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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11058: O Spínola que eu conheci (28): Figura incontornável da nossa História, que respeito mas não idolatro (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, 1970/72)

O SPÍNOLA QUE EU CONHECI

 por Hélder Sousa [, foto à esquerda, no seu quarto em Bissau, quando era fur mil trms TST,  nov 1970 / nov 1972]]

Esta série tem dado a oportunidade para que uma quantidade e diversidade notável de camaradas se tenham pronunciado sobre o tema.

E as intervenções têm sido desde o simples ‘conhecimento’ pelo contacto visual, pelo contacto pessoal directo, até às diversas considerações que a figura de António Spínola suscita. (*)

Eu também tenho um “Spínola que conheci”. Mas não tenho a menor dúvida em afirmar que António Spínola (aquilo que foi antes de Brigadeiro, o Brigadeiro, o General, o Marechal, o ‘caco Baldé’, etc.), é uma figura incontornável da História de Portugal e não pode, nem deve ser ignorado.

Estive perto do Comandante-Chefe do CTIG, António de Spínola, que me lembre, por duas vezes.

(i) Em Piche, fevereiro de 1971

A primeira foi em Piche e disso já dei conta num artigo que enviei para o Blogue a propósito do Carnaval. Nesse artigo relatei que, em consequência da Acção 'Mabecos’ ocorrida em Fevereiro de 1971, por ocasião do Carnaval desse ano, entre 20 e 22 de Fevereiro, o General Spínola ‘aterrou’ em Piche. E foi lá porque o que deveria ter sido o operacional responsável no terreno pela referida operação, Major cav Mendes Paulo (operação essa que correu bastante mal em termos organizacionais e também por atitudes, digamos assim, menos correctas por parte de ‘oficiais superiores’, daqueles que supervisionavam por via aérea a ‘progressão’ no terreno), quando regressou a Piche no final da referida operação, em atitude ostensiva de desagrado por tudo o que tinha acontecido, arrancou os seus galões de Major, deitou-os para o caixote de lixo que estava perto da porta do seu quarto, fechou-se nele e recusou-se a sair de lá a não ser que fosse o próprio Comandante-Chefe a ir ter com ele. Tudo isto foi visto e falado por muita gente.

E foi o que aconteceu, o General Spínola deslocou-se a Piche, não me recordo agora se foi logo no dia seguinte, mas creio que sim, dirigiu-se directamente ao alojamento do Major, conversaram, e depois o Major acabou o seu isolamento. Havia quem dissesse que o General tinha o Major de Cavalaria Mendes Paulo em alta estima e consideração e que se devia a essa estima mútua o facto das “Chaimites” terem ido para a Guiné.

Como se percebe da situação, ‘conhecer o Spínola’, nestas circunstâncias, foi só de longe, mas deu para ver e confirmar tudo aquilo que já aqui se tem dito sobre a sua pose, a sua figura, o seu carisma, a sua capacidade de suscitar a admiração e o reconhecimento por parte dos soldados.



O Capitão [Raul] Folques, até então 2º Comandante do Batalhão de Comandos, a receber das mãos de Spinola os galões de Major do Almeida Bruno. Uma cerimónia original. Foto do livro Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80, de Manuel Bernardo.  Com a devida vénia aos Coronéis Bernardo e Raul Folques e ao General Almeida Bruno. [Virgínio Briote].




Guiné > Bissau > Santa Luzia > Quartel do Agrupamento de Transmissões > 1972 > Foto do álbum do Sousa de Castro.

Foto: © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados

(ii) Na inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia [, finais de 1971 ou princípios de 1972]


A outra vez em que estive com Spínola foi aquando da inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, [Bissau,] não me lembro agora da data.

Mas lembro-me bem das peripécias relacionadas com isso. Eu integrava a ‘guarda de honra’ e fiquei posicionado quase na ponta direita das tropas que estavam mais próximo e em frente ao palanque onde o General ia discursar. Podia assim vê-lo quase de perfil do seu lado esquerdo, a uns escassos 4 metros.

Em certa altura do discurso - parece que o estou a ouvir - Spínola diz, com a encenação habitual, ou seja, de braços abertos, dobrados pelos cotovelos, como quem está a acenar, agradecendo, com a sua voz meio rouca, meio gutural, marcando bem as pausas:

- “porque aqueles …”

- “que dizem …”

- “que o Exército …”

- “é uma máquina acéfala…”

Nisto, um ruído vindo da máquina do operador fotocine indicou que houve um problema. Fita partida? Encravamento? Já não me recordo, mas isso passou-se exactamente à minha frente pois vi claramente os olhos do nosso General faiscarem, quase fulminando o operador que estava perto de mim, em clara reprovação pelo sucedido, e manteve a pausa do discurso enquanto resolveram o problema. Breves instantes é certo, mas naquelas circunstâncias pareciam uma eternidade.

Resolvido o problema, o General retomou o ‘fio da meada’, e agora com o pingalim na mão esquerda recomeçou:

- “porque aqueles …”

- “que dizem …”

- “que o Exército …”

- “é uma máquina acéfala…”

- “em breve irão ver que assim não é!”

Reparem que esta última frase era a que faltava antes, mas ele achou por bem fazer todo o discurso.

Como disse, não tenho bem presente a data do acontecimento, inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, o qual deve ter sido no trimestre final de 1971, inícios de 1972, mas quem quiser ler nas entrelinhas pode ver já aqui, principalmente por essa frase final, a promessa/ameaça de maior protagonismo pessoal ‘em breve’…

Estes foram os dois momentos em que estive mais perto do Comandante Chefe, General António de Spínola. Entram portanto, naturalmente, na categoria do “Spínola que conheci”.

Mas há outros aspectos que podem ser chamados à consideração.

Que António de Spínola é uma figura incontornável da nossa História, disso não tenho nenhuma dúvida e até já o referi lá mais acima. Que o seu percurso de vida é controverso, também acho que esta afirmação, em si mesma, não tem contestação. Tem, quanto a mim, entre outras coisas, um grande mérito, trata-se de uma pessoa que procurou ‘ter opinião’, procurou agir no seu tempo, ou melhor, nos seus tempos e, já se sabe, só não erra quem não faz.

Agora, se me perguntarem se sou fã, como agora é moda, do Spínola, ou se sou seu detrator, o que direi?

Tenho que saber de que Spínola se trata.

Do ‘jovem Spínola’ fascinado pelas fardas, pela organização, pelas práticas do Exército Alemão dos anos 30-40? Do Spínola da Guerra Civil de Espanha? Do Spínola em Angola? Do Spínola na Guiné? Daquele que implementou a política de “Uma Guiné Melhor” procurando ganhar a população para o ‘lado’ de Portugal tentando fazer em poucos anos o que não fora feito em séculos? Daquele que implementou a “acção psicológica”, umas vezes exaltada, outras vezes rejeitada? Quantas vezes não se ouviu o “Zé Soldado” dizer “o que faz ‘isto’ é a filha da puta da psícola, agora já nem se pode dar uma chapada num cabrão dum preto”? Do Spínola que escreveu “Portugal e o Futuro” em que foi capaz de apontar caminhos que, na prática, eram contra a prática governamental que afinal tinha seguido toda a vida? O Spínola que se envolveu em conspirações?

A vida de um homem é um balanço complexo, não se pode ‘agarrar’ apenas num determinado tempo e espaço, é todo o conjunto. Tem todo o mérito de não se acomodar, de empreender uma constante evolução, de raciocinar e, pelo menos aparentemente, mudar quando entendeu dever mudar.

É um elemento de referência de uma época. Mas a minha consciência diz-me que o devo respeitar mas não o posso idolatrar.

Um abraço para toda a Tabanca!

Hélder Sousa

Fur. Mil. Transmissões TSF

_______________

Notas  do editor:

(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3926: Efemérides (17): Piche, 22 de Fevereiro de 1971 ou... Carnaval, nunca mais! (Helder Sousa)

(...) Referência à Acção Mabecos, feita pelo Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp, no seu livro No Ocaso da Guerra do Ultramar, obra em que retrata a história da sua Unidade, a CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, Canquelifá, 1972/74. Esta acção, em que tomou parte o BCAV 2922, em 22 de Fevereiro de 1971, é descrita como tendo sido de escolta e de segurança a forças de artilharia no trajecto Amedalai - Sagoiá - Rio Sagoiá - Rio Camongrou - Piche 4E545 - Rio Nhamprubana - Piche... As NT formavam 4 Agrupamentos, sendo o primeiro comandado pelo Major Mendes Paulo (...)

(...) As forças das NT foram comandadas pelo Major Mendes Paulo (à data oficial de operações do BCAV 2922, homem muito conceituado no seio da Arma de Cavalaria, da confiança do General Comandante-Chefe, falecido em 6 de Setembro de 2006 e autor dum livro intitulado “Elefante Dundum”), que o IN “composto por brancos e pretos sujeitou as NT a forte emboscada da qual resultou 3 mortos, 1 desaparecido (“apanhado à mão”), 2 feridos graves, 3 feridos ligeiros e a destruição de um Unimog e uma White”, sendo que é indicado terem sido infligidos ao IN 6 mortos e vários feridos. (...)

Vd. também poste de 25 de julho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10195: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (12): O senhor Major Calixto

(...) Comentário de António J. P. Costa.

(...) Olá, Camaradas!... Conheci o major Mendes Paulo que passou à reserva a seu pedido, depois desta comissão. Creio mesmo que ainda meteu o requerimento durante a comissão. Era um homem sério e íntegro, embora tivesse "o seu feitio". Escreveu um livro e CD que se chama "O Elefante Dundum" em que relata assuntos tão interessantes como a aquisição/experiência das Chaimites, ou o uso de dois carros de combate M5A1 que estavam para ir para a sucata e que ele recuperou e usou em Angola, com certo êxito.
Enfim um livro interessante. Pena que tenha sido edição de autor, mas na BibEx existe e pode ser consultado. Um Ab.
António J. P. Costa


Quinta-feira, Julho 26, 2012 3:20:00 PM

(**) Vd. poste de 13 de setembro de 20006 > Guiné 63/74 - P1067: Morreu o major Mendes Paulo (BCAV 2922, Piche, 1970/72) (José Martins)

(...) Major de Cavalaria JOÃO LUIS LAIA NOGUEIRA MENDES PAULO, que foi Oficial de Informações e Operações no Batalhão de Cavalaria nº 2922, oriundo do Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz.

Chegou à Guiné em 23 de Julho de 1970 e assumiu o sector L 4 - Piche em 12 de Agosto de 1970. Regressou à Metrópole em 20 de Junho de 1972.

É autor do livro 'Elefante Dundun', que conta as suas aventuras em Macau, Angola e Guiné. O livro é acompanhado de um DVD, que contou com a colaboração de seus filhos. (...)


(***) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2013 > Guimé 63/74 - P11043: O Spínola que eu conheci (27): Depoimentos de António Rosinha / António J. Pereira da Costa / José Martins / Augusto Silva Santos / José Manuel Dinis


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10680: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (3): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)



1. Terceiro de uma série de 4 postes com fotografias enviadas pelo nosso camarada e tertuliano Fernando Súcio (foto à esquerda), ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74, fotos estas pertencentes ao seu conterrâneo, o outro nosso camarada Leonel Olhero (foto à direita), ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard), Bula, 1971/73.


 
Bula, 21 de Julho de 1973 > Dia da Cavalaria > O Gen Spínola passa revista às tropas acompanhado pelo Brigadeiro Benajol

João Landim, 3 de Outubro de 1973 > Dia em que o Fur Mil Leonel Olhero se despede do seu amigo Fernando Súcio

Coluna na estrada de Bissorã

Bula > Invólucros de munições de morteiro 120

Bula > Três conterrâneos: Norival Carvalho, Leonel Olhero e Fernando Súcio

Bula > Casa dos geradores > Estragos provocados por um míssil

Foto sem legenda


Farim > Travesia do Rio Cacheu

Bula > Convívio do pessoal do Esq Rec 3432 (Panhard)

Bula > Pessoal do Esq Rec 3432 (Panhard)

Fotos: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por CV]
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10667: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (2): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10307: Estórias cabralianas (73): O Conde de Bobadela (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso alfero Cabral, através do seu representante na terra, o nosso camarigo Jorge Cabral:

Amigos!

Após achaques vários e um grande susto. o Alfero estoriador está de volta.

Abraços.

J. Cabral

PS - Não liguem ao Que Fazer!


2. Estórias cabralianas > O conde de Bobadela

Estou no Tribunal de Mafra à espera de um Julgamento, quando uma mulher me  interpela:
-É o Senhor Conde, não é?

Hesito, mas para evitar mais conversa, respondo:
 -Sou sim. Como vai a senhora?
 -Ai, que já não se lembra da Aurora! Eu trabalhava em casa do Senhor D.Ilídio. O Senhor Conde ia lá muito, quando estava na tropa.
 -Pois ia. Claro que já morreram, o senhor D.Ilídio e a esposa, a Dona  Florípedes. E a menina Francisca ainda lá habita?
 -Oh não.A casa ficou ao abandono.A Menina vive no estrangeiro.

Chamam-me para a Sala de Audiências. Despeço-me.
  
No regresso a Lisboa, qual arqueólogo, colo os cacos da memória.Foi  há quarenta e quatro anos, no início de Junho, que o meu  velho vizinho Alvarenga, coronel reformado, me procurou. Sabendo que eu ia para Mafra, pediu-me que levasse uma encomenda ao seu amigo, Coronel Ilídio Montez, que morava na Achada, perto da Ericeira.
-Nem precisas de ir à casa. Vais ao CMEFD., mesmo ao lado do Convento. Ele passa lá os dias a montar a cavalo.

E assim,poucos dias depois de apresentado na EPI., fui procurar o Coronel. Logo no portão recebi uma reprimenda do 1º  Cabo de serviço:
- Dobre a língua, nosso Cadete! O  Coronel Montez é Dom! Dom Ilídio, está bem !?

Conduziu-me ao picadeiro e conheci D. Ilídio. Um velho pequenino, sem dúvida já octogenário, de bigode branco, pose altiva, mas simpático. Abriu à minha frente a encomenda e rejubilou: umas bonitas esporas prateadas.
 -Hoje vais jantar a minha casa - ordenou.  - A minha mulher deve estar a chegar.

Pouco tempo depois, eis-me metido no carro conduzido por Dona Florípedes, a mulher.Uma senhora muito branca, talvez triste, com ar de tédio e algo de snobe.Jantei nessa noite e em muitas outras.

Bebia os conhaques do Coronel. Declamava para a Dona Florípedes. Comentava o Maio francês com a filha Francisca, mas à noite no quartel, era com a empregada Aurora, que sonhava.

Dona Florípedes sentia-se exilada em terra de saloios.Trocar o Estoril pela Achada. E tudo por culpa dos cavalos…E logo ela.  neta do Marquês de  Pintéus, sobrinha do Barão da Marateca. Para não destoar, confessei-lhe que também eu era Conde. Mas não usava o título, nem aliás o nome completo - D. Almeida Cabral y Athouguia De Vasconcelos, Conde da Bobadela.

Às vezes discutia-se o meu futuro militar. D. Ilídio tinha esperança que eu fosse parar a Santarém, à Cavalaria. Possuia perfil e estatura de grande combatente dizia, contra a opinião de Dona Florípedes:
-Um rapaz tão sensível. Até faz versos..-
- E daí? - retorquia o Coronel- - Camões também andou na Guerra!

D. Ilídio tinha uma teoria, segundo a qual os mais valentes são  sempre  os Homens mais pequenos:_
- Olha o Napoleão, para não falar no nosso Marechal Carmona!

Ele nunca fora  a África, mas falava das savanas de Angola, com tal propriedade, que era fácil imaginá-lo à frente do Esquadrão a galope, perseguindo o inimigo.

Conhaque e cavalos.Cavalos e conhaque constituíam os interesses do Coronel. Nos conhaques ainda o ia acompanhando:
- Prova-me este Courvoisier!  Que achas do Remy Martin?  Gostas do Henri IV ? 

Mas nos cavalos….Bem, convidou-me muitas vezes a ficar em Mafra, um fim de semana, para montar e escusei-me sempre. A apendicite da mana….. A úlcera do Avô…A apoplexia do tio Gilberto…O certo é que nunca cheguei a demonstrar os meus dotes equestres.

Acabou a recruta. Deixei Mafra e rumei a Vendas Novas. Estou, ainda nem passaram quinze dias, sou chamado ao Comandante da Bateria.
 -Qual é o seu nome completo,n osso Cadete?
- Jorge Pedro de  Almeida Cabral, meu Capitão.
 -Então esta carta é ou não é para si? - E entrega-ma.

Está endereçada a Jorge D. Almeida Cabral y Athouguia de Vasconcelos, Conde da
Bobadela.
 -Alguma brincadeira, meu Capitão.
 - Brincadeiras estúpidas, nosso Cadete!

 A carta era de Dona Florípedes. Trazia um poema, com muitas açucenas, tardes amenas e até metia o pão de ló da avó.. Bem, rimar, rimava... Não respondi.

Embora tivesse ficado como Aspirante em Vendas Novas, nunca o Capitão, depois Major, me voltou a tocar no assunto. Escrevi-lhe da Guiné. E assinei:  Jorge Alfa  Mamadú Cabral de Embalo Balde, Conde de Missirá e Barão da Bolanha de Finete.

Jorge Cabral

3. Comentário do editor: Falei ontem ao telefone com o Jorge, de quem não tinha notícias há uns bons tempos. Andou por aí um mês e tal na "mão dos médicos", a "checar" a anatomia e a fisiologia. Felizmente, está bem. E "manda estória", sinal de que está vivo da costa, como a sardinha, e vai-nos continuando a fazer sorrir "com meia cara"... Gostei do seu "post scriptum": Não liguem ao Que Fazer!... Eu descodifico: Vivam a vida, rapazes!
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de maio de 2012 >  Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)

(...) Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia.  Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”. Resolvi pois gravar uma das minhas noites.  (...)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10156: Tabanca Grande (350): Bernardino Cardoso, ex-fur mil, Pel Rec Panhard 2024 (Bula, jan 1968/dez 1969), grã-tabanqueiro nº 567

1. Mensagem do Bernardino Cardoso, deixada em 9 do corrente, na página do Facebook da Tabanca Grande.

Será privilégio meu pertencer à Tabanca Grande. Não fazia a menor ideia que havia um blogue [, Luís Graça & Camaradas da Guiné,] ou mesmo uma página no Facebook [, Tabanca Grande Luís Graça,] apenas relacionada com a Guiné. 

Passo a apresentar-me.

Em 14/1/68 cheguei a Bissau a bordo do Quanza. Como bom periquito que era, saltei do navio para cima duma GMC que nos levou a passar pelos Adidos onde nos deram uma ração de combate.

Como estava cheio de sede por causa do novo clima, bebi a primeira e única Coca-Cola. Esta era genuína. Voltei a saltar para a GMC e os soldados da escolta aconselharam-me a tirar as divisas porque íamos viajar até Bula, mais ou menos 30 km e depois do Rio as coisas podiam ser feias.


Estão a ver como se encorajam os piras, não é verdade? Atravessámos o rio [ Mansoa,] na jangada em João Landim [, foto à esquerda, de Virgínio Briote,] e lá seguimos até Bula.


De Bissau,  nem o cheiro. Se eu não fosse pira, sabia muito bem que se as coisas fossem assim ruins, toda a gente teria levado uma G3 nas unhas. Na verdade o território ali era já de guerra plena mas não era caso para tanto. A escolta era suficiente para para tomar conta do caso.


Era um novo PEL REC de Cavalaria, o 2024 que ia operar as Panhards que aí estavam estacionadas. Mas era um pelotão especial pois levava 30 Soldados atiradores, 2 cabos mecânicos do quadro, 12 Furrieis de Rec, 1 Fur rádio montador, 2 Sargentos, e 2 Tenentes do quadro. Isto porque tinha em vista a formação dum Esquadrão de Rec Cav, como veio a acontecer (, o EREC 2454, ) comandado pelo, na altura, Capitão Manuel Monge, homem de grande carácter e elevação.


Durante a comissão fiz serviços em Bula, Teixeira Pinto, Pelundo e Có para além de imensas viagens, como seria de esperar, para um pelotão que escoltava colunas de todo o tipo.


Saudações combatentes.


Bula, Jan68 / Dez69, Bernardino Cardoso,
ex-fur mil rec cav


2. Comentário do editor L.G.:

Sê bem vindo, camarada! Passas a ser o grã-tabanqueiro nº 567!

De acordo com os ainda escassos dados que possuímos sobre este  novo grã-tabanqueiro, sabemos que o Bernardino Cardoso - vd. a respetiva página no Facebook -, nasceu em 1 de fevereiro de 1945, andou no Colégio João de Deus, no Porto, entre 1961 e 1963, e trabalhou como inspetor no Círculo de Leitores.

De qualquer modo, temos muito gosto em aceitá-lo na nossa Tabanca Grande e assentá-lo no bentém, sob o nosso mítico poilão, à sombra do qual convivem, há mais de oito anos, mais de meio milhar de camaradas (e amigos) da Guiné.

Bernardino: para completar o teu pedido (formal) de adesão à Tabanca Grande, gostaríamos que  nos mandasse uma foto (ou mais) digitalizada do seu tempo de Bula, e que nos contasses mais alguma coisa sobre as andanças do seu Pel Rec 2024. Também era conveniente termos o teu endereço de email, para troca de mensagens (a nível interno). Todos os elementos informativos sobre o nosso blogue, estão afixados na coluna do lado esquerdo, incluindo o nosso endereço e os contactos dos nossos editores.


Segundo informação do nosso colaborador permanente José Martins, o Pel Rec 2024 [, imagem á esquerda do respetivo crachá, cortesia do sítio Ultramar Terraweb], foi mobilizado pelo RC 7, Lisboa, e esteve no TO da Guiné entre  Jan 68 e Nov 69, sendo depois  integrado no ERec 2454.

Ainda recentemente, e segundo imformação constante no síto Ultramara Terraweb, realizou-se em 12 de maio de 2012, em Algeruz, Palmela, no Clube Golfe do Montado, o almoço de confraternização dos camaradas de cavalaria que passaram por Bula (1968/71), a saber, o Esquadrão de Reconhecimento AML 2454, o Pelotão de Reconhecimento AML 2024 e o Esquadrão de Reconhecimento 2641 (1.ª fase)... A organização do evento esteve a cargo de Custódio Morais e Vânia Morais Contactos: tefef 265 718 651 / telem 936 924 944).
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10151: Tabanca Grande (349): Abel Moreira dos Santos, ex-Soldado Atirador da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

sábado, 17 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9216: O nosso fad...ário (8): O Fado BART 2857: Parte II: a Cavalaria em Piche... (José Luís Tavares / Manuel Mata)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esq Rec Fox 2640 (1969/71> Viatura Chaimite anfíbia com canhão. As primeiras que foram distribuídas às NT. O EREC 2640 tinham, segundo o relato do Manuel Mata, "oito Viaturas White"...  

A White, "rápida também em picadas, com bom poder de fogo devido ao carril onde as metralhadoras eram montadas, podendo deslocar-se para qualquer ponto frontal ou lateral da viatura, era ao mesmo tempo um excelente abrigo devido à sua forte estrutura metálica"... Ponto fraco: "tornava-se, porém, difícil a sua deslocação na época das chuvas"... Mas não só: (...) "começaram a ter problemas mecânicos, não havia material sobressalente em armazém, para reabastecimento, tendo esta situação levado a uma diminuição da nossa actividade operacional"... Razão por que no último trimestre de 1970, vieram à Metrópole um Alferes, o Primeiro-Sargento Mecânico, e cinco Praças, "afim de receberem cinco viaturas Chaimite, destinadas a este Esqadrão.  Havia uma certa expectativa pois eram as primeiras viaturas do tipo para o Exército Português".

 
Foto: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados



Guiné > Zona Leste > Piche > BART 2857 (1968/70) > Aqui uma futebol era uma paixão...

Fonte: Album Picasa, do João Maria Pereira da Costa / Blogue BART 2857 (Com a devida vénia...)


1. O Esq Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) tinha um pelotão destacado em Piche. Não teve, porém,  vida fácil,  apesar de ter "campo e piscina", e dar-se ao luxo de ter duas equipas de futebol, como se depreende das letras do radiotelegrafista Tavares... 

Leia-se aqui, a propósito,  um excerto da história desta garbosa subunidade de cavalaria, contada na I Série do nosso blogue pelo Manuel Mata:

(...) Mês de Outubro de 1970: O Pelotão destacado em Piche fez mais uma das muitas escoltas, a Nova Lamego, sofreu uma forte emboscada, as viaturas White reagiram de imediato pelo fogo e movimento. Uma delas foi atingida por sessenta tiros e um dos nossos atiradores teve uma reacção inesperada e de grande bravura, sai da viatura para o meio da picada de bazuca em punho, mantendo-se ali de pé até disparar todas as granadas que havia de momento...

"Apenas sofreu queimaduras ligeiras no rosto o nosso bravíssimo camarada Eduardo Pereira Subtil (mais conhecido pelo 'Minhoca'. Houve um outro militar ferido mas sem gravidade. As forças escoltadas sofreram um morto e sete feridos.


"Notava-se na zona um aumento significativo das ameaças e flagelações pelo IN, basta recordar o dia 25 de Outubro, mais uma em Piche sem consequências para o Pelotão Rec, mas o mesmo não aconteceu aos militares do Batalhão que sofreram um morto e um ferido, e também quatro feridos da população". (...)

Publicamos a II parte daquilo a que chamámos o Fado do BART 2857 (*), o batalhão que esteve em Piche, de Novembro de 1968 a Outubro de 1970, segundo nos confirma o nosso camarada J. M. Pereira da Costa, um dos administradores do blogue do BART 2857... 

Este batalhão era constituído pela CCS (Piche), CART 2438 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá) e CART 2440 (Piche).

Não sabemos se esta letra do Tavares chegou a ser musicada e cantada, em Piche e/ou em Bafatá... De qualquer modo achamos que vai bem com o Fado Corrido... Chamámos a esta 2ª parte, A Cavalaria em Piche... (Com a devida vénia, ao autor da letra e ao Manuel Mata, que a recolheu) (**) (LG).



2. Fado do BART 2857: Parte II: A Cavalaria em Piche

Piche tem campo e piscina,
Qu' já foi a inaug'ração,
São obras de grande valor,
Feitas pelo Batalhão.

Até parece mentira
Aquilo que eu vou contar,
O Batalhão fez um campo
P'ra  Cavalaria jogar.

A Cavalaria é um posto,
Já vem de tempos atrás,
Imaginem um Batalhão
Fazer um campo para nós.

Nós temos duas equipas,
Como toda gente as vê:
Temos a boa equipa A,
Não desfazendo na B.

Têm equipamento novo,
Que aquilo é um asseio,
E o dirigente da equipa
É o nosso alferes Feio.

São duas equipas rivais
Que mandam o seu respeitinho,
E, de árbitro permanente,
O nosso amigo Agostinho.

José Luís Tavares - Radiotelegrafista
1 de Julho de 1970

[Recolha: Manuel Mata, 2006]

[Revisão: LG]
__________________

Notas do editor:

(*) Vd, poste anterior da série > 13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)

(**) Vd. I Série > 31 de Março 2006 > Guiné 63/74 - DCLXVI: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (2): Piche, BART 2857 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7646: Camaradas da diáspora (5): José Oliveira Marques, condutor de White, ERC 2640 (Bafatá e Piche, 1969/71), a viver em Estrasburgo, França



Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esq Rec Fox 2640 (1969/71) >  Viatura Chaimite anfíbia com canhão. As primeiras que foram distribuídas às NT. 

Foto: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados





1. Mandou-nos um email e telefonou-nos o camarada José Oliveira Marques, natural de Aveiro, a viver em França desde 1972, perto de Estrasburgo:

Caro Amigo de Bambadinca:

Eu,  José Marques,  venho por este meio lhe agradecer pelo blog, feito de tanta coisa,  riquíssima para nós, os ex-combatentes.

Estive em Bafatá de 1969 a71 e pertenci ao Esquadrão de Reconhecimento de Cavalaria [ERC 2640] do Sr Capitão Vouga. E tenho lido no vosso blog, os comentários de Fernando Gouveia, sobre Bafatá e no qual me reconheço, là no meio daquilo tudo.

Gostaria que este meu apoio chegasse até ele.

Tenho tanta coisa para contar. Fui condutor das famosas White, posto   do qual me sinto ainda hoje orgulhoso, pelo serviço que prestei ao serviço à nossa Pátria (ou ao que se dizia Nossa Pátria)-

 Gostaria que esta mensagem chegasse do Sr Gouveia, que, depois, muito mais tenho para contar,

Sr. Luís, obrigado,pela publicação, isto é se chegar às suas mãos

Desculpe os erros cometidos na escrita, porque só estou com isto [, o acesso à Internet,] desde este Natal último. A prática é pouca, mas a vontade é muita.Estou em França desde 72 mas assisto aos convívios quando posso, com o nosso correspondente Manuel Mata [ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do EREC 2640].

Obrigado pela atenção dispensada,

Grande Abraço, de Bafatá até Bambadinca

José Marques


2. Comentário de L.G.:

Combinámos, ao telefone, seguir as regras do blogue e, portanto, usar o tratamento que é devido aos camaradas... Vê-se que o José Marques está entusiasmada com o "brinquedo" que os filhos lhe deram no Natal. Presumo que esteja reformado. Está com imensa vontade de "ir ao baú" buscar o "missal" (sic) onde escrevia pequenas notas sobre o seu quotidiano na Guiné... Prometeu-nos mandar fotos digitalizadas (quando os filhos passarem lá por casa...), de modo a regularizar a sua entrada na nossa Tabanca Grande.

O ERC 2640 tinha 4 grupos de combate, com viaturas blindadadas White e Fox (substituídas em princípios de 1971 pelas Chaimite), 3 em Bafatá e 1 destacado em Piche (em geral, faziam rotação de dois em dois meses). Lembra-se de um emboscada a 12 ou 13 de Outubro de 1970, em que um morteirada atingiu o radiador da sua White...Fala com evidente orgulho do poder de fogo da sua White e do "respeitinho" que a metralhadora 12.7 (Browning) impunha ao IN.

A rapaziada do EREC 2640 vai comemorar, em 8 de Outubro de 2011,  os 40 anos do regresso a casa, em Castelo Branco (informação confirmada ao telefone pelo Manuel Mata, que  tem sido o corpo e a alma dos encontros do pessoal; vive no Crato: telefone fixo, 245 996 260). 

O José Marques conta cá estar com o seu camarada (e nosso camarigo) Manuel Mata (que fez recentemente anos: oficialmente a 19, porque foi a data em que o registaram, na verdade nasceu a 16 de Janeiro de 1947, já lá vão 64 anos).  

A história do EREC 2640 (ou Esquadrão de Reconhecimento Fox, como também é conhecida esta subunidade de cavalaria, que é do meu tempo na Zona Leste) já aqui foi contada pelo Manuel Mata, na I Série do nosso blogue, em 2006. Já sugeri ao Manuel Mata para "refrescar" esses apontamentos e fotos de modo a podermos publicá-los nesta II Série. É natural que, ao fim de 5 anos, ele tenha mais informações sobre os camaradas que ele foi reencontrando, e sobre a os combates travados no leste.
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Nota de L. G.:

Último poste desta série > 17 de Janeiro de 2011
>  
Guiné 63/74 - P7626: Camaradas na diáspora (4): José (ou Joe) Ribeiro, natural de Leiria, a viver em Toronto, Canadá, há mais de 35 anos: Sold Inf , 4º Gr Comb, CCAÇ 3307/BCAÇ 3833 (Pelundo, Jolmete, Ilha de Jete, 1970/72)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7047: Em busca de... (145): Informações sobre a viatura blindada Chaimite e o seu comportamento no CTIG (Juvenal Amado / Pedro Monteiro)



Guiné > S/l > 1972 > Uma viatura blindada Chaimite V200. Foto de António Rogério Rodrigues Moura [ARRM]. Com a devida vénia...


Fonte: Portal Prof 2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital




Guiné > Bafatá (presumivelmente) > Rio Geba > 1972 >  Uma viatura blindada Chaimite V200, testando as suas capacidades como veículo anfíbio. Na prática, era usada  sobretudo em colunas logísticas , por exemplo na grande estrada alcatroada da zona leste (Xime, Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Piche...).

Foto de António Rogério Rodrigues Moura [ARRM]. Com a devida vénia... (Pelo que consegui apurar, o António, natural de Cacia, teria pertencido à CART 3521, Piche, Bafatá e Safim, 1971/74, a mesma subunidade onde estiveram ou por onde passaram os nossos camaradas, membros da Tabanca Grande, Henrique Castro e António Sá Fernandes.

Fonte: Portal Prof 2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital





Guiné > Zona leste > Região de Gabú > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Coluna logística, vinda (presumivelmente) de Nova Lamego e a chegar a Piche... À frente uma Chaimite,  seguida de uma White... As duas viaturas deveriam, possivelmente, pertencer ao Esq REex Fox 8840 (Bafatá, 1973/74)


Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Jacinto Cristina (Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo).


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






1. Resposta de Juvenal Amado a um pedido,  de um leitor nosso (vd. ponto 2), de informações sobre as Chaimites na Guiné:


Caro amigo:


Terei todo prazer em ajudá-lo embora eu não fosse de Cavalaria.


Fiz muitas colunas onde as Chaimites faziam segurança. Felizmente nunca precisaram de actuar na minha presença.


Lembro-me de haver uma equipada com canhão, embora a maioria fosse equipadas com HK  21,  por torre. Depois eram os atiradores que também de dentro podiam fazer fogo.


Quanto ao que a malta pensava sobre a segurança que elas nos davam é difícil explicar. Sabe,  aquilo era uma guerras de pobres e se uma Chaimite corresse perigo mandavam antes os homens à frente.


Eu numa manhã assisti ao efeito que os RPG  perfurantes, fizeram a uma no caminho entre Bafatá e Nova Lamego (Gabu)


Os Guerrilheiros incendiaram e  atacaram na noite anterior uma aldeia, quando a Chaimite chegou ficou toda iluminada e foi violentamente atacada.


Despistou-se e ficou com as metralhadoras num ângulo o qual não permitia defender-se. Foi toda crivada,  tendo havido mortos e feridos.


Penso que o desastre se deveu também em parte a um certo facilitismo pois estariam convencidos que estavam protegidos e avançaram sem segurança.


Bem,  coisas de guerra,  não vale a pena arranjar culpados nem desculpas.


Se puder ser útil em mais alguma coisa estou ao seu inteiro dispor.


Entretanto dei conhecimento ao blogue, pois lá haverá muita malta que lidou de perto com elas.


Um abraço


2. Mensagem enviada ao Juvenal Amada, em 27 do corrente, pelo Pedro Monteiro: (**)


Caro senhor Juvenal Amado,


O meu nome é Pedro Monteiro e sou correspondente para Portugal e colaborador regular de diversas publicações militares (http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/).


Como parte deste trabalho tenho desenvolvido um projecto de investigação sobre o blindado de concepção e fabrico português Chaimite que já levou à publicação de alguns trabalhos na revista portuguesa "Motor Clássico" e [noutras revistas] estrangeiras:


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2008/11/chaimite-research-project-first-article.html


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2008/12/chaimite-second-article-published.html


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2009/04/first-article-history-of-familiy-of.html


http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2009/05/gazela-leopardo-and-pantera-history-of.html


 http://pedromonteiro-photography.blogspot.com/2010/04/bravia-chaimite-history-of-first.html


Caso tenha interesse posso, aliás, disponibilizar as digitalizações destes trabalhos.


Estou, pois, a contactá-lo a propósito da sua colaboração com o blogue do senhor Luís Graça onde relata a sua experiência na Guiné. Numa das fotografias surgem duas viaturas Chaimite durante uma visita do General Spínola.


Poder-me-ia dar mais detalhes do emprego operacional das Chaimite na Guiné? Por exemplo, que impressões tinham os militares delas? Quantas estavam ao serviço da unidade de Bafatá? Recorda-se de uma viatura dotada de uma torre Mecar armada com uma peça de 90mm, muito idêntica à Chaimite?


Agradeço, desde já, a sua colaboração! 


Cumprimentos,
Pedro Monteiro (Telemóvel: 93 441 75 34)


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Notas de L.G.:


(*) Último poste da série > 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6960: Em busca de ... (144): O alferes médico miliciano da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63 (George Freire)

(**) Vd ainda os postes:


sábado, 20 de março de 2010

Guiné 63/74 - P6028: A propósito do Dia do Pai... e da história do Esq Rec Fox 3431 (Bafatá, 1971/73)

1. Encontrei, num blogue (*), uma referência a um convívio, em 2005, do pessoal do Esquadrão de Reconhecimento Fox 3431. Interessou-me por duas razões: (i) não temos ninguém do Esq Rec Fox 3431, que foi comandado pelo Cap Cav Botelho, o mesmo que terá alegadamente entrado pelo Senegal dentro com as suas Chaimites, algures em 1972 (**); (ii) ontem foi dia do pai, e achei bonito ler estas palavras do filho de um camarada nosso, condutor de chaimite: "(...)  adorei ter estado presente naquele almoço, este seria apenas o primeiro, pois farei sempre questão de acompanhar o meu pai, que é o meu ídolo, o meu exemplo a seguir!"...


Com a devida vénia (ao Luígi a quem peço também "emprestadas" as duas imagens aqui reproduzidas, e eventualmente que nos leve até ao seu pai, nosso camarada, para saber mais sobre a história desta unidade de cavalaria), passo  a transcrever :

Recuando um pouco no tempo até ao dia 07 de Maio de 2005, tive a oportunidade de estar presente num almoço convívio entre Ex-combatentes que fizeram parte do Esquadrão de Reconhecimento Fox 3431 que partiu de Lisboa a 25 de Agosto de 1971 com destino à Guiné, mais precisamente a Bafatá. Este constituía a reserva móvel do agrupamento Leste. Está organizado em Comando e três Pelotões de reconhecimento, o meu pai fizera parte do 1º Pelotão denominado “Os Barbudos” onde era condutor.

A Missão consistia em acções de reconhecimento e vigilância, patrulhamento frequentes, escoltas a colunas-auto.

No dia 4 de Outubro de 1973, após 25 meses de Comissão na então Província Portuguesa da Guiné, regressa finalmente à Metrópole o Esquadrão de Reconhecimento Fox 3431.


32 anos depois da chegada a Portugal e após já se realizarem vários almoços convívio, finalmente o Sérgio Marques conseguiu entrar em contacto com o meu pai, informando-o da existência do almoço convívio, estes realizam-se sempre no primeiro sábado do mês de Maio.

Eu,  juntamente com a minha mãe e o meu irmão,  fiz questão de estar presente com o meu pai no almoço.

Foi extraordinário ver que,  após 32 anos sem se verem ainda se conheciam…Fez-me lembrar um pouco o que se passa com as pessoas que cresceram comigo no futebol, embora no caso deles a relação ainda seja mais marcante, afinal de contas eles eram uma equipa que lutava pela sobrevivência e não em ganhar jogos…

Posso dizer que adorei ter estado presente naquele almoço, este seria apenas o primeiro, pois farei sempre questão de acompanhar o meu pai, que é o meu ídolo, o meu exemplo a seguir! (*)

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Notas de L.G.:

(*) Fonte: Blogue > Love is the higher Law: This is my lifestory revisited by myself >  5 de Agosto de 2008 > Esquadrão de Reconhecimento Fox 3431

Perfil completo do autor, Luigi, 32, Lisboa

(**) Vd. poste de 19 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6022: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (4): Ainda o caso do Cap Patrício que foi, por castigo, para a CCAÇ 15, Mansoa, e do comandante do Esq Rec Fox de Bafatá que invadiu o Senegal com as chaimites

Comentário do Jorge Picado:


(...) Das Fichas das Unidades na Guiné, consta o Esq Rec 2640 (NOV69/SET71) colocado em Bafatá e cujo Cmdt era o Cap Cav Fernando Monteiro Vouga e este ERec 2640 foi substituido em Bafatá pelo ERec 3431 (SET71/JUN73) que teve como 1.º Cmdt o Cap Cav Manuel Eduardo Alves Botelho e depois o Cap Cav José Rafael Lopes Saraiva.


Por sua vez o ERec 8840/72 foi colocado em Bafatá em ABR73 e rendeu o ERec 3431 em JUN73. Tinha como Cmdt o Cap Cav Francisco X. Silveira Montenegro Carvalhais e não tem HU, enquanto os outros 2 têm. (...)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5843: O Nosso Livro de Visitas (83): António Carlos Ferreira, ex-Fur Mil Mortágua, Esq Rec Fox 8840 (Bafatá, 1973/74)

1. Mensagem que nos chegou em 13 do corrente, assinada por António Carlos Ferreira:

1:00h da manhã,  um copo de whisky na mão, a mente preversa,  veio-me à memoria as noites em que tal acontecia quer em Bafatá, Piche ou Aldeia Formosa,  à espera dos very-lights para nos por à prova à nossa coragem.

Recordando o encontro que tive com o Marcelino da Mata no meio da floresta que liga Nova Lamego a Piche,  surgiu-me a ideia de pesquisar na Internet algo que me avivasse a memória. Fui surprendido com o texto do Luis Graça [, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. Fiquei maravilhado porque o nosso contributo por uma cousa nunca será esquecido. Aguardo notícias.


António Carlos Ferreira (ex-furriel Mortágua)

Proprietário da Adega Típica A Pharmácia,
Rua Brasil 81/85
Coimbra

E-mail: adegapharmacia@gmail.com

telm: 917213076 / telef  239 404 609
 
2. Comentário de L.G.:
 
Acabei de falar, ao telefone, com o nosso camarada António Carlos Ferreira, que pertenceu ao Esq Rec  Fox 8840 (Bafatá, 1973/74). Ficou visivelmente feliz. Contou-me que bateu, com as suas Chaimites, a zona leste (Bafatá, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, Buruntuma), mas também andou pelo sul (estava em Aldeia Formosa, no 25 de Abril de 1974; quando foi da entrega do aquartelamento ao PAIGC, em Agosto de 1974, estava em Bissau, de regresso de férias, não tendo por isso voltado a Aldeia Formosa).
 
Na estrada de Piche-Lamego, recorda uma das emboscadas, antes do 25 de Abril,  que sofreu uma coluna auto, com cerca de 30 viaturas... À frente da coluna, ia uma Chaimite (**). A viatura parou a um movimento suspeito. Uma roquetada apanhou um ângulo morto do blindado que se incendiou. Morreram dois furriéis, na altura...

O Mortágua (nome de guerra do António, sendo Mortágua a sua terra natal) aceitou o meu convite para se juntar a nós, na Tabanca Grande. Tem inúmeros slides que vai procurar digitalizar. Fiquei de passar pela sua Pharmácia, numa próxima visita a Coimbra.  O restaurante fica na freguesia da Sé Velha, perto da Universidade
 
Em relação ao  Esq Rec Fox 8840, verifico que há aqui, no nosso blogue, pelo menos uma referência (*). O Mortágua falou-me também dos nomes de dois camaradas do Esquadrão, o Bernardino Silva (que costuma organizar os encontros anuais da unidade) e o Serrano, que era o Fir Mil Enf (hoje, inspector do ensino superior, reformado).  E ainda do comandante, o Cap Cav Carvalhais, que era filho do Comandante da GNR.
__________
 
Nota de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2008  > Guiné 63/74 - P2442: O Nosso Livro de Visitas (3): Carmindo Pereira Bento, Esq Rec Fox 8840 (Bafatá, 1973/74)
 
(...) Sou ex-militar do Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840. Estive lá no início de 1973 até perto do fim do ano de 1974.
 
Tenho histórias a contar como vocês contam as vossas. Tivemos lá dos maiores atentados registados até essa data. Lamento principalmente o meu ex-capitão e comandante Carvalhais do Esquadrão de Cavalaria 8840 (hoje coronel) nada registar na Internet.


Não vos conheço mas gostaria de ter contacto convosco para vocês conhecerem o meu Esquadrão e recordarmos por onde e como passamos.


Um abraço...


Para meu contacto: Carmindo Pereira Bento.
Restaurante Ângulo-Real
2425-022 Monte-Real- Leiria.

(**)  Foto de Chaimite (acima): Cortesia do sítio Guerra Colonial. Sobre as  Chaimites, há pelo menos dois postes no nosso blogue.

sábado, 28 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5362: Patronos e Padroeiros (José Martins) (3): Exército - Arma de Cavalaria - Mouzinho de Albuquerque





1. Terceiro poste da série Patronos e Padroeiros das Armas do Exército Português, um trabalho de pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70).




PATRONOS E PADROEIROS - III

EXÉRCITO - ARMA DE CAVALARIA – MOUZINHO DE ALBUQUERQUE


Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque, nasce no dia 12 de Novembro de 1855, na Quinta da Várzea, concelho da Batalha e distrito de Leiria, filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque e de Maria Emília Pereira da Silva e Bourbon, descendentes de uma família da nobreza local. Era neto paterno de Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque.

Desde novo destinado a seguir a carreira das armas, alista-se como voluntário no Regimento de Cavalaria n.º 4, frequentando a Escola Politécnica para ingressar na Escola do Exército (actual Academia Militar). Passou, ainda, pelo Colégio Militar e foi promovido a Alferes em 1878, quando terminou a Escola do Exército.

Em 1879 Mouzinho de Albuquerque inscreve-se na Universidade de Coimbra, onde frequenta as Faculdades de Matemática e Filosofia.

Casa, entretanto com sua prima D. Maria José Mascarenhas de Mendonça Gaivão.

Em 1882 adoece, regressa a Lisboa e, dois anos mais tarde, é nomeado regente de estudos no Colégio Militar, com a patente de Tenente.

Na Índia, em 1886, desempenha um lugar na fiscalização do Caminho-de-ferro de Mormugão e Secretário-geral do Governo do Estado da Índia, em 1888.

Em Moçambique, já com a patente de Capitão, é nomeado Governador do Distrito de Lourenço Marques, que exerce entre 1890 e 1892.

No ano de 1894 volta a Moçambique, comandando um Esquadrão de Cavalaria, de reforço, com a finalidade de dominar as rebeliões que existiam. Estava-se nas Campanhas de Ocupação, onde se deu a prisão, em 25 de Dezembro de 1895, do chefe vátua Gungunhana no combate de Chaimite, tendo sido posteriormente galardoados com a Ordem da Torre e Espada, vinte e cinco militares, incluindo Mouzinho. Foi promovido ao posto de Major em 28 de Dezembro de 1895.

Em 13 de Março de 1896 foi nomeado Governador-geral de Moçambique, e em 27 de Novembro desse mesmo ano, foi nomeado Comissário Régio, cargo de que foi destituído em 7 de Julho de 1898, regressando a Lisboa.

O rei D. Carlos I, em 30 de Setembro de 1898, nomeia-o seu Ajudante de Campo, Oficial-mor da Casa Real e aio de D. Luís Filipe de Bragança, na altura príncipe herdeiro.

Face às intrigas que se geraram à sua volta, nomeadamente em relação ao seu comportamento em África, levaram-no ao suicido em 8 de Janeiro de 1902, na Estrada das Laranjeiras, no interior de uma carruagem.

Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque, foi proclamado Patrono da Arma de Cavalaria pela Determinação n.º 7, não datada e Ordem do Exército n.º 6 (1.ª Série), de 31 de Maio de 1961.

José Marcelino Martins – 24 de Novembro de 2009
[Organizado a partir de imagens e textos da Wikipédia]

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5352: Patronos e Padroeiros (José Martins) (2): Exército - Arma de Artilharia - Santa Bárbara

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2867: Dando a mão à palmatória (12): O comandante do Pel Rec Daimler 2046 era o Jaime Machado e não o J. L. Vacas de Carvalho

Guiné > Zona Leste > Estrada Bambadinca-Bafatá > 1969 > Coluna da CCAÇ 12, a caminho de Bafatá, vendo-se ao fundo uma AM (autometralhadora) Daimler, do Pel Rec Daimler 2046, instalado em Bambadinca, e que era comandado nesse tempo pelo Alf Mil Cav Jaime Machado (que vive hoje em Matosinhos e que foi um dos participantes do nosso III Encontro Nacional, em Monte Real) (1).



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Coluna logística, no itinerário Bambadinca - Mansambo - Xitole.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > Coluna logística ao Xitole... Pessoal em cima de um Daimler, do Pel Rec Daimler 2206 (Bambadinca, 1970/71). Da esquerda para a direita: O Fur Mil Op Esp Humberto Reis (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), o Alf Mil Cav Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler 2206, o Fur Mil Enf Godinho (CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72) e, por fim, o Fur Mil At Inf T. Roda (CCAÇ 12)

Por lapso, temos sistematicamente atribuido o comando o Pel Rec Daimler 2046 ao periquito do J.L. Vacas de Carvalho, nosso querido amigo de de Montemor-o-Novo, que nessa época ainda não tinha chegado ao CTIG. Ele chegou a Bambadinca em Março de 1970, com o seu Pel Rec Daimler 2206, vindo render o Jaime Machado e os seus furões (Pel Rec Daimler 2046).

E a propósito da primeira foto acima reproduzida - em vários postes do nosso blogue (2) - , convirá recordar, sobretudo para quem não conheceu a Zona Leste, que a estrada Bambadinca-Bafatá era uma das poucas, na Guiné, nesse tempo, que estava alcatroada. Para nós, era uma verdadeira autoestrada, originando acidentes (e alguns graves) por excesso de velocidade. Entre Junho de 1969 e Março de 1971, não há registo de qualquer actividade da guerrilha neste troço: minas, emboscadas, flagelações à distância... Estávamos em pelo coração do chão fula, com milhares de homens em armas (incluindo naturalmente as milícias e as tabancas em autodefesa)...

Ainda no nosso tempo, deu-se início à construção da nova estrada (alcatroada) Xime-Bambadinca. As Daimlers também participaram na segurança aos trabalhadores e máquinas da TECNIL.

O troço entre Xime (onde aportavam as LDG, que vinham de Bissau, pelo Geba), Bambadinca (sede do Sector L1, que compreendia o Cuor, a norte do Geba, e o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole) e Bafatá (sede de agrupamento, a segunda maior cidade da Guiné), era de grande importância estratégica para os transportes terrestres e para toda a logística na Zona Leste (Bafatá e Gabu).

Fora disso, as Daimlers (uma peça da arqueologia limitar, que se tornaram célebres na II Guerra Mundial, com Rommels e a guerra do Norte de África) limitavam-se, no nosso tempo (Bambadinca, 1968/71) a fazer segurança à pista de aviação e, às vezes, às colunas logísticas para Mansambo e Xitole... A viagem a Bafatá, semanal, era vista sobretudo um passeio, quase turístico, dominical... Iam também frequentemente ao Xime.

Na admira, por isso, que as Chaimites passassem a substituir as velhinhas Daimler no tempo do Sousa de Castro, o nosso tertuliano nº 2da CART 3494 / BART 3873 (que esteve no Xime e depois em Mansambo, 1972/74)... De qualquer modo, fora das estradas alcatroadas, nas terríveis picadas da Guiné, praticamente intransitáveis no tempo das chuvas, mesmo as modernas Chaimites dificilmente se aventuravam , com as suas seis toneladas de peso e a sua blindagem que não oferecia protecção contra o RPG-2 ou o RPG-7... Ao que parece, poucas viaturas destas terão sido utilizadas no ultramar.

Escreveu o Sousa de Castro (2): "Tanto quanto sei, no meu tempo (Guiné 1972/1974, CART 3494) as Chaimites faziam escoltas. Vinham muitas vezes de Bafatá (que era aí que se encontrava o esquadrão de cavalaria) até ao Xime, com a missão de escoltar Batalhões ou Companhias que aportavam no cais do Xime, provenientes de Bissau, via Rio Geba"...

Mas vamos ao que importa: ao Pel Rec Daimler 2046 sucedeu-se o do J.L. Vacas de Carvalho, o Pel Rec 2206 (1970/71). O seu a seu dono. Aqui ficam as desculpas dos editores, que às vezes trocam, inadvertidamente, nomes e números.


Fotos: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.
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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 21 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2866: Tabanca Grande (69): Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)

(2) Vd. por exemplo poste de13 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1172: Uma Chaimite no Xime (Sousa de Castro)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2148: Blogoterapia (34): Da minha proverbial preguiça ao carro de granadeiros e ao Domingos Ramos que eu conheci (Mário Dias)

Exército Português > Campanhas ultramarinas 1961/74 > Viaturas > GM 4X4 TT m/947 /conhecido por granadeiro), fig. 91.

Fonte: © Viriatus - Miniaturas e Figurinos Militares (2001). Direitos reservados (com a devida vénia..)


1. Mensagem do Mário Dias, ex- sargento comando (Brá, 1963/66).


Caro Luis

Li a tua mensagem que me deixou perplexo por supores que eu estou zangado.
Não. Não estou nem nunca poderei estar. Não tenho qualquer motivo para isso, bem pelo contrário.

Continuo fiel e interessado leitor de tudo quanto consta na nossa Tabanca Grande. Não falho um só dia, desde que me encontre em casa. Confesso que não tenho sido bom colaborador nos últimos tempos porque o grosso da minhas memórias dos belos tempos passados na Guiné está praticamente esgotado (1). Tenho ainda algumas coisas para relatar que espero vir ainda a fazer quando me passar a preguiça crónica que me assaltou. Por enquanto, demos voz àqueles que suportaram a pior parte da guerra que foi, sem dúvida, a partir de 1968. Eu, apesar de tudo, fui um privilegiado pois safei-me de lá em Fevereiro de 1966.

Assim, e aproveitando este interregno inesperado na minha amada preguiça, aqui vai um pequeno esclarecimento sobre a razão do nome de granadero dado à Berliet modificada de Enxalé (2).

O que pretendiam dizer era granadeiro. (Fazendo um pouco de humor, sem ofensa, talvez os militares de Enxalé fossem, na sua maioria, alentejanos. Daí, o granadero em vez de granadeiro).

Realmente existiu no EP (não sei se ainda existe) um blindado ligeiro, de caixa aberta, destinado a transportar uma secção de atiradores em missões de reconhecimento avançado e de protecção dos flancos das tropas em progressão e que poderiam fazer uso do lançamento de granadas de mão. Por isso essas viaturas se designavam por carro de granadeiros ou, simplesmente, granadeiro.

Recordo-me perfeitamente que as duas companhias de Caçadores Especiais que foram para a Guiné em 1962 , tinham viaturas dessas ao seu serviço. Também os Esquadrões de Reconhecimento de Cavalaria as tinham.

Pensei que seria melhor mostrar uma - porque uma imagem vale mais que mil palavras - pesquisei no Google e achei. Em anexo segue a fotografia de um granadeiro, com a devida vénia do site www.viriatus.com/GU61_74_07.asp [Viriatus -Miniaturas e Figuras Militares].

Quanto à biografia do Domingos Ramos, pouco mais conseguirei acrescentar ao que já relatei (3). De facto, eu conheci-o apenas durante o tempo em que ambos estivemos a cumprir o serviço militar em Bissau. Não foi muito tempo mas o suficiente para que tivessemos desenvolvido uma verdadeira e grande amizade que ainda hoje recordo com nostalgia e que os caminhos opostos que cada um de nós seguiu não abalou.
Vou tentar, sem compromisso, obter mais elementos tais como data e local de nascimento, filiação e outros de interesse para uma biografia.

Um grande abraço para toda a tabanca.
Mário Dias

2. Comentário de L.G.:

Mário:

Que bom saber de ti e da tua relativa disponibilidade para continuar a colaborar com o nosso projecto, como fizeste no passado. Acredita que entendo (e invejo) a tua proverbial preguiça. Estás a fazer as coisas que gostas e para as quais agora tens tempo, como a música e o canto.

Por outro lado, quero que esclarecer-te que estava a tentar provocar-te, no bom sentido do termo. Seria incapaz de estar zangado contigo, por causa da tropa, da guerra, da política ou do blogue. Para mim já és um velho amigo, embora só tenhamos estado juntos um fracção de tempo das nossas vidas. Quis apenas, piscando o olho ao nosso comum amigo VB, obrigar-te a dar sinais de vida. Estou encantado, porque o consegui...

Guardo, entretanto, a tua promessa de acrescentares mais qualquer coisa aos teus preciosos apontamentos sobre a figura do Domingos Ramos que, imagino, deveria ter a tua idade, se hoje fosse vivo. ´

Obrigado também pelos teus competentíssimos esclarecimentos sobre o insólito e malogrado granadeiro do Enxalé.Inté. Mantenhas. (A propósito, estás disponível na Net o Dicionário Caboverdeano Português, da Priberam, que nos poe ser útil, se bem que o crioulo da Guiné-Bissau e o de Cabo Verde tenham diferenças que, julgo, são acentuadas).

__________

Notas de L.G.:

(1) Há dias tinha-me mandado um mail ao Virgínio Briote com conhecimento ao nosso querido amigo comum, Mário Dias:

(...) Quem melhor do que nós para fazer um pequeno apontamento sobre o Domingos Ramos ? Para a série PAIGC - Quem foi quem ... Só o Mário... Vê se o convences... Ele a mim não me liga, pela simples razão de não ter sido ... comando. O Mário escreveu um dos mais belos textos que se podem escrever sobre a amizade entre dois homens... Não podemos perder o seu talento... Espero que ele não ande zangado connosco... por achar a nossa Tabanca Grande muito maior do que a nossa caserna (...).

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXII: Memórias do antigamente (Mário Dias) (1): Um cabaço de leite

19 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - LDXVI: Memórias do antigamente (Mário Dias) (2): Uma serenata ao Governador

15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau

(2) Vd.post de 2 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2148: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)

(3) Vd. posts de:

1 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando