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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12378: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (4): Cinco dias no Niassa; A primeira grande experiência e Dois alferes de uma só vez

ÚLTIMAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 4

"Cinco dias no Niassa, alguns em barracões"; "A primeira grande experiência" e "Dois alferes de uma só vez"

Por Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, 1963/65)

i - Cinco dias no Niassa, alguns em barracões

Chegámos a Bissau na manhã de 22 de Julho. Na véspera, tinha-se realizado no navio um acto de variedades para esconjurar medos. No entanto, vivemos a bordo durante cinco dias, o que nem era de todo mau. Por falta de instalações, o Batalhão 490 só desembarcou no dia 27, ficando alojado na Bolola. Pior não podia ser, sob todos os aspectos. O alojamento era formado por alguns barracões, sem as mínimas condições. Além disso, se de um lado ficava o cemitério, do outro estendiam-se os canais do rio Geba, o grande rio da Guiné, a fornecer-nos exércitos de mosquitos arreliadores nos seus zumbidos, nas suas picadelas. Os barracões não tinham nem portas nem tão pouco janelas e os telhados, de zinco, não garantiam que não chovesse. Aliás, os barracões estavam em obras e ali fui encontrar o alferes Sampaio Alegre, de Anadia, ocupado da logística. Com grande azáfama. Era sempre uma grande alegria encontrarmos camaradas conhecidos, embora o nosso conhecimento fosse muito ténue.

As refeições eram servidas em marmitas (e sempre o havia de ser durante toda a comissão). Era tempo das chuvas e não havia qualquer recinto abrigado que nos protegesse da inclemência do tempo. Quando as obras estavam quase prontas, eis que se verificou a nossa mudança para o Forte de S. José da Amura, onde encontrámos instalações mais apropriadas, mesmo assim, também com algumas deficiências. Mas mais um imprevisto. Quando as instalações estavam prontas a serem desfrutadas, o Batalhão recebia a missão de instalar-se em alguns aquartelamentos do norte da província ou fosse no triângulo da mais activa zona do PAIGC, o Oio. Logo que o 490 desembarcou, foi-lhe atribuída a pior das missões, a de Unidade de Intervenção às ordens do comandante-chefe, Arnaldo Schulz.

Na Amura, um tempo bom, que só durou até 2 de Agosto de 1963, era dada instrução e fazia-se o serviço ao aquartelamento, e havia secções ou pelotões, a dar apoio a outras unidades, quer de carácter logístico, quer de fogo.

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ii - A primeira grande experiência

Quando as companhias partiram com o objectivo da intervenção na zona do Oio, considerado inexpugnável santuário do IN, tendo Morés como centro e fulcro do terrorismo, era zona de mata densa, não era aconselhável que a tropa se fizesse acompanhar da sua bagagem. Já bastaria a cada homem o peso de armas e munições. Calculava-se que o batalhão fizesse uma operação que estava calculada para a duração de 20 dias, mas assim não aconteceu, foram meses de luta e desgaste. E os homens tiveram de haver-se apenas com uma muda de roupa, com a organização de suas posições e com o combate ao IN que se mostrava moralizado e atrevido, para não dizer atrevido e forte.

Ficaram sediadas duas companhias, uma em Mansoa e outra em Mansabá, enquanto iam sendo rendidas, uma de cada vez, pela terceira que se encontrava em Bissau, ou por aquela que estivesse em descanso. Actuaram assim em Mansabá e Bissorã. A minha fez, primeiro, Mansabá e depois Bissorã. E assim andámos em perigos e guerras esforçados até 29 de Dezembro. Vinha aí outra guerra, maior ainda.

Nesta zona do Oio, as três companhias fizeram de tudo: acções de reconhecimento, capinagem e limpeza das bermas das estradas, emboscadas, umas montadas e outras sofridas, mostrando o IN moral em alta e bastante agressividade, remoção de abatizes, patrulhamentos, acções de psico-social, ensino do português, mas também operações de grande envergadura, como a operação “Tigre” e “Adónis A-2” (487), “Verde” e “Adónis 2” (488) e a de maior envergadura “Adónis B-3”, no dias 2 e 3 de Novembro de 1963, no coração do Oio. Morés acabou por ser ocupada pelas nossas tropas, depois de muita luta, alguns mortos e feridos. Ali foi hasteada até a bandeira nacional e houve grande regozijo. Visitou o local o comandante-chefe. Entusiasmado, visitou Morés mais uma vez, fazendo-se acompanhar de alguns mimos para os guerreiros, água, pão e guloseimas, que, de propósito, fora buscar ao QG ( Quartel Generall). Minguada glória.

Duas das grandes emboscadas em que caiu a 489 foram: uma entre Talicó e Morés e a outra na estrada de Bissorã. Estiveram envolvidas nesta operação as companhias 487, que teve um morto por acidente e 3 feridos; a 488, com cinco feridos, enquanto a 489, a mais castigada, registou 1 morto e 10 feridos e a CCS, 1 ferido. Do lado do IN, houve 36 mortos confirmados e 8 feridos e foram ainda feitos 12 prisioneiros, além de vário material capturado. A mulher idosa, Mala Seidi, que levara a companhia 489 à base de Morés, foi baleada pelo grupo guerrilheiro. Nesta operação alguns prisioneiros, porque não iam amarrados, escaparam-se para o seu lado, quando se deu o grande embate.

Localização de Morés e Talicó um pouco a sul

O IN, disposto a defender o seu quartel-general, esperou que a tropa avançasse, como de facto aconteceu com muita dificuldade, muito suor e sangue, mas também muita coragem e valentia. Foram 45 minutos de fogo cerrado e algum sangue, mas com o apoio dos T6, sustentaram o ímpeto e de tal modo que ficaram nessa noite em Morés, mas não em paz, pelo contrário. Toda a operação envolveu 10 acções de fogo, que fizeram obviamente os seus estragos.

Era um perigoso e árduo treino para outra guerra, esta no sul, Ilha do Como, que ninguém tinha ousado “descobrir” até então. Era outro santuário, outro bastião seguro.

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iii - Dois alferes de uma só vez

Não começávamos da melhor maneira na companhia 488. Os alferes Brasil (António Norberto Coelho Brasil), dos Açores, e Fernando Correia (Fernando António da Silva Correia), do Porto foram feridos gravemente numa emboscada, no caminho de Mansabá para Bissorã, atravancado de abatizes, no dia 2 de Outubro de 1963. O primeiro tinha ido como voluntário. Encontrava-se supostamente protegido atrás de uma viatura, quando uma granada bateu na caixa metálica, provocando mil estilhaços. Alguns atingiram-lhe a cabeça e as costas.

O alferes Fernando Correia tinha como missão retirar as abatizes e encontrava-se a 3 kms do quartel de Mansabá. Uma rajada de metralhadora ligeira, desferida sobre ele, ouvidas as vozes de comando, furou o pneu de uma roda de um jeep que se encontrava nas suas costas, desfez-lhe a coronha da espingarda G3, atingiu-o de raspão no braço direito e uma outra bala atingia-lhe o peito, alojando-se entre duas costelas. Houve até alguma discussão no bom sentido, entre o médico, José Hipólito de Sousa Franco, que afirmava não ter o ferido a bala alojada, e o sargento Napoleão a dizer que sim. Foi tratado em Bissau, sendo-lhe extraída, na verdade, a bala alojada mesmo junto do coração. Teve sorte, por um triz.

Evacuados de helicóptero para o hospital de Bissau, o Brasil, ao outro dia, foi transferido para o Hospital da Estrela, em Lisboa.

Sofremos todos um grande sobressalto. Logo dois alferes de uma só vez. Era um aviso grave: havia terrenos que não deviam ser por nós percorridos ou devassados, sem muitas cautelas Era perigoso fazê-lo. O Oio era então o grande santuário da guerrilha.

O comandante, coronel Fernando Cavaleiro, que, na altura, se encontrava em deslocação a Mansabá, foi em socorro, integrado no meu pelotão. Silenciado o IN, reorganizámos o regresso, era quase proibido ir mais além atacar no coração do PAIGC. O comandante ordenou-me que progredisse em fila por um dos dois lados do caminho e por dentro do capim. Não gostei lá muito da estratégia, disse que era perigoso, ainda nos montavam mais emboscadas ou nos apanhavam à mão, refilei, mas ele esteve certo. Não houve mais fogo nem mais sangue nessa manhã, em que, de uma só vez, eu perdia dois camaradas que, entretanto, mereciam um louvor do Comandante Chefe em 18 de Outubro de 1963 e oportuna condecoração.

A partir daí, o alferes Brasil não mais voltava ao teatro das operações, ao contrário do Fernando Correia, que, operado em Bissau, após 15 dias de convalescença, já estava de novo no mato, desta vez, no outro vértice do triângulo do Oio, em Bissorã. Aí desfrutámos de algum sossego, mas fizemos o que fazíamos em toda a parte, acções de guerra contrasubversiva. Com um pouco mais de sorte.

Passávamos o tempo, por vezes cavalgando dois burros, subtraídos ao IN, escoltados pelo cão do meu colega, o Porto, que mandara ir da metrópole.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12360: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (3): Diário de bordo - Manhã azul e Deus ao leme

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10235: In Memoriam (123): Com a morte do Senhor Coronel Fernando Cavaleiro estou de luto, estamos todos de luto (Maria Teresa Almeida)

1. Chegou até nós, hoje, esta mensagem da nossa amiga Maria Teresa Almeida da Liga dos Combatentes, com pedido de publicação, a propósito do recente falecimento do Senhor Coronel Fernando Cavaleiro*:

Boa Tarde meu Estimado Combatente Sr. Carlos Vinhal

Estimado Combatente
Agradeço se enviava para o Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné este meu pesar pela morte do Senhor Coronel Fernando Cavaleiro.

Não posso, nem devo, deixar de enviar o meu abraço de sentido pesar a todos os Combatentes, em especial, os Combatentes do BCAV 490, que estiveram na Guiné, pelo falecimento do nosso inesquecível, Coronel Fernando Cavaleiro.

Quando entrei para a Liga dos Combatentes, em 1970, era Secretário-Geral o Senhor Coronel Fernando Cavaleiro. Tive o privilégio durante 4 anos trabalhar sob as ordens, do nosso Coronel Fernando Cavaleiro. Conheci, também a Esposa, Sra. D. Maria Octávia, uma Senhora maravilhosa. Sempre o admirei nas suas qualidades de ser Humano. Um Militar de Valor, um Homem digno, um Combatente que Honrou bem, o nome de PORTUGAL. Só quem privou com ele, pode analisar o ser HUMANO, que ele era. Foram os meus primeiros contactos, com Militares. Era Presidente, o Senhor General Arnaldo Schulz.

Desde 24 de Abril, até aos dias de hoje nunca o esqueci, nem o nome, também nunca esqueci a sua Esposa. São recordações que o tempo não apaga. Tal eram as suas qualidades.

Quando tive conhecimento, foi um recordar de memórias. Também estou de luto. Estamos TODOS de luto. Fisicamente desapareceu um grande Combatente. Mas, o Coronel Fernando Cavaleiro, não morreu, vai estar sempre, no meu coração. Recordá-lo-ei, sempre. É um nome inesquecível.

PAZ À SUA ALMA

O meu sentido abraço.
Maria Teresa Almeida
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 DE AGOSTO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10229: In Memoriam (122): Fernando Cavaleiro, antigo atleta olímpico, cor cav ref, cmdt do BCAV 490, e que comandou as forças terrestres na Op Tridente, Ilha do Como (jan / mar 1964) (1917-2012) (José Martins / Virgínio Briote)

domingo, 5 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10229: In Memoriam (122): Fernando Cavaleiro, antigo atleta olímpico, cor cav ref, cmdt do BCAV 490, e que comandou as forças terrestres na Op Tridente, Ilha do Como (jan / mar 1964) (1917-2012) (José Martins / Virgínio Briote)

1. O nosso camarada, amigo e colaborador permanente José Martins fez-nos chegar a notícia do falecimento, no passado dia 3 de Agosto, do cor cav ref Fernando Cavaleiro, que estava há largos anos internado num lar, em  Oeiras, no IASFA (Instituto Acção Social das Forças Armadas).

Segundo o portal Ultramar Terraweb, Fernando Cavaleiro, 
de seu nome completo Fernando José Pereira Marques Cavaleiro, terá nascido em 1920.  Notabilizou-se sobretudo no TO da Guiné, onde esteve de 22 de julho de 1963 a 12 de agosto de 1965. Foi o comandante do BCav 490. Nessa qualidade comandou as forças terrestres da Op Tridente, que decorreu na Ilha do Como entre 15 de janeiro e 23 de março de 1964.

Foi agraciado, com uma Medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe (em 1964), e com uma Medalha de Cruz de Guerra, de 1ª classe (em 1966), ambas por feitos em combate.


Infelizmente não temos nenhuma foto deste combatente, um dos bravos da Ilha do Como. Por outro lado, temos dúvidas sobre o seu ano de nascimento. Se em 2008, de acordo com o Virgínio Briote, o Fernando cavaleiro tinha 91 anos, é porque teria nascido em 1917. À família, enlutada, e aos camaradas que o conheceram e e combateram sob as suas ordens, apresentamos as nossas melhores saudações bloguísticas e manifestamos o nosso pesar.

2. Temos três referências a este oficial de cavalaria, uma das quais um curto mas belíssimo texto do Jorge Cabral, de 4 de dezembro de 2008, que mereceu do Virgínio Briote [, foto à esquerda,] um extenso (e excecional) comentário, que voltamos a publicar:

(...) Este belo texto do Jorge, na sua singeleza, fez-me recordar a visita que fiz este ano ao outrora famoso atleta olímpico, Cor [Fernando] Cavaleiro. Um homem grande, robusto, que, em 1965, em Farim, quase nos 50, fazia o pino na piscina antes de se mandar para a água e, que no intervalo das marchas que forçava para Canjambari, marchava para Bissau, para a Associação Comercial esfolar uns patos ao bridge. Ele, que era um Mestre, repousa agora, num Lar em Oeiras... Na altura em que o visitei escrevi para mim:

Num dia de Março de 2008 localizei-o num lar das Forças Armadas, em Oeiras. Vivo, o Coronel Cavaleiro? Ó meu amigo, o Senhor Coronel está aqui para as curvas, respondeu-lhe do outro lado do fio, o bem disposto telefonista. Quer falar com ele? Aguente aí um pouco. Sou um ex-alferes do BCav 490, estive em Cuntima. Uma voz de senhora do outro lado, o meu marido deve estar no 1º piso, sentado a ler um livro numa mesa com as cartas, à espera que apareçam parceiros para o bridge. É sempre assim, no fim do almoço.

E no dia seguinte em Oeiras, no IASFA (Instituto Acção Social das Forças Armadas), ainda não eram 14 horas, lá estávamos nós, o Miranda e o Raimundo do Como (os dois da Op Tridente) e eu , às voltas, a subirmos e descermos escadas, o senhor Coronel esteve agora aqui, procurem-no no 1º piso.

Uma sala, numa mesa ao fundo, de costas para a janela (talvez para melhor ver as cartas e as caras dos parceiros), um senhor baixo, aspecto franzino, é ele. Nada que se parecesse com o Ten Coronel que eu conhecera em 1965. Mas era mesmo ele, o Coronel F. Cavaleiro, mais baixo uns bons centímetros e mais leve do que naqueles tempos. Sorriso gentil nuns olhos marcados de manchas, ar débil, o Coronel de pé à frente de jovens de 60 e poucos.

Sou o Miranda, meu Coronel, o Como, Farim, Comandos. Eu sou o Raimundo, o tipo do foto-cine do Como, as imagens que o Joaquim Furtado passou na Televisão fui eu que as fiz. Briote, meu Coronel, trabalhei poucos meses consigo, estive em Cuntima, na CCav 489 do Cap Pato Anselmo.

Pois, vocês têm que falar mais alto, o dedo apontado para o ouvido direito. A Guiné, bom, a Guiné foi uma doença que se entranhou em nós, Cor Cavaleiro. Quarenta e tal anos depois voltámo-nos a descobrir uns aos outros, almoçamos uma vez por mês, falamos da vida que levámos naquelas terras.

O Coronel, que naqueles anos media para aí um metro e oitenta e pesava seguramente mais de oitenta quilos, à frente de nós era o mais pequeno e mais magro. Estou com 60 e poucos quilos, eu que pesava 80 e tal, também estou com 91 anos, é altura de ter um pouco de cuidado. Leio, jogo bridge, ando um pouco a pé, olhem, ando aqui a ver os dias escorrer. Netos? Oito filhos, netos, bisnetos, não me perguntem quantos. Sim, vi na TV a Guerra do Furtado, só não entendi porque é que não transcreveu integralmente a carta, aliás muito pequena, que nós apanhámos a um mensageiro, aquela em que o Nino dizia que já não tinha nem gente nem população para aguentar a guerra no Como (...). (VB)

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9360: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: Terminada a operação, a luta e a labuta no Cachil continuam (CCAÇ 557): Parte II (José Colaço)



O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a continuação da narração iniciada no poste P9351.

Tridente terminada mas a luta e a labuta no Cachil continuam
Parte II 

Com a Operação Tridente dada como terminada,  o Cachil fica a ferro e fogo, a guerrilha reorganiza-se novamente na mata do Cassaca e em toda a zona de Cauane e Caiar, pois aquela zona tinha ficado livre de qualquer controle militar por parte das forças portuguesas. Como prova do que digo,  um dia de Abril que cito de memória, pois não registei a data, o comando chefe operacional da Guiné reorganiza uma batida, que chamava de limpeza à mata do Cassaca. 

A entrada na mata do Cassaca era feita através da orla da mata do Cachil, atravessando-se uma clareira, passagem esta onde as nossas forças durante a operação foram sempre repelidas, tornando-se este espaço uma passagem para a morte. 

Durante a noite os obuses de Catió bombardearam a mata e a seguir o avião bombardeiro P2V5 descarregou também ali as suas bombas, como fazia durante a Operação Rridente. De manhã, ao nascer do sol, vieram dois F86 e bombardearam, mais uma vez, a mata. 

Nota: No dia anterior um pelotão da CCaç 557 fez o reconhecimento a toda a mata do Cachil sem qualquer problema. Relembro que quando chegamos ao fim orla da mata do Cachil, à entrada da tal clareira para a mata do Cassaca, o alferes comandante do pelotão, no seu espírito jovem aventureiro, ter insistido junto do capitão vamos lá meu capitão não está lá ninguém. A resposta do capitão foi: “Amanhã dia da operação é que nós lá vamos.” 

Fica a interrogação o que nos teria acontecido se…? Mas as coisa são como acontecem e não se a opção tivesse sido outra. 

A seguir entraram em acção as tropas especiais terrestres, comandos, páras, fuzileiros e exército, apoiadas por 2 aviões T6, que passaram toda a mata do Cachil sem problemas. Mas, quando chegaram à clareira que dava acesso à passagem para a mata do Cassaca, foram atacadas com fogo de armas ligeiras, pesadas e fogo de morteiro, e tiveram que recuar resguardando-se na mata do Cachil. Deste confronto, as nossas forças sofreram doze feridos que foram evacuados de helicóptero. 

Resumo: Após esta limpeza (como foi chamada), as nossas forças especiais, à tarde, regressaram às suas unidades e foi feito o relatório para o comando-chefe. A partir desta data até 27/11/64, data em que eu e a CCaç 557 saímos do Cachil, não houve mais nenhuma ordem para ir à mata do Cassaca, nem pelo comandante-chefe militar, brigadeiro Fernando Louro de Sousa, nem pelo brigadeiro Arnaldo Schulz, que em Maio substitui o então polémico brigadeiro Fernando Louro de Sousa. 

Não dá para entender, porque razão se mantinha aquela força militar acantonada no Cachil e, para cúmulo, mais tarde, o comandante da CCaç 557 recebeu ordens do comandante de sector sediado em Catió em que desaconselhava batidas à mata do Cachil.  



Foto nº P1170599.jpg - Transporte de todos os mantimentos à força bruta do homem do cais para o quartel, que ficava a cerca de 1Km.

Foto nº P1170527. jpg - A maca do posto médico adaptada para padiola, no transporte dos géneros cedida pelo Dr. Rogério Leitão [ falecido em 28 de Outubro de 2010,], na condição de ser estimada porque não se sabia qual a hora em que ela podia ser precisa para o fim que se destinava: o transporte de doentes ou feridos.
Foto nº P1170565.jpg – A cozinha do quartel do Cachil.

Foto nº P1170537.jpg - O tenente-coronel Matias, de quico e óculos escuros, comandante de Sector de Catió - BCAÇ 619 - à conversa com o capitão Ares, comandante da CCaç 557, na única visita que fez ao Cachil, enquanto a CCaç 557 por lá permaneceu.
Foto nº 1170506.jpg - A lancha no cais do Cachil, responsável pelo transporte dos géneros de Catió para o Cachi

Foto nº 1170578.jpg - A contar da esquerda: O açoriano de Santa Bárbara - Ribeira Grande, ex- alferes miliciano Viriato Madeira - comandante do 1º pelotão; a seguir o também açoriano, picaroto, ex-alferes miliciano Mário Goulart - comandante do 3º pelotão que todos os anos faz questão de nos acompanhar no almoço de convívio da CCaç 557; pela mesma ordem,  o algarvio,  ex-alferes miliciano,  Ildefonso Leal - comandante do 2º pelotão – e, em baixo, o aveirense, ex-tenente miliciano médico,  Rogério Leitão [, já falecido,  em 2010].
Foto nº1170605.jpg - O paiol no quartel do Cachil.

RESUMO > Partida para a ilha do Como

Foto nº P1170500.jpf - O capitão Ares encostado ao jipe, ao lado o nosso tenente miliciano médico Dr. Rogério Leitão, momentos antes da partida para o Como. A partir daqui não há fotos a não ser do Cachil, como já referi o rolo levou sumiço quando foi para revelar.
Foto nº P1170519.jpg - Os trabalhos na construção da paliçada.
Foto nº P1170516.jpg - O pessoal na labuta e transporte dos toros para serem colocados na construção da paliçada.
Foto nº P1170518.jpg - Aqui uma construção menos sofisticada, possivelmente uma qualquer arrecadação.
Foto nº P1170521.jpg - Uma pausa nos trabalhos para tomar água.

Foto nº P1170523.jpg - O primeiro da esquerda é o tenente-coronel Fernando Cavaleiro, de quico e barbas, no Cachil em 21 de Março de 1964, quando atravessou a pé através da mata do Cassaca toda a Ilha desde Cauane ao Cachil, anunciando nessa altura a vitória da operação e por consequência disso o fim da operação tridente.

Nota: As fotos, todas elas, são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de Caçadores 557.

José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557

Fotos: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

sábado, 13 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3613: O Pel Caç 953 na tomada de Canjambari. (V. Briote)

Como uma saudação à entrada na nossa Tabanca do António Paulo, do Pel Caç 953, reavivo-lhe a Memória do que por lá passou, resumindo (muito...) o que os relatórios de então deixaram.

A ocupação de Canjambari
Março de 1965





Informação sobre a operação Ebro, iniciada em 22 de Março de 1965. 

Adaptada do relatório da acção.

Os relatórios anteriores referem terem sido feitas várias acções no itinerário Jumbembem-Canjambari e na própria região de Canjambari. Acções levadas a cabo por GrsCmds do CTIG, em 28Jan, 20Fev e 25Fev65, apoiadas por forças do BCav 490, apesar do sucesso pontual das mesmas, levam a concluir que a região, localizada numa área de acesso difícil em determinadas épocas do ano, se mantém até à data nas mãos do IN. Apesar de levantadas numerosas abatizes, o referido itinerário ainda se encontra com algumas árvores de pequeno porte nas imediações da bolanha que dá acesso ao pontão danificado sobre o rio Tufili (dados obtidos através do reconhecimento aéreo de 17Mar65). Parece, este pontão, de fácil transposição desde que se utilizem pranchas adequadas.
Dos contactos com o IN a reacção deste tem-se limitado a flagelações de longe, não sendo de desprezar a possibilidade de o mesmo dispor, na região, de forças importantes e, eventualmente, colocar minas nos itinerários de acesso.


Estabelece-se como objectivo às NT a ocupação permanente de Canjambari.

Elaborado o plano para a acção, foram constituídas as forças executantes, comandadas pelo próprio Cmdt do BCav 490, Ten Cor Cavaleiro.

Às 03H00 de 22Mar65 iniciou-se o movimento, a partir de Farim. Atingido Jumbembem às 04H20, a força executante prosseguiu, rumo a Canjambari. À passagem por Sare Tenen, um Gr Comb da CCav 488 apeou-se, emboscando-se de seguida junto ao caminho que cruza o itinerário. A partir daqui a equipa de sapadores encarregada da detecção de minas passou a picar a estrada nos locais mais suspeitos.
Apesar das precauções, às 06H15 e a cerca de 9 kms de Jumbembem, a GMC da frente da coluna calcou um engenho explosivo, ficando a parte posterior da viatura enfiada na cratera aberta pelo engenho. Os dois homens que nela se deslocavam foram projectados, não tendo sofrido ferimentos de maior.
Passados cerca de 500 metros encontrou-se a 1.ª de uma série de cerca de 30 abatizes, algumas de grande porte, que se espalhavam numa extensão de quase 4 kms, até 1 km e meio de Canjambari Morocunda, que só foi atingida já passava das 12H00.

O relatório da acção refere:
"O esgotante trabalho de levantamento de abatizes durou cerca de 5 horas e meia, sob constantes flagelações do IN, que utilizou MPs e morteiros. As medidas de segurança adoptadas, apesar da extensão da coluna de 30 viaturas pesadas, revelaram-se eficazes, porquanto o IN nunca conseguiu aproximar-se de modo a causar baixas às NT". (…).

Ultrapassada a zona das abatizes, a coluna prosseguiu deixando um Gr Comb emboscado a 2 kms do cruzamento de Canjambari Morocunda. Atingiu-se a povoação de Canjambari, com o IN a assinalar a entrada das NT com tiros à distância, disparados da margem Sul do rio Canjambari. Tabanca revistada, os indícios apontavam para uma retirada apressada. As casas comerciais deixaram indícios de movimento recente, praticamente até momentos antes da entrada das NT.
Pelas 15H00, a coluna regressou ao cruzamento de Canjambari Morocunda. Iniciaram-se então os trabalhos de instalação e organização do terreno em volta do edifício do Posto de Socorros aí existente.
Informações posteriores revelaram que o IN tivera conhecimento antecipado da acção e que recebera reforços de Morés e de Mansodé, que se mantiveram na zona dois dias à espera das NT, regressando mais tarde às suas bases, por coincidência no mesmo dia do início da operação das NT.
__________

Notas de vb:
1. Composição da força que participou na op "Ebro":
CCav 488 (-)
1GrComb/CCav 487
1 GrComb/1.ª CCaç
PelCaç 953
Pel AM Fox/ER 693
Pel AM Daimler 810
Pel Sap/CCS
1 Pel C.ª Mil

2. Artigo relacionado em:

3. Para uma informação mais detalhada, com testemunhos dos que por lá andaram, o blogue do Carlos Silva , BCaç 2879, 1969/1971, é obrigatório.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3562: Banco do Afecto contra a Solidão (1): A última comissão do Coronel (Jorge Cabral)

1. Mensagem do Jorge Cabral: Hoje mando uma estória diferente.Nem triste nem alegre. Real sim. Convém lembrar que nem só do pão vive o Homem. Apetece-me fundar o Banco do Afecto contra a Solidão. Jorge Cabral 


2. Um Abraço para o Coronel na sua última Comissão por Jorge Cabral 


 O Coronel já passou os oitenta. Tremem-lhe muito as mãos e às vezes parece ausente. Visito-o, mas confunde-me. Refere Nampula e a mulher do Capitão... Que mulher! Nunca fui a Nampula... mas concordo. 

Aqui no Lar é bem tratado. Médico, enfermeira, dietista, hidromassagem, animação, cinema... Tem tudo, quase tudo... Pelo Natal, recebe muitas prendas, roupões, pijamas, pantufas, luvas... deixam na portaria ou mandam pelo correio. 

 Os filhos, os netos, os amigos, não o visitam. E convidá-lo nem pensar... Baba-se, entorna a sopa, não diz coisa com coisa... Fala-me de África e das suas quatro Comissões. À despedida, troca-me o nome. Desejo-lhe Felicidades. E sei, estou certo, que entendeu, o Grande Abraço que lhe dei. 

Jorge Cabral 
 __________ 

 Notas de vb: 

 1. Este belo texto do Jorge, na sua singeleza, fez-me recordar a visita que fiz este ano ao outrora famoso atleta olímpico, Cor Cavaleiro. Um homem grande, robusto, que, em 1965, em Farim, quase nos 50, fazia o pino na piscina antes de se mandar para a água e, que no intervalo das marchas que forçava para Canjambari, marchava para Bissau, para a Associação Comercial esfolar uns patos ao bridge. 

Ele, que era um Mestre, repousa agora, num Lar em Oeiras... Na altura em que o visitei escrevi para mim: 

Num dia de Março de 2008 localizei-o num lar das Forças Armadas, em Oeiras. Vivo, o Coronel Cavaleiro? Ó meu amigo, o Senhor Coronel está aqui para as curvas, respondeu-lhe do outro lado do fio, o bem disposto telefonista. Quer falar com ele? Aguente aí um pouco. Sou um ex-alferes do BCav 490, estive em Cuntima. Uma voz de senhora do outro lado, o meu marido deve estar no 1º piso, sentado a ler um livro numa mesa com as cartas, à espera que apareçam parceiros para o bridge. É sempre assim, no fim do almoço. 

 E no dia seguinte em Oeiras, no IASFA (Instituto Acção Social das Forças Armadas), ainda não eram 14 horas, lá estávamos nós, o Miranda e o Raimundo do Como (os dois da Op Tridente) e eu às voltas, a subirmos e descermos escadas, o senhor Coronel esteve agora aqui, procurem-no no 1º piso. Uma sala, numa mesa ao fundo, de costas para a janela (talvez para melhor ver as cartas e as caras dos parceiros), um senhor baixo, aspecto franzino, é ele. Nada que se parecesse com o Ten Coronel que eu conhecera em 1965.  Mas era mesmo ele, o Coronel F. Cavaleiro, mais baixo uns bons centímetros e mais leve do que naqueles tempos. Sorriso gentil nuns olhos marcados de manchas, ar débil, o Coronel de pé à frente de jovens de 60 e poucos. 

 Sou o Miranda, meu Coronel, o Como, Farim, Comandos. Eu sou o Raimundo, o tipo do foto-cine do Como, as imagens que o Joaquim Furtado passou na Televisão fui eu que as fiz. Briote, meu Coronel, trabalhei poucos meses consigo, estive em Cuntima, na CCav 489 do Cap Pato Anselmo. 

 Pois, vocês têm que falar mais alto, o dedo apontado para o ouvido direito. A Guiné, bom, a Guiné foi uma doença que se entranhou em nós, Cor Cavaleiro. 

Quarenta e tal anos depois voltámo-nos a descobrir uns aos outros, almoçamos uma vez por mês, falamos da vida que levámos naquelas terras. O Coronel, que naqueles anos media para aí um metro e oitenta e pesava seguramente mais de oitenta quilos, à frente de nós era o mais pequeno e mais magro. Estou com 60 e poucos quilos, eu que pesava 80 e tal, também estou com 91 anos, é altura de ter um pouco de cuidado. Leio, jogo bridge, ando um pouco a pé, olhem, ando aqui a ver os dias escorrer. Netos? Oito filhos, netos, bisnetos, não me perguntem quantos. Sim, vi na TV a Guerra do Furtado, só não entendi porque é que não transcreveu integralmente a carta, aliás muito pequena, que nós apanhámos a um mensageiro, aquela em que o Nino dizia que já não tinha nem gente nem população para aguentar a guerra no Como... 

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3329: Breve resumo da História do BCav 490 (1963/65) (Virgínio Briote)

Batalhão de Cavalaria 490 (II)

Sempre em Frente




4. Actividades no CTIG

Não é vocação do nosso blogue enumerar em detalhe todas as actividades desenvolvidas pelas unidades que operaram no território da Guiné. Para além de ser fastidioso, nem a própria História do BCav 490 as descreve na totalidade. Assinalarei, assim, as que o Batalhão considerou:

- Após o desembarque foi-lhe atribuída a missão de intervenção à ordem do Com-Chefe.
- Manteve-se em Bissau até 2Agosto 1963, escoltando embarcações e efectuando patrulhamentos.
- A região do Oio, na altura, uma das zonas sob maior pressão da guerrilha estava à responsabilidade do BCaç 512, com a sede em Mansoa. A partir de 2 Agosto e até 29 Dezembro de 1963, duas Companhias do BCav 490 passaram a colaborar em permanência nesta região. Eram rendidas uma de cada vez pela outra Companhia estacionada em Bissau.
Bissorã e Mansabá, principalmente, foram as zonas onde as Companjias mais actuaram, levando a cabo patrulhamentos, emboscadas, remoção de abatizes e operações de maior envergadura.

Entre estas, destacam-se:

27 Setembro, op “Adónis”, na zona compreendida entre as povoações de Mindodo-Sansabato-Iracunda-Fajonquito-Maca, efectuada pela CCaç 487.

Depois da divisão das forças executantes, foi cercada, ainda de noite, a povoação de Sansabato. Capturados diversos elementos que estabeleciam a ligação à guerrilha. O chefe da tabanca de Sansabato era um dos guias. População e sentinelas fugiam à aproximação das tropas.
À entrada da mata de Mindodo foram recebidas com fogo nutrido e a curta distância (o relatório refere a cerca de dez metros). Os prisioneiros não amarrados escaparam-se no meio da confusão. As tropas recuaram para a orla da mata, espalhando toalhas brancas para assinalar a posição ao apoio aéreo que tardava. Deficiências da ligação rádio impediram a comunicação com uma Auster que sobrevoava a área.
Às 11h15, sem apoio aéreo, foi decidido pelo Cmdt das forças, o Cap Cav Romeiras da CCav 487, retirar em direcção ao Olossato. Durante a retirada manteve-se a troca de tiros. Dois quilómetros andados apareceu uma parelha de T-6. Assinaladas as posições, foi decidido regressar. Sob fogo intermitente do IN as NT entraram na mata. Emboscadas à queima roupa, reagiram, abatendo quatro guerrilheiros e capturaram uma PM e uma pistola. Nesse mesmo local foi encontrado morto o chefe da tabanca de Sansabato.

2 Novembro 1963, op “Adónis B-3”. Zona de Morés, a cargo da CCav 489, sob o comando do Cap Cav Pais do Amaral, participando ainda na acção o Cmdt do BCav 490. Trata-se de um relatório com 8 páginas.
Saída de Mansabá às 23h00 de 2 Novembro. Repartidas as forças, enquanto umas emboscavam, as outras marchavam em busca do acampamento de Morés. Cerca das 04h30 os dois homens da frente da força atacante abriram fogo de G-3. Progredindo encontraram um ferido armado com uma PM. À medida que lhe prestavam os primeiros socorros sacavam-lhe informações. Avistado outro guerrilheiro ferido em fuga, a uma distância que não foi possível tentar a perseguição.
Na progressão foram encontradas várias munições e carregadores. Debaixo de fogo intermitente as tropas penetraram na tabanca de Morés às 08h30. Encontrado um casal idoso, ele acamado e a mulher ao lado. Informações obtidas no momento confirmaram as anteriormente recolhidas. O acampamento situava-se junto ao caminho que de Morés conduzia a Talicó, a meio de duas bolanhas. Às 10h00 um heli recolheu o guerrilheiro ferido. Uma hora depois chegou também de heli o Com-Chefe.


A Bandeira Portuguesa subiu em Morés pelas mãos da CCav 489

Na presença do Comandante-Chefe fez-se uma pequena cerimónia, foi hasteada a bandeira portuguesa e alguns militares aproveitaram para tirar chapas. Foram destruídas cerca de 60 barracas nas imediações.

Com a prisioneira como guia as tropas continuaram a progredir em direcção à casa de mato que se pensava ser o QG dos grupos que nos últimos tempos têm desencadeado acções sobre a tropa e população. O IN aguardava-os pacientemente. Atacados pelos flancos as tropas atacantes reagiram com tiros de bazuca trazendo acalmia momentânea. A cada passo reacendia-se a refrega. Momentos houve, que o relatório minuciosamente descreve, em que quase se combateu tiro a tiro, individualmente. As nossas tropas tinham feridos e corpos de guerrilheiros espalhavam-se pela mata. O 1.º Cabo Enf Carvalho de Brito foi atingido quando estava a socorrer um soldado ferido. Os alf mil Rui Ferreira e furr mil Covas transportaram para a retaguarda um dos feridos mais graves.

45 minutos de inferno de fogo e sangue, é desta forma que o relator resume estes acontecimentos.

Morés foi atingida às 16h00 e foi a esta hora que chegaram os helis para procederem à evacuação dos feridos. Evacuação inútil para a vida do 1.º Cabo Enfº Carvalho de Brito.
O TCor. Cavaleiro decidiu que se devia permanecer em Morés até ao dia seguinte. Preparou-se a noite. Escolheram-se os locais para as sentinelas, limparam-se alguns arbustos e improvisaram-se abrigos.
Às 19h00 recomeçou o tiroteio, interrompido pela reacção das NT e recomeçando às 22h00. Elementos INs, ao abrigo da escuridão, aproximaram-se do improvisado aquartelamento e arremessaram granadas de mão. Às 01h00, 2h00 e 3h00 os ataques foram feitos com mais força e as flagelações vinham de vários lados. Ouviam-se claramente palavras de incentivo, “por aqui”… ”vamos”.. ”vamos embora”…
Uma noite que o relator diz ter sido interminável.

Pela manhã mais dois feridos foram levados pelo heli que trouxe água, munições e alimentação.
Foram rendidos cerca das 12h00 por 2 GrComb, um da CCav 489 e outro da CCaç 461. Estes grupos tiveram a marcha atrasada pelo rebentamento de um fornilho com flagelação de tiros de PM e remoção de abatizes.

A CCav 489 (-) retirou então, não sem se deparar com 24 abatizes no trajecto Morés-estrada de Bissorã e ter sofrido uma emboscada nesse local. O condutor de uma das GMCs foi atingido nas pernas por estilhaços de GM (oito furos foram contados na porta da GMC). Por várias vezes a fuzilaria interrompia-se subitamente e da mesma forma se reacendia, causando mais dois feridos às NT. Foi abatido de uma árvore um elemento In. Eram 16h30 quando viram finalmente Mansabá.

A constante actividade das Companhias do BCav 490 obrigou o IN a nunca pernoitar noites seguidas no mesmo local. A operação realizada em 2 Novembro pela CCav 489, que se manteve no local duas noites seguidas, deu os frutos no imediato. A actividade IN reduziu-se significativamente, ao ponto de em Dezembro, as escoltas nos principais itinerários do Sector, Mansoa-Mansabá e Mansoa-Bissorã, passarem a ser feitas com efectivos de secção.


As baixas do BCav 490 no Oio
Mortos: 2
Feridos: 19

As baixas do IN
Mortos: 36
Feridos: 80
Prisioneiros: 12

Material Capturado
2 PM
1 Pist
2 Longas
3 Minas A/C
10 GM
1 Armadilha com 3 petardos de trotil
2 Fornilhos
2.000 munições e
Documentação vária
__________

Notas:

1. Artigo extraído da História do BCav 490

2. Artigo relacionado em 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3326: Breve resumo da História do BCav 490 (1963/65).

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3326: Breve resumo da História do BCav 490 (1963/65) (Virgínio Briote)

Batalhão de Cavalaria 490 (I)

Esta é uma pequena homenagem a todo o pessoal que fez parte do BCav 490.
Eu, V. Briote, um dos editores, fiz parte por alguns, escassos, meses deste famoso Batalhão.
Claro que todos os Batalhões, Companhias e Pelotões que passaram pela Guiné ficaram famosos.
Mas perdoem ao editor que, ao menos uma vez, dê a cara no nosso blogue pelo BCav 490. Todos nós dizemos o melhor dos nossos Camaradas, daqueles com quem calcorreámos os trilhos daquela imensa (imensa, sim...) Guiné. Noites e dias, os frios e os calores insuportáveis até ao limite, os camuflados pesados do calor e da chuva e a pergunta com resposta certa: quem quer saber do que estamos aqui a fazer?

E tinham razão aqueles que, já naqueles primeiros anos da Guerra, diziam abertamente que estávamos a travar uma guerra errada e sem sentido. Como quase dez anos depois para os que a iniciaram se veio a comprovar.
Nenhum de nós trouxe tudo o que para lá levou. Uns viram as suas vidas sacrificadas sem glória, outros mais afortunados deixaram lá partes e todos trouxemos coisas que os nossos vinte anos nem sonhavam.

vb
__________

História do BCav 490: Breve resumo

Adaptação da responsabilidade do editor



1. Formação

- Em Fevereiro de 1963, o comando do Batalhão frequentou um estágio de guerra subversiva no CIOE, em Lamego, a que se seguiu durante quatro semanas a Escola Preparatória de Quadros no RC 3.
- 16 Abril: início da Escola de Recrutas no RC 3, com a duração de 7 semanas.
- 2 Julho: gozo da licença do pessoal com a informação de que o Batalhão iria ser mobilizado para Moçambique. Com a licença ainda a decorrer recebem a notícia de novo destino: Guiné.
- 14 Julho: reunião de todo o pessoal em Estremoz e preparativos para rumarem a Lisboa.
- 16 Julho: despedida do Batalhão, com missa campal seguida de desfile. Deslocação em formatura para a estação dos C. F. de Estremoz, onde embarcou às 24h00 com destino a Alcântara Cais, onde chegou às 07h00 do dia seguinte.
- 17 Julho: formatura de todas as unidades prontas para o embarque, com revista pelo Brigadeiro Ribeiro de Carvalho, Director da Arma de Cavalaria.

2. Viagem
- 17 Julho: às 11h00, embarque no "Niassa". Seguiram no mesmo navio os Comandos e CCS dos BCaç 512 e 513, além de três Cªs de Artª. Com cerca de 1500 homens sob o comando do Ten. Coronel Fernando Cavaleiro e levando como Comandante de Bandeira o Cap. Mar e Guerra Ferrer Caeiro, o navio desamarrou às 12h00.
- Durante a viagem o pessoal teve instrução de armamento, familiarizando-se com a G-3, arma que viram pela primeira vez. Foram transmitidas ao pessoal algumas informações sobre a Guiné, nomeadamente clima, usos e costumes. Projecção de filmes, concursos de tiro e exercícios de salvamento ajudaram a passar os dias. Na véspera da chegada os militares apresentaram uma sessão de variedades.
- 22 Julho: chegada a Bissau, pela manhã.

3. Desembarque e instalação

- Devido à falta de alojamentos em Bissau o Batalhão só desembarcou em 27 de Julho, ficando alojado em barracões (sem portas nem janelas) sitos na Bolola.
- Dezembro de 1963: mudança para a Amura, de pouca dura, uma vez que foi atribuída ao Batalhão a missão de entrada em sector no Norte.
- Na deslocação da unidade para o Sector 02/Farim, as condições não permitiram que a bagagem seguisse com o pessoal (estava prevista uma missão operacional com a duração prevista de 20 dias, que acabou por não se realizar).
O pessoal entrou em Sector com uma muda de roupa. Devido a problemas vários, a maioria dos elementos do Batalhão recebeu as respectivas bagagens 8 meses depois.

continua
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Notas:
1. O Capitão de Mar e Guerra Ferrer Caeiro conheci-o como Comandante da Marinha em Bissau em 1965/66.

2. artigos relacionado em

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3313: Grandes acidentes (1): Oito mortos do Pel Mort 980, em 5 de Janeiro de 1965, no Rio Cacheu (Virgínio Briote)

Batalhão de Cavalaria 490. História da Unidade.
Guiné. Fevereiro 1963/Agosto 1965.


Com a História do BCav 490 nas mãos, oferta do Carlos Silva (que mantém um blogue com muita informação útil, especialmente sobre o Sector de Farim), ao folheá-la deparei com o relatório de um acidente de que, lembro-me agora, ouvi falar em finais de Janeiro de 1965.

Eram ainda os primeiros anos da Guerra na Guiné. Os meios escasseavam e a improvisação impunha-se mais que nunca.

Pelo interesse de que se reveste, transcrevo na íntegra o relatório assinado pelo Alf Inf José Pedro Cruz, que, se a memória me não atraiçoa, foi mais tarde Cmdt da CCav 489 e, posteriormente (talvez Set/Out 65), vim a encontrar no Xitole, como Cmdt de uma CCaç (de que já não me lembro o número).

vb

Revisão e fixação de texto: Carlos Silva e Virgínio Briote.
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Cópia do relatório do acidente, que se transcreve abaixo.


Batalhão de Cavalaria n.º 490

Pelotão de Morteiros n.º 980

Relatório do acidente que teve lugar em 5/01/1965

O Pel Mort 980 era constituído por 33 homens, incluindo o cmdt de Pelotão e os Furriéis (3), comandantes de Secção.

O Pelotão participava na Op Panóplia que se realizava na Península de Sambuiá, entre o rio do mesmo nome e o rio Talicó.

Para dar cumprimento à missão, o Pel embarcou na LFG Orion às 05h00 como estava previsto e foi transportado por este meio na direcção E-W pelo rio Cacheu. Como fora planeado, o navio passou pelo local de desembarque, local esse que fora reconhecido na véspera, até um ponto antes de Bigene. Aí, o navio inverteu a marcha e, como também fora planeado, foi então que o Pel desembarcou para o bote de borracha pertencente ao Exército no qual se faria o desembarque na Península de Sambuiá.



A LFG Orion no Cacheu. Foto do Lema Santos, com a vénia devida.

Embarcaram para o barco de borracha do Exército, 25 homens entre os quais se encontrava o Cmdt do Pelotão. Embarcámos também para esse barco todo o material e armamento necessário para se realizar o desembarque.´

Como seria mais seguro não embarcaram todos os homens nesse barco, que tem uma lotação aproximada de 30 homens, tendo o Comandante do navio posto à nossa disposição um barco de borracha pertencente à Marinha, no qual embarcaram simultaneamente os restantes homens do Pel Morteiros (8) assim como o restante material.

Os dois barcos seriam rebocados pela Orion"«, de maneira a estarem permanentemente encobertos das vistas de possíveis sentinelas existentes na Península onde se efectuaria o desembarque, junto ao rio Cacheu. Segundo notícias, essas sentinelas existiam. Os barcos onde eram transportados os homens do Pel Mort seriam afastados da Orion ao passarmos pelo local onde se realizaria o desembarque.

Antes do navio se pôr em marcha, foi passado um cabo por baixo do barco onde eram transportados os 25 homens, amarrado a um ferro existente no fundo do mesmo.

O navio recomeçou a marcha e, depois de ter navegado durante alguns minutos, o cabo que fora passado para rebocar o barco maior, rebentou pelo que o navio se afastou um pouco. Foi posto o motor do barco a funcionar e a recolagem fez-se sem qualquer incidente ou dificuldade.

Foi então que se passou um cabo mais forte para dentro do barco de borracha, ficando os próprios homens que o tripulavam a agarrar nesse cabo, sendo nessa altura avisado pelo Cmdt da Orion e depois por mim que, em caso de emergência, o cabo devia ser largado imediatamente. Foi nessa altura que eu chamei a atenção dos homens para a conveniência de se chegarem o mais possível para a ré, pois o barco rebocado teria a tendência a baixar a proa. Os homens assim fizeram.

A marcha recomeçou, não podendo eu avaliar a velocidade da Orion, pois ela, necessariamente, difere bastante (aparentemente), devido às diferenças de tamanho da Orion e do barco rebocado.

Depois de se navegar nestas condições alguns metros, notei que o barco de borracha deixava entrar água pela proa. Coisa sem importância, pois isso seria natural devido à ondulação provocada pela deslocação do navio rebocador.

Foi nesse momento que à ré do barco de borracha alguns homens se levantaram, talvez assustados pela água que saltava para dentro do barco. Mandei-os sentar imediatamente, mas o barco já se encontrava desiquilibrado de um dos lados e, sem nos dar tempo a qualquer reacção, afundou-se rapidamente.

Alguns homens que se encontravam dentro do barco sinistrado não sabiam nadar e, então, o pânico foi enorme.

Nadei para junto do barco que se encontrava voltado e icei-me para ele. Seguidamente e auxiliado pelo Soldado nº 1069/63 (1), fui aconselhando calma e ajudando alguns homens a içarem-se para para o barco voltado. Foi feito todo o possível para salvar o maior número de homens. Alguns não chegaram a vir à superfície uma única vez, talvez devido ao grande peso do equipamento, armamento e munições. Entre estes, dois eram bons nadadores.

Verifiquei então que se aproximava rapidamente um barco de borracha da Marinha, tripulado pelo próprio Cmdt da Orion, a qual se encontrava parada, afastada do barco sinistrado cerca de 80 metros.

Depois de se efectuar o transporte de todos os sobreviventes para bordo do navio, efectuaram-se pesquisas em todos os sentidos e recolheu-se todo o material que se encontrava a boiar.

Verifiquei imediatamente que tinham desaparecido no desastre alguns homens do meu Pelotão e varadíssimo material.

Ao subir para a Orion fui informado que dois homens se salvaram por terem ficado agarrados ao cabo do reboque, o que prova que o mesmo cabo não foi largado como foi aconselhado aos homens para o fazerem em caso de emergência.

Conclusões

1. O desastre deu-se, em grande parte, devido ao pânico de que os homens se apossaram.

2. O pânico foi devido à entrada da água pela proa do barco. Pânico natural, por muitos não saberem nadar.

3. Que a água entrou devido à ondulação provocada pelo deslocamento do barco rebocador e ainda devido à tendência do barco em baixar a proa, visto o cabo do reboque não ter sido passado por baixo do barco mas sim por cima, indo agarrado pelos próprios tripulantes do barco rebocado.

Recomendações

1. Tanto quanto possível evitar, nas operações em rios, homenss que não saibam nadar.

2. Nunca rebocar um barco com o cabo de reboque passado por cima do barco rebocado e agarrado pelos próprios homens do mesmo barco.

3. Sempre que possível, evitar reboques por meio de navio de peso elevado e de elevada velocidade.

No acidente pereceram os seguintes homens:

1.º Cabo n.º 1295/63- Arlindo dos Santos Cardoso
1.º Cabo n.º 2143/63- João Machado
Soldado n.º 2481/63- António Ferreira Baptista
Soldado n.º 2517/63- António José Patronilho Ferreira
Soldado n.º 2540/63- António Domingos Félix Alberto
Soldado n.º 2594/63- Joaquim Gonçalves Monteiro
Soldado n.º 3021/63- João Jota da Costa
Soldado n.º 3029/63- António Maria Ferreira

Quartel em Farim, 10 de Janeiro de 1965

O Comandante do Pel Mort 980

José Pedro Cruz
Alf Inf


Comentário do Comandante do BCav 490

Concordo com as conclusões e recomendações apresentadas. No que respeita à escolha dos homens que saibam nadar, creio que infelizmente é bastante teórica pois na maior parte dos casos terão que ser utilizados os efectivos disponíveis. Aliás, não basta saber nadar, pois como se verificou dois dos desparecidos eram até bons nadadores. A única solução parece-me que será dotar as Unidades de meios próprios para desembarques.

No caso presente é possível que o acidente se tivesse evitado se não tivesse havido necessidade de tomar medidas motivadas pela grande vulnerabilidade do barco de borracha.

O barco tem sido utilizado inúmeras vezes, nomedamente no percurso Farim-Binta e na travessia do rio Cacheu em Farim, deslocando-se pelos próprios meios e transportando até cargas mais elevadas, sem que a sua estabilidade desse lugar a reparos.

Quartel em Farim, 10 de Janeiro de 1965

O Comandante do BCav 490
Fernando Cavaleiro
__________

Nota:

1. Não consegui identificar o Nome deste Soldado.