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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15434: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (15): A Rádio Libertação e a inconfundível voz da "Maria Turra", a locutora, angolana, de origem caboverdiana, Amélia Araújo, hoje com 81 anos e a viver em Cabo Verde


Amélia Araújo gravando os trabalhos da I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau para a Rádio Libertação, na "região libertada do Boé". Data:  23 e 24 de setembro de 1973.

Fonte: Antena Um / Fundação Mário Soares / Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral (Com a devida vénia...)


Amélia Araújo aos microfones da Rádio Libertação, a rádio do PAIGC, a emitir a partir de Conakry.  Teve início em julho de 1967. Data da foto: c. 1967.

Com 81 anos, Amélia Araújo vive hoje em Cabo Verde. A sua voz pode ser aqui recordada no ficheiro áudio (10' 18'') do portal DW - Deutsche Welle ("Rádio Libertação: Fala o PAIGC").

Fonte: Antena Um / Fundação Mário Soares / Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral (Com a devida vénia...)


1. Estas duas fotos são do portal Casa Comum / Documentos Amílcar Cabral (*), mas foram primeiro visualizadas no programa "Canções da Guerra",  realizado por Luís Marinho, com produção de Joana Jorge e transmissão na Antena Um (todos os dias, de 2ª a 6ª feira, às 14h55)...   

Um dos episódios recentes deste programa da Antena Um foi justamente sobre a Rádio Libertação, o seu papel, na propaganda e contrapropaganda do PAICG. Não se pode fazer a história desta rádio sem falar da "Maria Turra", a angolana, de origem caboverdiana,  Amélia Sanches Araújo,  que lhe deu voz e alma de 1967 a 1974...  Aderiu ao PAIGC em janeiro de 1964.  Com mais quatro guineenses, a Amélia Arújo  foi enviada por Amílcar Cabral para uma formação de nove meses na União Soviética. Em maio de 1967 a União Soviética entrega ao PAIGC, através do seu embaixador em Conacri, uma estação de rádio.

Esse episódio (do programa "Canções da Guerra") pode ser revista no portal da RTP, e aqui:


Antena 1 > Canções da Guerra > Rádio Libertação

"A Guiné foi a mais dura das três frentes de guerra em África. E também aqui a Rádio teve grande importância.

"O PAIGC tinha uma emissão de Rádio a partir de Conakri. Era a Rádio Libertação.

"Uma das suas vozes mais emblemáticas era a de uma mulher: Amélia Araújo, conhecida no lado da tropa portuguesa por Maria Turra." [Este link remete para um poste do nosso blogue, justamente com a história desta mulher que alguns de nós confundiam com a mulher do Amílcar Cabral] (**)


Amélia Araújo, em 2014, em Cabo Verde.
Foto de DW - Deutsche Welle / Madalena Sampaio
(Com a devida vénia...)
2. Além das duas fotos, acima reproduzidas, o portal da RTP disponibiliza, na íntegra o testemunho de Amélia Araújo, à Antena 1 [em data que não é referida]:

Ficheiro áudio, 6' 53'': A Amélia Araújo explica como funcionava a rádio do PAIGC, com escassos meios técnicos, até 1969/70, altura em que receberam, da ajuda sueca, equipamento moderno, potente...[Na realidade. esse sofisticado equipamento, sueco, pedido por Amílcar Cabarl em 1971, só chegaria em meados de 1972; aqui a entrevistad está equivocada quanto às datas; até 1972 operaram com equipamento soviético]. (***)

Havia emissões em português e  crioulo, e algumas línguas vernáulas, como o balanta, o fula, o mandinga, o beafada, etc. A rádio, para além de manter os combatentes informados, nas três frentes (sul, norte e leste), foi um importante veículo de desenvolvimento e difusão do crioulo, bem como de recolha e divulgação do património musical da Guiné e de Cabo Verde...O programa também fazia contrapropaganda, dirigindo-se aos soldados portugueses, e fazendo questão de sublinhar que a guerra travada pelo PAIGC não era contra o povo português mas contra o colonialismo português. (Sinopse: LG)

Outros Links:

A Rádio Libertação e a Voz, Maria Turra – A história [Texto do portal DW - Deutsche Welle, da autoria de Madalena Sampaio, com data de 22/9/2014, e onde se reproduzem também as duas fotos acima com a "Maria Turra"].

Há mais vídeos e ficheiros áudio disponíveis, no portal Media > RTP > Canções da Guerra, direta ou indiretamente relacionados com a Rádio Libertação.


3. Mais alguns exemplos de documentação constante do portal Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral, referente à Rádio Libertação:

(i) Reunião sobre a Rádio do PAIGC, de 21/6/1966: listagem dos tópicos debatidos, definição dos programas, horários e idiomas (1 página);

(ii) Declaração assinada por Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, comprovando a recepção de uma estação de emissão rádio enviada pela Embaixada da URSS [, em Conacri], com data de 20/5/1967 (em francês);

(iii) Mensagem de Ano Novo de Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, emitida pela Rádio Libertação, no dia 1 de Janeiro de 1971 (27 pp.) (em francês).



(...) A Maria Turra era (é, porque está viva, em Cabo Verde) Amélia Araújo, natural de Angola, casada com o cabo-verdiano José Araújo, esse já falecido.  (...)

A mulher do dr. Manuel Boal - outro natural de Angola - era Maria da Luz (Lilica) Boal, nascida em Tarrafal de Santiago. Essa,  sim, dirigiu a Escola Piloto em Conacri, trabalhou nos manuais escolares, etc. (...)


Tanto os Araújo como os Boal estavam em Portugal em 1961 e fizeram parte do grupo que, nesse ano, fugiu de Portugal, com o apoio de oganizações protestantes, do qual muitos se foram juntar aos movimentos de libertação dos respectivos países. O dr. Boal começou por se juntar em Leopoldville ao MPLA para, mais tarde, quando este foi forçado a saír da cidade, ir ter com a mulher a Dakar e colaborar com o PAIGC.

Quanto ao dr. Mário Pádua - que desertou do Exército colonial em Angola e veio a ser médico do PAIGC, no Hospital de Ziguinchor, onde tratou o soldado Fragata - não sei se era casado na altura. (...)

(***) Vd. poste de 9 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13865: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)

(...) "Em 1971 Amilcar Cabral pediu o fornecimento de uma estação de rádio montada em dois camiões Mercedes Benz...também fornecidos pela Suécia. (...)

"Em 19 de Setembro 1972, dois transmissores (e o material de estúdio respectivo) começaram a funcionar desde o Norte da Guiné [leia-se: Senegal], com programas também para Cabo Verde.

"Os técnicos responsáveis por estas transmissões foram treinados na companhia sueca Swedtel." (...)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15351: Tabanca Grande (476): Carlos Valente, ex-1.º Cabo do Pel Mort 2005 (Guiné, 1968/69), 705.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Carlos Valente (ex-1.º Cabo do Pel Mort 2005, Bafatá, 1968/69), com data de 29 de Novembro de 2015:

Camarada Carlos Vinhal:
Obrigado por contactar-se comigo e poder assim reviver memórias de outros tempos, nem todas boas, mas também nem todas más.
Aqui vai uma historia das muitas que todos temos.

Que bom seria saber alguma coisa de velhos camaradas. O nosso Pelotão (Pelotão de Morteiros 2005), composto de 48 homens (1 Alferes, 1 Sargento e 2 Furriéis) embarcou no Uíge em Lisboa no dia 10 de Janeiro de 1968, com destino a Bafatá.

O nosso Pelotão era independente e estava dividido em Esquadras compostas por um cabo e dois municiadores que ofereciam apoio aos vários destacamentos, tais como: Banjara, Cambajú, Sumbundo, Sare Ganá, Cantacunda e Sare Banda, que rodavam a cada dois meses, regressando a Bafatá.



Ao chegar a Bafatá, logo no primeiro dia, a minha Esquadra (eu, o André - rapaz de Alcobaça - e o Gaspar) fomos destacados para Banjara com as seguintes indicações do nosso Alferes Piçarra:
- Quando chegares a Banjara tens que ver as condições do armamento e das munições. Se por acaso uma das granadas não sair, diriges-te ao Alferes do pelotão (Pelotão de Atiradores da Companhia de Geba), já que ele tem um Furriel especializado em minas e armadilhas que se encarregará de tirar a granada do morteiro.

Lá fomos e quando chegámos  fizemos o que nos mandou o Alferes Piçarra. Experimentámos um morteiro de 81 com uma granada de grande potência, e tivemos má sorte, a maldita não saiu, um problema geralmente causado pela humidade no cartuxo da granada.

Dirigi-me ao Alferes e expliquei-lhe a situação. Este desentendeu-se do problema e não quis envolver ninguém no assunto. Perante esta resposta tive eu que resolver o problema.

Eu tinha sido treinado, no Batalhão de Caçadores 10 em Chaves, para desenrascar casos como este, mas nunca esperava ter que o resolver. Eu estava bem consciente de que esta operação era perigosa, mas quando reparei que o Pelotão de Atiradores da Companhia de Geba, ao ver-me a mim e ao André resolvidos a desalojar a granada do morteiro, começarem a distanciar-se a uns duzentos metros do morteiro e a esconderem-se por detrás das árvores, é que eu vi que o caso era mais complicado do que imaginava. Certamente pensavam: “Estes periquitos vão já voar”.
Graças a Deus, e ao treino que recebi, conseguimos desarmar o morteiro.


Ironicamente, o mesmo Pelotão de Atiradores da Companhia de Geba, que se salvou da nossa intervenção, não teve a mesma sorte em Cantacunda em Abril de 1968(1), estando eu e a minha Esquadra em Sare Ganá. Parte deste Pelotão foi capturado pelos “turras”, salvando-se só 5 o 6 que conseguiram fugir do quartel. O ataque, e as explosões de morteiro, ouviam-se no destacamento de Sare Ganá. Quando chegámos a Cantacunda a cena que encontrámos foi triste.
Esta é uma historia para outro dia.

Os prisioneiros estiveram em Conacri (República ex-francesa, ao sul da Guiné), e só dois anos depois, em 1970, é que foram resgatados.

(Clicar nas imagens para mais fácil leitura)

Fico hoje por aqui amigo, as fotos seguem.
Qualquer pergunta, estou às ordens.

Um abraço,
Carlos Valente
1.º Cabo do Pelotão de Morteiros 2005
____________

Nota do editor:

(1) - Vd. poste do nosso camarada Marques Lopes, ex-Alf Mil da CART 1690:

Guiné 63/74 - P21: O ataque e assalto do IN ao destacamento de Cantacunda (1968) (Marques Lopes)

"No dia 10 do corrente cerca das 00H00, o destacamento de Cantancunda foi atacado por numeroso grupo IN."
 

"Devido à hora a que o ataque foi realizado, a guarnição do destacamento encontrava-se quase toda a dormir na caserna. Devido à configuração do terreno (do lado Norte do destacamento existe uma floresta que dista, no máximo de 5 metros do arame farpado; do lado Poente essa floresta prolonga-se e verifica-se que havia 2 aberturas no arame farpado: uma que durante a noite era fechada com um cavalo de frisa, outra que devido às obras e construção da pista de aterragem se encontrava aberta; do lado Sul existia a tabanca cujas moranças confinavam com o arame farpado; do lado Nascente existe uma bolanha), e devido também à falta de iluminação exterior, o IN pôde aproximar-se do arame farpado sem ser detectado pelas sentinelas e abrir fogo com bazookas e lança rocketes sobre a caserna, tendo em seguida atacado pelos lados Norte, Poente e Sul: pelo lado Norte o IN atirou com troncos de árvores para cima do arame farpado tendo em seguida ultrapassado o mesmo; do lado Poente afastou o cavalo de frisa e penetrou por essa abertura, e pelo lado da pista; pelo lado Sul infiltrou-se pelas tabancas que queimou e em seguida penetrou no aquartelamento."
 

"Devido à simultaneidade com que os movimentos foram efectuados (os mesmos foram comandados do exterior por apitos), verificou-se que as NT não puderam atingir os abrigos e foram surpreendidos no meio da parada. Note-se, contudo, que alguns elementos das NT ainda conseguiram atingir os abrigos (por exemplo os 1°s. Cabos Esteves E Coutinho e os Soldados Areia e Aguiar, tendo este último sido morto no local e os restantes conseguido escapar)."

"Devido ao numeroso grupo IN não foi possível contudo organizar uma defesa eficaz pelo que as NT foram obrigadas a abandonar o destacamento. No entanto só 9 elementos é que conseguiram escapar, tendo 11 desaparecido (provavelmente feitos prisioneiros) e 1 morto."


"Possíveis causas do insucesso das NT:
- O poder de fogo do IN;
- O grande numero de elementos que constituíam o grupo IN;
- A violência com que o ataque foi desencadeado;
- A pontaria certeira do grupo IN, que acertou os primeiros disparos na caserna das NT;
- O comando eficaz do grupo IN;
- A falta de iluminação existente no destacamento;
- Possível insuficiência de abrigos;
- As proximidades da mata do arame farpado;
- As proximidades da tabanca do arame farpado;
- O reduzido efectivo das NT;
- Possível abrandamento das condições de segurança;
- Longa distância deste destacamento à Sede da Companhia (cerca de 50 kms)"

[...] 

************

2. Comentário do editor:

Caro amigo Carlos, bem-vindo à nossa Tabanca.
Muitos parabéns porque és o primeiro combatente do Pel Mort 2005 a juntar-se a esta comunidade de combatentes da Guiné, que nesta tertúlia têm a nobre missão de deixar um registo de memórias escritas e em imagens, tendo estas a forma de fotografias ou documentos da época, já desclassificados, que ficarão a fazer parte de um espólio público, acessível a outros camaradas, estudiosos, etc.

Estás desde já ciente da tua responsabilidade enquanto elemento único da tua Unidade. Fotos que guardes, memórias quase esquecidas, é o que esperamos de ti para melhor conhecermos o percurso do Pel Mort 2005 por terras da Guiné.

Estamos ao teu dispor para qualquer dificuldade ou dúvida.

Para acabar, fica aqui um abraço da tertúlia e dos editores deste Blogue, com a certeza de que a partir de hoje estás mais rico, porque aderiste a um grupo de amigos que está disposto a ouvir-te e a partilhar aquela amizade que só os combatentes da Guiné sentem uns pelos outros.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15287: Tabanca Grande (475): Armando Ferreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15118: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (13): a Op Mar Verde, a casa de Amílcar Cabral, os prisioneiros portugueses da prisão "Montanha", as alegadas declarações do ten cmd João Januário Lopes (em que um dos seus objetivos era a destruição dos MiG no aeroporto de Conacri) e, por fim, os "internacionalistas cubanos"...

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1. Documentos do Arquivo Amílcar Cabral, alojados no portal Casa Comum, Fundação Mário Soares, reproduzidos com a devida vénia...

Recorde-se as normas deste portal, Casa Comum, sobre os  direitos de autor: a publicação, total ou parcial, deste(s) documento(s) exige prévia autorização da entidade detentora. Devemos respeitar esta norma, tal como gostamos que os outros respeitem as nossas, não utilizando, por exemplo,  abusivamente, sem autorização, ou sem sequer a  identificação da fonte, os nossos textos, vídeos e imagens.

No nosso caso, chegámos a um 'acordo de cavalheiros' sobre a utilização, por parte do nosso blogue, de imagens e documentos disponibilizados pelo portal Casa Comum, e muito em particular os que estão relacionados com a guerra colonial na Guiné (1961/74) (*).

Sobre os tão falados MiG da Guiné-Conacri que terão violado, alguns vezes, o espaço aéreo da então Guiné portuguesa (, de acordo com o José Matos, autor do artigo "A ameaça dos MiG na guerra da Guiné", que publicámos recentemente em 4 postes), bem como sobre os eventuais pilotos do PAIGC em formação na antiga URSS, não encontrámos, até agora, nenhuma referência no Arquivo Amílcar Cabral.  Referências há, e muitas,  mas é aos alunos da Escola... Piloto do PAIGC, em Conacri, onde estudavam os filhos da "nomenclatura" do partido...

Todavia, encontrámos alguns documentos (e nomeadamente fotos) direta ou indiretamente relacionados com a Op Mar Verde (22 de novembro de 1970) que achamos por bem selecionar e reproduzir. Este acontecimento irá levar a uma escalada da guerra, e a um maior apoio não só político como militar por parte da ex-URSS e do seu bloco, incluindo a Cuba de Fidel Castro (que já apoiava o PAIGC desde 1966, em homens, diplomacia  e instrução militar).

Há diversos telegramas com mensagens de repúdio pela invasão de Conacri e de solidariedade e apoio ao PAIGC e ao seu secretário geral, com data posterior a 22/11/1970. Mas não é percetível que esse apoio se traduzisse, de imediato,  em fornecimento de mais armamento ou de novos tipos de armamento (muito menos aviões e pilotos). Os mísseis terra-ar Strela só virão depois da morte de Amílcar Cabral.... Ou pelo menos a sua utilização no TO da Guiné.

Dois anos depois da invasão de Conacri e da tentativa de golpe de Estado contra Sékou Touré (em dezembro de 1972, a um mês do seu assassinato), Amílcar Cabral continuava a frequentar a embaixada cubana em Conacri. Era então embaixador o nosso conhecido Óscar Oramas (que vai ser um dos  biógrafos,  ou hagiógrafo, do dirigente histórico do PAIGC).



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de março de 2008 >

Os únicos participantes cubanos, convidados pela organização: (i)  Óscar Oramas [Oliva], antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri (nascido em 1936, na província de Cienfuegos, diplomata e escritor, estava em Conacri aquando da Op Mar Verde, em 22/11/1970, e aquando do assassinato de Amílcar Cabral, em 22/1/1973); e  (ii) Ulises Estrada [Lescaille] (Santiago de Cuba, 1934 - La Habana, 2014), antigo combatente da Sierra Maestra e "combatente internacionalista" que integrou, como "voluntário", as fileiras do PAIGC. [Chegou à Guiné em meados de 1966, e estava ao lado de Domingos Ramos, chefe da Frente Leste e comissário político do PAIGC, quando este foi atingido mortalmente em 10 de novembro de 1966, por um estilhaço de morteiro, num ataque de artilharia (1 canhão s/r) e infantaria ao quartel de Madina do Boé, segundo a informação que me prestou em Bissau, em 3/3/2008.] (LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



2. Convenhamos que grande parte da documentação deste período, disponível no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum,  terá, para nós, pouco interesse historiográfico, trazendo poucas ou nenhumas novidades, a não ser eventualmente o último documento abaixo reproduzido (Pasta: 07066.087.006): trata-se de um texto, de 11 páginas, manuscritas, em papel quadriculado, e em que se relata as declarações, proferidas  perante a Comissão de Inquérito da ONU, alegadamente pelo tenente João Januário Lopes,   da 1ª CCmds Africanos, que foi feito prisioneiro em 22/11/1970.  Não sabemos quem é o autor do documento.

Recorde-se que o cmdt da Op Mar Verde, Alpoim Calvão,  deu o ten cmd Januário Lopes como "desertor" (vd. "Operação Mar Verde: um documento para a história”, livro de António Luís Marinho, Círculo de Leitores, 2005).

Neste documento do Arquivo Amílcar Cabral o ten cmd Januário é referido como tendo declarado que um dos objetivos a atingir pelo seu grupo, liderado pelo capitão paraquedista Morais,  era a tomada do aeroporto internacional de Conacri e a destruição dos MiG da aviação guineense", além da sabotagem da pista... O documento, em português, datado  de 29/11/1970, tem por título "Comunicado do Comité de Defesa da Revolução de Kundara" (sic).

Não é demais reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade  e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral. Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira. (**) (LG)
____________________



05222.000.418
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Pasta: 05222.000.418
Título: Destruição do Secretariado Geral do PAIGC após o ataque português a Conakry
Assunto: Destruição do Secretariado Geral do PAIGC em Conakry, após o ataque português àquela cidade, em 22 de Novembro de 1970 [Operação Mar Verde].
Data: Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1


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Pasta: 05222.000.364
Título: Militantes da FLGC capturados após o ataque português a Conakry, em Novembro de 1970
Assunto: Militantes da Frente de Libertação da Guiné-Conakry [oposicionistas ao regime de Sekou Touré] capturados após o ataque português a Conakry [Operação Mar Verde], em Novembro de 1970.
Data: Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1

05222.000.417
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Pasta: 05222.000.417
Título: Casa de Amílcar Cabral em Conakry, destruída após o ataque português àquela cidade
Assunto: Casa de Amílcar Cabral em Conakry, destruída após o ataque português a Conakry, na República da Guiné, em 22 de Novembro de 1970 [Operação Mar Verde].
Data: c. Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1
Data: c. Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1.

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Pasta: 05222.000.417 
Título: Casa de Amílcar Cabral, parcialmente destruída após o ataque português a Conakry
Assunto: Estado da casa de Amílcar Cabral, depois do ataque português a Conakry [Operação Mar Verde, comandada por Alpoim Calvão].
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1
Data: c. Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Pàgina8s): 1

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Pasta: 05222.000.412
Título: Convívio entre prisioneiros portugueses e elementos do PAIGC.
Assunto: Jogo de futebol entre militares portugueses, feitos prisioneiros, e militantes do PAIGC.
Data: 1963 - 1973
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1


Pasta: 05222.000.204
05222.000.204
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05360.000.026



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Título: Prisioneiros de guerra portugueses em Conakry.
Assunto: Prisioneiros de guerra portugueses nas instalações do PAIGC em Conakry [alguns destes militares pertenciam à Companhia de Artilharia 1690, Geba, 1967/69].
Data: 1967 - 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias
Página(s): 1

Pasta: 07066.087.006
Título: Comunicado do Comité de Defesa da Revolução de Koundara
Assunto: Comunicado do Comité de Defesa da Revolução de Koundara dando conta da liquidação de trinta e seis "mercenários" e captura de dezoito na Região Administrativa de Koundara. Relatório do procedimento da Missão de Inquérito da ONU encarregue de recolher dados sobre o ataque a Conakry [Operação Mar Verde].
Data: Domingo, 29 de Novembro de 1970 - Segunda, 30 de Novembro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Páginas: 11.


Pasta: 05360.000.026
Título: Amílcar Cabral, Aristides Pereira [e Oscar Oramas] durante uma reunião com internacionalistas cubanos, em Conakry
Assunto: Amílcar Cabral, Aristides Pereira [e Oscar Oramas, Embaixador de Cuba] durante uma reunião com internacionalistas cubanos, na Embaixada de Cuba em Conakry.
Inscrições: Dec. 1972. Reunião com camaradas cubanos.
Data: Dezembro de 1972,
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Fotografias.
Página(s): 1


______________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12142: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (1): Comunicado do comandante do setor 2 da Frente Leste, de 27/1/1971, relatando duas ações: (i) A instalação de 2 minas A/C em Nhabijões, acionadas pelas NT em 13/1/71; e (ii) Flagelação ao aquartelamento do Xime, no dia seguinte´

(...) Caro Luís Graça,


Obrigado pela tua mensagem e, como sempre tenho referido, pelo trabalho fantástico que tens feito no blog.

Quanto às imagens solicitadas, levantam-se alguns problemas, que temos procurado evitar. Por isso, proponho a seguinte solução:

(i) Fotografias: cedemos cópia das fotografias com 72dpi de resolução e a dimensão máxima de 400 pixels;

(ii) Documentos: podem ser referenciados com um thumbnail (dimensão máxima 200 pixels) que serve de link para o documento em www.casacomum.org.

Todos estes elementos devem ser devidamente referenciados, conforme consta do campo "Fundo" na descrição que encontra no site.

Espero que entendas a solução proposta, que resulta de compromissos e equilíbrios com outras instituições.

Um grande abraço,
Alfredo Caldeira

Administrador
Arquivo & Biblioteca
Fundação Mário Soares
Rua de São Bento, 176
1200-821 - Lisboa
Tel: (+351) 21 396 4179

Fax: (+351) 21 396 4156
www.fmsoares.pt
www.casacomum.org


(**) Último poste da série > 23 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13787: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (12): Em meados de 1962, seis meses antes do início oficial da guerra, já a região de Quínara está "a ferro e fogo", a avaliar por um comunicado de 30/6/1962, assinado pelo comandante do PAIGC Rui Djassi (nome de guerra, Faicam)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14002: Efemérides (180): A grande invasão a Conakry foi há 44 anos - Artigo da autoria de Luís Alberto Bettencourt publicado no "Açoriano Oriental" (Luís Paulino)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Paulino, (ex-Fur Mil da CCAÇ 2726 Cacine e Cameconde, 1970/72), com data de 9 de Julho de 2014:

Caro Companheiro Vinhal,
Anexo um artigo que foi publicado no Jornal Açoriano Oriental no passado dia 22/11, da autoria de Luís Bettencourt, companheiro da minha CCaç 2726, que esteve largos meses de preparação no Arquipélago dos Bijagós, para ser integrado na operação militar mais polémica desencadeada durante a Guerra Colonial - Operação Mar Verde.
À última hora e com alguma felicidade à mistura não foi selecionado, contudo conhece como poucos, os contornos que envolveram esta Operação.
Este Artigo tem a concordância do Jornal Açoriano Oriental e do autor, para ser publicado no Blogue "Luis Graça & Camaradas da Guiné".
Deixo à vossa consideração.

Saudações Fraternais
Luís Paulino



Guerra Colonial

CONAKRY – A GRANDE INVASÃO

Completam-se hoje quarenta e quatro anos desde que se realizou a operação militar mais arrojada e mais polémica que as forças armadas portuguesas levaram a cabo ao longo de treze anos de guerra em Africa – a «Operação Mar Verde».

O plano consistia em invadir Conakry, capital da república da Guiné, com o objetivo de depor o ditador Sekou Touré, e colocar à frente da Guiné Conakry um governo da confiança de Portugal. A destruição das bases militares do P.A.I.G.C., assim como a libertação dos prisioneiros de guerra portugueses, eram objetivos determinantes.
De salientar que a república da Guiné constituía o principal apoio logístico da guerrilha inimiga, com bases instaladas no seu território, onde então viviam os principais dirigentes inimigos, incluindo o próprio Amílcar Cabral, referenciado como possível alvo a capturar ou até mesmo a abater.

A ideia de que seria mais fácil vencer a guerra na Guiné destruindo as bases inimigas no seu próprio território foi sendo alimentada e planeada pelo comandante Alpoim Calvão, tendo este apresentado o plano a Marcelo Caetano, que inicialmente não se mostrou muito entusiasmado, temendo uma eventual reação internacional. Afinal, tratava-se de invadir um país soberano.


A PREPARAÇÃO

Em finais de 1969, o general Spínola anuncia a Alpoim Calvão que o ministério do ultramar tinha sido contactado por elementos dissidentes do regime da república da Guiné, que se encontravam dispersos em diferentes países de África e que solicitavam apoio para uma ação contra o presidente Sekou Touré. Estabelecidos diversos contactos, combinava-se a data e local de recolha, limitados ao período da noite e às horas das marés, escolhendo-se locais isolados, com boas possibilidades de embarque. Assim, percorreram-se as costas do Senegal, Gâmbia e Serra Leoa, até à fronteira da Libéria, utilizando as mais variadas praias para o fim em vista. Estava assim constituído o grupo de oposicionistas denominado Frente de Libertação Nacional da Guiné Conakry. Todos eles foram instalados na ilha de Soga, no arquipélago dos Bijagós, onde durante seis meses receberam treino operacional ministrado por uma elite de militares portugueses e que incluía, para além da preparação física, golpes de mão, assalto a objetivos, desembarques, etc.

Cumprido esse tempo, tem início a revisão da planificação final, tendo Calvão esboçado uma lista de cerca de 25 alvos a destruir que incluía, entre outros, o aeroporto, o palácio presidencial, a emissora local, a central elétrica e a prisão onde se encontravam os prisioneiros de guerra portugueses. A cada objetivo fez-se corresponder uma equipa chefiada por um graduado português, e ao grupo de dissidentes juntou-se a companhia de comandos africanos e o destacamento de fuzileiros especiais.

Com tudo pronto, faltava apenas a aprovação do professor Marcelo Caetano, que então deu a sua concordância com a indicação expressa de que não deveriam ficar vestígios da presença portuguesa no local da ação. Na véspera do embarque, o general Spínola deslocou-se à ilha de Soga e falou aos militares, fazendo um discurso empolgante, referindo que aquela operação poderia mudar o curso da guerra. Calvão reúne com as equipas de assalto e revê pela última vez as missões atribuídas.

Chegava a hora da partida, eram 20:00h do dia 20 de Novembro de 1970. A força naval invasora deixava a ilha de Soga com destino a Conakry.


A EXECUÇÃO

A viagem decorreu normalmente, tendo sido dada ordem para ocultação rigorosa de luzes e artilharia pronta. A bordo seguiam duzentos homens da Frente de Libertação Nacional da Guiné Conakry, cento e cinquenta da companhia de comandos africana e cerca de oitenta fuzileiros, sendo a força naval composta pelas lanchas de desembarque Montante, Bombarda, Hidra, Dragão, Cassiopeia e Orion. Em Bissau, a força aérea entrava de prevenção.
Com Conakry à vista, os navios da força rumaram para as posições mais convenientes a fim de desembarcarem as equipas de assalto. A bordo da Orion, Calvão dá finalmente ordem de desembarque por volta das 01.30h do dia 22.
Começava assim a invasão. Os grupos de assalto dirigiram-se aos respetivos objetivos, os fuzileiros chegaram rapidamente ao porto onde se encontravam as lanchas do P.A.I.G.C. e, abrindo as portas das cobertas, lançaram granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas, neutralizando as guarnições e destruindo as embarcações.
A central elétrica é localizada e destruída, mergulhando a cidade numa escuridão total, que para além de causar pânico na população local, facilitava as operações de assalto.
Por outro lado, a equipa destinada ao palácio presidencial não encontra o presidente Sekou Touré nem Amílcar Cabral e abandona o objetivo alvejando-o com bazucadas e incendiando o palácio.
Alpoim Galvão, seguia atentamente o desenrolar das operações através de mensagens que lhe faziam chegar. Uma boa notícia então lhe foi comunicada: a equipa destinada à prisão do regime tinha conseguido, depois de uma breve batalha, libertar os 26 prisioneiros de guerra portugueses.
A emissora local, um dos principais alvos, continuava a emitir a sua programação normal, sinal de que não tinha sido ocupada. Na realidade, a equipa destinada a esse objetivo nunca conseguiu descobrir onde ela ficava, não permitindo anunciar, conforme previsto, o golpe de estado.
No assalto ao quartel da guarda republicana, o comandante do grupo alferes Abílio Ferreira é abatido quando tentava ocupar as instalações.
A ocupação do aeroporto resultou igualmente num imenso fracasso devido ao facto de o tenente dos comandos africanos Januário Lopes ter protagonizado um dos momentos mais dramáticos da operação, quando decidiu desertar com o seu grupo e entregar-se às autoridades locais. Mais tarde, seria executado juntamente com o seu grupo.


A RETIRADA

Com o tempo a passar, e apercebendo-se do falhanço de alguns objetivos, Alpoim Calvão faz regressar as equipas a bordo, dando ordem de retirada imediata, evitando assim qualquer resistência inimiga. Temia um possível ataque aéreo, uma vez que os aviões MIG17 não tinham sido encontrados e destruídos, missão que estava atribuída à equipa do aeroporto. Os seis navios que transportavam o contingente que tinha ocupado Conakry durante varias horas navegavam agora com destino à ilha de Soga em formatura de losango, a mais adequada contra ataques aéreos.
Para trás ficavam os elementos oposicionistas na esperança de ainda ser possível concretizar o golpe de estado, o que nunca veio a acontecer. Presos e torturados, acabariam por serem fuzilados sem direito a defesa. O insucesso do golpe de estado ficou-se devendo à manifesta carência de informação e apoios que não existiram ou, se existiram, não se concretizaram.
Nesta operação as forças portuguesas sofreram três mortos, seis feridos, e fizeram cerca de 500 mortos entre militares e civis da Guiné Conakry.


CONCLUSÃO

Embora não se tenha atingido o principal objetivo da invasão, a tão desejada implantação de um governo favorável aos interesses de Portugal, alguns aspetos positivos resultaram da operação, em especial a destruição de grande parte da força naval do inimigo, mas o único aspeto consensual acabou por ser o da libertação dos prisioneiros de guerra portugueses. No seu regresso às respetivas terras, tiveram de assumir perante a P.I.D.E / D.G.S. o compromisso assinado de nunca falarem na circunstância da sua libertação. Oficialmente, tinham conseguido fugir e chegar à fronteira da Guiné Portuguesa.

Luís Alberto Bettencourt
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13950: Efemérides (179): Deixem-me celebrar o dia de Ação de Graças, o Thanksgiving Day, no meio de vós, nos dois lados do Atlântico (José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12007: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (7): Relato do ataque à capital da República da Guiné feito pelo Tenente Januário na Rádio Conacry

1. Continuação das "Memórias da Guiné" do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro de sua autoria com o mesmo título, Edições Polvo, 2005:


MEMÓRIAS DA GUINÉ

Fernando de Pinho Valente (Magro)
ex-Cap. Mil de Artilharia 

7 - Relato do ataque à capital da República da Guiné feito pelo Tenente Januário na Rádio Conacry

"A viagem do Xime (porto próximo do Quartel dos Comandos Africanos de Madina Mandinga) até à ilha de Soga (no arquipélago de Bijagós) durou seis a sete horas.
Chegamos de madrugada a Soga. Não desembarcamos. O pessoal das lanchas não podia ir a terra nem o pessoal de terra podia ir a bordo. Gerou-se a confusão entre nós.
Todos perguntávamos: para onde iremos? Ninguém sabia, nem os pilotos das embarcações. O Comandante da minha lancha também não sabia.
A moral baixou.
Falava-se que iríamos para a ilha de Como, Cabo Verde ou Teixeira Pinto.

No dia anterior à partida foi-nos dada ordem para ir a terra trocar de fardamento e armamento.
Em terra encontrei gente estrangeira que não conhecia. De onde vieram? Ninguém sabia.
Um rapaz de Conacry disse-me que íamos à terra dele.
Aquele pessoal era da República da Guiné e ia ser levado até à sua terra.

Regressei a bordo e contei o que ouvi.
- Vamos para Conacry. Vocês estão de acordo?

Ninguém estava de acordo, nem os soldados, nem os sargentos, nem os oficiais, nem o Major.
O Comandante Calvão prendeu o Major (Leal de Almeida) que se insubordinou e mandou-o para Bissau.
O nosso Major (Leal de Almeida) foi para Bissau num dia e no outro voltou com o nosso General e o Comandante Calvão.
Foi reunida a Companhia (Comandos Africanos) e o nosso General disse que iríamos a Conacry somente levar os homens que estavam na ilha e mais nada.
Deixaríamos os homens no porto e regressaríamos. Mais nada.

Começamos a pensar na família. Se por acaso tivessemos qualquer contacto com tropas da República da Guiné? Se eles viessem à nossa terra e atacassem a nossa família, gostaríamos disso?
Tenho na Guiné Portuguesa o meu pai já velho, o meu filho, os meus amigos, a família toda.
Não estava de acordo em ir. A maioria dos oficiais, sargentos e soldados também não estavam de acordo.
Mas o General (António Sebastião de Spínola) convenceu a "malta". Disse-nos que era a única maneira de acabar com a guerra. Que estava tudo arranjado e que não haveria problemas. Disse-nos que as nossas famílias não seriam esquecidas se algum mal nos acontecesse.

O General disse que não haveria problemas e que a operação seria cancelada se houvesse qualquer alteração e se se verificasse, em qualquer altura, que não seria bem sucedida.
Que havia 95% de probalidades de êxito.
Já não pudemos invocar mais nada.
Tivemos que vir.

As forças com quem viemos e que se chamavam a elas mesmas Forças da República da Guiné eram cerca de 150 homens.
A minha Companhia (Comandos Africanos) tinha, também, 150 homens.
Havia também 80 fuzileiros.
Estas forças todas foram subdivididas em pequenos grupos. Cada grupo era destacado para um barco. Ao todo eram seis barcos, que partiram a horas diferentes.

Saímos às 8 horas da noite da ilha de Soga e chegamos aqui às 10 horas da manhã do outro dia. Quando à noite se começou a ver uma luz vermelha, que é a indicação de terra, foram-nos chamar.
O Capitão Bacar (negro) chamou-me e foi então que me apareceu o Capitão Morais (branco) todo pintado de preto que eu nem o conhecia.

Ele disse-me:
- Januário, vamos saltar aqui.
- O quê? Então disseram-nos que vinhamos só trazer o pessoal e eles é que desembarcariam e agora nós também vamos a terra?
- O General mandou e temos de ir lá.

Mandou seguir seis botes cheios de gente para terra.
Eu ia no bote imediatamente atrás do Capitão Morais.
Rumamos à costa. Junto a terra encontramos duas canoas, suponho de indivíduos que andavam a pescar.

Pensei alto: eles vão ser avisados e isto vai ser uma chatice.
- Oh, não. São pescadores. Parece que estás com medo...
- Não, não estou com medo. Se você vai eu também vou.

Chegamos a terra e desembarcamos.

O Capitão Morais disse-nos:
- A nossa missão é atacar o Aeroporto e destruir os MIG's. Outros grupos atacarão o PAIGC, a estação dos correios e a emissora.

Em terra fomos progredindo sem custo.
Subimos um muro e começámos a ver o Aeroporto. Depois parámos.
O Capitão continuou.
Eu parei. Fiz sinal aos homens que me acompanhavam para pararem também.
Perdemos a ligação com o Capitão Morais.

Disse aos soldados:
- Vamos atacar esta gente? Gostaríamos que nos fizessem o mesmo? Eu não atacarei ninguém. Quem quiser ficar comigo que venha para aqui. Os outros que corram para a frente.

Vinte homens que estavam comigo decidiram logo não atacar.
Regressamos todos ao ponto onde desembarcámos.
Eu bem sabia que quando chegasse a Bissau teria alguns anos de cadeia.

Quando chegámos à costa já não apanhámos os barcos.
Resolvemos esconder-nos e esperar pela manhã.
Resolvi apresentar-me às autoridades logo que amanhecesse.
Encontrei um rapaz daqui que me levou à Polícia Popular.
Aí disse o que tinha acontecido e fiz a entrega das armas.
Os soldados que estavam comigo acompanharam-me e fizeram o mesmo.
Verificou-se logo que as armas não haviam feito fogo.

Estas informações foram ditas por mim, Tenente Januário, e se não digo mais é porque mais não sei."
O Tenente Januário foi, passado algum tempo, julgado e condenado à morte, tendo, posteriormente, sido fuzilado.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11990: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (6): A invasão de Conacry

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11990: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (6): A invasão de Conacry

1. Continuação das "Memórias da Guiné" do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro no ano de 2005:


MEMÓRIAS DA GUINÉ

Fernando de Pinho Valente (Magro)
ex-Cap. Mil de Artilharia

6 - A invasão de Conacry

No dia 23 de Novembro de 1970, Bissau ficou completamente às escuras. Não havia energia eléctrica em parte alguma.
Toda a gente ficou a pensar que o gerador tinha avariado.

Naquelas paragens, dadas as altas temperaturas que por lá se registam durante todo o ano, a energia eléctrica torna-se essencial para a maneira de viver a que os europeus estão habituados.
Sem energia o ar condicionado deixa de se fazer sentir, as ventoinhas deixam de funcionar e os frigoríficos deixam de conservar os alimentos e de refrescar as bebidas…

No dia seguinte a conversa de todos os europeus e porventura de muitos africanos era a falta de energia que se havia sentido durante a noite.

Que teria acontecido?

Começa a espalhar-se, muito em segredo, a notícia de que Bissau ficou às escuras na noite de 23 para 24 de Novembro e iria continuar sem qualquer iluminação nas noites seguintes porque se temia que os aviões MIG da República da Guiné-Conacry atacassem a cidade.
 
E depois começou a circular a notícia de que essa acção poderia vir a dar-se por retaliação, porquanto Conacry tinha sido atacada pelos portugueses na noite de 22 para 23 desse mesmo Novembro de 1970.
As notícias desse acto de guerra eram porém muito vagas e quando se falava nisso era muito em surdina, quase em segredo.

Resolvi saber o que se passou em concreto e sintonizei o meu rádio na frequência da Rádio Conacry. Comecei a ouvir notícias em francês que me desconcertaram, deixando-me boquiaberto com o que estava a ser divulgado nessa rádio.
 
E a data altura foi anunciado que o Tenente Januário dos Comandos Africanos, que eu conhecia bem, e que havia sido aprisionado em Conacry, iria relatar tudo quanto se passou.

Gravei o testemunho do Tenente Januário e o seu relato explosivo que reproduzirei mais à frente.
E comecei a tirar conclusões. A pouco e pouco, ao longo do tempo, compus um "puzzle" que julgo não andar longe do que verdadeiramente aconteceu.

A Guiné Conacry e o seu Presidente Sekou Touré, davam um total apoio ao PAIGC de Amílcar Cabral, movimento subversivo que combatia os portugueses.
 
Em Conacry estava instalado o Quartel-general Central do PAIGC e as suas bases na República da Guiné.
 
Por outro lado a oposição interna ao Presidente Sekou Touré estava continuamente aumentando e até já havia colaboração de guineenses de Conacry com os Comandos Africanos Portugueses.

Segundo Mário Matos Lemos, talvez tivesse partido dessa oposição a ideia da invasão da Guiné-Conacry.
 
Com efeito, Gago de Medeiros, no seu livro "Um Açoreano no Mundo", afirma que um representante da Frente de Libertação Nacional (Front National de Liberation) da República da Guiné o procurou em Genebra, em Setembro de 1967, pedindo-lhe que o pusesse em contacto com o Governo Português, o que terá acontecido.
 
Há quem atribua, contudo, a ideia da invasão ao Comandante Alpoim Calvão, apoiado pelo General Spínola. Seja como for, a ideia seria invadir Conacry e colocar um Governo na República da Guiné discretamente favorável à política colonial portuguesa.

"A esse governo nada mais se lhe exigiria que a interdição das actividades do PAIGC em território da República da Guiné.

A PIDE e outros serviços secretos da Europa (franceses e alemães) mais a CIA, estabeleceram contactos. Tratava-se de saber se diversos países seriam ou não favoráveis a um golpe de estado que depusesse Sekou Touré.

Spínola avista-se com Marcelo Caetano a quem expõe a ideia, solicitando-lhe o seu acordo.
Ao que parece Caetano não ofereceu grande resistência. pondo, no entanto, o seu governo fora do assunto. O Governo Português não teria conhecimento de nada do que se viesse a passar. Reserva-se, porém, o direito de vetar o governo fantoche que seria imposto à Guiné-Conacry se dele discordasse."(*)


O receio de se poderem verificar nacionalizações por parte do governo de Sekou Touré levaram multinacionais e serviços secretos a concordarem com a invasão. Por outro lado, o porto de Bissau e as Ilhas de Cabo Verde são considerados pelo Estado-Maior da Nato como bases estratégicas essenciais.

"Iniciam-se, então, os contactos para formação do governo fantoche a cargo da PIDE. São estabelecidas ligações com vários indivíduos dissidentes do regime de Sekou Touré e com refugiados políticos não só na Europa como em alguns países limítrofes da Guiné-Conacry.
Realizam-se várias reuniões na Europa.

Alpoim Cakvão desloca-se à Suíça a fim de participar numa dessas reuniões. A ela compareceu também Jean Marie Doré, primeiro e principal candidato a Presidente após o golpe de estado.
Doré esteve quase a ser aceite para o cargo, no entanto viria a ser posto de lado em virtude da sua conduta moral (...).

É então designado para Presidente o Coronel Diallou (ex-sargento do exército francês) pois oferecia maiores garantias que o anterior.

Escolhido o novo gorverno havia que arranjar os executores do golpe de estado.
Paralelamente às negociações com os políticos, os serviços secretos estabeleceram contactos com mercenários e refugiados da Guiné-Conacry que se encontravam em países fronteiriços.
Duas camadas de refugiados foram recrutadas: os dissidentes por motivos ideológicos e políticos e os que apenas tinham motivos raciais.

Uma vez contactado um número bastante elevado de indivíduos, navios de guerra portugueses foram às águas territoriais de vários países vizinhos, nomeadamente à Gâmbia e Serra Leoa, durante a noite, buscar grupos de indivíduos recrutados pelos contactos locais da PIDE, dispostos a participar no golpe. Uma vez recolhidos pelos navios da Armada Portuguesa foram transportados para a ilha de Soga no arquipélago de Bijagós, onde seriam treinados por um grupo de oficiais portugueses, à frente dos quais estava o Comandante Rebordão de Brito."(*)


Anteriormente, com vários meses de antecedência, haviam sido construídas instalações para albergar este pessoal.
 
Esta ilha de Soga foi escolhida por se ter considerado ser um lugar bastante discreto onde se podia realizar o treino do pessoal sem dar nas vistas. Na ilha de Soga vieram juntar-se aos mercenários e dissidentes de Sekou Touré, num total de 200 homens, mais 220 militares do Exército e Marinha Portugueses.

"A invasão de Conacry veio a receber o nome de código de «Operação Mar Verde».
Esta operação foi planeada com mais de um ano de antecedência e para ela contribuiram investimentos estrangeiros.
O ojectivo político da operação era a substituição do regime de Sekou Touré por um regime não favorável ao PAIGC e simultâneamente favorável às multinacionais e aos interesses estrangeiros na Guiné Conacry."
(*)

E favorável aos interesses de Portugal com interdição das actividades do PAIGC. Os objectivos militares da operação eram os seguintes, de acordo com uma entrevista dada ao Diário de Notícias, em 22 de Novembro de 2000, por Alpoim Calvão:

Em primeiro lugar destruir o Quartel-General Central do PAIGC. Não se tratava de eliminar os seus dirigentes, mas aprisioná-los se possível. Em segundo lugar libertar os prisioneiros portugueses que se encontravam em Conacry.


Em terceiro lugar destruir as vedetas e embarcações do PAIGC e da República da Guiné que estivessem no Porto de Conacry.
 
O quarto objectivo militar era a neutralização da aviação que se encontrasse no aeroporto.
Finalmente, o quinto e último objectivo da Operação Mar Verde era proporcionar o desembarque em Conacry dos elementos do "Front National de Liberation", opositores de Sekou Touré, que acompanhavam os portugueses na referida operação.


Durante a tarde do dia 20 de Novembro de 1970, o General António de Spínola, acompanhado do Comandante Alpoim Calvão, Capitão Almeida Bruno e Luciano Bastos, na altura Comandante Naval da Guiné, dirige-se à ilha de Soga, onde a bordo de um dos navios faz uma exortação aos Comandos Africanos, com viata à acção que iriam empreender.
Esta exortação, em português, é traduzida para crioulo pelo capitão de raça negra João Bacar Jaló (que eu conheci também).


Após o jantar, no mesmo dia 20, os navios Oriane (barco patrulha) [LFG-Orion], Cassiopeia (barco patrulha) [LFG], Dragão (barco patrulha) [LFG], Bombordo (barcaça de desembarque) [LDG-Bombarda] e Montante (barcaça de desembarque) [LDG] [e ainda a LFG-Hidra] zarpam para o largo de onde tomariam o rumo de Conacry.
 
A bordo de um dos navios, Alpoim Calvão comandaria todas as operações.
Embarcaram também nesse navio o Tenente Januário, Zacarias Saiegue [Saiegh] e Marcelino da Mata, todos de raça negra.

Noutros navios seguem, além da Companhia de Comandos Africanos (com o Major Leal de Almeida e o Capitão Bacar), um destacamento de fuzileiros especiais também africanos, o governo do Coronel Diallou e os grupos de combate compostos por dissidentes e refugiados do regime de Sekou Touré, bem como uma força de mercenários.
 
Durante todo o tempo que durou a operação, Alpoim Calvão teria estado em contacto rádio com o General Spínola.

À uma hora e trinta minutos de 22 de Novembro de 1970 Spínola terá enviado para Lisboa uma mensagem rádio dando por iniciada a Operação Mar Verde. A essa hora desembarcaram em Conacry a Companhia de Comandos Africanos, o Destacamento de Fuzileiros Especiais e o Grupo de dissidentes e mercenários.

"Os 220 militares do Exército Português e da Marinha e os cerca de 200 militares do Front National de libération, chegaram nessa noite a ter o controlo quase completo da capital da República da Guiné.
Destruiram as vedetas rápidas da Marinha Guineense e do PAIGC, assegurando o domínio do mar.
Atingiram a central eléctrica, deixando a cidade às escuras, ganhando maior efeito de surpresa.
Tomaram a prisão «La Montaigne», libertando 26 militares portugueses lá detidos.

Destruiram cinco edifícios do PAIGC, eliminando sentinelas e militares que estavam nas imediações, mas Amílcar Cabral não foi encontrado.

Na ânsia de encontrar o Presidente Sekou Touré e de o eliminar, revistaram o Palácio Presidencial, abandonado pela guarda, aterrorizada com o ataque e tomaram a residência secundária do Presidente, mas Touré não estava em nenhum dos locais.

Ocuparam ainda o Quartel da Guarda Republicana e o Campo Militar Samory, destruindo viaturas e originando centenas de baixas... Penetraram na base militar, mas os caças MIG tinham sido enviados para outro local.

Obtido o quase total domínio em terra, as forças portuguesas e da oposição guineense não conseguiram o domínio do ar" (**)

Mas houve outros acontecimentos que correram francamente mal.

Uma vez em terra, o Tenente Januário com o seu grupo de 20 homens, que tinha por objectivo a destruição dos MIG, deserta.

Por seu lado, Zacarias Saiegue [Saiegh] e o seu grupo não conseguiram tomar a estação de rádio, de onde devia ser feita uma exortação ao país pelo Coronel Diallou e a proclamação da destituição de Sekou Touré.

"Alpoim Calvão ao tomar conhecimento do falhanço da não tomada da estação de rádio e sabedor que os MIG não estavam no aeroporto, ordena a retirada levando os militares portugueses libertados. O Coronel Diallou, Presidente indigitado para a República da Guiné retira, também, abandonando os seus homens à sua sorte.

Às 9 horas e 15 minutos de 22 de Novembro de 1970 o Presidente Sekou Touré faz na rádio uma comunicação em que afirma que a situação se encontra normalizada e diz estarem ainda à vista os navios do invasor colonialista, o que era factualmente verdade."
(*)

(*) - Jornal Expresso de 3 de Janeiro de 1976
(**) - José Manuel Barroso. Diário de Notícias de 22 de Novembro de 2000.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11963: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (5): Os movimentos subversivos

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10636: Agenda cultural (230): Lançamento do livro "Sobreviventes", de Lúcia Gonçalves e Cristina Freitas, dia 15 de Novembro de 2012, no Auditório Prof. Alexandre Moreira - Hospital de Santo António, Porto

1. Mensagem de Cristina Freitas, jornalista da SIC, Porto,  enviada ao Blogue no dia 6 de Novembro de 2012:

Caro Sr. Luís Graça,

Gostava muito de contar com a sua presença na apresentação do livro "Sobreviventes", no qual sou co-autora.

Em anexo, pode consultar toda a informação necessária, mas pode marcar já na agenda: é dia 15 de Novembro, quinta-feira, pelas 18h30.

O livro é uma adaptação de seis reportagens emitidas na SIC no ano passado, numa rubrica do Jornal da Noite com o mesmo nome. Uma delas conta a história dos prisioneiros de Conacri [, um deles, o António da Silva Batista], que é agora transcrita para livro. (*)

O “Sobreviventes” já está nas bancas, pode encontrá-lo na Fnac ou nas grandes superfícies.

Espero contar com a sua presença!
Obrigada e cumprimentos,
Cristina Freitas

PS - As reportagens do “Sobreviventes” podem ser vistas ou revistas aqui:
http://videos.sapo.pt/sic/play/258

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10616: Agenda cultural (229): O Festival Sete Sois Sete Luas, na sua 20ª edição, de 4 a 11 de Novembro, em Cabo Verde... Arranca hoje com os portugueses Melech Mechaya na Ilha do Fogo


(*) Vd. poste de 22 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8936: Agenda cultural (167): Programa Sobreviventes: reportagem sobre os ex-prisioneiros portugueses do PAIGC em Conacri, entre 1971 e 1974... SIC, 2ª feira, 21h (Cristina Freitas)

(...) Comentário de L.G.:

O nosso blogue pode e deve ser uma fonte de informação e conhecimento para a comunidade, mais alargada, a quer pertencemos, desde os investigadores aos jornalistas. Congratulamo-nos pelo facto de histórias de "sobrevivência" como as do António Baptista ou do José António  Almeida Rodrigues possam chegar ao conhecimento do grande público, através da televisão.

Tarde de mais ? Espero bem que não: programas como este não servem apenas um propósito de entretenimento, resultam de um trabalho de jornalismo de investigação. Vamos ver, na 2ª feira, a seriedade e a qualidade do trabalho da Cristina Freitas, desejando que o jornalismo televisivo possa também, de algum modo, ajudar à reparação, pelo menos moral, de um dívida que a sociedade portuguesa tem em relação a todos os antigos combatentes da guerra colonial/guerra do ultramar, em geral, e àqueles de nós que conheceram a amargura da prisão, em especial. Embora a guerra colonial (e a neste a caso a prisão em território inimigo) seja aqui vista apenas como mais uma situação limite, se não mesmo um fait divers. (...)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7929: Notas de leitura (216): Grande Reportagem, nº de Dezembro de 1993: Desaparecidos em combate, os portugueses que não voltaram da guerra: o caso do Victor Capítulo, da CART 1743, Tite, 3 de Fevereiro de 1968 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Março de 2011:


Queridos amigos,

Nas minhas arrumações, encontrei este número da revista Grande Reportagem, tanto quanto me ocorre daquilo que leio diariamente no blogue ainda não se falou desta reportagem e da história do nosso camarada Vitor Capítulo (*), um dos libertados da operação Mar Verde.

Um abraço do  Mário

2. Do lado de cá, julgaram-no morto

por Beja Santos 

A revista Grande Reportagem, no número de Dezembro de 1993 tinha uma capa bem expressiva:
“Desaparecidos em combate, os portugueses que não voltaram da guerra”.

O texto era assinado por Fernanda Pratas, assim apresentado:

“Ficar sem um filho na guerra é uma mágoa que não se pode dizer. Muito menos em números, o mais absurdo dos instrumentos para traduzir a tortura de uma ausência forçada. Mas não é de paixões da alma que tratam as instituições. Para as Forças Armadas portuguesas, há um balanço da guerra colonial: 13 anos de campanhas de África, 8807 mortos, 30 000 deficientes. Os restantes 800 000 voltaram vivos e bem de saúde. Tudo resolvido, portanto. De uns, resta encomendar a alma e oferecer medalhas póstumas às crianças, a lembrar que o pai foi herói ao serviço da Nação. Aos estropiados, ajudas financeiras, a assistência do costume. E os outros? Quais outros? Desaparecidos? Isso não há, garantem. Dos nossos, ninguém ficou sem destino. Muitas famílias nunca viram os seus mortos, não têm mesmo a certeza se morreram. Mas que importa?”.

E sucedem-se algumas histórias. António Dias Neto, primeiro grumete da Armada, da Companhia de Fuzileiros nº 7, desapareceu no Rio Zaire. Não deram com o corpo, nem o dele nem o de dois companheiros. Comunica-se à família enlutada, aliás já em decomposição, os pais vão morrer poucos anos depois. Resta Edite, a irmã. Ainda se lutou pela pensão de sangue, os pais dependiam daquele rapaz de 23 anos. A namorada do desaparecido casou.

Desaparecido é sempre uma situação incómoda: prisioneiros, perdidos, desertores e mais algumas situações exóticas. A lógica militar é bastante linear ou quase: da guerra só resultam sobreviventes e cadáveres. Lidar com a situação de um desaparecido é bastante incómodo, nada comparável com um morto em combate ou um morto por acidente.

O escritor João de Melo, que foi Furriel Enfermeiro entre 1971 e 1973, refere-se a uma missão bem espinhosa que coube à sua Unidade: recuperar o corpo de um homem morto uns sete anos antes, enterrado no mato pelos colegas:

“Havia cartas militares com o lugar assinalado, mas a operação era para durar três dias e durou oito. Andámos perdidos, já sem ração de combate. Depois, lá descobrimos umas marcas em árvores, umas pedras no chão, era como que uma caça ao tesouro. Ao longe, víamos o Zaire e os movimentos da FNLA. Desenterrámos então um monte de ossos, sem botas nem roupas, só os ossos. Trouxemo-los para o nosso aquartelamento em sacos de tenda, lavámo-los e foram metidos dentro de uma urna selada, para a família. Esses casos não eram frequentes, normalmente não se deixavam os cadáveres no mato”.

A reportagem prossegue com o desaparecimento do Capitão Piloto-aviador Hugo Assunção Ventura, desaparecido sobre o rio Rovuma. Houve um patrulhamento no rio Rovuma, o T6 desapareceu, conforme depoimento do Furriel Semedo. Um mês depois do desaparecimento, veio da capital da Tanzânia a notícia de um avião encontrado junto ao rio. Em Fevereiro de 1976, chegou ao aeroporto da Portela uma caixa com o que restaria do cadáver: uma bota, uns ossos indistintos, bocados de tecido da farda e do lenço habitual dos pilotos. Sem crânio, não era possível determinar a identidade.





Victor Capítulo, o desaparecido que voltou

E estamos chegados à história de Victor Manuel de Jesus Capítulo, na altura da reportagem com 48 anos. Cá, foi dado como morto, mas voltou e deslumbrou a família. Antes da tropa era pescador em Sesimbra. Em 1967 viajou no barco Timor até à Guiné. Foi colocado na região de Tite [, na CART 1743]. A sua vida mudou na noite de 3 de Fevereiro de 1968, o seu quartel foi atacado, o Victor não se apercebeu do que estava a acontecer, apareceu-lhe pela frente um guerrilheiro que apontou uma arma aos três militares que estavam junto do aparelho da rádio (ele, o Operador de Cripto e o Comandante do Pelotão) cumprimentou-os e levou-os.

Depois de uma longa viagem foi levado para uma prisão em Kíndia, depois para Conacri, será aqui que Victor Capítulo irá conhecer o então Sargento Piloto-aviador Lobato. Serão todos libertados na Operação Mar Verde. Um oficial foi entregá-lo à família a Sesimbra. A reportagem mostra o Victor Capítulo na Guiné e agora (1993) em Sesimbra. À data da reportagem, o Victor dormia mal e precisava de acompanhamento médico. Não é fácil lidar com uma captura, ser interrogado, não saber o dia de amanhã. O Victor foi aquele desaparecido em combate que voltou e quebrou com uma mágoa que não se podia dizer.

Este número da revista Grande Reportagem passa a pertencer ao blogue. (**)
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Notas de CV:

(*) A captura do Victor e demais camaradas (António Júlio Rosa e  Geraldino Marques Contino)  já aqui foi objecto de "tratamento bloguístico", sob o poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2095: PAIGC - Propaganda (3): A guerra dos números (A. Marques Lopes / António Pimentel)

(...) Excerto da notícia da captura do António Júlio Rosa e de mais 2 dos seus camaradas (Jornal Libertação, Fevereiro de 1968, página 3):

(…) Na área de Quínara (Frente Sul), no dia 3 de Fevereiro [de 1968], no decurso de um ataque a uma unidade colonialista que se instalara na tabanca de Bissássema, as nossas forças, comandadas pelos camaradas Fokna Na Santchu e Mamadu Mané, fizeram prisioneiros os seguintes militares portugueses: alferes miliciano de infantaria António Júlio Rosa, 1º cabo nº 093526/66, Geraldino Marques Contino, o soldado nº 034660/66, Victor Manuel de Jesus Capítulo, todos da companhia 1743, estacionada em Tite.

Nesta acção foram ainda postos fora de combate 16 soldados colonialistas. O restante da tropa inimiga fugiu para o campo fortificado de Tite, abandonando no terreno uma importante quantidade de material, entre os quais se contam 6 rádios de campanha de fabricação britânica.

De acordo com as normas do Partido, estes novos prisioneiros portugueses receberão o tratamento humano que lhes é garantido pelas convenções internacionais (...).



(**) Vd. último poste da série de 10 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7920: Notas de leitura (215): Jardim Botânico, de Luís Naves (2) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6945: Notas de leitura (145): Liberdade ou Evasão, de António Lobato (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Agosto de 2010:

Queridos amigos,


Há páginas muito curiosas neste testemunho do Major Lobato. Pena é que não tenhamos o seu relato mais detalhado da Guiné, entre 1961 e 1963. Dá que pensar o que era a implantação do PAIGC no Sul, logo em Maio de 1963. E sente-se o amadurecimento de um resistente numa prisão tenebrosa, num estatuto infame de criminosos de guerra.


Um abraço do
Mário


Major António Lobato, o mais longo cativeiro da guerra colonial

Beja Santos

Alistou-se na Força Aérea como voluntário, em 1957. Embarcou para a Guiné, em 1961. Em 1963, em consequência de uma colisão entre dois aviões, depois de uma operação na ilha do Como, foi feito prisioneiro pelos guerrilheiros do PAIGC. Começava um longo cativeiro que só iria terminar com a operação Mar Verde, em finais de 1970.

O seu relato intitula-se “Liberdade ou Evasão” (Editora Ausência, 2001). É um documento de real importância: fica-se a saber a implantação do PAIGC no sul da Guiné, logo no primeiro ano da luta armada, a sua mobilidade até à República da Guiné; as ambiguidades de ser prisioneiro de guerra e de viver em silêncio, sem poder comunicar com a família e com o país; temos acesso a conversas com dirigentes do PAIGC e o que deles pensa o prisioneiro; acima de tudo, o testemunho da tragédia do isolamento, o modo como se procura ultrapassar o abismo de viver rodeado de outros camaradas, num cocktail com presos do regime de Sékou Touré.

A despeito de diferentes contradições (como aquela de estar plenamente informado sobre a ditadura de Sékou Touré quando é enclausurado na Maison de Force de Kindia com o rótulo de criminoso de guerra, ele, sargento Lobato, que dizia nada saber de política) é um documento que de longe regista as múltiplas dores e sofrimentos de estar preso em terra alheia, sem nunca vacilar diante das propostas de desertar ou mancomunar-se com o inimigo. É um relato por vezes minucioso, confessional, dá pormenores relevantes sobre a vida em campo de concentração.

Vejamos o que diz do seu encontro com Nino Vieira, pouco depois da sua captura na região de Tombali:


“Sentado no tronco seco de uma velha árvore, o jovem chefe guerrilheiro, vestido de kaki verde-escuro, pés nus e espartilhados por sandálias de plástico, braços ornamentados com grossos anéis de madeira e couro, um pedaço de corno pendurado ao pescoço por uma tira de cabedal, mais parece a estátua inerte de um deus negro expulso do Olimpo, de que o temível turra a quem todos obedecem, porque é “imune às balas do tuga”. 

Metido numa prisão em Boké, manifesta o nojo pela degradação a que sujeitam o ser humano:

 “A luz que a grade filtra é agora um pouco mais intensa do que ontem, à minha chegada. Sento-me na cadeira-cama em que dormi e fico a olhar a parede em frente, a menos de meio metro do meu nariz… Não tem qualquer cor definida, está cheia de nódoas indecifráveis, de sulcos cavados no reboco, de matéria que sobre ela deve ter sido projectada, que aderiu à superfície e solidificou com o tempo: sangue?… escarros?… fezes?… É uma parede suja, muito suja, uma daquelas paredes de calabouço que só conhecemos através da imaginação dos romancistas”.


Começam os interrogatórios, é perguntado sobre o regime político em Portugal, o que é uma república unitária e corporativa, o que é que ele pensa sobre a guerra colonial. Depois encontra Otto, um cabo-verdiano, ex-radiotelegrafista da Aeronáutica Civil que trabalhou com ele no aeroporto de Bissau. Otto leva-o até junto de guineenses que se juntaram ao PAIGC. E escreve, sentenciador:

“Os pobres guineo-portugueses fitam-me com um ténue sorriso nos lábios gretados pelo calor e pela subnutrição e naqueles olhos esbugalhados pela surpresa, lê-se a esperança longínqua de um regresso à terra-mãe, ao doce chicote do colonizador que durante quinhentos anos lhes garantiu a banca fresca, pão, água e alguma aprendizagem técnica, científica e cultural”. 

Transferido para Conacri, é de novo interrogado: a guerra que Salazar faz em África é justa? O que sabe sobre as prisões políticas em Portugal, explique-nos a organização da PIDE, o que pensa da conferência da Adis-Abeba, quer trabalhar com o general Humberto Delgado? Nega a responder, recusa colaborar, vai direitinho para a Maison de Force de Kindia. Assim se inicia a longa etapa da sobrevivência, é um prisioneiro posto à disposição não se sabe bem de quem e como. Vai sofrer estados de revolta, sentir as entranhas corroídas pela angústia.

Um homem da Guiana, ali preso por roubo, oferece-se para mandar uma mensagem até à família. É tocante o que escreve, a revelação dos seus sentimentos. Temos depois um dos pontos mais altos do seu relato, a descrição da vida do Forte, a situação dos degredados, os seus gritos, a observação que faz para ver se pode fugir, a luta contra os percevejos, os exercícios de ginástica. Começa a receber encomendas por via da Cruz Vermelha, recebe as visitas de Amílcar Cabral, inabalável, recusa colaborar. Depois tenta fugir. É interessante comparar a sua descrição com aquela que fez o alferes Rosa, e que já aqui publicámos no blogue. Ajuíza positivamente o comportamento de dirigentes do PAIGC como Fidelis Cabral, Aristides Pereira ou Joseph Turpin dizendo que são homens bons, moderados e sensatos.

Até que chegamos a 22 de Novembro de 1970, a operação Mar Verde. Refere o seu encontro com o capitão tenente Alpoim Calvão e a partida de Conacri. E, por fim, as peripécias da chegada a Portugal e a sua amargura quanto a atitudes e comportamentos de oficiais da Força Aérea, que o desiludem. Termina o seu relato citando Emanuel Mounier: “Falta uma dimensão ao homem que não conheceu a prisão”.

Chegara a hora de recomeçar a vida, vencida estava a duríssima etapa de sobrevivência, anos e anos a viver à beira do desespero (*).

Este livro passa a pertencer à biblioteca do blogue.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6941: Notas de leitura (144): Amílcar Cabral Documentário (Mário Beja Santos)

(*) Relacionado com este poste,  vd. 27 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3246: Simpósio Internacional de Guileje: Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, saúda António Lobato, ex-prisioneiro (Luís Graça)

(...) Depoimento gravado por Luís Graça, em Bissau, no Hotel no dia 7 de Março, por voltas 13h11, no último dia do encerramento do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008). As condições de luz eram más e a máquina era uma digital, de fotografia e não de vídeo.

Joseph Turpin era um dos históricos do PAIGC, juntamente com Carmen Pereira e Carlos Correio, que estiveram presentes no Simpósio. Pediu-me para mandar uma mensagem para o António Lobato, o antigo sargento piloto aviador portuguesa, cujo T 6 foi abatido em 1963, na Ilha do Como .

Feito prisioneiro pelo PAIGC, o Lobato foi levado para Conacri, onde permaneceu sete longos anos de cativeiro, até à libertação em 22 de Novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde. "Ó Lobato, depois da tempestade, depois de tantos anos, não sei se te vais lembrar de mim..." - são as primeiras palavras deste representant do PAIGC, na altura a viver em Conacri, sendo então membro do Conselho Superior da Luta.

Neste curto vídeo, o Turpin recorda os momentos em que, por diversas vezes, visitou o nosso camarada na prisão. Não esconde que foram momentos difíceis, para ambos, mas ao mesmo tempo emocionantes: dois inimigos que revelaram o melhor da nossa humanidade... "Eu compreendia, estavas desmoralizado...Havia animosidade"... Joseph Turpin agradece ao Lobato as palavras de apreço com ele se referiu à sua pessoa, ao evocar há tempos, em entrevista à rádio, a sua experiência de cativeiro. Agradece o exemplar do livro que o Lobato lhe mandou e que ele leu, com interesse. Diz que ficou sensibilizado com as palavras e o gesto do Lobato. "Mas tudo isso hoje faz parte da história...Seria bom que viesses a Bissau" - são as últimas palavras, deste homem afável, dirigidas ao seu antigo prisioneiro português que ele trata por camarada...(...)