava vir passar uns dias à Praia da Areia Branca, onde a família (de Santarém) tinha casa de verão. Não sei por que carga de água a sessão de poesia acabou ao rubro, com o truculento Zé Maria (se a memória não me atraiçoa ...) a "provocar" o provocador nato que era o Mário Viegas, estudante da Faculdade de Letras (justamente acabado de sair da tropa, e com quem tive oportunidade, nesse fim de semana, de falar da guerra na Guiné)... 


Nessa noite, para mim memorável, o Mário terá declamado, entre outros poemas que ele sabia de cor e dizer como ninguém, um excerto do  Manifesto Anti-Dantas, do Almada Negreiros (claro, não posso garantir, nem sei se nessa época o jovem Mário Viegas, então com 22 ou 23 anos, já tinha no seu reportório este extraordinário poema panfletário que é uma diatribe e um libelo contra a arrogância intelectual!...).

Carlos Alexandra, manda um abraço meu ao teu "patrão" e transmite os votos de bom sucesso para a empresa, cujo futuro é importante todos vós, para Peniche, para as nossas gentes do mar, para a nossa região, para a nossa economia, para o nosso país. E, como vês, camarada, o mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

Foto gentilmente enviada pelo Carlos Alexandre (2010)  

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Notas de L.G.:


 (**) Último poste da série > 6 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7234: Memória dos lugares (109): Ponte Caium (Carlos Carvalho, CCAV 2749, 1970/72)


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7203: Memória dos lugares (108): A Ponte Caium e o monumento, construído por nós, e dedicado aos nossos mortos: Cardoso, Torrão, Gonçalves, Fernandes, Santos, Silva (Carlos Alexandre, radiotelefonista, natural de Peniche, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, 1972/74)


Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto de  1973. Monumento construído pelo pessoal destacado na ponte, do 3º Gr Comb, e que ainda lá está, como o comprovou em Abril passado o nosso camarada Eduardo Campos.

Situa-se no tabuleiro da ponte,  no lado esquerdo,  no sentido Piche-Buruntuma. Na foto, vê-se em primeiro plano, sentado na base do monumento, o  Teixeira, de barbas; em segundo plano, e da esquerda para a direita, o Rocha (condutor, natural da Praia da Rocha, Portimão); o Carlos Alexandre (radiotelefonista, natural de Peniche), do qual só se vê a cara; e o Manuel da Conceição Sobral (natural de Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém, ajudante de padeiro do Cristina). Ao lado do Rocha, à sua esquerda, vê-se o pequeno oratório tendo, na sua base, inscrita a legenda "Nem só de pão vive o homem"... (Não tem nada a ver com o forno do Cristina, como eu supunha...) (LG).

Foto: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Abril de 2010 > Dois monumentos de homenagem aos bravos de Caium,  constituídos por: (i) Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold Ap Can [Apontador de Canhão  s/r ]Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste. Guiné- 72/74"; (ii) Pequeno oratório com a legenda "Nem só de pão vive o homem. Guiné, 1972-1974". 


É espantoso como, 37 anos depois, o memorial p.d. esteja ainda quase intacto (falta-lhe a cruz que o encimava) e em razoável estado de conservação... Noutros sítios, estes monumentos deixados pelas tropa portuguesa foram vandalizados ou pura e simplesmente destruídos.  Hoje, pelo contrário, há uma tentativa para os recuperar. Estamos no nordeste, em pleno chão fula, próximo da fronteira com a Guiné-Conacri, a meio caminho entre Piche e Buruntuma.

Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > s/d (época seca, 1973 ? )> O destacamento visto da margem esquerda do Rio Caium, a sul da estrada no sentido Buruntuma-Piche. O memorial ficava a meio da ponte, do lado do lado esquerdo do tabuleiro (no snetido Piche-Buruntuma). Se lá estivesse nessa altura, não seria visível na fotografia porque estaria tapado pelos abrigos, aqui ao centro da foto (e onde ficava as transmissões, segundo informação do Alexandre que, no entanto, está examinar melhor uma imagem destas com mais resolução; à entrada do tabuleiro, estão dois camaradas que parecem ser o Cristina e o Sobral).


Nos dois álbuns de fotografia do Jacinto Cristina (sem datas nem legendas), não há uma única foto do memorial... Com toda a certeza esta foto é dos primeiros meses de estadia na ponte, ainda na época seca (1º trimestre de 1973 ou início do segundo; o memorial foi  construído, uns meses depois da emboscada de 14 de Junho de 1973,  em finais de 1973 ou inícios de 1974).


Sabemos que um novo troço da estrada Piche-Buruntuma estava em construção, a cargo da Tecnil. De Nova Lamego a Piche já se ia há muito em estrada asfaltada. Daí talvez este desvio, contornando a ponte e atravessando o rio, e que é visível na foto. Na época seca, o rio Caium ficava seco (ou reduzia-se a um pequeno lago à volta da ponte). Este rio é um afluente do Rio Coli, que fica a sul da estrada Nova Lamego-Piche-Buruntuma e serve de linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri.




Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > O Carlos Alexandre e o Jacinto Cristina... O Carlos, soldado telefonista, de rendição individual,  será o recordista da ponte, com cerca de 18 meses de permanência neste local (de Janeiro de 1973 a Julho de 1974)... Já estava na ponte, logo no início de Janeiro de 1973, quando o 3º Gr Comb chegou... E lá ficou, quando eles se foram embora, ajudando o seu substituto, o operador de transmissões, a adaptar-se ao lugar. Depois ainda ficou em Bissau, colovado na Engenharia, à espera de completar o tempo que lhe faltava. Lembra-se de ter encontrado em Bambadinca um antigo cabo miliciano que lhe dei instrução na metrópole e que ele muito gostaria de voltar a encontrar hioje. O regresso a casa foi só em Agosto de 1974. O Cristina e o resto da companhia já tinham partido, em Junho de 1974...(Nessa altura, já se ia de avião; recorde-se que a companhia partiu para a Guiné em 23/3/1972 e regresssou a casa  27 meses depois, em 23/6/1974).





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Quatro camaradas, quatro amigos: Da direita para a esquerda: Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro10,, e não 81, diz o Carlos), Carlos Alexandre (operador de transmissões, natural de Peniche), Rocha (condutor, algarvio) e Santiago (1º cabo, atirador, que tomava conta da cantina)... 

Recorde-se aqui a opinião, autorizada, do nosso camarada Luís Borrega: "Se houvesse um ranking para os maiores BURACOS da Guiné, Ponte Caium estaria certamente no TOP TEN, e provavelmente dentro dos 10, muito à cabeça (...) . O destacamento tinha que ser rendido a cada três semanas, (só em teoria), pela necessidade de géneros, mas também porque psicologicamente era o máximo de tempo que (...) podia aguentar. No entanto só éramos rendidos mês e meio ou dois meses depois. Numa das vezes estivemos 15 dias a sobreviver só com latas de atum, café e pão confeccionado sem fermento. Podem imaginar a qualidade desta panificação. Não havia mais nada no depósito de géneros. Era o meu grupo de combate que estava lá nessa altura. Foi um bocado complicado lidar com a situação, especialmente acalmar a guarnição" (...).

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem do nosso leitor e camarada Carlos Alexandre  (e, a partir de agora, também membro da nossa Tabanca Grande, depois de termos falado os dois ao telefone, ontem, de manhã, e de ele ter aceite o meu convite; entra com o nº 458, neste dia simbólico em que por tradição evocamos os nossos mortos queridos):


Data: 31 de Outubro de 2010 00:32
Assunto: Monumento na Ponte de Caium

Companheiro,  boa noite. Sou natural de Peniche,  trabalho nos estaleiros navais, e cumprí serviço militar na Ponte Caium como radiotelefonista entre Janeiro de 73 e Junho de 74. Estive, portanto,  com o Cristina. [Sold Jacinto António Grilo Cristina, natural de Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, membro da nossa Tabanca Grande desde Março passado].

O que me leva a dirigir-me a si, deve-se ao facto de ter entrado no blogue, da Tabanca Grande,  e ter verificado algum desconhecimento da vossa parte sobre o memorial aos falecidos do 3º Grupo de Combate (Fantasmas do Leste) que se encontrava (encontra) a meio do tabuleiro da ponte,  no lado esquerdo,  no sentido Piche-Buruntuma. Esse monumento está(va) ao lado de uma pequena capela com uma pequena imagem, que está retratada na outra fotografia [, do Eduardo Campos, Abril de 2010],  embora quase destruída,  onde está(va] inscrita a frase "NEM SÓ DO PÃO VIVE O HOMEM".

O que pretendo esclarecer é o seguinte:

 O monumento foi desenhado e realizado com a participação de quase todo o grupo e todo ele foi construído com areia,  cimento e ferro. Foi desenhado e recortado no chão, forrado a papel para não colar e cheio de cimento,  ferro e pedras. Ao ser levado para o sítio onde ainda hoje está,  partiu-se a ponta que fazia o seguimento da meia lua. Como não podia ser reparado,  optamos por fazer uma pequena escadaria e uma cruz.

Envio também uma fotografia que é bastante esclarecedora. Obrigado.

Carlos Alexandre [seguem-se os contactos telefónicos, que poderemos depois dispensar a camaradas dele que o queiram contactar].



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Carta de Piche > Localização (assinalada a amarelo) da Ponte do Rio Caium, na estrada Piche (a sudoeste)-Buruntuma (nordeste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri), sensivelmente a meio entre as duas localidades. O Rio Caium corre para sul, sendo um afluente do Rio Coli (que separa os dois países, num largo troco da fronteira leste).



2. Comentário de L.G.:

Falei ao telefone com o Carlos Alexandre que, de resto, é nado e criado num concelho vizinho do meu. Falámos também de Peniche, do passado e do presente, e de algumas pessoas que conhecemos. Falámos de Alfragide que ele conhece bem, e onde tem um filho que trabalha numa empresa informática.

O Carlos vive neste momento em Coimbrã, mas continua a trabalhar na sede do Concelho, nos Estaleiros Navais de Peniche, SA, uma empresa hoje de sucesso que dá trabalho a duzentos e tal pessoas... É chefe de equipa. Já era carpinteiro naval (e com muita honra) quando foi para a Guiné. Era igualmente casado e tinha uma filha, tal como o Cristina. Pelas contas feitas ao tempo que passou na Ponte Caium, ele deve ser mesmo o recordista do lugar: um ano e quase seis meses (ou seja, entre Janeiro de 1973 e Junho de 1974)...

 Aceitou, de bom grado, o meu convite para integrar a Tabanca Grande. Depois do Cristina, é o segundo representante da CCAÇ 3546 no nosso blogue. Prometeu mandar-me uma foto actual, como mandam as regras. E outras que ainda conserva, de Caium e de Piche. Tinha falado recentemente com o Cristina e estava "zangado" com ele por não se lembrar da construção do monumento (!)... Também o Sobral não se lembrava da obra, o que lhe parece incrível... O Barroca, por sua vez, tinha uma vaga ideia... Não há dúvida que a memória humana é muito selectiva...

O Carlos foi um dos principais artífices da obra, mesmo que na sua modéstia diga o contrário. Falou-me de um outro camarada, o Barroca (alentejano,vive em Lisboa), do Sobral (que era um especialista a fazer o cimento)... Mas insiste em esclarecer, sem falsas modéstias,  que foi "obra colectiva", trabalho de equipa.  Ele era carpinteiro naval, não trabalhava com pedra nem com cimento, mas sabia fezer moldes e desenhos. A ideia até saiu bem... Tudo começou uma lata de coca-cola, uma folha de papel e lápis... Discutiu-se depois o que se devia lá pôr (os dizeres)...

Qual mármore, qual carapuça! Isto é mesmo cimento, ferro e pedras!... As letras e desenhos foram feitos a canivete, no cimento fresco...Qual empresário do pós-independência, qual benfeitor, qual carapuça!... Foi tudo à custa deles! E colocado no local à força de braço!... Em suma, com tanta inspiração como transpiração, acrescento eu...

Face à complexidade e à perfeição da obra, exigindo competências que não eram habituais encontrar-se a torto e a direito nas nossas unidades (por exemplo, desenho técnico) e partindo da errada suposição que o monumento tinho sido construído em pedra, e no pós-independência, eu próprio já tinha, com alguma ingenuidade, comentado o seguinte: "Alguém, entretanto, que nos ajude a responder às nossas dúvidas e perplexidades: (i) foi trabalho para custar bom patacão; (ii) aquele tipo de pedra (mármore ?) não era fácil de encontrar na Guiné ; (iii) será que o trabalho foi encomendado e executado na Metrópole ?; (iv) haveria alguém, nomeadamente em Bissau, com a necessária tecnologia para executar aquele tipo de trabalho ? (v) quem terá sido o "arquitecto" ; e (vi) o executante ?"...

Bem, eu imaginava alguém ligado aos mármores, à cantaria, habituado a desenhar letras, a cinzelar  a pedra... Qual quê, tudo feito com papel, cola, cimento, ferro, pedras, areão... Primeiro foi feito um molde, na terra (barro): o corpo do monumento, em forma de meia lua, foi cheio com cimento, reforçado com bocados de arame farpado (ou verguinha, já não se lembra)... As dimensões, tanto quanto o Carlos se lembra, eram mais ou menos as seguintes: cerca de 15 de espessura, 2,5 metros de altura, e outro tanto ou mais de comprimento.   O monumento, com umas centenas quilos ("mais de 200, seguramente!"),  foi depois levado à força de braço para o tabuleiro da ponte, onde depois se realizou o trabalho mais fino: o recorte das letras, os desenhos em relevo... E ali ficou, a meio da ponte, cravado no chão, a um distância de 35 cm do corrimão do lado esquerdo (no sentido Piche-Buruntuma), deixando um homem passar ou colocar-se por detrás...



Como se vê, um dos arquitectos e artífices foi um... carpinteiro naval!...Para além da concepção, aplicou-se sobretudo no desenho: letras e brasão do pelotão (3º Gr Comb, Fantasmas do Leste). Habituado que estava a trabalhar com moldes e letras, na construção naval,  a tarefa para ele não tinha segredos.  Mais difícil era cortar o cimento a canivete, para fazer as letras desenhadas. Outro colega habilidoso terá feito esse trabalho. Era preciso rapidez e perícia para que o cimento não secasse.  Foi obra "colectiva", como ele faz questão de sublinhar ("O cimento, por exemplo,  foi tarefa do Sobral, eu não percebia nada de cimento pré-esforçado").

E foi tudo planeado e executado a seguir à morte dos camaradas na emboscada montada pelo PAIGC em 14 de Junho de 1973, na estrada Buruntuma-Piche: 1º Cabo Ap. Metralhadora David Fernandes Torrão; Sold At Carlos Alberto Graça Gonçalves (mais conhecido por Charlô, devido ao seu feitio brincalhão; Sold At Hermínio Esteves Fernandes; Sold At José Maria dos Santos.  Todos eles brutalmente mortos à roquetada e cortados em quatro com rajadas de Kalash... Nessa altura, o Alexandre (como é conhecido entre os seus camaradas) estava de férias...

A partir de Agosto de 1973, o grupo começou a trabalhar a ideia de fazer-lhes uma homenagem derradeira, um memorial em que a sua memória ficasse perpetuada em cima da ponte, por muitos e bons anos... Interrogado sobre o início dos trabalhos, o Carlos aponta para finais de 1973, princípios de 1974... A obra ainda levou umas semanas. E a ideia era pintar os diversos elementos do monumento. O que não chegou a acontecer, porque entretanto deu-se fim do destacamento. Mas o brasão do pelotão (o desenho dos Fantasmas do Leste) foi muito usado nas cartas que se escreviam. Como havia vários camaradas que não sabiam nem nem escrever, o Carlos desempenhava também essa nobre função de ler e escrever as cartas e os aerogramas...

E em boa hora, neste dia 1 de Novembro de 2010, voltamos a falar da memória destes camaradas que a morte não deixou que regressassem a casa para contar, aos filhos e netos, como era a vida na Ponte Caium...

Recorde-se que, por outro lado, em 19 de Fevereiro de 1973,  também tinha morrido o Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, vítima de uma armadilha que estava a desmontar.  Ainda o grupo tinha chegado há pouco tempo ao destacamento da Ponte sobre o  Rio Caium (vd. foto ao lado, do Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav , com a especialidade de Minas e Armadilhas,  CCAV 2749/BCAV 2922,  Piche, 1970/72, que também lá penou).

Também em Março ou Abril de 1973, falecera, de acidente, o Silva, apontador de canhão s/r (que não funcionava, era só para "turra ver"). Ora, sabendo-se que o Cristina tinha ido de férias em Abril de 1973, e que nunca saía do destacamento, na altura da construção do monumento ele estava pois lá, e de certeza que também deu uma ajuda...

Sobre esta obra, devo dizer que não conheço nada semelhante, à sua dimensão ou escala, em termos de criatividade, estética e técnica construtiva, deixada pelos nossos anónimos arquitectos, engenheiros, escultores, construtores, pedreiros e carpinteiros militares no TO da Guiné.

A foto tirada pelo Eduardo Campos enganou-me, ao sugerir que o material podia ser mármore rosa, ou coisa parecida... O monumento original era da cor do cimento, afiança o Carlos Alexandre. Com o tempo, e a acumulação do pó vermelho da estrada, ganhou a cor de mármore rosa...

Foi por causa destas  inexactidões que o Alexandre viu no blogue, é que se decidiu escrever-me (e telefonar-me). E aqui fica o esclarecimento: o seu a seu dono!... E mais do que isso: os meus/nossos parabéns aos bravos de Caium, pelo exemplo não só de talento e imaginação como de extraordinária camaradagem, união, trabalho de equipa e capacidade de sofrimento !... Ponte Caium representa o que de melhor têm (e são capazes de mostrar) os seres humanos, mesmo numa situação-limite como esta.




Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto do memorial, em mais detalhe, com os quatro camaradas e amigos: em primeiro plano, sentado na base do monumento, o Teixeira, de barbas; em segundo plano, e da esquerda para a direita, o Rocha (condutor, natural da Praia da Rocha, Portimão); o Carlos Alexandre (radiotelefonista, carpinteiro naval, natural de Peniche, e um dos co-autores da concepção e execução do monumento),  e o Manuel da Conceição Sobral (natural de Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém).


Foto: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Já agora, o Carlos queixou-se que o Cristina nunca apareceu nos convívios anuais do batalhão, havendo muita malta que o gostava de rever e abraçar. Ele, Carlos, por sua vez já se deslocou de propósito à terra do Jacinto, que fica longe de Peniche, para lhe levar uma lembrança. O ano passado teve oportunidade de conhecer a Cristina, a filha do Jacinto, e o marido, o médico Rui Silva que ele achou um casal encantador.

Enfim, aqui fica mais um pedaço da história de todos nós... Prometi ao Carlos que transmitia de novo ao Cristina estas informações (que de resto já lhe foram dadas por ele, Carlos, ao telefone), disse-lhe que ficava a aguardar mais relatos da vida na Ponte de Caium e que  lhe desejava uma "boa estadia" na nova Tabanca, a nossa Tabanca Grande. E, a propósito, ele informou-me que a tabanca mais próxima da Ponte chamava-se Sinchã Tumane...

Pela minha parte, espero um dia destes encontrar o Carlos em Peniche para o conhecer pessoalmente e dar-lhe um abraço ao vivo.
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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 31 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7201: Memória dos lugares (84): Recepção popular dos piras da 2ª CART do BART 6523 (1973/74), em Cabuca (António Barbosa)