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sábado, 9 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24934: Os nossos seres, saberes e lazeres (604): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (132): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Setembro de 2023:

Queridos amigos,
Já era tempo, como beneficiário dos Serviços Sociais da Administração Pública, de me meter numa excursão, 5 dias num autocarro para conhecer algumas aldeias vinhateiras, programa centrado em Tabuaço. No primeiro dia dizia-se que o almoço era livre, fomos lançados no Palácio de Gelo, em Viseu, andava nas entranhas deste gigantesco centro comercial e não me saía da mente o romance "A Caverna", de José Saramago, aqui só falta um tempo egípcio, a reconstituição da Batalha de Aljubarrota e da Guerra da Restauração, quanto ao mais tudo é possível. É o que Marc Augé chama o não-lugar, como uma estação ferroviária, um terminal de aeroporto, um espaço intermédio entre um sítio e um outro, sempre com funcionalidades, e no caso vertente prepondera a multifuncionalidade.. Daqui até Tabuaço há oportunidade de percorrer o Douro e os seus socalcos, um êxtase, um tempo magnífico, vinha à espera de ver as parras já acastanhadas, está tudo esverdeado, aqui e acolá quem vindima acena e nós correspondemos. E segue-se o primeiro passeio em Tabuaço, a vila é maltratada nos guias e nas referências a centros históricos, vinha a salivar para visitar o mosteiro românico de S. Pedro das Águias, faz parte da Rota do Românico, nada, em sua substituição na manhã seguinte o belíssimo passeio a Barcos, a igreja matriz é impressionante. Confesso que estou a gostar muito desta rota das aldeias vinhateiras.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (132):

Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (1)

Mário Beja Santos

Os funcionários públicos, no ativo ou reformados, podem ser beneficiários dos Serviços Sociais da Administração Pública. Há refeitórios, locais de convívio, ações de formação, programas de férias. Pela primeira vez inscrevi-me num turno de férias intitulado Rota das Aldeias Vinhateiras, saída de Lisboa para Tabuaço, visita a Barcos, Favaios, Trevões, S. João da Pesqueira, Salzedas, e no último dia voltar a flanar. Ida em camioneta de excursão da Mafrense, tempo de amesendar em Viseu num não-lugar e depois Tabuaço, um hotel com refeições e pernoita. À cautela, muni-me de um livro sobre vindimas de Miguel Torga, outro de João Araújo Correia, meti no saco o livro de fotografias sobre o Douro, da autoria de António Barreto, e andei a espiolhar os tesouros artísticos de Portugal. Já em Tabuaço, na Loja Interativa de Turismo apanhei um folheto sobre os centros históricos do Norte de Portugal, pouca coisa, uma referência à igreja matriz, propostas de visita ao Museu Abel Botelho, aldeia vinhateira de Barcos, e uma chamada curiosa a um relógio de nome Rijomax, considerado o relógio mais completo do mundo. Posto isto, começámos a percorrer a vila, tem um pouco mais a ver do que vem mencionado na brochura dos centros históricos do Norte de Portugal, como se procura exemplificar.

Edifício da Câmara Municipal, uma bela casa apalaçada, mete respeito, estou no jardim da Loja Interativa de Turismo, antes de entrar no edifício uma surpresa, vou mostrar.
Simples e tocante homenagem aos combatentes do concelho de Tabuaço, placa bem tratada neste espaço público
Cabeça de guerreiro de período da Idade do Ferro, granito, proveniente da freguesia de Vale de Figueira. Já percorri duas exposições de artistas locais, fico mais entusiasmado com esta cabeça de guerreiro, vou agora à antiga biblioteca de uma escola que foi criada para formar agricultores, obras de um filantropo local, Macedo Pinto, a biblioteca, conforme nos foi informado, tem um espólio apreciável de publicações ímpares, há estudiosos que vêm expressamente ao local para as apreciar; agora a biblioteca tem serviços camarários, mas as estantes perfilam-se, metem respeito, fazem parte de um ideal antigo de querer agricultores esclarecidos, lavradores cultos.
Estante da biblioteca onde se guarda o acervo de obras sobre agricultura, algumas delas de incalculável valor, obra do filantropo Macedo Pinto
A principal atração turística é o Rijomax, o tal relógio mais completo do mundo, obra de Amândio José Ribeiro que foi relojoeiro e ourives em Tabuaço, no ano em que faleceu vendeu o seu Rijomax à autarquia. O que nos diz a brochura atinente: “Rijomax é o nome dado pelo seu construtor ao exemplar de relojoaria mais completo, complexo, exótico e insólito que se conhece. O seu construtor levou mais de 28 anos a dar corpo ao seu extraordinário invento que tem deixado perplexos técnicos estrangeiros que se deslocam a Tabuaço para observarem tão misteriosa máquina. O relógio indicava os movimentos aparentes do Sol e da Lua, segundos, minutos, 24 horas, hora universal, hora lunar, assinala anos bissextos. Indicava o nascer e o pôr do Sol, quando crescem e decrescem os dias, assinalava o dia e a noite com escala diária de quantas horas e minutos têm o dia e a noite. Marcava os equinócios, os solstícios e as fases da Lua com luz que recebia do dito Sol. Indicava as semanas e os dias da semana; os meses, os dias dos meses e quantos dias faltavam para o fim do mês; os anos, os dias dos anos e quantos faltavam para o fim do ano, as estações e os dias das estações; os signos e os dias dos signos; os semestres, os trimestres e a indicação de em que dia da semana começa cada mês, e outra se o ano fosse bissexto; as datas das fases da Lua e a mudança de tempo. Tinha, ainda, indicação dos números do ciclo solar, do Número Áureo, da Epacta, letra dominical, as eras cronológicas, os dias da era de Cristo e os séculos. Assinalava os feriados, os dias dos Santos e as festas móveis, possuía barómetro, possuía termómetro e mostrador dos pontos cardiais. Despertava por música à escolha, por campainha, e acendia a luz a toda a hora desejada. Falava, dizendo quantas horas são e dava uma saudação em vocabulário religioso; tem, ainda, um aparelho que chamava o dono da casa.” E chama-se a atenção para outras curiosidades: Amândio José Ribeiro dedicou mais 16 mil horas de trabalho à formação do relógio, entre 1945 e 1973; possui mais de 16 mil algarismos e letras e 45 mostradores, e está programado para funcionar durante 10 mil anos. Olhei para isto tudo como boi para palácio, maravilhei-me, é certo, estou contente por conhecer o Rijomax e admiro quem o criou.
Amarinhando em direção aos céus, mesmo em frente à loja interativa de turismo de Tabuaço
Há, felizmente, renovação de casario com caráter, pena que as franjinhas lá para o telhado não sejam substituídas…
Fachada do Museu Abel Botelho, o autor de O Barão de Lavos, natural de Tabuaço e falecido em Buenos Aires
Que bom, ver uma casa típica restaurada a preceito, que utilidade terão hoje os sobrados?
Um restauro, com cuidados e desvelos

Regresso ao hotel, dez à mesa e self-service, adorei as entradas, a orelha de porco, o grão com lascas de bacalhau e as saladas, seguiu-se uma sopa de repolho, deliciosa, fingi que comi o prato principal, atirei-me às uvas. Já no quarto, fui estudar o programa da manhã seguinte, a aldeia vinhateira de Barcos, a igreja matriz é monumento nacional, recomenda-se a visita à Mata da Forca, à Casa da Colegiada, à Casa da Roda dos Expostos, ao antigo Paço do Concelho. Fico a saber que há aqui aldeias vinhateiras que foram sede de concelho, como é o caso de Favaios, que visitaremos à tarde. Ainda espero em Tabuaço visitar templo religioso que consta da rota do românico, o mosteiro românico de São Pedro das Águias, regressarei a Lisboa frustrado, preferiram levar-nos ao Miradouro do Fradinho, 350 degraus para cima e outros tantos para baixo, vista esplêndida, o Fradinho nada tem de especial, foi uma das desolações do programa.
Altar-mor da Igreja de Barcos
Pormenor do teto da Igreja de Barco
Outro pormenor do teto da Igreja Matriz de Barcos
Bem singela esta Sagrada Família

A igreja matriz de Barcos, ou de Nossa Senhora da Assunção, é um templo de origem medieval em torno do qual se desenvolveu o povoado. A igreja é romano-gótica, tem planta retangular, de nave única e uma capela-mor maneirista, conheceu intervenções, como é óbvio, mas mantém vários elementos da construção original, como os portais, o remate em cachorrada da nave, os arcossólios no seu interior, silhares com marcas de canteiros e cachorros românicos na sacristia. No interior são dignos de menção a cobertura de maceira na nave e em falsa abóbada de berço de madeira, com caixotões pintados na capela-mor. É uma verdadeira beleza. A parede da capela-mor encontra-se revestida por azulejos originais com ornamentos vegetais de azul sobre fundo branco. Vale ainda a pena referir que na cobertura os caixotões (em número de 28) guardam pinturas alusivas à vida de Cristo e da Virgem.
Depois houve passeio a esta aldeia que foi concelho em 1263 e 1855, há edificações medievais, modestas casas de cariz vernacular. Enfim, voltaria sem dificuldade amanhã a Barcos. Segue-se almoço e guarda-se silêncio sobre o que vem a seguir.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24909: Os nossos seres, saberes e lazeres (603): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (131): Querubim Lapa, mago da cerâmica azulejar, mas irrefutável pintor e desenhador neorrealista (2) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Guiné 61/74 – P24789: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (14): A minha viagem para o Seminário (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

Miradouro do Vale do Sabor

Foto: Câmara Municipal de Moncorvo, com a devida vénia


1. Em mensagem de 22 de Outubro de 2023, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos mais um excelente texto, desta feita, a sua ida para o Seminário:

A minha viagem para o Seminário

Até aos doze anos, para oeste de Brunhoso, nunca passei além do rio Sabor, que banhava esses limites da minha aldeia, onde ia por vezes no Inverno a ajudar à apanha da azeitona da Barca, no Verão a apanhar a amêndoa do Picão ou a apanhar os figos, dumas figueiras que a minha mãe tinha herdado, na ribeira das Picotas.

Para norte na direcção do planalto mirandês ia muitas vezes às feiras quinzenais de Mogadouro, por um caminho de terra batida, eram só cinco quilómetros, tocava com a vara vacas e vitelos que o meu pai queria vender, nas feiras quinzenais, que se realizavam num descampado enorme, onde se juntavam muitos animais, os seus donos ou os filhos deles e os compradores e intermediários, o mais conhecido tinha por alcunha o "Chispas", homem falador e irrequieto, natural da vila.

Nunca fomos ricos mas nesses anos com os meus pais em princípio de vida comum, era difícil esticar a manta para tapar umas necessidades pois outras podiam ficar a descoberto.

Recordo-me da casa onde nasci, eu e os meus três primeiros irmãos, todos varões, terei vivido lá dois anos. Casa muito humilde só com duas divisões, uma sobrelevada onde estava a cozinha e a lareira, coberta de telha vã, sem chaminé, o fumo saía por uma abertura que podia ser tapada, no caso de muita chuva ou neve, com uma chapa de metal. Descendo cinco degraus de madeira era o quarto, único, bastante espaçoso e forrado a madeira. Esta casa, contígua à casa grande dos seus sogros, terá sido herdada pela minha avó paterna, de uma parenta pobre chamada Maria "Pequena", casada mas sem filhos.

Anos difíceis para os meus pais, com poucos bens para se governarem, somente algumas terras de cultivo de cereais, emprestados pelos pais deles, e uma pequena horta, os filhos nasceram ao ritmo de um por ano, o nosso pai de compleição atlética mas a ter que tratar-se de doenças quase incuráveis para a época, uma delas a tuberculose, da outra não falo.

Sem saber se pelas condições insalubres da casa, o vento, o frio e calor a que estávamos sujeitos, ou pela falta de assistência médica, morreram dois desses meninos, outros viriam e meninas também, já nascidos em casas maiores, mais arejadas e confortáveis.

Para além dos produtos da horta e da carne de um ou dois porcos que a nossa mãe criava com farelo, castanhas, batatas e hortaliças, de que se curavam os toucinhos e os presuntos, e se faziam muitos enchidos, criava também galinhas e perus que davam ovos, que eram bons cozidos, em omeleta, ou estrelados com algum açúcar no final eram um manjar para mim, davam também boa carne para ocasiões especiais e festas, e para as alheiras que só podiam levar carne de aves ou de vitela, de porco não, segundo a tradição judaica.

Poucos produtos alimentares se compravam para a dieta alimentar da família, para além de algum peixe que a vizinha, tia Clementina, vendia na época própria, que poderia ser sardinha ou chicharro dividido para dois ou três, conforme o tamanho, para dar mais sabor às batatas e às couves, aos tomates, às vagens, aos pimentos e a outras hortaliças que a horta produzia com abundância.

A década de sessenta do século passado, depois do restabelecimento dos povos e das nações após o cataclismo da Segunda Guerra Mundial, foi muito fértil em acontecimentos sociais, políticos e artísticos. Portugal,  um pequeno país, guardado de influências externas pelo Oceano Atlântico, a ocidente, e pela Espanha franquista, fascista e imperial a leste, protegia-se da liberdade, da cultura e do progresso, pela vontade férrea de Salazar, um velho ditador puritano e asceta, durante muitos anos educado num seminário e que não querendo ser bispo, tinha uma ambição maior, ser um rei absoluto de Portugal, como os reis da Idade Média que recebiam o poder de Deus, através do Papa que os legitimava. Sem poder ser rei, tinha sangue plebeu, Salazar enquanto governante comportou-se como um rei absoluto sem coroa, tal como o ditador Francisco Franco em Espanha.

Não havia progresso, para além da agricultura e pastorícia, pois ele crente ou já descrente estava a viver nos tempos bíblicos das suas leituras religiosas que tinha vivido também na paz e bucolismo da sua infância.

Os lavradores, refiro-me a todos os que sozinhos ou com a ajuda de familiares ou pagando a trabalhadores, tinham as mãos calejadas e as sujavam na terra, com mais conhecimentos e instrução, já quase todos tinham a quarta classe, dão-se conta que com tantos filhos nascidos depois da última grande guerra, que os poucos hectares de terra que possuem, cada vez mais dividida pelos filhos, em herança, após a morte deles, mal lhes dariam alimento que bastasse a todos.

Sem máquinas agrícolas ou meios técnicos que possam pagar e sem trabalhadores agrícolas, que no limite da pobreza, estavam em fuga para a Europa rica para lá dos Pirinéus, sem terem meios económicos para pagarem a educação dos filhos em colégios ou pagarem a sua hospedagem nas cidades ou vilas onde havia os estabelecimentos de ensino oficiais, mandam os filhos a estudar para os seminários, onde os custos são menores. Tenho pensado que nos finais da década de cinquenta, Salazar terá conversado com o seu amigo e colega do Seminário, o Cardeal Cerejeira, duas faces da mesma moeda, em conhecimentos e sagacidade, um e outro, quando os seus olhos vivos, perscrutavam a sociedade, Salazar com a ajuda da polícia secreta e dos informadores, começam a dar-se conta que a juventude se afasta da Mocidade Portuguesa, da Igreja e de outros convívios "saudáveis". Muitos estudantes universitários contestam a autoridade e o Estado Novo, influenciados por ideologias de esquerda.

Será especulação ou hipótese académica, ambos conservadores religiosos e políticos, terão concluído que para afastar a juventude das ameaças das ideologias de esquerda que a podem corroer como um cancro, o melhor será franquear as portas dos seminários para educar e formar jovens mais às suas imagens e semelhanças.

Nesses meus verdes anos, dei-me conta na realidade de que houve uma mobilização de párocos e de padres de ordens religiosas a querer entusiasmar os jovens nesse sentido, com o agrado das mães contentes por poderem vir a ter um filho padre e os pais a terem um filho a estudar com poucos gastos.

Se chegassem a padres teriam um futuro, digno, sagrado segundo mães, se não conseguissem esse objectivo, muito difícil, poucos o conseguiam, poderiam fazer alguns estudos por preços bastante económicos que lhes poderiam dar acesso a um emprego no Estado, num banco, nos seguros ou nalguma empresa, que os poderia libertar da dureza do trabalho da terra e poderiam aspirar a uma vida mais limpa e digna, com outro prestígio aos olhos dos seus concidadãos e com mais vantagens económicas.

Dos seminários saíram poucos padres mas muitos estudantes, alguns com os estudos liceais completos, outros a meio ou perto do fim, muitos deles nas décadas de 60 e 70, foram preencher as necessidades de quadros milicianos militares da guerra colonial, alferes, furriéis e até capitães, na sua maior parte o regime confiava que eles não tivessem sofrido influências das doutrinas de Marx, Lenine, Mao-Tse-Tung ou dos reformadores republicanos e socialistas.

Alguns tiraram cursos superiores, da minha aldeia, o padre Neto, falarei dele adiante, formou-se como padre nos anos quarenta, nos anos cinquenta o meu amigo Francisco Carvalho, depois de muitos anos de seminário saiu e doutorou-se em filosofia e nos anos oitenta saiu padre o meu parente José Cordeiro. Os três estiveram na congregação dos Salesianos tal como eu e outros mais.

Quando no primeiro trimestre de 1969, o Batalhão de Cadetes milicianos de Mafra, na foz do Lizandro, atroou os ares, nessa noite escura e trágica, com gritos de assassinos e vamos embora, pela morte de três camaradas por incúria e desleixo dos instrutores, responsabilizando o comandante que tinha ficado no quartel, quem deu as palavras de ordem foram os estudantes universitários do Porto, Coimbra e Lisboa. Conheci bem um dos mortos, era um ex-seminarista, educado, afável, humilde, dormia perto de mim na camarata, no corredor oposto ao meu, foi o meu primeiro camarada conhecido a morrer nessa maldita guerra, recordo-o ainda com mágoa.

Somente depois de fazer a quarta classe, para meu gosto e desgosto, obedecia, os meus pais mandavam, fiz uma grande viagem para o Seminário de Mogofores, na Beira Litoral, onde o meu irmão mais velho já tinha estado um ano, os outros mais novos teriam como primeira grande viagem destinos semelhantes. Eu gostava de ir estudar, ir para o seminário nem tanto, nunca gostei de rezar mas o dinheiro era pouco. Os seminários faziam preços económicos para alojamento e alimentação, poderia até ser grátis para os filhos dos mais pobres.

No meu caso, quem me procurou entusiasmar para ir para de Mogofores foi o padre Neto da congregação dos Salesianos, amigo da casa dos meus pais, como a família dele. O pai dele era um homem respeitável na comunidade, tal como a sua mãe. O pai era um barbeiro, de ar calmo e sabedor em fazer curativos e aconselhar pomadas e chás para outros problemas. A mãe era uma senhora delicada, muito religiosa, socialmente muito estimada.  Tiveram também uma filha freira, da mesma congregação religiosa.

Pela vida fora eu e o padre Neto, fomos sempre amigos, sendo eu adolescente e ele um homem já perto dos quarenta anos, sentia-me lisonjeado por ele me tratar, tu cá, tu lá, como um igual.

Em textos anteriores já enfatizei a beleza das minhas viagens pela linha do Sabor e do Douro. O vale do Douro português será provavelmente um dos vales mais belos do Mundo.

O vale do Sabor é belo, emociona-me, arrepia-me, é o meu vale de lençóis, de águas bravas, águas azuis, verdes, castanhas cinzentas, hoje com a construção da barragem, de águas calmas, de ladeiras cobertas de oliveiras, amendoeiras, de salgueirais, troviscais, reflectidas em grandes espelhos de água.

Esta é sobretudo uma viagem no tempo, a idade não me permitia muita independência de espírito, estava muito ligado à terra, para a adjetivar com palavras belas. Dos montes da minha terra, dos vales, rios e ribeiros, gostava sem o saber, como gostava dos meus pais e irmãos, sem que que lho confessasse. O rio Douro tinha maior caudal e maiores arribas do que o Sabor.

Mal recordo a cidade do Porto, terei mudado logo, na estação de S. Bento para linha do Norte em direcção a Mogofores. Na linha do Norte, espreitei o mar que com curiosidade, nunca o vira, ter-me-ei dado conta da transformação da paisagem, sem montes, tão plana, tão diferente da transmontana.

Ainda hoje estranho um pouco as paisagens planas, dá-me a impressão que mudei de país. A região de Aveiro pela planura e pela ria lembra-me sempre a Guiné.

A linha do Sabor, que seguindo o rio a alguma distância, não o mostrava, já não existe, foi abandonada como todas as outras linhas dos afluentes do Douro, por ordem de um governante iluminado do poder central de Lisboa, com poucos protestos da capital do Norte. Não há norte ou sul, em Portugal há interior e litoral, no litoral vivem os cidadãos e no interior alguns indígenas em fase de extinção.

Na minha viagem para o seminário de Mogofores, terei ido só ou acompanhado, já não me lembro, sei que levava uma grande mala de cartão, não havia outras, com roupa marcada pela minha mãe, com as minhas iniciais, lençóis e toalhas também. Levava roupa para um ano, as distâncias eram grandes, os comboios lentos, não haveria férias de Natal ou da Páscoa.

Sendo um filho obediente, com um espírito rebelde, aceitava a necessidade de ir para o seminário, atendendo às dificuldades económicas da família que crescera, já éramos sete irmãos. A vida na agricultura nesse tempo era dura, além disso eu gostaria de aumentar os meus conhecimentos.

A minha predisposição à partida seria idêntica à dos meus conterrâneos, novos ou velhos, quando partiam para o Brasil e dos outros que saltaram fronteiras em direcção à França, a necessidade de melhor futuro fazia-nos partir a todos.

Não gostei da vida do seminário, muita igreja, logo pela manhã depois de levantar, muitas rezas, muitas filas por longos corredores húmidos, frio, fazia-me falta uma lareira, padres muito religiosos mas com pouca alma. Por vezes falava com o cozinheiro para matar saudades, era da minha aldeia, surdo, tinha aprendido a escrever, a falar e a arte da cozinha, numa casa de apoio para rapazes com dificuldades, no Colégio dos Órfãos no Porto dirigido por essa congregação.

Perto do Natal terei cometido uma barbaridade, um erro grave, um grande pecado que não consigo lembrar, por esse motivo fui chamado ao Prefeito, o padre que administrava a justiça com severidade, por quem fui punido com a dureza que se impunha, fortes reguadas. No final do castigo, furioso lancei o meu grito de revolta e disse a esse padre vermelhusco, mirandês de Ifanes, que ele não era meu pai e que portanto não tinha direito de me maltratar assim.

No dia seguinte fui falar com o Director, um padre naturalmente, a dizer que queria regressar a casa. Não me deixaram, obrigaram-me a passar o ano nesse "quartel", frio e húmido, o pior que conheci na minha vida.

Não gostei de Mafra, o tenente de instrução do meu pelotão era um sádico, que nos meses frios e húmidos do Inverno, nos tratava como animais, para meu desgosto era natural do Nordeste Transmontano.

O frio húmido do litoral entrava-me dentro pela carne e pelos ossos, o frio dos meus montes era mais agreste mas mais seco, era um ar frio que me afagava, ainda hoje é assim.

Nesse tempo os seminários condicionavam mais a personalidade dos jovens adolescentes do que a vida militar, pela disciplina excessiva, pelas práticas e o ensino religioso, tão obsoletos. Para os seminários iam jovens pré-adolescentes mais fáceis de moldar, para a tropa iam jovens já adultos, quase homens feitos.

No século passado, os seminaristas eram reconhecíveis por terem um semblante demasiado sério, quase triste, como se os anos de recolhimento e clausura lhes tivessem roubado, a alegria, a imaginação e os sonhos. A Igreja é uma instituição hierárquica, tal como a tropa que foi copiar a organização à Igreja. Em ambas se cultiva o poder e a ostentação para dominar e impressionar os simples cidadãos, há bispos, arcebispos, padres, generais, coronéis, capitães, todos muito vaidosos e vistosos, Deus, um velho já cansado a todos absolve.

Salazar esteve quarenta anos no poder, pela sua graça, de alguns polícias demoníacos e com a ajuda da Igreja e das Forças Armadas.

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Notas do editor

Último poste da Francisco Baptista de 6 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24374: (In)citações (246): O regresso dos Soldados (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

Último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 – P24787: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (13): 50 ofícios e profissões de antigamente, extintos ou em vias de extinção (Luís Graça, Lourinhã)

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23595: Os nossos seres, saberes e lazeres (524): Viagem no Douro (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 31 de Agosto de 2022:


VIAGEM NO DOURO

Num dia quente de Agosto apanhei o comboio, no Porto, na Estação de Caminhos de Ferro de Campanhã com destino à Estação do Pocinho. O destino final era Brunhoso, a minha aldeia, no concelho de Mogadouro. Percorrer a linha do Douro, contemplando o rio e as encostas que o ladeiam, era um regresso aos tempos da juventude, quando esse percurso fazia parte da minha aprendizagem escolar e do meu crescimento. Foi com um misto de curiosidade e de saudade que o voltei a fazer. 

O calor como sempre era abrasador, o Douro é uma fornalha, não faz pão mas faz bom vinho, como sempre o possível arrefecimento era efectuado pelas janelas das carruagens abertas. Antigamente, em tempos de maior afluência o comboio poderia ir à pinha, com uns passageiros sentados e outros de pé, todos eles ou a sua grande maioria transmontanos e alguns beirões à mistura. Passados tantos anos quase não vi transmontanos entre os viajantes que enchiam todos os lugares sentados do comboio.

Como transmontano, senti-me só entre turistas nacionais de outras origens e alguns estrangeiros a tirar fotografias ao curso do rio, às suas margens e às encostas do vale. Na estação do Pinhão quase todos os passageiros saíram,  provavelmente para regressarem nos barcos turísticos que navegavam no rio ou de comboio. A maioria dos que ficaram saíram na estação do Tua, muito próxima. Na minha carruagem ficámos dois autóctones dessas paragens, eu e uma senhora que me disse ser natural da Beira Alta, emigrantes internos, a morar no litoral e a lamentar o estado de degradação dos edifícios das estações de comboio.

O vale do Douro que divide as províncias de Trás-os Montes e a Beira Alta, é o vale mais espectacular de Portugal e um dos mais belos da Terra, uma obra prima da natureza que a mão de muitos homens transmontanos, galegos e beirões, há séculos lapidaram, quando construíram os socalcos, onde foram plantadas as vinhas que produziram e produzem os vinhos mais afamados do país. Quando o percorremos todos os nossos sentidos ficam alerta, admiramos os grandes espelhos de água do rio com águas calmas e abundantes devido às barragens construídas, o verde das videiras nos socalcos, que em degraus sobem as encostas, e as outras tonalidades de verde de plantas, arbustos e árvores, perto das margens ou a subir as encostas a esmo, adivinha-se o sabor e o cheiro do vinho fino e dos vinhos de mesa encorpados associados à região vinícola do Douro. 

Há outros vales que rasgam a província de norte a sul, onde correm os rios Sabor, Tua, Corgo, o Tâmega também, muito apreciados pelos amantes da natureza, pois sem terem a monumentalidade do vale do Douro têm muita beleza e tinham há algumas dezenas de anos também vias férreas que completavam a Linha do Douro de modo a transportar os transmontanos às suas vilas e aldeias.

Grande parte dos muitos milhões que a União Europeia enviou para Portugal, depois de 1985, para desenvolver a indústria, o comércio e o turismo, alguns governos não sabendo o que fazer a tanto dinheiro, para mostrar obra, iludir os eleitores e engordar a classe política construíram estradas e auto-estradas, algumas úteis, outras inúteis e desnecessárias. Os ramais das linhas de comboio que percorriam esses vales laterais a norte desses afluentes do rio grande, foram abandonados e escondidos por um governo, sem qualquer consulta às populações que serviam.

Em Trás-os-Montes, a beleza dos montes que em formas mais cónicas ou pontiagudas, formam uma espécie de mar encapelado, perderam muito do seu encanto que não se concilia com a velocidade de vias rápidas ou auto-estradas. Bastava uma auto-estrada, uma via rápida e algumas estradas melhoradas. Se os políticos do cimento e do asfalto, refestelados nos gabinetes do ar condicionado de Lisboa, tivessem percorrido os montes e vales da província, e soubessem ver o que o poeta Miguel Torga viu em toda a sua beleza e dimensão, provavelmente teriam conservado e melhorado todas as vias férreas dos vales menores. Os turistas que vêm de todo o país e do mundo inteiro para admirar o vale do Douro, tal como os naturais da província, agradeceriam, se pudessem viajar e espraiar a vista por eles e dar-lhes mais vida também.

Resta-me dizer que desembarquei do Pocinho, no lado sul, Beira Alta, também já chamada Beira Transmontana, onde o Douro ao receber o caudal do Sabor, se espraia num grande lago de águas calmas, rodeado de grandes hortas verdejantes a sul e a norte. A norte dará início ao fértil vale da Vilariça que acompanha o Sabor alguns quilómetros, mais para riba, corre entre encostas mais áridas e de maior declive, onde havia muitas oliveiras e amendoeiras e havia, antes da construção da barragem nas margens mais planas, as oliveiras centenárias.

No Pocinho esperava-me, de automóvel, um casal de simpáticos emigrantes no Canadá, ele António Martinho Magalhães, meu primo de Brunhoso, e a esposa Aluína Afonso, de Genísio, Miranda. Fomos comer a posta à mirandesa em Mogadouro, de que todos nós os naturais do planalto sentimos saudades inadiáveis quando voltamos lá.

Dia feliz, apesar do calor tórrido, 38 graus, uma viagem agradável, com boas memórias, bom almoço, boas companhias.


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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23582: Os nossos seres, saberes e lazeres (523): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (66): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 4 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17011: Os nossos seres, saberes e lazeres (197): Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 15 de Setembro de 2016:


Queridos amigos,
Tratava-se de sair de Pedrógão Pequeno e viajar até aos castelos históricos da Beira Alta, primeira paragem em Trancoso para rever um grande amigo, a etapa seguinte era Foz Côa. Tudo na última semana de Julho de 2016, com temperaturas elevadíssimas e uma criança de 5 anos e meio a bordo, por sinal bem conformada.
Inesquecíveis castelos, inesquecível museu de Foz Côa, inesquecíveis trilhos do Alto Douro vinhateiro, com uma passagem muito feliz por esse esplêndido museu do Douro. E lá se apontou para o Porto, uma velha amizade, um antigo comandante da Guiné, fazia 90 anos, a família fez-lhe uma linda festa, almoçamos os dois e rememoramos, mais divertidos que agastados, aquelas ásperas experiências que tudo mudaram nas nossas vidas.

Um abraço do
Mário


Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (2)

Beja Santos

A estadia em Foz Côa previa um passeio local, incluindo o Parque Arqueológico do Vale do Côa, o Castelo de Numão e de Freixo de Numão, o deslumbramento daquelas paisagens de montes pintados ou livros abertos e depois o Museu do Côa, remate antes da viagem até à Régua, a travessia do Douro, depois a cidade do Porto. A meteorologia alterou tudo, era um calor incendiário que nem a uma garrafa de litro e meio de água na mão de cada um apaziguava. Havia que tomar decisões, escolheu-se o Museu do Côa, ganhámos todos.



Viaja-se por uma paisagem árida, aterra-se num parque de estacionamento em frente a uma construção monumental, um bloco de linhas puras com uma frecha por onde o viajante entra e sai, faz parte de uma inserção paisagística a todos os títulos impressionante. O que aqui viemos visitar é o cadinho museológico e museográfico da arte rupestre do paleolítico superior que uns senhores da UNESCO exararam em acta: “A arte do vale do Côa é uma ilustração excecional do desenvolvimento repentino do génio criador, na alvorada do desenvolvimento cultural humano”. Aqui estamos, para exultar esse primeiro antepassado da humanidade".



Tem o viajante sido cumulado de benefícios espirituais em diferentes museus onde assenta os pés. Para que conste, este é um assombro que enche de orgulho a alma portuguesa. Tudo bem organizado em salas, gigantes, cavernosas, como se andássemos nas ramificações do parque, talvez mesmo na Canada do Inferno. Na sala que funciona como apresentação, somos informados das principais localizações desta arte no Côa, temos aqui o itinerário de 25 mil anos de iniciação estética.



O viajante obtém imensa informação, às vezes pensa que entrou num romance de ficção científica, fala-se da evolução do planeta Terra e da especificidade destes vales protegidos do Côa onde habitaram grandes herbívoros, auroques e cavalos, dão-se explicações para esta arte paleolítica, depois mergulhamos num género de santuário, assistimos a projeções de conjuntos magníficos entre a Penascosa e a Quinta da Barca, fazem-se comentários e a gente apreende: a invenção do movimento numa única figura; a sobreposição intencional de figuras, temos à vista réplicas, caso da cabra pirenaica com duas cabeças, aqui e acolá vemos placas de pedra decoradas com finas incisões de animais e até temos possibilidade de vermos indicados na Península Ibérica outros lugares aparentados, mas nada com este volume e com tanta direções da inspiração deste senhor, o tal primeiro antepassado da humanidade.


Tudo isto é uma história interminável, se estamos no paleolítico superior com milhares de manifestações daqui caminhamos para a Arte Pós-paleolítica, é uma caminhada até à arte das sociedades guerreiras da Idade do Ferro


Nem tudo fica dilucidado, há mistérios que enxameiam tudo este período da pré-história. E assim se acaba numa sala onde se celebra uma arte sem tempo. Por convite do museu do Côa, Alberto Carneiro expõe aqui uma escultura que se desenvolve como uma mandala sobre um castanheiro e cujos quadrantes correspondem a relações entre Arte-Vida/Natureza-Cultura. Sai-se do museu do Côa não às arrecuas mas impantes de orgulho como fazemos bem a preservação deste património mundial. Inesquecível.



De Foz Côa desce-se ao Pocinho, vamos apanhar o comboio para Peso da Régua, viagem deslumbrante, em paralelo com as sinuosidades do Douro, não fosse este calor sem trambelho e até se captaria umas imagens, optou-se por guardar na retina os socalcos, as reentrâncias, as penedias e penhascos. Chegou-se a Peso da Régua e até o chão fervia, lá se encontrou um tasco com refrigério, deu gosto ver a Benedita a derrubar a vitela estufada. E seguimos para o museu do Douro, outro relicário com muitas perdas preciosas. Não conheço maior hino à alegria da saga vinhateira do que esta mostra, exibem-se usos e costumes, as fainas de todo o ano, há fotografias comoventes de trabalhos épicos para que aquele vinho viaje para todas as partidas do mundo. Abençoada a ideia de aqui vir. É museu moderno que conserva os diferentes materiais desta economia, desta sociedade, desta cultura. E a loja do museu satisfaz o curioso mais exigente, parece que convocaram tudo o que de essencial tem sido escrito e publicado sobre o Douro.
A viagem prossegue, é um regresso até ao Pocinho, depois há que acalmar a fome, descansar e amanhã retomar a viagem, ver mais montes pintados e avançar garbosamente para a Invicta. Depois o viajante separa-se da sua comitiva, vai participar na festa de um seu antigo comandante na Guiné que festeja 90 anos. Outro dia memorável, e à noite regressa-se a Lisboa.
Até à próxima!
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16985: Os nossos seres, saberes e lazeres (196): Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12034: Os nossos seres, saberes e lazeres (56): De comboio, até ao Pocinho, e visita ao Museu do Côa, com os grã-tabanqueiros Margarida e Joaquim Peixoto (Luís Graça / Alice Carneiro)


Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Tabanca de Candoz > 3 de setembro de 2013 > Nascer do sol, do lado do concelho de Baião, em frente. O rio Douro corre ao fundo vale, do lado direito. Serra de Montemuro (e Cinfães, não visível), também do lado direito,



Baião > Mosteirô > Linha do Douro > Estação de Mosteirô > 3 de setembro de 2013 > É aqui apanhamos comboio para o Pocinho, nós, os da tabanca de Candoz (eu, a Alice e os meus cunhados Gusto e Nitas), que fica a 10/15 minutos, de carro, da estação de Mosteirô. Aguardamos aqui os nossos amigos Laura, do Porto, e o casal Peixoto, Joaquim e Margarida, de Penafiel.


Linha do Douro, a caminho do Pocinho > 3 de setembro de 2013 > Os "novos" comboios da REFER, comprados aos espanhois em segunda mão, num negócio discutível... Têm ar condicionado, as janelas não se podem abrir, os vidros andam sujos, para desespero dos amantes da fotografia.... Cartão vermelho para a CP.





Linha do Douro, a caminho do Pocinho > 3 de setembro  de 2013 > Alice e Marharida, em primeiro plano.


Linha do Douro, a caminho do Pocinho > 3 de setembro  de 2013 > O "Doruo Azul" navegando no Rio Douro, paralelo ao comboio.


Linha do Douro, a caminho do Pocinho > 3 de setembro  de 2013 > Paragem no Tua. Em primeiro plano, o Joaquim Peixoto.



Linha do Douro, a caminho do Pocinho > 3 de setembro  de 2013 > Um trecho fabuloso do Rio Douro...  A seguir ao Cachão da Valeira, não posso precisar onde.


Vila Nova de Foz Coa > Pocinho > 3 de setembro de 2013 > A empresa "Douro Total" leva-nos, de jipe (9 lugares), ao museu de Foz Coa.



Vila Nova de Foz Coa > Restaurante do Museu do Côa >  3 de setembro de 2013 > Almoço: excelente menu, excelente carta de vinhos, serviço profissional... O menu turístico são 11 euros... Mais garrafas de vinho "Tons de Duorum Doc Douro Tinto 2011" (magnífico!), pagamos menos de 15 euros cada um... Vista soberba sobre o rio e as suas margens... Durante a refeição, o nome de alguns camaradas da Guiné vieram à baila, por várias razões: o Zé Manel Lopes, produtor de vinhos Douro Doc; o João Crisóstomo, que ajudou, com a sua campanha internacional, a salvar as gravuras de Foa Coa mas também toda esta fantástica região, incluindo a famosa Quinta da Erva Moira (onde já foi recebido principescamente, segundo ele próprio me contou)...


Vila Nova de Foz Coa > Museu  do Côa > 3 de setembro de 2013 >  Da direita para a esquerda, Laura Fonseca, Margarida Peixota e Ana Soares (Nitas).


Vila Nova de Foz Coa >  Museu  do Côa > 3 de setembro de 2013 > Alguns dos conteúdos (1)


Vila Nova de Foz Coa > Museu  do Côa  > 3 de setembro de 2013 > Alguns dos conteúdos (2)


Vila Nova de Foz Coa > Pocinho > 3 de setembro de 2013 > Alguns dos conteúdos (3)


Vila Nova de Foz Coa > Museu  do Côa  > 3 de setembro de 2013 > Alguns dos conteúdos (4)


Vila Nova de Foz Coa > Museu  do Côa  3 de setembro de 2013 > Saída exterior do edifício (que é da autoria de jovens arquitetos da escola do Porto, Tiago Pimentel e Camilo Rebelo). Regresso a casa no comboio das 17 e picos... 

É um dos passeios mais bonitos e emocionantes (e mais baratos) que o pobre do tuga pode ainda hoje fazer na sua terra (que, para muitos, está por descobrir)... É a 3ª vez que vou ao Pocinho, de comboio... Mas o plano original era ir de barco (da empresa Douro Total) até Barca de Alva. Estvámos  a pensar em convidar vários casais. Uma avaria de última hora, no braco (que leva até 16 pessoas),  estragou-nos os planos. Fica para a próxima. A solução de recurso também não foi pior, na opinião dos meus amigos e companheiros de viagem. Todavia, a Alice achou, desta vez,  o Douro "mais descuidado"... Há muita gente a mandar ou a querer mandar. Ou se calhar há aqui um problema de autoridade... E as populações locais, por seu turno,  pouco ou nada ganham com os cruzeiros do Douro Azul & quejandos... Por favor, tugas, não matem a galinha dos ovos de ouro, como fizeram com o Algarve e se preparam para fazer com a costa vicentina alentejana... Neste país, parece que  não se sabe amar sem violar,,, (LG).

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados

1. Mensagem dos nossos tabanqueiros Margarida e do Joaquim Peixoto, de 7 do corrente:

Aos meus amigos Alice e Luís Graça quero agradecer o maravilhoso passeio de comboio que nos proporcionaram, até ao Pocinho, seguindo de carro até Foz Côa, onde degustámos no restaurante do Museu um delicioso almoço confeccionado com carne da região acompanhado por um delicioso vinho.

A viagem de comboio foi cheia de emoções e alegria, não só pela maravilhosa paisagem que o nosso olhar abrange ao longo do inigualável rio Douro, ora correndo em estreito leito ladeado por escarpas, rochas com efeitos fabulosos, ora deslizando num largo e aprazível leito, onde a encosta desenhada com as famosas vinhas do Douro, ( onde se destacam aqui e ali as majestosas casas e quintas dos produtores vinhateiros, que levam o seu néctar a outros mundos), refletem nas águas do rio as suas belas folhagens.

A paisagem é deslumbrante, a costa muda constantemente de aspeto conforme o comboio vai serpenteando a linha férrea ou a luz do sol pinta de cores diferentes a vegetação, contrastando o azul do céu com as águas calmas do rio, onde a paisagem e a cor do azul celestial se confundem com o verde caudal, transportando-nos a quais telas pintadas por famosos pintores que traduzem para quadros valiosos o que a Natureza se encarrega de embelezar no mundo em que vivemos..

Foi um dia repleto de boas sensações, de esquecimento do quotidiano, de bem estar, não só, como já referi, pelo magnífico panorama que desfrutámos, mas também,  e ainda mais importante, pela companhia que tivemos.

Obrigados,  Nitas e marido, Gusto,  pela vossa amizade e camaradagem.

Obrigados,  Laura,  pela simpatia e naturalidade em nos integrar nas suas amizades.

Bem hajam, Alice e Luís,  por, mais uma vez, mostrarem a vossa amizade, camaradagem e solidariedade compartilhando as vossas amizades connosco.

Da nossa parte retribuímos com todo o carinho a nossa amizade e sensibilidade.

A todos vós, em especial a ti, Alice, e ao Luís,  um forte e carinhoso abraço dos amigos,

Margarida e Joaquim Peixoto.