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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20443: E as nossas palmas vão para... (20): A morna, património imaterial da humanidade



1. Foi assim que o "Expresso das Ilhas", na sua edição digiiaol, deu a notícia, ontem, às 16h21




"O meu país celebra a inscrição da sua alma na alma da Humanidade"."




(...) Agora é que é mesmo. A Morna foi hoje proclamada Património Imaterial da Humanidade. “Para todo o Cabo Verde, hoje é um dia feliz, em que nos sentimos felizes de ser cabo-verdianos”, destacou o Ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente, em língua cabo-verdiana, no discurso de celebração, perante o Comité do Património Cultural Imaterial da UNESCO.

No seu discurso, que prosseguiu em castelhano, Abraão Vicente congratulou a consagração desta prática musical que é a alma de Cabo Verde, agradecendo à UNESCO, aos peritos e a toda a comunidade.

“Hoje o meu país celebra! O meu pequeno país, formado por 10 ilhas no meio do Atlântico, meio milhão de habitantes residentes e um milhão em todo o mundo, o meu país celebra a inscrição da sua alma na alma da Humanidade”, disse.

O Ministro assumiu ainda que será cumprido “com honra o privilégio de ver reconhecido como património da Humanidade, o vínculo emocional mais importante do povo e nação de Cabo Verde: a Morna”.

E, em jeito de presente do povo de Cabo Verde, apresentou “dois músicos de referência que irão representar não somente os artistas e os compositores, mas a gente simples de Cabo Verde”.

“Porque a morna é a alma do nosso povo”.

E a morna fez então ouvir, pela voz de Nancy Vieira e a viola de Manuel di Candinho, na reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade.


Caminho longe

A candidatura da Morna foi oficialmente apresentada no passado mês de Março e hoje, na cidade colombiana de Bogotá, foi confirmada como Património Imaterial da Humanidade.

Neste processo de candidatura, Cabo Verde contou com o apoio de Portugal tendo Paulo Lima, especialista na elaboração de processos de candidatura a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, estado no país para uma missão de assessoria técnica de apoio à instrução da candidatura.

A 27 de Fevereiro, o parlamento aprovou, por unanimidade, a data de 03 de Dezembro como Dia Nacional da Morna, dia em que nasceu Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido por B. Léza (1905 - 1958), um dos maiores compositores do género musical.

A 7 de Novembro, Abraão Vicente já tinha dito que a nomeação era certa, no que foi, por muitos, considerado como uma "partida em falso" uma vez que ainda faltava a confirmação oficial do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade. Esta acabou por surgir hoje durante a reunião que, se iniciou no dia 8 e termina dia 14." (...)



2. Neste dia de alegria e felicidade para os cabo-verdianos (*), a que se associam, seguramente, os demais povos lusófonos, e os amantes da morna, como eu (**), deixem-me aqui lembrar a letra (e a música) da morna talvez mais conhecida em todo o mundo, a mais emblemática, numa interpretação (imortal) da Cesária Évora, a "Sodade":


Quem mostra bo es caminho longe? [Quem te mostra esse caminho longo ?]
Quem mostra bo es caminho longe? [Quem te mostra esse caminho longo ?]
Es caminho pa São Tomé [Esse caminho para São Tomé ?]
Sodade, Sodade, Sodade [Saudade, saudade, saudade]
Des nha terra, São Nicolau [Da minha terra natal São Nicolau]

Si bo screve m', [ Se me escreveres, ]
M' ta screve bo [ Eu escrever-te-ei,]
Si bo squece m' [Se me esqueceres,
M' ta squece bo [Eu te esquecerei,]
Até dia qui bo volta [, Até ao dia em que voltares]
Sodade, Sodade, Sodade [Saudade, saudade, saudade]
Des nha terra, São Nicolau [Da minha terra natal São Nicolau]


A interpretação, na voz luminosa de Cesária Évora, pode ser ouvida aqui no aqui no You Tube, numa ficheiro áudio que tem de 18 milhões de visualizações. Este foi um (ou talvez o maior) dos  sucessos da carreira da cantora mindelense Cesária Èvora (1941-2011), mais conhecida por Cize, entre os amigos e fãs locais. Claro  que há outras mornas, que ficam para a eternidade, como o "Mar Azul" ou a "Miss Perfumado", interpretadas pela "diva de pés descalços"... Mas a morna não é só figura, uma artista, é uma criação coletiva de uma comunidade, de ula cultura,  tal como o fado, e é isso que a torna "património imaterial da humanidade"... E tal como o fado a morna canta a vida e a morte, o amor, o desejo e o ciúme, a alegria e a tristeza, a saudade da partida, a morabeza, a hospitalidade, a amizade, o quotidiano, enfim, a "petite histoire" das gentes das ilhas e da diáspora... E tudo começou na Boavista... onde as primeiras mulheres começaram a cantar a morna. E "os nossos, nossos velhos e nossos camaradas" trouxeram-nos, no sabor de regresso a casa, esse som incomfundível da morna...

Curiosamente a autoria desta morna, a "Sôdade",  ainda hoje é atribuída, indevidamente, nalguns sítios,  à dupla de Amândio Cabral / Luis Morais.

Na realidade, o autor da "Sôdade" foi Armando Zeferino Soares (1920-2007), compositor e comerciante na sua ilha natal, São Nicolau. Segundo declarações à Agência Lusa, sete anos antes de morrer,  ele explicou como esta morna nasceu quando, por volta de 1954,  foi  despedir-se de um grupo de conterrâneos, na situação infamante de "contratados" para trabalhar nas roças de cacau e café de São Tomé e Príncipe. Era  habitual , em Cabo Verde, os amigos e familiares irem-se despedir de quem ia partir, talvez para sempre. A emoção era  grande, dada a incerteza da viagem, da estadia e do regresso.

Os "contratados"  cabo-verdianos, a par de angolanos e moçambicanos, alimentavam a economia colonial local, basada na monocultura do cacau e do café.  enquanto a população local, os "forros" (descendentes de escravos), se recusavam a trabalhar nas roças.

Um ano anos, com início em 3 de fevereiro de 1953, tinha acontecido o "massacre de Batepá"  (, despoletado por um conflito laboral, tal como o massacre do Pidjiguiti, em Bissau, em 3 de agosto de 1959, que se tornou, desgraçadamenet, numa espiral de violência.)

Hoje, dia de festa,  não é a  melhor ocasião para lembrar esta triste efeméride...Em todo caso, convém dizer que sobre o massacre de Batepá há um manto diáfano de efabulações e de silêncios que mascaram e escamoteiam uma realidade complexa e contraditória, em que os próprios "contratados" foram instrumentalizados pelo poder colonial, e pelos fazendeiros,  a responder a uma alegada  revolta dos "forros" (Fala-se em mais de mil mortos, segundo fontes são-tomenses, ou em 100 a 200, segundo as autoridades coloniais da época; continua a ser, em todo o caso, um trágico acontecimento da nossa história colonial, pouco ou nada conhecido tanto dos portugueses, como dos próprios são-tomenses e dos cabo-verdianos, nos seus contornos, antecedentes, causas imediatas, processo, protagonistas e consequências; em São Tomé, o 3 de fevereiro de 1953 é feriado nacional, o " Dia dos Mártires da Liberdade"; o governador geral de São Tomé e Príncipe, cor art Carlos Sousa Gorgulho, fica para sempre associado a esta página negra da história do colonialismo; não escrevo "colonialismo português", porque o colonialismo não tem... pátria!)

A letra e a música da morna "Sôdade" traduzem muito da idiossincrasia do cabo-verdiano, dividido entre o "ter de partir" (para fugir da fome e da miséria) e o "querer ficar" (por amor à terra). Entre 1922 e 1971, estima-se em 12 mil o número de cabo-verdianos que foram forçados a emigrar para São Tomé, numa altura de reto em que a economia são-tomense e o sistema dos "contratados" entravam em crise,,,

Por outro lado, com a descolonização e a independência de São Tomé e Príncipe, muitos destes cabo-verdianos não puderam voltar à sua terra e a situação de miséria, na sequência da decadência e encerramento  das roças de cacau e de café  (,com o regresso de dois mil brancos a Portugal),  ainda hoje é um problema social (e diplomático)  que está por resolver entre as três partes implicadas, São Tomé, Cabo-Verde e Portugal.

Oxalá esta consagração mundial da morna seja, tal como aconteceu com o fado, uma oportunidade  histórica para o renascimento deste género musical, com o aparecimento de novos temas, compositores, músicos, letristas e vozes. Também Cabo-Verde está a sofrer as consequências do "rolo compressor" da globalização que, a par de aspetos positivos, está a matar a diversidade cultural da humanidade (, além da biodiversidade, em consequências das alterações climáticas e dos impactos negativos do desenvolvimento económico e social nos ecossistemas).

PS - Pode ser ver-se aqui, na RTP Play, um excelente trabalho de reportagem sobre a Morna Património Mundial da Humanidade (vídeo: 50' 30''). Um dos entrevistados é o nosso camarada e membro da Tabanca Grande, Carlos Filipe Gonçalves (ex-fur mil amanuense, QG, Santa Luzia, Bissau, 1973/74, jornalista, escritor, estudioso da morna e de outras formas da música de Cabo Verde).

Sinopse: "A Morna é um género musical de Cabo Verde, tradicionalmente tocada com instrumentos acústicos. Reflete a realidade insular do povo crioulo e os seus sentimentos mais genuínos: a saudade; o amor; a morabeza; a chegada e a partida.Apesar das várias versões sobre a sua origem, acredita-se que a Morna terá nascido no século XIX da convergência entre os ritmos melancólicos trazidos pelos judeus do norte de África; da modinha brasileira; do lundum português e mais tarde (princípio do século XX) do fado.

"Tornou-se símbolo nacional, eternizado por vozes tão carismáticas como Bana; Ildo Lobo; Tito Paris; Mayra Andrade; Lura, Mário Lúcio.

"Mas seria Cesária Évora, o seu expoente máximo, a levar a Morna a todo o mundo. Cesária Évora, é, na verdade, um dos mais fortes argumentos do dossier de candidatura da morna a património mundial entregue à Unesco em março de 2018 e cujo desfecho será conhecido entre os dias 10 e 13 de dezembro.

"A confirmar-se o parecer positivo do Comité Científico da Unesco, a Morna será proclamada Património Imaterial da Humanidade." (Fonte: RTP, 5/12/2019).

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Notas do editor:

(*)  Último poste da série > 2 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19642: E as nossas palmas vão para... (19): A. Marques Lopes, cor art ref, DFA, ex-alf mil, CART 1690 (Geba) e CCAÇ 3 (Barro) (1967/68) cujo livro "Cabra-Cega" vai ser publicado no Brasil, em edição revista e aumentada, com a chancela da Paperblur, de São Paulo

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20416: O que é feito de ti, camarada (8): Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde... Está a escrever dois livros, um sobre a história da morna; outro sobre as suas memórias dos anos de 1973/75... E precisa de duas fotos: uma do QG em Santa Luzia, e outra da messe de sargentos no QG...

1. Mensagem do nosso editor Luís Graça , dirigida ao Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74 ), foto à esquerda), membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde (*)

Data - quinta, 14/11/2019, 15:01

Assunto - A morna imortal "Maria Barba"



Carlos: Como vais ? Não tens dado notícias... Mas imagino que, como bom cabo-verdiano, deves estar muito feliz com a perspetiva de, em dezembro próximo, termos a tua/nossa morna como "patrimonio imaterial da Humanidade"...

Eu estou feliz, sou fã da vossa música, e não só da morna, desde há muito tempo. E tenho dedicado aqui, no blogue, alguns postes à Maria Barba, nome mítico da morna da Boavista... Talvez possas e queiras fazer aqui uma mãozinha...

Não sei se chegaste a conhecer a Nha Maria Barba, em Bissau, na rua eng Sá Carneiro (hoje, rua Eduardo Mondlane).  Era morava em frente à messe sargentos da FAP, e era vizinha da família do Nelson Herbert Lopes. O Nelson diz que cresceu com os netos.

O pai do Nelson e o meu, Luís Henriques, ambos futebolistas, ainda estiveram no Mindelo, em 1943, no mesmo regimento, o RI 23. O meu regressou em setembro, esteve 30 meses em São Vicente. E cantarolava-me esse morna, a "Maria Barba", razão por que me é tão querida, a letra e a música... Só agora vim a saber quem era esta mulher da Boavista...

Dá notícias. Um alfabravo, Luís


2. Resposta do Carlos Filipe Gonçalves, com data de 14/11/2019, 18:24


Olá, caro amigo:

Acabo de receber com muito prazer esta tua mensagem e sobretudo estas informações sobre a Maria Barba. Vem tudo a calhar, pois, estou em vias de edição de um livro sobre a Morna que justamente traz informações sobre as «cantadeiras» de que Maria Barba é uma das últimas representantes. O livro – que sairá por ocasião da proclamação da Morna Património Mundial em Dezembro próximo – traz uma biografia e a história dessa cantadeira e a história da Morna que leva o seu nome… e claro muito mais informações sobre a Morna. 

Agora, informação precisa sobre ela e local onde morava na Guiné, tenho é de agradecer: MUITO OBRIGADO. O livro chama-se «Capítulos da Morna» do qual constam excertos de outro livro meu – "Kab Verd Band AZ Dicionário da Música de Cabo Verde", com edição prevista para 2020. 

Quando o livro sobre a Morna sair, envio-te por email as história da Maria Barba e da Morna que dele constam… Portanto lembra-me disso com um email… OK?!

Bem, outra notícia é que já finalizei a parte sobre a Guiné, daquele meu livro de memórias (1973-1975). Estou a agora a escrever a parte sobre Cabo Verde para onde vim em Agosto de 1975… Olha, para ilustrar o livro, preciso de uma foto do QG em Santa Luzia e,  se possível, também uma foto da messe de sargentos em Santa Luzia… A verdade é que eu tirei algumas fotos logo depois da minha chegada a Bissau em 1973 – como aquelas que publiquei no blogue  – mas depressa deixei de utilizar a minha máquina fotográfica… Se os camaradas do Blogue puderem ajudar ficaria muito grato… Já fiz pesquisas tanto no Blogue como no Google, mas não encontro nada…

Bem.  o que te posso adiantar sobre este novo livro: é o depoimento de um militar que sou eu (e de outras pessoas, nomeadamente o Nelson Herbert)… e eu na qualidade de homem da rádio, dou importância ao que acontece ao nível da rádio e também outros acontecimentos… até que, depois do 25 de Abril, acabo por ingressar na Rádio Libertação, depois de passar à disponibilidade no mês de Setembro de 1974. 

Assisto então ao conturbado processo que decorreu na Guiné depois da saída da tropa e administração portuguesa… No ano seguinte acabo por ser destacado na equipa de reportagem que cobre a Independência de Cabo Verde em 5 de Julho de 1975… Destacado para um nova missão em Cabo Verde em Agosto de 1975,  acabo por ficar e não regresso mais a Bissau. Em Cabo Verde no seio da Revolução em curso, continuo o trabalho na rádio…

Bem, terminei já os capítulos sobre a Guiné… estou agora a recolher depoimentos para a parte sobre Cabo Verde de 1975 a 1980… quando vou estudar em Paris. Curioso sobre o titulo? Aqui vai: "Heróis do Mar – Bombolom – Cimboa"… depois de ser ler o livro, entende-se o porquê do título…

Carlos Filipe Gonçalves (**)

Jornalista Aposentado

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

14 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19783: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (65): Pedido de autorização para citações a inserir no livro sobre a guerra colonial, de Carlos Filipe Gonçalves, jornalista, cabo-verdiano, que foi fur mil, na chefia da Intendência em Bissau, de março de 1973 a agosto de 1974

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19816: Memórias do QG/CTIG, Santa Luzia, Bissau (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, 1973/74)





Carlos Filipe Gonçalves, hoje jornalista aposentado, 
a viver na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde


1. Mensagem, com data de 16 do corrente, de Carlos Filipe Gonçalves, ex-.fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro recentíssimo da Tabanca Grande, com o nº 790 (*)

Olá,  Luis:

Como prometido,  aqui vão algumas fotos do tempo da minha Comissão na Guiné . Foram todas tiradas logo no início da minha chegada entre Março e Maio de 1973,  tinha comprado uma máquina fotográfica a um camarada durante a viagem no Uíge… De modo que logo que cheguei, andava entusiasmado com o “aparelhómetro”,  tirava fotos por tudo e por nada… Mandava revelar naquela casa fotográfica aí perto do Hospital em Bissau, naquela rua que desembocava na estrada de Santa Luzia. A Foto Cardoso!... Pois é,  o homem saiu de Bissau depois do 25 de Abril e instalou-se na Cidade da Praia,  aqui em Cabo Verde e a Foto Cardoso está aqui, desde 1974…

Falando agora de recordações das Fotos que envio e que devem interessar aqueles que estiveram em Santa Luzia en 1973/74:



Fotnº 1

1 - Foto da Piscina da messe de Oficiais, com o ecrã de cinema ao fundo. Foi aí que aconteceu o episódio muito bem descrito no Blog pelo camarada Abílio Magro com o titulo – "Bomba" no Clube de Oficiais do CTIG”.



Foto nº 2


2 – Foto do Poilão que fica(va) na pequena rotunda da estrada que vem do QG e vai dar à Messe de Sargentos.



Foto nº 3

3 -  Foto na zona dos quartos da Messe de Sargentos em Santa Luzia.


Fotos (e legendas): ©  Carlos Filipe Gonçalves (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Finalmente, a ainda em relação ao camarada Abílio Magro (**), para comentar a foto em que ele aparece ao lado de uma piscina em construção: Como ele bem disse, os sargentos só podiam tomar banhos de piscina da Messe de Oficiais, às quintas de manhã e aos sábados à tarde.

 Bem, o início de obras de uma piscina na Messe de Sargentos que é a que se vê na foto [º 1], foi muito acolhida! As obras começaram, o meu quarto é um daqueles cujas janelinhas se veem na foto atrás do camarada Abílio Magro.



Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG / CTIG > Cartão que nos foi distribuído para podermos circular no QG depois da bomba. Reparem nas datas de emissão e validade (parece que contavam comigo até ao fim da comissão). (**)




Guiné > Bissau> QG/CTIG > Santa Luzia > c.  1974 > O Abílio Magro, "junto às obras da piscina de sargentos que estava a ser construída nas traseiras dos nossos quartos" (**)


Fotos (e legendas): © Abílio Magro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Passei mal com aquelas obras, Caterpillar logo de manhã cedo, poeira em enorme quantidade… Infelizmente as obras daquela pisca dos Sargentos nunca foram terminadas, porque aconteceu o 25 de Abril, e poucos meses depois teve início a retirada militar da Guiné. 

Como eu fiquei na Guiné até 1975… posso dizer o seguinte: Aquilo tudo ficou ao abandono, depois das chuvas de 1974, a piscina em obras ficou inundada! A piscina da Messe de Oficiais (entretanto Hotel 24 de Setembro) esteve aberta ao público em 1974/75, parece que funcionou ainda durante mais algum tempo… Quando visitei Bissau em 1987 a piscina estava toda escangalhada, inutilizada. Não sei se existirá actualmente…

Aquele abraço

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado 
e já agora ex-Furriel Miliciano n.º 800 048/71 

terça-feira, 14 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19784 Tabanca Grande (479): Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74... Radialista, jornalista e escritor, vive na Praia, Cabo Verde. Senta-se à sombra do nosso mágico poilão, sob o nº 790

Carlos Filipe Gonçalves. Foto da página do Facebook.
1. Resposta de Carlos Filipe Gonçalves ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande (*)

Data: terça, 14/05/2019 à(s) 12:54

Olá, Luis:

É com emoção que acabo de receber e ler a tua resposta à minha mensagem. Afinal o mundo é pequeno, e conhecemo-nos todos ou então temos ligações que cruzam as nossas vidas.

Sou amigo do Manuel Amante desde os tempos do Liceu em Mindelo, encontrámo-nos na Guiné onde ele trabalhou comigo na Chefia da Intendência. O Manuel Amante concedeu-me uma entrevista para este livro que estou a escrever.

Conheço e bem o Leão Lopes, somos amigos. E, como bem dizes, sou sobrinho da Orlanda Amarilis, esposa de Manuel Ferreira, hospedava-me em casa deles em Linda Velha quando estive em Portugal a fazer a recruta em Tavira (CISMI) e Vendas Novas (EPA) porque entretanto fui reclassificado, depois fiz a especialidade em Leiria. Fui amanuense.
Capa do livro" Kab Verd Band"
(Praia, Instituto do Arquivo 
Histórico Nacional, 2006)
Olha, sou de Mindelo, S. Vicente, mas, vivo na Praia desde Agosto de 1975 até hoje. Sou jornalista, aliás antes da tropa, trabalhei na Rádio Barlavento em S. Vicente, depois ao chegar ao fim a guerra na Guiné, resolvi ficar para dar uma ajuda, pois havia falta de quadros, fui então para a rádio, estive lá um ano… Depois da Independência de Cabo Verde decidi voltar, cheguei à cidade da Praia em Agosto de 1975, onde continuei na rádio e iniciei assim uma carreira.

Fui estudar em França no INA, Instituto Nacional de Audiovisual (1980 a 1982). Cheguei a Director da Rádio Nacional de Cabo Verde (1986 a 1991), fundei mais tarde uma rádio privada, a Rádio Comercial, onde estive como director (1998-2013), finalizei a carreira e entrei na reforma.

Olha, a biografia na Wikipedia está certa e refere-se apenas à minha faceta de investigador da música, porque na verdade sou músico, as vicissitudes da vida me empurraram para o jornalismo e acabei por fazer programas sobre a música ao longo de anos, acabando por reunir num livro o trabalho realizado nesse campo.

Acabo de concluir um "Dicionário da Música de Cabo Verde" (650 páginas,  A4), que já está com o editor, talvez saia no final deste ano ou início do próximo… Justamente quando finalizei aquele livro (desde 2018) resolvi escrever as minhas memorias da rádio! Então, já conclui um livro sobre a Rádio Barlavento em S. Vicente, entrevistei muita gente e conto a história da invasão dessa emissora pelo PAIGC e levo o leitor a interrogações sobre as consequências da nacionalização e monopólio até hoje.

No seguimento, iniciei agora as minhas memórias da rádio na Guiné, desde a audição do PIFAS e da ERG, depois a minha entrada na Rádio Libertação, depois Rádio Difusão da Guiné e finalmente a minha vinda e carreira em Cabo Verde. Tenho muitas entrevistas ainda para fazer, que servem para confirmar as minhas memórias e as minhas descrições. Deus me ajude a chegar ao fim deste projecto.

Foi pois na procura de dados e outros testemunhos para o livro que encontrei o teu blogue e outros de muita utilidade e quis a sorte que tivéssemos este encontro. Já estou longo nesta missiva, mas como jornalista que sou, devo dizer, cito sempre as fontes, e isso é primordial porque dá credibilidade e é a chave de um bom jornalismo, aliás, bem como a apresentação de várias fontes e versões dos factos.

Aproveito desde já esta missiva para te enviar a minha história militar: Carlos Filipe Fernandes da Silva Gonçalves, Furriel Miliciano, nº 800048/71, iniciei em 3 de Janeiro de 1972 no CISMI em Tavira o curso de Sargentos Milicianos de Infantaria.

Pouco depois, na sequência de uma consulta no Hospital Militar em Évora, fui enviado para o Hospital Militar Principal em Lisboa, submetido à Junta e reclassificado para os Serviços Auxiliares, devido ao alto grau de miopia que tenho. Fui então enviado para Vendas Novas, onde decorria uma recruta para malta dos Serviços Auxiliares. Reclassificado Amanuense (antes era fotocine) fui para Leiria em 1 Julho de 1972 onde fiz a especialidade que findou em Setembro. Fui então colocado no Quartel General em Lisboa, em S. Sebastião da Pedreira, mobilizado para Guiné logo a seguir, embarquei no navio Uíge em final de Fevereiro de 1973 numa leva de militares em Comissão Individual de Serviço.

Cheguei a Bissau em 3 de Março, fui colocado no Quartel General em Santa Luzia, prestando serviço na Chefia da Intendência, o meu chefe Tenente Coronel Gonçalves Ferreira, na secção de Autos Viveres/Artigos de Cantina. O meu chefe foi o alferes Melo Franco.

Passei à disponibilidade a meu pedido em Bissau, em 29 ou 30 de Agosto de 1974. 2.ª Classe de comportamento, nunca fui admoestado nem tive qualquer castigo

Olha, vou 'scanear' umas fotos que tenho no quartel em Santa Luzia e enviarei com a brevidade possível.

Aquele abraço e Deus nos dê muita Saúde

Carlos Filipe Gonçalves
Jornalista Aposentado


2. Comentário do Luís Graça. editor:

Camarada, e novo grã-tabanqueiro: é uma felicidade cruzarmo-nos, nesta rede social que tem mais de 11 milhões de páginas, e junta amigos e camaradas da Guiné...

Já arranjei uma foto tua para te poder apresentar ao resto do pessoal.  Quando chegarem, publico as tuas fotos do tempo de Santa Luzia, Bissau, 1973/74.  E espero que nos contes algumas histórias desses tempos efervecentes do antes e do depois da independência da Guiné-Bissau (1974), mas também da tua terra, Cabo Verde (1975). 

Precisamos de fazer mais pontes, e uma delas é com Cabo Verde, terra a que nos ligam fortíssimos laços históricos, étnicos, linguísticos, culturais, musicais, afetivos... Sou fã da música de Cabo Verde, cujos sons passei aos meus filhos, quando eram pequenos. Um deles também é músico, além de médico, toca violino nos Melech Mechaya, banda de música klezmer que já atuou na tua terra, por ocasião do 20.º Festival Sete Sóis Sete Luas (2012). Estiveram, inclusive, na cidade da Praia, em 8/11/2012.

Passas a sentar-te à sombra do nosso mágico e fraterno poilão (não há tabanca sem poilão...), sob o n.º 790 (**). O teu nome passa a figurar na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande, na coluna estática do lado esquerdo do blogue. Lá encontrarás também o nome do Manuel Amante da Rosa. Desejo-te muita saúde e longa vida para poderes realizar os teus projetos literários. Vamo-nos encontrando por aqui, partilhando memórias (e afetos). E talvez para o ano na Praia.
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Guiné 61/74 - P19783: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (65): Pedido de autorização para citações a inserir no livro sobre a guerra colonial, de Carlos Filipe Gonçalves, jornalista, cabo-verdiano, que foi fur mil, na chefia da Intendência em Bissau, de março de 1973 a agosto de 1974

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Carlos Filipe Gonçalves, cabo-verdiano, escritor e jornalista:

Data: domingo, 12/05/2019 à(s) 15:00

Assunto: Pedido de Autorização para citações a inserir no livro de Carlos Gonçalves

Olá, Luís Graça:

Sou Carlos Filipe Gonçalves, cabo-verdiano, 68 anos fiz a tropa na Guiné, 3 de Março de 1973 a 31 de Agosto de 1974, como furriel, estava colocado na Chefia da Intendência em Bissau.

Estou a escrever um livro sobre as minhas memórias daqueles anos do fim da guerra na Guiné, porque constatei que em Cabo Verde, não se conhece nada do que por lá se passou. Há os relatos dos poucos cabo-verdianos que estiverem no PAIGC, mas que não passam de pequenas historias… não livros, não há nada sobre isso…

Bem, estou a escrever as minhas memórias e as dos outros através de entrevistas… Pelo caminho fiz pesquisas na Internet e encontrei este blogue, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com, com informações de muitos acontecimentos que eu presenciei.

Ora, acho interessante utilizar citações de não mais de 3 ou 4 linhas para ilustrar com a citação da fonte. Venho pois pedir a tua autorização para utilizar esses pequenos extratos que serão devidamente acompanhados do link e titulo do blogue.

Se em Portugal, já se falou muito e já se debateu o que se passou na Guerra Colonial, é um verdadeiro paradoxo, tal nunca tem acontecido em Cabo Verde.

Agradeço desde já a tua colaboração, desejo-te saúde e felicitações por manter este blogiue, rico em informações sobre a Guerra na Guiné.

Melhores cumprimentos

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

2.  Resposta do nosso editor Luís Graça:

Camarada Gonçalves: sou um pouco mais velho, fiz a minha comissão de serviço militar, na Guiné, no leste, numa companhia da "nova força africana" do gen Spínola, de maio de 1969 a março de 1971. 

Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu. Tenho, de resto, aí alguns amigos, a começar pelo Manuel Amante da Rosa, que é do teu tempo. Tem cerca de 30 referências no nosso blogue e é membro, de longa data da nossa Tabanca Grande (tertúlia ou comunidade virtual dos amigos e camaradas da Guiné: são 789, neste momento, incluindo 72 que já morreram).  Foi também fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74; é  embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itáliadesde 16/1/2013, e agora também em Malta.

 Sou do tempo do Leão Lopes, que também passou por Bambadinca e pintou lá alguns quadros (retratos). Era do BENG 447, foi também furriel miliciano.. Deves conhecê-lo, foi ministro num governo de Cabo Verde. 

E, claro, tenho aí, em Cabo Verde, amigos que foram meus alunos, na Escola Nacional de Saúde Púlica da Universidade NOVA de Lisboa... Também o meu pai esteve no Mindelo,em 1941/43, na mesma altura do Manuel Ferreira (1917-1992)... Pelo que li na Net, és sobrinho da esposa do Manuel Ferreira...O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande|

De qualquer modo, sobre Cabo Verde, temos já cerca de 300 referências no nosso blogue.

Em relação ao que me pedes, estás a autorizar a utilizar o blogue como fonte (pública) de informação e conhecimento (*), Dos textos que utilizares citas a fonte, como mandam as boas regras da comunicação (jornalística e académica)... E depois, se possível, mandas-nos um exemplar do teu livro, quando for publicado, para fazermos a devida recensão e divulgação.

Por fim, fica aqui o convite para te juntares ao blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné... Preciso apenas de duas fotos tuas, uma do tempo da Intendência em Bissau e outra mais atual... Além de duas ou três linhas de apresentação da tua pessoa... Não sei se o que consta na Wikipéida a teu respeito, está correto... Para já, não refere o teu passado como militar do exército português.

Um alfabravo (ABraço), Luís Graça
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Nota do editor: